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A constitucionalidade, ou não, da relativização da coisa julgada.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO

CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

FERNANDO MARNEY OLIVEIRA DE CARVALHO

A CONSTITUCIONALIDADE, OU NÃO, DA RELATIVIZAÇÃO DA

COISA JULGADA

SOUSA - PB

2009

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A CONSTITUCIONALIDADE, OU NÃO, DA RELATIVIZAÇÃO DA

COISA JULGADA

Monografia apresentada ao Curso de

Ciências Jurídicas e Sociais do CCJS

da Universidade Federal de Campina

Grande, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em

Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Professor Esp. Francivaldo Gomes Moura.

SOUSA - PB

2009

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A CONSTITUCIONALIDADE, OU NAO, DA RELATIVIZAQAO DA COISA JULGADA

Trabalho monografico apresentado ao Curso de Direito do Centro de Ciencias Juridicas e Sociais da Universidade Federal de Campina Grande, como exigencia parcial da obtencao do titulo de Bacharel em Ciencias Juridicas e Sociais. Orientador: Prof. Francivaldo Gomes Moura

Banca Examinadora: Data de aprovacao:

Prof. Francivaldo Gomes Moura Orientador

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Senhor, eu te louvo e te agradego por que tu supres todas as minhas necessidades e porque fazes tua vitoria na minha vida. Contigo sou capaz de sonhar, viver e conquistar.

Ao meu pai, Fernando Carvalho. Maior exemplo de alegria, coragem, determinacao. Alguem que me ensina atraves de suas atitudes a acreditar que tudo pode dar certo, basta acreditar. Alguem que seria capaz de qualquer coisa pelo meu bem estar e pelo meu sucesso. O meu heroi, o meu fdolo, o meu pai.

A minha mae, Carmen Lucia: Mae, o que seria de mim sem o seu amor? O que seria

de mim sem a sua ternura? Apesar de ser uma pessoa de palavras faceis, neste momento nao sei o que dizer, so sei sentir a sua dedicacao e o seu amor. Lagrimas estao caindo de meus olhos agora, mas saiba que sao lagrimas de gratidao por ter me feito quern eu sou. Poucas certezas tenho na vida, mas a maior de todas e que sei que fui enviado a terra para as maos de urn anjo, a senhora, meu eterno amor, minha confidente, minha mae.

Aos meus irmaos, Fernando Filho, Fernanda Carmen e Fernando Augusto, pecas fundamentals na convivencia familiar e motivos de orgulho por parte do irmao mais velho.

A minha namorada, Daniella, sinonimo de paz, carinho e compreensao, por ter sido

tao paciente em todos os momentos que passamos e por ter sido essencial para o meu amadurecimento pessoal.

A Maraisa, minha grande amiga e incentivadora, pessoa muito especial em minha

vida. Um exemplo a ser seguido, amiga leal, dedicada e verdadeira. Alguem que mesmo distante consegue se fazer presente.

Aos meus amigos Ricardo Mulesta e Viviane Cohen, na verdade meus irmaos. Os coracoes mais bondosos que ja conheci. Pessoas com quern pude contar em todos

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Aos meus companheiros de apartamento, Peu e Jean. Duas pessoas fantasticas, que sempre foram extremamente confiaveis e dignas.

As Meninas do 305, Maira, Larys, Sanys, Mari, por terem sido tao dedicadas e tao

amigas em todos os momento, em especial a primeira, que em momentos fundamentals foi base muito importante para mim, inclusive me ajudando concretamente na feitura deste trabalho.

Aos meus amigos e militantes do D.A. de Cara Nova, que me ensinaram a lutar por ideais palpaveis e justos. Meu agradecimento vai ser como em nossas reunioes, acho que voces conseguirao imaginar: "Gente, obrigado por terem proporcionado o periodo mais intenso e de maior aprendizado da minha vida". Tambem agradeco aos 109, por terem me ensinado que nem sempre de vitorias vivemos, mas que podemos nos reerguer.

As meninas da Vernier, Carol, Arielly e Deise, que, apesar de certas divergencias,

acredito e conheco a pureza de seus coracoes. Sao pessoas muito importantes e especiais em minha vida.

Aos meus amigos sempre presentes: Margela, Hanna, Dani, Juninho, Jamila, Hallana, Vivi e Ju.

A professora Monizia, docente brilhante e exemplo de dedicacao a sua vocacao.

Ao meu orientador, professor Francivaldo, pela confianca depositada em meu trabalho cientifico.

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coragao. Prova-me, e conhece os meus

pensamentos. Ve se ha em mim algum caminho perverso, e guia-me pelo caminho eterno.

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A coisa julgada e elemento essencial para existencia de um Estado Democratico de Direito. A necessidade de seguranga juridica e extrema para haver paz social. Contudo, o Estado rege-se tambem por inumeros outros principios de igual valor como o acesso a ordem juridica justa. A problematica abordada neste trabalho revela-se quanto a constatar se e constitucional relativizar a coisa julgada. Tanto e que o mesmo objetiva expor as principals vertentes a respeito do tema alem de identificar qual o posicionamento mais coerente a ser seguido. Para tanto, a pesquisa desenvolve-se atraves do metodo dedutivo de abordagem, utilizando-se da tecnica de pesquisa bibliografica e de exegesse-juridica. E a coisa julgada um instituto quase intocavel no ordenamento juridico patrio. Somente podendo ser desconstituida, em regra, atraves da agao rescisoria, que, no entanto, nao e tao abrangente. Fato que conduz a analise acerca da constitucionalidade da desconstituigao atipica da sentenga acobertada pelo manto da coisa julgada atraves do uso do principio da proporcionalidade. Defensores do principio da seguranga juridica julgam-no como absoluto, repudiando a constitucionalidade de sua tangibilidade. Aqueles que defendem ser constitucional a relativizagao, se apegam ao principio da ordem juridica justa como fim precipuo do Estado. Assim, no momento de averiguar qual dos preceitos deve prevalecer, se ordem juridica justa ou seguranga juridica, o principio da proporcionalidade apresenta-se de relevante importancia, exercendo papel fundamental, pois e atraves dele que pode-se ponderar qual principio deve prevalecer no caso concrete

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La cosa juzgada es elemento esencial para la existencia de un Estado Democratico de Derecho. La necesidad de seguridad juridica es extrema para haber la paz social. Sin embargo, el Estado tambien tiene regencia por innumerables otros principios de igual valor como el acceso a la orden juridica justa. El abordaje de la problematica en este trabajo se revela en la cuestion de comprobar si es constitucional relativizar la cosa juzgada. Tanto es que el mismo tiene finalidad de exponer las principales vertientes al respecto del tema ademas de identificar cual es el mas coherente posicionamiento a seguir. Para ello, la pesquisa desarrollase por intermedio del metodo deductivo de abordaje aprovechandose de la tecnica de pesquisa bibliografica y de exegesis juridica. La cosa juzgada es instituto casi intocable en el ordenamiento patrio. Solo puede ser deshecha, en regla, por medio de accion de la rescision, que, todavia, no es tan abarcada. Hecho que conduz a la analisis acerca de la constitucionalidad de la desconstitucion atipica de la sentencia cubierta por el manto de la cosa juzgada por medio del uso del principio de la proporcionalidad. Defensores del principio de la seguridad juridica les juzgan como absoluto, rechazando la constitucionalidad de su tangencia. Aquellos que piensan ser constitucional la relativizacion si apegan al principio de la orden juridica justa como fin primordial del Estado. Asi, en el momento de averiguar cual de los preceptos debe prevalecer, si orden juridica justa o seguridad juridica, el principio de la proporcionalidad presentase de relevante importancia, ejerciendo papel fundamental, puesto que por el es que se puede ponderar cual principio debe prevalecer en el caso concreto.

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1 INTRODUQAO 11 2 DA COISA J U L G A D A 13

2.1 Das incertezas a coisa julgada 13

2.2 Conceito 16 2.3 Modalidades da coisa julgada 16

2.3.1 Coisa julgada formal 17 2.3.2 Coisa julgada material 18 2.4 Natureza juridica da coisa julgada 19

2.5 Decisoes geradoras da coisa julgada 20

2.6 Limites da coisa julgada 21 2.6.1 Limites objetivos 21 2.6.2 Limites subjetivos 23 2.7 Efeitos da coisa julgada 25

3 AQAO R E S C I S O R I A : DESCONSTITUINDO A COISA J U L G A D A 26

3.1 Conceito 26 3.2 Legitimidade e requisitos para proposigao 26

3.3 Hipoteses de cabimento 27 3.4. Standards nao abarcados pela agao rescisoria 29

3.4.1 Investigagao de paternidade 30

3.4.1.1 Filiagao 30 3.4.1.2 Agao de investigagao de paternidade 30

3.4.1.3 Situagao peculiar referente a investigagao de paternidade 31

3.4.2 Desapropriagao 32 3.4.2.1 Direito de propriedade 32

3.4.2.2 Agao de desapropriagao 34 3.4.2.3 Situagao peculiar referente a desapropriagao 34

4 DA RELATIVIZACAO DA COISA J U L G A D A 36

4.1 Da constitucionalidade, ou nao, da relativizagao da coisa julgada 37

4.2 Principio da seguranga juridica 37 4.3 Principio do acesso a ordem juridica justa 40

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posicionamentos 42 4.6 Da constitucionalidade da relativizagao da coisa julgada: argumentos e

posicionamentos 45

5 C O N C L U S A O 48

A N E X O S 51 R E F E R E N C E S 56

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1 INTRODUQAO

A coisa julgada, que e o manto que recobre as decisoes das quais nao cabem mais recurso, desde muito tempo sempre foi considerada um dogma juridico intangivel e imutavel. Assim e ante a necessidade social de se manter a estabilidade das relagoes juridicas.

No entanto, devido a evolugao juridico-social, que trouxe a tona a inexistencia de principios e institutos absolutos, iniciou-se a discussao acerca da constitucionalidade de mitigar-se a coisa julgada quando a mesma estiver em conflito com o principio do acesso a ordem juridica justa. A esta tendencia moderna atribui-se a denominagao de relativizagao da coisa julgada.

Decisoes injustas, cristalizadas pelo manto da coisa julgada, causam prejuizos e perplexidade a sociedade. Ja a instabilidade e a inseguranga das relagoes podem ser fatais para a existencia de um Estado firme, pois interferem na paz social. Dessa maneira, a discussao acerca da constitucionalidade da relativizagao da coisa julgada e tema extremamente delicado e relevante para o meio social e para o Estado Democratico de Direito.

O que justifica a tematica posta, ante a necessidade de evidenciar qual principio constitucional, seguranga juridica ou acesso a ordem juridica justa, prevalecera quando houver sentenga injusta resguardada pela coisa julgada, visto que, ordenamento juridico inseguro implica como consequencia a anarquia. Enquanto prestagao jurisdicional injusta tem-se como corolario insatisfagao social. O pensamento de constitucionalidade da relativizagao pode trazer uma revolugao juridica, benefica ou malefica, capaz de modificar milhares de julgados cristalizados a anos, e, ate mesmo, a decadas.

O presente estudo realizar-se-a com o objetivo de trazer a tona os argumentos utilizados pelas duas correntes divergentes acerca da constitucionalidade, ou nao, da relativizagao da coisa julgada de forma a identificar, atraves da ponderagao de principios constitucionais, se a desconstituigao atipica da decisao judicial injusta acobertada pela coisa julgada e constitucional, ou nao.

Outrossim, apresentar-se-a a coisa julgada como instituto constitucional e necessario para a estabilidade das relagoes sociais, demonstrando a tamanha relevancia da justiga das decisoes na jurisdigao como meio de pacificagao social, de

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forma a concretizar a importancia do principio da proporcionalidade no sopesamento dos principios de mesmo valor.

Para tanto o trabalho se desenvolvera atraves do metodo dedutivo de abordagem, visto que parte de um estudo amplo acerca do tema para que, so entao, possa ser levado ao caso concrete Bern como utilizar-se-a como tecnica de pesquisa para a confeccao do presente estudo, a pesquisa bibliografica e a exegesse-juridica, que parte de consultas em diversas fontes, tais como livros, artigos cientificos e na interpretacao da legislacao.

Para o melhor estudo acerca do tema suscitado, o trabalho estara estruturado em tres capitulos. No primeiro capitulo, abordar-se-a a coisa julgada, no qual serao tratados os aspectos gerais acerca do deste instituto, trazendo conceito, modalidades, natureza juridica, limites subjetivos e objetivos.

No capitulo subsequente, se tratara acerca da agao rescisoria como fatos de desconstituigao da coisa julgada, onde se dispora sobre conceito, legitimidade, situagoes de cabimento, standards nao abarcados por esta agao impugnativa autonoma.

Por fim, o ultimo abordara a relativizagao da coisa julgada. Serao apresentados os principios que norteiam a discussao, quais sejam o da seguranga juridica, o do acesso a prestagao jurisdicional justa e o da proporcionalidade, alem de posicionamentos de renomados juristas sobre a constitucionalidade da relativizagao da coisa julgada.

Ante o exposto, percebe-se que a existencia de sentengas injustas traz o desejo de modificagao do caso julgado. Dessa forma, o debate acerca da constitucionalidade, ou nao, da relativizagao da coisa julgada tern como fundamentos basilares os principios da seguranga juridica e do acesso a ordem juridica justa, principios estes que encontram-se em conflito. Assim, para que se possa chegar a solugoes razoaveis e proporcionais aos casos concretos, um destes principios devera ser, ate certo ponto, colocado em segundo piano atraves do principio da proporcionalidade.

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2 COISA J U L G A D A

Este capitulo sera destinado ao estudo dos aspectos gerais acerca instituto da coisa julgada. A mesma sera abordada quanto ao seu conceito, modalidades, natureza juridica, limites subjetivos e objetivos.

2.1 Das incertezas a coisa julgada

Apos seculos de evolugao do direito e da sociedade os conflitos e insatisfacoes sociais deixaram de ser dissolvidos pela autotutela. Esta, de carater extremamente individualista, nada mais era do que a imposicao da vontade particular sem qualquer criterio de justica. O que preponderava era a forga. O mais poderoso simplesmente satisfaria a sua pretensao da maneira que Ihe conviesse, o que na maioria das vezes era de forma totalmente egocentrica e desmedida. Era a vontade individual do mais forte sobre o mais fraco.

Ada Pellegrini (2009, p. 27), explica bem esse momento historico ao aduzir:

Nas fases primitivas da civilizacao dos povos, inexistia um Estado suficientemente forte para superar os impetos individualistas dos homens e impor o direito acima da vontade dos particulares: por isso, nao so inexistia um 6rg§o estatal que, com soberania e autoridade, garantisse o cumprimento do direito, como ainda nao havia sequer as leis (normas gerais e abstratas impostas pelo Estado aos particulares). Assim, quern pretendesse alguma coisa que outrem o impedisse de obter haveria de, com sua pr6pria forga e na medida dela, tratar de conseguir, por si mesmo, a satisfacao de sua pretensao.

Com o decorrer do tempo outros metodos tambem foram criados para solucionar as lides. No entanto, todos eles continuaram sempre a ser realizados por particulares, como por exemplo, a autocomposigao e a arbitragem, que sao, inclusive, metodos de resolugao de lides ainda em uso no nosso sistema juridico.

A autocomposigao da-se quando as partes envolvidas em uma celeuma acabam por acordarem entre si uma solugao adequada sobre a disputa. Ocorre quando um dos contendores abdica de seu direito na totalidade, ou, como ocorre na

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maioria dos casos, quando ambos vem a abrir maos de parte de seu direito em prol de uma solucao para a lide. Trata-se de uma resolugao onde nao ha intermediadores e busca-se uma solucao pacifica para o conflito de interesses.

Na arbitragem, diferentemente do que acontece nos dois institutos acima explicitados, existe um terceiro que dira quern esta com a razao em determinada lide. Este terceiro devera ser um particular e sera nomeado para resolver a contenda, ou seja, dizer o direito ao caso concreto que Ihe foi apresentado pelos litigantes. Trata-se de ajuste particular, logo nao havera qualquer interferencia do Estado na decisao dada pelo particular escolhido para ser arbitro na demanda. No Brasil a arbitragem tern espaco timido, entretanto ainda existe e esta disciplinada pela lei n° 9.307 de 1996.

Por fim, dois fatores unidos fizeram com que chegassemos ao sistema jurisdicional em que vivemos hoje. O primeiro foi que o ser humano percebeu que esses sistemas, individualista e de decisoes parciais, nao eram tao favoravel a justica. O segundo foi a forga que o Estado veio ganhando no decorrer da historia. A partir desta conjugagao chegamos a realidade atual onde o Poder Judiciario, pertencente ao Estado, e dotado de jurisdigao para substituir a vontade das partes, ou seja, dizer de quern e o direito no caso concreto.

O individuo, ao buscar a intervengao do Poder Judiciario em determinada celeuma que esta ocorrendo em sua vida, quer que o Estado Ihe oferega uma solugao para tal problema. O Estado goza do poder-dever de apaziguar as disputas entre particulares. A fungao estatal pacificadora, ou seja, jurisdigao, e inerente e exclusiva.

O Poder Judiciario nao pode se eximir em hipotese alguma de sua fungao jurisdicional. A ele e dado o poder-dever de substituir a vontade das partes e assim esta obrigado a faze-lo sempre que for provocado. E o que preceitua a Constituigao Federal Brasileira de 1988 em seu artigo 5°, inciso XXXV: "a lei nao excluira da apreciagao do Poder Judiciario lesao ou ameaga a direito".

Segundo Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2008, p. 144) sobre este principio:

Consubstancia, outrossim, uma das mais relevantes garantias aos individuos (e tambem as pessoas juridicas), que tern assegurada, sempre que entendam estar sofrendo uma lesao ou ameaga a direito de que se julguem titulares, a possibilidade de provocar e obter decisao de um Poder

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independente e imparcial.

Cabe ao Poder Judiciario dirimir a contenda sempre que esta Ihe for apresentada. Vale ressaltar que em respeito ai3rTe~speito ao principio da inercia do Poder Judiciario este poder nao devera atuar de oficio, ou seja, nao buscara a pacificacao de um conflito sem que haja provocagao de parte interessada.

A jurisdigao e exercida atraves de um processo.

De acordo com Ada Pellegrini, Dinamarco e Cintra (2009, p. 29), dando conceito de processo, tem-se:

Como a juriscJicao se exerce atraves do processo, pode-se provisoriamente conceituar este como instrumento por meio do qual os orgaos jurisdicionais atuam para pacificar as pessoas conflitantes, eliminando os conflitos e fazendo cumprir o preceito juridico pertinente a cada caso que Ihes e apresentado em busca da solucao.

Proposta determinada agao em concreto perante o juizo competente, este devera buscar a solugao para tal disputa. Para que isso acontega a lide devera passar por todo esse procedimento perante o judiciario. No caso do autor, via de regra: propor a agao em conformidade com o estabelecido no Codigo de Processo Civil Brasileiro, participar de audiencia, produzir provas etc.. Quanto ao reu: contestar a inicial, produzir provas, comparecer a audiencia, dentre outras.

Apos vencido todo o processo peculiar a agao, o juizo devera obrigatoriamente trazer um desfecho para a lide. Denomina-se tal decisao jurisdicional, em primeiro grau de instancia, de sentenca. Ja a decisao prolatada por

um tribunal em segundo grau de jurisdigao e conhecida por acofdao.

A partir de entao estaremos diante do instituto da coisa julgada, que tern por finalidade trazer seguranga as relagoes juridicas, e, dessa forma, fazer com que prepondere a estabilidade das decisoes judiciais, algo tao almejada pela populagao de uma forma geral.

Em resumo, inicialmente existiam unicamente incertezas trazidas pelos sistemas arbitrarios e parciais de decisoes como a autotutela e seus semelhantes, onde a forga e o poder reinavam de forma absoluta. Entretanto, com a evolugao social, do direito e do Estado, novas formas de resolugao de dissidios foram sendo desenvolvidas ate chegarmos ao que hoje se chama de jurisdigao. E e atraves desta

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que a coisa julgada surge como instituto de defesa das decisoes emitidas pelo Judiciario e, consequentemente, trazendo estabilidade as relagoes judiciais.

2.2 Conceito

A necessidade social de ver seu direito protegido pela decisao definitiva e imutayel advinda de um orgao imparcial vem a ser atendido. A coisa julgada faz exatamente isso: torna osjefeilos da decisao imutaveis, trazendo as relagoes da sociedade em geral maior seguranga.

A coisa julgada no Direito Processual Civil patrio nada mais e que, conceituando de uma forma geral, a impossibilidade de modificagao de uma decisao prolatada pelo poder judiciario no exercicio de sua atividade impar. Para que a coisa julgada surja e necessario, em suma, que nao haja possibilidade de recurso

-perdendo o prazo legal estipulado para o mesmo - ou, ainda que haja, o litigante que goza da possibilidade de recorrer desista.

Didier, Oliveira e Braga (2007, p. 478) conceituam este instituto nos seguintes termos: "A coisa julgada e a imutabilidade da norma juridica individualizada contida na parte dispositiva de uma decisao judicial".

E o que ensina Marinoni (2007, p. 631):

Provisoriamente, receba-se como conceito de coisa julgada a imutabilidade decorrente da sentenca de merito, que impede a discussao posterior. O conceito ainda e impreciso, mas presta-se para o fim (...) que e realizar a separacao entre coisa julgada formal e material.

Trata-se de conceito de certa forma generico, no entanto serve para que seja possivel fazer a distingao entre as duas "modalidades" de coisa julgada existentes: a formal e a material.

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Como dito acima a coisa julgada podera ser formal e material.

Em breves linhas a coisa julgada formal e aquela que se da dentro do processo. Ou seja, a impossibilidade de modificagao da coisa julgada de forma interna.

Ja a coisa julgada material e imutabilidade da decisao que se da^clentro e fora do processo. Surgindo a coisa julgada material inexistira possibilidade de reexame da decisao tanto internamente como externamente ao processo.

Liebman (1981), apud Moacyr Amaral dos Santos (2009, p. 47):

Com toda razao estao estes estudiosos. A coisa julgada material nao pode existir sem que a coisa julgada formal tenha surgido. So ha de se falar em coisa julgada material se houver a imutabilidade endoprocessual. Logo, a coisa julgada

material tern como pressuposto a coisa julgada formal.

2.3.1 Coisa julgada formal

A coisa julgada formal e a imutabilidade da decisao judicial dentro do mesmo processo. Trata-se da impossibilidade de impugnagao da decisao emanada pelo Poder Judiciario por meio de recursos. O recurso e o meio pelo qual o litigante sucumbente exerce seu direito de pedir reapreciagao do julgamento. Inexistindo a possibilidade da interposigao de um recurso ocorre o instituto em estudo: coisa julgada formal.

Marinoni (2007, p. 631) ensina que:

A coisa julgada formal e a coisa julgada material sao degraus do mesmo fenomeno. Proferida a sentenca e preclusos os prazos para recursos, a sentenca se torna imutavel (primeiro degrau - coisa julgada formal); e, em consequencia, tornam-se imutaveis os seus efeitos (segundo degrau - coisa julgada material).

A indiscutibilidade da decisao judicial dentro do processo remete a nogao de coisa julgada formal. A coisa julgada formal, (...) e endoprocessual, e se vincula a impossibilidade de rediscutir o tema decididd~a*e7Ttro-da-relaQao processual em que a sentenga foi prolatada.

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Levando em conta que tal instituto e a perda da faculdade de praticar algum ato processual podemos entender que a coisa julgada formal nao e "coisa julgada propriamente dita". Trata-se de uma especie de preclusao.

<«.-Arenhart (2004, p. 665) conceitua a preclusao de maneira precisa:

(...) a preclusao consiste - fazendo-se um paralelo com figuras do direito material, como a prescricao e a decadencia - na perda de "direitos processuais", que pode decorrer de vaTiaV causas. Assim como acontece com o direito material, tambem no processo a relacao juridica estabelecida entre os sujeitos processuais pode levar a extincao de direitos processuais, o que acontece, diga-se, tao frequentemente quanto em relacoes juridicas de direito material. A preclusao e o resultado dessa extincao, e e precisamente o elemento (aliado a ordem legal dos atos, estabelecida na lei) responsavel pelo avanco da tramitagao processual.

Assim, propugna Didier Jr. (2008, p. 479) que a coisa julgada formal: "Seria a preclusao maxima dentro de um processo jurisdicional".

2.3.2 Coisa julgada material

A coisa julgada material e tambem conhecida como coisa julgada substancial. Trata-se da coisa julgada por excelencia, ou seja, o verdadeiro caso julgado acabado, imutavel e intangivel. E o instituto que transforma a decisao jurisdicional em algo inatacavel e indiscutivel tanto dentro como fora da relacao judicial em que foi discutida.

Enquanto a coisa julgada formal se limita ao processo de forma interna, a coisa julgada material e mais ampla. Abarca situacoes endo e extraprocessuais. Vai alem da relacao criada inicialmente fazendo com que a decisao decretada seja plenamente intangivel. Assim, a decisao torna-se inatacavel no mesmo processo ou em qualquer outro processo autonomo que venha a ser proposto.

Quando a decisao transitar em julgado eocorrer a coisa julgada material, esta irradia os seus efeitos tanto internamente como para fora do processo da qual adveio.

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A coisa julgada material (...) projeta seus efeitos para fora do processo, impedindo que o juiz volte a julgar novamente a questao, sempre que a nova acao tenha as mesmas partes, o mesmo pedido e a mesma causa de pedir: ou seja, sempre que as acoes sejam identicas, coincidindo em seus elementos.

A coisa julgada material protege o direito do litigante vencedor de ataques do sucumbente. Alem disso, guarda-o de possiveis prejuizos advindos de leis modificadas ou mesmo de leis novas impedindo que as mesmas venham a suprimir o que foi decidido. E o que pode-se observar com a redacao do artigo 5°, inciso XXXVI da Constituigao Federal de 1988: "A lei nao prejudicara o direito adquirido, o ato juridico perfeito e a coisa julgada".

E salutar compreender que a coisa julgada esta protegida de lei que possa vir a prejudica-la. Entretanto, ante a forca ilimitada do Poder Constituinte Originario, havendo nova constituicao, esta podera modificar qualquer situagao anteriormente criada, inclusive a coisa julgada material.

Para fins deste trabalho, o termo coisa julgada sera empregado em seu sentido material. Ao se falar em coisa julgada estara, daqui em diante, falando-se de sua modalidade material.

De acordo com o artigo 467 do Codigo de Processo Civil nacional: "Denomina-se coisa julgada material a eficacia, que torna imutavel e indiscutivel a sentenca, nao mais sujeita a recurso ordinario ou extraordinario".

Existem correntes divergentes quanto a acepcao da coisa julgada no ordenamento patrio. Dentre todas, existem duas que sao mais difundidas. A primeira acredita ser a coisa julgada um efeito da decisao. A segunda acredita ser uma qualidade dos efeitos da decisao.

Analisando o artigo supracitado tem-se que a coisa julgada e um efeito da sentenca. A coisa julgada deixa imutavel e indiscutivel a carga declaratoria da decisao prolatada.

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Araken de Assis (2001, p. 243) acredita ser a coisa julgada essa declaracao que traz a sentenga: "a coisa julgada restringe-se a uma eficacia, proveniente da inimpugnabilidade, que recobre a forca ou o efeito declarators, porquanto somente a declaragao se revel, na pratica, imutavel e indiscutivel".

Divergindo deste posicionamento existem os que acreditam ser a coisa julgada nao um efeito em si, mas a qualidade desses efeitos da decisao.

Segundo Moacyr Amaral dos Santos (2009, p. 56):

Nao e a coisa julgada um efeito da sentenca, mas sua propria eficacia, ou aptidao para produzir os efeitos que Ihe sap proprios, e que a tinha imutavel e indiscutivel, quando nao mais sujeita a qualquer recurso mesmo extraordinario.

Em que pese o entendimento da segunda corrente, amplamente aceito pela doutrina, o posicionamento adotado pelo nosso ordenamento juridico e o primeiro, ou seja, a coisa julgada e o efeito da decisao.

2.5 Decisoes geradoras da coisa julgada » A- J '

Para que uma decisao possa produzir a coisa julgada sera necessario que ela seja uma sentenga definitivaf ou de merito oriunda de um processo existente.

Nem toda sentenga e capaz de produzi-la. Exemplo disso sao as sentengas terminativas. Em regra, com estas o processo transitara em julgado, entretanto, nao fara coisa julgada ja que nao versou sobre o merito, podendo o direito ser rediscutida em outro processo. Note-se que houve apenas uma preclusao. Excegao a esta regra e o julgamento que acata alegagao de perempgao, litispendencia ou coisa julgada.

De acordo com os ensinamentos de Moacyr Amaral dos Santos (2009, p. 58), nao havera rediscussao em novos autos: "quando a extingao do processo, sem resolugao do merito, se tenha dado pelo acolhimento da alegagao de peiemp^gao, de litispendencia ou de coisajulgada". Nesses casos nao sera possivel o ajuizamento de um processo novo com os mesmos elementos do anterior.

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coisa julgada. O processo cautelar e, em regra, vinculado a um processo principal. A fungao do processo cautelar e de protecao do provimento jurisdicional. Assim, ficam totalmente subordinadas as decisoes proferidas posteriormente pelo processo principal. Tambem podem, inclusive, ser modificadas ou revogadas a qualquer momento para que haja a real protecao do direito pleiteado.

A producao da coisa julgada esta vinculada ao poder judiciario contencioso, logo, sentengas prolatadas em processo de jurisdigao voluntaria ou graciosa nao estarao aptas a formar a coisa julgada.

Tambem nao estao passiveis de formarem coisa julgada as decisoes interlocutorias e os despachos de mero expediente. Estas decisoes e despachos tern carater meramente processual. Assim, apenas precluem ao passarem em julgado, o que impede o seu reexame no mesmo processo. Nada impede, no entanto, que sejam rediscutidos em novo processo.

2.6 Limites da coisa julgada

A coisa julgada nao e um instituto ilimitado, deve obedecer a limites de carater objetivo e tambem subjetivo. Estes limites serao abordados a seguir para que seja possivel o entendimento acerca do que e em relagao a quern a coisa julgada vicejara.

2.6.1 Limites objetivos

A sentenga faz lei entre as partes respeitadas determinados limites. E o que propugna o artigo 468 do Codigo de Processo Civil: "A sentenga, que julgar total ou parcialmente a lide, tern forga de lei nos limites da lide e das questoes decididas".

O limite objetivo da coisa julgada diz respeito ao objeto apreciado pela decisao que a formou. A sentenga de merito esta apta, como visto acima, a formar a coisa julgada. Entretanto, nao sera toda ela que firmara o caso julgado, mas sim apenas certa parte.

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A sentenga e composta, essencialmente, de acordo com o artigo 458 do CPC de 1973 de tres elementos: o relatorio, os fundamentos e do dispositive

0 relatorio traz um resumo do que aconteceu nos autos do processo em questao a observado desde o inicio da relagao processual em foco ate a sua sentenga. Devera conter tambem os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do reu, bem como o registro das principais ocorrencias havidas no andamento do processo.

- — 1 s

Os fundamentos sao as razoes de direito que fizeram com que o juiz decidisse a relagao processual de certa forma. E de suma importancia para o processo, ja que em nosso ordenamento juridico nao podera o juiz decidir um processo sem fundamenta-lo. E o que propugna a Constituigao Federal de 88 em seu artigo 93, inciso IX:

Todos os julgamentos dos 6rgaos do Poder Judiciario serao publicos, e fundamentadas todas as decisoes, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presenca, em determinados atos, as pr6prias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservagao do direito a intimidade do interessado no sigilo n§o prejudique o interesse publico a informagao;

Ja o dispositivo e a parte da sentenga que realmente ficara protegida pela coisa julgada. E a porgao da sentenga, de cunho decjsorio, capaz de se tornar imutavel e intangivel. Vem na parte final da sentenga com a decisao que o juiz dara ao caso concreto, ficando apto a fazer lei entre as partes. Nao cabe ao juiz, na fragao dispositiva da sentenga arguir motivos ou fundamentagoes, pois aqui ele trara apenas a informagao de que tern ou nao razao na celeuma apreciada.

Assim, nao sera a sentenga inteira que ficara resguardada pela coisa julgada. Apenas recai sobre o pedido que foi colocado como questao principal do processo.

Este pedido, apos o transito em julgado, estara protegida pelo manto da coisa julgada. O restante, ou seja, o relatorio, fundamentagao nao ficam resguardados

pela coisa julgada.

E o que estabelece o Codigo de Processo Civil de 73, artigo 469, I, II, III:

Art. 469. Nao fazem coisa julgada:

I - os mojjyos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentenga;

(24)

III - a apreciacao da questao prejudicial, decidida incidentemente no processo.

O professor Montenegro (2007, p. 559) explica que:

A coisa julgada (...) acoberta as questoes decididas em parte especifica do pronunciamento judicial, como tal na dispositiva, que se refere a conclusao da decisao, depois de ter o magistrado realizado o relatorio e a fundamentacao, indicando no compartimento conclusivo se acolhe (ou nao) as pretensoes do autor.

Ponto relevante no que diz respeito ao limite objetivo da coisa julgada e o tratamento dado as questoes prejudiciais que sao decididas incidentalmente no processo. O artigo 469, inciso III, CPC, acima citado firma que estas questoes nao ficarao sob a autoridade da coisa julgada.

No entanto, o artigo 470 do mesmo Codigo de Processo Civil abre excecao para que as questoes prejudiciais decididas incidentalmente no processo possam ser abarcadas pela coisa julgada: "Faz, todavia, coisa julgada a resolugao da questao prejudicial, se a parte o requerer (arts. 5° e 325), o juiz for competente em razao da materia e constituir pressuposto necessario para o julgamento da lide". Percebe-se que trata-se de situagao especial ja que traz como requisitos a solicitagao feita por alguma das partes do processo, a competencia do juiz em razao de materia do juiz e, porfim, que seja necessario para o julgamento da contenda.

Em suma, a sentenga produzira os efeitos da coisa julgada unica e exclusivamente nos limites da lide decidida.

2.6.2 Limites subjetivos

Para que se possa iniciar o estudo dos limites subjetivos da coisa julgada deve-se entender, primeiramente, que a Carta Magna de 1988 propugna em seu artigo 5°, incisos LV e LIV, ser o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditorio direitos fundamentals inerentes a todos.

(25)

472 do CPC e redigido da seguinte forma:

A senteo$srfaz coisa julgada as partes entre as quais e dada) nao beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsorcio necessario, todos os interessados, a sentenca produz coisa julgada em relagao a terceiros.

A regra geral trazida pelo artigo processual supracitado e que ninguem sera prejudicado ou beneficiado sem que tenha figurado como parte na demanda. Trata-se de disposicao bastante coerente com os preceitos constitucionais. E totalmente inconstitucional a invasao da esfera juridica de terceiros por alguma decisao em que sequer teve direito a defesa ou ao devido processo legal.

A sentenga so fara coisa julgada entre as partes que participaram do processo, sendo vedado que recaia sobre terceiros.

No entanto, na segunda parte deste mesmo artigo, o legislador abriu excegao onde a sentenga fara coisa julgada sobre terceiros. Isso acontecera nas causas relativas ao estado da pessoa, desde que trate-se de litisconsorcio necessario e que todos os interessados sejam citados no processo.

Santos (2009, p. 78), lecionando acerca desses interessados, ensina:

Condigao para que estes sejam atingidos pela coisa julgada, e que sejam citados para a agao, em litisconsorcio necessario, todos os interessados, sejam interessados diretos ou juridicamente interessados. Alias, a vista dessa condigao, nao ha terceiros que possam se considerar prejudicados pela sentenga.

Ou seja, havendo causas relativas ao estado de pessoa, mesmo que o terceiro tenha ficado ausente do processo, a sentenga produzira coisa julgada em relagao ele. Para isto, devera ter havido sua citagao para integrar relagao processual em litisconsorcio necessario.

Em resumo, a coisa julgada somente alcangara a esfera daqueles que tenham litigado. Assim deve ser ante os preceitos constitucionais que protegem o direito a ampla defesa e contraditorio. Nao seria coerente, nem tampouco justo, prejudicar terceiro alheio a celeuma.

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2.7 Efeitos da coisa julgada

A coisa julgada projeta seus efeitos tanto para dentro do processo quanto para fora do mesmo. Sao basicamente o negativo, o positivo e o preclusive

O efeito negativo da coisa julgada e aquele que impede que a questao principal, que ja foi discutida e decidida de forma definitiva, volte a ser a ser colocada sob julgamento como questao principal em outro processo.

Segundo Nery (2004, p. 40) o efeito negativo traz a: "Impossibilidade de a lide (merito, pretensao) (...) ser rediscutida em agao judicial posterior, o que implica a proibicao de a mesma agao - com os elementos identicos: partes, causa de pedir e pedido - ser reproposta".

Ja o efeito positive da coisa julgada estabelece que se determinada questao principal, ja decidida e imutabilizada, voltar a juizo sob forma de questao incidental, devera ser apreciada em conformidade com o que foi estabelecido anteriormente.

Nas palavras de Ovidio Baptista (2000, p. 500) acerca deste efeito ensina que: "O efeito positivo (...) corresponde a utilizagao da coisa julgada propriamente em seu conteudo, tornando-o imperativo para o segundo julgamento".

Nao podera, o julgador, dizer o contrario do que ja foi decidido como questao principal. Trata-se de vinculagao que deve ser obedecida pelo julgador da lide nova.

De acordo com Fredie (2007, p. 493): "O juiz fica adstrito ao que foi decidido em outro processo. Sao casos em que a coisa julgada tern que ser levada em consideragao pelos orgaos jurisdicionais".

Por fim a moderna doutrina traz como efeito da coisa julgada o preclusive Trata-se do efeito no qual fica preclusa qualquer possibilidade de arguir defesas que poderiam ter sido feitas durante o tramite do processo que foi acobertado pela autoridade da coisa julgada.

Corroborando com o exposto, Fredie (2007, 494) ensina que: "A coisa julgada torna preclusa a possibilidade de discutir o deduzido e torna irrelevante suscitar o que poderia ter sido deduzido (o dedutivel)".

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3 AQAO R E S C I S O R I A : DESCONSTITUINDO A COISA J U L G A D A

No sistema juridico patrio admitem-se alguns instrumentos de desconstituicao da coisa julgada, tais como, agao rescisoria, querella nulitatis. No entanto, nao obstante a importancia da querella nulitatis, apenas a agao rescisoria sera tratada neste capitulo, ante a sua maior amplitude.

Dessa forma, aqui serao estudados alguns dos principals aspectos da agao rescisoria. Quais sejam, a legitimidade para sua proposigao, os casos em que ela podera ser proposta e tambem algumas situagoes relevantes onde ela nao e cabivel.

3.1 Conceito

A coisa julgada pode ser, ordinariamente, desconstituida atraves de um meio de impugnagao autonomo chamado agao rescisoria. Nao se trata, no entanto, de uma especie de recurso. Os recursos sao interpostos dentro de um processo que esta tramitando e visam modificar determinada decisao, interromper o seu transito em julgado.

Para Pontes de Miranda (1973), apud Theodoro Junior (2003, p. 527), recurso e: "uma via impugnativa dentro da mesma relagao juridica processual da resolugao judicial que se impugna". Pode-se notar que a agao rescisoria nao se enquadra neste conceito. Trata-se de uma agao constitutiva negativa individual, e nao um recurso em si.

A agao rescisoria busca a modificagao da coisa julgada^que ja foi formada apos um processo passado em julgado. Trata-se de uma agao autonoma e independente, que tern por finalidade atacar a coisa julgada. E, em sua essencia, a forma ordinaria de desconstituigao da coisa julgada no ordenamento patrio.

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Conforme estabelece o artigo 487 do CPC os legitimados para propor a agao rescisoria sao:

Art. 487. Tern legitimidade para propor a agao:

I - quern foi parte no processo ou o seu sucessor a titulo universal ou singular;

II - o terceiro juridicamente interessado; III - o Ministerio Publico:

a) se nao foi ouvido no processo, em que Ihe era obrigatoria a intervencao; b) quando a sentenga e o efeito de colusao das partes, a fim de fraudar a lei.

Desta forma, as partes do processo original, terceiros prejudicados e o Ministerio Publico podem propor a agao rescisoria buscando a modificagao da decisao que esta acobertada pelo manto da coisa julgada. No entanto, para que exista tal possibilidade alguns requisitos devem ser obedecidos.

O primeiro deles e que a sentenga tenha sido de merito. Nao ha de se falar em agao rescisoria contra pronunciamento meramente terminativo. Confirmando o explicitado Montenegro (2007, p. 632): "O objeto da agao rescisoria consiste em sentenga de merito, sobre a qual pesa autoridade de coisa julgada".

Outra exigencia para que seja cabivel a proposigao da acao rescisoria e o respeito do prazo estipulado no Codigo de Processo Civil, qual seja, dois anos. Este prazo deve ser contado a partir do dia do transito em julgado da decisao de merito. E o entendimento jurisprudencial majoritario:

PROCESSUAL CIVIL RECURSO ESPECIAL ACAO RESCISORIA -PRAZO PARA PROPOSITURA - TERMO INICIAL - TRANSITO EM JULGADO DA ULTIMA DECISAO PROFERIDA NOS AUTOS - CPC, ARTS. 162, 163, 267, 269 E 495 - SUMULA 100 TST - PRECEDENTES STF E STJ. - A coisa julgada material e a qualidade conferida por lei a sentenga /ac6rdao que resolve todas as questoes suscitadas pondo fim ao processo, extinguindo, pois, a lide. - Sendo a agao una e indivisivel, nao ha que se falar em fracionamento da sentenga/acordao, o que afasta a possibilidade do seu transito em julgado parcial. - Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor a ag3o rescisoria se extingue apos o decurso de dois anos contados do transito em julgado da ultima decisao proferida na causa. - Entendimento consagrado no STF, STJ e TST - Recurso especial conhecido e provide

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O artigo 485, I a IX, CPC, traz as situagoes em que sera cabivel a proposigao da agao rescisoria:

Art. 485. A sentenga de merito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:

I - se verificar que foi dada por prevaricagao, concussao ou corrupgao do juiz;

II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;

III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusao entre as partes, a fim de fraudar a lei;

IV - ofender a coisa julgada; V - violar literal disposigao de lei;

VI - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na propria agao rescis6ria;

VII - depois da sentenga, o autor obtiver documento novo, cuja existencia ignorava, ou de que n§o pode fazer uso, capaz, por si so, de Ihe assegurar pronunciamento favoravel;

VIII - houver fundamento para invalidar confissao, desistencia ou transagao, em que se baseou a sentenga;

IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa;

Analisando-as brevemente tem-se:

Inciso I: Prevaricagao, concussao ou corrupgao do juiz. Aqui esta patente a busca pela idoneidade do Poder Judiciario, sendo, inclusive, motivo suficiente para que haja o rompimento e a rediscussao da coisa julgada.

Inciso II: Impedimento ou incompetencia absoluta do juiz. A prestagao jurisdicional deve ser prestada por quern e investido de competencia e por aquele que nao esta impedido. Vale salientar que a incompetencia aqui exposta e a absoluta. A incompetencia relativa e a suspeigao sao sanadas pela coisa julgada.

Inciso III: Existencia de dolo da parte vencedora em relagao a vencida, ou colusao entre as partes, no intuito de fraudar a lei. Busca-se neste caso que a prestagao jurisdicional nao sirva para se alcangarfins ilicitos.

Inciso IV: Ofensa a coisa julgada. Se uma demanda for proposta igual a outra que ja havia formado a coisa julgada, mesmo transitando em julgado podera ser rescindida pela agao rescisoria.

Inciso V: Violagao de literal dispositivo de lei. O julgador devera observar a lei em seu julgamento, nao importando se e legislagao constitucional ou

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infraconstitucional. Nao o fazendo a agao rescisoria podera ser proposta para romper a coisa julgada que adveio desta decisao ilegal.

Inciso VI: Fundamento essencial em prova falsa, assim reconhecida em processo criminal ou na propria agao rescisoria. O julgamento do juiz devera ser calcado em provas verdadeiras. Uma decisao embasada em prova falsa nao traz a justiga a sentenga. Logo, podera ser atacada pela agao em estudo.

Inciso VII: Prova nova, antes ignorada ou de que nao se pode fazer uso, capaz de, por si so, alterar a conclusao do julgamento. A prova nova aqui trazida e aquela que ja e x i s t i a ^ r e p o c a do processo, mas que nao pode ser utilizada ou era ser ignorada. A agao rescisoria podera ser proposta caso esta prova nova seja capaz de, por si so, modificar o provimento jurisdicional anterior.

Inciso VIII: Existencia de confissao, renuncia, reconhecimento do pedido ou transagao invalido. As situagoes acima dao ensejo a propositura da agao rescisoria. Vale salientar que existem inumeras divergencias doutrinarias e jurisprudencias quanto a este inciso. Inclusive, nas palavras de Wambier (2007, 637): "Com relagao a segunda parte desse (...) inciso, parece que nao ha outro remedio senao dizer que, realmente, o legislador errou".

Inciso IX: Fundamento em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa. Da ensejo a agao rescisoria pelo fato de nao poder a sentenga ser calcada em erro de fato que poderia ter sido averiguado independentemente de produgao de provas novas.

3.4. Standards nao abarcados pela agao rescisoria.

Como visto nos ensinamentos acima, o instituto da coisa julgada no ordenamento patrio nao esta relativizado. Somente pode-se falar em desconstituigao da coisa julgada atraves da agao rescisoria nas situagoes trazidas taxativamente no Codigo de Processo Civil. Deverao ser obedecidos todos os requisitos desta agao autonoma para que se possa falar em tangibilidade da coisa julgada. Dessa forma, existem enumeras hipoteses peculiares onde a agao rescisoria nao podera ser proposta.

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algumas das principals hipoteses nao alcangadas pelas formas de desconstituicao tipicas da coisa julgada. Nao visa exaurir por completo o estudo da investigagao de paternidade e da desapropriagao. Busca-se ter um entendimento generico de algumas hipoteses que trouxeram a tona o debate sobre a imutabilidade da coisa julgada.

3.4.1 Investigagao de paternidade

Neste topico sera abordada de forma generica a agao de investigagao de paternidade com intuito de demonstrar, ao final, um caso concreto onde a agao rescisoria nao podera ser proposta.

3.4.1.1 Filiagao

A filiagao e direito personalissimo, indisponivel e imprescritivel, conforme estabelece o Estatuto da Crianga e do Adolescente em seu artigo 27: "O reconhecimento do estado de filiagao e direito personalissimo, indisponivel e imprescritivel, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrigao, observado o segredo de Justiga".

O reconhecimento da filiagao e direito fundamental. Pode ser buscado e deve ser respeitado. Nos dizeres de Bezerra (2009): "O filho tern direito a ingressar em juizo para averiguar sua verdadeira paternidade biologica, tendo o direito de saber

sua identidade genetica".

3.4.1.2 Agao de investigagao de paternidade

A agao de investigagao de paternidade e a forma de se buscar judicialmente o reconhecimento da filiagao. E o instrumento juridico pelo qual busca-se reconhecer

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a paternidade de certo individuo

O legitimado ativo para propor tal agao e o filho. Este podera propor a agao de investigagao de paternidade caso seja capaz. Nao o sendo, devera ser representado. Geralmente tal representagao e feita pela sua mae, entretanto nada impede que um tutor ou curador o seja.

No que diz respeito a legitimidade passiva desta agao, via de regra sera do suposto pai. No caso deste estar morto a legitimagao passiva sera dos filhos ja reconhecidos do de cujus ou, por fim, de seu espolio.

A sentenga advinda da agao de investigagao de paternidade tern carater declaratorio, retroagindo ate o dia da concepgao do individuo. Conforme Almeida (2005, p. 23):

A sentenga que reconhecer a paternidade produz os mesmos efeitos do que o reconhecimento do filho (...) A declaragao do estado de filho vale contra todos, conferindo os direitos e deveres resultantes do patrio poder ao investigante e ao investigado, se procedente.

Com a sentenga passada em julgado, reconhecendo ou nao a paternidade, a coisa julgada a protegera e a tornara, naturalmente, intangivel.

3.4.1.3 Situagao peculiar referente a investigagao de paternidade

Apos o surgimento de um novo exame pericial chamado de exame de DNA houve uma enorme revolugao no que diz respeito ao reconhecimento da paternidade dos individuos. O exame de DNA consiste, em linhas genericas, em observar e comparar o DNA, que pode encontrado em todas as celulas do corpo humano, do filho e do suposto pai. Havendo compatibilidade de genes a possibilidade da existencia de vinculo sanguineo e quase que soberana.

Os metodos periciais existentes antes do surgimento do exame de DNA nao eram tao confiaveis, passiveis de erros e desvios. Ja o exame de DNA e considerado quase que infalivel.

De acordo com Rolim (2006, p. 12): "Com o DNA a margem de seguranga e de 99,9999%, quer na exclusao, quer na inclusao da paternidade".

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Ensina Goncalves (2006, p. 318) sobre o exame de DNA que:

(...) E hoje, sem duvida, a prova central, a prova mestra na investigagao filial, chegando a um resultado matematico superior a 99,9999%. Faz-se mister, no entanto, que seja realizado com todos os cuidados recomendaveis, nao so no tocante a escolha de laboratorio idoneo e competente, dotado de profissionais com habilitacao especifica, como tambem na coleta de material. E fundamental que tal coleta seja acompanhada pelos assistentes tecnicos indicados pelas partes e o material bem conservado e perfeitamente identificado. Se tais cautelas nao forem tomadas o laudo pode ser impugnado, dada a possibilidade de erro.

O exame de D N A e considerado o mais importante e mais preciso instrumento de averiguagao de paternidade na atualidade. Sua precisao chega a ser de quase 100% de acerto. Desde que o exame seja realizado de forma idonea e responsavel pode-se chegar a resultados com grau de certeza muito apurado.

Ante o exposto tal situagao poderia ocorrer: uma sentenga veio a transitar em julgado determinando que "X" era filho de "Y". Apos dois anos (prazo decadencial da agao rescisoria), atraves do uso do exame de DNA, descobriu-se que "X" na verdade nao era filho de "Y".

Pela sentenga, que esta acobertada pela coisa julgada, ha vinculo juridico entre eles. Sao pai e filho. Situagao que nao condiz com a realidade fatica natural. Montenegro (2007, p. 567) tratando sobre hipotese semelhante vai fundo ao chamar este descendente de: "filho da coisa julgada".

Em tal situagao nao podera ser proposta a agao rescisoria ou qualquer outra que tenha por fim atacar a decisao.

3.4.2 Desapropriagao

Neste topico sera abordada de forma generica a agao de desapropriagao com intuito de demonstrar, ao final, um caso concreto onde a agao rescisoria nao podera ser proposta.

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A Constituigao Federal de 1988 consagrou o direito a propriedade como um de seus pilares. E o que preve o artigo 5° da Carta Magna: "todos sao iguais perante a lei, sem distingao de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros (...) direito (...) a propriedade (...)". Tambem traz em seu artigo 5°, inciso XXII o direito de propriedade.

Segundo Lima (2006):

A propriedade faz parte da dignidade da pessoa humana. Senhor dos seus atos, para agir com toda a independencia, o homem tern necessidade de poder apropriar-se exclusivamente de certos bens, para orientar sua atividade segundo suas aspiracoes e seus gostos e trabalhar, sem coacao, no desenvolvimento de sua personalidade.

No entanto, no mundo moderno, o exercicio do uso da propriedade encontra-se restringido por uma encontra-serie de fatores, nao assumindo mais o carater absoluto que pairava anteriormente. Atualmente, o gozo dos direitos decorrentes da posse ou do dominio deve estar em harmonia com outros valores tao importantes quanto este, como por exemplo, a fungao social e o respeito aos interesses publicos.

E o que estabelece o inciso XXIV, artigo 5° da CF: "a lei estabelecera o procedimento para desapropriagao por necessidade ou utilidade publica, ou por interesse social, mediante justa e previa indenizagao em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituigao".

Nesse sentido Hely Lopes (2001, p. 503) ensina:

Para o uso e gozo dos bens e riquezas particulares, o Poder Publico impoe normas e limites, e, quando o interesse publico o exige, intervem na propriedade privada (...), atraves de atos de imperio tendentes a satisfazer as exigencias coletivas e a reprimir a conduta anti-social da iniciativa privada.

Nao existem direitos ou garantias constitucionais absolutas. O direito a propriedade esta protegido esta pela Constituigao Federal, no entanto, estando em desacordo com outros principios, direitos e garantias constitucionais podera ser alvo de intervengao do Estado.

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3.4.2.2 Agao de desapropriagao

A agao de desapropriagao e aquela em que o Estado ingressa perante o poder Judiciario em face de um particular (proprietario do bem desejado pelo poder publico) buscando obter a propriedade de certo bem.

O sujeito ativo sera sempre o Poder Publico, ou aqueles que exercem fungao delegada pelo Estado. No polo passivo encontra-se o proprietario do bem a ser desapropriado. O Ministerio Publico intervira, obrigatoriamente, em qualquer que seja o processo de desapropriagao.

Com a sentenga que resolve o merito fica determinado o quantum que devera ser pago previamente pelo expropriante ao expropriado. Efetuando o pagamento da indenizagao, o Estado estara liberado para proceder com a imissao definitiva na posse do bem expropriado.

3.4.2.3 Situagao peculiar referente a desapropriagao

Com o surgimento da inflagao no Brasil ha aproximadamente trinta anos algumas dessas desapropriagoes, que, em tese, teriam indenizagao previa e justa paga em dinheiro tornaram-se um verdadeiro suplicio para os expropriados.

A realidade e que as decisoes de tempos atras nao traziam consigo o instituto financeiro da corregao monetaria. Assim o era pois nao havia inflagao e os valores estipulados nas decisoes judiciais estavam sempre atualizados.

No entanto, com o surgimento da inflagao no Brasil, os valores determinados nas sentengas iam a cada dia, a cada hora, perdendo o seu valor. Uma sentenga que estipulasse certo valor justo, no momento do pagamento por parte do expropriante ja nao era tao justo. E o pior, em certos casos, isso acontecia ante a omissao do ente expropriante. O pagamento vinha a ser realizado anos depois da sentenga que decidiu o quantum a ser pago. Isso trazia tamanho prejuizo, onde, os antigos proprietaries de bens valiosissimos recebiam quantias miseraveis como indenizagao.

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Theodore- Junior (2003), apud Mendonca (2006), mostra bem essa situagao de afligao:

Quando surgiu a inflagao e sobre ela foi perdido o controle, o Supremo Tribunal Federal comegou a enfrentar questoes versando sobre desapropriagao, que chegavam com a sentenga transitada em julgado, e o "grito de desespero do desapropriado, porque simplesmente sem a existencia da corregao monetaria, aquela indenizagao justa, previa e em dinheiro, que era uma garantia constitucional, se esvafa no tempo, desaparecia, e o proprietario perdia a casa onde morava, a fazenda, o imovel urbano e nada tinha a receber.

Ante o exposto, pode surgir a seguinte situagao hipotetica: Uma propriedade muito valorizada de Joao foi alvo de agao de desapropriagao por parte do Poder Publico. A sentenga prolatada continha a determinagao de certo prego justo para indenizar o expropriado (sem determinar corregao monetaria), qual seja, C$

1.000.000,00. Somente apos cinco anos o Estado veio a adimplir a indenizagao e tomar posse da propriedade. No entanto, esse valor, em face da inflagao, ja nao era suficiente pra comprar sequer o terreno de propriedade similar a expropriada.

Em virtude da coisa julgada que recobre esta sentenga, o valor estipulado, que nada tern de justo, foi cumprido, prejudicando fortemente o particular expropriado.

Em tal situagao nao podera ser proposta a agao rescisoria ou qualquer outra que tenha por fim atacar a decisao.

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4 RELATIVIZAQAO DA COISA J U L G A D A

O imperativo sobre o instituto da coisa julgada, desde um passado bem distante, era tao extremista que se chegava a dizer que a coisa julgada transformaria qualquer coisa em seu oposto. E o que mostra critica feita por Couture (1999, p. 329 e 332) sobre esses excessos:

Propalavam os glosadores, com certa dose de exagero, o distico de Scassia: A coisa julgada faz do bianco preto; origina e cria coisas; transforma o quadrado em redondo; altera lacos de sangue e transforma o falso em verdadeiro.

Mesmo com toda evolugao juridica trazida em todos os seculos de existencia deste instituto, a coisa julgada e considerada por muitos, ate certo ponto, como^jm dogma. Sua intangibilidade ainda e caracteristica bastante robusta que impossibilita qualquer tentativa de modificagao atipica do que foi decidido e passado em julgado.

No entanto, atualmente vem-se rejeitando a existencia de institutos com carater absolute pois ate mesmo os principios e direitos constitucionais encontram limites nos demais principios de mesma natureza. Nao ha mais de se falar em institutos irrestritos, ou seja, nenhum principio ou o direito, mesmo que constitucional, pode ser considerado incontestavel.

Nesse sentido, Alexandrino (2008, p. 99): "A Constituigao Federal nao possui direitos ou garantias que se revistam de carater absoluto".

Conceituando o que seria rejajivjzjij) a coisa julgada podemos dizer que nada mais e do que mitigar a coisa julgada e fazer com que as sentengas acobertadas por ela possam ser revistas em determinadas situagoes. Castro Filho, citado por Montenegro (2007, p. 568), ensina que relativizar a coisa julgada e o mesmo que: "Admitir que questoes ja julgadas e que nao mais admitem recurso possam voltar a ser reapreciadas em juizo". Essa reapreciagao devera ser feita de forma atipica, ja que, tipicamente, existe a_agao rescisoria.

Trata-se de uma tendencia que vem tomando enorme monta no processualismo patrio abarcando grandes processualistas que defendem que a coisa julgada nao e absoluta, logo seria constitucional relativiza-la em determinados casos. Ja outra parte consideravel dos juristas continua a acreditar que a coisa

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julgada deve ser sempre imutavel, intangivel, intocavel sendo inconstitucional a sua relativizagao por se tratar de instituto absoluto.

4.1 Da constitucionalidade, ou nao, da relativizagao da coisa julgada.

A discussao acerca da constitucionalidade, ou nao, da relativizagao da coisa julgada gira em torno de dois primeiros principios constitucionais, quais sejam, o da seguranga juridica e o da inafastabilidade da prestagao jurisdicional justa.

Na hipotese de uma sentenga injusta estar abarcada pelo manto da coisa julgada, estaremos perante o conflito entre os principios acima mencionados. Aceitando-se como mais relevante o principio do acesso a ordem juridica justa estaremos considerando constitucional relativizar a coisa julgada, caso sobressaia a seguranga juridica ter-se-a a inconstitucionalidade da relativizagao.

4.2 Principio da seguranga juridica

A seguranga juridica nada mais e do que a certeza de estabilidade nas relagoes juridicas. O principio da seguranga juridica e inerente e essencial ao Estado democratico de Direito. E atraves dele que torna-se possivel imaginar uma sociedade organizada e sem incertezas juridicas, ou seja, falta de convicgao quanto as consequencias dos atos praticados.

Para que haja um Estado solido, este deve proporcionar estabilidade nas relagoes juridicas. Assim, a seguranga juridica justifica-se pelo fato de ser de necessaria para que o Estado possa realizar, efetivamente, a ordem social.

Trata-se de um principio que, no Brasil, nao vem expresso, contudo, nas palavras de Ferrari (2004, p. 306):"(...) se encontra inserido no sistema, pois decorre do conteudo das normas expressas". Trata-se de um principio de carater constitucional implicito ao ordenamento juridico nacional.

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A seguranga (...) e concebida como sendo um principio ou um sobreprincipio, haja vista ser pressuposto absolutamente necessario para a afirmagao de qualquer sistema juridico em um Estado Democratico de Direito.

A seguranga juridica existe como uma forma de protegao dos direitos e garantias fundamentais contra as inovagoes e decisoes dos Poderes Legislative, Executivo e Judiciario e efetiva-se atraves de outros principios, tais como a irretroatividade da lei, o devido processo legal, o direito adquirido, dentre outros.

Fazendo uma abordagem geral acerca do principio da seguranga juridica, Canotilho (2000, p. 256) ensina que:

O individuo tern do direito poder confiar em que aos seus actos ou as decisoes piiblicas incidentes sobre os seus direito^ posicoes ou relagoes juridicas alicergados em normas juridicas vigentes e validas por esses actos juridicos deixado pelas autoridades com base nessas normas se ligam os efeitos juridico previstos e prescritos no ordenamento.

A Constituigao Federal tras em seu artigo 5°, XXXVI, que a lei nao prejudicara o direito adquirido, a coisa julgada e o ato juridico perfeito. A seguranga juridica devera ser respeitada tanto na produgao de novas leis como na aplicagao da legislagao ao caso concreto.

O ordenamento tern como uma de suas principals fungoes estabilizar as relagoes juridicas, principalmente as que advem de decisao judicial. Para isso, conta com certos institutos. O principal deles e a coisa julgada, que tras serenidade para as decisoes acobertadas pelo seu manto, expulsando as incertezas que pairavam sobre certa situagao de conflito de interesses.

Como corolario do principio da seguranga juridica, a coisa julgada tern carater constitucional e deve ser respeitada como tal. Nao deve ser tratada como material inferior. A coisa julgada e, nas palavras de Nery (2004, p. 44), assim como a propria seguranga juridica: "elemento de existencia do Estado Democratico de Direito".

Segundo Silva (2005):

No intuito de garantir a seguranga juridica, o ordenamento dispoe de diversos institutos que tern como finalidade a estabilizagao das decisoes judiciais, tais como os prazos processuais, as preclusoes de toda ordem e, a

mais importante destas, a coisa julgada, instituto fundamental ao funcionamento do processo, que tern o condao de assegurar a firmeza das situagoes juridicas.

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Assim, para que haja seguranga juridica realmente seja efetivada, deve-se impossibilitar que as decisoes fiquem a merce de modificagoes a qualquer tempo e forma. A imutabilidade e a intangibilidade, principalmente da coisa julgada, e fundamental para que a seguranga seja alcangada, pois nao existe paz social onde reina a inseguranga e a instabilidade.

A seguranga juridica trazida pela imutabilidade das decisoes judiciais abarcadas pelo manto da coisa julgada tern valor significativo em qualquer ordenamento juridico. A paz juridica e a credibilidade do Judiciario sao conseguidas atraves de certezas, logo, nota-se quao fundamental e este principio.

Alguns doutrinadores vao mais alem do que ja foi dito sobre o principio da seguranga juridica. Acreditam que para que haja ordem necessariamente devera haver justiga.

E o pensamento de Bastos (1998, p. 31):

Embora todo ordenamento juridico esteja voltado a oferecer a necessaria seguranga e estabilidade nas relagoes humanas, o certo e que nao e a seguranga juridica o primado ultimo do Direito. Certamente acima dele encontram-se outros objetivos. Dentre eles, destaque para o principio da justiga'

A ideia de justiga liga-se intimamente a ideia de ordem. Dessa maneira nao ha de se falar em seguranga se nao existir a justiga. Trata-se de caractere implicito ao principio da seguranga juridica. Decisoes injustas resguardadas pela coisa julgada, por exemplo, trazem como consequencia a inseguranga juridica.

Vale salientar, no entanto, que a justiga que prega essa corrente e a "justiga do possivel". E aquela que advem do processo judicial, respeitados os principios do devido processo legal, da ampla defesa, do contraditorio, dentre outros inerentes a prestagao jurisdicional e nao uma especie de justiga utopica e inalcangavel.

Para se ter um Estado forte, ou indo mais alem, para que um Estado democratico de direito possa existir, e necessario que haja um regramento juridico definido e que as relagoes ja realizadas anteriormente sejam respeitadas. A

inseguranga tras a tao temida anarquia, que e a inexistencia de qualquer ordem. Situagoes decididas que a qualquer momento podem ser modificadas trazem uma sensagao de desconforto social capaz de minar a credibilidade posta no Estado

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por toda a sociedade. E nao basta apenas que tais situagoes fiquem estaveis para que a seguranga juridica exista. As decisoes que se estabilizam deverao trazer consigo o fim da prestagao jurisdicional, qual seja, a justiga.

4.3 Principio do acesso a ordem juridica justa

De acordo com Houaiss (2008, p. 445), justiga significa: "principio e atitude que consiste no respeito aos direitos de cada um e na atribuigao daquilo que e devido a cada pessoa". Trata-se de um primado de todos os seres humanos. E dar ou deixar com cada um o que por direito Ihe pertence. A justiga e o que acalenta o ser humano em suas relagoes.

Segundo Sabido (2006):

(...) justiga e o valor ideal que constitui a raz£o de ser o Direito, sendo uma preocupagao de todos os sistemas juridicos alcangar e integrar este valor nos seus ordenamentos de acordo com a evolugao de que as sociedades vao sendo alvo.

O principio do acesso a ordem juridica justa e tambem denominado principio da inafastabilidade da jurisdigao, principio da ubiquidade da Justiga.

Trata-se de um principio constitucional implicito, assim como o da seguranga juridica, a qualquer Estado Democratico de Direito. No ordenamento juridico patrio, a Constituigao Federal, artigo 5°, inciso XXXV, trata do principio da inafastabilidade da prestagao jurisdicional: "a lei nao excluira da apreciagao do Poder Judiciario lesao ou ameaga a direito".

Fazendo uma leitura superficial pode-se entender que este principio e apenas da inafastabilidade da prestagao jurisdicional. No entanto, a analise deste mandamento constitucional deve ser feita de forma ampla. O inciso supra nao trata apenas da possibilidade de acesso ao Judiciario atraves de seus juizos e tribunals, mas sim de uma real prestagao de tutela jurisdicional adequada e efetiva, ou seja, a busca por uma prestagao jurisdicional justa.

O Estado Democratico de Direito tern como uma de suajbbrigagoes trazer a justiga para as relagoes humanas. Abrir a possibilidade de acesso a prestagao

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jurisdicional justa sempre que for provocado para dirimir algum conflito que surja. Nesse sentido, Watanabe (1988, p. 128) explica:

A problematica do acesso a Justiga n§o pode ser estudada nos acanhados limites do acesso aos orgaos judiciais ja existentes. Nao se trata apenas de possibilitar o acesso a Justiga enquanto instituigao estatal, e sim de viabilizar o acesso a ordem juridica justa.

Corroborando com tal entendimento, Dinamarco (1995, p. 48) afirma que: "Nao tern acesso a justiga aquele que sequer consegue fazer-se ouvir em juizo, como tambem todos os que, pelas mazelas do processo, recebem uma justiga tardia ou alguma injustiga de qualquer ordem".

Nada mais natural e essencial para que exista uma sociedade estavel que as relagoes postas perante o Poder Publico sejam resolvidas de forma coerente e Integra, ou seja, decisoes adequadas e, principalmente, justas.

Em suma, interpretando o principio do acesso a ordem juridica justa em sua essencia, entende-se que ele somente efetivar-se-a quando um individuo, alem de ter acesso aos orgaos de jurisdigao, isto e, nao ter tido excluido da apreciagao do Poder Judiciario lesao ou ameaga a direito, tiver conseguido provimento jurisdicional adequado, habil e justo para resguardar o direito lesado ou ameagado por qualquer um que seja, inclusive o proprio Estado.

4.4 Principio da proporcionalidade

O principio da proporcionalidade e de utilizagao bastante antiga, no entanto, vem ganhando cada vez mais espago no ordenamento juridico patrio, principalmente no Direito Constitucional. Apesar de nao estar expresso na Constituigao Federal ou em legislagao inferior, tern sede material no artigo 5°, inciso LIV da Constituigao

Federal, que versa sobre o conteudo do devido processo legal, surgindo da necessidade de impedir que medidas desproporcionais fossem atreladas as decisoes dos tribunals. Alem disso, tambem esta bastante respaldo no ambito doutrinario e jurisprudencial.

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"O principio da proporcionalidade possui grande destaque no direito constitucional contemporaneo, sendo um principio universal no ambito de vigencia das constituigoes dos Estados Democraticos de Direito." Trata-se de uma especie de tecnica para controlar os principios constitucionais que encontram-se em conflito.

Este principio tern por escopo minimizar a colisao com os demais principios juridicos e ainda com os conflitos de valores, da maneira que a lide se resolva da forma mais ponderada possivel, evitando que atitudes desproporcionais sejam cometidas. A decisao judicial pode ter sido tomada em conformidade com os procedimentos previstos, mas sua formalidade nao podera sobrepor-se ao padrao de respeito a dignidade da pessoa humana que a Lei Maior ostenta.

Sua utilizacao e essencial na busca da verdade fatica, com grande riqueza dos detalhes, o que o faz naturalmente exercer a fungao de principio norteador e interpretativo para o hermeneuta buscar as solugoes juridicas de forma prudente e adequada ao caso concreto.

O principio da proporcionalidade corrobora com excelencia a visualizagao das minucias do caso concreto e preza pela adequagao e necessidade logica de acordo com cada peculiaridade do conflito que sera julgado.

No que diz respeito ao conflito entre a coisa julgada e a Justiga das decisoes, pode-se perceber que e totalmente plausivel a incidencia do principio da proporcionalidade como forma de harmonizagao dos mesmos. Dinamarco (2001),

apud Costa (2003), trata o principio da proporcionalidade: "(...) como condicionante

da imunizagao dos julgados pela autoridade da coisa julgada material".

O principio em estudo tern o condao de resolver a situagao de colisao entre os valores da seguranga juridica e do acesso a ordem juridica justa, que ocupam o mesmo patamar hierarquico no ordenamento juridico patrio. Atraves da utilizagao de um juizo baseado no principio da proporcionalidade pode-se estabelecer qual dos dois devera prevalecer no caso concreto.

4.5 Da inconstitucionalidade da relativizagao da coisa julgada: argumentos e posicionamentos

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