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12 - A musealização como prática de preservação da memória

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A musealização como prática de preservação da memória Musealization like memory’s preservation practice

Lívia Borges Santana1

Resumo

O presente texto tem como objetivo apresentar uma reflexão acerca da importância da prática de musealização para a salvaguarda da memória seja ela individual ou coletiva, a partir de conceitos de estudiosos do campo do conhecimento da Museologia. Para ilustrar o assunto apresentaremos os resultados obtidos por meio da reunião e exposição dos objetos referentes a professora primária laranjeirense Zizinha Guimarães. Tal acervo nos permite conhecer parte da história da educação em Sergipe e das práticas educativas no período final do século XIX e início de XX.

Palavras-chave: Musealização, Salvaguarda, Educação em Sergipe.

Summary

This text aims present a reflection about the importance of the musealization’s practice to memory’s protection, whether individual or collective, from concepts of scholars that study Museology. The results obtained by combination and exposition of properties concerning the professor Zizinha Guimarães will be present to instruct the theme. This patrimony permit us to know a part of education’s history in Sergipe and the educative practices on XIX century end to XX century begin.

Key words: Musealization, Protection, Education in Sergipe.

1 Lívia Borges Santana. Endereço: Rua Miguel Jurema, 43 – Centro – Laranjeiras/SE. Tel.: (79) 9124-7805 / 8112-4916. Email: liviasanntana@yahoo.com.br. É graduada em Museologia Bacharelado pela Universidade Federal de Sergipe, integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em História das Mulheres – GEPHIM (UFS/CNPq) e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre História do Ensino Superior - GREPHES (UFS/CNPq).

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PRELEÇÃO: MEMÓRIA E MUSEALIZAÇÃO

Ao pensarmos a memória podemos nos referir ao seu processo de formação à frente das sociedades contemporâneas. Individual ou coletiva, a memória, a necessidade de lembrar fatos ou pessoas, tem sido uma constante, o que exige das ciências sociais uma frequente revisitação aos conceitos estabelecidos sobre o assunto e ao levantamento de novas questões que buscam atender as necessidades sociais nesse sentido.

Ao lado da emergência da memória, tão importante como testemunho das rotinas necessárias para a sobrevivência étnica de um grupo, verifica-se a necessidade da memória coletiva continuar a se desenvolver no âmbito social, político, histórico e tecnológico. (PINHEIRO, 2004: 92)

Na área do conhecimento da Museologia, segundo Mário Chagas2, são dois os denominados movimentos de memória, o primeiro concerne ao passado e nesse é cristalizado como lembrança impossibilitada de mudanças por encontrar-se num estado de saturação, o segundo é dirigido para o presente.

Nos museus normalmente estão guardados os testemunhos materiais de determinados períodos históricos. No entanto, a estes testemunhos materiais (alguns com valor de mercado) associam-se valores simbólicos e espirituais de diferentes matizes. Assim, o tesouro guardado nos museus não está necessariamente relacionado a valores monetários. Esse tesouro museológico, apenas aparentemente reside nas coisas, uma vez que as coisas estão despidas de valor em si. O que está em jogo é a tentativa de construção de uma tradição que possa vincular o presente ao passado (e quem sabe, por uma vereda de memória insubmissa, o passado ao presente?). Em outros termos: se o museu pode, por um lado, significar que o tesouro foi perdido e ali está apenas o seu duplo, sem potência e sem vida; por outro, pode também lembrar que o tesouro existiu, que ele já esteve nas mãos dos vivos e que pode reaparecer abruptamente, permitindo que o sentido da vida seja reapropriado. (CHAGAS, 2000)

No que se refere, propriamente, ao processo de musealização, os conceitos giram em torno dessa ação enquanto parte do processo museológico3 de salvaguarda da memória, a partir da coleta e disseminação do conhecimento científico produzido, acumulado, organizado e por sua vez divulgado. Contudo, é uma ação de grandes riscos, visto que se

2 CHAGAS, 2000. 3

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trata de uma seleção, e toda seleção demanda descartes e apropriações, cabendo ao pesquisador essa responsabilidade.

Diante desses argumentos podemos perceber e afirmar a relevância existente nas práticas de preservação da memória, dentre elas a musealização, que por ser uma seleção de objetos por valorização para uma institucionalização, transformam-se em veículos de conhecimento e comunicação (CURY, 2005).

APONTAMENTOS ACERCA DE UMA EXPERIÊNCIA: A MUSEALIZAÇÃO DOS OBJETOS SOBRE ZIZINHA GUIMARÃES (1872-1964) - LARANJEIRAS/SE

A exposição não tem importância por si só, mas sim pela interação entre o museu (o autor), a exposição propriamente e o público.

Cury, 2005

A exposição enquanto espaço de interação, com conteúdo e forma4, é ambiente propício a exteriorização do conhecimento acumulado e selecionado, a fim de sensibilizar e levar a reflexão do público sobre um determinado assunto. Segundo Cury,

A exposição é o local de encontro e relacionamento entre o que o museu quer apresentar e como deve apresentar visando um comportamento ativo do público e à sua síntese subjetiva.

Essa idéia relativiza o ponto de vista da exposição como meio e como transmissora de mensagens, entendendo a exposição como espaço de construção de valores. (CURY, 2005: 42)

O caminho percorrido pelo pesquisador até a montagem de uma exposição deve ser consciente do poder de perpetuação das informações nela contida por meio do seu acervo. Sendo assim, a documentação museológica5 é uma forma de garantir a qualificação dos objetos musealizados enquanto documentos. Maria Inez Cândido nos diz que os objetos museológicos têm na conservação e na documentação as bases para a sua transformação em fontes de pesquisa científica e de comunicação, e estas, por sua vez, produzem e disseminam novas informações, sendo portadores de significado e suportes na intermediação entre o indivíduo e o acervo preservado. (CÂNDIDO, 2006).

Para ilustrar o assunto, apresentamos os resultados obtidos por meio da reunião e exposição de objetos referentes a professora primária laranjeirense Zizinha Guimarães. Tal

4 CURY, 2005 5

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acervo nos permite conhecer parte da história da educação em Sergipe e das práticas educativas no período final do século XIX e início de XX.

Eufrozina Amélia Guimarães – Zizinha Guimarães6, memorável professora da cidade de Laranjeiras foi, sem dúvida, uma das mais destacadas da história da educação em Sergipe, ganhou notoriedade em virtude de seus feitos no cenário educacional e social da cidade. Socialmente comprometida, artista, mestra atenta e dedicada, a professora Zizinha conseguiu transpor muitas dificuldades de sua época, como o fato de pertencer a uma família não abastada e ser negra. Ainda assim atuou decisivamente no campo educacional de sua cidade encantando a todos com seus talentos e habilidades singulares.

Zizinha Guimarães estudou no Colégio Inglês, instituição dedicada à educação feminina que teve suas atividades letivas iniciadas no ano de 1887, na cidade de Laranjeiras, onde foi aluna da professora Anne Carol, fundadora e diretora do colégio. Dentre as atividades desenvolvidas na instituição, destaca-se o estudo de disciplinas curriculares do ensino básico além de noções de piano, culinária, trabalhos manuais e pintura.7

Entretanto, Zizinha Guimarães é uma figura da história de Laranjeiras cuja memória está fragmentada. Os objetos que contam parte de sua trajetória pessoal e profissional estão dispersos em variados tipos de acervos.

Contudo, no período de 20 de setembro a 20 de outubro de 2011, no Museu Arte Sacra de Laranjeiras8, esteve aberta a visitação pública a exposição Fragmentos de uma vida: objetos memoráveis de Zizinha Guimarães, dentro da programação alusiva a 5ª Primavera dos Museus9 que teve como tema Mulheres, Museus e Memórias. A exposição compôs a programação proposta pela Coordenadoria dos Museus do Estado de Sergipe – SECULT/SE.

A mostra foi a concretização da proposta de musealização, com pesquisa iniciada em meados de 2009, apresentada e defendida na monografia intitulada Em busca de

6 A professora Zizinha Guimarães nasceu em 26 de dezembro do ano de 1872, segundo informações do livro de batismo da Igreja Sagrado Coração de Jesus em Laranjeiras, e faleceu em 1º de dezembro de 1964, em sua residência, na cidade de Laranjeiras.

7 FREITAS, Anamaria Gonçalves Bueno de; VILAS-BOAS, Ester Fraga; NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Pernambuco, Sergipe, São Paulo: Os caminhos do Colégio Inglês na educação feminina. (Artigo Cientifico). Horizonte, Bragança Paulista, v.20, p.1-8, jan./dez, 2002.

8 O Museu Arte Sacra de Laranjeiras fica localizado à Praça Heráclito Diniz Gonçalves, s/n, Centro, Laranjeiras/SE

9 A Primavera dos Museus é um evento de nível nacional coordenada pelo Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM, e realizada pelas instituições museológicas. O evento acontece anualmente no início da primavera com o objetivo de sensibilizar as instituições museais e a comunidade para o debate sobre temas da atualidade . Fonte: www.museus.gov.br.

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5 Zizinha: vestígios para a musealização da memória sobre Eufrozina Amélia Guimarães (1872-1964)10.

Na programação de abertura, além dos objetos, documentos da vida profissional e pessoal da professora, contamos com o lançamento do cordel Lembrando o passado de Zizinha, do cordelista sergipano Zezé de Boquim, na ocasião, autografou a publicação para os visitantes. Além disso, foi realizada uma atividade educativa com os alunos do Colégio Estadual Zizinha Guimarães (Laranjeiras/SE) sob a orientação das estagiárias do Museu Arte Sacra de Laranjeiras - MASL.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A musealização, enquanto mecanismo de preservação e salvaguarda da memória, constitui-se como uma prática dotada de significação relevante às praticas museológicas. O valor simbólico atribuído a objetos musealizados concerne a estes o valor de documento, o que permite a sua revisitação para fazer lembrar alguém ou algo.

Os objetos que rememoram os feitos da professora Zizinha Guimarães podem ser considerados documentos, testemunhos de sua vida e contribuição para a Educação em Sergipe. Sendo assim, julgamos necessária uma maior utilização desse recurso, a musealização, para a salvaguarda da memória social.

10SANTANA, Lívia Borges. Em busca de Zizinha: vestígios para a musealização da memória sobre Eufrozina Amélia Guimarães (1872-1964). Universidade Federal de Sergipe – CampusLar, 2011. (Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em Museologia Bacharelado)

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, S. Memórias de Dona Sinhá. Aracaju: Typografia, 2005.

ALMEIDA, Adriana M.; LOPES, Maria M. Modelos de comunicação aplicados aos estudos de públicos de museus. Revista de Ciências Humanas. Vol. 9, nº 2, pp. 137-145, jul-dez 2003.

ANDRADE, Cyntia. Lugar de memória...memórias de um lugar: patrimônio imaterial de Igatu, Andaraí, BA. PASOS – Revista de Turismo y Patrimônio Cultural. Vol. 6, nº 3, pp.569-590, 2008.

BARRETO, Camila N. Uma vencedora no mundo dos excluídos: Zizinha Guimarães. Faculdade São Luis de França, 2008. (Aperfeiçoamento/Especialização em Novas Abordagens no Ensino de História).

BRUNO, Cristina. Cadernos de Sociomuseologia – Museologia e Museus: princípios, problemas e métodos, nº 10. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 1997. CÂNDIDO, Maria Inez. Documentação museológica. In: Caderno de Diretrizes Museológicas I. 2ª ed. Brasília: Ministério da Cultura/Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Departamento de Museus e Centros Culturais; Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Cultura/Superintendência de Museus, 2006.

CHAGAS, Mário. Memória e Poder: contribuição para a teoria e a prática nos ecomuseus. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE ECOMUSEUS, 2., 2000, Rio de Janeiro. Caderno de textos e resumos. Rio de Janeiro: NOPH/MINOM/ICOFOM LAM, 2000. p. 12-17.

CURY, Marília X. Exposição: concepção, montagem e avaliação. São Paulo: Annablume, 2005.

FÉLIX, Loiva O. História e Memória: a problemática da pesquisa. 2 ed. Passo Fundo: UPF, 2004.

FERREZ, Helena Dodd. Documentação Museológica: teoria para uma boa prática. Estudos de Museologia. Caderno de Ensaios, 2. Rio de Janeiro: IPHAN, 1994.

FREITAS, Anamaria Gonçalves Bueno de; VILAS-BOAS, Ester Fraga; NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Pernambuco, Sergipe, São Paulo: Os caminhos do Colégio Inglês na educação feminina. (Artigo Cientifico). Horizonte, Bragança Paulista, v.20, p.1-8, jan./dez, 2002.

LARANJEIRAS-Cidade Poema (coletânea de textos). Prefeitura Municipal de Laranjeiras. s/d.

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NUNES, Verônica Maria Meneses. Do IHGSE á UFS: Construção de fazeres museológicos em Sergipe. In: Verônica Maria Meneses Nunes; Adriana Dantas Nogueira. (Org.). O despertar do conhecimento na colina azulada: a Universidade Federal de Sergipe em Laranjeiras. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, 2007.

MENSCH, Peter V. O objeto de estudo da museologia. Trad. BOLSANELLO, Débora; OLIVEIRA, Vânia. Rio de Janeiro: UNI-RIO/UGF, 1994.

PINHEIRO, Marcos J. Museu, Memória e Esquecimento: um projeto da modernidade (Coleção Engenho e Arte). Vol. 7. Rio de Janeiro: E-Papers Serviços Editoriais, 2004. PIO, Leopoldo Guilherme. Musealização e Cultura Contemporânea. Revista Musas, nº2. Rio de Janeiro: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Departamento de Museus e Centros Culturais, 2006.

SANTANA, Lívia Borges. Em busca de Zizinha: vestígios para a musealização da memória sobre Eufrozina Amélia Guimarães (1872-1964). Universidade Federal de Sergipe – CampusLar, 2011. (Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em Museologia Bacharelado)

SANTOS, Maria Célia T. M. Museu e educação: conceitos e métodos. Simpósio Internacional “Museu e Educação: conceitos e métodos” – Curso de Especialização em Museologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, de 20 a 25 de agosto de 2001. TEDESCO, João C. Nas cercarias da memória: temporalidade, experiência e narração. Passo Fundo: UPF, Caxias do Sul: EDUCS, 2004.

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