• Nenhum resultado encontrado

Supremo Tribunal de Justiça, Acórdão 6 Julho 2000 (Ref. 9731/2000)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Supremo Tribunal de Justiça, Acórdão 6 Julho 2000 (Ref. 9731/2000)"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

JURISPRUDÊNCIA E PARECERES

Supremo Tribunal de Justiça, Acórdão 6 Julho 2000 (Ref.

9731/2000)

Relator: Barata Figueira Processo: 63/2000 Jurisdição: Cível

Colectânea de Juriprudência, Tomo II/2000 2000

Sumário

PROCEDIMENTOS CAUTELARES. Gravação dos depoimentos no âmbito da oposição. Extensão do recurso após decisão sobre a oposição.

I - Quando a providência cautelar haja sido ordenada sem audiência do requerido, os depoimentos das testemunhas, de todas elas, mesmo das inquiridas no âmbito da oposição do requerido, são sempre gravados ou reduzidos a escrito.

II - A nulidade processual decorrente da falta de gravação dos depoimentos das testemunhas deve ser considerada sanada se não for arguida em prazo.

III - Quando a providência cautelar haja sido ordenada sem audição do requerido e este deduzir oposição, pode, depois, no recurso da decisão que sobre esta recair, atacar também os fundamentos da decisão originária, já que as duas decisões passam a constituir uma decisão unitária, sendo a segunda complemento ou parte integrante da primeira.

L.M.F.A.M.

Acordam era conferência no Supremo Tribunal de Justiça:

SOLARTEXTIL - MALHAS, L.da, requereu no 1.º Juízo da comarca de Esposende, por apenso à acção ordinária n.º 347/97, providência cautelar de arresto de determinados bens contra Carlos A. e mulher, Ana R. e Henrique C..

A Mmª. Juíza decretou, sem audiência prévia, nos termos do art.º 406.º do CPC, o arresto dum veículo automóvel propriedade dos primeiros requeridos, os quais, notificados do respectivo despacho, deduziram oposição, arrolando testemunhas.

Inquiridas estas, a oposição foi julgada improcedente, por despacho de fls. 62 e 63, e mantida a providência decretada.

Os oponentes não se conformaram com a decisão, interpondo recurso para o Tribunal da Relação do Porto, que lhe negou provimento, por acórdão de fls. 67 a 70.

Ainda não conformados, recorrem para este Supremo Tribunal.

Alegaram, fechando com o pedido de revogação do acórdão e da providência cautelar decretada na 1.ª instância.

Em contra-alegações, os recorridos defendem a bondade do decidido, pugnando pela confirmação do acórdão.

A matéria de facto em que este assentou é a seguinte:

"1. A Solartextil, Malhas e Confecções, L.da, intentou no Tribunal Judicial de Esposende contra Carlos Manuel V. A. e mulher e outros, os autos de arresto n.º 346/A/97 -1.º juízo -, tendo-lhes sido arrestado um veículo automóvel.

(2)

2. Decidido o arresto sem a sua prévia audição (art.º 408.º, n.º 1, do CPC) e lavrado o termo do mesmo, foram os atrás requeridos notificados nos termos do art.º 388.º, n.º 1, do CPC.

3. Nos termos do art.º 385.º, n.º 5, do CPC, os requeridos apresentaram oposição, indicando prova testemunhal, que foi inquirida pelo tribunal a quo, embora os seus depoimentos não tenham sido gravados. 4. A final o tribunal a quo proferiu decisão julgando improcedente a oposição e mantendo a decisão que decretou a providência, com fundamento em que "não foram produzidos meios de prova, inclusive, o depoimento prestado pelas testemunhas indicadas pelos requeridos que afastem os fundamentos da decisão que decretou o arresto"; e isto porque não julgou provado qualquer dos factos alegados no requerimento da oposição".

As questões que emergem das conclusões da alegação, pelas quais é delimitado o objecto do recurso, são as seguintes:

1 - Os depoimentos das testemunhas ouvidas na oposição deviam ter sido gravados ou registados, atento o estatuído no art.º 386.º, n.º 4, do CPC, em virtude de o arresto ter sido decretado, sem audiência prévia? II - Deduzida a oposição, nos termos do disposto no art.º 388.º, n.º 1, al. b) do CPC, estava vedado aos requeridos, no recurso interposto da respectiva decisão, discutir os fundamentos do despacho que anteriormente decretou o arresto?

III. O débito em causa na acção é da Carefi - Malhas, nunca tendo sido o recorrente seu sócio, mas apenas seu gerente, tendo renunciado à gerência com justa causa, só podendo responder nos termos do art.º 78.º do Código das Sociedades Comerciais?

IV - Os factos que sustentam o decretamento do arresto resultam de grosseiras falsidades, não oferecendo a prova testemunhal da requerente a mínima credibilidade?

V - Apesar disso, considerada, ainda que erradamente, a garantia pessoal do agravante, sempre deveria ter-se tido em conta o benefício da excussão, nos termos do art.º 638.º do CCV?

Com os vistos legais, cumpre decidir.

A Relação deu resposta negativa às duas primeiras questões. Na sequência disso, decidiu que não havia que conhecer das três restantes por se prenderem com a discussão do mérito do despacho primitivo, o qual não podia ser objecto do recurso em virtude de os recorrentes terem optado pela oposição.

Apreciemos a primeira questão.

O art.º 388.º, n.º 1, do CPC (a que pertencerão todas a normas que forem citadas em indicação de origem) estatui:

"Quando o requerido não tiver sido ouvido, antes do decretamento da providência, é-lhe lícito, em alternativa, na sequência da notificação prevista no n.º 5 do art.º 385.º:

a) Recorrer, nos termos gerais, do despacho que a decretou, quando entenda que, face aos elementos apurados, ela não devia ser deferida;

b) Deduzir oposição, quando pretenda alegar factos ou produzir meios de prova não tidos em conta pelo tribunal e que possam afastar os fundamentos da providência decretada ou determinar a sua redução, aplicando-se, com as necessárias adaptações, o disposto nos artigos 386.º e 387.º".

O recorrente optou pela oposição. Mas, como já se disse, sem êxito.

Sustenta ele que os depoimentos das testemunhas por si arroladas no respectivo requerimento deviam ter sido gravados ou registados, tal qual os das testemunhas do requerente, por imperativo do art.º 386.º, n.º 4, já que esta norma, segundo a qual "são sempre gravados os depoimentos prestados quando o requerido não

tenha sido ouvido antes de ordenada a providência cautelar", não distingue entre uns e outros, não há razão

para distinguir e o actual direito processual aponta para a regra da prova gravada (arts 508.º-A, n.º 2 e 512.º, n.º 1).

Diverso é o entendimento da Relação, estruturado na consideração de que na previsão daquele n.º 4 cabem apenas os depoimentos das testemunhas do requerente, visando a gravação proporcionar ao requerido, que não foi ouvido, "o total conhecimento da situação com que é confrontado e permitir-lhe meios amplos de oposição, uma vez que assim fica a saber não só a posição daquele mas também a ter conhecimento dos factos, pelas testemunhas, e dos fundamentos da decisão, pela sentença".

(3)

Com isto se cumpre, diz o acórdão, o princípio da igualdade as partes consignado no art.º 3.º-A, do CPC. Quanto aos depoimentos das testemunhas arroladas na oposição, porque "ambas estão presentes, aplica-se "a contrario sensu", disposto no arts 304.º n.º 3, e 384.º, n.º 3", pelo que só serão gravados ou registados se alguma das partes o requerer.

Salvo o devido respeito, esta argumentação não convence. Vejamos.

Nos procedimentos cautelares, a regra é a da audição prévia do requerido. Ou seja, a providência só pode ser decretada, depois de este ter sido ouvido (art.º 385.º, n.º 1). Em consonância, aliás, com o princípio de que "só nos casos excepcionais previstos na lei se podem tomar providências contra determinada pessoa sem que esta seja previamente ouvida" - cfr. n.º 2 do art.º 3.º.

É o que acontece, quando a audiência "puser em risco sério o fim ou eficácia da providência", caso em que o juiz não a determinará, ou quando a lei expressamente o impuser, como sucede, v.g., com o arresto (art.º 408.º, n.º 1) - cit. art.º 385.º, n.º 1.

Nos casos da primeira espécie, a prova testemunhal, quando for produzida no tribunal da causa, só é gravada ou registada, nos termos do art.º 384.º, n.º 3, combinado com o art.º 304.º, n.º 3, "se, comportando

a decisão a proferir recurso ordinário, alguma das partes tiver requerido a gravação".

Nas situações do segundo tipo, ao invés, os depoimentos das testemunhas são sempre gravados ou registados, qualquer que seja a parte que as tenha arrolado, independentemente de requerimento.

Impõe-no, sem distinguir e de forma categórica, o art.º 86.º, n.º 4, atrás já reproduzido.

Este texto é tão claro e terminante que só razões muito ponderosas podiam, forçando-o, justificar a restrição do seu alcance. E não existem.

Em segundo lugar, na interpretação do acórdão, o preceito colidiria com o princípio da igualdade das partes, sem razão material justificativa, na medida em que o requerido, para fruir os benefícios do registo ou gravação da prova, designadamente em sede recurso, onde isso lhe permitiria atacar também a decisão sobre à matéria de facto (art. 712.º, n.º 1 al. a)), seria obrigado a requerê-lo, ao contrário do requerente.

Por outro lado, o procedimento cautelar é uno. Por isso, seria incoerente, da parte do legislador, estabelecer dois regimes distintos sobre a produção de prova, conforme esta se destinasse a fundar o decretamento ou a rejeição da providência, antes da audição do requerido, ou a decidir sobre a sua manutenção, redução ou revogação, em resultado da oposição subsequente.

Ademais, não faria o menor sentido que a norma ditada para prover sobre os casos excepcionais, nela previstos, fosse afinal postergada pela regra geral enunciada no art.º 384.º, n.º 3, com recurso ao sempre falível argumento a contrario utilizado pela Relação.

Aos nossos olhos, tudo isto aparece claro.

Mas, para afastar qualquer dúvida, lá está o art.º 388.º, n.º 2, al. b), que manda aplicar à oposição "superveniente" o disposto no art.º 386.º. Com as necessárias adaptações, é certo. Simplesmente, nesta matéria não é preciso, nem mesmo possível, fazer qualquer adaptação. Há é que aplicar o preceito, nos seus precisos termos, sob pena de o derrogarmos.

Porque das duas uma: ou a prova é sempre gravada, como nele se diz, ou o é, só a requerimento de alguma das partes, e, então, já não será por força dele, mas por via do art.º 384.º, n.º 3.

Em conclusão, quando a providência haja sido ordenada sem a audição do requerido, os depoimentos das testemunhas, de todas elas, são sempre gravados ou reduzidos a escrito, em obediência ao ditame do citado n.º 4 do art.º 386.º.

Decidindo em contrário, o tribunal a quo cometeu um erro de interpretação desta norma, e aplicou indevidamente ao caso o art.º 384.º, n.º 3.

A verificada omissão de gravação da prova em violação dos arts 388.º, n.º 2 e 386.º, n.º 4, pode, no caso, influir no exame e decisão da causa, constituindo nulidade, nos termos do art.º 201.º, n.º 1.

Mas que nulidade?

(4)

a violação da lei processual em que a mesma se consubstancia foi cometida não na específica actividade da elaboração da sentença, mas num lanço da actividade processual anterior a esta.

O recorrente não a invocou expressis verbis, quer no recurso para a Relação, quer no recurso para este Supremo Tribunal. Por isso, em bom rigor, não devia aquela ter conhecido dela. De qualquer modo o resultado a que chegou, afastando-a, acaba por ser correcto. É que a nulidade, se invocada fosse, estava sanada, pois devia ter sido arguida no decurso da audiência, antes do seu fecho, nos termos do art.º 205.º, n.º 1, dado resultar da acta respectiva que o recorrente interveio nela (fls. 61), e não nas alegações de recurso.

Passemos à segunda questão.

Segundo a Relação, a sentença que decretou a providência não podia ser objecto do recurso da decisão sobre a oposição.

O discurso argumentativo que sustenta esta afirmação é o seguinte:

"...nos termos do n.º 2 do art.º 388.º, embora a decisão sob recurso fique a constituir "complemento ou parte integrante da inicialmente proferida" o certo é que "só a decisão sobre a oposição pode constituir objecto deste recurso" sendo que a decisão inicialmente proferida apenas pode ser alterada ou revogada, se proceder a oposição".

"Dir-se-á que a possibilidade de "atacar a primitiva decisão, nos seus intrínsecos fundamentos pela via do recurso continha-se no n.º 1, al. a) do art.º 388.º, do CPC"".

"Trata-se de fase ultrapassada pela opção tomada pelos requeridos; e de meio que ora a lei não permite". Este discurso, a nosso ver, não traduz uma interpretação correcta da lei.

Com efeito, a oposição subsequente é admitida na lei apenas e só nos casos em que o requerido não tenha

sido ouvido, antes do decretamento da providência, para lhe garantir o exercício, a posteriori, do contraditório e

do direito de defesa, de que ficou privado, mediante a alegação de factos novos ou produzindo meios de prova não tidos em conta pelo tribunal, tendentes a afastar os fundamentos da providência ou a determinar a sua redução - cit. art.º 388.º, n.º 1, b).

Esta oposição, ao contrário dos embargos, antes da actual Reforma do Código de Processo Civil, já não configura uma verdadeira acção declarativa enxertada no procedimento cautelar, obedecendo estritamente ao estatuído acerca do formalismo da oposição que teria sido pertinente deduzir, no momento próprio, se tivesse havido audição prévia do requerido. Cumpre, assim, ao juiz analisar a prova nela produzida, juntamente e em conexão com a do requerente, gravada ou registada nos termos do art.º 386.º, n.º 4, e proferir decisão mantendo, revogando ou reduzindo a providência inicialmente decretada. Neste sentido, Lopes do R., Comentários ao Código de Processo Civil, pág. 284.

Como bem nota este Autor, "o sistema instituído visa evitar que a parte tenha o ónus de lançar mão simultaneamente do recurso de agravo e da oposição subsequente, sempre que entenda que concorrem os pressupostos das alíneas a) e b) do n.º do art.º 388.º - com o inconveniente manifesto de questões, muitas vezes conexas, estarem simultaneamente a ser apreciadas na 1.ª instância e na Relação".

"Daí que - acrescenta o mesmo -, verificando-se os fundamentos da oposição, traduzidos na invocação de matéria nova, deva a parte começar por deduzi-la, aguardando a prolação da decisão que a aprecie, que se "considera complemento e parte integrante "da sentença inicialmente proferida: e abrindo-se, só neste momento, a via do recurso, relativamente a todas as questões suscitadas, quer pela decisão originária, quer pela que a completa ou altera" - op. e loc. cit..

O art.º 388.º, n.º 2, ao permitir que o juiz mantenha, reduza ou revogue a providência anteriormente decretada consagra uma excepção ao princípio de que, proferida a sentença, fica esgotado poder jurisdicional, quanto à matéria de causa, consignado no art.º 666.º, n.º 1.

Vale isto por dizer que, nestes casos, a decisão inicial não faz caso julgado. É uma decisão provisória. E que, sendo a segunda seu "complemento ou parte integrante", o procedimento cautelar, proferida esta, passa a ter uma decisão unitária. Passa-se aqui o mesmo que com a decisão que defira o pedido rectificação, esclarecimento ou reforma da sentença, também ela considerada "complemento ou parte integrante" desta" - cfr. o artº 670.º, n.º 2.

Não se vê, pois, qualquer obstáculo a que os seus fundamentos possam ser postos em crise no recurso da decisão da oposição. Seria até ilógico, para não dizer absurdo, que assim não fosse.

(5)

anterior, não implica, em caso de opção pela segunda, que seja proibido atacar, no recurso da respectiva decisão, os fundamentos da decisão originária.

A possibilidade desta discussão é ao fim e ao cabo decorrência natural da própria proibição do uso simultâneo desses dois meios impugnatórios, já que a oposição não visa diminuir, mas ampliar o âmbito da defesa do requerido, sem por em causa os direitos. do requerente.

Do acabado de expor resulta que o recorrente podia atacar, como atacou, a decisão inicial, pelo que a Relação, salvo o devido respeito, interpretou mal o art.º 388.º, n.º 2, al. b).

Devia por isso ter conhecido das restantes questões, como objecto que eram do recurso. Chegados a este ponto seria agora o momento de as apreciar.

Porém, esta apreciação envolve matéria de facto cujo conhecimento está vedado a este Supremo Tribunal, devendo os autos baixar à Relação para o efeito.

Fallo

Pelo exposto, acordam em conceder a revista, embora por fundamentos diversos dos invocados, revogando o acórdão recorrido, baixando o processo à Relação para conhecer das referidas questões.

Custas pela recorrida. Lisboa, 6 de Julho 2000. Barata Figueira

Ferreira de Almeida Noronha do Nascimento

Referências

Documentos relacionados

Como assim, a competência absoluta, em razão da hierarquia, para a revisão, reconhecimento e confirmação da sentença arbitral proferida pelo Tribunal de Arbitragem da Câmara

I - "Tendo o contrato-promessa dos autos eficácia meramente obrigacional, a não impedir-se a venda a terceiros, poderá o promitente comprador ver frustrada, de

Na petição inicial, veio a insolvente requerer ao Tribunal que lhe fosse concedida a exoneração do passivo restante, nos termos do disposto no artigo 236º nº1 do CIRE. Para

Assim, este trabalho teve por objetivo investigar a relação existente entre um conjunto de cinco variáveis contábeis (liquidez, endividamento total, variação do lucro, alavancagem

(v) Preparar os alunos para utilizarem as ferramentas informáticas disponíveis nos Sistemas de Gestão de Bases de Dados de modelo relacional, ou.. SGBDr, para prototipificação

1955, pp.. Seguindo essa linha de pensamento, Angelo S ATURNO define o direito em questão – que é o mais novo integrante das situações de proteção da pessoa humana – como

Numa proposta dessa qualidade, o benefício poderá ser visto e medido em todos os âmbitos: através dos resultados da pesquisa, antes e depois da intervenção; através da

Nos últimos dois anos o preço da celulose exportada pelo Brasil aumentou cerca de 40%, mas a quantidade exportada não caiu, tendo, na verdade, aumentado em 12%