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Informação e liberdade de expressão: uma análise desses direitos fundamentais

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Academic year: 2021

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Informação e liberdade de expressão: uma análise desses direitos

fundamentais

Delcia Maria de Mattos Vidal 1 Resumo: O artigo analisa aspectos do direito à informação, da liberdade de expressão, da atividade jornalística relacionada ao direito de informar, ao direito do leitor de ser informado, ao interesse público, e à invasão de privacidade. Pela atividade de levar ao público os fatos e acontecimentos, por meio das notícias, o jornalista é o intermediário entre o Estado, o governo e a sociedade. Essa intermediação se dá prioritariamente pelos meios de comunicação, pelas diversas mídias. Essa verificação busca subsídios na área jurídica, no âmbito dos direitos fundamentais, para uma comparação com o direito à comunicação.

Palavras-chave: direito à informação, direito à comunicação, imprensa

Para conhecimento do que se passa em seu país, em seu estado ou em seu município, os cidadãos dependem das informações jornalísticas passadas pelos meios de comunicação de massa. Pode-se afirmar que esse saber quase só é adquirido por meio das notícias veiculadas. E disso advém o direito ao saber, o direito à informação.

Tal direito é exercido em três níveis, conforme aponta Nunes Junior2:

1. direito de Informar – faculdade de veicular informações. Permitido a todo indivíduo veicular as informações que julgar pertinentes.

2. direito de se informar – faculdade de o indivíduo buscar as informações desejadas sem qualquer espécie de impedimento ou obstrução.

3. direito de ser informado – faculdade de ser mantido integral e corretamente informado. Está relacionado aos assuntos relativos às atividades do Poder Público.

1 Doutoranda em Comunicação – Jornalismo e Sociedade – Universidade de Brasília – UnB. Mestre em

Comunicação pela UnB e Especialista em Estratégias de Comunicação, Mobilização e Marketing Social pela UnB. Professora de ensino superior e Coordenadora do Curso de Comunicação do Centro Universitário UNIEURO. delciavi@unieuro.edu.br

2 NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. A proteção constitucional da informação e o direito à crítica

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Esses direitos estão garantidos na Constituição Brasileira de 1988, como segue:  art. 5º, inciso IX – é livre a expressão da atividade intelectual,

artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

 art. 5º, inciso XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

 art. 220, caput – A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.

Informação e liberdade de expressão à luz dos direitos fundamentais

A informação e a liberdade de expressão fazem parte do corpo dos direitos fundamentais. Por Direitos Fundamentais entendem-se os direitos ou posições jurídicas subjetivas das pessoas, individualmente ou institucionalmente consideradas, consagradas na Constituição. Gregorio Peces-Barba Martinez3, citado por Moraes, orienta que direito fundamental é concebido como:

Faculdade que a norma atribui de proteção à pessoa no que se refere a sua vida, a sua liberdade, a igualdade, a sua participação política ou social, o a qualquer outro aspecto fundamental que afete o seu desenvolvimento integral como pessoa, em uma comunidade de homens livres, exigindo o respeito aos demais homens, dos grupos sociais e do Estado, e com possibilidade de colocar em atividade o aparato coativo do Estado em caso de infração.

Canotilho, na obra Direito Constitucional e Teoria da Constituição, ao tratar os direitos fundamentais como princípios vinculativos do poder constituinte, menciona que J. Habermas4 distingue cinco categorias desses direitos, dentre elas destaca-se “direitos fundamentais a uma participação em condições de igualdade nos processos de formação

3

PECES-BARBA MARTÍNEZ, Gregório. Derechos fundamentales. In: MORAES, Guilherme Braga Peña. Dos direitos fundamentais:contribuição para uma teoria. São Paulo: LTr, 1997, p.24.

4 HABERMAS, Jürgen. Faktizität und Geltung. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito

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da opinião e da verdade no âmbito do qual os cidadãos exercem a sua autonomia política através do qual instauram o direito legítimo”.

No que diz respeito ao direito à informação e ao papel da imprensa na consecução das prerrogativas acima descritas, Lopes 5 menciona que

a relevância assumida pelos meios de comunicação de massa e sua função pública na sociedade atual: o direito de toda a sociedade em ser bem informada, de forma ampla e diversa, de modo a propiciar a formação e consciência política, social, cultural dos indivíduos livre e isonomicamente, garantido a todos o acesso aos meios de comunicação de massa para que possam receber e transmitir pensamentos e opiniões, com vistas a assegurar também o pluralismo político e social definidores de uma sociedade democrática.

Quanto à titularidade do direito à informação essa autora esclarece que em princípio, entendia-se o jornalista como titular, por excelência, do direito à informação, em razão desse profissional estar situado entre o público e os fatos, atuando como intermediário entre ambos. Sendo que pela importância da informação na vida dos cidadãos, esse direito torna-se algo pertencente ao público. Jean Rivero6 referindo-se à imprensa escrita, ao ser citado por Lopes, “coloca o leitor como titular do direito à informação, já que sua finalidade é dar ao público conhecimento do que ocorre na atualidade”.

A defesa das liberdades de imprensa e de expressão - direitos assegurados aos veículos de comunicação e aos jornalistas

Quando a empresa jornalística ou o jornalista são alvos de questionamentos jurídicos relacionados ao direito à informação, à liberdade de imprensa e à livre manifestação do pensamento, verificam-se exemplos significativos em que essas prerrogativas têm a garantia respeitada. Há casos em que se discutem esses direitos em relação ao art.5º, X. da Constituição – “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Vale lembrar que o artigo 220, da Constituição

5 LOPES, Vera Maria de Oliveira Nusdeo. O Direito à Informação: e as concessões de

rádio e televisão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p.190-191.

6 RIVERO, Jean. Les Libertés publiques. In: LOPES, Vera Maria de Oliveira Nusdeo. O Direito à

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admite que a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não poderá sofrer qualquer espécie de restrição. Caso alguém tenha sua honra agravada através de um veículo de comunicação, terá direito a que esse mesmo veículo lhe forneça meios para produzir a contra-informação – direito de resposta;

Como bem menciona Mendes7, no artigo Colisão de direitos fundamentais:

liberdade de expressão e de comunicação e direito à honra e à imagem, “há uma

inevitável tensão na relação entre a liberdade de expressão e de comunicação, de um lado, e os direitos da personalidade constitucionalmente protegidos, de outro, que pode gerar uma situação conflituosa, a chamada colisão de direitos fundamentais

(grundrechtskollision)”.Os exemplos a seguir demonstram algumas linhas que norteiam

decisões proferidas pelos tribunais.

a) RECURSO EXTRAORDINÁRIO 208.685-1 RIO DE JANEIRO

RELATORA: MIN. ELLEN GRACIE RECORRENTE(S): DANUZA LEÃO

RECORRIDO(AJS): JOSÉ MARIA DE MELLO PORTO

“Direito à informação (CF, art. 220). Dano moral. A simples reprodução, pela imprensa, de acusação de mau uso de verbas públicas, prática de nepotismo e tráfico de influência, objeto de representação devidamente formulada perante o TST por federação de sindicatos, não constitui abuso de direito. Dano moral indevido. RE conhecido e provido.

b) PETIÇÃO 3.486-4 DISTRITO FEDERAL

RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO

REQUERENTE(S) : CELSO MARQUES ARAÚJO REQUERIDO(A/S) : ROBERTO CIVITA

REQUERIDO(A/S) : MARCELO CARNEIRO REQUERIDO(A/S) : DIOGO MAINARDI

Ementa: Liberdade de imprensa (CF, Art. 5º, iv, c/c o art. 220). Jornalistas. Direito de crítica. Prerrogativa constitucional cujo suporte legitimador repousa no pluralismo político (CF, art. 1º, V), que representa um dos fundamentos inerentes ao regime democrático. O exercício do direito de crítica inspirado por razões de interesse público: uma prática inestimável de liberdade a ser preservada contra ensaios autoritários de repressão penal. A crítica jornalística e as autoridades públicas. A arena política: um espaço de dissenso por excelência.

(...) “Vê-se, pois, que a crítica jornalística, quando inspirada pelo interesse público, não importando a acrimônia e a contundência da opinião manifestada, ainda mais quando dirigida a figuras públicas, com alto grau de responsabilidade na condução dos negócios de estado, não traduz nem se reduz, em sua expressão concreta, à dimensão de abuso da liberdade de imprensa, não se revelando suscetível, por isso mesmo, em situações de

7MENDES, Gilmar Ferreira - Colisão de Direitos Fundamentais: liberdade de expressão e de

comunicação e direito à honra e à imagem. Revista de Informação Legislativa. Brasília: a.21 n.122 abr/jun.1994, p.298.

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caráter ordinário, à possibilidade de sofrer qualquer repressão estatal ou de se expor a qualquer reação hostil do ordenamento positivo.

(...) É preciso advertir, bem por isso, notadamente quando se busca promover, como no caso, a repressão penal à crítica jornalística, que o Estado não dispõe de poder algum sobre a palavra, sobre as idéias e sobre as convicções manifestadas pelos profissionais dos meios de comunicação social.

(...) Concluo a minha decisão: as razões que venho de expor levam-me a reconhecer que a pretensão deduzida pela parte requerente não se mostra compatível com o modelo consagrado pela Constituição da República, considerando-se, para esse efeito, as opiniões jornalísticas ora questionadas (Veja, edição de 03/08/2005), cujo conteúdo traduz – como precedentemente assinalei – legítima expressão de uma liberdade pública fundada no direito constitucional de crítica.”8

c) CNN ganha direito de cobrir resgate de corpos do Katrina

“Da France Presse - 10/09/2005 - 17h20-WASHINGTON (EUA) - A rede de televisão americana CNN obteve uma ordem judicial que permite a seus jornalistas o direito de cobrir a operação de retirada dos corpos das vítimas do furacão Katrina, anunciou neste sábado uma porta-voz da empresa.

A Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema), encarregada de administrar a crise provocada pelo fenômeno climático, tinha destacado dias atrás que proibiria os meios de comunicação de cobrir a recuperação dos corpos, alegando que desejava preservar a dignidade dos mortos e não atormentar as famílias.

No entanto, a CNN entrou na sexta-feira com uma ação na corte do distrito de Houston (Texas, sul) sob o argumento de que a proibição anunciada pela Fema e por uma autoridade da cidade de Nova Orleans (Louisiana, sul) violava a Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que garante liberdade de expressão.” 9

Eduardo Monreal menciona que um dos requisitos do direito à informação é de que os fatos selecionados sejam de interesse público, classificando esses como os que possibilitam o exercício, por parte dos cidadãos, de suas obrigações para com a sociedade e permitam uma reflexão crítica em relação aos fatos. “Em suma, a informação deve buscar um enriquecimento mental espiritual do informado e deve versar sobre todas as matérias de interesse da sociedade”10.

Referências Bibliográficas

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almedina, 1999.

KARAM, Francisco José. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo: Summus, 1997

8http:// www.stf.gov.br/imprensa/pdf/pet3486.pdf - acessado em 04.07.2006 9 http://www.correioweb.com.br – acessado em 11.09.2005

10

NOVOA MONREAL, Eduardo. Derecho a la vida privada y liberdad de información, um conflicto de derechos – Nueva criminologia. México: Siglo Veinteuno, 1987, p.157., in LOPES, Vera Maria de Oliveira Nusdeo. O Direito à Informação: e as concessões de rádio e televisão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p.199

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LOPES, Vera Maria de Oliveira Nusdeo. O Direito à Informação: e as concessões de rádio e televisão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

MARCONDES Filho, Ciro (org). Imprensa e capitalismo. São Paulo: Kairós, 1984. MARTINS, Luiz (Org). Direito à comunicação. Brasília: Casa das Musas, 2004.

MENDES, Gilmar Ferreira - Colisão de direitos fundamentais: liberdade de expressão

e de comunicação e direito à honra e à imagem. Revista de Informação Legislativa.

Brasília: a.21 n.122 abr/jun.1994.

MORAES, Guilherme Braga Peña. Dos direitos fundamentais: contribuição para uma

teoria. São Paulo: LTr, 1997.

NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. A proteção constitucional da informação e o direito à

crítica jornalística. São Paulo: FTD, 1997.

Referências

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