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O NORDESTE NO MOVIMENTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA

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Academic year: 2021

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O NORDESTE NO MOVIMENTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA

Lúcia Cristina dos Santos Rosa*

RESUMO

O presente estudo aborda a participação dos estados da Região Nordeste no processo de reforma psiquiátrica brasileira. Tem por objetivo geral analisar a participação dos 9 estados da Região Nordeste no processo de reforma psiquiátrica brasileira. Trata-se de um estudo exploratório, que teve como principais ferramentas de trabalho a pesquisa documental e bibliográfica. A analise das informações sugere que a implementação do processo de reforma psiquiátrica na região Nordeste ocorre de maneira heterogênea entre os 9 estados. O avanço de tal processo acompanhou o desenvolvimento econômico, concentrou-se nos estados considerados pólos de desenvolvimento econômico e industrial da região

Palavras-Chave: Nordeste; Reforma Psiquiátrica; Saúde Mental ABSTRACT

The present study approaches the participation of the states of the Northeast Region in the process of brazilian psychiatric reform. It hás for general objetive to analyze the participation of the 9 states of the Northeast Region in the process of brazilian psychiatric reform. One is about na introductory study, that had as main tools of work bibliographical the documentary research and. The analysis of the information suggests that the implementation of the processo of psychiatric reform in the Northeast region occurs in heterogeneous way between the 9 states. The advance of such process folloied the economic development, concentrated in the considered states polar regions of economic and industrial development of the region.

Keywords: Northeast; The psychiatric Reformation; Mental healt

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo aborda a participação dos estados da Região Nordeste no processo de reforma psiquiátrica brasileira. O desenho da pesquisa visou responder, principalmente, às seguintes indagações: qual a participação dos estados da Região Nordeste na construção do processo de reforma psiquiátrica desenvolvida no país? Há uma particularidade que caracteriza a inserção dos estados nordestinos em citado movimento?

Trata-se de um estudo exploratório, que teve como principais ferramentas a pesquisa bibliográfica, isto, é valeu-se de fontes secundárias, do acervo bibliográfico tornado público (MARCONI; LAKATOS, 2002) e documental, ou seja, explorou “documentos de primeira mão” (GIL, 1999), no geral, relatórios, por exemplo, de secretarias de saúde municipal ou estadual, do Ministério Público, etc.

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2 O PROCESSO REFORMISTA EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL

O processo de reforma psiquiátrica coloca-se contra o modelo hospiciocêntrico/hospitalocêntrico instituído na sociedade Ocidental moderna, a partir do fim do século XVIII. Tal modelo se constrói a partir da constituição da cidadania moderna. Paulatinamente, com toda a violação de direitos que tal espaço produz, contraditoriamente, vai ser indagado a partir mesmo das discussões da cidadania, sobretudo a partir do reconhecimento dos direitos das minorias sociais. Neste sentido em 17 de dezembro de 1991 a Organização das Nações Unidas divulga o documento que trata da “proteção de pessoas com problemas mentais e a melhoria da assistência à saúde mental”, do qual o Brasil é signatário. Dessa maneira, o que singulariza a reforma psiquiátrica em curso no mundo Ocidental no pós-guerra e a partir dos anos 70 no Brasil é a construção da cidadania dos loucos, até então tutelados. Paradoxalmente, o desafio que é colocado é de revisão da “cidadania interditada” (DELGADO, 1992).

3 A PARTICIPAÇÃO DOS ESTADOS DA REGIÃO NORDESTE NO MOVIMENTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA

Esta seção visa contextualizar o curso da implantação do modelo assistencial hospitalocêntrico nos 9 estados da Região Nordeste, como forma de mostrar a densidade dos desafios postos para a perspectiva de reorientação de tal modelo, no plano local. Em seguida, mostra, de forma panorâmica, o processo de criação dos centros de atenção psicossocial, considerado o principal dispositivo reformista, nos 9 estados da região. Vale lembrar, a Região Nordeste abrange uma área geográfica com 1.660.359 quilômetros quadrados, congregando os seguintes estados: Maranhão; Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Ainda inclui o Território Federal de Fernando de Noronha. Apresenta intensa diversidade ambiental (de vegetação, solo, clima) e sócio-cultural. Segundo o Censo de 2000 vive na Região um total de 47.693.253 pessoas, sendo os estados mais populosos: a Bahia, com 13.066.910, Pernambuco com 7.911.937 habitantes, o Ceará com 7.418.476 residentes e o Maranhão com 5.642.960 pessoas. A distribuição populacional acompanha o desenvolvimento econômico

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3.1 Gênese da assistência psiquiátrica nos estados da Região Nordeste

A rede de serviços de maior procura no país, saúde e educação, no geral, concentram-se nas capitais de cada Estado, que tornam-se, historicamente, um pólo de atração para migrantes, por centralizar os bens e serviços e também as melhores possibilidades de emprego.

Seguindo a tendência geral no território brasileiro, nos Estados do Nordeste, a assistência psiquiátrica se inicia, como no restante do país, através das ações da Igreja, institucionalmente nas Santas Casa de Misericórdia. Criam-se, “asilos de alienados” ou espaços, no geral nos porões das Santas Casas para iniciar a atenção aos alienados. Inicialmente tais instituições eram geridas administrativa e assistencialmente pelas freiras. Recife (1864), Salvador (1874), Natal (1882), Fortaleza (1886); Maceió (1891) e Paraíba (1892) na Região Nordeste são os estados pioneiros neste tipo de assistência (MEDEIROS, 1999).

A Característica básica do modelo manicomial no Brasil e na região Nordeste é a concentração da assistência psiquiátrica nas capitais, centralizada no modelo hospitalocêntrico, com parca interiorização da assistência. É Incorporado o modelo assistencial implementado pelo governo federal à assistência psiquiátrica da região Nordeste. O segmento de baixa renda constitui o principal usuário da assistência prestada pelas instituições pública.

Duplamente estigmatizados, por serem loucos e pobres, este segmento social terá sua cidadania invertida, negada e tutelada, pela segregação social.

Muitos esforços foram empreendidos para resgatar a função terapêutica destas instituições, tais como a sua transformação em colônias agrícolas ou a introdução de práticas de grupo operativo e melhorias arquitetônicas e assistenciais.

Os esforços em humanizar e melhorar a qualidade assistencial, embora freqüentes, tem tido baixo impacto e é descontínuo.

A institucionalização do Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares – PNASH – versão hospitais psiquiátricos (Portaria GM/MS 3.408, de 05 de agosto de 1998) materializa mais um investimento no sentido de “garantir a qualidade mínima necessária aos serviços de saúde”.

Tal programa é de fundamental importância, posto que a assistência psiquiátrica ainda é predominantemente efetivada neste tipo de serviço, que consome mais de 90% dos gastos do SUS.

A região conta com um parque manicomial com aproximadamente 57 hospitais psiquiátricos, através dos quais são oferecidos para a rede do SUS em torno de 11.608

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leitos. O estado de Pernambuco lidera na região, concentrando 14 hospitais psiquiátricos e 3.431 leitos. Em segundo lugar, figuram a Bahia e o Ceará, ambos com 9 hospitais psiquiátricos, cada um.

Atualmente o modelo assistencial encontra-se em transição, de um padrão segregador, excludente e hospiciocêntrico, para um modelo de serviços aberto, comunitário e preservador da cidadania.

Muito embora persista a coexistência de lógicas/modelos, o novo e o velho convivendo, um dos principais avanços é no reconhecimento do portador de transtorno mental como sujeito de direitos.

3.2 A implementação da reforma psiquiátrica nos estados do Nordeste

Até junho de 2004 o Ministério da Saúde informa a existência de 516 centros de atenção psicossocial em atividade no país. A Região Nordeste figura em 3º lugar na quantidade dos novos dispositivos em saúde mental: 109, abaixo da região Sudeste, em 1º lugar com 240 e da Região Sul com 111 (BRASIL. Ministério da Saúde, 2004). Isto é, regiões de maior desenvolvimento econômico lideram numericamente a criação de novos dispositivos. Seguindo a mesma lógica do desenvolvimento econômico na Região Nordeste, que é a que tem maior número de estados: 9, em 1º lugar desponta o Estado da Bahia com 32 dispositivos; seguido pelo Ceará com 26 e em terceiro lugar Pernambuco com 17 (BRASIL. Ministério da Saúde, 2004).

Contudo, historicamente, a importância da participação dos diferentes estados economicamente mais dinâmicos não seguiu esta ordem. O Ceará destacou-se como pioneiro na região, haja vista ter criado o primeiro caps da região em 1991, em Iguatu. O Ceará ainda teve na região, a primeira lei estadual na perspectiva da reforma psiquiátrica, a segunda do país.

O Rio Grande do Norte é o segundo estado na região a criar caps, em Natal, na zona leste do município.

Pernambuco teve a segunda lei estadual voltada para a reforma, na região. Em suma, parece que nos estados economicamente mais potentes, uma gama de circunstâncias favoreceram a vanguarda no processo.

A Analise do avanço do processo reformista nos estados da região Nordeste teve por indicador a criação de caps, informação acessada através do Ministério da Saúde e do site da ong inverso (www.inverso.org.br).

O caps não é apenas um serviço, é uma condensação, uma materialização, uma síntese do jogo político no campo psiquiátrico, que pode inclusive ser apropriado pelas

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forças opositoras do processo em curso e ter seu sentido modificado, como chama a atenção Rotelli (1990).

A consolidação de um serviço não depende só de uma competência técnica. Implica na arregimentação de forças em várias esferas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como explicitado, o presente estudo trata-se de uma aproximação, com uma visão panorâmica.

Com relação à indagação principal do estudo: qual a participação dos 9 estados da Região Nordeste, na construção do processo de reforma psiquiátrica desenvolvida no país, a análise das informações sugere que:

a) Todos os estados da região participam, em diferentes ritmos, do processo de reforma da assistência psiquiátrica;

b) Em todos os estados foram criados serviços substitutivos. A região até março de 2004 tinha 40 caps I (destacando-se a Bahia com 14, em segundo lugar o Ceará com 10 e Sergipe, em terceiro, com 05). A Bahia e o Ceará contavam com 14 caps II, cada estado e Pernambuco 11. Apenas a Bahia e Sergipe contavam com caps III, considerado a modalidade efetivamente substitutiva por funcionar 7 dias da semana e 24 horas por dia, contando com leitos psiquiátricos para internação. Somente Pernambuco (com 2), Alagoas e Piauí contavam com capsi. Com exceção de Alagoas e Maranhão, os demais estados contavam com capsad na rede. Em termos proporcionais a participação nordestina na criação de caps é numericamente semelhante às demais regiões. Claro que como conta com mais estados, era de se esperar um número ainda maior, mas, tem havido um crescimento significativo ano a ano. A rede conta ainda com residências terapêuticas.

Como pode ser identificada a implementação do processo de reforma psiquiátrica na região Nordeste ocorre de maneira heterogênea. É possível constatar que o avanço de tal processo acompanhou o desenvolvimento econômico. Isto é, aludido movimento progrediu sintonizado com as diretrizes do Ministério da Saúde, sobretudo, nos estados considerados pólos econômicos e industriais na Região.

O principal indutor de mudanças na Região foi a própria coordenação de saúde mental do Ministério da Saúde. Todos os estados sofrem influência dos processos reformista iniciados na Região Sudeste, tendo por estimulador o projeto de lei nº 3.657-D, de

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1989 que deu origem à proposta semelhante na arena legislativa estadual e de parte significativa dos municípios, sobretudo das capitais dos estados da Região Nordeste.

REFERÊNCIAS

AMARANTE, P. D. C. Psiquiatria social e colônias de alienados no Brasil (1830-1920). 1982. Dissertação (Mestrado em Medicina Social) - Instituto de Medicina Social - UERJ, Rio de Janeiro,1982.

______. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, data.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: Os centros de atenção psicossocial. Brasília, 2004.84p.

CERQUEIRA FILHO, G. A “questão social” no Brasil: crítica do discurso político. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.

COÊLHO FILHO, H. A psiquiatria no país do açúcar e outros ensaios. João Pessoa: União Cia Ed. 1977. 245p.

DELGADO, P. G. As razões da tutela: psiquiatria, justiça e cidadania do louco no Brasil. Rio de Janeiro: Te Corá, 1992.

______. Papel estratégico das unidades psiquiátricas em hospital geral na reforma psiquiátrica brasileira. Cadernos IPUB. Rio de Janeiro: IPUB/UFR, n. 6, 1997. GIL, A C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1999. GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1992. MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2002. MEDEIROS, Tácito. Psiquiatria e Nordeste: um olhar sobre a história. Revista Brasileira de Psiquiatria, n. 21, v.3, p. 177, 1999.

NICÁCIO, F. Desinstitucionalização. São Paulo: Hucitec, 1994.

ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE. Reestruturação da assistência

psiquiátrica: bases conceituais e caminhos para sua implementação. Milão: OPS, 1990. 144p.

PITTA, A (Org.) Reabilitação psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1996.

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