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A (in) eficácia da legislação e os instrumentos alternativos de combate à violência contra a mulher: dos pressupostos do código penal brasileiro à aplicação da lei Maria da Penha (1940-2016)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CURSO DE MESTRADO INTERINSTITUCIONAL UFSC/FLF

A (IN) EFICÁCIA DA LEGISLAÇÃO E OS INSTRUMENTOS ALTERNATIVOS DE COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: DOS PRESSUPOSTOS DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO À APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA (1940-2016)

JOSÉ WELLINGTON PARENTE SILVA

FLORIANÓPOLIS/SC 2017

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A (IN) EFICÁCIA DA LEGISLAÇÃO E OS INSTRUMENTOS ALTERNATIVOS DE COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: DOS PRESSUPOSTOS DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO À APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA (1940-2016)

Dissertação submetida ao Departamento de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito essencial para a obtenção do título de Mestre em Direito. Orientador: Prof. Phd. Arno Dal Ri Júnior.

FLORIANÓPOLIS/SC 2017

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

José Wellington Parente Silva SILVA, JOSE WELLINGTON PARENTE

A (IN) EFICÁCIA DA LEGISLAÇÃO E OS INSTRUMENTOS ALTERNATIVOS DE COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER:DOS PRESSUPOSTOS DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO À APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA (1940-2016) / JOSE WELLINGTON PARENTE SILVA ; orientador, ARNO DAL Ri JÚNIOR - Florianópolis, SC 2017. 150 p.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Jurídicas. Programa de Pós Graduação em Direito.

Inclui referências

1. Direito. 2. FRATERNIDADE. 3.LEI MARIA DA PENHA. POLÍTICAS PÚBLICAS 4. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. I. JÚNIOR, ARNO DAL RI. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Direito. III. Título.

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José Wellington Parente Silva

A (IN) EFICÁCIA DA LEGISLAÇÃO E OS INSTRUMENTOS ALTERNATIVOS DE COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: DOS PRESSUPOSTOS DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO À APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA (1940-2016)

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em Direito e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, na área de concentração “Direito, Estado e Sociedade”, e linha de pesquisa “Constituição, Cidadania e Direitos Humanos”.

Florianópolis/SC, 14 de agosto de 2017.

__________________________ Profª. Cristiane Derani, Dra.

Subcoordenadora do PPDG Banca examinadora:

_________________________________________ Prof. Arno Dal Ri Jr., PhD.

Orientador

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

________________________________________ Prof. Rogério Silva Portanova, Dr.

Examinador

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC ________________________________________

Profª. Marília Montenegro Pessoa de Melo, Dra. Examinadora

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DEDICATÓRIA

Dedico a presente dissertação à minha família, em especial aos meus pais Gerardo Ribeiro da Silva (in memorian) e Maria Marlene Parente Silva, aos meus irmãos Antônio Wesley Parente Silva e Mary Jane Parente Ferro de Araújo e a minha sobrinha Ana Mires Parente Ferro de Araújo. Faço-o em retribuição ao seu incondicional apoio e à sua infinita compreensão para com a minha pessoa, principalmente durante minhas injustificadas ausências.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu pai, Gerardo, que tão cedo partiu deste plano rumo à vida eterna, exemplo de fibra e garra, por nunca se haver deixado abater, nem mesmo nas maiores intempéries e que, apesar de todas as dificuldades impostas pela vida – e não foram poucas –, muito bem criou a meus irmãos e a mim, e pelos sábios ensinamentos legados, que norteiam minha vida e muitas passagens deste trabalho, não encontrados nem mesmo na mais depurada obra de Filosofia. Saiba, meu Pai, que é inútil o propósito daquilo a que se convencionou chamar morte de afastar-nos através de um distanciamento puramente material.

Estaremos sempre juntos, e tão logo minha jornada terrena finde nos reencontraremos. Tenha a minha pessoa a oportunidade de viver infinitas vezes, em todas estas o quero como Pai! Obrigado por tudo, e até à vista!

Á minha mãe, Maria Marlene Parente Silva, que, desde sempre, indicava-se, em seus olhos, um lugar digno para a construção da minha humanidade, inspirando-me para tal.

Agradeço especialmente ao professor Phd Arno Dal Ri Júnior, muito mais que um dedicado mentor, um grande amigo. Agradeço ao mesmo pela confiança depositada ao escolher-me como orientando, e pela atenção e paciência que sempre teve para com minha pessoa, para ler e tornar a ler esta dissertação, sempre de uma maneira muito precisa, estendendo a mão para alentar a investigação, proporcionando sugestões e comentários decisivos, sem os quais o trabalho padeceria de um vazio insanável, assim como disponibilizando seu acervo particular a este pesquisador.

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“O amor passa a viver da reciprocidade, das concessões que se permitem os parceiros entre si, do respeito aos valores intrínsecos a cada indivíduo” (FERNANDES, Maria da Penha Maia. Sobrevivi... posso contar. 2ª. Ed. Fortaleza: Armazém da Cultura, 2014, p.113).

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RESUMO

A construção da presente pesquisa fundamenta-se no seguinte problema: “Em que medida a Lei Maria da Penha que busca proteger a mulher contra a violência doméstica tem sido suficiente para reduzir a sua prática contra o gênero feminino?”. A partir disso pondera se a Lei Maria da Penha é eficiente no combate a violência doméstica. Uma vez que se observou que mesmo com todas as previsões legais, ainda é recorrente as diversas agressões físicas e psicológicas que a mulher se submete. Por isso, o estudo partiu do histórico da violência doméstica iniciando do século XX e as legislações penais existentes de proteção a mulher até a criação da Lei Maria da Penha. Destaca, ainda, as principais convenções internacionais sobre os direitos humanos das mulheres, dando ênfase as garantias asseguradas pela Constituição de 1988. A pesquisa expõe que a Lei Maria da Penha não tendo sido eficiente no combate à violência doméstica contra a mulher então é preciso à busca de meios alternativos. O princípio esquecido da fraternidade pode ser o elo faltante nas sociedades que se dizem democrática, pois com a fraternidade será possível uma nova dignidade humana sociedade que respeite a dignidade humana de todas as mulheres. E nos casos da ocorrência da violência, visto que a fraternidade é meio preventivo, se faz necessário a criação de políticas públicas, tais como casas de abrigo e qualificação profissional, pois as vítimas ao deixarem os agressores, tendo para onde irem e como se manterem financeiramente poderá enfrentar o medo de denunciarem as agressões sofridas com maior segurança.

Palavras-chave: Lei Maria da Penha. Eficácia. Fraternidade. Políticas Públicas.

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RESUMEN

La construcción de la presente investigación se fundamenta en el siguiente problema: "¿En qué medida la Ley Maria da Penha que busca proteger a la mujer contra la violencia doméstica ha sido suficiente para reducir su práctica contra el género femenino?". A partir de eso pondera si la Ley Maria da Penha es eficiente en el combate a la violencia doméstica. Una vez que se observó que incluso con todas las previsiones legales, todavía es recurrente las diversas agresiones físicas y psicológicas que la mujer se somete. Por eso, el estudio partió del histórico de la violencia doméstica iniciando del siglo XX y las legislaciones penales existentes de protección a la mujer hasta la creación de la Ley Maria da Penha. Destaca, además, las principales convenciones internacionales sobre los derechos humanos de las mujeres, dando énfasis a las garantías aseguradas por la Constitución de 1988. La investigación expone que la Ley Maria da Penha no ha sido eficaz en el combate a la violencia doméstica contra la mujer entonces es necesario Búsqueda de medios alternativos. El principio olvidado de la fraternidad puede ser el eslabón faltante en las sociedades que se dicen democráticas, pues con la fraternidad será posible una nueva dignidad humana sociedad que respete la dignidad humana de todas las mujeres. En el caso de la violencia, ya que la fraternidad es un medio preventivo, se hace necesario la creación de políticas públicas, tales como casas de abrigo y cualificación profesional, pues las víctimas al dejar a los agresores, teniendo para dónde ir y cómo mantenerse Financieramente podrá enfrentar el miedo a denunciar las agresiones sufridas con mayor seguridad.

Palabras clave: Ley Maria da Penha. Eficacia. Fraternidad. Políticas públicas.

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LISTA DE SIGLAS ADC – Ação Declaratória de Constitucionalidade

CEDAW - Comitê para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

OEA – Organização dos Estados Americanos OMS – Organização Mundial da Saúde ONU – Organização das Nações Unidas STF – Supremo Tribunal Federal

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...21 1.VIOLÊNCIA DOMÉSTICA...25 1.1. Violência doméstica imposta à mulher: conceituação, características, manifestações e consequências no universo feminino ... 25 1.2. A Preocupação das Convenções internacionais de Direitos Humanos no combate a violência contra a Mulher...47 2. A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E A LEGISLAÇÃO DE

COMBATE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

...64 2.1. Os Direitos Fundamentais da mulher e a Constituição Federal ...64 2.2 – A origem e aplicação da Lei Maria da Penha e seus efeitos práticos ...71 3. A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E A ATUAÇÃO DO ESTADO NO COMBATE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ...93 3.1 - O Princípio da Fraternidade no combate a violência doméstica...,...93 3.2- A instituição de Políticas Públicas e a atuação do Estado no Combate à violência doméstica...110 CONCLUSÃO...130 REFERÊNCIAS...132

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INTRODUÇÃO

Apesar de a sociedade ter evoluído e a legislação também, não restam dúvidas de que, em pleno século XXI, ainda há resquícios de um período marcadamente patriarcal. A mulher, na modernidade, assumiu maior autonomia social, mas não se pode desprender de uma cultura arraigada por anos de história.

Não há como apagar da mente das pessoas atitudes tidas como corretas antigamente e que ainda são reproduzidas e disseminadas com muita naturalidade. E a mulher, por estar dizendo “não” a uma cultura de dominação, sofre os mais diversos tipos de violência que atingem sua integridade mental e física.

A violência cometida contra a mulher é encarada em nossa sociedade como um produto histórico, que perpassa gerações e classes sociais.

Neste contexto se compreende que a ação violenta é vista como um tipo de comportamento adquirido durante a história de desenvolvimento evolutivo da espécie humana, que delegou para a mulher um espaço e papel de inferioridade e submissão ao homem, perpetuando as desigualdades entre os sexos.

A permissividade da mulher lhe confere o sentimento de merecimento por todos os abusos, psicológicos, sexuais, físicos que ela sofre e, por outro lado, os exemplos daquelas que buscaram amparo nas autoridades, na lei, via de regra, desestimulam a luta pela alteração do paradigma familiar vivido. Sozinhas, as vítimas da violência familiar não vislumbram uma cura ao seu mal, são impotentes diante de tantos fatores concorrentes para sua permanência no ciclo vicioso da violência doméstica.

Por estar enraizada em questões históricas e culturais se faz necessário discutir, entender e mudar este quadro caótico a fim de se estancar este flagelo que atinge a todas as camadas sociais, rompendo o silêncio que acoberta tantas atrocidades cometidas no recesso do lar.

Por esse motivo, a Lei 11.340/2006 foi positivada a partir das experiências pessoais e lutas por superação de uma mulher que lhe deu o nome, conhecida, então, como Lei Maria da Penha.

Muitas observações avaliadas por teóricos mostram a necessidade de uma pesquisa que esclareça melhor o porquê de mesmo com a positivação da lei que protege a mulher ainda se tem um grande índice de agressão contra o sexo feminino no seio familiar. Outro ponto que

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merece ser destacado é o fato de se ter as medidas de proteção e que não são suficientes para diminuir essas agressões.

Este estudo se propõe fazer uma avaliação da aplicação da Lei Maria da Penha dentro da sociedade e o porquê da sua ineficácia, fazendo uma análise desde uma concepção mais conceitual até uma análise mais prática do assunto.

Na sequência das discussões, muitos teóricos foram sendo utilizados para melhor compreender os passos ou etapas que foram desencadeando os estudos até chegar à defesa por um ponto de vista, em relação à aplicação da Lei Maria da Penha no combate a violência doméstica.

Esta pesquisa se configura como bibliográfica, com análise documental por avaliar textos escritos para explicar o porquê da Lei Maria da Penha não ser suficiente para coibir a violência contra a mulher tão presente na sociedade atual.

Como se sabe várias são as discussões sobre o descumprimento das leis, ou seja, quando se trata de sua efetividade. Neste contexto, procura-se entender a falta de eficiência em se tratando da Lei Maria da Penha.

O que se sabe é que muitas mulheres sofrem muito, mesmo após a lei Maria da Penha. Visto que, há todo um aparato nas leis, mas o que se percebe é que sua efetivação não acontece por falta de aplicabilidade, uma vez que um “pedaço de papel” não assusta ninguém e muito mesmo um pedaço de papel sem sua devida fiscalização e penalidades rígidas da sua não aplicação.

Diante dessa problemática, os capítulos se organizam conforme a sequência evolutiva das discussões. Logo no primeiro momento se buscou entender a evolução histórica da mulher no seio social. Levando em conta o conceito, características, manifestações e consequências da violência doméstica. Neste capitulo procurou se trabalhar as Convenções internacionais de Direitos Humanos no qual o Brasil e que buscam combater a violência contra e mulher, assegurando a mesma o direito a ter direitos humanos.

Mencionou-se a Convenção de Belém que foi a primeira Convenção internacional de proteção dos direitos humanos, a reconhecer, de forma expressa e enfática, a violência contra a mulher como um fenômeno generalizado, que a alcança, sem distinção de raça, classe, religião, idade ou qualquer outra condição, um elevado número de mulheres em todo o mundo.

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Em seguida se faz referência a Conferência de Beijing, Convenção no qual os Estados reconheceram que os direitos das mulheres são direitos humanos e que a sua participação plena na sociedade é fundamental para o desenvolvimento e o estabelecimento da paz. Esta Conferência reunião mais de 180 governantes e 1254 organizações não governamentais.

Na sequência das discussões, No capítulo 2, trabalha-se os direitos fundamentais da mulher e a Constituição de 1988, que assegurou entre os seus objetivos a dignidade da pessoa humana, destacando que os direitos fundamentais se desenvolveram ao longo da história e em diversos momentos. Apesar de terem se desenvolvidos de modo lento, os direitos fundamentais foram sendo acrescidos em textos constitucionais, sendo o maior exemplo disto o que fora posta na nossa Constituição, onde se expôs de forma explicita e implícita em todo o corpo constitucional.

Expôs-se se a divisão e as características dos direitos fundamentais, demonstrando que a Carta Magna de 1988 trouxe em seu texto inúmeros direitos fundamentais, inclusive trazendo de forma expressa em seu art. 226 a proteção a família e a mulher. Abordou-se ainda a origem e aplicação da Lei Maria da Penha e seus efeitos práticos e as medidas protetivas de urgência prevista na lei.

Por fim no capítulo 3, se trabalhou a aplicação da fraternidade como via alternativa no combate à violência doméstica, sendo que a construção de uma sociedade fraterna seria uma forma viável de prevenção da violência. Portanto a Fraternidade é um valor a ser considerado como essencial a orientar as condutas humanas porque desvela nossa humanidade escondida no Outro. É a partir da percepção, compreensão e incorporação desse valor à vida cotidiana que atitudes mais humanas poderão ser presenciadas. Essa é a raiz na qual expressa outros modos de vidas no globo possíveis, mas que insistem em ser silenciadas porque mostram a fragilidade das certezas habituais criadas pelos contornos fronteiriços do eu.

Outro fator que foi destacado no capítulo foi à aplicação de políticas públicas para a prevenção e reeducação. Nesse sentido, a responsabilidade do Estado, e também da sociedade, é trabalhar na implementação dos serviços que a Lei Maria da Penha propõe, como políticas de educação, uma maior fiscalização e efetivação das medidas protetivas de urgência, como por exemplo, tratando a mulher em estado de vulnerabilidade como prioridade nos atendimentos de: qualificação profissional, Assistência Social, Segurança Pública e Justiça.

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No combate a violência doméstica contra a mulher é preciso à atuação do Estado Democrático de Direito na criação de políticas públicas, tais como casas de abrigo e qualificação profissional, pois as vítimas ao deixarem os agressores, tendo para onde irem e como se manterem financeiramente poderá enfrentar o medo de denunciarem as agressões sofridas com maior segurança.

Então a Fraternidade seria a prevenção e caso esta não fosse suficiente entraria em cena a atuação estatal por meio das politicas públicas.

As políticas públicas representam um importante instrumento de transformação social e implementação da igualdade entre homens e mulheres. Portanto é preciso criar políticas de incentivo para o desenvolvimento de estratégias de reconhecimento da natureza complexa da violência contra a mulher, para alcançar uma abordagem integral do fenômeno na aplicação de medidas resolutivas.

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1 - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

1.1 - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA IMPOSTA À MULHER: CONCEITUAÇÃO, CARACTERÍSTICAS, MANIFESTAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS NO UNIVERSO FEMININO.

A violência é um fato humano, social e histórico. Não se conhece nenhuma sociedade que seja completamente isenta de violência, cada uma com suas configurações peculiares e diferenciadas através dos tempos pelas transformações sofridas.

No início do século XX, no Brasil, a mulher foi vista como objeto para servir e nunca ser servida e, neste contexto, instalaram-se as condições para o ditame da violência contra elas. Essa violência, em geral ocorre no ambiente doméstico ou familiar, atingindo um grupo significativo de mulheres e, face ao silêncio de muitas, que aceitam essa condição degradante de estado físico e emocional em razão da dependência financeira e emocional, torna-se mais intensa, incapacitando-as de sair daquele ambiente físico hostil.

Como visto dentro da sociedade brasileira a mulher era tida como um objeto no qual o proprietário, que seria o marido ou o pai, poderia trata-la como bem quisesse, inclusive utilizar força física contra a mesma, com isto se teria o nascimento da violência doméstica dentro do seio familiar.

Não podemos esquecer que a família é o primeiro elo social que reflete a desigualdade no tratamento entre homens e mulheres, onde o ditado é: as tarefas do lar são das meninas, aos homens cabe a manutenção da família. A melhor compreensão de como se desencadeia a violência contra a mulher, podemos observar que dentro da nossa sociedade existe uma divisão entre homem e mulher, onde somos influenciados pela cultura: costumes, tradições e religiões, determinando assim papéis e funções dentro da sociedade em que estamos inseridos.

Como se sabe, a figura feminina durante anos ocupou posições distintas dentro das legislações pátrias. A mudança da cultura dos povos tem reflexo diretamente no direito.

Partindo desse pressuposto, várias foram as visões da figura da mulher dentro da sociedade. O que se pode citar é que historicamente a mulher, dentro da legislação penal brasileira, era vista segundo Montenegro (2015, p.33) como:

O Direito Penal apenas se preocupou com a mulher para categorizá-la na condição de sujeito

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passivo dos crimes sexuais, como “virgem”, “honesta”, “prostituta” ou “pública” e, ainda, a “simplesmente mulher”[…] A mulher representa, na sociedade patriarcal, um papel passivo. Enquanto solteira, estava sujeita a realizar a vontade de seu pai, quando casada, atendia ao marido. Com o casamento, passavam homem e mulher a constituir, conforme a metáfora bíblica, “uma só carne”.

Diante das palavras da autora, é bem visível que a mulher era descrita como um ser que não deveria possuir nenhum tipo de pecado e as mulheres que fugissem desse padrão estariam contrariando os ditames morais.

Isso porque durante anos a mulher deveria ser submissa ao seu marido, sendo educada para o casamento, deveria aprender a obedecer às ordens e ter habilidade com os afazeres domésticos. Dessa forma, a própria religião considera a mulher parte do corpo de Adão.

Com isto as mulheres também eram vigiadas pela igreja, visto que esta última exercia forte adestramento na sexualidade feminina.

Então o papel da mulher no século XIX foi de mera coadjuvante, visto quem assumia o papel principal, na sociedade, seria a figura masculina. Assim como Gilberto Freire relata em seu livro Sobrados e Mucambos (2013, p.140):

Da mulher-esposa, quando vivo ou ativo o marido, não se queria ouvir a voz na sala, entre conversas de homem, a não ser pedindo vestido novo, cantando modinha, rezando pelos homens; quase nunca aconselhando ou sugerindo o que quer que fosse de menos doméstico, de menos gracioso, de menos gentil; quase nunca metendo-se em assuntos de homem.

Dessa maneira, era o homem que deveria ser considerado o sexo forte, que possuía a racionalidade, era o dono, o que deveria trazer o sustento para a família. Enquanto a mulher, era vista como não-racional, frágil, sensível.

Assim, o homem não se relacionava com a mulher por amá-la, mas antes de tudo o homem tinha interesse nos relacionamentos para que a sociedade criasse um estereótipo de masculinidade.

Dessa mesma maneira, o sexo feminino era considerado impotente até mesmo quando se tratava de cometimento de delito. Conforme bem esclarece Montenegro (2015, p.34):

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O livro mais conhecido sobre o tema foi La donna delinquente, escrito conjuntamente por Cesare Lombroso e Giovane Farrero. Segundo a Obra, a mulher é portadora de características determinada fisiologicamente como a passividade e a imobilidade. Sendo assim, “ apresentam uma capacidade maior de adaptação e são mais obedientes á lei que os homens. Ao mesmo tempo, sem dúvida, são potencialmente amorais: isto é, enganadoras, frias, calculistas, sedutora e malévolas.

A partir da análise do livro de Lombroso a autora deixa claro já essa outra concepção de mulher. Como se pode citar como a outra faceta, ou seja, a mulher que a sociedade considerava “vigarista”, “aproveitadora”.

Em relação a figura feminina dentro do direito, é muito visível que essa discrepância era mais presente no direito civil, uma vez que a mulher tinha poucos direitos dentro da sociedade, mal poderia opinar nem ser detentora de poder patrimonial.

Compreende-se que, a mulher era responsável por guardar a honra da família, que se configurava em um bem a ser conservado. Assim, a castidade e fidelidade da mulher era um valor social, logo aquela que não seguia esse padrão mancha a reputação e o status da família. Desse modo, a violação dos direitos da mulher tem sua origem a partir de um discurso que desqualifica a vida da mulher frente à honra masculina, assim a mulher é anulada enquanto sujeito que tem autonomia de si mesma.

Desse modo, a mulher ora ocupa um papel de pessoa honesta, “ mulher para casar” e ora se enquadra na situação de mulher “desonesta”, “aproveitadora”, “interesseira”. Diante de tais discussões, merece-se destacar como bem menciona Montenegro (2015, p.59):

A Mulher quando atende aos requisitos de “honestidade”, pode ser considerada vítima de crimes e merece a “ proteção do Direito Penal”; já, quando entendida como “desonesta”, passa de vítima para provocadora, e recebe, muitas vezes, a intervenção do próprio sistema penal. […] Embora a figura da mulher honesta” tenha sido definitivamente banida da legislação penal brasileira, continua arraigada no Direito e na sociedade brasileira, mesmo nos crimes de estupro, dos quais a expressão foi retirada desde

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1940. A honestidade é analisada nos julgamentos dos crimes de estupro[...]

Por isso, um ser sem capacidade física nem material, pouco representava de perigo para o direito penal brasileiro. Os homens é que assumiam o papel de sujeito ativo e dominador e praticante de delito.

Os avanços obtidos no Brasil, com ênfase na trajetória da legislação sobre a mulher, foram vários, mas infelizmente sempre caminhando a passos lentos.

A sensação de impunidade aliada à de revolta por parte das mulheres vitimadas que não tinham seus direitos resguardados, alimentou a necessidade de reformas legislativas que pudessem conter tamanha insatisfação.

Outrossim, o código penal brasileiro de 1940 não diferenciava o tratamento de crimes praticados por homem ou mulher, os dois poderiam ser punidos por ações contrárias à lei.

O Código de Penal de 1940 trazia a defesa dos crimes de uxoricidas (homens que matavam suas esposas, namoradas, noivas e companheiras), são os crimes passionais, movido por uma paixão possessiva, com esse novo código os advogados tinham como argumento a legitima defesa da honra de seus clientes.

Por outro lado, em se tratando de crimes contra os costumes apenas a mulher ocupava o polo passivo de tais delitos.

Uma grande inovação legislativa do código penal de 1940 foi à retirada do termo mulher “honesta” do fato típico previsto no crime de estupro.

Mas infelizmente este termo ainda permaneceu utilizado nos crimes: posse mediante fraude (art. 215) e atentado violento ao pudor (art. 216).

Desse modo, ao longo dos anos a mulher ficou aprisionada no termo mulher honesta, importante ressaltar que tal atributo nunca se enquadrou na figura masculina e a sexualidade masculina nunca foi preocupação para a sociedade. Uma vez que o homem quanto mais mulheres ele se relacionava mais o status de superioridade ia assumindo dentro da sociedade.

Somente com a vigência da Lei 11.106/2005 foi que se aboliu o termo mulher “honesta” do código penal brasileiro.

Outro fator que merece ser destacado é que as grandes posições, ou profissões deveriam ser ocupadas por homens. E a mulher deveria ficar com as menos importantes e consideradas próprias de pessoas frágeis.

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Observa-se enraizado no contexto histórico do século XIX um modelo de organização familiar, em que a mulher não tinha voz nem vez, sendo criada sob o domínio do homem e para atender as necessidades do mesmo sem poder ter opinião ou se expressar de forma crítica.

Como posto, o sentimento de inferioridade e fragilidade sempre esteve muito presente no cotidiano feminino, surgindo com ele a submissão e consequentemente a violência doméstica. Com o casamento a mulher passava a depender do marido de muitas formas, sejam economicamente, emocionalmente ou para manter a imagem social, assim admitindo as mais diversas manipulações e violências por parte do companheiro.

A violência cometida contra a mulher passou a ser encarada em nossa sociedade como um produto histórico, que atinge séculos e classes sociais, sendo comumente associada às relações de gênero.

Com ressalvas se pode conceituar a violência contra a mulher como qualquer ato cometido bem como constrangimento que causam medo, coação e acima de tudo abuso à integridade física e moral de qualquer ser humano, sendo assim prejudicado.

Para Cavalvanti (2007, p. 48) violência doméstica é qualquer ação causada por familiares que cause sofrimento:

Segundo a Organização mundial da Saúde – OMS , as consequências do abuso são profundas, indo além da saúde e da felicidade individual e afetando o bem-estar de comunidades inteiras. A violência sofrida pela mulher não é de responsabilidade exclusiva do agressor, existem muitos outros elementos sociais que ensejam esta pratica, neste sentido aduz Dias (2015, p. 24):

A sociedade ainda cultiva valores que incentivam a violência, o que impõe a necessidade de se tomar consciência de que a culpa é de todos. O fundamento é cultural e decorre da desigualdade no exercício do poder o qual gera uma relação de dominante e dominado. O processo de naturalização é feito a partir da dissimulação, utilizada como o intuito de tornar invisível a violência conjugal.

Homem e a mulher são produtos da educação que receberam, neste sentido relata Fernandes ( 2014, p. 113):

O homem e a mulher são produtos da sua educação, do amor, dos valores éticos e morais que lhes são ministrados na infância. As

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conquistas da mulher ao longo dos anos só serão solidificadas se forem transmitidos de geração em geração os princípios de uma educação igualitária, com liberdade de expressão das emoções humanas.

A família e a sociedade são importante no combate a violência doméstica, visto ser capaz o meio social. Sempre ligados por questões de descendência, matrimônio ou adoção, havendo sempre certo grau de parentesco.

Nesse contexto, a violência doméstica apresenta-se como um tipo de violência da mais desumana que o sujeito pode cometer contra o outro, pois é algo que acontece dentro do lar, que configura o local onde o sujeito tem suas primeiras experiências afetivas, é no lar que se inicia a formação da personalidade, então ele deveria ser um local seguro de amor, afeto, amparo e respeito.

Trata-se de um problema de maior intensidade porque sua origem é estrutural, ou seja, o sistema social e cultural ainda influi no sentido de que o homem é superior à mulher.

Neste sentido aduz Bianchini (2014, p. 19):

A construção cultural elaborada ao longo dos séculos a respeito dos papeis sociais atribuídos ás pessoas conforme se pertença a determinado sexo biológico geraram muitas vezes relações de assimetria e hierarquia entre homens e mulheres em prejuízo destas últimas, fazendo surgir hodiernamente a necessidade de previsões legais que observem especificidades tanto no sentido de superar as diferenças, as quais, espera-se, um dia não existam.

A violência infelizmente esta crescendo dentro do meio social, diante disso, é importante entender o que gera essas agressões que atinge as diversas pessoas do país, pois não atingem apenas o agressor e a vítima em caso isolado, mas a todos que compõe uma sociedade.

Percebe-se que a violência constitui-se de uma força de poder que um indivíduo exerce sobre outro. Assim, a violência contra a mulher se instala a partir de diversos fatores e apesar de ser mais recorrente nas relações familiares, esse não é o único espaço em que as mulheres sofrem de violência, desse modo, faz-se necessário uma ampla discussão da temática para que se possa pelo menos buscar meios para amenizar o problema.

É partir da situação de violência que a mulher passa a ser considerada coisa ao invés de pessoa. O fenômeno da violência

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ocasiona problemas psicológicos nas vítimas através do medo que assusta diariamente a população.

Podemos afirmar que a violência doméstica e familiar é um fenômeno social difuso, visto que não privilegia nenhuma classe econômica, uma vez que podemos constatá-la em todas as classes sociais e em qualquer seio familiar.

Infelizmente, é tratado como um problema muito distante, seu combate e a sua prevenção não estão incluídos entre as prioridades da sociedade e do poder público. É por este motivo que o movimento de mulheres tem lutado incansavelmente em defesa da igualdade de direitos entre homens e mulheres, defendendo a eliminação de todas as formas de discriminação e violência, seja através das leis ou das práticas sociais.

Assim se manifesta Cavalcanti (2007, p. 48-49):

A violência doméstica fundamenta-se em relações interpessoais de desigualdade e de poder entre homens e mulheres ligados por vínculos consanguíneos, parentais, de afetividade ou de amizade. O agressor se vale da condição privilegiada de um relação de casamento, convívio, confiança e amizade, namoro, intimidade, privacidade que tenha ou tenha tido com a vítima, bem como da relação de hierarquia ou poder que detenha sobre a vítima para praticar a violência.

Então a violência doméstica é o tipo de violência que ocorre entre os membros de uma mesma família ou que partilham o mesmo espaço de habitação. Esta circunstância faz com que este seja um problema especialmente complexo, com facetas que entram na intimidade das famílias e das pessoas.

É importante ressaltar que ao se falar em violência o que se observa é que não se refere apenas àquelas visíveis, vistas a “olho nu”, mas aquelas que estão escondidas. O que o autor Galtung (1990) fala que se pode analisar a violência comparando a um iceberg, isso porque a parte superior que fica a mostra é considerada a visível socialmente, porém há várias outras violências que se encontram escondidas por trás de aparências.

Dessa maneira, Palhares (2015, p.16-17):

Quanto ao conceito de violência, Galtung vê esse fenômeno como “a causa da diferença entre o potencial e o real, entre o que poderia ter sido e o que é”. Com base nessa definição, o autor

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reconhece a existência de condições objetivas que impedem ou impediram alguém de alcançar seu máximo potencial, já que a violência está na origem da diferença entre a situação, a condição real e a condição potencial.

Assim, chama-se a atenção para as principais diferenças entre a violência potencial e a real, isso implica dizer que muitos indivíduos deixaram de executar suas práticas criminosas por motivos alheios a sua vontade.

Do mesmo modo, é importante mencionar que o autor chama a atenção quando diz que quando há uma possibilidade real de violência e pode ser evitada e mesmo assim acontece, tem-se a verdadeira violência. Porém, se por acaso não se tem como evitá-la não há o que falar em violência, pois perde todos os elementos que caracterizam um crime, como por exemplo a própria culpabilidade.

Por isso, Palares (2015) dividiu a violência em segmentos sociais em três categorias: direta, estrutural e cultural.

A primeira classificou como sendo uma violência que possui uma relação direta entre os elementos que compõe a ação e são atitudes de fácil visualização, como um assalto por exemplo. Já a segunda classificação diz respeito a uma questão de desigualdade social, ou seja, determinadas pessoas são mais propícias a delinquir devido ao determinismo transmitido através do ambiente em que se vive.

E a terceira e última é a cultural, aqui o que se leva em consideração são os fatores ligados a cultura do povo e nos dias atuais com a grande globalização e o consumismo exacerbado é visível que tentem justificar a violência como produto da formação do próprio homem.

E nesse diapasão se ressalta o entrelaçamento entre os tipos de violências existente na atualidade como menciona Palhares (2015, p. 22):

Essa massiva violência direta – em que a violência foi elevada ao máximo grau ao retirar a vida de alguém– infiltra-se na estrutura social e a segmenta, constituindo-se, assim, em uma manifestação de violência estrutural. Como resultado da escravidão (violência direta), os negros acabaram relegados a posições sociais inferiores, principalmente no mercado de trabalho (violência estrutural).

[...] a massiva violência direta pode gerar violência cultural por meio de ideias racistas

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(violência cultural), veiculadas em enunciados como: “negros não têm alma”, “negros são objetos” ou “negros são uma raça inferior”. Observa-se que as três divisões são ligadas entre si, pois é como se houvesse um grande círculo vicioso da violência.

Dessa maneira, o autor exemplifica a questão do negro como uma maneira de mostrar como se entrelaçam os três tipos, porém ela está presente em todos os segmentos da comunidade.

Combater a violência doméstica é um desafio social, visto que a mesma não se apresenta de uma única forma, mas se manifesta das formas mais variadas possíveis. Portanto a violência se revela de diversas formas e tendo destaques os direitos de minorias que vem ganhando espaço de discussão.

No início do século XXI, em que se tinha a esperança de que a sociedade estaria tão evoluída a ponto de conviver em harmonia e paz, o que se ver é o aumento do número de violência contra a mulher.

Apesar de a sociedade ter evoluído e a legislação, também, não resta dúvidas de que estamos em pleno século XXI. Com os resquícios de um período totalmente patriarcal. A mulher assumiu maior autonomia social, mas não se pode desprender de uma história não tão distante. Não tem como apagar da mente das pessoas atitudes tidas como corretas antigamente e que ainda são reproduzidas com muita naturalidade.

E a mulher por estar dizendo “não” sofre os diversos tipos de violência que atinge a sua integridade mental e física.

Avisão no qual o sexo feminino deveria ser domado não só pelo marido, mas também pela sociedade, pela religião, através da educação, perpassava de pais para filhos, o que deveria contribuir para que a mulher viesse a cumprir o seu destino ao qual estariam naturalmente determinadas, ou seja, casar, ser “mulher” e cuidar dos filhos. A partir desse sentimento que desvaloriza a mulher, causando vergonha e culpa, dificultam a punição do agressor, fazendo com que a vítima se negue a denunciar, ou o agressor negue a acusação ou diga-se arrependido pelo que fez, voltando a conviver com a vítima violentando-a.

A consequência da violência doméstica acaba afetando pessoas na sociedade em geral, que por ser doméstica englobam a família, sendo essas também vitimas ou testemunha de uma violência que ocorre com a mãe ou irmãos dentro de casa, afetando também as pessoas que compõe essa família, tornando-as frustradas em suas perspectivas de vida.

Sendo assim, a própria sociedade de forma preconceituosa internalizou a ideia de que a violência contra a mulher é algo normal ou

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que a mulher é a responsável por ser agredida, conforme palavras de Dias (2012, p.18):

Ditados populares, com aparente natureza jacosa acabam por absolver e naturalizar a violência doméstica: “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”, “ele pode não saber porque bate, mas ela sabe porque apanha”. Esses e outros ditos, repetidos como brincadeira, sempre esconderam certa conivência da sociedade para com a violência contra a mulher. Talvez o mais terrível deles seja: “mulher gosta de apanhar”. Trata-se de uma ideia enganosa, certamente gerada pela dificuldade que a vítima tem de denunciar seu agressor”.

Dessa forma, a sociedade considera natural a violência contra a mulher e que muitas vezes presenciam a violência, mas não interferem por não querer atrapalhar a “vida do casal”. E conforme as palavras da autora as pessoas não conseguem compreender o porquê da mulher mesmo sofrendo violência doméstica se submeter a essa situação.

Entende-se, assim, que as vezes essas vítimas se expõe à situação com medo de denunciar o agressor, pois geralmente mora no mesmo teto, ou muitas vezes não tem para onde ir. Por esses e outros motivos as mulheres aceitam tais agressões e se submetem aos desmandos e as humilhações do companheiro.

Por isso a culpa de tais violências presentes socialmente não é só do infrator, mas antes de tudo da própria sociedade conforme palavras da Dias (2012, p.18):

Ninguém duvida que a violência sofrida pela mulher não é exclusivamente de responsabilidade do agressor. A sociedade ainda cultiva valores que incentivam a violência, o que impõe a necessidade de se tomar consciência de que a culpa é de todos. O fundamento é cultural e decorre da desigualdade no exercício do poder que leva a uma relação de dominante e dominado. O processo de naturalização é feito a partir da dissimulação, utilizada com o intuito de tornar invisível a violência conjugal [...].

Então o reflexo de uma cultura machista que chega à mente das pessoas sempre prevalecendo a ideia de dominador e dominado, e pelo fato da própria sociedade entender como perfeitamente aceitável a violência contra o gênero feminino, pois se entende que a mulher deve

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obediência ao homem e não poderá desafiá-lo e se isso acontecer o marido deverá proteger sua honra.

Todavia, existia um padrão de família à época. Os homens deveriam possuir autoridade e poder sobre as mulheres, além da responsabilidade para com a mantença da casa e da família.

Às mulheres, idealizadas e femininas, a partir de papéis femininos tradicionais, caberiam as ocupações domésticas e o cuidado para com os filhos e com o marido. Assim, concretizava-se uma sociedade que valorizava as experiências sexuais masculinas e a restrição à sexualidade feminina aos parâmetros do casamento convencional.

Dessa maneira, o círculo da violência vai sendo transmitido ao longo do tempo e o mais triste não é o fato de ocorrer a violência, mas de se aceitar tais ações em uma sociedade que busca igualdade, mas o que se ver é que ainda está distante disso.

Como bem menciona Dias (2012, p.20):

Nesse contexto é que surge a violência, justificada como forma de compensar possíveis falhas no cumprimento ideal dos papéis de gênero. Quando um não está satisfeito com a atuação do outro, surge a guerra dos sexos. Cada um usa suas armas: ele, os músculos; ela, as lágrimas. A mulher, por evidente, leva a pior e se torna vítima da violência masculina.

Sendo assim, a sociedade entende de uma forma geral que os papeis já estão pré-definidos e todos aqueles que violam isso poderá ter essas atitudes coibidas sem nada poder dizer ou fazer.

Por isso, Dias chama a atenção para o fato de que cada um usa as armas que estão ao seu alcance no momento da violência e é bem visível que a força física é o que mais torna a mulher em situação de vulnerabilidade, pois se encontra em situação biologicamente inferior. Assim, só resta a tristeza e o choro como acompanhantes nessa situação.

E a violência vai ultrapassando fronteiras, machucando e violando a paz e o sossego de mulheres que se veem diante de situação de violência. Do mesmo modo, a sensação de posse e a consequente sensação de perda fazem com que aconteçam diversos tipos de distúrbios, como bem esclarece Bowlby (1982, p.120):

[...] por uma questão de conveniência, designo como teoria da ligação, é o modo de conceituar a propensão dos seres humanos a estabelecerem fortes vínculos afetivos com alguns outros, e de explicar as múltiplas formas de consternação

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emocional e perturbação da personalidade, incluindo a ansiedade, raiva, depressão e desligamento emocional, a que a separação e perda involuntárias dão origem.

O que se percebe é o grande número de casais que se separam e uma das partes não aceitam a separação. A psicologia entende através da teoria da ligação, como um fator que faz com que não se aceite com facilidade o divórcio e isso gera no indivíduo insatisfeito um sentimento de vingança, raiva do cônjuge que não aceita mais permanece ao seu lado.

Isso gera perturbações ao ponto de cometer assassinatos e por vezes o próprio suicídio, pois não se veem vivendo em um mundo sem a companhia do outro. Assim, a psicologia tenta entender o comportamento desses infratores que cometem esses tipos de delitos passionais. Pois como se sabe, a mulher quando não deseja a separação, tem comportamentos depressivos, mas por não ter força compatível com a do homem, na maioria das vezes, aguenta calada ou reage através de atitudes verbais.

De acordo com as estatísticas, a violência doméstica é uma constante dentro de nossa sociedade, sendo capaz de revelar a impunidade desses crimes. Mesmo com os mais variados avanços tecnológico vivemos tempos primitivos em certos aspectos.

Para Cavalcanti (2005, p.58) por haver certa discriminação ou uma diferença entre os sexos: “induzem relações violentas entre os sexos e indicam que a prática desse tipo de violência não é fruto da natureza, mas sim do processo de socialização das pessoas”.

As maneiras de revelação da violência contra a mulher estão contidas expressamente na Lei Maria da Penha. Esta lei além de trazer um leque das diversas formas de violência contra a mulher, ampliou as condutas consideradas violências, trazendo as diversas formas em que podem se manifestar a conduta delituosa.

Mas antes de se tratar das formas de violência doméstica é preciso definir o conceito de entidade familiar, local onde a mulher está mais propícia a ser vítima de violência. A Lei Maria da Pena em seu art. 5º, II , conceitua família:

Art. 5º - Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: [...]

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II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa. Então a lei inovou ao trazer ao âmbito da legislação infraconstitucional, a ideia que a família não é constituída por imposição legal, mas por vontade de seus próprios membros familiares.

Sendo que pela primeira vez uma lei define o que é família, iniciativa que nem mesmo o Código Civil buscou fazer. Além disto a Lei fez de forma corajosa. O conceito corresponde ao formato atual dos vínculos familiares que tem por elemento identificador o elemento afetivo de sua origem.

Cabe ressaltar conforme Dias (2015, p. 53) família ainda abrange os casos de tutela ou de curatela:

Apesar do silêncio da Lei, não há como excluir do conceito de unidade familiar a convivência decorrente da tutela ou da curatela. Ainda que o tutor e o curador não tenham vínculo de parentesco com a tutelada ou curatelada, a relação entre eles permite ser identificada como um espaço de convivência.

De um modo geral existe uma verticalização de poder nestas relações, e a ocorrência de violência pode ser qualificada como violência doméstica.

Então a iniciativa do poder público ao criar a Lei Maria da Penha foi justa, visto que a mulher vítima de violência fica em uma situação complicada e delicada junto à sua família, ao agressor e especialmente diante da sociedade. Esta violência muitas vezes a mulher se permite sofrer silenciosamente em virtude da relação de dependência financeira que tem com seu marido.

Cinco são as formas de violência domestica mencionada expressamente na Lei 11.340/06: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Estas formas são meramente exemplificativo, visto que o dispositivo previsto no art.7º da Lei faz menção a expressão “entre outras”:

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e

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diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularizarão, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Observa-se, que a violência contra a mulher ocorre de diferentes formas, deixando sempre em suas vítimas algum tipo de consequência. Essa problemática cresce frequentemente no Brasil apresentam atualmente números bastante significativos que necessitam ser reduzidos.

Desse modo, requer a prudência por parte daqueles que farão o atendimento a mulher, principalmente dos Juízes e Promotores, na definição do que seja a violência, considerando que qualquer ato que viole a integridade física, sexual, psicológica, moral ou patrimonial da mulher, teoricamente, já estaria sujeito a prescrição da Lei Maria da Penha.

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Conforme observado nem todas as espécies de violência contra a mulher enumerados na Lei Maria da Penha se trata de agressão física. O que se percebe é que a referida lei ao mesmo tempo em que restringe o conceito de violência doméstica e familiar contar a mulher, igualmente o amplia.

Para Bianchini (2014, p. 47) a restrição se dar por nem toda violência contra a mulher encontrar-se prevista na Lei Maria da Penha:

A restrição decorre do fato de que nem toda violência doméstica contra mulher encontra-se abrangida no âmbito de proteção da Lei Maria da Penha (somente a baseada no gênero e desde que praticada no contexto doméstico ou familiar ou em uma relação íntima de afeto).

Para a mesma autora a “ampliação, por seu lado, dá-se em relação ao sentido da palavra violência, o qual é utilizado para além daquele estabelecido no campo do direito penal.

A violência contra a mulher é qualquer ato violento que tenha como sua determinação o gênero, sendo que tais atos podem resultar em danos corporais, sexuais e psicológicos graves para a mulher e até mesmo, às vezes, a sua morte.

Cavalcanti (2007, p.63) menciona que as agressões físicas são a principal foram de manifestação da violência doméstica do Brasil, algo em torno de 54%, seguidas da violência psicológica, em torno de 24%, violência moral, que chega a 14% e a sexual em torno de 7%. Demonstrando ainda que a violência contra a mulher não é algo isolado ou esporádico, visto que 50% das vítimas de violência doméstica que denunciam seus companheiros, já foram agredidas no mínimo quatro vezes antes de denunciarem.

As cinco formas de violência mencionadas no art. 7º, como dito anteriormente, são meramente exemplificativos, podemos portanto incluir outras que não seja mencionada no mesmo artigo.

Tratando das formas de violência a primeira a ser abordada será a violência física, visto ser ela um tipo de violência de que fragiliza também o psicológico da mulher é a mais comum denunciada pelas mulheres e quem o maior número de vítimas.

Violência física é o uso da força, mediante socos, tapas, pontapés, empurrões, arremesso de objetos, queimaduras etc, visando, desse modo, ofender a integridade ou a saúde corporal da vítima, deixando ou não marcas aparentes, naquilo que se denomina tradicionalmente, vis corporalis, expressão que define a violência física.

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Para Biachini (2014, p.49) a violência física é “toda ofensa à integridade física e corporal praticada com emprego de força” que o objetive causar dor à alguém, desde o mais simples gesto buscando apenas a repreensão, até os mais graves, buscando lesões corporais ou mesmo o espancamento fatal.

Madeira (1996, p. 154) apresenta alguns fatores que demonstram que o sexo feminino é o mais propício a ser vítima de violência física.

Pertencer à categoria do sexo feminino constitui um handicap no terreno da violência. Primeiro porque a mulher, em média, tem menos força física que o homem. Segundo porque, embora a mulher, via de regra, revide a agressão ou tente se defender dela de outras formas, estes atos são malvistos pela sociedade, que só legitima a violência praticada por homens. Terceiro a mulher apresenta uma especificidade corporal, que culturalmente elaborada, a torna presa facial daquele que também em virtude da cultura transformou o pênis de órgão penetrante em instrumento perfurante.

Então os fatores apresentados demonstram que fisicamente a mulher está mais vulnerável ao homem, mas isto não justifica qualquer ato de violência física que aquela venha a sofrer em decorrência desta fragilidade.

Outra espécie de violência que a mulher vem a sofre é a violência psicológica também chamada de agressão emocional, se caracteriza por não deixar marcas no corpo, mas sim por deixar marcas emocionais tão profundas que muitas vezes podem ser até mais prejudiciais que as físicas.

Quanto a violência psicológica, se observa que a vítima ao invés de buscar ajuda para sua situação, prefere se isolar e sofrer sozinha. E o agressor procura isolar a mulher do convívio social, Maria da Penha Fernandes em seu livro Sobrevivi retrata, o que milhares de mulheres que são vítimas de violência sofrem com seus companheiros, aduz Fernandes (2014, p. 72 -73):

A persistência de Marcos em isolar-me prosseguia. Tanto que, quando o meu regresso de Brasília estava próximo, proibiu-me terminantemente de avisar, a quem quer que fosse o dia de minha chegada em Fortaleza. Ainda mais ameaçou-me de que, se encontrasse alguém da minha família no aeroporto, ele saberia como

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tratar. Diante destas proibições, que praticamente eliminavam minha convivência com outras pessoas e especialmente meus familiares.

O agressor busca com o isolamento da mulher o controle da situação, evitando denúncias e provocando uma dependência desta com o agressor.

Dias (2015, p.27) afirma que com a violência psicológica “O homem não odeia a mulher, odeia si mesmo”. Ele procura submeter à mulher à sua vontade, assim busca destruir sua autoestima. Críticas constantes que levam a mulher a acreditar que tudo o que faz é errado, de nada entende, não sabe se vestir nem se comportar socialmente. É induzida a acreditar que não tem capacidade para administrar uma casa e nem cuidar dos filhos.

A violência psicológica é um conceito impróprio de violência, pois tradicionalmente o que aqui se denomina violência psicológica é a grave ameaça, a vis compulsiva. Ser ameaçada de agressão física. Ser impedida de sair, de ter amizades, de telefonar, de conversar com outras pessoas. Ser obrigada a ouvir sobre as aventuras amorosas dele. Ser proibida de se maquiar, se arrumar, cortar o cabelo e usar a roupa que deseja. Ser ameaçada de morte ou suicídio ao querer denunciar. Estas são formas de violência psicológica. A violência psicológica também designada como tortura psicológica ocorre quando um homem constantemente deprecia a mulher, bloqueia seus esforços de auto-aceitação, causando-lhe grande sofrimento mental. Ameaças de abandono também podem tornar uma mulher medrosa e ansiosa, representando formas de sofrimento psicológico.

Uma das principais consequências psicológicas, decorrente dos transtornos sofridos, é o sentimento de tristeza que influenciam no cumprimento de suas atividades. Há, também, a agressividade, na qual prejudica assim o seu convívio com amigos e familiares. Poderemos citar também o comprometimento da saúde mental, na apresentação de distúrbios na habilidade de comunicação com os desafios encontrados: sentimentos de insegurança nas decisões diante das soluções a serem desempenhadas.

O homem sempre atribui à culpa a mulher. Tenta justificar seu descontrole na conduta dela. Alega que foi a vítima que começou, pois não faz nada correto, não faz o que ele manda.

Portanto a violência psicológica consiste em uma agressão emocional, que acaba sendo tão grave quanto a violência física. O comportamento se dar de diversas formas, quando o agente ameaça,

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rejeita, humilha e até discrimina a vítima. Demonstra prazer quando faz a vítima se sentir amedrontada, inferiorizada e diminuída.

Portanto este tipo de violência não gera danos físicos em regra, mas provoca dores e danos na alma. Por isto suas consequências são mais gravosas que as demais espécies de violência descritas no art. 7º da Lei 11.340/2006.

Dias (2015, p. 73) retrata o dilema sofrido por uma mulher vítima de violência psicológica e suas consequências.

Muitos companheiros se utilizam de xingamentos, palavras depreciativas para reduzir sua companheira a condição inferior, enquanto ele se coloca em um patamar de superioridade. O descaso e a prática de brincadeiras que rompem a fronteira do respeito e instalam uma particular ou generalizada sensação de incompetência pessoal a quem escuta apelidos, chacotas, “tiradas de sarro”, bem como pressionar algum a deslocar sua emoção saudável para canais inadequados, por exemplo, comer, ou beber demais, usar drogas. Muitos companheiros se utilizam de xingamentos, palavras depreciativas para reduzir sua companheira a condição inferior, enquanto ele se coloca em um patamar de superioridade.

Conforme visto a violência psicológica acaba com a autoestima da mulher, trazendo problemas de órbita emocional tão grande que a mesma acaba se tornando uma pessoa sem expectativa, depressiva e antissocial.

Por mais absurdo que seja, às vezes o agressor não tem a noção que está praticando violência contra sua companheira e nem a mesma tem a noção de que está sendo vítima. Ser fruto de uma sociedade patriarcal traz muitas consequências e uma delas é o homem que a ele tudo é permito e a mulher nada se é permitido sem o consentimento do homem.

Biachini (2014, p.50) afirma que nem sempre as vítimas de violência psicológica conseguem identificar que são vítimas dessa espécie de violência:

Em pesquisa realiza entre os anos de 2000 e 2001, a partir do atendimento feito a vítimas de crime no Centro de atendimento a Vítimas de Crime (CEVIC), em Florianópolis-SC, constatou-se que as formas de violência psicológica doméstica nem sempre são identificáveis pela vítima.

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Rovinski (2004, p.07) explica o que vem a caracterizar a violência psicológica, prevista no inciso II da Lei, da seguinte forma:

Na violência psicológica, encontramos as frequentes desvalorizações, críticas e humilhações, gestos de ameaça, condutas de restrições quanto à vida pública, de condutas destrutivas frente a objetos valor econômico ou afetivo e a animais de estimação.

O que se observa é que tanto o homem quanto a mulher apresentam dificuldades em distinguir a violência psicológica no meio familiar.

A violência sexual é a forma de violência que mais causa revolta na sociedade em geral, pois o incesto é a forma mais extrema de abuso sexual, e também porque o ato sexual forçado pode causar tanto lesões físicas como psicológicas à vítima.

De acordo com Cavalcanti (2007, p. 55), violência sexual é: Qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, manter ou participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. O abuso sexual, que é o ato pelo qual se obriga alguém a praticar atos libidinosos de diversas naturezas, podendo ser homossexual ou heterossexual. Este tipo de violência traz diversas consequências à saúde da mulher.

A violência patrimonial se caracteriza quando o agente usa de meios financeiros para atingir a vítima, podendo ocorrer pela ação ou omissão.

Quando há uma dependência financeira da mulher em relação ao homem, seja pelo fato de ter se submetido à proibição de trabalhar imposta por ele, ou mesmo pela dificuldade ou comodidade de não ter um emprego, esta se torna obrigada a recorrer ao marido, sempre que necessitar de dinheiro, situação que favorece a violência, pois, em

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muitos casos, o homem utiliza seu poder econômico como forma de ameaçá-la e humilhá-la.

Com maestria, Hermman (2007, p.114) conceitua o que vem a ser violência patrimonial, a qual está prevista no inciso III, e quais os bens que estão inseridos no rol de violação:

O inciso insere no contexto do patrimônio não apenas os bens de relevância patrimonial e econômica financeira direta (como direitos, valores e recursos econômicos), mas também aqueles de importância pessoal (objetos de valor efetivo ou de uso pessoal), profissional (instrumentos de trabalho), necessários ao pleno exercício da vida civil (documentos pessoais) e indispensáveis à digna satisfação das necessidades vitais (rendimentos). A violência patrimonial é forma de manipulação para a subtração da liberdade à mulher vitimada. Consiste na negação peremptória do agressor em entregar à vítima seus bens, valores, pertences e documentos, especialmente quando esta toma a iniciativa de romper a relação violenta, como forma de vingança ou até como subterfúgio para obrigá-la a permanecer no relacionamento da qual pretende se retirar.

A violência patrimonial é, portanto qualquer conduta que configure a retenção, subtração, a destruição parcial ou total de qualquer objeto, instrumento ou documento pessoal ou que tenha valor econômico da vítima.

Dias (2015, p. 77) reconhece a omissão do dever de alimentar como sendo um ato de violência patrimonial:

Identificada como violência patrimonial a subtração de valores, direitos e recursos econômicos destinados a satisfazer as necessidades da mulher, neste conceito se encaixa o não pagamento de alimentos. Deixar o alimentante de atender a obrigação alimentar, quando dispõe de condições econômicas, além de violação patrimonial, a omissão tipifica o delito de abandono material.

Na vida conjugal este tipo de violência ocorre quando o homem é o que mantem financeiramente a casa e se utiliza desta situação para constranger e humilhar a mulher.

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Na violência moral é uma afronta a autoestima da mulher e ao reconhecimento social, visto atribuir a mesma fatos mentirosos ou palavras que atinjam sua honra subjetiva. É importante destacar que diante da internet e redes sociais este é um tipo de violência que vem crescendo, ofensas são divulgadas em espaços virtuais de forma instantânea e de difícil comprovação e combate.

Independentemente, de qual seja a forma de violência praticada, se física, moral, sexual, patrimonial, psicológica, a vítima sempre terá transtorno. Isto muda a vida da mulher, ela se sente inferiorizada, com vergonha de sua situação, tem medo de se relacionar com outras pessoas, o que poderá ocasionar sérios transtornos psicológicos.

A concepção de família e lar, onde deveria ser um local de conforto, paz, segurança, se torna um ambiente de guerra e transtornos, no qual a mulher se vive amedrontada, humilhada e como escrava do lar de do marido.

Nesse contexto, a violência doméstica apresenta-se como um tipo de violência da mais desumana que o sujeito pode cometer contra o outro, pois é algo que acontece dentro do lar, que configura o local onde o sujeito tem suas primeiras experiências afetivas, é no lar que se inicia a formação da personalidade, então ele deveria ser um local seguro de amor, afeto, amparo e respeito.

Porém, é também no seio familiar que, infelizmente começamos a identificar a desigualdade existente entre os membros da família, é onde se iniciam as diferentes manifestações de violência, das mais sutis as mais severas. É no lar que o ser humano tem sua primeira experiência com a violência, violência esta que reproduz ao longo do ciclo da vida.

No próprio seio familiar a educação ocorre de modo diferenciado. Enquanto o menino deve aprender a ser forte, corajoso, calculista e frio, a menina é incentivada a ser frágil, doce e sentimental. Tal afirmativa fica clara nas brincadeiras, onde o menino é incentivado a ser racional, normalmente recebendo bolas para jogos de futebol, o que favorece a competitividade e a agressividade de disputas; bonecos que simbolizam super-heróis dotados poderes inimagináveis; dentre outros tipos de brinquedos cuja essência sempre remete à força física e sobrepujo. A menina, em contrapartida recebe bonecas, jogos de cozinha, jogos e brinquedos que assinalam características passivas e maternas, que durante longo período, acreditava-se biologicamente ser naturalmente inerente à mulher.

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