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CHUVAS PERSISTENTES E DESASTRES ASSOCIADOS: ESTUDO DE CASO EM SANTA CATARINA, SETEMBRO DE 2011

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CHUVAS PERSISTENTES E DESASTRES ASSOCIADOS: ESTUDO DE CASO EM

SANTA CATARINA, SETEMBRO DE 2011

Raidel Báez Prieto1; Víctor Luís Padilha2; Francisco Henrique de Oliveira3; Mateus da Silva Teixeira4; Tiago Molina Schnorr5

ABSTRACT – Studies indicate a trend of increase of extreme precipitation events throughout the last years in southern Brazil, usually associated with climate change. Diverse consequences in the amount and intensity of rainfall can be observed in different regions. Based on the literature, it is understood that there is no simple mechanism to explain the causes of extreme precipitation events in Santa Catarina due to the climatic complexity of the transition zone in which the state is located. There is a tendency for changes in the frequency and intensity of extreme events and their relation to the ENSO event, as in the mechanisms that change their spatial distribution. This paper aims to evaluate and compare an event from 2011 september with recent works and identify, considering El Niño and La Niña phenomenona, Santa Catarina susceptibility in extreme and persistent events. These results collaborate to understand the changes in the rainfall patterns and can be used by decision makers in climate change adaptation strategies. Therefore, decision makers working with climate studies agencies, must approach to predict such events and mitigate potential damage in face of such demands in Santa Catarina for extreme persistent events.

Palavras-Chave – Suscetibilidade, chuvas persistentes, mudanças climáticas.

1,2,3) Centro de Ciências Humanas e da Educação, Universidade Estadual de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil (raidelbp@gmail.com), (chico.udesc@gmail.com), (victor.engambiente@gmail.com)

4) Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Meteorologia, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, (mateusstex@gmail.com)

5) Chefe da Divisão de Monitoramento no Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres. Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Ministério da Integração Nacional.

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INTRODUÇÃO

A América do Sul é afetada por sistemas atmosféricos de escala sinótica, influenciados por fatores de circulação de diversas escalas, de origem tropical ou extratropical, causando chuvas intensas e persistentes ao longo do ano no sul do Brasil (MARENGO et al., 2007; REBOITA et al., 2010; TEDESCHI et al., 2014). Os desastres ambientais relacionados às chuvas, inundações e deslizamentos de terra podem ocorrer devido a eventos climáticos que geram uma quantidade de água superficial em pouco tempo, denominadas chuvas intensas, ou duram por longos períodos de tempo, denominadas chuvas persistentes.

Nos últimos 30 anos, o Brasil sofreu vários desastres ambientais em diferentes épocas do ano (GRIMM, 2009), sendo a grande maioria relacionada a fenômenos meteorológicos ou extremos climáticos como chuva intensa, chuva prolongada ou persistente, ventos intensos, que por sua vez, levam aos desastres ou eventos mencionados anteriormente. Na região sul do Brasil, o estado de Santa Catarina é fortemente influenciado por eventos climáticos extremos, de acordo com informações da Defesa Civil do Estado disponíveis na rede mundial de computadores, sendo este estudo de caso voltado para as chuvas persistentes e respectivos desastres associados.

Nunes e Da Silva (2013), mediante o uso da modelagem climática regional, estudaram no leste e norte do estado de Santa Catarina, a frequência de desastres naturais ocasionados por eventos extremos de precipitação nos últimos 60 anos. Os autores mostram uma climatologia na região, onde os maiores números de eventos têm ocorrido no verão e outono e os de maior persistência no inverno, com uma tendência linear positiva que indica um aumento no número de eventos futuros.

Segundo Cardoso e Calearo (2017), referente aos eventos de precipitação extrema no sul do Brasil, com dados dos últimos 37 anos, foi observado que os eventos de chuva mais intensos ocorrem principalmente durante o verão. Estes autores também inferem que há uma relação entre os eventos mais intensos de acumulado que coincidem com anos do evento El Niño (ENOS) forte, e que durante anos de neutralidade desse fenômeno acontecem os casos mais persistentes em dias de inverno e primavera. Estes casos mais persistentes têm sido observados nas regiões norte e sul do estado, bem como na região metropolitana de Florianópolis, capital do estado.

Fernandes e Rodrigues (2017) analisaram as mudanças na frequência e intensidade de eventos extremos de chuva para o estado de Santa Catarina durante a primavera e o verão comparando os períodos entre 1979-1999 e 2000-2015. Os autores reforçam a ideia de que não existe um mecanismo simples que explique as alterações e as causas dos eventos extremos de precipitação em Santa Catarina, devido à complexidade climática desta zona de transição. Seus resultados mostraram que houve mudanças na frequência e intensidade de eventos extremos entre os dois períodos e sua relação com o evento ENOS, assim como nos mecanismos causadores que mudam a distribuição espacial dos mesmos.

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Segundo Fernandes e Rodrigues (2017), na primavera os eventos extremos são menos prováveis de ocorrer durante os eventos El Niño e mais frequentes durante La Niña e anos neutros, relacionados com a presença da Zona de Convergência do Atlântico Sul (SACZ) ao norte combinada com um sistema anticiclônico fora da costa sul-americana durante anos neutros. Os eventos extremos são atualmente mais frequentes nas estações do lado leste de Santa Catarina. No verão, durante anos neutros, os eventos da SACZ tornaram-se menos frequentes ao mesmo tempo em que os eventos de bloqueio atmosférico se tornaram mais frequentes. Por outro lado, os eventos da SACZ tornaram-se mais frequentes durante os anos de La Niña devido a umidade vinda da Amazônia para Santa Catarina implicando nas chuvas persistentes, destacadas no presente estudo. Tais constatações podem ser verificadas da mesma forma em Sá et al. (2018) para a região sul do Brasil.

A literatura associa a ocorrência de chuvas persistentes à passagem de sistemas frontais ao longo da costa do estado, ocorrendo o mesmo nas estações do lado leste de Santa Catarina. Os autores também deixam em aberto uma necessidade de realizar mais trabalhos para identificar os precursores dos eventos prolongados no estado durante anos neutros e a relação com algumas oscilações atmosféricas e o impacto da oscilação antártica.

A partir da caraterização climatológica das chuvas persistentes em Santa Catarina, o principal objetivo deste trabalho se configura em estudar as condições responsáveis pelas chuvas persistentes extremas que ocorreram em Santa Catarina no mês de setembro de 2011, obtendo um mapa que representa as regiões suscetíveis aos efeitos negativos que esta chuva em excesso pode provocar na região.

METODOLOGIA

Para a análise das chuvas no período de estudo foram utilizados dados diários de precipitação de 6 a 12 de setembro de 2011, tomando como referência os registros do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres da Defesa Civil Nacional, assim como os dados das estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (EPAGRI-CIRAM). Foram analisadas imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e cartas de análises sinóticas do Serviço Meteorológico do Centro de Hidrografia da Marinha de Brasil. Os dados supracitados tornaram-se insumo para o Sistema de Informação Geográfica (SIG) que, por meio de ferramentas de geoprocessamento, permitiu gerar um mapa das regiões mais suscetíveis para o estudo de caso considerando a potencial relação frente aos danos, bem como o deslocamento e potencial destruição que as chuvas persistentes provocaram durante o período analisado. A representação temática possui papel fundamental no processo de compreensão da suscetibilidade a danos por tais tipos de evento, considerando sua duração, principalmente, e potenciais regiões afetadas.

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RESULTADOS

Segundo a climatologia observada nas pesquisas referenciadas e nas séries históricas, nas estações de outono e inverno acontece o maior numero de casos de chuva que persiste por vários dias e, especificamente no inverno, os mais intensos enquanto persistência em dias e acumulados médios da chuva no período. Esse último resultado coincide com os estudos realizados por Nunes e Da Silva (2013), assim como Cardoso e Calearo (2017). O período estudado, de 6 a 12 de setembro de 2011, refere-se a uma época de transição entre o inverno e a primavera, havendo influência do evento La Niña moderado, como mostra a figura 1. Neste período de dias ocorre um evento extremo de chuva persistente associado com a passagem de uma frente fria, a qual fica semiestacionária e em união com uma região de fluxo de umidade proveniente da Amazônia. Este sistema provoca grandes alterações na região leste de Santa Catarina, coincidindo com os estudos recentes de fenômenos extremos de chuva feitos por Fernandes e Rodrigues (2017). Na figura 1, há um destaque do Evento La Niña forte desde 2010 e, em seguida, moderado, para o período estudado de 2011.

Figura 1 – Representação do comportamento histórico do evento ENOS. Fonte: Golden Gate Weather Services (2018).

Com os altos volumes pluviométricos registrados na primeira quinzena do mês de setembro de 2011 no estado de Santa Catarina, 99 municípios registraram ocorrências no Sistema Integrado de Informações de Desastres – S2ID, da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, em virtude de inundações, enxurradas, alagamentos e deslizamentos de terra. Foram registrados no Estado 377.992 pessoas afetadas pelo desastre, sendo que 107.680 pessoas tiveram de sair de suas casas, 2.119 estiveram em abrigos municipais e 105.561 em casas de amigos ou parentes. No Vale do Itajaí, região mais afetada pelos desastres, registrou-se a 16ª maior cheia do rio Itajaí-Açu no

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município de Blumenau, conforme dados do Sistema de Monitoramento e Alerta de Eventos Extremos de Blumenau – AlertaBlu, que registra dados fluviométricos desde o ano de 1852. Segundo dados da prefeitura, 416 ruas ficaram totalmente alagadas e 26 abrigos municipais foram ativados para atender a população afetada. Verifica-se na figura 2 o impacto da cheia no centro do município.

Figura 2 – Impacto da inundação no centro de Blumenau.

Entre as cidades com volumes de chuva acima do normal se destacaram Florianópolis (180mm), Joinville (172mm), no litoral, e Indaial (168mm), no Vale do Itajaí segundo registros da Defesa Civil estadual. O maior registro foi na cidade de Campos Novos, no meio-oeste, onde a precipitação alcançou 195mm e os valores médios mensais variam de 150 a 160mm. Em Florianópolis, foram registrados acumulados para o dia 7 de Setembro de 2011 na faixa dos 200 mm, atingindo a área do norte da ilha, ficando em estado de alerta pela continuidade das chuvas nos seguintes dias. Este comportamento da chuva pode ser analisado na figura 3, com a ordenada representando a chuva máxima registrada de cada estação em milímetros e abscissa representando a duração da chuva em dias, ambos com boxplot e histograma.

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Analisando a carta sinótica de superfície e imagens de satélite (figura 4), a chuva persistente sobre o estado se dá devido à chegada de uma frente fria pelo sul da região. Esta frente fria, cujo ciclone extratropical se encontra ao sudeste no Oceano Atlântico, está acoplada a um sistema de baixa pressão que se encontra ao noroeste do estado. Esta baixa pressão é alimentada pelo jato de baixos níveis com grande fluxo de umidade, como mostram as imagens de satélite. Para o dia 09/09/2011 essa baixa pressão se desenvolve como um ciclone extratropical no litoral ao leste do estado, o qual mantém a chuva por uns dias a mais sobre a região até ocorrer uma nova frente fria.

Figura 4 – Carta Sinótica de superfície e imagens de satélite para o dia 06/09 quando inicia a chuva e para o dia 09/09 quando se reforça o sistema atuante de frente fria e ciclogênesis sobre o estado.

Por fim, na figura 5 ilustra-se as regiões mais suscetíveis em relação aos danos causados pela chuva persistente extrema de setembro de 2011, destacando-se o as mesorregiões do Vale do Itajaí, Norte catarinense e Oeste catarinense. Tal representação permite avaliar a suscetibilidade de todas as regiões de Santa Catarina frente aos eventos de precipitação persistentes e, deste modo, auxiliar na tomada de decisão quando forem previstos eventos com tais características.

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Figura 5 – Representação das regiões mais suscetíveis em relação aos danos causados pela chuva persistente extrema de setembro de 2011.

CONCLUSÕES

Verificou-se com este estudo que a época de transição de inverno para primavera, em que acontece este caso de chuva persistente extrema, coincide com os resultados apresentados por Nunes e Da Silva (2013), Cardoso e Calearo (2017) e Fernandes e Rodrigues (2017). De fato, os relatos dos autores supracitados, indicam que apesar dos maiores números de eventos de chuva persistente, tenham preferência principalmente no verão, os persistentes mais intensos ocorrem no inverno como mostra também a climatologia da região.

Desde o ano 2008 não haviam registros de acumulados de chuva persistentes tão intensas na região de estudo e em janeiro do presente ano de 2018 houve outro caso extremo de chuva persistente também num ano de La Niña, segundo a EPAGRI-CIRAM. A chuva persistente extrema que aconteceu entre os dias 6 a 12 de setembro de 2011, foi devido à formação de grandes áreas de instabilidades associadas com a passagem pela região de uma frente fria. Assim, verifica-se a ocorrência de um caso representativo da tendência dos tempos atuais, e portanto, fica o alerta para um potencial período de mudança climática, sendo este estudo de caso um exemplo característico.

Tais condições provocaram diversos alagamentos em muitas cidades do estado, deixando-as em estado de alerta e em seguida de emergência pelos danos ocasionados, principalmente ocorrendo eventos de deslizamentos e inundações em diversos municípios. A soma de vários

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fatores sinóticos em conjunto com a topografia de relevo acidentado da faixa leste do estado contribuiu significativamente para que as chuvas persistentes se mantivessem por tantos dias.

Portanto, os órgãos de planejamento, gestão territorial e Defesa Civil, juntamente com os órgãos de estudos climatológicos devem se aproximar cada vez mais para prever tais eventos e mitigar os potenciais danos frente às demandas iminentes em Santa Catarina e pela sistemática de ocorrência dos eventos extremos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FERNANDES L. G., RODRIGUES R.R. (2017), INTERNATIONAL JOURNAL OF CLIMATOLOGY. Int. J. Climatol. Published online in Wiley Online Library DOI: 10.1002/joc.5248.

GRIMM, A. M. (2009), Clima da Região Sul do Brasil. In: CAVALCANTI, I. F. A.; FERREIRA, N. J.; JUSTI DA SILVA, M. G. A.; SILVA DIAS, M. A. F. Tempo e clima no Brasil. Ed. Oficina de Textos, p. 259-274. MARENGO, J. A., ALVES, L. M., VALVERDE, M. C., ROCHA, R. P.; LABORBE, R. (2007), Eventos extremos em cenários regionalizados de clima no Brasil e América do Sul para o século XXI: Projeções de clima futuro usando três modelos regionais. Relatório 5. MMA/SBF/DCBio, Brasília. NUNES, A. B.; DA SILVA, G. C. (2013), Climatology of extreme rainfall events in eastern and northern Santa Catarina state: present and future climate. Revista Brasileira de Geofísica (Impresso), v.31, p.1-13.

REBOITA, M. S., GAN, M. A., ROCHA, R. P., AMBRIZZI, T. (2010), Regimes de Precipitação na América do Sul: Uma Revisão Bibliográfica. Revista Brasileira de Meteorologia, v.25, n.2, p. 185-204.

SÁ, E. A. S.; MOURA, C. N. de; PADILHA, V. L.; CAMPOS, C. G. C. (2018). Trends in daily precipitation in highlands region of Santa Catarina, southern Brazil. Revista Ambiente & Água, v. 13, n. 1, e2149, 2018.

TEDESCHI, R. G.; GRIMM, A. M.; CAVALCANTI, I. F. A. (2014), Influence of Central and East ENSO on extreme events of precipitation in South America during austral spring and summer. International Journal of Climatology, v.35. p. 2045–2064.

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