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aula Território e territorialidade: abordagens conceituais Organização do Espaço Autoras Eugênia Maria Dantas Ione Rodrigues Diniz Morais

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Eugênia Maria Dantas

Ione Rodrigues Diniz Morais

Organização do Espaço

D I S C I P L I N A

Território e territorialidade:

abordagens conceituais

Autoras

aula

07

VERSÃO DO PROFESSOR

VERSÃO DO PROFESSOR

(2)

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Governo Federal Presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação

Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Reitor

José Ivonildo do Rêgo Vice-Reitora

Ângela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a Distância Vera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba Reitora Marlene Alves Sousa Luna Vice-Reitor Aldo Bezerra Maciel Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPE Eliane de Moura Silva

Coordenadora da Produção dos Materiais

Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de Edição

Ary Sergio Braga Olinisky

Projeto Gráfico

Ivana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e Linguagem

Eugenio Tavares Borges (UFRN) Janio Gustavo Barbosa (UFRN) Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN)

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva (UFRN)

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz Capistrano (UFRN) Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico

Leonardo Chagas da Silva (UFRN)

Revisora Tipográfica

Nouraide Queiroz (UFRN)

Ilustradora

Carolina Costa (UFRN)

Editoração de Imagens

Adauto Harley (UFRN) Carolina Costa (UFRN)

Diagramadores

Bruno de Souza Melo (UFRN) Mariana Araújo (UFRN) Ivana Lima (UFRN) Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

(3)

1

2

3

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Governo Federal Presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação

Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Reitor

José Ivonildo do Rêgo Vice-Reitora

Ângela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a Distância Vera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba Reitora Marlene Alves Sousa Luna Vice-Reitor Aldo Bezerra Maciel Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPE Eliane de Moura Silva

Coordenadora da Produção dos Materiais

Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Coordenador de Edição

Ary Sergio Braga Olinisky

Projeto Gráfi co

Ivana Lima (UFRN)

Revisores de Estrutura e Linguagem

Eugenio Tavares Borges (UFRN) Janio Gustavo Barbosa (UFRN) Thalyta Mabel Nobre Barbosa (UFRN)

Revisora das Normas da ABNT

Verônica Pinheiro da Silva (UFRN)

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz Capistrano (UFRN) Sandra Cristinne Xavier da Câmara (UFRN)

Revisor Técnico

Leonardo Chagas da Silva (UFRN)

Revisora Tipográfi ca

Nouraide Queiroz (UFRN)

Ilustradora

Carolina Costa (UFRN)

Editoração de Imagens

Adauto Harley (UFRN) Carolina Costa (UFRN)

Diagramadores

Bruno de Souza Melo (UFRN) Mariana Araújo (UFRN) Ivana Lima (UFRN) Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

Apresentação

C

ontinuando a busca pela compreensão dos aportes conceituais da Geografi a, estudaremos, nesta aula, a noção de território. A trajetória de análise pretende contemplar território e territorialidade sob diferentes perspectivas da Ciência, enfatizando aquelas que se difundem no âmbito da Geografi a. Priorizaremos, agora, o enfoque materialista por meio das concepções naturalista, econômica e jurídico-política. Para uma melhor compreensão do conceito de território, será necessário reler as aulas de Introdução à Ciência Geográfi ca.

Objetivos

Entender o conceito de território nas perspectivas materialistas.

Estabelecer a relação entre o conceito de território e o processo de territorialidade nas abordagens estudadas. Aplicar o conhecimento em situações-problemas, apresentados nas propostas de atividades.

(4)

Território: notas introdutórias

Certamente, você já ouviu, de alguma forma, a defi nição do termo território ou já vivenciou uma dada situação que remete a ele. Veja algumas situações em que esse conceito é veiculado e que remetem ao nosso dia-a-dia.

Meios de comunicação

Ao assistir a televisão, diariamente, você deve ter acompanhado as notícias sobre a invasão dos Estados Unidos ao Afeganistão, no ano de 2000, ou os confl itos que ocorrem nas favelas do Rio de Janeiro, para fi carmos em apenas dois exemplos amplamente focalizados pela mídia. Veja, então, que essas situações confl ituosas se estabelecem em uma base espacial geográfi ca que pode ser compreendida a partir da noção de território, na medida em que envolvem uma disputa entre agentes/atores sociais que divergem e lutam pela posse, domínio ou ocupação de uma fração do espaço.

Trabalho

Você é professor e está inserido no ambiente escolar. Muito bem, a escola também pode ser vista pela ótica do território. Por exemplo, a atuação de cada um dos profi ssionais envolvidos no processo de funcionamento é bem defi nida e demarcada, inclusive

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espacialmente. A direção, a secretaria, a coordenação, entre outros, não têm apenas especifi cidades quanto às funções que cada agente assume no processo educativo, mas ocupam espaços defi nidos no ambiente escolar. Desse modo, a sala de aula, como o espaço destinado ao exercício da prática docente, também pode ser entendida como um território, na medida em que o professor atua na coordenação do processo ensino-aprendizagem em um espaço com limites defi nidos que interferem nos horizontes de sua ação. A sala de aula vizinha já tem o seu domínio e controle sob a responsabilidade de um outro professor.

Habitar

Se avançarmos um pouco mais em busca de referências vinculadas à noção de território, certamente, iremos nos deparar com algumas situações emblemáticas que instigaram a refl exão teórica e exigem novas formulações sobre o tema. Estamos falando de processos que conduzem à perda e/ou à reconstrução de territórios. Por exemplo, a transferência de populações citadinas para um outro local, em função da construção de barragens. No Rio Grande do Norte, essa experiência foi vivida pelos moradores da cidade de São Rafael, em 1983, quando tiveram de deixar o seu ambiente de moradia devido à construção da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves no Vale do Açu. A antiga cidade foi inundada pelas águas e os habitantes foram transferidos para uma nova cidade, construída especialmente para esse fi m. O exemplo revela que o antigo território urbano foi perdido, embora uma reconstrução territorial tenha sido ensejada na nova São Rafael. Os desdobramentos de situações como essas serão analisados adiante, porém, a intenção é alertar para as diferentes nuances nas quais a questão do território pode emergir.

A sociedade em rede

Na atualidade, a discussão sobre território está associada ao contexto do meio técnico-científi co-informacional, ou seja, da sociedade em rede. Neste, a leitura dos processos sócio-espaciais permite a discussão sobre a noção de território como unidade geográfi ca fi xa, colocando a coexistência de ações como uma teia das complexas relações que se estabelecem, ampliando os horizontes de leitura e reconhecimento da existência das modalidades espaciais que colocam em contato a realidade multifacetada da sociedade em sua relação com o espaço. Nesse contexto, o território vai ser discutido na interface da dinâmica social, que é capaz de articular, a partir de pontos distintos, relações de trocas, sejam elas simbólicas, materiais, econômicas, políticas.... O território defi ne-se a partir de sua rede de interações, seus limites e fronteiras são estabelecidos de forma mais fl exível, sua compreensão torna-se mais complexa.

(6)

Atividade 1

sua resposta

Foram citados alguns exemplos em que o termo território pode ser empregado. Você é professor de Geografi a, identifi que um conteúdo em que o território pode ser trabalhado como categoria de análise geográfi ca. Justifi que como ele é abordado.

(7)

Território, territorialidades:

de que estamos falando?

O

s exemplos que iniciam nossa aula estão colocados no nível de aplicação cotidiana, de apropriação social que serve para contextualizar a explicação e/ou divulgação de um fato ou acontecimento. No entanto, há mais coisas por traz dessa evidência. Você vai percorrer o território dos conceitos e, nesse aspecto, encontrará a amplitude que ele assume ao adentrar as distintas disciplinas que alimentam o conhecimento científi co.

A discussão sobre território está presente em diferentes áreas do conhecimento científi co, desde a Etologia, da qual surgiram as formulações iniciais sobre territorialidade, passando pela História, Ciência Política, Antropologia e Sociologia, até aportar na Geografi a, na qual se constitui um dos conceitos básicos. Ao perpassar esses diferentes campos, o conceito assume uma enorme polissemia, posto que cada área sintetiza um enfoque a partir de uma determinada perspectiva.

No âmbito da própria Geografi a, as diferentes defi nições de território atestam essa condição, cujos sentidos variam de uma abordagem jurídica, social e cultural, e mesmo afetiva, cuja problematização se ancora em aspectos vinculados a relações que a sociedade estabelece com a natureza, mediadas por mecanismos de apropriação, dominação, ocupação ou posse de uma fração do espaço. Dessa relação, emerge a fragmentação do espaço com distintas funções, cuja organização, gestão, manutenção ou, mesmo, reorganização conjugarão interesses dos atores envolvidos.

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Você sabe qual é a etimologia da palavra “território”?

Vamos aprender?

Território deriva do vocábulo latino terra e, nessa língua, corresponde a territorium. Conforme Di Méo (1998, p. 47 apud HAESBAERT, 2004, p. 43), o jus terrendi confundia-se com o direito de aterrorizar. Embora não ocorrendo consenso sobre essa origem etimológica, é importante ressaltar que, direta ou indiretamente, o que se propagou sobre território diz respeito a um duplo sentido: à terra, o território como materialidade, e aos sentimentos que o território inspira, por exemplo, medo (para quem é dele excluído) e satisfação (para quem dele usufrui ou com ele se identifi ca).

Agora, que você já sabe a origem da palavra Território, que tal

aprofundarmos nosso conhecimento na perspectiva

teórico-conceitual?

O conceito de território tem assumido grande relevância no campo da Geografi a. Dentre os geógrafos que vêm se dedicando, atualmente, aos estudos desse tema, destaca-se Rogério Haesbaert, professor da UFRJ. Para ele (2001; 2002; 2004), é possível agrupar as várias concepções de território em quatro vertentes básicas: política, cultural, econômica e natural. Mas, ele também chama a atenção para o fato de que essa separação ocorre apenas para fi ns de análise, pois a dinâmica territorial, muitas vezes, conjuga várias dimensões. Vejamos o que nos diz o autor sobre cada uma delas.

Território – Dimensão política

Refere-se às relações espaço-poder, em geral, ou jurídico-político, que dizem respeito às relações espaciais que se estabelecem na esfera do Estado-Nação. Nestas, o território é visto como um espaço delimitado e controlado, através do qual se exerce um determinado poder, na maioria das vezes, mas não exclusivamente, relacionado ao poder político do Estado.

Território – Dimensão cultural

Nessa concepção, o conteúdo cultural ou simbólico-cultural delimitam o território a partir da teia de representações e subjetividades que se enraízam em porção do espaço território, dando-lhe identidade. Nesse sentido, o território é visto como produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo em relação ao seu espaço vivido.

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Atividade 2

Território – Dimensão econômica

A vertente econômica focaliza o espaço como fonte de recursos e/ou incorporado no embate entre classes sociais; e na relação capital-trabalho, como produto da divisão territorial do trabalho.

Território – Dimensão natural

A perspectiva naturalista emprega uma noção de território baseada nas relações entre sociedade e natureza, especialmente no que se refere ao comportamento natural dos homens em seu ambiente físico. Essa é uma noção antiga e pouco difundida nas Ciências Sociais, atualmente.

No que se refere à territorialidade ou à “contextualização territorial”, tem-se que esta é inerente à condição humana. Além da concepção genérica, na qual é vista como a simples “qualidade de ser território”, é muitas vezes entendida no âmbito da dimensão simbólica do território. Todavia, assim como território, é um termo polissêmico, de forma que a compreensão de seu sentido estará vinculada às perspectivas teóricas.

A partir de uma das defi nições de território, apresente e justifi que um exemplo que você considera estar a elas vinculado.

(10)

O território: uma teia teórica

As quatro dimensões anteriormente mencionadas estão vinculadas a um conjunto de perspectivas teóricas, através das quais o conceito de território é discutido. De modo geral, podemos agrupá-las da seguinte forma:

n perspectiva materialista – concepções naturalistas, econômicas e jurídico-políticas; n perspectiva idealista – concepção simbólico-cultural;

n perspectiva integradora; n perspectiva relacional.

Vejamos como é tecida a teia teórica que nos permite entender o conceito de território e sua vinculação à noção de territorialidade a partir dessas diferentes abordagens...

Território na perspectiva

do materialismo

a)

As concepções naturalistas

As concepções naturalistas de território reduzem a territorialidade ao seu caráter biológico; consideram a própria territorialidade humana como moldada por um comportamento instintivo ou geneticamente determinado. Nesse sentido, é importante refl etir até que ponto é possível conceber uma defi nição naturalista de território. É possível pensar o território restrito ao mundo animal ou sob a ótica de um comportamento natural dos homens, portanto, no âmbito do comportamento dos animais? É possível apreender o território na relação sociedade x natureza, sendo este defi nido a partir da relação com a dinâmica e/ou poder natural do mundo? Dentre as concepções mais primitivas de território, encontra-se a que corresponde a um espaço defendido por todo animal confrontado com a necessidade de se proteger (DI MÉO, 1998, p. 42 apud HAESBAERT, 2004, p. 45).

A tese de que a territorialidade animal pode ser estendida ao comportamento humano foi fervorosamente defendida por Robert Ardrey (1969, p. 10 apud HAESBAERT, 2004, p. 44) que, em sua leitura neodarwinista sobre territorialidade, afi rma que não só o homem é uma espécie territorial, mas que esse comportamento territorial corresponde ao mesmo percebido entre os animais. Para esse autor, o território é uma área do espaço que um animal ou grupo de animais defende como uma reserva exclusiva; pode também descrever a compulsão interior em seres animados de possuir e defender tal espaço.

Embora sendo reconhecíveis as possibilidades de encontrar analogias entre a territorialidade animal e a humana, no campo da Geografi a, as discussões pouco ou nada se referem à primeira

(11)

Atividade 3

delas. Contudo, faz-se mister ressaltar que a relação sociedade/natureza se coloca no centro do debate geográfi co. Entre os geógrafos anglo-saxões, emergem estudos sobre Geografi as Animais, que discutem as formas de incorporação dos animais ao espaço social. E, apesar das críticas, as teses que tratam das semelhanças entre as territorialidades animal e humana apresentam uma tendência ascendente, especialmente a partir dos avanços da biogenética.

No atual cenário, em que coexistem diferentes visões, chama-se a atenção para o risco que é o de secundarizar a análise sobre a relação sociedade-natureza e submergir em um naturalismo que tudo atribui ao campo biológico ou natural, o que na Geografi a corresponderia a um retorno ao determinismo geográfi co; ou, em um outro extremo, imergir em um antropocentrismo, que tudo atribui ao homem.

Os fenômenos atuais, como os confl itos pelo domínio de recursos naturais, não deixam dúvidas sobre a necessidade de articular natureza e sociedade, comportamento biológico e social. Até mesmo na delimitação das chamadas reservas ecológicas, uma espécie de território natural, em que são vedadas a intervenção e a mobilidade humanas em seu interior, encontram-se imbricadas questões de ordem política, econômica e/ou cultural.

Dessa forma, no que diz respeito à perspectiva material do território, é preciso considerar a sua dimensão natural, que em alguns casos se revela como um de seus elementos fundadores, embora nunca dissociada das relações sociais.

Releia as aulas da disciplina Introdução à Ciência Geográfi ca, principalmente as que se referem ao “determinismo geográfi co”, e estabeleça relações com o conceito de território que está sendo estudado. Refl ita sobre a seguinte questão: faz sentido, nos dias atuais, pensar o território como sendo defi nido a partir do comportamento natural do homem, como se a territorialidade humana fosse moldada por um comportamento instintivo ou biológico? Justifi que sua resposta.

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b)

As concepções econômicas

As concepções materialistas de território, sob o enfoque econômico, estão presentes em diferentes áreas do conhecimento, assumindo certas especifi cidades. Estudos antropológicos priorizam o mundo simbólico, porém, ao se reportar à dimensão material, utilizam a noção de território. Uma referência dessa abordagem pode ser encontrada em Godelier (1984, p. 112) que designa território como

uma porção da natureza e, portanto, do espaço sobre o qual uma determinada sociedade reivindica e garante a todos, ou à parte de seus membros, direitos estáveis de acesso, de controle e de uso com respeito à totalidade ou parte dos recursos que aí se encontram e que ela deseja e é capaz de explorar.

Nessa defi nição, há uma forte referência à natureza e ao território como fonte de recursos, cuja importância está no seu acesso, controle e uso. Trabalhos recentes no campo da Antropologia ainda mantêm essa idéia de território sob a ótica econômico-materialista como “área defendida em função da disponibilidade e garantia de recursos necessários à reprodução material de um grupo” (HAESBAERTH, 2004, p. 56).

Na atualidade, a maioria dos lugares encontra-se cada vez mais distante da noção de território como fonte de recursos ou como simples apropriação da natureza, o que não signifi ca dizer que essas características estão superadas. É importante ressaltar que dependendo das bases tecnológicas do grupo social, sua territorialidade pode remeter a profundas ligações com a terra, no sentido físico do termo. Além disso, há áreas em que a sociedade tem sua vida infl uenciada por fenômenos naturais (por exemplo, vulcanismos e furacões) ou está submetida a um contínuo clima de tensão em função de problemas ambientais que levam a uma crescente valorização dos recursos naturais e de seu controle (por exemplo, Sahel africano e Bacia do Tigre e do Eufrates).

Segundo Haesbaerth (2004, p. 58), na Geografi a, o território sob o enfoque econômico tem em Milton Santos et al (2000) sua concepção mais relevante e teoricamente mais consistente. Segundo Santos, o uso (econômico, sobretudo) é o defi nidor por excelência do território. Dessa forma, “O território usado constitui-se como um todo complexo onde se tece uma trama de relações complementares e confl itantes. Daí o vigor do conceito, convidando a pensar processualmente as relações estabelecidas entre o lugar, a formação sócio-espacial e o mundo” (SANTOS et al, 2000, p. 3).

Na concepção de Santos et al (2000), a expressão território usado é correlata a espaço geográfi co, podendo ser visto, distintamente, como recurso e como abrigo. Segundo o autor, “para os atores hegemônicos o território usado é um recurso, garantia de realização de seus interesses particulares” e para os “atores hegemonizados” corresponde a um abrigo, no qual buscam constantemente “se adaptar ao meio geográfi co local, ao mesmo tempo em que recriam estratégias que garantam sua sobrevivência nos lugares” (SANTOS et al, 2000, p. 12-13). Essa perspectiva de pensar o território a partir do seu uso torna explícita a priorização da dimensão econômica, porém, não remete apenas a uma lógica zonal (território-zona), mas também a uma lógica de relações em rede, que se estabelecem material e virtualmente (território-rede). Conforme os escritos de Santos et al (1994, p. 16), “o território, hoje, pode ser formado de lugares contíguos e de lugares em rede”.

(13)

Atividade 4

No contexto atual, a informação, instrumento de interligação entre as diversas partes do mundo, assume um papel fundamental na construção do território. Este reúne informações local e externamente defi nidas, vinculadas a um conteúdo técnico e a um conteúdo político. O comando local do território depende de sua densidade técnica e/ou funcional/informacional, enquanto o comando global, a escala da política, é distante e completamente dissociado, o que acirra os confl itos entre um espaço local, vivido por todos os vizinhos, e um espaço global, racionalizador e em rede, vinculado a formas e normas a serviço de alguns.

Na obra de Santos, o espaço geográfi co, sinônimo de território usado, é defi nido como resultante da interação entre um sistema de objetos e um sistema de ações, e a análise do território enfatiza a sua funcionalização e o seu conteúdo técnico. Tais aspectos explicitam a base materialista de fundamentação econômica presente em sua concepção de território.

Importante

A obra de Milton Santos não se restringe a formulações de base econômica, embora esta tenha prevalecido. O autor ampliou e complexifi cou suas elaborações teóricas, fazendo associações entre territorialidade e cultura e territorialidade e memória, desenhando um outro horizonte de leitura e interpretação do território.

Você deve acompanhar muitas notícias que dizem respeito à apropriação do espaço geográfi co por atores sociais distintos. Pesquise em jornais, revistas e na Internet um fato que esteja relacionado a essa dinâmica. Descreva-o e explique-o de acordo com a noção de território em sua acepção econômica.

(14)

A vertente jurídico-política

de território

A

temática espacial é bastante ampla, repercutindo em termos de conceitos geográfi cos, os quais são levados a priorizar um determinado tipo de questão e uma específi ca dimensão social, por exemplo, o tratamento das questões políticas por meio do conceito de território. No segmento da Geografi a Política, território e territorialidade são tidos como conceitos fundamentais. Inclusive, a origem etimológica dos referidos vocábulos está associada à idéia de apropriação ou dominação (política) do espaço pelos homens.

Segundo Haesbaerth (2004, p. 62), “o vínculo mais tradicional na defi nição de território é aquele que faz a associação entre território e os fundamentos materiais do Estado”. Dentre os geógrafos que se destacam nessa perspectiva, encontra-se Ratzel, que defi ne o território como “um espaço qualifi cado pelo domínio de um grupo humano, sendo defi nido pelo controle político de um âmbito espacial” (apud MORAES, 2000, p. 19). Para Ratzel, no mundo moderno há áreas de dominação estatal e, mais recentemente, estatal nacional, sendo impossível compreender o incremento da potência e da solidez do Estado sem considerar o território.

Ressalta-se que a distância entre as visões naturalista e política do território nem sempre foram claramente evidenciadas, de modo que as teorizações fi zeram pontes, às vezes inusitadas, entre as construções política e biológica de território. Dentre as referências que fazem analogias entre a territorialidade animal e a humana, destaca-se a premissa de

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que a sociedade teria o direito natural a um espaço ou mesmo a uma propriedade privada da terra, quase dever, na medida em que corresponderia ao espaço vital, imprescindível ao progresso social. Os adeptos dessa afi rmação, em maior ou menor grau, desenvolveram a associação que fez do território político – principalmente o território do Estado – uma extensão da dinâmica do mundo biológico (animal). Verifi ca-se a transposição dos espaços

vitais da Biogeografi a para a realidade territorial do Estado, sendo este também uma forma

de propagação da vida na superfície da Terra.

Ratzel foi o elaborador do conceito de espaço vital como sendo o espaço ótimo para a reprodução de um grupo social, considerados os recursos disponíveis que devem ter uma relação de correspondência com as dimensões do agrupamento humano nele existente. Dessa forma, é possível inferir que, em Ratzel, o território se defi ne através do elo entre uma dimensão natural (física) e uma dimensão política (que se confunde com o Estado). Essa concepção aproxima-se daquela que valoriza a dimensão econômica e percebe o território como fonte de recursos para a reprodução social, já que Ratzel usa a disponibilidade de recursos como parâmetro para sua formulação conceitual.

Na Geografi a Política, uma outra importante contribuição ao debate sobre território é proveniente da concepção de Gottman (1952), que amplia o conceito para além do Estado-Nação, embora mantenha seu caráter jurídico-administrativo. Para ele, no mundo compartimentado da Geografi a, a unidade política é o território, defi nido como o “conjunto de terras agrupadas em uma unidade que depende de uma autoridade comum e que goza de um determinado regime” (GOTTMAN, 1952, p. 71). O autor também incorpora uma dimensão mais idealista ao analisar o território através dos sistemas de movimento, ligados a tudo o que envolve a circulação no espaço, e os sistemas de resistência ao movimento ou iconografi as, constituídos por uma série de símbolos. Nessa concepção, verifi ca-se uma vinculação entre mundo material e ideal e a perspectiva de compreender o território ligado à idéia de movimento, e não apenas de enraizamento ou estabilidade. Para ele, as divisões mais importantes estão nos espíritos, mais do que nas fronteiras físicas (GOTTMAN, 1952, p. 220).

Entre autores clássicos e recentes, parece haver um consenso de que a dimensão política, para além da perspectiva jurídica e estatal, é a que melhor expressa a conceituação de território. Em decorrência dessa importância, e a partir do sentido relacional atribuído ao conceito de poder, a análise da dimensão política do território será retomada adiante por meio do pensamento de Sack e Raffestin.

(16)

Atividade 5

Vamos imaginar como a perspectiva jurídico-política do território pode ser apreendida a partir de uma situação concreta? Nos primeiros meses de 2008, criou-se uma polêmica em torno da questão da soberania e das fronteiras territoriais do Brasil, em decorrência da demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Dessa forma, analise a questão do território e da territorialidade através da política de demarcação de reservas indígenas na fronteira amazônica, procurando observar o papel dos atores sociais envolvidos nessa trama e a relação entre as fronteiras do Brasil e os limites das reservas. Para fundamentar sua resposta, pesquise em revistas e na Internet sobre o tema.

(17)

Resumo

Chegamos ao fi nal da aula na qual analisamos o território através da visão materialista, que focaliza a dimensão natural, econômica e política. Porém, o assunto não terminou. O aprofundamento do estudo se dará por meio das perspectivas idealista, integradora e relacional, tópicos da próxima aula. Até lá!

Nesta aula, o foco da refl exão foi a noção de território. Para isso, problematizamos a polissemia desse conceito a partir da perspectiva materialista, quando procuramos aproximar as teorias a noções de território em uma abordagem geográfi ca. Assim, esta aula objetivou apresentar, discutir e problematizar o território em uma perspectiva de construção conceitual, levando você a compreender o cenário geográfi co como uma organização que se revela pela interface sociedade-natureza, delimitando fronteiras e limites espaciais.

Auto-avaliação

Agora, demonstre o que você aprendeu sobre território segundo as perspectivas materialistas. Construa uma síntese dos conceitos de território, levando em consideração as distintas abordagens teóricas apresentadas nesta aula; identifi que e cite um exemplo que permita vinculação a estas.

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Referências

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DI MÉO, G. Geographie sociale et territoires. Paris: Nathan, 1998. GODELIER, M. L’idéel et le materiel. Paris: Fayard, 1984.

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HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do fi m dos territórios à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

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EMENTA

n Eugênia Maria Dantas n Ione Rodrigues Diniz Morais

Objeto de estudo da geografia; as correntes filosóficas que embasam o pensamento geográfico; espaço, território,lugar, região e paisagem nas diversas abordagens geográficas; a importância das redes no estudo geográfico do mundo globalizado; a ciência geográfica na sociedade pós-moderna:paradigmas, perspectivas e dificuldades; as formas de abordagens dos temas geográficos no Ensino de geografia; atividades práticas voltadas para a resolução de problemas referentes ao espaço geográfico em situações de ensino

Organização do Espaço – GEOGRAFIA

AUTORAS

AULAS

1º Semestre de 2008

Impresso por:

Gráfica xxxxxx

01 Despertando para a leitura do espaço

02 Aprofundando o conceito de espaço

03 A Organização do Espaço: um desafio inter-trans-disciplinar?

04 A dinâmica entre o global e o local na globalização

05 Paisagem como categoria da análise geográfica

06 Lugar e (des) identidade

07 Território e territorialidade: abordagens conceituais

08 Território e territorialidade: abordagens conceituais (parte II)

09 Por entre territórios e redes: múltiplas leituras

10 Região e a Geografia tradicional

11 Região no contexto da renovação da geografia

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Referências

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