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A INDISSOCIABILIDADE ENTRE ESTÁGIO E SUPERVISÃO: as relações dos sujeitos

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A INDISSOCIABILIDADE ENTRE ESTÁGIO E SUPERVISÃO: AS

RELAÇÕES DOS SUJEITOS

Resumo

Gilcéia Martins dos Santos 1

Lucineia Evangelista 2

O presente artigo objetiva trazer uma reflexão sobre os caminhos históricos percorridos pelo estágio supervisionado em Serviço Social, que é considerado como o período em que as teorias são articuladas com à prática, bem como o momento em que o futuro profissional tem uma aproximação efetiva em seu campo de formação. No Serviço Social o estágio supervisionado é um componente curricular obrigatório, é caracterizado por duas dimensões: supervisão de campo e supervisão acadêmica. é um espaço de ensino aprendizagem do exercício profissional, e de construção da identidade profissional. Ampliando com a prática o entendimento sobre o meio em que está inserido, aproximando das responsabilidades do cotidiano profissional. As contradições aparecem e são enfrentadas, pois a realidade está em movimento. A pesquisa bibliográfica permitiu desvelar alguns elementos da construção histórica iniciando com a gênese da profissão desde o início das primeiras escolas na década de 30.

Palavras chave: Serviço Social, Estágio supervisionado, Formação profissional.

1. INTRODUÇÃO

O estágio supervisionado é de cunho obrigatório como atividade curricular, caracterizando-se a partir a inserção do aluno nos diferentes espaços sócio ocupacionais com objetivo de aproximar o aluno/estagiário da realidade social considerando o objeto de intervenção profissional do projeto interventivo, e os seus desdobramentos com as demais disciplinas do curso. Conjugando a sistematização da prática e relevância da investigação, análise e avaliação crítica e reflexiva da prática profissional de estágio. Reconhecendo as dimensões teórico-metodológica, técnico – operativa e ético - política da profissão, além dos limites e possibilidades da ação profissional. É um tema de grande relevância pois, impacta diretamente no processo de formação profissional.

Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica acerca da supervisão acadêmica de estágio em Serviço Social, trazendo a visão de autores como: Lewgoy (2009), Amicucci (2017), Buriolla (2010) dentre outros, além do embasamento teórico em legislações vigentes da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) através da Política Nacional de Estágio (PNE) de 2010.

1Professora da Graduação de Serviço Social da Faculdade Padre Joao Bagozzi – Curitiba – Paraná –

Especialista. E-mail: gilceia.santos@faculdadebagozzi.edu.br

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2. A UNIDADE ENTRE TEORIA E PRÁTICA

Iamamoto (2008) conceitua o Serviço Social como uma profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, atuando nas manifestações da questão social, o Serviço Social tem caráter interventivo e investigativo, nessa direção requer articulação de exercício profissional e trabalho intelectual, com subsídios teórico-metodológicos, técnico-operacionais e ético-político. Assim, a atividade estágio configurada na formação preconizada pelas Diretrizes Curriculares insere-se no núcleo de fundamentos do trabalho profissional. Amicucci (2011, p. 75), afirma que o trabalho é “categoria dialética, como práxis, e, essa concepção deve perpassar toda a formação profissional estendendo-se à atividade de estágio”.

Como princípio norteador da PNE, a unidade teoria-prática é indissociável, evidenciando o estágio como atividade acadêmica de um processo dialético. Ramos e Santos alegam, se o estágio é central, protagonista no processo de formação profissional, considerado um espaço que possibilita a articulação entre teoria e prática, é necessário ratificar que a teoria não diverge da prática. (2016, p. 287).

Pequiá e Rosa (2010, p.163) citam que existe uma preocupação referente à formação profissional em Serviço Social é o “debate sobre o chamado ensino da prática”, que está associada ao estágio curricular obrigatório. Ele também é fundamental no domínio da dimensão técnico-operativa adequada para a aprendizagem profissional e na contribuição para a unidade teoria e prática. Para as autoras, em virtude da relevância e significado do tema, o mesmo não deve ficar como atividade obrigatória e sim refletido a partir de sua dimensão teórico-prática.

Tradicionalmente “o estágio figurou uma atividade complementar, tratada como a prática do curso dissociado do corpo teórico, outra função era a aplicabilidade da teoria”. Saber e fazer se apresentam como esferas independentes, mas complementares. O papel do supervisor era o ensino da prática. Desde o surgimento do Serviço Social no Brasil até o início do movimento de Reconceituação, a prática profissional era de cunho educativo e assistencialista. Castro e Toledo (p. 03) relatam que na década de 1950 começou os debates sobre “para que e para quem” está a serviço o Serviço Social. Confirma-se esta ideia o pressuposto de Santos e Pini:

Na própria historiografia do Serviço Social, quanto ao que se refere à competência profissional, temos, nitidamente, essa separação: no início da profissão, a “competência profissional” era considerada, apenas, como competência técnico-operativa. Na década de 1970/1980, a “competência profissional” resumia-se à competência teórico-política. Foi com o currículo de 1996, aprovado pela categoria em convenção da Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABESS), hoje Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), que se rompeu com essa separação no projeto de formação profissional. Competência profissional passa a ser vista

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como competência teórica, política, ética e técnico-operativa. (SANTOS & PINI, 2013, p. 136).

Nesse sentido Elias e Oliveira descrevem:

A efervescência das discussões e problematizações da intervenção profissional dão início a uma autocrítica que desemboca, no decorrer da década de setenta, do século findo, na apropriação da perspectiva critica marxista de leitura da realidade social, impulsionada pela vanguarda da profissão. Desenvolve-se, pois, no terreno fértil da redemocratização da sociedade brasileira, uma nova configuração do saber e do fazer profissional no Serviço Social. (ELIAS & OLIVEIRA, 2008, p. 75).

Vem à tona, segundo as autoras Castro & Toledo (2011, p. 03), o “descompasso entre teoria e prática”. Nas palavras das autoras (2011, p. 05-07) a partir desse debate se esse movimento de ruptura vivido nas décadas de 1970 e 1980 a categoria profissional dos assistentes sociais iniciaram uma construção coletiva de um projeto profissional que favorecesse a classe trabalhadora. Com a mudança curricular foram superados dois equívocos que estavam presentes na proposta de formação: a perspectiva tecnicista (preparação para o emprego) e a idealista (ignora a especificidade da prática profissional, as condições objetivas em que se dá o exercício da profissão numa dada sociedade). Assis e Rosado (2012, p. 204) esclarecem que o projeto profissional do Serviço Social “hegemônico a partir da década de 1980, a unidade entre teoria e prática se expressa na interação indissociável entre as dimensões teórico- metodológica, ético-político e técnico-operativa”.

As autoras Castro e Toledo (2012, p. 204-206) continuam afirmando que atualmente, os equívocos sobre incompatibilidade entre teoria e prática derivam da concepção que a teoria tem capacidade de criar seus instrumentos, argumentando que “o materialismo histórico e dialético apresenta a fragilidade de não instrumentalizar a prática profissional”. O estágio corporifica, por ser uma disciplina prática, a expectativa de operacionalizar e apreender a relação entre teoria e prática. “Mas não cabe ao estágio ensinar a prática e nem a supervisão de campo esse papel. Lima apud Assis e Rosado (2004) diz que ‘o estágio não é a ‘hora da prática’, mas um espaço de unidade, por possibilitar uma prática fundamentada numa teoria em confronto com a realidade, numa relação dialética que as inter-relaciona, recriando-as no cotidiano”.

Ramos e Santos (2016, p. 288) utilizam-se da argumentação que “pensar a relação entre teoria e prática é pensar em recorrer ao campo teórico para subsidiar as análises realizadas sobre os fenômenos sociais que se manifestam em diversos espaços socioocupcionais”. Assim, precisa-se potencializar o senso crítico de leitura da realidade dos estagiários para que possam visualizar possibilidades reais de ação na atuação profissional. Os supervisores contribuem para entendimento da unidade

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teoria/prática, contribuem para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias para exercício profissional, através de uma postura investigativa e propositiva. Nesse processo ensino-aprendizagem os supervisores são essenciais através do instrumento pedagógico de orientação e direcionamento. (ASSIS & ROSADO, 2012, p. 206).

Em síntese, a historiografia do Serviço Social tem três concepções distintas sobre “a teoria ser aplicada na prática”.

A primeira concepção considera que o conhecimento da realidade e o teórico por si só garantem uma boa intervenção profissional, não sendo, portanto, necessária nenhuma disciplina específica. A segunda está ancorada numa visão tecnicista a partir da qual a prática é fundadora da teoria e, sendo assim, é imprescindível e suficiente uma boa aplicação dos instrumentos e técnicas. A terceira concepção reconhece que a teoria não é aplicada de imediato na prática, fazendo-se importante um acúmulo de conhecimento para o exercício profissional competente. (SANTOS apud ASSIS & ROSADO, 2012, p. 206).

O projeto profissional afirma a terceira como direção alicerçada no Código de Ética, mas convivemos ainda com as três citadas. No momento do estágio o aluno encontra práticas de intervenções conservadoras, conflitos explícitos das concepções divergentes sobre a relação entre a teoria e a prática, que vão contra o projeto ético- político do Serviço Social. (ASSIS & ROSADO, 2012, p. 207).

A formação na atualidade envolve, de acordo com Lewgoy (2010, p. 19), um debate complexo de educação/trabalho, pois o mundo do trabalho exige profissional polivalente. Cabe ao Serviço Social pensar o significado da profissão frente às velozes transformações ocorridas na sociedade. A formação é relação social, articuladora de várias dimensões, resultantes das exigências do mundo do trabalho e a supervisão é parte dessa relação. Nesse sentido:

Pensar a supervisão de estágio por meio das suas relações e processos é um desafio, pois implica analisar dialeticamente o seu fazer pedagógico, o que inclui postura investigativa diante dos elementos novos que se apresentam à universidade nos aspectos referentes à formação. Isso possibilita a alunos e supervisores participarem do processo de objetivação e apropriação do conhecimento da realidade. (LEWGOY, 2010, p. 27).

O processo de supervisão precisa ser articulado com o projeto político do curso e o plano de formação. Para operacionalização da supervisão, é necessário os processos sociais atuais serem visualizados e decifrados à medida que estabelecem conexões com os processos de formação e supervisão. Esta formação precisa ter caráter de qualificação humana, satisfazendo as várias necessidades humanas no seu processo histórico. Contra esta ideia de qualificação está a lógica da educação

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mercantilista, que suprimi o direito do cidadão ao ensino e ao conhecimento. Um dos desafios é a efetivação do projeto ético-político do Serviço Social, que é vinculado a um projeto de transformação societário, através da intervenção nos cotidianos de trabalho. (LEWGOY, 2010, p. 30-33).

3. PROCESSO HISTÓRICO DA SUPERVISÃO DE ESTÁGIO

No Brasil, o estágio no curso de Serviço Social aparece com as primeiras escolas de Serviço Social na década de 1930, como requisito obrigatório para formação profissional. Conforme Portes (2016, p. 70-75), na gênese da profissão a formação tinha base humanista e demandava prática havia esta necessidade de percepção da realidade, desse modo, já integrava o currículo dos primeiros cursos. A organização era para visitas a obras sociais, sem supervisão sistematizada. Conciliava conhecimento prático com aulas teóricas, visando o desenvolvimento da personalidade do futuro profissional.

Nos anos de 1950 e 1960, a ideologia desenvolvimentista absorveu o estágio e a supervisão. Nesse período, a evidência era o método, o estágio buscava-se aprender fazendo, a supervisão era de forma tutorial, o foco era o supervisado. Até a década de 1970 a formação, na visão de Mioto e Nogueira (2016, p. 309-310), tinha uma dinâmica de simetria entre as instituições formadoras e campos de estágio, o destaque era o aspecto técnico e instrumental. Professores e supervisores de campo tinham cooperação mútua e o estágio era desenvolvido com muita sintonia entre todos os sujeitos envolvidos nesse processo. A prática era responsabilidade dos campos de estágio. O ingresso nas universidades dos cursos de Serviço Social tornou-se o espaço de debates para uma nova direção profissional e novo projeto societário.

Na década de 1980, o estágio ganha destaque na formação, juntamente com o Movimento de Reconceituação que aprofunda o processo de desenvolvimento de crítica teórica e a prática profissional, buscando romper com o lastro conservador da profissão e com a vinculação com a ideologia dominante, rejeitando práticas psicossociais. Como descrito:

Anteriormente o estágio situava-se em um campo tendencialmente convergente entre instituições formadoras e instituições campo da prática, a nova proposta, ao defender um determinado projeto societário confronta-se com as instituições campos de estágio, e instaura tensões entre os principais atores envolvidos no processo formativo. (MIOTO & NOGUEIRA, 2016, p. 310).

A partir dos anos 1980 verificam-se avanços no entendimento do estágio como aspecto fundamental no processo de formação profissional. Nesta década e na seguinte

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(1990) foi um período que tiveram grande “impacto na formação profissional, no desmonte da estrutura tradicional da divisão caso, grupo, comunidade e na defesa de uma visão crítica e comprometida com a transformação social”. (Lewgoy, 2010, p. 85). Através do Código de Ética (1993), das Diretrizes Curriculares (1996), Lei de Regulamentação da Profissão (1996), Resolução do Conselho Federal de Serviço Social nº 533/2008 e a Política Nacional de Estágio (2010).

O cotidiano do estágio supervisionado é o momento de troca de experiências entre os sujeitos envolvidos nesse processo, é rico de possibilidades e construção de ensino-aprendizagem de forma mais completa e melhor apreendida, contribuindo de forma positiva do ponto de vista prático, teórico e reflexivo. No operacionalizar do estágio três sujeitos são envolvidos: o estagiário, o docente supervisor acadêmico e o assistente social supervisor de campo. Sendo o estágio uma atividade curricular obrigatória, possui como tarefa cumprir as determinações legais específicas do ensino superior, como a Lei 8.662 de regulamentação da profissão, que no seu artigo 5, afirma a atribuição privativa do Assistente Social, “VI- treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social”. (LEI 8.662 DE REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO, 2011, p. 46).

Supervisão e estágio são indissociáveis, não podem ser estudados separadamente, constituindo um dos fundamentos da formação profissional em Serviço Social, possibilitando grandes contribuições para a aprendizagem profissional de ambos. Siqueira apud Souza (2006, p. 32) afirma:

Não se pode dissociar estágio de supervisão, pois o primeiro é o contexto em que o aluno estabelece relações mediatas entre os conhecimentos teóricos e o trabalho profissional, desenvolve a capacitação técnico- operativa e reconhece a articulação entre a prática do Serviço Social e o contexto político, econômico e cultural das relações sociais. A supervisão é caracterizada pelo acompanhamento e pela orientação profissional ao aluno. Estágio e supervisão são espaços interdependentes, no processo ensino-aprendizagem.

Atualmente a Resolução CEFSS nº 533, de 29 de setembro de 2008, regulamenta a Supervisão Direta de Serviço Social. Considerando que é exclusiva do CFESS essa função de regulamentar no âmbito do Serviço Social em consonância com o inciso I, do artigo 8º da Lei 8.662/93. Essa atividade que é privativa do assistente social, inscritos no Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) da sua área de atuação, conforme o artigo 5º da Lei nº 8.662 (Lei Regulamentação da Profissão), no inciso VI – “treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social”. (Lei nº 8668, p. 46, 1993). E caracteriza-se em duas dimensões: supervisão de campo e supervisão acadêmica. Esses processos diferentes, mas complementares objetivam dar significado ao processo de formação. A prática realizada no campo de

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estágio é componente estrutural e essencial na formação dos assistentes sociais. O supervisor tem papel importante nesse contexto, “por meio de sua competência, da sua função de educador, de seus valores e autoridade, etc.[...] faz-se necessário compreender o papel do assistente social supervisor acadêmico e de campo”. (SOUZA et al., 2010, p. 144).

O supervisor acadêmico tem a atribuição metodológica do estágio supervisionado que permite a construção teórico-crítica no exercício profissional. Necessita-se orientar o estagiário quanto ao referencial e em pesquisas na área de estágio. A luz da fundamentação teórico-metodológica o estagiário encontra possibilidades de significar as questões vivenciadas no campo de estágio que estão inseridos. (SOUZA et al., 2010, p. 145). Neste sentido, nas palavras de (Lewgoy, 2010, p. 121-122), objetiva-se reconhecer e debater “os elementos constitutivos do projeto profissional em curso nos espaços sócio ocupacionais e sua relação com o projeto hegemônico da profissão”. Busca-se legitimar a interação entre os sujeitos, supervisores e alunos, está envolvida numa tríade, num projeto coletivo e interdisciplinar, representando a instituição a qual pertencem.

Quanto ao supervisor de campo, acompanha as atividades realizadas na instituição, orientando na elaboração de documentos, auxilia no planejamento das intervenções, faz avaliação qualitativa do estagiário e mantém constante diálogo, contribuindo para seu amadurecimento e crescimento profissional. (SOUZA et al. 2010, p. 146).

O aluno nas palavras de Buriolla (2010, p. 95-96) é o principal agente no processo de ensino-aprendizagem. Como pessoa em processo de aprendizagem deve ser visto na totalidade compreendendo todo contexto que ele está inserido. Deve-se conhecer quem é o aluno e seu papel enquanto estagiário. “O impacto de transição da vida acadêmica para a atividade profissional pode ser diminuído através de experiências de trabalho sistematizado, crítico e participante”. (PEQUIÁ & ROSA, 2007, p. 157). Dessa forma;

Configura-se em um processo coletivo de ensino-aprendizagem, no qual se realiza a observação, registro, análise e acompanhamento da atuação do (a) estagiário (a) no campo de estágio, bem como a avaliação do processo de aprendizagem discente, visando à construção de conhecimentos e competências para o exercício da profissão. Esta avaliação deve ser realizada continuamente, contemplando duas dimensões: a avaliação do processo de estágio e a avaliação do desempenho discente, assegurando a participação dos diferentes segmentos envolvidos (supervisores acadêmicos e de campo e estagiários (as)). (PNE, 2010, p. 15)

A concepção de supervisão de estágio no curso de bacharelado do Serviço Social é “espaço de mediação entre formação e exercício profissional e espaço

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afirmativo de formação”. (LEWGOY, 2010, p.199). Para a autora, sendo legalmente o processo de trabalho do supervisor a matéria-prima do estágio, exige-se mediação de formação e exercício profissional.

Entendo que fazer supervisão é uma responsabilidade que envolve escolha de meios e formas, considerando as especifidade da supervisão do trabalho de assistente social e seus objetivos, sobretudo o exercício profissional, que abrange teoria, conhecimentos, metodologia, prática, usuários, a instituição, as relações sociais e institucionais etc... (LEWGOY, 2010, p.130).

A orientação do aluno na prática do campo visa ampliar sua visão, fazendo conexão com os conhecimentos teóricos e a vivência prática. O supervisor conduz a mediação e a reflexão do aluno no sentido teoria e prática, fazendo ligação entre saber de sala de aula e a averiguação da situação na prática. Ocorrendo o ensino- aprendizagem, pois tem valor o conhecimento para intervenção na realidade. Supervisor e supervisionado devem ter compromisso com o ensino-aprendizagem que é à base da supervisão. Neste processo, oportuniza-se ao supervisor conhecer novos conhecimentos e atualizar suas competências e o supervisionado se beneficiar da experiência do supervisor. (LEWGOY, 2010, p. 131)

A supervisão precisa direcionar a formação para o significado social da profissão, respondendo as contradições presentes na contemporaneidade. Seja nas instituições educacionais, nos espaços institucionais inseridos os supervisores e os estagiários e nas transformações do mercado de trabalho. Os supervisores precisam ter características peculiares (visão política, filosófica, científica e técnica) para supervisionarem o processo de trabalho dos estagiários, assumindo uma função pedagógica que envolve planejamento, reflexão e avaliação das atividades. Conforme o projeto ético-político que aponta três dimensões conectadas as quais desenvolve a competência profissional. Vai além dos conceitos formais, desenvolvendo o pensamento crítico e revelando as contradições e as mediações presentes na formação em Serviço Social. (LEWGOY, 2010, p. 33-50).

Assim, a especificidade do estágio como disciplina de caráter teórico-prático, que ocorre tanto nas unidades de formação acadêmica quanto nos espaços de inserção sócio ocupacional do assistente social, e cujos conteúdos se articulam com os componentes da formação profissional, viabiliza a interlocução entre essas instâncias e os sujeitos envolvidos no processo. Dessa forma, o estágio é operacionalizado mediante a supervisão acadêmica e de campo, com a participação de assistentes sociais que atuam na docência universitária e de assistentes sociais inseridos nos mais diversos campos de atuação profissional. Por essas particularidades, o estágio também se expressa como o momento em que se torna mais visível a problemática entre teoria e prática, ou melhor, a relação que se estabelece e/ou que é percebida entre estas no cotidiano da operacionalização do trabalho dos assistentes sociais. (ASSIS & ROSADO, 2012, p. 207).

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No processo educativo supervisão de campo e supervisão acadêmica tem igualdade de posição, mas com diferentes atribuições. Para supervisor de campo é exigido familiaridade com o tema que supervisiona e seu trabalho profissional e uma pedagogia que sustente o acompanhamento do estagiário naquela cultura institucional que está inserido. As contradições aparecem no cotidiano e são enfrentadas, pois a realidade está em movimento. Com esses desafios aluno e supervisor amadurecem. O estagiário desenvolve competências, constrói sua identidade e afirma sua formação, capacita-se para respostas as demandas dos campos de estágios e as instituições, efetivando o projeto político profissional. A competência é formada por três dimensões:

A dimensão ético-política, atenta à finalidade da ação e do compromisso profissional, é elemento mediador constituído por postura crítico-investigativa sobre os fundamentos e o sentido atribuído aos conteúdos, ao método, aos objetivos, tendo como referência a afirmação dos direitos. Vincula-se à dimensão teórico-metodológica, que articula teoria-método e metodologia e privilegia a história social como terreno germinador das demandas e das possiblidades do conhecimento e das práticas. Ambas as dimensões se atrelam à técnico-operativa, que, caracterizada pelo domínio dos conteúdos de sua área específica de conhecimento, é uma instância de passagem que permite a realização da trajetória da concepção da ação à sua operacionalização. (LEWGOY, 2010, p.149-150).

Analisar a supervisão é olhar em todos os ângulos da intervenção, é complexo, pois envolve os estagiários no processo de formação, o cotidiano do exercício profissional e dos supervisores, as particularidades dos espaços sócios ocupacionais que o aluno está inserido, os instrumentais, os usuários e suas demandas e lutas. O pensamento crítico é alicerce da supervisão na dimensão ético-política, na dimensão teórico-metodológica unifica história, teoria e método, a totalidade das relações, a dimensão técnico-operativa é a instrumentalidade. As três articuladas constroem a competência, que direciona para a formação profissional hegemônica.

Lewgoy (2010) entende que supervisão é um processo complexo de apreensão da formação, da universidade, campo, do acadêmico e do processo-aprendizagem. A supervisão para Buriolla (2010, p. 19) precisa ser compreendida, numa perspectiva totalizante, envolvendo a prática, as relações sociedade e a categoria profissional, nos diferentes períodos históricos, assim nunca está acabada. Ela é parte inerente da profissão do assistente social, processo integrante do projeto da formação profissional. A unidades formadoras tem o compromisso social e ético de preparar o profissional com “um projeto pedagógico de currículo aberto e flexível, comprometidos com as exigências contemporâneas”, superando os desafios impostos por ela. Cabe a ela fiscalizar os campos de estágios conforme as normativas vigentes. (GOUVÊA, 2008,

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com as reflexões feitas na pesquisa bibliográfica conclui-se que somente com o estágio supervisionado obrigatório é possivel a aproximação com a prática do exercício profissional. É o espaço que capacita o acadêmico a ter uma postura crítica e reflexiva, articulando teoria e prática, possibilitando entrar em contato com uma realidade concreta. O CFESS (Conselho Federal de Serviço Social) instituiu a resolução 533/2008, que regulamenta a supervisão direta de estágio em Serviço Social. Onde entende-se:

[....] que a atividade de supervisão direta do estágio em Serviço Social constitui momento impar no processo ensino-aprendizagem, pois se configura como elemento síntese da relação teoria-prática, na articulação entre pesquisa e intervenção profissional e que se consubstancia como exercício teórico –pratico, mediante a inserção do aluno nos diferentes espaços ocupacionais das esferas públicas e privadas com vistas a formação profissional e conhecimento da realidade institucional.(CEFESS,2008.p.02).

As Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1996), prevê uma somatória de atitudes, englobando conhecimento, e habilidades para a efetivação da competência profissional, no qual são necessárias a junção de eixos importantes: o supervisores acadêmicos e de campo e alunos, as instituições de ensino, os campos de estágios nos diversos espaços sócio ocupacionais, além dos conselhos de classes que representam profissão. Importante lembrar que a supervisão de campo desempenha conjuntamente com o supervisor acadêmico o papel de formador deste profissional devendo ter claro qual o seu papel conforme o Art. 2º. “A supervisão direta de estágio em Serviço Social é atividade privativa do assistente social, em pleno gozo dos seus direitos profissionais, devidamente inscrito no CRESS”.

O projeto político deve ser evidenciado no processo de supervisão precisa ser articulado com o curso e o plano de formação. Para isso é muito importante a aproximação entre instituição de ensino, e campo de estágio para alinhamento de plano de trabalho e formação continuada. Para garantia de uma formação profissional de qualidade é fundamental a construção de uma relação estreita entre os sujeitos e as instituições envolvidas neste processo.

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REFERÊNCIAS

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