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A CERIMÔNIA DO CHÁ BONTEMAE COMO REPRESENTAÇÃO TEATRAL. Haroldo Tuyoshi Sato (Faculdade Campo Real)

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Academic year: 2021

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A CERIMÔNIA DO CHÁ BONTEMAE COMO REPRESENTAÇÃO TEATRAL Haroldo Tuyoshi Sato (Faculdade Campo Real)

Palavras-chave: Cerimônia do chá, Representação teatral, Gestualidade. Resumo

Este artigo diz respeito à Cerimônia de Chá Bontemae, arte tradicional japonesa, vinculada a uma performance teatral estilizada do ato de um anfitrião oferecer uma simples xícara de chá para um convidado. Esta arte caracteriza-se por uma gestualidade ritual, num encontro marcado pelo respeito e consideração. A Cerimônia do Chá Bontemae foi ensinada por gerações, como um caminho – chado. A essência deste caminho diz respeito ao conceito de ichi-gô ichi-ê, ou seja, que cada encontro humano é único e não pode ser repetido, devendo o praticante da Cerimônia a realizá-la com o máximo de sinceridade, como se fosse a última que este realizasse.

1. Introdução

No Japão, entre os séculos XII-XV, o chá era consumido em reuniões festivas, denominadas de cha-yorai. Estas eram marcadas pela ostentação de caríssimos utensílios para chá chineses. Esta tendência sofreu radical transformação no século XVI, durante o Período Momoyama. Neste, o regente japonês era Toyotomi Hideyoshi, homem de elevado gosto artístico, com inclinação para apreciar obras de arte suntuosas. Contudo, ele deu impulso à superação das cha-yorai, transformando o mestre da Cerimônia do Chá Sen-no-Rikyu, como seu assessor artístico principal. Este reformou esta arte, transformando-a partir da estética wabi, que dá prioridade ao desprendimento, simplicidade, eliminação do supérfluo. Como diz o filósofo Mokiti Okada:

A cultura Momoyama mostra o estilo extremamente esplendoroso e suntuoso que reflete o caráter de Hideyoshi Toyotomi. Mas, ao mesmo tempo criou-se a cultura do wabi (gosto pela simplicidade e quietude, sobriedade), representada pela Cerimônia do Chá. (...) (OKADA, 1952, p.43)

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Ao invés dos refinados salões para chá das cha-yorai, Rikyu designou a humilde cabana camponesa de chá – chashitsu - como local da Cerimônia de Chá, também chamada de cha-no-yu. A Cerimônia do Chá passou a ser um Caminho – chado – de aprimoramento estético e espiritual do homem. Segundo Sen:

Segundo Rikyu, o “Caminho do Chá” deve ter na harmonia (Wa), no respeito (kei), na pureza (Sei) e na tranquilidade (Jaku), seus princípios basilares. O “homem de chá” (chajin) deve saber criar na sala de chá, através do rígido ritual e de sua participação total, a atmosfera adequada para que esses princípios sejam sentidos e vividos intensamente, por um momento, único e irrepetível, por todas as pessoas participantes da cerimônia. (SEN, 1981, p. 17)

A experiência de um encontro único, que não se repetirá jamais, é típica desta arte. Este princípio chama-se, em japonês, ichi-go ichi-ê – na vida, uma vez só. Os japoneses, durante cerca de um século, que inclui o Período Momoyama, passaram por catastrófica guerra civil, onde o destino do ser humano, mesmo poderosíssimo, poderia mudar em poucos minutos. Então, foi cunhada a expressão ichi-gô ichi-ê, que apresenta que qualquer encontro humano é único e irrepetível. Segundo a Pan-American MOA Foundation:

Esta experiencia no es solamente humana, sino que hay un contacto con la naturaleza y dependiendo de la medida en que logre compartir un sentimiento común con ella, no seria una exageración, el dicer que es una experiencia que no se volverá a repetir otra vez. Es el drama del “ichi-go., ichi-e” (un único momento para un único encuentro). (PAN-AMERICAN MOA FOUNDATION, 1999, p.91)

Na Cerimônia do Chá, a Natureza tem papel preponderante. O chashitsu, está localizada numa colina campestre. O objetivo disto é que possa se observar a Natureza ao se realizar a Cerimônia. A Natureza entra como o contexto principal, no qual o homem está inserido.

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A Cerimônia do Chá tem como influências básicas a visão oriental da relação homem-natureza, calcada em religiões como o xintoísmo e o budismo, no qual o homem é um ser menor que a Natureza, ao contrário da visão ocidental desta, na qual o homem é colocado em posição superior a ela. O cenário da representação teatral Cerimônia do Chá é a própria Natureza, ao mesmo tempo, ela é também um dos protagonistas principais dela. O anfitrião, que realiza a Cerimônia, e o convidado, que a recebe, são os outros dois personagens principais. Segundo a Pan-American MOA Foundation:

Tanto el anfitrión como el visitante son personajes importantes en esta representación. Vivir una experiencia dramática en medio de una escenografía natural es precisamente el encanto verdadero del Camino del té. (PAN-AMERICAN MOA FOUNDATION, 1999, p. 91)

Este trecho ressalta que a Cerimônia do Chá é experiência dramática entre anfitrião e convidado, com cenografia do ambiente natural. A representação deste drama segue roteiro pré-determinado, com movimentos definidos a priori. Geralmente a Cerimônia propriamente dita é realizada dentro da chashitsu, com ritual simples mas estilizado: preparar uma chávena com chá verde. Porém este ritual simples expressa simbolicamente a arte de viver em harmonia. Os gestos do ritual da Cerimônia, geralmente realizados no silêncio verbal, têm como trilha sonora os sons da Natureza e o borbulhar da água e o ruído harmonioso do manipular dos instrumentos, na rústica Cabana de Chá. Esta, construída em madeira e palha, tendo como cenário o ambiente natural e um rolo de pintura e caligrafia orientais, além de uma chabana, ou arranjo floral simples, expressam toda a arte de viver em harmonia com a natureza e com os homens.

3. Conclusão

A Cerimônia do Chá, inicialmente idealizada por Rikyu para ser realizada em ambiente campestre, posteriormente, foi difundida por seus sucessores, com seu neto Sotan, como arte a ser realizada também na cidade. Como coloca Sen:

Sotan, neto do grande esteta, dedicou-se ao ensino do chá de estilo wabi na cidade, enquanto seus três filhos o faziam

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junto aos senhores feudais. Quando cessou sua atividade, Sotan dividiu dus propriedade em os filhos os quais fundaram

suas próprias escolas: Urassenke, Omotosssenke e

Mushanokojissenke, ativas até hoje. (SEN, 1981, p.19)

A Cerimônia do Chá foi continuada, tendo estas e outras escolas ou estilos de realizá-la, transmitindo, por séculos, este solene Caminho. Na cidade, porém, uma colina campestre é um ambiente raro. Desta maneira, a Cerimônia foi adaptada para a realização em ambiente urbano, numa sala de uma residência, ou de uma repartição pública, comercial ou industrial. Entre os estilos de Cerimônia de Chá adaptados ao ambiente urbano está o Bontemae, literalmente Cerimônia de Chá sobre a bandeja, desenvolvido pela escola Mushanokojissenke, a partir do período Meiji (fins do século XIX), segundo a Pan-American MOA Foundation:

El origen del “Bontemae” se remonta ao Japón del comienzos del período Meiji, cuando la cultura y estilos de vida occidentales son introduzidos al Japón, y tomando al mundo como ejemplo, la civilización y la ilustración son glorificados. Los cultores del camino del té de aquel entonces, idearon el Table-temae (Ceremonia del té sobre mesa), el Ryurei-temae (Ceremonia del té tradicional sobre mesa) y el Bontemae, los cuales encajaban con el nuevo período. (PAN-AMERICAN MOA FOUNDATION, 1999 p. 89)

No Bontemae, a Natureza é representada pelo chá em pó, pelos utensílios feitos de bambu, pela chabana que se coloca sobre a mesa, pela simplicidade dos gestos do anfitrião. Tudo com a intenção de ofertar uma experiência única para o encontro humano que se dá na Cerimônia, encontro humano que é o fundamento e a razão de existir da Cerimônia.

4. Referências bibliográficas

- OKADA, M. (1952) Promoção da atividade do chá. In_________ Texto de aprimoramento sobre Zuiun-Kyo. Marinque: MOA INTERNATIONAL, s. d.

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- PAN-AMERICAN MOA FOUNDATION. Hacia la práctica de la “educación de los sentimientos a través de la filosofía de Mokichi Okada. Lima: Pan-American MOA Foundation, 1999.

- SEN, S. Vivência e sabedoria do chá. São Paulo: T. A. Queiroz, 1981.

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