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Os sentidos e significados do lazer na formação escolar na região de Xingó

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO. OS SENTIDOS E SIGNIFICADOS DO LAZER NA FORMAÇÃO ESCOLAR NA REGIÃO DE XINGÓ.. Autor Romilson Augusto dos Santos. Orientador Roberto Sidnei de Macedo. SALVADOR - BA 2001.

(2) UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO. OS SENTIDOS E SIGNIFICADOS DO LAZER NA FORMAÇÃO ESCOLAR NA REGIÃO DE XINGÓ. ROMILSON AUGUSTO DOS SANTOS. SALVADOR-BAHIA 2001. 2.

(3) UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSOS DE MESTRADO E DOUTORADO. OS SENTIDOS E SIGNIFICADOS DO LAZER NA FORMAÇÃO ESCOLAR NA REGIÃO DE XINGÓ. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. ROMILSON AUGUSTO DOS SANTOS. SALVADOR – BAHIA 2001. 3.

(4) ROMILSON AUGUSTO DOS SANTOS. OS SENTIDOS E SIGNIFICADOS DO LAZER NA FORMAÇÃO ESCOLAR NA REGIÃO DE XINGÓ. ORIENTADOR: PROFº Dr. ROBERTO SIDNEI DE MACEDO. Dissertação submetida ao Colegiado do Programa de Pós Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, em cumprimento parcial dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Educação.. Banca Examinadora:. Prof. Dr. Roberto Sidnei de Macedo (UFBA) Prof. Dra. Celi Nelza Zulke Taffarel (UFBA) Prof. Dr. Vitor Melo (UFRJ). SALVADOR – BAHIA 2001. 4.

(5) Biblioteca Anísio Teixeira - Faculdade de Educação/ UFBA S237. Santos, Romilson Augusto dos. Os sentidos e significados do lazer na formação escolar na região de Xingó / Romilson Augusto dos Santos. – 2001. 204 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação, 2001. Orientador: Prof. Dr. Roberto Sidnei de Macedo. 1. Lazer e educação – Xingó (mesoregião). 2. Lazer – Trabalho. 3. Lazer – Currículo. I. Macedo, Roberto Sidnei. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação. III. Título. CDD 370.119 - 22. ed.. 5.

(6) TITULO. OS SENTIDOS E SIGNIFICADOS DO LAZER NA FORMAÇÃO ESCOLAR NA REGIÃO DE XINGÓ. ROMILSON AUGUSTO DOS SANTOS. BANCA EXAMINADORA:. ____________________________________ Prof. Dr. Roberto Sidnei Macedo. __________________________________ Prof. Dra. Celi Nelza Zulke Taffarel. _________________________________ Prof. Dr. Vitor Andrade Melo. Salvador. 2001. 6.

(7) DEDICATÓRIA. Dedico este trabalho aos sujeitos políticos desta pesquisa que contribuíram para o meu crescimento, dando – me oportunidade de perceber como é importante a cooperação, solidariedade, e como é necessário lutar por melhores dias em uma sociedade tão injusta como a nossa, onde os valores do ter predominam em relação ao ser, onde o capital dita a ordem causando uma grande desordem àquele que não o detém, ficando este à mercê da exploração e excluído do mundo do trabalho e sem direito ao próprio lazer, apesar de ter tempo livre.. Dedico também ao nosso Nordeste que, mesmo cantado em verso e prosa, sofre as discriminações e exclusões de um país que não conseguiu ainda enxergar que, mesmo com todas as diferenças, somos iguais.. Gostaria também de dedicar este trabalho a todos os estudiosos do campo do lazer, e, em especial, à pessoa que durante a minha formação acadêmica sempre me motivou a trilhar os caminhos que me levaram a ousar em produzir conhecimento, mesmo com as limitações que considero ter. Ao meu grande professor e amigo Joaquim Maurício Cedraz Nery.. 7.

(8) AGRADECIMENTOS. ... e aprendi que se depende sempre, de tanta. muita,. diferente gente. Todas as pessoas sempre são as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas. E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente, onde quer que a gente vá. E é tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho por mais que pense estar. Gonzaguinha. Percebi em minha caminhada que, mesmo nos momentos mais difíceis da elaboração deste trabalho, nunca estive sozinho. Nesse sentido, é que agradeço a todas as pessoas que me ajudaram a ter as marcas diárias de tantas outras pessoas. Marcas estas que me fizeram perceber o quanto é importante caminhar coletivamente, na construção de uma sociedade justa e humana.. Neste momento torna-se difícil fazer agradecimentos, pois posso incorrer no deslize de esquecer alguém, no entanto tentarei não cometer este equívoco. Diante disso, agradeço inicialmente a todos os sujeitos políticos que participaram direta ou indiretamente desse processo de construção árdua e difícil para um marinheiro de primeira viagem.. 8.

(9) Mesmo fazendo essa forma de agradecimento, não poderei deixar de citar algumas pessoas que viveram de perto toda minha dificuldade em querer contribuir na construção do conhecimento de forma sistematizada.. Meu agradecimento muito especial à pessoa que foi muito mais que um orientador, foi amigo, conselheiro, paciente. Cobrando no momento certo e apoiando sempre que necessário, exigindo disciplina. Quero agradecer de coração o apoio e orientação dados pelo professor Roberto Sidnei Macedo.. Ao professor Sérgio Coelho Borges Farias pela sua grande contribuição não só na minha dissertação de mestrado como meu primeiro orientador, mas também na minha própria vida. Minha eterna gratidão.. À minha nova amiga Celi Taffarel pelo apoio, crítica e contribuição efetiva dada na elaboração desta dissertação de Mestrado.. À equipe da REDPECH. Aos amigos Lívia, Alan, Patrícia, Paul, e à sempre acolhedora, professora Terezinha Fróes Burnham.. À equipe da Área Temática Gestão Ambiental, Educação e Trabalho do Projeto Xingó – Mayave, Lélis, Daguia, Carla, Luciana, Cristiane, Guto, Dílson, pela acolhida, hospitalidade e grande colaboração para a minha pesquisa.. 9.

(10) Aos professores Robério R. Matos e Denise Scheyrl, por terem se prontificado a fazer a tradução do resumo deste trabalho para o inglês e o alemão.. Aos meus pais – João Augusto e Maria de Lourdes pela sua árdua luta para que hoje eu pudesse estar aqui.. À Aline, minha companheira, sempre pondo meus pés no chão quando necessário.. Às amigas Isaura e Zoraya, que colaboraram comigo nos momentos mais difíceis da pesquisa e da minha vida.. Aos meus colegas do Departamento de Educação Física, pelo estímulo. A Meire Conceição Góes, Orlando Hage, Cristina Bassalo.. A Álvaro Cardoso, pela sua colaboração na correção gramatical.. À Rozane Suzart, minha monitora do Projeto Lazer Cidadão: uma ação comunitária.. Aos amigos Wilson Brito Lima Filho, Marco Bahia e Humberto Santos, Anax do Lago e Rodrigo Poegere, pela grande força.. 10.

(11) Ao professor Menandro Ramos, pelo grande auxílio e paciente colaboração, sempre que necessitei.. À comunidade de Xingó, por colaborar nesta nova etapa da minha vida,. A Deus,. o meu muitíssimo obrigado!. 11.

(12) SUMÁRIO. Pagina RESUMO. 15. ABSTRACT. 17. ZUSAMMENFASSUNG. 18. 1. INTRODUÇÃO – Delimitando a problemática e as possibilidades investigativas.. 19. 1.1 A necessidade do estudo: a relevância social.. 19. 1.2 A problematicidade: o problema investigativo.. 20. 1.2.1 O lazer: tentativa de um contrato social amplo.. 25. 1.2.2 Objetivos e questões. 29. 1.3 O método como caminho e itinerância de pesquisa.. 31. CAPITULO I – DIÁLOGO E INSPIRACÕES TEÓRICAS I – Um olhar conceitual sobre o lazer. 45 45. II – Lazer em uma sociedade capitalista: recuperando elementos da crítica. 62. III – O significado das praticas corporais e sua relação com o lazer: uma análise crítica das propostas no campo da educação física.. 83. IV – A festa e o jogo enquanto espaço de aprendizagem.. 95. 12.

(13) CAPITULO II 2. O DIÁLOGO INTERPRETATIVO COM A REALIDADE PESQUISADA – Sentidos e significados dos processos de narrativas dos atores educativos sobre o lazer.. 115. a) A escola UNEX. 120. b) A hermenêutica do estudo. 121. 3. CONCLUSÕES. 144. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 151. 5. ANEXOS Anexo I Anexo II Anexo III. 195 196 199 201. 13.

(14) ...Que a leitura seja um brinquedo... Que a alma voe, descolando-se do texto para fazer suas próprias aventuras... Que haja coragem para pensar o insólito... Que o pensamento seja capaz de contemplar os fundamentos.. Roland Barthes. 14.

(15) RESUMO. O presente estudo insere-se entre os que investigam as problemáticas da formação e do currículo. Tem como objeto os sentidos e significados atribuídos pelos futuros trabalhadores ao lazer nos processos educativos. Foi desenvolvido no âmbito de uma proposta interinstitucional de articulação em rede para o desenvolvimento de uma região semi-árida do Nordeste, na área de abrangência do Programa Xingó. Objetivou identificar relações existentes entre o lazer e processos educativos, a partir dos sentidos e significados atribuídos pelos futuros trabalhadores aos conteúdos culturais do lazer, enquanto elementos do ensino - aprendizagem na comunidade, em busca de subsídios para uma educação para e pelo lazer1 onde o “jogo do saber” 2 se torne veículo de construção de cidadania3 .. Dos procedimentos investigativos, contaram o diálogo crítico com os autores que tratou da relação “Lazer – Trabalho – Educação” e análise das falas e produções dos futuros trabalhadores vinculados aos processos educativos do projeto Xingó. Os dados foram sistematizados a partir das falas, identificando-se categorias impregnadas de conteúdos significativos que permitem reconhecer os sentidos atribuídos pelo coletivo de aluno da UNEX 1 (Unidade Escolar de Xingó 1), ao Lazer e seus conteúdos culturais. Inferimos daí, que os elementos de mais ricas possibilidades educativas relacionadas ao. 1. Podemos encontrar mais sobre o assunto em Renato Requixa, 1974. As Dimensões do lazer. P-13 Abordagem utilizada por Nelson Carvalho Marcelino, em seu livro Pedagogia da Animação 1996. 3 Seria interessante ler mais sobre a temática em Ester Buffa, Educação e Cidadania: quem educa o cidadão?-5a. Ed – São Paulo: Cortez, 1995. 2. 15.

(16) lazer e a formação do futuro trabalhador são as festas, os meios de comunicação – rádio, TV, e as linguagens diversificadas – mímica, dança, jogo.. Durante. a. pesquisa,. utilizei. elementos. das. metodologias. qualitativas, que foram organizados e desenvolvidos em torno do diálogo ora com a literatura, ora com as vivências práticas e ora com os futuros trabalhadores para desvelar os sentidos e significados atribuídos ao lazer na formação do trabalhador.. Busquei elementos na etnografia das práticas educativas pautadas na socio-fenomenologia crítica para que pudesse obter “descrições detalhadas de situações, eventos, pessoas, interações e comportamentos observados; citações literais do que as pessoas falam sobre suas experiências, atitudes, crenças e pensamentos; trechos ou íntegras de documentos, correspondências, atas ou relatórios de casos”, fato esse possível devido ao grau de liberdade e agilidade para a reflexão que esse tipo de investigação permite (Patton,1986 apud Alves 1991:22).. 16.

(17) ABSTRACT. This paper is an interinstitutional proposal of net articulation for the development of the northeastern desert of Brazil in the area of Projeto Xingó. Its aim is identifying the relationships between leisure and the educational process, as well as discussing perspectives of the meanings of cultural contents of leisure as components of the teaching/learning process in the community in search of an education for leisure and through leisure. Different conceptions are presented trying to check the various ways of understanding leisure, the formation of the future worker, the way leisure is regarded by the school and its community and the role it plays in the well-being of the population.. 17.

(18) ZUSAMMENFASSUNG. Die vorliegende Arbeit Konstituiert auf dem inter-institutionellen Vorschlag, zur Entwicklung des Trockengebietes im Nordosten, im Rahmen des Xingó Programms, beizutragen. Die Ziele der Forschung sind zum einen, die bestehenden Zusammenhäng zwischen Freizeit und Bildungsprozess zu erkennen, zum anderen, die Perspektiven der Bedeutung Kultureller Inhalte von Freizeit, als Teil des Lehr-Lernprozesses in der Gemeinschaft, zu diskutieren, um letztendlich eine auf freizeitorientiente Bildung zu finden.. 18.

(19) 1. INTRODUÇÃO. DELIMITANDO A PROBLEMÁTICA E AS POSSIBILIDADES INVESTIGATIVAS. 1.1. A necessidade do estudo: a relevância social. As inspirações e inquietações primeiras deste trabalho foram constituídas por vivências concretas no ensino da disciplina Recreação do Curso de Licenciatura em Educação Física, da Universidade Federal da Bahia, e também como professor da rede pública de ensino básico. Inquietava-me o menosprezo da escola pela festa, o lúdico, o jogo, ainda considerado “profano” e inspirou-me lançar elementos que trouxessem para o centro da discussão do Currículo de formação de trabalhadores o que lhe é de grande sentido e significado - os conteúdos do lazer: as festas, a mímica, o poético, o jogo, a dança.. Tivemos também como antecedente uma pesquisa de Educação Física Escolar, realizada por nós em Curso de Pós - Graduação em Metodologia da Educação Física Infantil, onde constatamos que o significado das práticas corporais na educação física é analisada de forma acrítica e que as questões pertinentes à relação entre lazer e educação são pouco discutidas. Nega-se às crianças o que lhes é de grande significado para construir sentidos de vida, o prazer do jogo, da brincadeira, da festa, da dança.. 19.

(20) 1. 2 . A problemática: o problema investigativo. Ao longo deste trabalho, apresentamos diferentes concepções sobre o lazer a partir do dialogo com autores que discutem a temática, destacando quais são as abordagens reconhecidas nas categorias teóricas privilegiadas, procurando identificar as várias formas de entendimento do lazer. Dialogamos também com os trabalhadores, participantes do Projeto Xingó, analisando sentidos e significados atribuídos pelos mesmos em relação aos conteúdos educativos do lazer. Desse profícuo diálogo foi possível delimitar o problema, apontar dados e discutir a centralidade da questão, não estaríamos excluindo dos processos educativos na formação do futuro trabalhador os mais ricos elementos culturais para estimular aprendizagens significativas para o lazer, com o lazer?. Durante a realização da pesquisa várias formulações foram tomando corpo, na busca de respostas para as nossas questões básicas. A partir da leitura das obras citadas em nosso trabalho, bem como da análise dos dados de campo de nossa pesquisa, elegemos e delimitamos problemas investigativos e identificamos categorias de análise que vieram a nortear a temática central.. Em nosso trabalho consideramos as questões relacionadas aos sentidos e significados do lazer para a população de Xingó, o significado nas práticas corporais e sua relação com lazer, para questionar a relação do lazer. 20.

(21) com a prática pedagógica e a relação do lazer com a construção da cultura pedagógica da escola.. Das narrativas dos atores participantes desta pesquisa e das minhas leituras teóricas, surgiram categorias empíricas, aqui entendidas como grau de desenvolvimento do conhecimento da pratica social – específica do lazer.. Ao longo dos anos, vimos percebendo a acriticidade na prática e utilização dos conteúdos culturais do lazer, como também uma fragilidade nas discussões sobre as relações entre o lazer e a educação, o que nos provocava algumas inquietações. Estaríamos negando a construção de sentidos e significados a serem construídos a partir da escola, aos conteúdos culturais do lazer?. O que dizem os autores sobre isto? O que pensam e dizem os futuros trabalhadores em processo de escolarização?. O. que. podemos. redimensionar/reconceptualizar. o. concluir. enquanto. currículo. nos. construção. aspectos. relativos. para aos. conteúdos culturais do lazer?. Para estabelecer esta interlocução investigativa entre a base concreta da existência humana - com seus pensamentos, suas percepções,. 21.

(22) seus sentidos e significados socialmente construído – elegemos o contexto do Programa Xingó.. O Programa Xingó; é um programa de cunho multidisciplinar, sendo uma iniciativa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), em parceria com a CHESF (Companhia Hidroelétrica do São Francisco).. O programa Xingó originou-se a partir do entendimento de que a prosperidade dos povos se dá em decorrência da educação, associada à exploração das potencialidades e vocações, abrangendo todos os aspectos do ensino, da profissionalização e da produção. Abrange os municípios e povoados de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe, atendendo em seu programa as seguintes cidades: Alagoas - Delmiro Gouveia, Olho D’ Água do Casado, Piranhas, Água Branca, Pão de Açúcar e Parinconha; Bahia - Abaré, Chorrochó, Rodelas, Glória, Paulo Afonso, Macururé e Curaçá; Pernambuco – Belém do São Francisco, Floresta, Itacuruba, Petrolândia, Tacaratu, Santa Maria da boa Vista, Terra Nova, Cabrobó, Jatobá e Orocó; Sergipe – Canindé do São Francisco, Monte Alegre, Nossa Senhora da Glória, Poço Redondo, Porto da Folha e Gararu. Seu objetivo é aproveitar a infra-estrutura usada na construção da usina de Xingó, no rio São Francisco, com a intenção de constituir um Instituto voltado para a promoção do desenvolvimento sustentável da região, denominado Instituto Xingó.. 22.

(23) Além dos parceiros citados, o Programa Xingó conta também com as seguintes Instituições: SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), Comunidade Solidária, COEP (Comitê de Entidades Públicas no Combate à Fome e pela Vida), CEPEL (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica), EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), ETFAL (Escola Técnica Federal de Alagoas), INPE (Instituto de Pesquisas Especiais), UFAL (Universidade Federal de Alagoas), UFBA (Universidade Federal da Bahia), UNEB (Universidade do Estado da Bahia), UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), UFS (Universidade Federal de Sergipe). O programa tem seu desenvolvimento a partir das seguintes áreas temáticas: Aqüicultura, Atividades Agropastoris, Arqueologia e Patrimônio Histórico, Biodiversidade, Educação, Fontes Alternativas de Energia, Gestão Ambiental e Trabalho, Recursos Hídricos e Turismo.. A construção da hidroelétrica de Xingó teve início na década de 80; operários de diversas regiões do Brasil se deslocaram para Xingó, trazendo consigo valores sociais e culturais, que se incorporaram à cultura local. Foram aproximadamente nove mil trabalhadores.. Nesse período se configurou uma nova arquitetura. A vegetação típica da região, a Caatinga, começou a ser substituída pelo concreto. Ergueram no local uma vila operária para abrigar os trabalhadores, dotados de clubes, bancos, centro comercial, escolas, fazendo com que Xingó viesse a sofrer impactos ambientais, econômicos, sociais e culturais. Na década de 90, moradores da região de Xingó começaram a 23.

(24) desenvolver novas atividades. As transformações causadas nas estruturas produtivas, mercantis, fundiárias e tecnológicas da região de Xingó, implicaram em mudanças que afetaram a sustentabilidade das famílias, resultando em transfiguração e num certo modo decadente de suas fontes de renda, de sua relação com ambiente, com o tempo, com o lúdico e com o lazer.. É. nesse. contexto. desenvolvem–se. conteúdos. culturais. relacionados ao lazer, e que nos interessa enquanto realidade formativa. Ressaltamos a importância de discutir as questões pertinentes ao lazer, pois, seja como necessidade, seja como direito assegurado pela Constituição, essa manifestação cultural é constituída historicamente e está impregnada de sentidos e significados atribuídos aos trabalhadores.. 24.

(25) 1.2.1 O LAZER: TENTATIVA DE UM CONTRATO SOCIAL AMPLO.. Desde a Revolução Industrial, até os dias atuais várias formulações teóricas sobre o lazer vêm tomando corpo. Algumas na perspectiva de construção de uma sociedade justa com possibilidade de acesso para todos, outras, na lógica capitalista de exclusão social. Dentre os documentos que têm sido divulgados sobre o tema, vale destacar a importância da Carta do Lazer, documento este que vem dando referência à formulação de políticas públicas setoriais de lazer. Esta carta representa um significado atribuído ao lazer, nem sempre presente, nem compartilhada no ambiente cultural dos trabalhadores.. Abaixo, apresentamos a Carta do Lazer, desenvolvida em Bruxelas, para explicitar e com isto reconhecer subsídios para uma melhor compreensão dos sentidos e significados atribuídos ao lazer e ao tempo livre, como direito a ser garantido a todo cidadão, bem como, referencial significativo para a formação dos trabalhadores.. Nesse documento estão traçadas diretrizes para o usufruto dos conteúdos culturais centrados no lazer. Defende-se o direito e acesso ao lazer a todo cidadão. No entanto, sendo o lazer um bem com características subjetivas e de escolha pessoal, gerado em relações de produção de vida. 25.

(26) capitalista, em uma sociedade de classes sociais, na “prática”, nem todos têm direito ou acesso ao lazer. Carta do Lazer. Artigo 1o -“Todo homem tem direito ao lazer. Como criador autor e animador de relações sociais, tem, sobretudo, direito às atividades de lazer de sua própria escolha, não importando sua idade, sexo, nível de educação ou condição social”. Artigo 2º -O tempo livre não é o tempo desocupado, e as atividades de lazer são precisamente caracterizadas pelo tempo durante o qual o homem é capaz de realizar-se de acordo com suas aspirações pessoais, e expressar sua identidade de maneira criativa. Artigo 3o -O uso do tempo livre varia de acordo com os padrões sociais. Como objetivo comum, devem existir, contudo, a salvaguarda e a promoção do desenvolvimento físico e mental, mantendo e estimulando o contato com a natureza e a cultura, intensificando a vida social e comunitária, encorajando o comprometimento, a participação voluntária, o espírito esportivo, a apreciação do turismo como componente da autorealização e a compreensão entre países. Artigo 40 - A família, a escola e todos os educadores têm papel determinante a desempenhar quando da iniciação da criança numa atividade lúdica e ativa de lazer, na qual a freqüente contradição entre o ensino e a realidade necessita ser eliminada.. 26.

(27) Artigo 50-. _. O tempo livre, em decorrência de doença, idade,. desemprego, emprego ocasional, pode ser transformado em significativa atividade de lazer, desde que esteja garantida a seguridade social. Todo ser humano que seja compelido a uma situação de inatividade, total ou parcial, tem direito a exercer suas aptidões criadoras para participar da vida social. A sociedade deve organizar-se para possibilitar esta oportunidade aos indivíduos. Artigo 60 -As autoridades devem garantir a realização das atividades de lazer, efetivamente baseadas nas possibilidades pessoais de escolha. Podem contribuir para isso através de legislação, orçamento, investimento, criação de equipamentos adequados, estimulo à animação e formação de pessoal. Devem evitar, ainda, a exploração das atividades de lazer que conduzam a falsas necessidades e formas de recreação incompatível com a liberdade criadora e a dignidade humana. Artigo 70 - Mesmo sendo dever do Estado e de todos os organismos públicos garantir condições jurídicas e materiais para atividades de lazer, não devem deter o monopólio da organização. Os grupos políticos, sociais, culturais e religiosos e, sobretudo, os cidadãos, têm o direito de assumir sua responsabilidade específica dentro de uma democracia participativa. Artigo 8. 0_. Os meios de comunicação devem ser parte de todas as. políticas de lazer e devem ser utilizados para concretizar os princípios constantes desta carta”. (Seminário Mundial de Lazer, promovido pela Fundação Van CléBruxelas, abril, 1976).. 27.

(28) Na “era dos Direitos” segundo Bobbio (1992), nunca se sistematizaram tantos direitos, em cartas, sejam elas manifestos de reivindicações ou Cartas Magnas – Constituições, no entanto, nem sempre são atendidas,. cumpridas. ou. consideradas. como. sentidos. e. significados. socialmente construídos e historicamente acumulados.. Bobbio (1992) afirma que o nosso problema fundamental, atualmente em relação aos direitos dos homens, extrapola a esfera filosófica, alcançando a dimensão política, ou seja, não basta apenas justificá-los, devemos, além disso, protegê-los. Torna-se relevante ressaltar o que diz Bobbio, com qual concordo plenamente.. “Com efeito, o problema que temos diante de nós não é filosófico, mas jurídico, num sentido mais amplo, político. Não se trata de saber quais e quantos são esses direitos, qual é a sua natureza e seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais seguro para garantí-los, para impedir que, apesar das solenes declarações, eles sejam continuamente violados” Bobbio (1992:25).. Essa afirmação nos faz lutar pela garantia desses direitos juntos aos setores competentes, para que todo cidadão venha ter acesso e usufruto. 28.

(29) aos bens culturais do lazer de forma igualitária, onde a escolha não fique subordinada aos condicionantes da sociedade capitalista, predominando muito mais o consumo de produtos e serviços relacionados ao lazer, do que propriamente o lazer, ou seja, o desenvolvimento do lazer com liberdade.. 1.2.2 OBJETIVOS E QUESTÕES. O processo reflexivo dessa investigação nos levou a delimitar como objeto do presente estudo os sentidos e significados atribuídos pelos futuros trabalhadores ao lazer e seus conteúdos culturais, enquanto elementos educativos.. Identificar as relações existentes entre o lazer e o processo educativo, bem como, discutir questões sobre os sentidos e significados dos conteúdos. culturais. do. lazer,. enquanto. elemento. educativo. na. escola/comunidade, nos permite dialogar no campo educacional em busca de uma educação para e pelo lazer4 ; uma educação que redimensiona o próprio sentido da pedagogia, transcendendo os muros da escola rumo a uma sociedade pedagógica, onde trabalho, educação e lazer não apareçam como insularidades alienadas e alienantes. De forma ampliada, é aqui que se configura o objetivo maior desse estudo.. 4. Renato Requixa, 1974. As Dimensões do Lazer. P-13. O autor aponta para a necessidade de se aprender a usar o tempo livre, percebendo o aspecto educativo existente no lazer, ou seja, educar através do lazer e educar para o lazer. Suas argumentações partem do princípio de que existe duplo aspecto educativo apresentado pelo lazer; em primeira instância como veículo de educação, isto é, a educação, através das atividades de lazer; e em segunda instância, como objeto da educação, isto é, a educação para o lazer. 29.

(30) A partir desse delineamento, delimitamos as seguintes questões investigativas do estudo:. • Quais os conteúdos culturais do lazer vivenciados por professores e alunos comunidade/escola investigada? • Que sentidos e significados tais conteúdos culturais do lazer assumem na prática educativa da Escola Pública UNEX 1 e seus entornos comunitários?. 30.

(31) 1.3 O MÉTODO COMO CAMINHO E ITINERÂNCIA DE PESQUISA. Após a formulação das questões básicas, estabelecemos procedimentos investigativos na perspectiva de delinear o método que norteou a investigação. Percorremos diversos caminhos. Os caminhos percorridos foram cheios de dificuldades, próprios a um estudo que exige:. a) O diálogo com os autores da área – análise de conteúdo dos textos de livros, periódicos e outros; b) Observação e registro de práticas educativas; c) Opinião e análise das falas dos futuros trabalhadores para reconhecer os sentidos e significados atribuídos ao lazer e seus conteúdos culturais.. Vale ressaltar que, nesta trajetória busquei elementos na etnografia das práticas educativas pautadas na sociofenomenologia5 crítica. Portanto, caminhar na trilha etnográfica é “tentar ler um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escritos não com sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de comportamento modelado” (Geertz, 1978, pp. 321 e 20 apud Magnani 1984).. 5. Podemos encontrar mais sobre o assunto em Cirigliano. Fenomenologia da Educação, 1974. 31.

(32) Uma outra compreensão da natureza etnográfica a qual tenho concordância é apresentada por Macedo (1998), quando o mesmo analisa as opções metodológicas de cunho qualitativo, principalmente a etnopesquisa:. “A opção da etnopesquisa se evidencia pela etnografia semiológica como recurso metodológico básico e suas especificidades. clínicas. ou. qualitativas.. Tais. especificidades do método etnográfico nos remeteu, de alguma forma, à noção de pesquisa qualitativa, podendo assumir esta noção conotações diferentes, dependendo da orientação teórica de quem utiliza. Tomando de empréstimo as elaborações de Lüdke e André(1986) sobre as pesquisas que priorizam os âmbitos qualitativos da Educação, podemos dizer que as etnopesquisas apresentam as seguintes características metodológicas: ‘Tem o contexto como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seus principais instrumentos; supõe o contato direto do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada;. os. dados. da. realidade. são. predominantemente. descritivos, e aspectos supostamente banais em termos de status de dados significativamente valorizados’.. Nestes aspectos, valoriza-se intensamente a perspectiva qualitativa-fenomenológica, que orienta ser impossível entender o comportamento humano sem tentar estudar o quadro referencial e o universo simbólico dentro dos quais. 32.

(33) os sujeitos interpretam seus pensamentos, sentimentos e ações. ”(1998:144).. Nessa caminhada ter a compreensão mais alargada da metodologia exercitada, é de fundamental importância para fundamentar orientar o processo de investigação, para a tomada de decisões, na “seleção dos conceitos, das percepções sensibilizadoras, técnicas e dados”. A propósito, Thiollent nos indica um caminho reflexivo a ser percorrido na busca do método.. “... Consiste em analisar as características dos vários métodos. disponíveis,. avaliar. suas. capacidades,. potencialidades, limitações ou distorções e criticar os pressupostos ou as implicações de sua utilização. Ao nível mais aplicado, a metodologia lida com a avaliação de técnicas de pesquisa e com a geração ou a experimentação de novos métodos que remetem aos modos efetivos de captar e processar informações e resolver diversas categorias de problemas teóricos e práticas da investigação. Além de ser uma disciplina que estuda os métodos, a metodologia é também considerada como modo de conduzir a pesquisa” (1992:25).. 33.

(34) Utilizei recursos qualitativos e quantitativos, baseados nos pressupostos filosóficos da sociofenomenologia6, assumindo trabalhar a partir da complexidade7 da situação concreta da área, evitando estudos e ações estanques e pontuais, partindo da construção da metodologia de trabalho dentro de uma abordagem multirreferencial8, sempre que possível, buscando a pluralidade metodológica a partir de sistemas de referência diversificados, entretanto pertinentes, visando enriquecer o olhar sobre o objeto.. Segundo Cirigliano (1974), na realidade não existe “o” “um” método e sim uma atitude, onde nos colocamos e nos apoiamos.. Cabe, então, apresentar os elementos argumentativos que Cirigliano (1974:35) utiliza e nos quais me inspirei:. 6. Encontraremos mais sobre o assunto em Jacques Ardoino. Editorial: De uma Ambigüidade própria à pesquisa – ação. As confusões mantidas pelas Práticas de Intervenção. R. bras. Est. Pedag. Brasília, v74, n. 178, p.701.712, set. /dez. 1993. 7 Ver E. Morin, Terra Pátria, p. 147-152. Seria interessante também ver as argumentações sobre complexidade apresentadas por Burnham, Terezinha Fróes. Complexidade, Multirreferencialidade, Subjetividade: três referencias polemicas para a compreensão do currículo escolar. Revista em Aberto, Brasília, Ano 12 número 58, Abril/Junho 1993, p-3 –13. 8 Ver Multirreferencial. Considerando a concepção ampliada dada pelo grupo da AT Gestão Ambiental, a Multirreferencialidade, adotamos o mesmo conceito utilizado pela AT, junto ao Programa Xingó, cujo objetivo “é de manter uma relação de constante troca não só quanto ao saber acadêmico, mas também aos demais saberes das populações locais”, visando à apreensão da realidade através da observação, da investigação, da escuta, do entendimento, da descrição por óticas e sistemas de referencia diferentes, aceitos “como definitivamente irredutíveis uns aos outros e traduzidos por linguagens distintas, supondo como exigência a capacidade do pesquisador de ser poliglota”, dispor-se a realizar leituras polissêmicas e ter uma postura aberta para um processo de permanente construção . “Esta perspectiva encaminha a si mesma (como implicação), uma visão de mundo propriamente cultural e requer uma compreensão hermenêutica da situação em que sujeito ai implicado interage, intersubjetivamente (Cf> ARDOINO, J. Complexité. Paris: Université de Paris VIII, juin, 1992(mimeo) e De la clinique. Paris: Université de Paris VIII, avril, 1989 (mimeo) e BARBIER, R. L’ Approche Tranversalle: Sensibilization a l’écoute mytho - poétique en education. Paris. Université de Paris VIII, 1992 (Note de Synthése en vue de l’habilitation a diriger des recherches) e L’Ecoute sensible en education. Texto original da conferencia apresentada na 15a Reunião Anual da ANPED. Caxambu, MG, 1992. 34.

(35) “Embora não julguemos poder contar com todos os elementos. e. fenomenologia,. capacidade. para. atingir. precisando. dispor. de. uma. um. real. método,. preferimos, antes de utilizar algum, apoiarmos – nos numa corrente que é essencialmente metódica. Pois, conforme esta interpretação, estudar fenomenologia não é utilizar um método previamente considerado desta, porém simplesmente cingir – se a regras formais dirigidas especialmente ao fenômeno. Não existe <o> ou <um> método fenomenológico, mas uma atitude. Nesta atitude nos colocamos; nessa atitude nos apoiamos...”.. Para realizar as observações, optei em participar do processo9 através de leitura e interpretação critica da realidade que envolvia os processos culturais característicos da região, com os contornos de especificidade que lhe confere a população local.. Do nosso ponto de vista, um grande fator importante em uma pesquisa quantitativa é a possibilidade de desenvolvê-la dentro de uma abordagem crítica. O estudo de caso possibilita essa abordagem. Nesse sentido, quanto ao modo de investigação, optei em utilizar o estudo de caso contextualizado e relacional.. 9. Seria interessante a leitura da a abordagem de pesquisa participante que Teresa Maria Frota Haguete apresenta em seu livro Metodologias Qualitativas na Sociologia, p. 66 – 78, 1987. 35.

(36) Macedo (1998) apresenta uma abordagem mais detalhada sobre estudo de caso. O autor aponta em seu livro A Etnopesquisa Critica e Multirreferencial nas Ciências Humanas e na Educação, a possibilidade da busca. de. uma. densidade. significativa,. apresentando. características. importantes para que o pesquisador venha fazer sua opção metodológica.. Ao mesmo tempo, Macedo (1998) justifica a importância em trabalhar a partir do estudo de caso, chegando a afirmar que a preocupação principal dessa opção metodológica é “compreender uma instancia singular, especial”. Macedo (1998) chega a firmar que os estudos de caso visam à descoberta, partindo do entendimento de que o conhecimento é algo sempre em construção e se re-significa a todo o momento. (1998:150).. “Assim, o estudo de caso tem por preocupação principal compreender uma instancia singular, especial. O objeto estudado é tratado como único, ideográfico (especial, singular). mesmo. compreendendo-o. enquanto. emergência molar e relacional, isto é, consubstancia-se numa totalidade composta de e que compõe outros âmbitos ou realidades. Desse modo, a questão sobre o caso. ser. ou. não. típico,. isto. é,. empiricamente. representativo de uma população determinada torna-se inadequado;. o. objeto. não. é. recortado. por. uma. amostragem com preocupações nomotéticas, já que cada caso é tratado como tendo um valor próprio. Além disso, 36.

(37) em face da inerente flexibilidade dos estudos pontuais, da abertura que cultiva face ao inusitado, os casos estudados vão constituir teorias em ato, impregnadas dos aspectos inerentes à temporalidade da emergência complexa das “realidades vivas” ” ( Macedo 1998:150).. Como técnicas de coleta de dados, utilizei recursos metodológicos tais como a entrevista semi-estruturada, a observação participante, a fotografia, grupo focal ou entrevista coletiva;. Durante a realização da pesquisa, utilizei como forma de registro, formulários, fotografias, gravações, conversas informais com membros da comunidade, bem como o diário de campo com descrição densa da minha itinerância de pesquisa.. Macedo (1998) diz:. “O pesquisador etno é uma pessoa que chega totalizado e totalizando-se para realizar seu fieldwork; não deixa em seu bureau suas convicções, sua itinerância, como estudioso de fenômenos humanos, bem como defronta-se arduamente enquanto sujeito/pessoa com suas próprias observações, pondo em evidencia suas implicações, consubstanciadas nas suas motivações, perspectivas e. 37.

(38) finalidades.Compreende que para suspender preconceitos é necessário tê-los explícitos” (1998:145).. No que concerne à pertinência e relevância dos recursos metodológicos utilizados, temos que uma pesquisa qualitativa é aquela que nos permite reconhecer a partir da “descrição, análise e interpretação dos dados” adquiridos durante o processo investigativo, os sentidos e significados dos atores sociais e torná-los contextualizados aos nossos achados, sem uma preocupação em generalizar.. Conforme diz Airton Negrine (1999):. “... Os modelos metodológicos adotados nesse tipo de pesquisa. apresentam,. no. momento,. uma. franja. interessante e, de certo modo, ampla. Variam desde os estudos hermenêuticos e fenomenológicos, utilizados com freqüência no campo da filosofia, até estudos etnográficos que. estão. muito. presentes. nas. investigações. antropológicas” (1999:61).. Segundo Magnani (1984), a fala dos sujeitos permite reconhecer o nosso objeto de estudo com maior detalhe, podendo, a partir daí, re-significálo, percebendo cada atitude, cada detalhe que possibilite sentidos e. 38.

(39) significados que venham aparecer durante a pesquisa, ou seja, ir além das aparências que normalmente estão presentes nas pesquisas de cunho única e exclusivamente quantitativo.. Magnani nos diz:. “... é preciso estar atento a cada gesto, palavra ou hábito por mais insignificante que possam aparecer. Para compreender seu significado e poder relacioná-los com outros aspectos do sistema cultural é imprescindível, além das explicações dos nativos, observá-los no contexto da vida tribal. Faz-se necessário inclusive manter, de alguma forma, esta situação de “estranhamento”, pois à medida que o desconhecido vai se tornando familiar, corre-se o risco. de. prestar. atenção. apenas. a. questões. supostamente mais importantes”. (Magnani, 1984:10).. O lócus da pesquisa foi basicamente a Região do Programa Xingó, perímetro do Irrigado do São Francisco, especificamente na Unidade Escolar de Xingó e a comunidade do seu entorno.. A seleção dos sujeitos se deu da seguinte maneira: Foram escolhidos dois alunos de cada série do Ensino Fundamental da Escola UNEX I (Unidade Escolar de Xingó), do Projeto Canindé para fazer parte da nossa. 39.

(40) pesquisa, podendo ser líderes de classes ou não, perfazendo um total de 32 alunos que voluntariamente se apresentaram querendo participar do estudo. O critério, portanto, foi da motivação em narrar suas experiências a respeito da temática.. Em relação ao corpo docente, foram realizadas entrevistas com professores de Educação Física e Educação Artística, devido ao fato de ambas as disciplinas tratarem dos conteúdos culturais do lazer na escola. Foram ouvidos, também, professores de outras disciplinas que costumavam organizar eventos culturais na escola.. Além dos sujeitos envolvidos diretamente com o processo de escolarização, foram entrevistados sujeitos da comunidade que tinham ou não passado por um processo de escolarização, mas que estabeleceram vivências com a escola, influenciando no currículo, principalmente o oculto.. Moreira diz:. “De particular importância para a análise e a maior compreensão da prática curricular tem sido o conceito de currículo oculto, difundido pelos autores da teoria crítica de currículo. Entendido como “normas e valores que são implícitas, porém efetivamente transmitidos pelas escolas e. que. habitualmente. 40. não. são. mencionados. na.

(41) apresentação. feita. pelos. professores. dos. fins. ou. objetivos” (Apple 1982, p.127), o conceito de currículo oculto aponta para o fato de que o “aprendizado incidental” durante o curso pode contribuir mais para a socialização do estudante que o conceito ensinado em curso. Ainda que acentuando, em suas primeiras teorizações, o papel reprodutor da escola e do currículo, a idéia de currículo oculto vem a ampliar-se e passa a significar não só o terreno por excelência de controle social, mas também o espaço no qual se travam lutas ideológicas e políticas, passível, portanto, de abrigar intervenções que visem mudanças sociais(Whitty1985). Em outras palavras a visão reducionista da escola e do currículo como instrumentos utilizados para manutenção dos privilégios de classes e grupos dominantes acaba por ser substituída por uma perspectiva mais complexa, na qual. contradições,. conflitos. e. resistências. vêm. a. desempenhar papel de relevo” (Moreira, 1997:14).. As narrativas apresentadas no desenvolvimento da nossa pesquisa. permitiram. identificar. informações. significativas,. que. deram. representatividade ao contexto pesquisado. Dessa forma, as interpretações referentes aos atores sociais puderam ser codificadas e categorizadas de forma relevante e significativa, tomando o contexto estudado e sua produção.. 41.

(42) Nossa opção metodológica, buscou articular os conteúdos e métodos da sociofenomenologia com o marxismo libertário encontrada no interior das elaborações e estudos da nova sociologia da educação.. A preocupação em articular etnopesquisa, método dialético e a nova sociologia da educação nasceu do vazio deixado pela fenomenologia que fundamenta a etnopesquisa, quando parte para análise das particularidades de uma determinada estrutura social não atentando para as contradições de um mundo desenhado no insuperável conflito entre capital e trabalho.. Macedo (1998) apresenta possibilidades de articulação entre a etnopesquisa e o marxismo libertário. Suas argumentações apontam para a necessidade um marxismo sensível à existência, que possibilite uma etnopesquisa “implicada e engajada com as transformações das práticas iníquas, e uma práxis solidária, vinculada a uma ética comunitária”:. (...) As questões ideológicas e a problemática da falsa consciência constituem-se num nó de difícil resolução para o fenomenólogo. Além disso, a sócio-fenomenologia tem pouco a dizer sobre o conflito estrutural numa sociedade e quase nada argumenta sobre o entendimento dialético da mudança histórica e as condições materiais de existência que embora socialmente produzidas,. 42.

(43) tornam-se simplesmente. objetificadas, ser. intersubjetividade. ao. portanto,. racionalizadas. desreificar. os. não. podem. Priorizando. a. sistemas. de. pensamento e as ações que lhes configuram, a abordagem sócio-fenomenológica carece de articulações, onde a desreificação prática deve fazer-se mais potente pelas vias das relações sociais, para ser mais preciso, pela via da práxis (Sarup, 1986). (...) Se a sóciofenomenologia resgata compreensivamente na história um sujeito interessado, o método dialético o vê a partir dos coletivos sociais, forjando, aqui, uma dialética que aponta inexoravelmente para a humanização concreta e transformadora do ser social pela suas condições concretas. (...). Via método dialético, o fenômeno estudado deverá apresentar ao leitor de tal forma que ele o apreenda em sua totalidade. Para tanto, necessárias se fazem aproximações sucessivas e cada vez mais abrangentes. Não se trata, aqui, de uma totalidade que vai abarcar tudo estaticamente, mas uma totalização em curso, como quer Sartre, que se configura a cada relação estabelecida (Macedo, 1998:131-132).. Nesse sentido, acreditamos existir a possibilidade de um convívio harmônico entre a sociofenomenologia e o marxismo libertário, pois, é a partir. 43.

(44) dessa confluência que poderemos problematizar noções de racionalidade, método, infância, educação, trabalho, lazer e, principalmente, currículo.. Para expor os frutos da investigação, estruturamos os capítulos da seguinte maneira:. No primeiro capitulo, apresentamos o diálogo com os principais autores que tratam da relação educação – trabalho – lazer para desvelar sentidos e significados atribuídos que podem ser captados no discurso.. No segundo capitulo, descrevemos as vivências desenvolvidas e o diálogo mantido com os futuros trabalhadores para desvelar sentidos e significados. Discutiremos também as relações e contradições reconhecidas em sentidos e significados atribuídas pelos teóricos, assumidas nas vivências e explicitadas pelos trabalhadores.. Com estes elementos nos é possível discutir o currículo de formação do futuro trabalhador e a construção de sentidos e significados de uma relevante dimensão humana: O lazer e seus conteúdos culturais.. 44.

(45) CAPITULO I. DIÁLOGOS E INSPIRAÇÔES TEÓRICAS. 1. UM OLHAR CONCEITUAL SOBRE O LAZER. Traçar um olhar conceitual sobre o lazer será nosso objetivo neste momento, sem perder a dimensão de que, ao conceituá-lo não pretendemos limitar a possibilidade de avançar nas discussões, seguindo caminhos lineares e sim conceituar na perspectiva de buscar novas referências teóricas, no sentido de transpor os horizontes já traçados tentando estabelecer relações entre autores clássicos como Jofre Dumazedier e autores contemporâneos, como Nelson Carvalho Marcelino, Camargo, na intenção de constatarmos ou não, as indagações levantadas por nós.. Quais os conteúdos culturais do lazer vivenciados por professores e alunos comunidade/escola em Xingó?. Que sentidos e significados os conteúdos culturais do lazer assumem na prática educativa no contexto escolar e seus entornos comunitários, em Xingó?. 45.

(46) Entre os autores que se dedicam ao estudo sobre o lazer, não existe um consenso sobre o seu conceito, podendo-se, entretanto, identificar duas grandes linhas. Numa delas, aparece com predominância o aspecto atitude, considerando o lazer como um estilo de vida, portanto independente de um tempo determinado; a outra linha privilegia o aspecto tempo, situando-o como tempo liberado do trabalho, ou como tempo livre, não só do trabalho, mas de outras obrigações sejam elas familiares, sociais ou religiosas, considerando também a qualidade das ocupações desenvolvidas.. Marcelino diz que:. (...) O lazer considerado como “atitude” será caracterizado pelo tipo de relação verificada entre o sujeito e a experiência vivida, basicamente a satisfação provocada pela atividade. Assim, qualquer situação poderá se constituir em oportunidade para a prática de lazer - até mesmo o trabalho. (...) Já o conceito que restringe o lazer a um tempo determinado também engloba aspectos nebulosos, uma vez que, uma mesma pessoa pode num certo período de tempo, desenvolver mais de uma atividade; por exemplo, ouvir música enquanto trabalha. Além disso, tempo algum pode ser considerado livre de coações ou mesmo conduta social. Talvez, fosse mais. 46.

(47) correto falar em tempo disponível, ao invés de tempo livre (Marcelino, 1987:29).. No Brasil, muito embora sejam observadas tendências, ainda que não muito bem definidas, relacionadas às duas orientações referidas acima, a grande maioria dos estudos sobre o lazer, seja qual for o enfoque ou área de atuação, tem como referência o conceito defendido pelo sociólogo Dumazedier. (1974). Ele defende que o lazer é o:. “... conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver. sua. formação. desinteressada,. sua. participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora,. após. livrar-se. ou. desembaraçar-se. das. obrigações profissionais, familiares e sociais”.. Já Requixa (1980) define lazer como:. “... ocupação não obrigatória, de livre escolha do indivíduo que a vive, e cujos valores propiciam condições de recuperação. psicossomática. pessoal e social”.. 47. e. de. desenvolvimento.

(48) Para Medeiros (1980), o lazer é:. “... o espaço de tempo não comprometido, ao qual podemos dispor livremente, porque já cumprimos nossas obrigações de trabalho e da vida”.. Do ponto de vista de Cavalcanti (1984), o lazer deveria ser um “espaço para o real desenvolvimento do indivíduo”; no entanto, devido a uma laicização10 do tempo livre, causado pura e exclusivamente pelo processo de industrialização, o que se tem percebido na realidade da atual sociedade, não seria o lazer e sim o antilazer, isto é, as exigências causadas e impostas pela nossa sociedade. Cavalcanti (1984-67) nos leva a compreender melhor este fenômeno, quando diz:. “Nesse contexto, o lazer surge como uma construção ideológica, sob a qual o antilazer aproveita-se para penetrar mais eficazmente no modo de vida das pessoas com objetivo de mantê-las perfeitamente integradas na sociedade industrial e urbana”.. O lazer é entendido por Marcelino (1987), como “cultura compreendida no seu sentido mais amplo, vivenciada (praticada ou fruída) no tempo disponível”. 10. Expressão utilizada por Cavalcanti (1984), em seu livro Esporte para todos: um discurso ideológico. São Paulo: IBRASA, que significa regulamentação do tempo, uma doutrinação, um controle regido pelas instituições sociopolíticas e culturais, tirando a autonomia diante da escolha do lazer. 48.

(49) Marcelino afirma ainda que:. “O importante, como traço definidor, é o caráter “desinteressado“ dessa vivência. Não se busca, pelo menos fundamentalmente, outra recompensa além da satisfação provocada pela situação. A “disponibilidade de tempo” significa possibilidade. de opção pela atividade. prática ou contemplativa”. Marcelino (1987- 31).. A diversidade verificada quanto ao conceito permanece, quando se examina a questão da ocorrência do lazer na vida social, do ponto de vista histórico. Alguns autores consideram que os homens sempre trabalharam, mas também sempre paravam de trabalhar, existindo, assim, um tempo de nãotrabalho, e que esse tempo seria ocupado por atividades de lazer, mesmo nas sociedades tradicionais. Para outros, o lazer é fruto da sociedade modernourbano-industrial.. Na realidade, não há, a rigor, um antagonismo entre os autores que defendem as duas correntes; mas sim, enfoques diferentes. Alguns abordam a “necessidade de lazer”, sempre presente, e outros se detêm nas características que essa necessidade assume na sociedade. Afirmando que o lazer sempre existiu, variando apenas os conceitos sobre o que era e quais os seus significados.. 49.

(50) Marcelino (1993) afirma que, em algumas formas de organização social, o que se verifica é o não - isolamento entre as atividades obrigatórias e as lúdicas, o que de modo algum significaria a não - existência do lúdico. E mais ainda o que não nos permite prever se essa divisão trabalho/lazer, verificada atualmente na sociedade moderno - urbano - industrial, permanecerá efetivamente ou não.. Entretanto, são exatamente as produções teóricas dos estudiosos contemporâneos brasileiros do lazer que nos vêm trazendo motivação para pesquisar sobre o tema em questão, possibilitando-nos, na medida do possível, re-significar os conceitos construídos historicamente, tentando superar as visões funcionalistas, compensatórias e românticas do lazer e apontar caminhos para o usufruto dos bens culturais do lazer dentro e fora da escola como forma de promoção social e difusão cultural, na superação do conformismo e apontando para a criticidade.. Ao admitirmos a atividade de lazer como veículo de educação11, considerando suas potencialidades para o desenvolvimento social e pessoal dos indivíduos, cumpre-nos refletir sobre o modelo de trabalho predominante em uma sociedade como a nossa, industrial capitalista, a qual, ao gerar novas condições de vida, necessitou de novas práticas sociais que auxiliassem na adaptação dos indivíduos a esse modelo.. 11. Termo utilizado por Nelson Carvalho Marcelino no livro Lazer e Educação – Campinas, SP: Papirus, 1987. As argumentações apresentadas pelo autor partem do principio de que o lazer tem um alto potencial educativo, ou seja, pelo lazer pode-se educar. P-60. 50.

(51) Esta sociedade, moldada pelos valores políticos de obediência e disciplina e pelos valores econômicos de racionalidade técnica e eficiência, trata o lazer como do produto prefixado que deve ser consumido indiscriminadamente, levando o indivíduo à perda da autonomia pessoal, estabelecendo um elo de ligação entre o que é produzido e o que é consumido pela sociedade, fazendo prevalecer o ter em contraposição do ser, onde estaria à disposição de um raro prazer ou o sucesso casual estabelecido pela propaganda ideológica da chamada cultura do lazer12.. Vale dizer que o lazer é compreendido como fenômeno sóciocultural-histórico. do. mundo. ocidental. e. oriental. moderno,. motor. de. reivindicações sociais a partir da Revolução Industrial e oriundo das necessidades de um tempo legal de folga, devido à existência de jornadas excessivas de trabalho. Com os movimentos trabalhistas europeus, surgem as primeiras leis nesse sentido, as quais geraram a redução da jornada de trabalho, o descanso remunerado durante os fins-de-semana, as férias e os feriados.. Ao mesmo tempo em que o lazer representa conquista pelo direito a espaços de tempo, que pudessem se contrapor às obrigações cotidianas do trabalho, representa, também, demanda por um tempo disponível e privilegiado. 12. Termo utilizado por Edgar Morin no livro Terra –Pátria – Porto Alegre: Sulina, 1995. Cultura do lazer para Morin significa cultura forjada a partir da industrialização onde tem como predominância o consumo de produtos e serviços relacionados às atividades de lazer e não o próprio desenvolvimento do lazer.O autor enfatiza o desenvolvimento de atitudes relacionadas ao ter em relação ao ser, presentes hoje na nossa sociedade de consumo. 51.

(52) para a concretização de experiências lúdicas, por momentos de jogar a vida e por qualidade no viver.. Compreendendo o lazer “no seu sentido mais amplo — como cultura vivenciada no tempo disponível das pessoas”, Nelson Carvalho Marcelino enfatiza que a disponibilidade de tempo implica a possibilidade de opção pelo lazer, entretanto, o que realmente tem acontecido é a recuperação psicossomática do indivíduo, mantendo-o mais perfeitamente adequado para o seu lazer, criando a chamada cultura do lazer.. No. entanto,. por. força. do. próprio. estilo. de. vida. que,. historicamente, o gera como tempo de não-trabalho, o lazer vem sendo em nossa. sociedade, valorizado como meio de recuperação no campo. psicofisiológico ou para reciclar as forças de trabalho, através do alívio das tensões provocadas pela rotina do trabalho e da moralização, que requer o modo de produção dominante.. No entanto, surgem discursos contraditórios, pois, ao mesmo tempo em que o lazer é depreciado por alguns como tempo não sério, inútil, de "vagabundagem", por ocupar o seu tempo de “não-trabalho”, ele é valorizado por outros como tempo não sério de atividades recreativas, ampliando, por isso, seu valor de mercado.. 52.

(53) Recorrendo a Bourdieu e Passeron (1992), em sua obra a Reprodução, nos é possível compreender como no mercado se colocam os conteúdos culturais vivenciados no lazer como produto de consumo. As atividades recreativas, como bens simbólicos, receberam valores diferenciados entre si e em relação a outros conteúdos culturais.. Nesse mercado capitalista, entendido como o conjunto das condições sociais de produção e de reprodução dos produtores e consumidores, onde o lazer está inserido, o êxito de uma atividade está em função do capital cultural, isto é, em função dos bens culturais transmitidos pelas diferentes atividades de lazer inclusive as ações pedagógicas cujos valores, enquanto capital cultural, estão em função da distância entre o arbitrário cultural, inculcado, pela ação pedagógica familiar, os diferentes grupos e classes.. É importante considerar que vivemos em uma sociedade onde convivem grupos diferenciados, com condições materiais de existência e características culturais próprias sem, contudo, viverem isoladamente. Apesar desses grupos se relacionarem uns com os outros em certos lugares e momentos, os padrões culturais dos grupos dominantes vêm sendo considerados como superiores em relação aos demais, influenciando a valorização da vivência de certos conteúdos culturais do lazer13.. 13. O que estou considerando Conteúdos Culturais do Lazer são as atividades denominadas por Jofre Dumazedier, de “interesses culturais do lazer” tendo o mesmo significado. Os interesses culturais do lazer estão divididos em Interesses físico-esportivos, manuais, intelectuais, artísticos, sociais e turísticos. 53.

(54) Jofre Dumazedier (1976) classifica as atividades de lazer de acordo com os interesses culturais, o mesmo as denomina da seguinte maneira:. • Interesses Físico-Esportivos - Atividades essas relacionadas às práticas corporais que o indivíduo desenvolve. Por exemplo: Jogar futebol, caminhar, pedalar; • Interesses Manuais - Todas as atividades de lazer relacionadas com as práticas de jardinagem, lavar um carro, bricolagem, artesanato; • Interesses Intelectuais - Todas as atividades que tenham em sua realização, relações com o lógico-racional. Exemplo: a leitura de um livro, um jogo de xadrez; • Interesses Artísticos - Todas as atividades relacionadas com obras de arte, como a ida ao cinema, ao teatro; • Interesses Sociais - O desenvolver de atividades ao qual estabeleça a participação de grupos, reuniões, festejos;. Após a denominação dada por Jofre Dumazedier, é criado por um dos seus seguidores um outro interesse. Interesse Turístico – Este, na realidade, foi desenvolvido por Luís Octávio de Camargo, em seu livro “O que é lazer”, tendo relação com passeios, viagens, excursões.. Cabe ressaltar que essa classificação é meramente didática, pois, podem-se desenvolver diversos interesses em uma só atividade de lazer,. 54.

(55) havendo em alguns momentos predominância de um interesse em relação a outro.. Vale salientar que o desenvolvimento do lazer se dá em três formas de ação, podendo estabelecer conexões entre si, seja no praticar, assistir e estudar; portanto, o desenvolvimento do lazer deveria se dar, resgatando a etimologia da palavra no latim, buscando a compreensão desse fenômeno na sua dinâmica cultural; portanto, lazer significa licere14 em latim e em sua tradução ser permitido, ser lícito.. É importante ressaltar que a forma primitiva da palavra lazer era lezer, se configurando em outras palavras como lezeira, lezo. Um exemplo prático dessa configuração é a. expressão: “Eu hoje estou com lezeira”,. remetendo ao significado de preguiça, pouca vontade de trabalhar.. Segundo Bramante (1997) as variáveis que compõem o lazer são: tempo, atitude, espaço e experiências lúdicas. Sendo que três eixos básicos se interligam em nível conceitual, ou seja, tempo de não-trabalho, espaço de sua vivência e atitude do indivíduo em relação ao seu interesse cultural pelo lazer, resultando em uma experiência denominada por Bramante (1997), de experiência lúdica e que acrescentaríamos de experiência prazerosa. .. 14. Termo utilizado por Inezil Penna Marinho no livro Raízes Etimológica, Histórica e Jurídica do Lazer. Brasília, 1979. 55.

(56) Um outro fator importante dentro do entendimento do lazer é a sua propriedade; ela dá o traço definidor do lazer. Lazer resulta de livre escolha, ou seja, a liberação de certo gênero de obrigações; portanto tem o caráter liberatório presente; lazer resulta de seu caráter desinteressado15, lazer detém o caráter hedonístico. Dumazedier (1974:95) define esta última propriedade da seguinte maneira:. “De início definido negativamente com respeito às obrigações institucionais e às finalidades impostas pelos organismos de base da sociedade, o lazer se define positivamente no tocante às necessidades da pessoa, mesmo quando esta as realiza dentro de um grupo de sua escolha. Na quase totalidade das pesquisas empíricas, o lazer é marcado pela busca de um estado de satisfação, tomando como fim em si. Esta busca é de natureza hedonística. Certamente, a felicidade não se reduz ao lazer, ela pode acompanhar o exercício das obrigações sociais de base. A alegria não é o resultado automático deste artifício social que deveria servir para gerar a alegria: o jogo. Mas a procura do prazer, da felicidade ou da alegria, é um dos traços fundamentais do lazer da sociedade moderna”. (Dumazedier: 96- 1974).. 15. Sobre o caráter desinteressado, ver as argumentações de Jofre Dumazedier, em seu livro Sociologia Empírica do Lazer: Perspectivas, p. 94, 1974. 56.

(57) Uma outra propriedade apresentada pelo lazer é o de escolha pessoal, podendo o indivíduo utilizar o lazer seja para repousar, seja para divertir-se ou ainda para o seu desenvolvimento pessoal e social. Digo que isso na realidade não vem acontecendo, devido ao fato da perda de autonomia pessoal causada pelas exigências sociais voltadas para o consumo de produtos e serviços ligados ao mundo do lazer.. Verifica-se que as valorizações do consumo de certos conteúdos culturais do lazer vêm cada vez mais requerendo a oferta específica e sistemática de bens e serviços, assim como intervenção de profissionais variados para atender a uma grande demanda.. Muitos. desses. profissionais. são. considerados. como. socializadores de saberes, cujas ações pedagógicas centram-se no “fazer pelo fazer”, ressaltando os contornos do fazer mecânico, fundado em normas e técnicas pré - estabelecidas, e cada vez mais distante de realizações lúdicas. Isso indica que o lazer, em nosso contexto social é, muitas vezes, usado como instrumento de manobras, sobretudo, de controle do corpo e do elemento lúdico.. Segundo. Riesman. (1961). surgiram. e. se. firmaram. especialistas do lazer que os denominava de “Consultores de lazer”:. 57. os.

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