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(HOLOSTEANOS DO KARROO DE ANGOLA)

POR

CARLOS TEIXEIRA

o Eng. Fernando Mouta teve a dita de descobrir, em 1930,

no Karroo das margens do Lutõe, um importante jazigo de peixes fósseis.

Da série de exemplares recolhida por aquele ilustre geólogo - que deve ser considerada das mais notáveis até hoje encon-tradas no Karroo africano - os melhores espécimens foram envia-dos, pouco depois, com assentimento oficial, ao Prof. M. Leriche, de Bruxelas, para estudo e classificação. Os restantes ficaram à guarda dos Serviços Geológicos de Portugal, em Lisboa.

Infelizmente, o Prof, Leriche não teve, até hoje, ocasião de descrever e publicar a importantíssima fauna. Foi, por isso, julgado conveniente que se procedesse ao estudo dos exemplares conservados em Portugal.

De facto, a demora da publicação não só diminuíu conside-ràvelmente o valor da colheita, pois fez perder a oportunidade de descrever certo número de tipos, que em 1932 ou 33 teriam sido referidos pela primeira vez (e a que descobertas subsequentes, feitas noutras regiões, vieram arrebatar se não o interesse cientí-fico total, pelo menos a prioridade) mas, além disso, privou até agora a Paleontologia de importantes elementos de estudo e com-paração.'

Pode servir de exemplo um belo fóssil de Ceratodus, enviado para Bruxelas, que, descrito na altura, teria sido o primeiro espé-cimen registado deste género de crossopterígios em que o corpo do

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animal aparece suficientemente conservado. A primazia pertence, porém, a Ceratodus formosus n. sp., forma vizinha proveniente do Triásico de Brookvale (New South Wales), descrita por

R.

T. Wade (1), em 1935.

Embora a colecção existente em Lisboa não seja constituída pelos exemplares mais perfeitos, encerra contudo espécimens sufi-cientemente conservados, que permitem· estudar as características de alguns tipos, como em artigo anterior indiquei (I).

O presente trabalho é especialmente consagrado à descrição de um dos mais interessantes desses tipos: um actinopterígioper-tencente à ordem dos Holosteanos e à família dos Semionotídeos, a que dei o nome de Angolaichthys Lerichel novo gen. e novo sp .• Devo ao Prof.

J.

Piveteau a possibilidade de concluir este estudo. No seu gabinete de trabalho da Escola de Minas de Paris não só encontrei a bibliografia indispensável, como pude ter à mão alguns tipos de comparação, em especial os de Paracentrophorus

madagascariensis, género estreitamente afim, descrito em 1940

por aquele cientista.

É com ó maior júbilo que registo aqui o meu agradecimento ao ilustre paleontólogo francês. .

ANGOLAICHTHYS LERICHEI TEIX.

1947 - ANGOLAICHTHYS LERICHEI C. Teixeira. État actuei de nos connaissanees sur la paléontologie du Karroo de l' Angola. Brotéria. (Série de Ciências Naturais), vol. XVI (XLIII), fase. I-II.

Este curioso tipo de peixes está representado na colecção per numerosos exemplares. O corpo, fusiforme, de pequenas

dimen-(1) R. T. WADE - The triassie fishes of Brookvale, New South Wales. Publ. do British Museurn (Nat. Hist.). Londres, 1935.

(2) C. TEIXEIRA - État actueI de nos eonnaissanees sur la paléontolo-gie du Karroo de l' Angola. Brotéria (Série de Ciências Naturais), vol. XVI (XLIII), fase. 1-11-1947.

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sôes, não ultrapassa 8 ou 9 cm. de comprimento. A cauda é heterocérquica (embora externamente a heterocercia seja muito atenuada), formada por raios pouco numerosos (à volta de uma dúzia), bifurcados uma ou duas vezes. A barbatana anal está situada quase em oposição à dorsal; uma e outra são formadas por pequeno número de raios, mais espaçados e mais fortes na dorsal do que na anal, bifurcados na região distal e em relação com igual número de raios endosqueléticos. Ambas possuem fulcros sobre o bordo anterior.

As barbatanas peitorais têm forma alongada e são formadas por cerca de uma dezena de raios, bifurcados como os das restantes. Em alguns exemplares são visíveis os ossos clavicular e supra-clavicular da cintura. ,

As barbatanas ventrais ou pélvicas situam-se mais ou menos a meia distância entre as peitorais e a anal; o tamanho é mais reduzido do que o daquelas, mas a organização externa é idêntica.

Da cabeça apen~s alguns caracteres são observáveis, pois na maior parte dos casos esta aparece esmagada ou deformada. É bem . visível em diferentes exemplares a região opercular; o opérculo e osub-opérculo apresentam-se bem desenvolvidos, com a linha de sutura dos dois inclinada de trás para diante; o pré-opérculo é . estreito, em forma de arco, disposto ao alto; o inter-opérculo,

triangular, liga-se ao canto inferior do sub-opérculo. Os raios branquiostegais são bem desenvolvidos.

A boca-'é pequena e os dentes estiliformes. A mandíbula, relativamente forte, parece ser rematada na parte posterior por uma apófise desenvolvida. As maxilas são curtas, reduzidas no tamanho~

O post-temporal observa-se num ou dois espécimens, bem como o parietal e· o frontal, mas fracturados. .

A região orbitária aparece quase sempre pouco nítida; con-tudo, em alguns exemplares distinguem-se os ossos circum-orbitais e post-orbitais •

.. O 'corpo é revestido por escamas de forma losângica, bastante . frágeis, conservadas apenas em raros casos. O desaparecimento

destas permi~e observar o esqueleto interno.

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um cordão em relevo situado bastante superiormente. Separada desta por duas fiadas de escamas, existe segunda linha, mas em depressão.

A inclusão deste tipo de peixes fósseis do Karroo das margens do Lutôe na ordem dos Holosteanos é indicada por um conjunto de caracteres, dos quais os mais importantes são a forma em arco do pré-opérculo, a redução do maxilar, o número igual de raios endosqueléticos e exosqueléticos das barbatanas ímpares', etc ..

Dentre as espécies registadas desta Ordem, as formas mais próximas são, sem dúvida, as pertencentes aos géneros Acentro-phorus e Paracentrophorus.

O primeiro, conhecido no Turingiano de Inglaterra, em depó-sitos de lagunas desértic,!s e em formações de mar fechado, é representado por diferentes espécies (8). O segundo corresponde a um tipo de peixes do Triásico inferior, marinho', de Madagascar, recentemente descrito pelo Prof. J. Piveteau· (4), do qual é conhe-cida a espécie única P. madagascariensis Piveteau.

As dimensões e o contorno geral do corpo são semelhantes nos três géneros. O tipo angolense parece separar-se, contudo. dos dois restantes, entre outros caracteres, pela heterocercia mal!> acentuada, pelas escamas de revestimento delgadas e frágeis, peh posição relativa das barbatanas ímpares, etc.. As afinidades dos' peixes do Lutôe são sobretudo grandes com Paracentrophorw;.;

não me admirarei se, amanhã, a observação de exemplares em melhor estado de fossilização demonstrarem que se trata de um só e mesmo grupo genérico. Por agora, parece-me todavia conve-niente manter a separação, embora acentuando as semelhancas

que existem. /

As diferenças são bastante mais pronunciadas quando SE- faz

a comparação do holosteano de Angola com outros tipos da

(3) L. GILL - The Permian fishes of the genus Acentrophorus. Proe.

Zool. Soe. London, 1923. .

(4) J. PIVETEAU - Paléontologie de Madagascar. XXIV N'lUvelles re-cherches sur les poissons du Trias inférieur. Ann. de Paléontologie, tomo XXVIII.

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família dos Semionotídeos (5, 6), que abrange cerca de uma dúzia de géneros (7), mas dos quais apenas Semlonotus e Lepidotus se podem considerar relativamente próximos (8, 9).

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o

género Angolaichthys constitui um novo elo da série dos Holosteanos e figura entre os mais antigos representantes conhe-cidos deste agrupamento.

As camadas do Lut6e em que se encontra a fauna de peixes pertencem à parte inferior do andar de Cassange (10); são mais antigas do que as camadas com Estheria mangliensis e Estheriella

Moutai que afloram na éscarpa de Quela e que eu considero

equi-valentes do andar médio de Beaufort.

Quer pela posição, quer pela fauna que contêm, as formações do Lut6e parecem corresponder ao limite entre os andares inferior e médio de Beaufort, isto é, situar-se no final do Paleozóico ou no início do Triásico. No Congo Belga, corresponde-lhes o andar do Lualaba.

Admitida esta cronologia,. o género Angolaichthys é, pois, mais moderno que as formas de Acentrophorus que, como disse, são turingianas.

Paracentrophorus madagascariensis, procedente do Triásico

inferior, é provàvelmente mais moderno do que o holosteano de Angola.

De qualquer modo, a situação cronológica de Acentrophorus,

(5) Cfr.: J. BROUGH On the evolution of bony fishes duríng de Triassic período Biological Reviews, voI. 11. Cambridge, 1936.

(6) Cfr.: DOROTHY H. RAYNER - The structure and evolution of the ho-lostean fishes. Biological Reviews, voI. 16. Cambridge, 1941.

(7) Cfr.: A. S. ROMER - Vertebrate Paleontology (pág. 580). Chicago, 1945. (2) Cfr.: COLETE DECHASEAUX - Contribution à l'étude du genre Lepi-dotus. Ann. de Paléontologie, tomo XXX. Paris, 1943.

(9) I E. H. SWINNERTON - On a new species of Semionotus from the Keu-per of Nottingham. Geol; Magaz., vol. LXV, 1928.

(10) F. MOUTA e H. O'DONNELL - Notice explicative de la Carte Géolo-gique de l'Angola. Lisboa, 1933.

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Paracentrophorus e Angolaichthys está limitada ao intervalo Pér-mico superior-Triásico inferior, enquanto que o grande desen-volvimento dos holosteanos se verifica a partir do final do Triá-sico médio.

As formas de Paracentrophorus e Angolaichthys, que foram talvez contemporâneas, representam importantes elementos faunís-ticos das regiões gondwânicas. O primeiro viveu nas águas litorais de antigo mar que cobriu o norte de Madagascar; o segundo povoou bacias lacustres que, pela mesma altura, ocuparam o inte-rior africano e em cujas águas, além dos peixes, pululavam filópodes, etc .•

Lisboa, Dezembro de 1947.

EXPLICiçAo DAS ESTAMPAS

Angolaichthys Lerlchei Teix ..

Figs. 1-2 - Dois exemplares, em tamanho natural.

Figs. 1 a e 2 a - Os mesmos exemplares da fig. 1 e 2 ampliados. Notar a forma geral do corpo, a heterocercia da cauda e a posição relativa das bar-batanas. Na fig. 2 observa-se, também, Estheria Anchietae Teix .. Figs. 1 b e 1 c - A região anterior do exemplar da fig. 1, muito ampliada,

vendo-se nitidamente o pré-opérculo em forma de arco, a mandíbula e a maxila, os dentes estiliformes, etc ..

Figs. 3 e 4 - Dois exemplares em que parte das escamas se conservou, podendo ver-se a linha lateral. (Tamanho natural). .

Figs. 3 a e 4 a - Os . mesmos exemplares das figuras anteriores ampliados. Fig. 5 - Um exemplar em que se vê perfeitamente o esqueleto interno.

(Tama-nho natural).

Fig. 5 a - O mesmo espécimen da figura anterior, ampliado.

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Referências

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