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O direito ao acesso à água potável

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

JOÃO FERNANDO PERUSATTO

O DIREITO AO ACESSO À ÁGUA POTÁVEL

Ijuí (RS) 2019

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JOÃO FERNANDO PERUSATTO

O DIREITO AO ACESSO À ÁGUA POTÁVEL

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Dr. Daniel Rubens Cenci

Ijuí (RS) 2019

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Dedico este trabalho à minha família, e a

todos os que lutam por direitos

fundamentais para que o homem tenha

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“Eu me pergunto se no meio desta terceira guerra mundial em pedaços que estamos vivendo, não estamos a caminho rumo à grande guerra mundial pela água. Os números

que as Nações Unidas revelam são

dilaceradores e não podem nos deixar indiferentes: a cada dia, mil crianças morrem por causa de doenças relacionadas com a água. Milhões de pessoas consomem água contaminada. Estes dados são muito graves, é preciso contê-lo e investir nesta situação. Não é tarde, mas é urgente tomar consciência da necessidade de água e de seu valor essencial para o bem da humanidade” Papa Francisco

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise do direito ao acesso à água potável no Brasil, a fim de propiciar uma investigação em busca da solução para a falta de acesso à água potável no Brasil. Aborda a água no Brasil como bem público e toda sua história nas Constituições brasileiras. Estuda as classificações das águas quanto ao uso predominante e quanto a sua localização. Analisa o Aquífero Guarani, a preciosidade que faz do Brasil o centro do mundo em águas, bem como a poluição que vem afetando o Aquífero. Analisa-se a crise da água em razão da poluição, escassez e falta de investimento, e por fim aborda a questão de água para todos, é um direito de todos entre tanto não chegou a todos. Finaliza concluindo que se deve investir mais em obras que propiciem o acesso à água potável no Brasil, bem como da importância da conscientização da população em preservar esse precioso bem, além da necessidade de incentivo por parte dos governos para que a água potável esteja na torneira de todos e não apenas de alguns. A metodologia de pesquisa foi do tipo exploratória com coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores, utilizando o método de abordagem hipotético-dedutivo.

Palavras-Chave: Acesso à água potável. Aquífero Guarani. A crise da água. Água para todos. O direito das águas.

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The present work of completion of course analyzes the right to access drinking water in Brazil, in order to provide an investigation in search of the solution for the lack of access to drinking water in Brazil. It approaches water in Brazil as a public good and its entire history in the Brazilian Constitutions. It studies water classifications regarding predominant use and their location. It analyzes the Guarani Aquifer, the preciousness that makes Brazil the center of the world in waters, as well as the pollution that has been affecting aquifer. The water crisis is analyzed due to pollution, scarcity and lack of investment, and ultimately addresses the water issue for all, it is a right of all among so much has not reached everyone. It concludes that more should be invested in works that provide access to drinking water in Brazil, as well as the importance of raising awareness of the population in preserving this precious good, in addition to the need for encouragement on the part of governments for water to drinking is on everyone's tap and not just a few.

Keywords: Access to drinking water. Guarani aquifer. The water crisis. Water for everyone. The right of the waters.

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INTRODUÇÃO ... 7

1. O acesso à água.... ... 9

1.1 O direito da água nas constituições brasileiras ... 13

1.2 Da água como bem público ... 17

2. A água no Brasil ... 21

2.1 Classificação das águas ... 21

2.1.1 Quando ao uso predominante ... 22

2.1.2 Quanto a localização ... 23

2.2 O Aquífero Guarani ... 25

2.3 A poluição do Aquífero Guarani... 27

2.4 A crise da água... 29

2.5 Água para todos ... 32

CONCLUSÃO ... 38

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca do direito da água no Brasil, e necessidade de atenção que a água deve ter em razão de ser um direito e garantia fundamental do cidadão. Busca-se fazer uma análise do crescimento histórico do tratamento jurídico das águas e a importância que deve ser dado a esse assunto. A água vem surgindo como provável fato gerador de conflitos e até de uma provável terceira guerra mundial, isso tudo em razão da poluição, desperdícios que acabam gerando a crise e escassez da água.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas por meio eletrônico e físico, analisando também as discussões a nível mundial acerca do assunto, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo da proteção e do acesso à água, buscando evitar conflitos e solucionar os problemas existentes.

Inicialmente, no primeiro capítulo, foi feita uma abordagem do direito da água na história das constituições brasileiras, permitindo conhecer a forma como os legisladores brasileiros foram evoluindo o seu entendimento acerca do tema em análise. Seguindo para uma análise da água como bem público, deixando de ser um bem privado, sendo permitido seu uso por particulares, entretanto, sendo patrimônio da União.

No segundo capítulo é analisada mais profundamente a água no Brasil, suas classificações quanto ao uso predominante e quanto a sua localização, passando a análise do Aquífero Guarani, fonte natural de água a qual passa pelo nosso Estado do Rio Grande do Sul e tem potencial para abastecimento para uma

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grande parcela da população por longos anos, entretanto é necessária uma prevenção e controle da poluição que infelizmente também chegou ao aquífero. Por fim, aborda a crise da água e como solucionar o problema do acesso à água para todos.

A partir desse estudo se verifica que o direito das águas tem características próprias e essenciais para a preservação desse precioso bem, assim como para que sua utilização atinja todos os cidadãos, os quais tem o direito a esse acesso como direito fundamental à vida. Devendo os governos, os operadores do direito, os ambientalistas e toda a população colaborar e lutar para que se atinja o pleno abastecimento da água potável.

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1 O ACESSO À ÁGUA

No presente capítulo será abordada a importância que a água tem em toda terra, sendo fundamental para a formação e manutenção de sociedades, estando presente em todas as atividades do homem, desde sua sobrevivência até atividades laborais, industriais e agrícolas

A evolução histórica da proteção dada a água no ordenamento jurídico brasileiro também será analisada para compreensão da situação do acesso à água no Brasil, além de ser considerada bem público, não sendo um bem privado, exclusivo de alguém, demonstrando assim a necessidade do melhor conhecimento da sociedade sobre a proteção e cuidados necessários às águas.

A água é um elemento indispensável a toda e qualquer forma de vida. Edis Milaré (2011), definiu a água como um valiosíssimo recurso diretamente associado à vida, já que participa em alto grau na composição dos organismos e dos seres vivos. Esteve presente na história da humanidade e teve suma importância na construção da mesma, a água participou das duas grandes revoluções, Agrícola e Industrial e traz em sua história a formação e extinção de civilizações, pois desde os primórdios, a preocupação do homem era se localizar nas proximidades de locais com água. Porém, conforme a população dos povoados crescia e se transformavam em cidades, os reservatórios de água tornavam-se insuficientes para o grande número de pessoas, bem como passaram a serem expostas a poluição e contaminação.

O Brasil é um país com uma grande quantidade de água, entretanto, ocorre uma divisão quanto à localização das águas, enquanto existem regiões com vasta quantidade de águas, como por exemplo, o sul, centro-oeste e o norte, a região do nordeste brasileiro tem áreas que sofrem com a seca e com isso a população sofre sem ter água para beber, cozinhar, higiene pessoal e para trabalhar. Por tanto, essa pesquisa visa analisar e encontrar meios para que a água chegue a todos, principalmente a água potável, pois se a vida é direito fundamental, logo, a água é direito fundamental, pois sem água não há vida.

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A vida existe em razão da existência da água, porém, ao que a humanidade vem demonstrando, a água é um recurso com os dias contados, ao menos a água portável, pois a degradação da mesma é constante e os indivíduos ainda não perceberam que esse precioso bem está acabando. Todos usam e constroem suas vidas com a colaboração da água, afinal é instrumento necessário para o crescimento de qualquer ser, entretanto, existe uma problemática acerca do cuidado que se deve ter com a utilização da mesma, devendo existir um conscientização das pessoas e também do direito para a proteção e o correto uso da água, pois se trata de um bem fundamental, diretamente ligado à vida, conforme preceitua Edis Milaré (2011, p. 261):

A água é outro valiosíssimo recurso diretamente associado à vida. Ela participa com elevado potencial na composição dos organismos e dos seres vivos em geral; suas funções biológicas e bioquímicas são essenciais, pelo que se diz simbolicamente que a água é elemento constitutivo da vida. Dentro do ecossistema terrestre, seu papel junto aos biomas é múltiplo, seja como integrante da cadeia alimentar e de processos biológicos, seja como fator condicionante do clima e dos diferentes habitats.

A história mostra que o homem sempre procurou ficar próximo de locais com água, pois desde o início da humanidade as conglomerações de pessoas percebiam a necessidade de estar perto de um local com água, e assim esses conglomerados foram crescendo, virando vilarejos, cidades, estados. Da mesma forma que surgiram, muitas civilizações, outras tantas foram extintas, a história nos conta que possivelmente a população acadiana se extinguiu devido à seca dos Rios Tigres e Eufrates, rios estes que foram responsáveis pelo grande crescimento econômico da região em razão da agricultura, a qual é totalmente dependente da água para produzir. Com a produção em alta, muitos comércios surgiam ao redor dos agricultores ribeirinhos, porém, como em tudo existe o ônus e o bônus, quanto mais pessoas, maior seria a utilização dos recursos, entre eles a água, e, além disso, cresceu o número de poluição e descaso com a água, descaso este que fez com que rios secassem e a população buscasse outro local para viver.

As concepções sobre o direito da água cumprem um processo histórico-evolutivo presente nas constituições brasileiras, sendo que, o assunto não

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foi abordado nas primeiras Constituições, 1824 e 1891, aparecendo apenas na Constituição de 1934, seguindo em 1937 e tendo um acréscimo na Carta de 1946, a qual não sofreu modificação em 1967 e 1969, porém em 1988 a água passou a ter outro dimensionamento, passou a ser um bem ambiental. Em 2018, no Senado Federal surgiu o Projeto de Emenda a Constituição número 4/2018, o qual propõe acrescentar o Inciso LXXIX no artigo 5º da Constituição, garantindo a todos o acesso à água potável em quantidade adequada para possibilitar meios de vida, bem-estar e desenvolvimento socioeconômico.

Em 13 de julho de 2017 a UNICEF e OMS divulgaram relatório com as primeiras estimativas globais sobre água, saneamento e higiene em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. No mundo, são 2,1 bilhões de pessoas sem água potável e 4 bilhões sem saneamento seguro, já no Brasil, segundo o relatório, 97% da população tem acesso a água potável, sendo que 99% da população na zona urbana do país tem acesso a água potável, já na zona rural esse índice é reduzido para 87% da população. Esses 3% que não possuem acesso a água potável, são cerca de 6,2 milhões de pessoas, e se encontram principalmente na região do Semiárido brasileiro, ou seja, estados do nordeste, e uma pequena parcela do sudeste brasileiro. A água potável tem grande probabilidade de se tornar um bem escasso no mundo todo. Edis Milaré (2011) aponta que embora ¾ da superfície da Terra sejam cobertos de água, apenas 2,5% desse total são formados por água doce, aproveitável para consumo, para irrigação e outros usos. Porém a maior parte está nos oceanos e ainda não existem formas científicas e econômicas viáveis para aproveitar essa água.

O Brasil, segundo a OMS, é um país privilegiado em termos de recursos hídricos, pois possui cerca de 12% de toda a água que escoa na superfície do planeta. Porém, a distribuição dessa água no território nacional é muito irregular, sendo que 72% desses 12% localizam-se na região Norte do país, cujo potencial médio de água doce nos rios é grande, porém a população local é pequena, ou seja, é muita água numa região com poucos habitantes. Enquanto isso, o nordeste brasileiro possui míseros 3%, 2/3 dos quais localizados na bacia do rio São Francisco, e, portanto, faz com que a quantidade de água da região seja inferior ao necessário para abastecer toda a população nordestina. Vários projetos surgiram

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para tentar levar a água para a região nordeste e combater essa escassez, a transposição do Rio São Francisco é um projeto que visa levar uma grande quantidade de água para a região do Semiárido e assim abastecer uma grande parcela da população que sofre com a falta de água. A capacidade hídrica brasileira é indiscutível, tendo água suficiente para toda a sua população, entretanto o entrave principal é o transporte dessa água até a população.

A Organização das Nações Unidas lançou um plano de ações para as pessoas, o planeta e a prosperidade, chamado de Agenda 2030. Nesta foram estipulados 17 objetivos e 169 metas que visam a colaboração de todas as nações para que se alcance a erradicação da pobreza em todas as suas formas, estabelecer a paz universal com mais liberdade, assegurando os direitos humanos de todos e alcançando a igualdade de gênero. Os objetivos e metas serão adotados por cada país de acordo com suas próprias prioridades, onde cada nação trabalhará para melhorar a vida das pessoas agora e no futuro, buscando a mescla equilibrada das três dimensões do desenvolvimento sustentável: A econômica, a social e a ambiental.

Nesse sentido, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 6 é: “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”. Para alcançar esse objetivo foram estipuladas as seguintes metas:

6.1 - até 2030, alcançar o acesso universal e equitativo à água potável, segura e acessível para todos;

6.2 - até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para todos, e acabar com a defecação a céu aberto, com especial atenção para as necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade;

6.3 - até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo à metade a proporção de águas residuais não tratadas, e aumentando substancialmente a reciclagem e reutilização segura globalmente;

6.4 - até 2030, aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os setores e assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez de água, e reduzir substancialmente o número de pessoas que sofrem com a escassez de água;

6.5 - até 2030, implementar a gestão integrada dos recursos hídricos em todos os níveis, inclusive via cooperação transfronteiriça, conforme apropriado;

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6.6 - até 2020, proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo montanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos;

6.a - até 2030, ampliar a cooperação internacional e o apoio ao

desenvolvimento de capacidades para os países em

desenvolvimento em atividades e programas relacionados a água e ao saneamento, incluindo a coleta de água, a dessalinização, a eficiência no uso da água, o tratamento de efluentes, a reciclagem e as tecnologias de reuso;

6.b - apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão da água e do saneamento.

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 6 visa assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos, pretendendo também fortalecer a participação das comunidades locais para melhorar a gestão da água e do saneamento, melhorando também a qualidade da água, reduzindo a poluição. O prazo estipulado para o alcance de todas as metas é o ano de 2030.

O Brasil vem realizando seminários visando a implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 6, nesses seminários propostas são debatidas e são analisadas as formas de implementação e monitoramento. Para que o Objetivo saia do papel e se torne uma realidade, estão trabalhando conjuntamente a Agência Nacional de Águas (ANA), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e o Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG). Esses grupos unidos em prol da execução do Objetivo número 6 vêm sinalizando na importância da colaboração do governo federal brasileiro para que a união de forças seja o caminho para que se alcance a efetividade na realização do objetivo e metas, pois, trata-se de Direitos Humanos, na melhora da qualidade de vida das pessoas, onde a água é fundamental.

1.1 Direito da água nas constituições brasileiras

Ao tratar a água como um bem jurídico fundamental à vida, deve-se ter uma proteção jurídica desse bem, e demorou muito para que isso acontecesse no ordenamento jurídico brasileiro. A Constituição Imperial de 1824 não abordou com clareza sobre as águas, porém todos os rios eram propriedades da Coroa. Embora

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existissem garantias individuais de propriedade, o artigo 179, XXII, era límpido ao garantir “o direito de propriedade em toda sua plenitude”, ou seja, na propriedade de solo estava implícita a de subsolo, sendo assim, se na propriedade privada existissem mananciais de águas subterrâneas essas pertenciam ao proprietário da terra.

Já a Constituição Republicana de 1891 não abordou a questão da propriedade das águas, apenas delimitou questões relacionadas a navegação em seus artigos 13 e 34, §6º. Um avanço importante ocorreu na Constituição de 1934, onde o direito da água ganhou mais espaços, o artigo 20, incisos I e II tratava do domínio da União referente aos lagos e correntes, já o artigo 21 tratava do domínio residual do Estado sobre as águas não pertencentes a União, porém está Carta Constituinte em seu artigo 5º, XIX, “e” e “j” deixava claro que competia privativamente a União legislar sobre águas. Está Constituição também abordou o assunto á nos artigos 118 e 119 e previu reserva orçamentária de 4% da receita tributária da União para a defesa contra a seca do Norte e Nordeste, conforme artigo 5º, XV e 177. Porém a maior preocupação relativa à água na Constituição de 1934 estava no fato dela ser fonte de energia elétrica, estabelecendo que o aproveitamento industrial das águas e da energia hidráulica, ainda que de propriedade privada, dependiam de autorização ou concessão federal. Ainda, estabeleceu no artigo 118 que “as minas e demais riquezas do subsolo, bem como as quedas d’água, constituem propriedade distinta da do solo para o efeito da exploração ou aproveitamento industrial.

O ano de 1934 foi definitivamente importante para o Direito das Águas, pois além de tratar o assunto com mais profundidade na Constituição, também surgiu o Decreto 24.634 de 10 de julho de 1934, chamado de Código das Águas, o qual delimitou atitudes feitas com a água, citando dois pontos importantes, sendo um deles o cuidado com a poluição das águas e também, em razão de haver grande quantidade de água no Brasil, delimitou fatores como o controle e incentivo ao aproveitamento industrial da água, mostrando a importância da matéria prima água. O Código das Águas surgiu com a preocupação de se normatizar a utilização das águas com a finalidade de gerar energia elétrica, e foi um marco na história brasileira, pois o Brasil deixava de ser um país essencialmente agrícola e entrava no seu desenvolvimento industrial. A água nesse momento era tratada como um dos elementos fundamentais para o desenvolvimento, pois era matéria prima para a

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geração de eletricidade, sendo assim um subproduto da industrialização (ALMEIDA, 2002).

Em 1937 a Constituição não alterou seu texto acerca das águas, seguindo com o mesmo existente na Constituição de 1934, e também manteve o texto do Código de Águas.

A Constituição de 1946 incluiu entre os bens de domínio dos Estados, os lagos e rios, em terrenos do seu domínio, e os que tivessem nascentes e foz no território estadual. Ainda, conforme preceitua Silviania Lúcia Henkes (2003):

Manteve-se nesta Carta, o título voltado para o disciplinamento da ordem econômica e social, no qual o constituinte tratava das águas nos arts. 152 e 153. No art. 152, manteve-se as quedas d’águas sob o regime de propriedade distinta da do solo para efeito de aproveitamento industrial ou de exploração. Enquanto que, o art. 153, determinava que o aproveitamento dos recursos minerais e de energia hidráulica dependiam de autorização e concessão. O aproveitamento de energia hidráulica de potência reduzida, não dependia da autorização ou concessão.

As Constituições de 1967 e 1969 não trouxeram modificações relevantes no tratamento das águas em relação às Cartas anteriores (Almeida, 2002).

Verifica-se que até então não houve preocupação ambiental em relação às águas, apenas eram abordadas questões referentes ao domínio, exploração e navegação sobre elas. Porém em 1940 o Código Penal brasileiro trouxe em seu artigo 271 a figura penal em relação à água, onde quem corrompesse ou poluísse água potável de uso comum ou particular, tornando-a imprópria para o consumo ou nociva à saúde estaria sujeito a pena de reclusão de dois a cinco anos, caso o feito fosse à modalidade culposa a penalidade seria de dois meses a um ano de detenção. Outro importante fator surgiu em 1965, com a Lei 4.771/1965 o Código Florestal, o qual criou áreas de preservação permanente e em seu artigo 2º trouxe a preservação das florestas e matas ciliares situadas ao longo dos cursos d’água, nascentes, lagos, lagoas ou reservatórios. Portanto, o Código Florestal trouxe uma proteção indireta às águas.

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Após longo período sem mudanças acerca do direito das águas na Constituição, surgiu o texto constitucional de 1988, a Constituição Cidadã, a qual se consolidou como um marco na proteção ambiental no Brasil e com isso a proteção às águas ganhou força. A nova Carta dedicou um capítulo ao Meio Ambiente, além de dispositivos esparsos, a principal mudança é a proteção contra o interesse particular, sendo que o artigo 225 §2º prevê que aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a reparar o meio ambiente degradado, e com isso, essas pessoas, sejam físicas ou jurídicas ficaram sujeitadas a sanções penais e administrativas conforme o artigo 225 §3º da Carta Constitucional. A água passou a ser caracterizada como um bem de domínio público, nesse sentido preceitua-se os artigos 20, §1º; artigo 21, inciso XII, alínea b e inciso XIX; artigo 43,§2º, inciso IV e §3º; 176 caput e §1º. A nova Carta deixou claro que as águas são de domínio público, seja da União ou dos Estados, nesse sentido analisa Fernando Quadros da Silva (1998, p. 83):

Em suma, não mais subsiste o direito de propriedade relativamente aos recursos hídricos. Os antigos proprietários de poços, lagos ou qualquer outro corpo de água devem se adequar ao novo regramento constitucional e legislativo passando à condição de meros detentores dos direitos de uso dos recursos hídricos, assim mesmo, desde que obtenham a necessária outorga prevista na lei citada.

O meio ambiente ganhou grande proteção com a nova Carta Constituinte, porém o texto não trouxe expressamente normatização para o alcance da água potável para todos, e como isso, embora ocorra uma grande proteção jurídica entorno das águas, não há impulso para que a água, elemento fundamental à vida seja um direito de todos.

Em 1997 surgiu a Lei das Águas, Lei nº 9.433/1997, que infelizmente ainda não foi devidamente implementada, e assim, acaba gerando dúvidas e contribuindo para que a água, especialmente quando usada por particulares, permaneça com a antiga conotação de coisa privada. Essa lei revogou completamente o Código das Águas, pois a dimensionou como bem público, criou uma Política Nacional de Recursos Hídricos e um sistema nacional para gerenciá-lo, o SINGREH, integrado por um Conselho Nacional de Recursos Hídricos, Conselhos

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de Recursos Hídricos Estaduais e Comitês de Bacia Hidrográfica. Estabeleceu pontos fundamentas sobre a outorga de direito de uso dos recursos hídricos e a possibilidade de sua cobrança, assuntos que vem causando discussões acirradas na doutrina e na jurisprudência.

Á água além de constituir um elemento essencial para a permanência da vida na Terra é reconhecida pelo direito positivo de todos os povos como um recurso natural limitado e que, apesar de todos terem direitos a seu uso, ela deve ser regulada pelo Estado como bem de domínio público (BARROS, 2018).

1.2 Da água como bem público

Conforme já abordado, a água é um bem público, e isso se concretizou através do artigo 20, III, e o artigo 26, I, da Constituição Federal de 1988, que passaram a considerar as água como bens do Estado, inexistindo águas particulares ou até mesmo águas municipais. Sendo assim, a Constituição considera de domínio público todas as águas, vejamos:

a) São bens da União os lagos, rios e quaisquer correntes de

água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais (art. 20, caput, combinado com o inciso III);

b) Incluem-se entre os bens dos Estados as águas superficiais ou

subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União (art. 26, caput, combinado com o inciso I);

c) São bens da União os potenciais de energia hidráulica (art. 20,

caput, combinado com o inciso VIII; e “... os potenciais de energia

hidráulica constituem propriedade distinta do solo, para efeito de

exploração e aproveitamento, e pertencem à União...” (art. 176,

caput), (PEREIRA JR., 2004, p.3).

A Carta Política ampliou o domínio estadual concedendo-lhe o domínio das águas subterrâneas que anteriormente não tinham titular definido. Portanto, as águas subterrâneas serão sempre estaduais, ou de gestão compartilhada por outro Estado-membro. Pode servir de exemplo, o Aquífero Guarani que abrange oito estados brasileiros, entretanto, como preceitua Eduardo Coral Viegas (2005, p. 179),

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há divergência doutrinária acerca do tema e, há aqueles que defendem a dominialidade da União nos casos em que banhem mais de um Estado.

Jorge Calasans et. al. (2003, p. 595) sustentam que:

Ora, mesmo que existam interpretações divergentes quanto à dominialidade sobre as águas subterrâneas, a Constituição não deixa dúvidas quanto à dominialidade de águas que banhem o território de mais de um estado. Estão são sempre da União.

Por outro lado, Granziera (2001, p. 82), preconiza que, não há base constitucional para o entendimento de que as águas subterrâneas, subjacentes a mais de um Estado, sejam de domínio da União. Sendo assim, após a Constituição Federal de 1988 não existem mais águas privadas e não há qualquer indício de que o poder público deve indenizar aqueles particulares que tinha águas incorporadas ao seu patrimônio.

Fernando Quadros da Silva (1998, p.83) preceitua que:

Em suma, não mais subsiste o direito de propriedade relativamente aos recursos hídricos. Os antigos proprietários de poços, lagos ou qualquer outro corpo de água devem se adequar ao novo regramento constitucional e legislativo passando à condição de meros detentores de direitos de uso dos recursos hídricos, assim mesmo, desde que obtenham a necessária outorga prevista na lei citada.

Porém, esta ideia não é pacífica. Há uma corrente que defende que o direito adquirido, expresso no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal de 1988, socorre os proprietários de recursos hídricos no sentido de obterem indenizações dos estados quando estes pretenderem o domínio das águas que, de acordo com o art. 8º do Código das Águas, seriam de sua propriedade. Neste sentido se manifesta Paulo Affonso Leme Machado (2000, p. 423), vejamos:

Não se pode simplesmente tentar introduzir o regime jurídico das nascentes privadas, o sistema de outorga e da cobrança do uso desse recurso específico pelo viés da “função social” da propriedade (art. 5º, XXIII, da CF/88). Houve um inegável esvaziamento do direito de propriedade (art. 5º, XXII da CF/88), que acarreta a obrigação de indenizar.

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Por outro lado, Ribeiro (2000, p. 41), lembra que o “entendimento predominante, conforme se colhe em Ferreira (1989, p. 148 e 149), citando doutrina e jurisprudência, é o de que somente a lei ordinária não pode retroagir em prejuízo do direito adquirido, da coisa julgada ou do ato jurídico perfeito, mas a Constituição e a Emenda Constitucional podem e têm eficácia revocatória completa desses atos”.

Sendo a água um bem público, é de total responsabilidade da União, Estados, Distrito Federal e Municípios que a população tenha acesso à água, sendo de extrema importância a garantia principalmente ao acesso à água potável, que garanta o sustento, afaste a fome, e faça com que pessoas voltem a viver com o mínimo necessário para buscar um desenvolvimento e uma vida digna. A Organização das Nações Unidas vem alertando sobre a importância da água e necessidade da sua correta utilização:

A água potável limpa, segura e adequada é vital para a sobrevivência de todos os organismos vivos e para o funcionamento dos ecossistemas, comunidades e economias. Mas a qualidade da água em todo o mundo é cada vez mais ameaçada à medida que as populações humanas crescem, atividades agrícolas e industriais se expandem e as mudanças climáticas ameaçam alterar o ciclo hidrológico global. [...] Globalmente, a demanda de água deverá aumentar significativamente nas próximas décadas. Além do setor agrícola, que é responsável por 70% das captações de água em todo o mundo, grandes aumentos da demanda de água são previstos para a indústria e produção de energia. A urbanização acelerada e a expansão dos sistemas municipais de abastecimento de água e saneamento também contribuem para a crescente demanda.

Desse modo, se verifica que há uma necessidade urgente para a comunidade global, setores público e privado, de unir-se para assumir o desafio de proteger e melhorar a qualidade da água nos nossos rios, lagos, aquíferos e torneiras.

Destarte, encerra-se esse capítulo, enfatizando a importância da água e sua correta utilização. A Constituição Federal de 1988, enfatizou às garantias e direitos fundamentais e a proteção do meio ambiente, e sendo assim, por consequência, a proteção das águas, onde, ao garantir o direito à vida como garantia fundamental e ao proteger o meio ambiente no texto constituinte, a Carta

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Magna torna a água um bem muito importante jurídico e socialmente para a população.

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2 A ÁGUA NO BRASIL

Como já abordado no capítulo anterior, o Brasil é privilegiado quando o assunto é água potável, tendo uma capacidade de abastecimento superior aos demais países, entretanto, a desigualdade é gigantesca. A região amazônica é a que mais concentra água potável em nosso país, porém é região com a menor concentração populacional, portanto, muita água para poucas pessoas. De outro lado a região do nordeste, principalmente a região do semiárido, onde a concentração populacional é enorme, contém uma quantidade de água potável disponível insuficiente para abastecer toda a população.

Como já abordado no presente trabalho, a água é indispensável para toda e qualquer forma de vida, além de ter suma importância no abastecimento doméstico e público, no uso agrícola e industrial. Deste modo é necessária a compreensão da classificação da água quanto ao seu uso e localização, para que assim possamos fazer uma análise da crise da água, a qual não afeta somente o Brasil, mas sim o mundo todo. Além disso, compreender como é feita a outorga e gerenciamento das águas no Brasil, para que assim se busque a melhor forma de satisfazer ou minimizar os problemas do acesso à água potável.

2.1 Classificação das águas:

De acordo com Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, classificar significa “distribuir em classes e/ou grupos, segundo sistema ou método de classificação”. Referente ao assunto água, Maria Luiza Machado Granziera definiu que “classificar significa estabelecer níveis de qualidade para águas – doce, salobras, e salinas -, em face dos quais priorizam-se determinados tipos de uso, mais ou menos existentes”.

Por tanto, de acordo com os ensinamentos de Celso Antonio Pacheco Fiorillo podemos classificar a água quanto a sua localização com relação ao solo e, quando ao seu uso predominante.

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2.1.1 Quanto ao uso predominante

Os recursos hídricos são classificados quanto ao uso pela Resolução nº 357 de 17 de março de 2005 a qual teve seu texto base aprovado em reunião plenária do CONAMA, trazendo como destaques, as inovações referentes à inclusão de novos parâmetros para a classificação de qualidade dos corpos de água, assim como harmonização das competências do CONAMA e do Conselho Nacional dos Recursos Hídricos (CNRH). Segundo esta resolução classificar é a “qualificação das águas doces, salobras e salinas com base nos usos preponderantes (sistema de classes de qualidade)”. Portanto, o critério que se utiliza para distinguir as águas doces, salobras e salinas é a quantidade de sal dissolvido nelas. Sendo assim definidas:

a) Água salobra é aquela que possui salinidade inferior à oceânica, ou seja, de acordo com o art. 2º, II, da Resolução nº 357/05 do CONAMA, são aquelas com salinidade igual ou inferior a 0,5% e 30%;

b) Água salina é aquela com salinidade oceânica, isto é, conforme o art. 2º, III, da Resolução nº 357/05 do CONAMA, são aquelas com salinidade igual ou superior a 30%;

c) Água doce é aquela desprovida de salinidade. De acordo com o art. 2º, I, é aquela que possui salinidade igual ou inferior a 0,5%.

Diante dessas definições de água salobra, salina e doce, passamos a análise das águas doces, as quais, segundo seus usos preponderantes, conforme art. 4º da Resolução nº 357/05, se dividem em 5 classes, sendo elas:

a) Classe especial, a qual se destina ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção, à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e a preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral;

b) Classe 1, a qual se destina ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário (natação, esqui aquático, mergulho); à irrigação de

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hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rente ao solo e que sejam ingeridas cruas e sem remoção de película; e à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas;

c) Classe 2, a qual se destina ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário (esqui aquático, natação e mergulho); à irrigação de hortaliças e plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa a vir a ter contato direto; e à aquicultura e à atividade de pesca;

d) Classe 3, a qual se destina ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; à irrigação de culturas arbóreas, cerealífera e forrageiras; à pesca amadora; à recreação de contato secundário; e à dessedentação de animais;

e) Classe 4, a qual se destina à navegação e à harmonia paisagística.

2.1.2 Quanto a localização

Quanto a localização as águas dividem-se em águas superficiais e águas subterrâneas, sendo que Celso Antônio Pacheco Fiorillo define as águas superficiais como sendo “as águas que se mostram na superfície da Terra. Dividindo-se em internas (rios, lagos e mares interiores) e externas (mar territorial, alto mar águas contíguas”.

Já as águas subterrâneas de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, são aquelas que “se infiltram no subsolo, preenchendo os espaços formados entre os grânulos minerais e fissuras das rochas. Essas águas tendem a migrar continuamente, abastecendo nascentes, leitos de rios, lagos e oceanos”.

Inúmeros autores citam as águas subterrâneas como a solução para o problema da escassez da água, razão pela qual, as águas subterrâneas merecem maior atenção. Para Edis Milaré (2011, p. 232):

As reservas subterrâneas, com 0,6% da água doce total, aparecem como alternativa para satisfação da demanda em escala ampliada. Felizmente as águas subterrâneas são abundantes no Brasil.

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Bastaria recorrer a apenas 10% do volume atualmente explorável para se ter um uso sustentado daquelas reservas.

De acordo com o artigo 2º, II, da Instrução Normativa MMA nº 4/2000, águas subterrâneas são aquelas que transitam no subsolo infiltradas através do solo ou de suas camadas subjacentes, armazenadas na zona de saturação e suscetíveis de extração e utilização. Um exemplo de águas subterrâneas são os aquíferos, sendo estes definidos no artigo 1º, inciso III da Resolução nº 15/2001 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos como sendo “corpo hidrológico com capacidade de acumular e transmitir água através dos sus poros, fissuras ou espaços resultantes da dissolução e carreamento de materiais rochosos”.

Ainda (SILVA, 2005) Aquífero pode ser definido como uma formação geológica com poros ou espaços abertos repletos de água e que permitem que a água se mova através desses espaços, ou seja, a água subterrânea é o conteúdo e o aquífero é o suporte por onde ela corre.

Como abordado, muitos escritores apontam as águas subterrâneas como a salvação para o problema de escassez e poluição, pois conta com água de melhor qualidade em relação as encontradas na superfície, porém é importante levar em consideração que embora com melhor qualidade e proteção, as águas subterrâneas demoram muito mais tempo para retornarem ao seu status quo ante, enquanto as águas da superfície (rios, lagos, entre outros) se renovam em 20 dias. (FREITAS, 2001). Esta demora no reabastecimento dos aquíferos muito se deve a grande perfuração de poços artesianos sem o conhecimento técnico necessário, o que é ocasiona uma diminuição na quantidade de águas subterrâneas, nesse sentido, vejamos a lição de Eduardo Coral Viegas:

Ademais, também nos deparamos com a diminuição no reabastecimento dos aquíferos, seja pela super exploração; pela crescente ocupação humana próxima das áreas de recarga, por onde o aquífero se realimenta com água da chuva; pelo fenômeno da impermeabilização do solo decorrente das pavimentações, que impedem a absorção, pela terra, da água que precipita como parte do ciclo hidrológico.

É sabido que na América do Sul temos a presença do Aquífero Guarani, um dos maiores sistemas aquíferos do mundo e a principal reserva de água doce da américa do sul.

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2.2 O Aquífero Guarani

O Aquífero Guarani, que inicialmente era denominado Aquífero Gigante do Mercosul, em razão de estar situado nos quatro países participantes do acordo comercial, logo passou a ser denominado Aquífero Guarani em homenagem ao povo indígena que habitava a região. No Brasil anteriormente o Aquífero era conhecido por Botucatu, pelo fato de que a principal camada de rocha que o compõe ser um arenito de origem eólica, reconhecido e descrito pela primeira vez no Município de Botucatu, Estado de São Paulo.

O Aquífero ocupa uma área total de 1,2 milhões de km² na Bacia do Paraná e parte da Bacia do Chaco-Paraná. Estende-se por Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, sendo que 2/3 de sua área total está localizada em território brasileiro, no Brasil abrange os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e a população que está abrangida no domínio do Aquífero Guarani é estimada em 15 milhões de habitantes.

Muitos estudos buscam mostrar como se formou esse gigante reservatório de água, e de acordo com o pesquisador Ernani da Rosa Filho existem várias hipóteses. Vejamos:

“Há mais ou menos 180 milhões de anos, ainda no tempo dos dinossauros, a região era um imenso deserto. Em um período entre

200 e 132 milhões de anos, o deserto – com área equivalente aos

territórios da Inglaterra, França e Espanha juntos – sofreu uma

grande transformação. O mar de areia virou um dos maiores reservatórios de água doce do mundo: o Aquífero Guarani”.

Erroneamente imagina-se o Aquífero como um imenso lago debaixo da Terra, entretanto trata-se de preenchimento de espaços nas rochas (poros e fissuras), ou seja, o que se encontra embaixo da terra são rochas porosas com capacidade de absorver água. Estas rochas de acordo com o geólogo Eduardo Hindi se constituem de um pacote de camadas arenosas depositadas, cujas espessuras variam de 50 a 800 metros, estando situadas em profundidades que pode atingir até 1800 metros. Em decorrência do gradiente geométrico, as águas do aquífero atingem temperaturas relativamente elevadas, em geral entre 50º C e 85º C.

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Diante de todas essas características próprias é que se pode afirma que as águas advindas do Aquífero Guarani têm uma vantagem sobre as águas de superfícies. Vejamos manifestação da Agência Nacional de Águas.

“A proteção contra os agentes de poluição que comumente afetam os mananciais de água na superfície, que decorre de mecanismos naturais de filtração e autodepuração bio-geoquímica que ocorrem no subsolo, resulta numa água de excelente qualidade. A qualidade da água e a possibilidade de captação nos próprios locais, onde ocorrem as demandas, fazem com que o aproveitamento das águas do Aquífero Guarani assuma características econômicas, sociais e

políticas destacadas para abastecimento da população”

Como exemplos do abastecimento produzido pelo Aquífero temos a cidade de Estrela, no Estado do Rio Grande do Sul, a qual é abastecida 100% por água potável oriunda do Aquífero Guarani. Outro grande exemplo é a cidade de Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo, a qual conta com mais de 500 mil habitantes sendo assim a maior cidade brasileira abastecida 100% por água subterrânea oriunda do Aquífero Guarani. Isso ocorre em razão da localização e sorte geográfica, sendo locais onde o Aquífero chega mais perto da superfície. Tendo local em que, inclusive, ele aflora, e a água forma uma lagoa.

Pela cidade de Ribeirão Preto passa o Rio Pardo, um dos principais rios do Estado de São Paulo, entretanto ele nem é tocado para o abastecimento da população, pois a captação para a rede pública é feita por 97 poços que, juntos, fornecem 13 milhões de litros de água por hora. O custo da produção é 50 vezes mais baixo que se a água fosse retirada do rio. A composição de cloro é baixíssima, podendo ser enquadrada como água mineral.

A Universidade da Água – UNIÁGUA – aborda que de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Ambiental e Agropecuária, a EMBRAPA, a água contida no Aquífero Guarani é de excelente qualidade e suficiente para abastecer a atual população brasileira por 2,5 mil anos. E, diante da escassez que ameaça o mundo, a Organização das Nações Unidas propôs que o Aquífero Guarani fosse transformado em Patrimônio da Humanidade, e que suas águas fossem consideradas reservas estratégicas, intocadas, para que no futuro fossem usadas por toda a população do planeta. Propostas como essa surgem uma vez que a própria natureza faz uma muralha para proteger o Aquífero Guarani, pois aproximadamente 90% do reservatório é coberto por uma camada de basalto, uma rocha praticamente impermeável. Entretanto, o basalto não é tão intransponível

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assim, pois existem rachaduras naturais por onde a água da superfície escorre, sendo este o caminho da recarga das águas.

2.3 A poluição do Aquífero Guarani

Assim como qualquer riqueza existente na Terra o Aquífero Guarani vem sofrendo com a poluição, muitos afirmam que as rachaduras naturais no basalto ao mesmo tempo em que faz o processo de retorno da água ao Aquífero, garantindo sua recarga, por outro lado é o caminho da contaminação, a porta de entrada da poluição. O geólogo Luiz Marlan, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul afirma que “se tiver uma atividade poluidora em cima, essa poluição vai escorrer para o Aquífero”.

A respeito desse assunto, Eduardo Coral Viegas nos ensina que:

“Os focos de contaminação são vários, destacando-se a infiltração da matéria líquida oriunda de ‘lixões’ irregulares e de cemitérios; os vazamentos sanitários, de combustíveis, fertilizantes, agrotóxicos, resíduos de mineração, produtos oriundos de indústrias; a poluição das águas superficiais, que por vezes, contamina os lençóis freáticos, atingindo as águas subterrâneas; dentre outros”.

Porém o maior risco de contaminação do Aquífero Guarani está nas regiões onde a rocha que armazena a água aparece, nas chamadas regiões de afloramento do Aquífero, sendo um dos maiores problemas os locais em que o aquífero está abaixo de grandes lavouras, nas quais o uso de agrotóxico é grande e contínuo, sendo que a quantidade de agrotóxico não absorvida pelas pragas e plantas, acaba chegando até o aquífero. Geólogos afirmam que o Aquífero Guarani pode ser atingido por fontes poluidoras, principalmente por agrotóxicos. Isso tudo reforça o conhecimento empírico de que onde tem criações e lavouras, tem matéria orgânica que produz o nitrato, o qual é fundamental para o desenvolvimento das plantas, entretanto, quando em alta quantidade pode levar a contaminação, ou seja, a poluição, um exemplo claro do nitrato é o presente nos dejetos da suíno cultura, o qual é altamente poluente.

A poluição é ameaça constante e para superá-la é necessário grande comprometimento de toda a sociedade mundial, pois com a correta preservação dos

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nossos recursos naturais, entre eles a água, pode-se pensar em um planejamento a nível mundial para abastecimento, isso tudo num grande desenvolvimento sustentável, analisando as exigências ambientais de cada área mais vulnerável ou não a poluição e para que assim se tenha o correto uso de cada região.

O biólogo Alcides Faria aborda o assunto com maestria. Vejamos:

“Nós precisamos partir de um zoneamento para dizer que tipo de uso pode ter o Aquífero em cada região, o mais adequado, aquilo que é apropriado, o quanto de água pode-se retirar, o tipo de atividade econômica que se pode desenvolver em cada uma das regiões que estão sobre o aquífero, de maneira que ele não seja contaminado. Porque se você contamina o aquífero como é que você limpa? Não limpa. Se você contamina um curso de água superficial você até pode fazer um trabalho de recuperação, agora o aquífero não há como limpar.”

Um dos caminhos para a correta utilização do Aquífero Guarani é controlar a superexploração e dar a correta destinação para a ocupação humana perto das áreas de recarga do aquífero, pois conforme ensina VIEGAS, quando a ocupação humana ocorre em áreas de recarga acaba gerando inúmeros problemas, por exemplo, as pavimentações impedem a absorção, pela terra, da água que precipita como parte do ciclo hidrológico.

A capacidade de abastecimento do Aquífero Guarani é enorme, de uma capacidade fantástica, entretanto a grande quantidade de poços para captações da água acabou despertando o sinal de cuidado para as autoridades, pois se continuar a extração desenfreada de água, chegará o momento em que esse precioso bem acabará, ou demorará mais tempo do que o ciclo normal para retornar ao seu poder de abastecimento. O programa Globo Repórter exibido pela Rede Globo de Televisão em 18 de fevereiro de 2005 demonstrou que há 50 anos, para se conseguir água em um dos poços mais antigos, no centro da cidade de Ribeirão Preto no Estado de São Paulo, era preciso cavar 35 metros. Hoje, a água não aparece antes dos 75 metros, ou seja, o sinal está dado, a água do aquífero está baixando.

De que forma poderá se dar uma utilização sustentável às águas? Esse talvez seja um dos maiores dilemas do direito brasileiro e quiçá mundial, uma vez que a água está sendo considerada uma das principais riquezas do mundo, sendo motivo de históricos conflitos em várias partes do mundo, como por exemplo

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no Oriente Médio na região da antiga Mesopotâmia, Turquia, Iraque, Síria, no Continente Africano são inúmeros os conflitos entre o Egito, Etiópia, Uganda e Sudão. E com o passar do tempo o que ocorrerá com os demais países ao enfrentar problemas de abastecimento de água potável? Será esse o motivo da terceira guerra mundial?

2.4 A crise da água

Como abordado no início do trabalho, apenas 0,01% de água doce no mundo está disponível em ecossistemas aquáticos continentais. O brasil, apesar de sua relativa abundância de recursos hídricos, possui uma distribuição regional muito desigual, fato que também ocorre em nível mundial. Esses fatores naturais aliados ao aumento populacional e a poluição provocada pela atividade humana, o alto consumo e desperdício de água acarretam ainda mais na falta desse nutriente. Com todos esses fatores, a doutrina mundial passou a abordar com mais frequência o assunto chamado de “Crise da água doce”.

A poluição é um dos maiores fatores para a crise da água, pois embora tenha muita quantidade de água disponível, a qualidade da mesma não é condizente com o seu uso, não sendo compatível com o abastecimento da população. Então pode-se afirmar que o problema central está na qualidade da água disponível ao uso humano. Porém a grande maioria da humanidade não está conscientizada e preparada para a correta utilização da água e também para que o reflexo do seu dia a dia não acarrete em problemas finais para água, como por exemplo o esgoto que é despejado diretamente em rios, lagos e oceanos, e que se encontra com lixos descartados erroneamente pela população. O lixo e o esgoto são dois exemplos de grande proporção e comuns ao olhar humano, pois toda pessoa sabe que essa prática ocorre. Mas e o que fazer?

Vejamos os dados constantes do Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos da Unesco, discutido durante o “Terceiro Fórum Mundial sobre a Água”, que ocorreu no ano de 2003 em Kioto, Japão:

Mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo não tem acesso à água potável. Mais de o dobro desse número conta com saneamento adequado. As doenças transmitidas pela água matam pelo menos seis mil crianças diariamente nos países em desenvolvimento. Cerca

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de dois bilhões de toneladas de lizo são jogados em rios e lagos todos os dias. Um litro de água residual polui em média oito litros de água doce.

A água na cidade é contaminada por esgoto, monóxido de carbono, produtos derivados de petróleo e bactérias. Já na agricultura a água é contaminada com fertilizantes, inseticidas, fungicidas, herbicidas e nitratos que são carregados pela chuva ou infiltrados no solo, contaminando os mananciais subterrâneos e os lençóis freáticos. A água da chuva se contamina com a poluição constante do ar, como, por exemplo, arsênico, chumbo, entre outros. Já a indústria, por sua vez, contamina a água através do despejo nos rios e lados, de desinfetantes, detergentes, metais pesados, derivados do petróleo, entre outros.

Preceitua BARROS (2015), que o esgoto é o principal vilão ambiental no Brasil, e o Censo do IBGE de 2008 reforça tal afirmação ao revelar que cerca de um quarto das residências do país não conta com serviço de água potável e quase metade não tem serviço de esgoto. A ausência de saneamento básico é extremamente prejudicial a população, e de acordo com dados do Sistema Único de Saúde a falta de saneamento básico é causa de 80% das doenças e de 65% das internações hospitalares, e os dados ainda mostram que a cada R$1,00 (um real) investido em saneamento, as cidades economizariam R$5,00 em medicina curativa da rede de hospitais e ambulatórios públicos.

Os dados apresentados por Wellington Pacheco Barros mostram que: “As diferenças regionais relativas a domicílios com coleta de esgoto são drásticas: enquanto na Região Sudeste 71% dos domicílios têm coleta de esgoto, na Região Norte apenas 2% dos domicílios têm esse serviço; na Região Centro-Oeste esse número sobe para 33%; na Região Sul 18% dos domicílios tem coleta de esgoto, e na Região Nordeste 13% dos domicílios são atendidos por esses serviços, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente”.

Portanto a falta de saneamento, somada com o despreparo da população, a qual muitas vezes é abandonada pelo poder público, leva a situações de extrema poluição nas águas, gerando inúmeros problemas para todos.

A escassez da água é outro fator que contribui para o aumento da crise da água, embora exista na Terra água potável para toda a quantidade de habitantes, ocorre que a distribuição dessas águas não condiz com a distribuição da população, ou seja, na região em que existe grande quantidade de água potável existem

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também pouca quantidade populacional, já em regiões de baixa concentração de água potável ocorre a existência de grande quantidade populacional. Além disso a situação de escassez de água no mundo é resultado do uso desordenado desse precioso recurso durante gerações, fato que passou despercebido em momentos em que a população do planeta Terra era relativamente pequena e distribuída em diferentes áreas, porém conforme explicação da Agência Nacional de Águas:

“Ocorreram profundas transformações no planeta, ocasionando o aumento da população e sua concentração em cidades e o desenvolvimento da indústria, dando início ao modelo de

desenvolvimento urbano-industrial

A respeito do assunto WEISSHEIMER (2002), em artigo publicado na Revista de Direito da Universidade de Passo Fundo, observou que:

“Demarca-se a Revolução Industrial como ponto de partida da crise ambiental. Ocorrida nos fins do Século XVIII, proporcionou a criação

de sistemas econômicos gerados em bases nitidamente

antiecológicas, quando a natureza passou a ser vista apenas como fonte geradora de recursos”.

Na maior parte do planeta o dinamismo do ciclo hidrológico acarreta também a ocorrência de faltas e excessos ao longo do tempo, ou seja, conforme Luiz Antonio Timm Grassi “não há segurança que se tenha água na quantidade adequada onde e quando ela é necessária”. Ou seja, diante da inexistência de um uso sustentável, a tendência é a ocorrência da escassez global de água.

Ainda, GRASSI ensina que a crise da água doce pode ser compreendida pelos seguintes fatores:

a) agravamento da escassez quantitativa da água devido à competição com a demanda de outros usos, como a irrigação; b) aumento da escassez da água de boa qualidade, devido à

degradação dos mananciais, pela poluição resultante de todas as atividades;

c) deterioração dos próprios corpos de água pelas intervenções intencionais ou não (barragens, retificações, desmatamento, mineração nos leitos, erosão, perfuração descontrolada de poços);

d) desequilíbrio natural da distribuição das águas, seja especial (regiões áridas, regiões úmidas), seja no tempo (períodos de seca, épocas de enchentes), que agrava, sob diferentes aspectos, a escassez localizada;

e) magnitude da demanda e os infindáveis recursos financeiros, daí decorrentes, são cada vez maiores, devido à piora da qualidade dos mananciais ou da distância, além daqueles recursos que são

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apropriados, como os investimentos que são indispensáveis para a instalação de equipamentos e para sua operação;

f) desperdício em níveis preocupantes, seja por falhas operacionais dos sistemas de abastecimento, seja pelo uso descontrolado por parte dos usuários.

Robert Engelman, em trabalho realizado pela organização não governamental Population Action International, estimou que em 2000, 3% dos habitantes da terra (6 bilhões) já se ressentiam da falta d’água potável, e, ainda, em projeção feita para 2025, com uma população de 7,82 bilhões, a escassez da água atingirá o percentual de 7%, com 62% de risco da falta d’água. Os dados são preocupantes e a pergunta que fica é como faremos para não deixar acabar a água e como abastecer os povos que ainda não tem acesso à água potável?

É notória a necessidade de atenção, prevenção e combate a poluição, bem como, investimento no saneamento básico para que assim se consiga garantir um futuro com água potável para todos melhorando a saúde e a dignidade de toda a população, sempre atuando de forma consciente e sustentável, atingindo o melhor para o planeta e todos os seus habitantes.

2.5 Água para todos

Qual o motivo de ocorrer a falta do acesso à água potável para tantas pessoas? Como o Estado atua e o que pode fazer para solucionar o problema da falta de acesso à água potável?

A história nos mostra que há mais de três mil anos existem registros de controle de água nas civilizações chinesa, egípcia, hindu, grega, romana e muçulmana. Na Assíria, foi construído o aqueduto Jerman, conhecido como o primeiro sistema público de abastecimento de água e, na antiga Roma, durante o império de Trajano (98-117, depois de Cristo), os onze aquedutos que abasteciam a cidade disponibilizavam 1.000 litros de água por habitante/dia, para uma população de 1.000.000 de pessoas, ficando conhecida como a Cidade das Águas.

No Brasil é recente a estruturação de uma política pública sobre a água. Inicialmente era tratado como coisa privada, somente passando a ser coisa pública com o surgimento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, regulamentada pela Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei nº 9.433/97, a qual tem seus objetivos delimitados em seu artigo 2º.

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Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos: I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;

II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável; III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

IV - incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas pluviais.

Da análise do referido artigo concluímos que a Política Nacional de Recurso Hídricos tem por finalidade a manutenção do desenvolvimento sustentável dos recursos hídricos, de acordo com a Constituição de 1988 que em seu artigo 225, caput, assegura a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo ao Poder Público a obrigação de instaurar o desenvolvimento sustentável.

USSAMI (2001), conceitua o desenvolvimento sustentável como: “A definição mais conhecida é a da Comissão ‘Brundtland’, em 1987, que segundo a mesma, conceitua o desenvolvimento sustentado como aquele que satisfaz às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem as suas”.

Diante disso, MACHADO (2000), define que a Lei das Águas “demarca concretamente a sustentabilidade dos recursos hídricos em três aspectos: disponibilidade de água, utilização racional e utilização integrada”.

Luís Paulo Sirvinskas afirma que com a Lei das Águas “busca-se, além disso, dar uma qualidade de vida igual ou melhor para as futuras gerações, evitando que esses recursos venham a faltar no futuro”.

Juliana Santilli explica com clareza os objetivos da Lei nº 9.433/1997. Vejamos:

“A nova lei está em sintonia com outros instrumentos legais nacionais e internacionais que pretendem assegurar a integridade e a sustentabilidade a longo prazo dos recursos naturais, estabelecendo limitações e restrições ao seu uso e exploração. Afasta-se, portanto, da concepção legal anterior de viabilizar apenas o seu

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aproveitamento com fins econômicos e de priorizar as demandas do setor elétrico em detrimento dos demais usos da água”.

O artigo 1º da Lei nº 9.433/1997 apresenta os fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:

I - a água é um bem de domínio público;

II - a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais;

IV - a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas;

V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;

VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

O inciso I do artigo acima citado define a água como um bem público, portanto, a Política Nacional de Recursos Hídricos reafirma o que a Constituição de 1988 já havia estabelecido, ou seja, a publicização das águas, inexistindo a partir de então quaisquer águas privadas no âmbito do direito brasileiro. Nesse sentido, vejamos o ensinamento de Maria Luiza Machado Granziera acerca da publicização dos recursos hídricos:

“Quanto maior a importância de um bem à sociedade, maior a tendência a sua publicização, com vista na obtenção da tutela do Estado e da garantia de que todos poderão a ele ter acesso, de acordo com os regulamentos estabelecidos. No que se refere às águas, as coisas não passam de forma diferente”.

Vimos que a água no Brasil é considerada um bem público e tem extrema importância para a sociedade, portanto, o que deve ser feito para tornar efetivo o acesso à água potável para todos?

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A água é um direito de todos, porém ainda está distante de muitos. A Lei nº 11.445 de 5 de janeiro de 2007, a Lei do Saneamento Básico, afirma em seu artigo 2º, inciso I, que:

“Os serviços públicos de saneamento básico serão prestados com base nos seguintes princípios fundamentais:

I - universalização do acesso.”

Entretanto o acesso não ocorre de maneira universal e uma significativa parcela da população não tem o devido acesso ao saneamento básico. Os investimentos para a total efetivação da implementação do saneamento básico com a garantia do tratamento de esgoto e o acesso à água potável para todos ocorrem de forma anual, porém não de forma satisfatória para regularização do problema enfrentado. Muitas reportagens abordaram a falta de água, a escassez, entretanto, o maior problema e o principal adversário para o acesso à água é o transporte da mesma até as localidades sem recursos hídricos. O Brasil detém uma riqueza extraordinária de recursos hídricos, entretanto, como já abordado, a grande quantidade desses recursos encontra-se distante da população que não tem acesso a eles, sendo declarado pelo atual governo que o gasto maior dos investimentos é em materiais para fazer a água atravessar longas distâncias e chegar onde hoje não chega. Vejamos o pronunciamento de Alexandre Baldy, Ministro das Cidades no ano de 2018.

“O saneamento no Brasil é um desafio enorme. Hoje, abastecimento de água potável chega a algo entre 83% e 84% das residências brasileiras. Deve ter aproximadamente 68% ou 69% de coleta de esgoto sanitário, sendo que em torno de 45% é tratado. Ano passado, liberamos aproximadamente R$ 6 bilhões de investimento no setor de saneamento. Dada a crise fiscal, é indiscutível que o governo federal, os governos de estados e as prefeituras têm investido menos”.

Vejamos que o ex ministro afirma que os governos “têm investido menos”, mostrando que os investimentos necessários ocorreram de forma abaixo do ideal. E segue dizendo que:

“Fizemos uma MP (medida provisória) para reformular todo o setor. O que nós poderíamos fazer, nós fizemos: enfrentamos de frente um problema que há décadas gera discussão. O governo federal busca contribuir com a elaboração de políticas públicas e o financiamento.

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