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A CRIANÇA E A LITERATURA INFANTIL: O QUE SE FAZ NA ESCOLA?

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Academic year: 2021

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A CRIANÇA E A LITERATURA INFANTIL: O QUE SE FAZ NA ESCOLA? Giane Araújo Pimentel Carneiro –gianeap@hotmail.com

Universidade do Estado da Bahia – Campus XII Resumo

O presente trabalho é resultado de uma pesquisa em andamento sobre criança e cultura escrita. Neste estudo nos deteremos mais especificamente em refletir sobre o trabalho que é desenvolvido com a literatura nas instituições de Educação Infantil da rede pública do município de Guanambi-BA, pois, diante das observações já realizadas, percebemos que uma das práticas das culturas do escrito que as crianças mais se envolvem é a leitura literária. A inserção da educação infantil na educação básica, como sua primeira etapa, é o reconhecimento de que a educação da criança precisa receber maior atenção, por isso nos propomos a questionar como a literatura Infantil é apresentada às crianças? A literatura infantil é um dos pilares da educação infantil devido à consciência que se tem hoje da sua amplitude, abrangência e implicações no desenvolvimento da criança. Esse estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, com abordagem etnográfica. Nessa etapa foram realizadas observações de aulas em cinco turmas de uma instituição de educação infantil da rede pública do município de Guanambi-BA. Utilizamos o diário de pesquisa para registro e reflexão. Fundamentamos nos estudos de Magda Soares (2011), Aparecida Paiva e Fernanda Rohlfs (2012) Lígia Cademartori (2012), Ana A. de Oliveira (2010), entre outros. Os resultados parciais indicam que avançamos muito em relação à distribuição de livros, mas outras conquistas ainda carecem de acontecer, como espaços adequados para as práticas com a literatura nas escolas e mais programas de qualificação docente. Não basta criar leis e políticas de inserção das crianças na escola, é necessário, também, criar condições de manter a qualidade das práticas e serviços prestados.

Palavras chave: Criança. Literatura Infantil. Educação Infantil.

Introdução

Para chegarmos à compreensão do trabalho desenvolvido com a literatura infantil, direcionado às crianças nas instituições de educação infantil, iremos analisar os significados que os termos “criança” e “infância” foram assumindo na nossa história.

A “criança” é o sujeito real que vive a fase da vida que denominamos “infância”. Segundo Freitas e Kuhlmann Jr. (2002) “infância” é a concepção ou representação que os adultos fazem sobre o período inicial da vida ou como o próprio período vivido pela criança. Nesta duplicidade de nomenclaturas há, na verdade, uma dupla concepção, que poderíamos perceber melhor ao analisarmos a origem etimológica dos termos: “criança” - vem de criar, criação, algo comum a todos os seres vivos, e “infância” - vem de infans, aquele que não fala, remetendo ao aspecto cultural, ou seja, a concepção de que infância não é em si uma essência, mas um constructo histórico social, o que, na idade moderna, retrata bem a condição de subalternidade da criança em relação ao adulto.

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A infância constitui-se em um tempo social e historicamente construído, sensivelmente marcado pelas condições e experiências culturais facultadas a cada criança. Elas foram analisadas, classificadas como seres biopsicológicos, frágeis, inocentes, mas ignoradas como atores sociais. O adulto foi caracterizado como racional e autônomo, com a responsabilidade de definir quem são as crianças, como são e como devem ser. Essas diferentes concepções trazem implicações diretas nas formas que o trabalho pedagógico se descortina. Com base nessas reflexões procuraremos, neste trabalho, dar maior visibilidade à educação das crianças, considerando-as como sujeitos históricos, constituintes da sociedade.

A primeira creche brasileira data de 1875 no Rio de Janeiro, retratando já uma preocupação mundial com a construção de uma nação moderna (KUHLMANN JR., 2002). Entretanto, durante todo o século XX as crianças das camadas populares, mais especificamente as crianças menores de sete anos, ficaram fora das escolas.

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/13 institui que a educação infantil tem como objetivo o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos e assegura espaços, como as creches para crianças até três anos e as pré-escolas para crianças de quatro a cinco anos de idade. A inserção da educação infantil na educação básica, como sua primeira etapa, é o reconhecimento de que a educação começa nos primeiros anos de vida. Todavia, como tem se efetivado as práticas pedagógicas direcionadas às crianças nessas instituições? E a literatura Infantil como é apresentada às crianças?

Para responder a esta questão, essa pesquisa em andamento pretende refletir sobre o trabalho que é desenvolvido com a literatura nas instituições de Educação Infantil da rede pública do município de Guanambi-BA, pois, diante das observações já realizadas, percebemos que uma das práticas das culturas do escrito que as crianças mais se envolvem é a leitura literária. Essa é uma pesquisa qualitativa de cunho etnográfico, por permitir a imersão do pesquisador no campo da pesquisa: o cotidiano escolar. Nessa etapa foram realizadas observações de aulas em cinco turmas de uma instituição de educação infantil da rede pública do município de Guanambi-BA. Utilizamos o diário de pesquisa para registro e reflexão.

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A literatura infantil é um dos pilares da educação infantil devido à consciência que se tem da sua amplitude, abrangência e implicações no desenvolvimento da criança. Hoje, temos um consenso sobre a importância da aproximação entre livros e crianças, conforme afirma Cademartori (2012). Entretanto, a autora ressalta que apesar das conquistas das últimas décadas na área, ainda carecemos de acompanhar como se efetiva a distribuição de livros de literatura infantil nas escolas. Outro fator a considerar é que, por mais que as pesquisas e as políticas públicas procurem compensar os prejuízos de séculos, ainda há muito que fazer em relação à literatura infantil, principalmente no dia a dia das nossas escolas.

Nas instituições de educação infantil existem poucos espaços organizados para acolher os livros que chegam do Programa Nacional de Biblioteca na Escola – PNBE e também por meio das doações. Na Instituição lócus desse estudo falta espaço para organização da biblioteca. Os livros são organizados em cantinhos na sala de aula e em armários. Sobre essa questão Paiva e Rohlfs (2012) afirmam que as ações dos professores para tentar solucionar o pouco espaço, são louváveis, mas que não podemos contentar com os cantinhos, caixas e prateleiras. É necessário que as escolas tenham bibliotecas organizadas e equipadas para receber esse público tão peculiar, que são as crianças.

O acervo existente também merece uma atenção especial, pois a falta da acomodação adequada contribui para o mau estado de conservação dos livros, além da pequena quantidade recebida, em relação ao número de crianças atendidas. Numa das aulas observadas, logo após a rotina, a professora deu o comando para manusearem os livros da caixa. As crianças, sentadas no tapete, manuseavam o livro escolhido e “liam”, numa pseudoleitura, porque não dominavam ainda o sistema de escrita alfabética. Enquanto alguns ficavam imersos no livro, outros procuravam interagir com o colega, comentando sobre o livro, atitude que logo foi interrompida pela professora. As possibilidades de interação que as atividades com os livros permitem, favorecem o desenvolvimento das crianças, entretanto muitas vezes essas práticas ainda são interpretadas como mau comportamento e responsáveis pela “desordem” na sala. Ao final do tempo do manuseio a professora fez comentários rápidos sobre o tema e sobre a autora de dois livros que chamaram a atenção das crianças.

Esses momentos livres aconteciam em todas as turmas, entretanto, para cumprimento da função da literatura como fruição, outros fatores prejudicavam essas práticas, como a dificuldade de ouvir o outro, de concentração na atividade, que

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interpretamos ser por conta da forma como a atividade era conduzida. As crianças precisam aprender as normas que regem cada tipo de atividade. Outra prática observada com a literatura foi o uso das histórias no seu viés pedagógico, ou seja utilizar a história como meio para a aquisição de algum conhecimento intencional. Um exemplo disso foi a leitura da história “João e o pé de feijão” seguida de atividade sobre a germinação do feijão.

Essa prática tem sido denominada de escolarização da literatura e é um dos maiores pontos de embates entre pedagogos e profissionais da área de letras, que defendem o viés artístico e estético da literatura. Atualmente, os pedagogos também criticam a escolarização negativa da literatura. Ela acontece quando a literatura é utilizada apenas para a aquisição de certo conhecimento, e muitas das vezes, com efeito moralizante. O cultivo do gosto pela leitura literária nas crianças depende da forma como ela lhe é apresentada. Precisa considerar a sensibilidade, a fantasia e o imaginário, abrindo espaço para o lúdico e o prazer. Segundo Oliveira (2010, p. 41) “a literatura contribui para a formação da criança em todos os aspectos, especialmente na formação de sua personalidade, por meio do desenvolvimento estético e da capacidade crítica.” Portanto não temos como não fazer uso da literatura na escola, já que sua importância para a formação da criança é fato consagrado em todas as áreas, entretanto defendemos a escolarização tal qual defende Magda Soares (2011, p.4)

O termo escolarização é, em geral, tomado em sentido pejorativo, depreciativo, quando utilizado em relação a conhecimentos, saberes, produções culturais; não há conotação pejorativa em “escolarização da criança”, em “criança escolarizada”, ao contrário, há uma conotação positiva; mas há conotação pejorativa em “escolarização do conhecimento”, ou “da arte”, ou “da literatura”, como há conotação pejorativa nas expressões adjetivadas “conhecimento escolarizado”, “arte escolarizada”, “literatura escolarizada”. No entanto, em tese, não é correta ou justa a atribuição dessa conotação pejorativa aos termos “escolarização” e “escolarizado”, nessas expressões.

O que é negativo é a escolarização inadequada da literatura infantil. É contra isso que devemos caminhar no trabalho efetivo com a literatura nas escolas, principalmente no que se refere às crianças menores.

Considerações

Muitas das questões que surgem a respeito de práticas inadequadas com a literatura infantil podem ser revistas. O acompanhamento das políticas públicas de

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distribuição dos livros, a leitura diária de histórias para as crianças, a adoção da dimensão estética nesse trabalho e a inserção em programas e momentos de formação continuada. Um dos pontos frágeis destacados nas pesquisas é a qualificação profissional do professor.

Não temos cursos de graduação específicos para qualificar o trabalho com a literatura infantil, e muitas vezes, nem o componente curricular nos cursos de Pedagogia. Nesses casos a formação continuada é a alternativa para superar as lacunas que envolvem as práticas com a literatura infantil nas escolas, além da imersão do professor também como um apaixonado leitor literário na sua vida cotidiana.

Não basta criar leis e políticas de inserção das crianças na escola, principalmente das crianças das camadas populares, mas é necessário criar condições de manter a qualidade das práticas e serviços oferecidos a elas de forma respeitosa e condizente com a condição de cidadãos de direitos que são.

REFERÊNCIAS

CADEMARTORI, Lígia. Literatura infantil – do conceito à consolidação: um olhar histórico. Revista Educação, ed. especial: Literatura Infantil. São Paulo: Segmento, 2012.

FREITAS, M. C. de; KUHLMANN JR., M. (orgs.). Os intelectuais na história da infância. São Paulo: Cortez, 2002.

KUHLMANN JR., Moysés. A circulação das idéias sobre a educação das crianças: Brasil, início do século XX. In: FREITAS, M. C. de; KUHLMANN JR., M. (orgs.). Os intelectuais na história da infância. São Paulo: Cortez, 2002.

OLIVEIRA, Ana Arlinda de. O professor como mediador das leituras literárias. In. PAIVA, Aparecida, MACIEL, Francisca, COSSON, Rildo. Literatura : ensino fundamental. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010. PAIVA, Aparecida; ROHLFS, Fernanda. A vez e a hora dos livros de literatura. Revista Educação, ed. especial: Literatura Infantil. São Paulo: Segmento, 2012.

SOARES, Magda. A escolarização da literatura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, Aracy Alves Martins; BRANDÃO, Heliana Maria Brina; MACHADO, Maria Zélia Versiani (organizadoras). Escolarização da leitura literária. 2ª ed., 3ª reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.

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