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Apostila Fontes e Hermeneutica Direito do Trabalho

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Academic year: 2021

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1 CURSO DIREITO

Disciplina: DIREITO DO TRABALHO - 3ª Série Professor: FLAVIO ERVINO SCHMIDT

APOSTILA FONTES E HERMENÊUTICA DO DIREITO DO TRABALHO

DIREITO DO TRABALHO

Sumário:

3. AS FONTES DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL 3.1 As espécies de fontes do direito do trabalho 3.1.1 Fontes Diretas

3.1.2 Fontes Auxiliares 3.2 HIERARQUIA DAS FONTES

3.2.1 Princípio da hierarquia dinâmica das normas 3.2.2 Derrogação ao Princípio da Norma mais Favorável

3.3 ENUMERAÇÃO DAS FONTES FORMAIS DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL E SUA HIERARQUIA 3.4 A VALIDADE DAS NORMAS JURÍDICAS DE DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL

3.5 HERMENÊUTICA APLICADA AO DIREITO DO TRABALHO

3. AS FONTES DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL A autonomia do direito do trabalho

O Direito, enquanto um sistema normativo, constitui um todo unitário, tendo em vista que as normas jurídicas estão estreitamente vinculadas por relações de coordenação e de subordinação. Contudo, tanto por exigências científicas como por razões práticas impostas pela necessidade da divisão do trabalho, a grande massa de normas que constituem uma ordem jurídica qualquer tem sido classificada em diversos setores ou ramos.

A ordenação do Direito em múltiplos ramos se dá, principalmente, em consideração ao distinto caráter das relações sociais regidas pelas normas jurídicas, ou seja, pelo diferente caráter de conteúdo das normas. Não é possível estabelecer limites precisos entre os diversos ramos do Direito, pois, na realidade, há uma zona comum nas suas fronteiras, que abarca elementos integrantes de ambos os campos limítrofes e que será mais ou menos ampla, segundo os ramos de que se trate.

Essa distribuição do Direito Positivo em distintos setores, como é lógico, deu origem às respectivas Ciências Jurídicas que estudam em particular um determinado setor dessa realidade jurídica. Assim, quando se menciona o ramo do Direito denominado Direito do Trabalho se está fazendo referência do Direito do Trabalho-Norma ou Direito do Trabalho propriamente dito, que deve ser diferenciado do Direito do Trabalho-Ciência ou Ciência do Direito do Trabalho, que é um ramo da Dogmática Jurídica ou Ciência Dogmática do Direito, voltado para o estudo científico do Direito do Trabalho.

Pode-se dizer que se formou um setor ou ramo do Direito, quando esse setor do Direito adquiriu autonomia científica, autonomia didática e autonomia legislativa. A autonomia científica existe quando a disciplina em questão busca fundamento em um setor da realidade jurídica que tem caracteres próprios e esteja submetido a princípios e normas mais ou menos diferentes dos demais setores. Por sua

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2 vez, a autonomia didática de um ramo do Direito consiste na existência de cátedras destinadas ao ensino dessa matéria e a autonomia legislativa existe quando há abundante legislação referente a um setor do Direito Positivo e, especialmente, se as normas estão codificadas.

Por atender a todas essas características, o Direito do Trabalho é um ramo autônomo do Direito.

3.1 As espécies de fontes do direito do trabalho

Sendo o Direito um todo unitário, ao relacionar as fontes do Direito, o fizemos quanto a qualquer que seja o ramo, inclusive o Direito do Trabalho. Assim, salientamos que tudo aquilo que já estudamos sobre as fontes do Direito aplica-se também ao Direito do Trabalho, salvo algumas peculiaridades que iremos anotar.

A expressão fonte do Direito é uma metáfora adequadamente utilizada para indicar de onde surgiu uma norma jurídica.

3.1.1 Fontes Diretas Fontes Materiais

As Fontes Materiais ou Reais dão substância à regra jurídica. Condizem com o conhecimento e a criação da norma jurídica. Proporcionam ao legislador os elementos para a transformação da ordem jurídica. O fato social é a fonte das fontes.

As “necessidades coletivas”, em número de três, são as fontes materiais do Direito do Trabalho: a) A necessidade de proteção tutelar

É preciso equilibrar a relação empregado/patrão com intervenção estatal nessa relação.

b) A necessidade da organização profissional. É decorrente da auto-tutela (normas jurídicas autônomas). O Estado age impondo normas de coordenação, que possibilitam a empregados e empregadores um grau de emancipação das partes interessadas, o que resulta na igualdade de contratar.

c) A necessidade de colaboração. É decorrente da necessidade de encontrar nova forma de convivência (Estado, patrões e empregados) e de enfrentar problemas graves como o desemprego e a superprodução. Na falta de colaboração, discute-se a criação de uma nova estrutura social, em que cada uma das facções tem uma missão a cumprir. Ex.: OIT e Ministério do Trabalho mediador = Justiça do Trabalho mediadora.

Fontes Formais

São as normas jurídicas propriamente ditas, obrigatórias e predeterminadas. As fontes formais condizem com a aplicação das normas jurídicas.

a) Fontes Primárias ou Autônomas

São a vontade dos sujeitos individuais da relação de emprego, livre de contingências exteriores. Assumem a feição de fonte singular, pois nenhuma outra fonte formal se iguala a ela em autenticidade. Ex.: Convenção ou Acordo Coletivo.

b) Fontes Estatais ou Heterônomas

São aquelas que originam a norma jurídica de fora para dentro, em relação à vontade individual dos sujeitos da relação de trabalho, daí serem providos de império capaz de submetê-la (a relação de

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3 trabalho) à sua disciplina. Assumem a feição de fonte plural, de acordo com o organismo gerador da norma imperativa.

Fontes formais em espécie a) Constituição Federal

• art. 7º e incisos (direitos e garantias mínimos); • art. 8º e incisos (atividade sindical);

• art. 9º e parágrafos (direito de greve);

• art. 10 (participação paritária em órgãos colegiados);

• art. 11 (representação nas empresas com mais de 200 empregados); • art. 10 das ADCT.

Observação: existem normas sem aplicação imediata (art. 7º, XXI) e normas programáticas (ar. 1º, C.F.), sem virtualidade jurídica, traçando apenas linhas diretoras para orientação do poder público; b) Leis Complementares

Exemplos de leis complementares pertinentes com o Direito do Trabalho: lei referida no artigo 7º, I, da CF.

c) Tratados Internacionais

Exemplos de tratados internacionais: as convenções da Organização Internacional do Trabalho e o Tratado Brasil/Paraguai sobre a construção da barragem de Itaipu.

As convenções da OIT são instrumentos expressamente destinados a criar obrigações internacionais, com valor de tratado multilateral. Dependendo do País precisa ou não ser ratificado. Na França é automática a vigência interna.

A Convenção exige uma votação 2/3 na Assembleia da OIT. Sobre a validade dos tratados internacionais no ordenamento jurídico brasileiro, veja o art. 5º § 2º c/c 49, I, da CF.

Quando os participantes da Conferência Internacional da OIT concluem que não haverá ratificação em número importante, optam pela recomendação em lugar da convenção. As recomendações são votadas da mesma forma das convenções, mas não se transformam necessariamente em lei interna do Estado-Membro. Tomando conhecimento da recomendação, os Estados-Membros passam a considerá-la, desejando que ela se materialize dentro de suas fronteiras.

As resoluções da OIT consistem em proposições adotadas por maioria simples, sem qualquer caráter obrigatório, quando verificado que o número de ratificações não seria expressivo.

d) CLT

A CLT seria o nosso Código de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho.

Ela regula tanto o direito material como o processual, bem como a organização e o funcionamento da Justiça do Trabalho e dos sindicatos.

e) Legislação não Consolidada

A legislação não consolidada, que também é fonte formal de produção estatal, compõe-se de leis e regulamentos (decretos) que, por vários motivos, entrosam-se com o texto consolidado, em razão da especialidade ou mesmo por preguiça do legislador que não quer ter o trabalho de sistematizar a matéria dentro da CLT.

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4 f) Portarias Ministeriais.

Em razão da dinamicidade do Direito do Trabalho, que deve seguir imediatamente as evoluções dos fatos sociais, é comum a lei trabalhista delegar poderes ao Ministro do Trabalho ou pastas afins para regulamentação das condições de trabalho, como no campo da medicina e segurança do Trabalho. Ex.: art. 71 § 3º; art. 74; art. 163, Parágrafo Único; art. 168 caput; art. 200; todos da CLT.

g) Convenção e Acordo Coletivo de Condições de Trabalho

São fontes formais de produção profissional. A convenção coletiva é uma regulamentação prévia de condições de trabalho, estabelecida, por acordo, entre grupos organizados de empregadores e de empregados. Tendo por objeto a delimitação da esfera dentro da qual se celebram os contratos individuais de trabalho.

A convenção coletiva de trabalho é o instrumento normativo firmada entre entidades sindicais, enquanto o acordo coletivo pressupõe uma ou mais entidades sindicais de um lado e uma ou mais empresas de outro.

A convenção coletiva ajusta-se com o fim de regulamentar as condições em que devem trabalhar os membros do grupo organizado de trabalhadores, ou de todos que pertençam a uma categoria profissional.

Salvo para melhorar a situação do empregado, as condições de trabalho previstas na convenção coletiva são inderrogáveis pelo acordo de vontade das partes que celebram contrato individual de trabalho sob sua jurisdição. Seus preceitos são irredutíveis, impondo-se irresistivelmente aos indivíduos, como disposições contratuais imperativas.

A convenção ou o acordo coletivo de trabalho alcança a todos os trabalhadores da categoria profissional de que o sindicato é representante na base territorial (CF art. 8°, III), mesmo os não associados. (falar sobre categoria diferenciada - OJ 55 da SDI 1 TST)

A convenção coletiva vige por prazo determinado e as suas cláusulas não se incorporam ao contrato individual de emprego, salvo previsão em contrário nela própria.

Mesmo que a convenção coletiva regule aspectos de uma relação individual de emprego, ela não suprime o contrato individual de trabalho. Sempre que for advogar, procure conhecer a Convenção Coletiva da categoria respectiva e não deixe de juntá-la com a inicial ou defesa quando pertinente ao caso. (art.7º, XXVI e art. 8º, III, ambos da C.F., bem como os art. 513, b, e 611 da CLT).

h) Regulamento de Empresa

Será fonte formal de produção profissional quando elaborado em conjunto com os trabalhadores. O regulamento geralmente faz a aplicação individualizada de outras fontes imperativas no âmbito da empresa, determinando, de maneira justa e uniforme, as condições de trabalho, com o objetivo de encontrar uma solução de consenso para os conflitos na empresa.

i) Sentença Normativa

É fonte formal de produção mista, porque resulta da vontade das partes, delimitada pela atuação do Estado através do Poder Judiciário. Segundo Orlando e Élson. “Trata-se de um direito estatal ou judiciário na sua forma e profissional na sua base".

j) Contrato individual de emprego

No Brasil o contrato é fonte de direito entre as partes. l) Convenção-Lei

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5 Segundo Orlando e Elson: é a convenção coletiva do tipo ordinário estendida por ato do Poder Executivo (Ministro do Trabalho) a toda a categoria profissional. Ex: México, França, Alemanha. É fonte formal de produção mista porque tem a intervenção estatal. A nossa convenção-lei, a grosso-modo, seria a extensão das decisões proferidas em dissídio coletivo. Ver art. 868/871CLT.

Subclassificação das Fontes Formais

a) Internacionais - emanam de organismos internacionais, como por exemplo, a OIT que edita convenções, recomendações e resoluções aplicáveis no Brasil se ratificadas.

b) Estatais - emanam da atividade normatizadora do Estado-Poder (Constituição, Leis Complementares, Leis Ordinárias, Delegadas, Medidas Provisórias, Decretos Legislativos e Resoluções). Obs.: a competência legislativa em matéria de Direito do Trabalho é da União Federal (CF art. 22, I)

c) Profissionais - emanam da atividade normatizadora dos grupos interessados em desenhar seus padrões genéricos de conduta, irrecusavelmente refletíveis sobre o contrato individual de emprego. Ex.: a Convenção Coletiva, o Acordo Coletivo e o regulamento da Empresa (quando não unilateral) formam-se formam-sem a participação do Estado. Contrato Coletivo - art. 1º, § 1º, da Lei 8.542/92.

d) Mista - resulta da atividade conjugada e sucessiva das representações de segmentos profissionais e econômicos e do Estado por seu Poder Judiciário. Materializa-se na sentença normativa uma singularidade do Direito Processual do Trabalho, consubstanciada na competência normativa dos tribunais trabalhistas, ou seja, a atribuição para legislar sobre condições de trabalho (CF art. 114, §2º).

3.1.2 Fontes Auxiliares

a) Doutrina - é o conjunto de soluções jurídicas contidas nas obras dos jurisconsultos sobre determinadas matérias jurídicas.

b) Jurisprudência - é o conjunto de pronunciamentos por parte do mesmo Poder Judiciário, num determinado sentido, a respeito de certo objeto, de modo constante, reiterado e pacífico.

c) Analogia - é a operação lógica em virtude da qual o intérprete estende o dispositivo da lei a casos por ela não previstos (no caso de aplicação analógica é fonte de direito e no caso de interpretação analógica é forma de integração do direito). Exemplos de interpretação analógica: art. 131, III, CLT (antes da edição do art. 131, II), referente aos casos de suspensão do contrato de emprego não previstos como não redutores das férias. Vide art. 121 do Código Penal. Exemplos de aplicação analógica: art. 238, § 3º da CLT c/c Enunciado 90/TST e art. 72 c/c Enunciado 346/TST.

d) Equidade - é a justiça do juiz, em contraposição à lei, justiça do legislador. Exemplo: julgamento de dissídio coletivo e art. 852-I, § 1°, da CLT (Lei n° 9.956 de 12/01/2000 – “o juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais e as exigências do bem comum”.) para mostrar a equidade. "Equidade é a ideia do justo".

e) Usos e Costumes - são as práticas reiteradas de um certo grupo ou comunidade e que são aceitas por todos os seus componentes.

f) Princípios Gerais do Direito e Princípios Peculiares do Direito do Trabalho Ver Unidade 03 - onde esse conteúdo foi estudado.

* Entendendo que fonte formal de direito é aquela capaz de gerar direito subjetivo, permitindo ao indivíduo exigi-lo de outrem, inclusive com a proteção estatal se necessária. No Direito do Trabalho, por força do art. 8° da CLT, na falta de disposições legais ou contratuais, a jurisprudência, a analogia, os princípios gerais de direito e em especial do Direito do Trabalho, os usos e costumes, a equidade e o direito comparado, geram direitos subjetivos e, portanto, são fontes de direito. Além disso, servem à orientação

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6 da conduta do juiz na prestação da jurisdição, funcionando como fontes de interpretação e integração do Direito.

3.2 HIERARQUIA DAS FONTES

3.2.1 Princípio da hierarquia dinâmica das normas

Em razão da sua plurinormatividade, o Direito do Trabalho não acolhe o sistema clássico, mas sim o princípio da hierarquia dinâmica das normas, consistente na aplicação prioritária de uma norma fundamental que será a mais favorável ao trabalhador, salvo disposições estatais imperativas ou de ordem pública. Como corolário, segue-se que as condições mais benéficas aos trabalhadores são sempre preservadas, ainda que a norma jurídica posterior estabeleça condições menos favoráveis.

3.2.2 Derrogação ao Princípio da Norma mais Favorável

a) Leis proibitivas - vedando certa conduta, apesar de mais benéfica ao trabalhador - Ex: art. 7°, IV, CF.

b) Leis de ordem pública - cujo interesse protegido ultrapasse aos interesses dos trabalhadores. Ex.: não vinculação ao salário mínimo, não vinculação salarial na Administração Pública. Progressão vertical.

c) Critério da comparação entre as normas jurídicas do trabalho

A comparação entre duas regras jurídicas do trabalho deve ser feita levando-se em consideração a situação da coletividade interessada, e não a de um trabalhador isolado. Assim, a disposição de uma convenção coletiva, que trouxe prejuízo a um grupo de trabalhadores, seria nula, ainda que, pelas circunstâncias do caso, pudesse parecer vantajosa a um determinado trabalhador.

3.3 ENUMERAÇÃO DAS FONTES FORMAIS DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL E SUA HIERARQUIA

Relacionamos, abaixo, segundo os critérios estudados e de acordo com apanhado de dados feito no sistema jurídico brasileiro, as fontes formais do Direito do Trabalho neste país e a sua hierarquia:

1º plano - Constituição Federal e emendas à Constituição; 2º plano - lei-complementares à Constituição Federal;

3º plano - leis ordinárias, decretos legislativos, resoluções do Senado, medida provisória e decretos-leis ainda em vigor;

4º plano - atos destinados a regulamentar ou a tornar possível a fiel execução dos atos legislativos federais (instruções normativas, resoluções, portarias etc.);

5º plano - sentença normativa;

6º plano - acordos e convenções coletivas; 7º plano - regulamento de empresa e 8º plano - contrato de trabalho.

Agrupando as espécies acima, segundo os respectivos gêneros, nos termos do critério antes anotado, temos:

a) como fontes formais de origem estatal (e, portanto, heterônomas) comuns a todos os ramos do Direito: - Constituição Federal e emenda à Constituição; - lei-complementar à Constituição Federal; - lei

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7 ordinária, medida provisória, lei-delegada (federal), decreto-legislativo federal e resolução do Senado; e - atos administrativos destinados ao fiel cumprimento das leis federais (portarias, instruções normativas, resoluções etc.);

b) fonte formal de origem estatal (heterônoma, portanto) peculiar ao Direito do Trabalho: - sentença normativa;

c) fontes formais de origem autônoma peculiares ao Direito do Trabalho: - acordo coletivo; - convenção coletiva; e - regulamento de empresa;

d) fonte formal de origem mista: - contrato de trabalho.

As normas estaduais não integram o elenco supra, porque a Constituição Federal (art. 22, I) reserva para a União a competência privativa para legislar sobre Direito do Trabalho.

Devemos registrar, também, que a unanimidade dos doutrinadores brasileiros salienta que no Direito do Trabalho as normas de hierarquia inferior são aplicáveis em detrimento de normas de hierarquia superior, quando se trata de acrescentar direitos ou garantias para os trabalhadores.

Esta característica própria do Direito do Trabalho, aliás, é outra razão que, com aquela mencionada no item anterior, tem, a nosso ver, contribuído para a retração da oferta de empregos no Brasil.

3.4 A VALIDADE DAS NORMAS JURÍDICAS DE DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL

O sistema jurídico brasileiro é filiado ao tipo Romanista e, como tal, tem a lei em sentido estrito como fonte jurídica preferencial sobre todas as outras espécies; porque o Brasil tem como norma fundamental uma Constituição escrita; e porque esta Constituição escrita estabelece numerus clausus as espécies de atos legislativos no Brasil, do que decorre a existência de uma inarredável ordem hierárquica entre eles.

Em segundo lugar, a nosso ver, são somente esses atos legislativos enumerados taxativamente na Constituição brasileira que estão sendo respeitados e observados - via de regra, pois acabamos de citar o caso de desobediência do TST - pelos vários órgãos que têm a possibilidade fática de pôr em movimento o monopólio da força estatal no Brasil.

Por último, temos a certeza de que o povo brasileiro ainda não atingiu níveis de desenvolvimento educacional e de amadurecimento que lhe permitam abrir mão de reger-se mediante normas rígidas e bem definidas, que dificultem sua vulneração pelo mero arbítrio, o que só é possível através da lei stricto sensu.

Todavia, como vimos, o Judiciário trabalhista desmente essa orientação que traçamos, através do TST, que empresta à sua Jurisprudência contra legem a força superior à da lei e até mesmo à da Constituição Federal; e também através dos Tribunais Regionais do Trabalho e dos Juízos trabalhistas de primeiro grau de jurisdição, na medida em que estes ora rejeitam a aplicação da lei em favor de uma regra oriunda de orientação doutrinária ou da jurisprudência do TST, ora fazem sua própria jurisprudência, todas contra legem.

O que queremos dizer é que mantemos o nosso posicionamento, considerando que a doutrina e a jurisprudência não são - e não podem ser, pelo menos ainda - fontes formais (diretas) de Direito no Brasil.

Entretanto, registramos que um ramo isolado do Judiciário brasileiro - o Judiciário Trabalhista - tem dado demonstrações de que considera a doutrina e a jurisprudência fontes imediatas do Direito do Trabalho.

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3.5 HERMENÊUTICA APLICADA AO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

Hermenêutica é a ciência filosófica cujo objetivo é interpretar um objeto. Deriva do vocábulo grego hermeneuein, traduzindo-se como a filosofia da interpretação. Em se tratando de direito pode-se dizer que é a técnica que visa compreender a aplicabilidade de uma determinada norma jurídica.

No dizer de Gadamer a hermenêutica consistiria em um método cujo objetivo é tentar compreender as ciências humanas. Afirmando que a correta interpretação de um objeto está muito mais ligado à experiência humana do que propriamente à ciência.

No atinente a hermenêutica jurídica, Gadamer procedeu a um estudo com o objetivo de identificar a diferença entre a percepção de um historiador jurídico e um jurista frente a um texto, chegando a conclusão de que o jurista procura entender o sentido da lei a partir de um determinado caso concreto, enquanto que o historiador jurídico, não parte de um caso específico, porém, procura determinar o sentido da lei a partir da compreensão da totalidade do âmbito em que a lei pode ser aplicada.

Resumindo, no que pertine a hermenêutica jurídica pode-se dizer que é a ciência que estuda a sistematização dos métodos de interpretação, contendo em seu bojo a interpretação, integração e aplicação do Direito.

Diferença entre Hermenêutica e Interpretação: Interpretar significa determinar o sentido e o alcance da norma jurídica, ao passo que hermenêutica, como dito anteriormente é a ciência que tem por objeto o estudo dos sistemas aplicáveis para a determinação do sentido e alcance da norma jurídica.

Interpretação

Interpretar uma norma significa compreender o seu real significado e alcance, sendo as principais formas de norma jurídica são:

Autêntica – a forma de interpretação autêntica é aquela feita por quem criou a lei, ou seja, o mesmo órgão que editou a norma jurídica edita uma outra com a finalidade específica de esclarecer a norma anterior e até mesmo complementá-la.

Jurisprudencial – como o próprio nome deixa patente é a interpretação feita pelos tribunais por meio de decisões repetidas em casos semelhantes.

Doutrinária – Também esta não comporta qualquer dificuldade, uma vez que pelo nome, já se depreende ser aquela feita pelos estudiosos e pesquisadores do direito, a quem se denomina de juristas.

Gramatical ou literal - busca o sentido literal do texto normativo, utilizando-se de regras e métodos comuns da linguística. Este é o primeiro mecanismo de interpretação do texto legal.

Lógica – que também pode ser denominado de método da coerência, socorre-se de técnicas da lógica formal no sentido de se extrair o verdadeiro significado e alcance da norma, harmonizando-a com o momento social e com os demais textos legais vigentes. Busca-se verificar a verdadeira razão da lei.

Sistemática – busca interpretar a norma em consonância com ordenamento jurídico no qual ela está inserida. Para se estabelecer o seu sentido e alcance a análise é feita mediante comparação com as demais normas que tratam de matérias semelhantes.

Teleológica ou finalística – busca-se a interpretação de acordo com os fins sociais e bens comuns a que se destina a norma.

Histórica - Parte da averiguação dos antecedentes da lei, tais como: o que inspirou o legislador a elaborar o projeto de lei, justificativas e exposição de motivos apresentadas, ou seja, pesquisa-se a causas, necessidades condições psicológicas e culturais sob as quais o preceito normativo surgiu.

Extensiva ou ampliativa – “dá-se um sentido mais amplo à norma a ser interpretada do que ela normalmente teria”.

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9 Restritiva - “dá-se um sentido mais restrito, limitado, à interpretação da norma jurídica”.

REFERENCIAS:

SOUSA, Otávio Augusto Reis de. Nova teoria Geral do Direito do Trabalho, São Paulo: LTr, 2010 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho, 26ª ed., São Paulo: Saraiva, 2011 BARROS, Mª Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho, 6ª ed., – São Paulo: LTr, 2010

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2009

SÜSSEKIND, Arnaldo. Instituições de Direito do Trabalho. 15ª edição. 1995. e Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro. Ed. Renovar. 2002.

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