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2010_GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS EM DUAS ORGANIZAÇÕES UNIVERSITÁRIAS QUANDO O CONHECIMENTO NÃO É SUFICIENTE

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GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS EM

DUAS ORGANIZAÇÕES

UNIVERSITÁRIAS: QUANDO O

CONHECIMENTO NÃO É SUFICIENTE

Wesley Ricardo de Souza Freitas (FEB/UNESP) wesley007adm@yahoo.com.br Marcos de Oliveira Julio (FEB/UNESP) mojulio@ig.com.br Rosani de Castro (FEB/UNESP) rosani@feb.unesp.br Charbel José Chiappetta Jabbour (FEARP/USP) cjabbour@terra.com.br

Como a água é essencial para a sobrevivência humana e as organizações universitárias são responsáveis por disseminar novos conhecimentos e valores, por meio das atividades de ensino, pesquisa e extensão, este trabalho procurou verificar commo duas organizações universitárias lidam com um dos recursos mais preciosos, os hídricos, por meio de suas atividades de gestão ambiental. Para comunicar a pesquisa realizada, este artigo estrutura-se em três partes: na primeira é apresentada uma breve reflexão sobre a gestão ambiental em unidades universitárias e a questão dos recursos hídricos; posteriormente, apresentam-se os procedimentos metodológicos adotados para a condução da pesquisa. Por fim, são apresentadas as evidências empíricas do estudo de casos, bem como as discussões pertinentes à pesquisa,seguidas de propostas sobre melhores práticas de gestão de recursos hídricos que as universidades sob análise poderiam adotar. Pode-se concluir que a posse de conhecimentos e pesquisas de ponta em diversas áreas não garantem que as universidades gerenciem de forma exemplar seus recursos hídricos, isto é, iniciativas isoladas e fragmentadas das Faculdades ALFA e BETA não garantem a sustentabilidade ambiental dos campus, uma vez que percebe-se que as unidades universitárias não vêm logrando êxito no transbordamento de seus conhecimentos e pesquisas para uma efetiva gestão ambiental interna, principalmente de seus recursos hídricos.

Palavras-chaves: Gestão de Recursos Hídricos; Gestão Ambiental; Sustentabilidade; Universidade.

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2 A água pode agir sem o peixe. Mas o peixe não pode agir sem a água. (Tao-te Ching, XXXIV) 1. Introdução

A água é um recurso indispensável, essencial e fundamental à manutenção da vida humana e de todos os ecossistemas. Com o atual modelo de desenvolvimento sócio-econômico, as gerações futuras não terão uma qualidade de vida paralela a que temos atualmente (BRAUN, 2001). Estanques a esses conceitos, durante muitos séculos, as organizações utilizaram a água como se fosse um recurso inesgotável, para consumo humano, em atividades fabris e agrícolas. Mas não é mais informação exclusiva de especialistas e pesquisadores, que os recursos naturais, especialmente o hídrico, estão se esgotando rapidamente, devido ao uso inadequado, falta de conscientização humana, uma cultura social de consumismo exacerbado, do desperdício e da falta de respeito ao próximo, e consequentemente, com a natureza. Nesse sentido, embora todos precisem de água, isso não dá o direito ao ser humano de acessar toda a água que quiser utilizar (SELBORNE, 2001).

O consumo irresponsável e inapropriado, se assim continuar, levará os seres humanos a presenciarem situações inimagináveis no início do século XX, como a escassez de água e a geração de novos conflitos sociais, superando as questões políticas, religiosas e econômicas, que se destacaram no século passado. Como corolário, observa-se atualmente, tsunamis, furações, enchentes, aquecimento global, excesso de chuva e escassez de água em determinadas regiões, que é conexão direta do progresso em todos os aspectos da nossa existência (SELBORNE, 2001). Não obstante, axiomas relacionados à temática ambiental solidificam-se, em outras palvras, somente a partir do envolvimento e comprometimento da sociedade, empresas e governos, é que o conceito de sustentabilidade será posto em prática (BELLEN, 2005), buscando-se construir um mundo melhor no aspecto social e ambiental, orientada por um crescimento econômico sustentado por valores éticos.

Aderente a essa proposta, esta pesquisa visa responder a seguinte questão:

Como duas organizações universitárias lidam com o recurso natural mais precioso, o recurso hídrico?

2. Referencial Teórico

2.1 Breve Reflexão sobre Gestão Ambiental em Universidades

As universidades podem ser comparadas com grandes edifícios, hospitais, mega hotéis, em termos de geração de resíduos, consumo de água e energia, provocando impactos significativos no meio ambiente (ALSHUWAIKHAT; ABUBAKAR, 2008). Segundo os autores, isso ocorre em razão da dimensão, grande fluxo de pessoas e veículos, grande consumo de materiais para o desenvolvimento de suas atividades, podem ser comparadas até a pequenas cidades. Tauchen e Brandli (2006, p. 505) compartilham desses argumentos, destacando que as universidades, além do desenvolvimento de diversas atividades de ensino, pesquisa, extensão, também possuem restaurantes, alojamentos, centros de conveniência, precisando de “infra-estrutura básica, redes de abastecimento de água e energia, redes de saneamento e coleta de águas pluviais e vias de acesso”.

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3 Semelhantes a outras organizações, como as industriais, as universidades, durante muito tempo, procuraram manter seus valores estáveis, porém, manter um equilíbrio entre os objetivos tradicionais das universidades e demandas contemporâneas é vital para a sustentabilidade social (MCINNIS, 1998). Essas constantes mudanças contextuais, ao longo das últimas décadas têm influenciado a gestão das universidades (MIDDLEHURST; ELTON, 1992), refletindo diretamente no relacionamento sócio-ambiental. Apesar das auspiciosas

melhorias que a abertura da gestão para as inovações e para as modernas teorias administrativas, seja no âmbito de qualquer dimensão da gestão, por exemplo, da ambiental, no mundo existem apenas 140 universidades que estão comprometidas com o desenvolvimento sustentável e políticas ambientais (DELGADO; VÉLEZ, 2005).

Nesse sentido, as organizações universitárias podem buscar o caminho do desenvolvimento sustentável a partir de duas premissas: (1) a questão educacional, através da formação e incentivo às pessoas na adoção da cultura voltada à questão ambiental; (2) e na implementação de sistemas de gerenciamento ambiental nos campi universitários, apresentando modelos e exemplos práticos de gestão ambiental (TAUCHEN; BRANDLI, 2006).

Marcomim e Silva (2009) asseveram que é fundamental a integração entre ensino, pesquisa, extensão e a gestão para a inserção da dimensão ambiental no seio da universidade, deste modo, poderá refletir mudanças efetivas nos conceitos, hábitos e práticas em gestão nos diversos níveis, da reitoria à sala de aula. Deste modo, a efetiva implemenntação de práticas ambientais depende de forte apoio da gestão, especialmente da gestão de pessoas. Assim, Daily e Huang (2001) afirmam que um desempenho ambiental superior e efetivo necessita de práticas de recursos humanos que apóiem a implementação e manutenção de sistemas de gerenciamento ambiental em todas as etapas. Nesse contexto, Wehrmyer (1996) destaca a importância da área de recursos humanos, principalmente, através de três vertentes: (1) apoiar o sistema de gestão ambiental, por meio de treinamentos, comunicação e motivação dos funcionários; (2) mudanças organizacionais, incorporando a variável ambiental nos valores da organização, desenvolvendo competências voltadas à gestão ambiental, e agindo eticamente nas questões de meio ambiente; (3) integrar nas práticas de recursos humanos, recrutamento e seleção, avaliação de desempenho, remuneração e treinamento, a variável ambiental.

Apesar da gestão de recursos humanos ser uma possível facilitadora para a inserção da dimensão ambiental em empresas e organizações públicas, esse nexo entre gestão de pessoas e gestão ambiental ainda é pouco encontrado na prática. Muitas vezes, as empresas incorporam essa dimensão, não através de uma mudança de valores, mas apenas visando transmitir uma “imagem positiva” para seu público, que nem sempre é verdadeira, buscando obter vantagens competitivas, que nem sempre são sustentáveis. Entretanto, organizações públicas, especialmente as instituições de ensino, precisam incorporar as inovações que elas mesmas pregam, através das atividades de ensino, pesquisa e extensão, refutando a crença de que são uma das poucas organizações que manteve seus valores estáveis, diante das pressões políticas e sociais ao longo do século (MCINNIS, 1998). Essas organizações exercem um importante papel na mudança sócio-econômica e no desenvolvimento da sociedade, ajudando a criar novas organizações, disseminando valores culturais e contribuindo para a formação e socialização pessoal (TÜRK, 2008). Deste modo, as organizações universitárias devem ser o exemplo de modelo de gerenciamento ambiental, sendo referência para as demais organizações, em outras palavras, já que seu principal produto, se assim pode-se dizer, é a educação, suas ações internas deveriam ser coerentes com a pragmática teórica.

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4 A água é um bem comum a todos, essencial para o desenvolvimento humano, social e econômico. Há tempos a água é considerada um recurso escasso e mesmo em regiões em que há pouco tempo era considerado como recurso ilimitado, atualmente, apresenta algumas dificuldades (SCARE; ZYLBERZSTAJN, 2007). Mas, em razão da escassez, deixou de ser um bem livre e tornou-se objeto de valoração econômica, sendo que seu uso já é tarifado nas cidades e deverá ser taxado também nas zonas rurais (SANTOS, 2003). Por essas dificuldades e por outras, nunca se falou tanto da questão ambiental, em reeducar a humanidade, e apesar disso, a água potável do planeta continua diminuindo (DETONI; DONADONI, 2008).

Segundo Selborne (2001), a população que em 1999 era de 6 bilhões de pessoas, em razão do crescimento demográfico, chegará de 7,9 a 9,1 bilhões de pessoas em 2025, ano que segundo Martins (2003) faltará água para mais da metade da população do planeta. Segundo o autor, três quartos da superfície da Terra são cobertos por água e dos 1.386 milhões de Km³ de água apenas 2,5% desse total são de água doce, sendo que 68,9% estão na forma de geleira, significando que apenas 0,3% de toda água da Terra está acessível e pode ser utilizada para consumo.

Os recursos hídricos são limitados e exercem papel significativo no desenvolvimento econômico e social de uma região (TUCCI, 2001). Neste sentido, Telles (2002) salienta que cerca de 70% da água disponível é destinada ao aproveitamento agrícola, 20% para o consumo industrial e menos de 10% é destinado para o abastecimento humano. Para cada kilo de frango são necessários 20 litros de água; para cada tonelada de aço produzido é necessário 2.000 de litros de água e para um kilo de carne bovina é necessário 18.000 litros de água para o animal até a carne estar pronta para o consumo; sendo necessário também 1,6 milhões de litros de água para a produção de uma tonelada de milho (MARTINS, 2003).

Agora, não é porque a água é um bem comum e ainda abundante em algumas regiões, que poderá ser utilizada desordenadamente pelos seres humanos. Scare e Zylberzstajn (2007) destacam que se o recurso não for escasso o suficiente, não existirá demanda por direitos de propriedade, ou em outros termos, não haverá preocupação com o uso ordenado se não houver nexo com outros valores, por exemplo, o dinheiro. A escassez dos recursos hídricos deveria arder na consciência das pessoas da mesma forma como arderá no bolso, no momento em que a água custará caro demais para ser paga e o capitalismo for norteado por uma competitividade primária - a de manutenção (DETONI; DONADONI, 2008). Em outras palavras, será necessário o surgimento de novas guerras, pessoas morrerem por tragédias ambientais e regiões costeiras serem eliminadas do mapa pelo aumento dos níveis dos oceanos, para o ser humano criar consciência e respeito aos recursos naturais, especialmente a água, que é fundamental para a vida de qualquer espécie?

Segundo North (1990 apud SCARE; ZYLBERZSTAJN, 2007), as instituições estabelecem as regras do jogo e os limites para moldar o comportamento humano e a sua interação. E essas mudanças institucionais determinam o modo como as sociedades evoluem (SCARE; ZYLBERZSTAJN, 2007). Neste sentido, que papel as organizações universitárias estão exercendo, frente aos desafios ambientais? Martins (2003) destaca que pesquisas estão aflorando em centros de pesquisas e universidades asseverando uma realidade preocupante. À luz desses argumentos, essas organizações, além da realização de investigações e projetos de extensão, são exemplos na utilização dos recursos hídricos? Tentando responder a essa questão Detoni e Donadoni (2008) realizaram um levantamento junto a 403 estudantes de duas Instituições de Ensino Superior Paranaense e constataram que a conscientização das pessoas sobre a questão da escassez da água é pouca ou nenhuma, ou que mesmo existindo, essa conscientização não estabelece a correspondente mudança de comportamento nos hábitos

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5 cotidianos individuais e a maioria dos acadêmicos acreditam que a água pode faltar em todo o planeta, mas há segurança e despreocupação quanto ao tempo estimado para essa ocorrência e, enquanto isso, alguns hábitos insustentáveis permanecem o mesmo em relação ao consumo.

3. Procedimentos Metodológicos

Para responder ao problema de pesquisa proposto, adotou-se uma abordagem qualitativa exploratória, exploratória no sentido de “descobrir idéias e soluções, na tentativa de adquirir maior familiaridade com o fenômeno de estudo” (SELLTIZ et al., 1974) e qualitativa, que segundo Godoy (1995, p. 63):

Quando estamos lidando com problemas pouco conhecidos e a pesquisa é de cunho exploratório, este tipo de investigação parece ser o mais adequado. Quando o estudo é de caráter descritivo e o que se busca é o entendimento do fenômeno como um todo, na sua complexidade, é possível que uma análise qualitativa seja a mais indicada. Ainda quando a nossa preocupação for a compreensão da teia de relações sociais e culturais que se estabelecem no interior das organizações, o trabalho qualitativo pode oferecer interessantes e relevantes dados. Nesse sentido, a opção pela metodologia qualitativa se faz após a definição do problema e do estabelecimento dos objetivos da pesquisa que se quer realizar.

Para condução da pesquisa, utilizou-se como método o estudo de caso, que é uma história de um fenômeno passado ou atual, elaborada a partir de múltiplas fontes de provas, o qual pode incluir dados da observação direta, entrevistas sistemáticas, bem como pesquisas em arquivos públicos e privados (VOSS; TSIKRIKTSIS; FROHLICH, 2002). Justifica-se adotar este método já que “mediante um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado, o estudo de caso possibilita a penetração em uma realidade social, não conseguida plenamente por um levantamento amostral e avaliação exclusivamente quantitativa" (MARTINS, 2008, p.11).

Para a coleta de evidências, entrevistaram-se servidores técnicos e administrativos responsáveis pela supervisão da área de conservação e manutenção (área que executa as construções prediais, instalações elétricas e hidráulicas das unidades), além da análise de documentos relacionados a projetos de extensão das duas faculdades. As informações foram levantadas no mês de novembro de 2009.

Como é um estudo exploratório e o objetivo é levantar as nuances relacionadas à gestão dos recursos hídricos em duas unidades de uma Universidade Pública Paulista, utilizou-se o seguinte roteiro para atingir o objetivo proposto:

- Qual a origem da água utilizada na unidade (poço ou da rede municipal)? Existe algum sistema para captação de água alternativo?

- Qual a quantidade consumida mensalmente? Quantos pontos de saída existem? - A unidade já enfrentou alguma dificuldade de racionamento ou escassez?

- Existem ações ou alguma iniciativa visando à redução do consumo ou reaproveitamento de água?

- Existe algum tipo de monitoramento da qualidade da água?

- Existem treinamentos ou orientação visando à redução do consumo?

- Qual a participação da área de recursos humanos quanto à temática ambiental? - A unidade realiza projetos de extensão voltados à questão hídrica?

- Os efluentes dos laboratórios e sanitários são tratados?

- Nos banheiros existem dispositivos redutores nas torneiras para redução do consumo? - Quais setores consomem mais água?

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6 - Existe algum tratamento da água que é utilizada para lavagem dos recipientes utilizados nos laboratórios? Qual o destino?

3.1 Breve Descrição das Faculdades Pesquisadas

A Faculdade de ALFA, criada em 1966, atualmente conta com cinco cursos de graduação: Administração, Agronomia, Ciências Biológicas, Medicina Veterinária e Zootecnia, 10 programas de pós-graduação, mestrado e doutorado, com 13 áreas de concentração, além do Curso Profissionalizante de Técnico em Agropecuária. Na estrutura física, além de laboratórios, biblioteca, setores administrativos etc., conta com uma fazenda de ensino, pesquisa e produção que perfaz 828,9 hectares de terras agricultáveis.

A Faculdade de BETA, criada em 1967, atualmente conta com os cursos de graduação de Engenharia Mecânica, Civil, Elétrica e de Produção e com quatro programas de pós graduação, nível mestrado, todos nas áreas de engenharia.

Essas duas faculdades são integrantes de uma Universidade Pública Paulista e estão localizadas no interior do Estado de São Paulo.

4. Resultados e Discussão

A Faculdade ALFA é abastecida por um poço artesiano de 400 metros de profundidade e os recursos hídricos são extraídos por uma bomba que está localizada a 120 metros da superfície. A água é destinada ao abastecimento das pessoas e animais em diversos setores do campus, apesar de ser límpida, transparente e inodora não passa por nenhum tratamento ou monitoramento após retirada do poço artesiano, utilizada nos laboratórios, atividades agropecuárias nas atividades de ensino e pesquisa e diversas outras finalidades, e apesar dos vários locais de utilização, não mensuram ou não sabem o total de pontos de saída de água.

Apesar da Faculdade ALFA ser abastecida apenas pelo poço, o consumo diário ultrapassa mais de 1 milhão e 200 mil litros de água e, atualmente, a organização não enfrenta dificuldades em relação a esse bem comum, porém, já sofreu com a escassez em anos anteriores. Nos laboratórios existiam diversos destiladores antigos que consomem aproximadamente 60 litros de água por utilização e apenas recentemente foram instalados dispositivos visando o reaproveitamento da água utilizada por esses aparelhos.

Na unidade universitária pesquisada existe um setor de esportes, que conta com quadras cimentadas e de areia, ginásio coberto, dois campos de futebol, pista de corrida, piscinas etc., e não obstante a causa ambiental, uma cisterna foi construída com a finalidade de reaproveitar as águas das piscinas para uso em jardins e na limpeza.

Apesar de contar com cursos que diretamente ou indiretamente se relacionam com as pessoas (administração), a fauna e flora (Zootecnia, Medicina Veterinária, Ciências Biológicas, Agronomia e Ciências Biológicas) e uma grande estrutura administrativa, onde a área de recursos humanos está inserida, na Faculdade ALFA não se desenvolve ações/programas visando à conscientização ou à redução do consumo de água na própria unidade, seja para funcionários ou para acadêmicos, ou seja, não existe nexo entre a teoria e a prática. Segundo um entrevistado da unidade, o que falta “é uma conscientização das pessoas

em relação aos recursos naturais e que não adiantaria a unidade criar mecanismos que visem à redução do consumo sem a conscientização das pessoas”.

Destacam-se algumas ações administrativas realizadas visando à redução do consumo, como a troca das torneiras convencionais por torneiras com temporizador, em alguns prédios

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7 da Faculdade ALFA e nas salas de aulas, porém apesar da iniciativa valorosa, o ideal seria a instalação de torneiras com sensor, que libera água apenas com a iniciativa humana. Mas, independentemente dos dispositivos, se não existir a conscientização humana, de nada adiantará aparelhos visando à redução do consumo.

Nas atividades de extensão relacionada à temática água, identificou-se um projeto relacionado ao solo e a água que visa transmitir técnicas de cartografia, mapear os recursos hídricos e ocupação racional do solo, além da realização de campanhas educativas utilizando-se de diversos meio de comunicação.

O problema mais grave encontra-se em relação ao esgoto gerado em todas as dependências da faculdade ALFA. No caso, a água utilizada para lavar os materiais/recipientes de laboratórios, inclusive embalagens de produtos químicos visando atender a Legislação Federal (Lei no 9.974, de 6 de Junho de 2000), é recambiada através do sistema de esgotos para um rio próximo ao campus, sem nenhum tratamento específico para reduzir o impacto. Porém, não estanques a essa problemática e aderentes às melhorias no que tange ao meio ambiente, está em implementação um projeto para o recambiamento dos efluentes da unidade para a Estação de Tratamento de Esgoto Municipal, que está aproximadamente há 1.000 metros de distância da tubulação que despeja os dejetos da faculdade num rio.

Na Faculdade BETA entrevistou-se um funcionário, responsável pela coordenação das atividades de conservação e manutenção. Como na Faculdade ALFA, também na BETA, os recursos hídricos são extraídos de um poço artesiano de aproximadamente 200 metros de profundidade. Não foi possível identificar a quantidade consumida pela unidade, porém, segundo o funcionário entrevistado, existe um reservatório com capacidade para 320 mil litros que pode abastecer a Faculdade BETA por no máximo dois dias. Em razão da grande abundância de recursos hídricos, a Prefeitura Municipal em anos anteriores tentou viabilizar junto à Faculdade BETA a captação da água da unidade para abastecer uma população circunvizinha do campus, porém, de acordo com o entrevistado, a Prefeitura não quis se dispor e investir na manutenção no projeto. A grande dificuldade da Faculdade BETA em anos anteriores não foi a escassez de água, mas a falta devido a picos elevados de consumo, em razão da insuficiência de capacidade do reservatório para armazenamento.

Outro grande problema é o alto custo de manutenção das duas bombas, que consomem muita energia e mensalmente precisam de reparos, pois operam na carga máxima de potência durante todo o tempo para a retirada da água. Recentemente, as torneiras tradicionais de alguns departamentos e de áreas comuns, como banheiros anexos à cantina, foram substituídas por torneiras com temporizador, mas segundo o entrevistado, ocorreram diversos furtos. Ainda o respondente coloca que falta uma política central da Universidade a fim de desencadear ações de redução do consumo da água/energia e dos recursos naturais e o principal problema enfrentado é a falta de respeito e consciência ambiental das pessoas:

Algum tempo atrás sai da minha sala e vi uma água escorrendo pelo chão. Fui ver o que estava acontecendo e observei uma mangueira ligada vazando, pois a funcionária que estava realizando o serviço deixou-a ligada para molhar a planta e foi ao banheiro, fumou um cigarro, tomou café e ficou conversando com outros funcionários.

Outra situação que até o ano de 2009 causava grandes impactos no meio ambiente, e em 2010 espera-se auspiciosas melhorias, refere-se à falta de tratamento de esgoto/efluentes da unidade. Todos os resíduos líquidos da Faculdade BETA são direcionados para um reservatório que está ligado diretamente à rede de esgoto municipal, porém a rede de esgoto

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8 municipal desemboca direto num rio, sem nenhum tratamento. Além disso, o esgoto que é despejado na rede municipal tem um custo financeiro para a Faculdade BETA, que corresponde aproximadamente a 60% do valor do custo da água, que é medido pelo órgão municipal a partir da quantidade de água extraída do poço. Um grupo de estudos da Faculdade BETA projetou um sistema para o tratamento de todo esgoto da unidade e, inclusive, de um bairro vizinho, utilizando-se de um método natural, sem adição de produtos químicos. A técnica consiste, sumariamente, na utilização de plantas aquáticas que absorvem e filtram os resíduos que poluem a água, permitindo reduzir o impacto ao meio ambiente.

Alguns docentes da Faculdade ALFA criaram, em 2008, o projeto de extensão relacionado à sustentabilidade visando criar um modelo de ações ambientais para a Universidade. O projeto ainda está na etapa do diagnóstico situacional, ou seja, no levantamento das questões ambientais na Faculdade por meio da colaboração de alunos, docentes e funcionários, com o objetivo de estabelecer ações visando à redução do impacto ambiental das atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão dentro da Faculdade BETA.

À luz desses argumentos, como a organização universitária pode ser comparada a pequenas cidades (ALSHUWAIKHAT; ABUBAKAR, 2008), torna-se necessário maiores investimentos na temática ambiental, principalmente, no aspecto interno, a partir da gestão organizacional, já que nas atividades de ensino, pesquisa e extensão nota-se a disseminação dos valores relacionados à sustentabilidade e seus conceitos. Assim, a partir das premissas de Tauchen e Brandli (2006), as duas organizações universitárias pesquisadas buscam mais o caminho do desenvolvimento sustentável por meio do aspecto educacional, do que a efetiva implementação de sistemas de gestão integrada de gerenciamento ambiental. Como corolário, falta coesão entre a integração das atividades de ensino, pesquisa, extensão e a gestão, conforme sugeriram Marcomim e Silva (2009), para refletir transformações efetivas de conceitos, hábitos e práticas da política organizacional até o nível operacional.

Essa efetiva transformação poderia ser mais facilmente atingida com a participação efetiva da gestão de recursos humanos, através da integração da dimensão ambiental em suas ações, o que coloca as práticas encontradas nas organizações distantes dos argumentos de Daily e Huang (2001).

5. Considerações Finais

Como numa universidade seu principal foco é a condução de novas pesquisas, avanço da fronteira científica e defesa dos valores mais fundamentais da humanidade, espera-se, principalmente frente aos dilemas ambientais contemporâneos, que as unidades universitárias não somente desenvolvam pesquisas e argumentos pró-gestão ambiental e utilização adequada de recursos hídricos, mas que adote tais pressupostos em seu dia-a-dia. Como afirma Bellen (2005), com o envolvimento de vários tipos de organizações, inclusive as universitárias, conseguir-se-á colocar o conceito da sustentabilidade em prática.

Diante das evidências apresentadas nos dois casos aqui explorados, apresentam-se algumas sugestões para aprimorar as atuais atividades de gestão ambiental em unidades universitárias:

a) Criar programas de conscientização e respeito ao meio ambiente a partir do estabelecimento de uma política ambiental central da universidade, estimulando as unidades no desenvolvimento de ações envolvendo a comunidade estudantil, docentes e funcionários; b) Atuar através da área de recursos humanos das Faculdades, conforme proposto por Wehrmyer (1996) e Daily e Huang (2001), por meio do desenvolvimento de práticas de

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9 treinamento, estabelecendo critérios ambientais como indicadores de desempenho e premiando ações individuais ou coletivas dos funcionários, de setores ou departamentos; c) Levantar os mais significativos elos de consumo de água e identificar alternativas tecnológicas para gerenciar adequadamente os recursos hídricos;

e) Ampliar os projetos de extensão, como por exemplo, estabelecer parcerias com escolas de ensino fundamental e médio, com o objetivo de conscientizar os estudantes para conservar os recursos naturais e principalmente os hídricos;

f) Fortalecer os projetos de tratamento de esgoto nas unidades, visando reduzir o impacto ambiental e se possível o reaproveitamento da água; vale ressaltar que em relação ao problema do esgoto, já existem ações nas unidades visando reduzir o impacto causado pelo lançamento de efluentes.

Pode-se concluir que realmente a posse e geração de conhecimentos de ponta, na fronteira tecnológica, não garantem que universidades adotem práticas adequadas de gestão ambiental. Percebeu-se que iniciativas isoladas e fragmentadas das Faculdades ALFA e BETA não garantem a sustentabilidade ambiental dos campus (ALSHUWAIKHAT; ABUBAKAR, 2008).

Sugere-se que pesquisas futuras avancem no âmbito acadêmico, principalmente, verificando duas vertentes: (1) levantamentos a fim de verificar como as universidades brasileiras estão atuando frente à dimensão ambiental, no aspecto de ensino, pesquisa e extensão; (2) estudos de casos a fim de descobrir como nessas universidades a direção e a gestão de recursos humanos atuam frente à dimensão ambiental.

Referências

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10 MCINNIS, C. Academics and professional administrators in Australian universities: dissolving boundaries and new tensions. Journal of Higher Education Policy and Management, v. 20, n. 2, 1998, p. 161-173.

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Referências

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