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As políticas públicas para adolescentes no estado brasileiro: uma análise sob a ótica dos direitos humanos

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

GILBERTO NATAL MAAS

AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ADOLESCENTES NO ESTADO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DOS DIREITOS HUMANOS

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Ijuí (RS) 2020

GILBERTO NATAL MAAS

AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ADOLESCENTES NO ESTADO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DOS DIREITOS HUMANOS

Monografia final apresentada ao curso de Graduação em Direito, requisito parcial para aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso – TCC.

Unijuí – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

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Ijuí (RS) 2020

Dedico este estudo a todos os meus familiares, amigos, colegas e professores que,

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de uma ou de outra forma, contribuíram para alcançar os meus objetivos.

AGRADECIMENTOS

É difícil agradecer a todas as pessoas que, de algum modo, e em algum momento, contribuíram para a realização deste estudo. Por isso, agradeço a todos de coração!

Primeiramente, agradeço a Deus – força essencial em minha vida, autor do meu destino, meu guia, socorro presente nas horas de angústia.

À minha família – base da minha formação.

À minha esposa, Tania Regina Manica, pela cumplicidade do dia a dia, companheirismo, dignidade, carinho, autenticidade e amizade, sempre do meu lado nos momentos alegres e, também, naqueles mais difíceis e tristes.

À direção da Escola IMEAB e aos meus colegas, que contribuíram com ajustes de horários, facilitando os meus compromissos acadêmicos.

À minha orientadora, professora Dra. Anna Paula Bagetti Zeifert

que, com paciência, determinação, conhecimento e

profissionalismo, fez com que este estudo se concretizasse. Finalmente, ao corpo docente e discente da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), que no decorrer do processo ensino-aprendizagem contribuiu com a minha formação profissional.

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“Um homem do século XVI ou XVII ficaria espantado com as exigências de identidade civil a que nos submetemos com naturalidade. Assim que nossas crianças começam a falar, ensinamos-lhes seu nome, o nome de seus pais e sua idade.”

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(ARIÈS, 1981, p. 1).

RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso, intitulado “As políticas públicas para adolescentes no Estado brasileiro: uma análise sob a ótica dos direitos humanos”, visa analisar as origens dessas políticas, definir os conceitos de adolescentes e juventude e compreender a construção e a evolução histórica dos direitos humanos. Na sequência, analisa a forma como se constituem os adolescentes na sociedade, as concepções sociológicas de juventude e o adolescente e o ato infracional. E, por fim, como se constituem adolescentes sujeitos de direitos, a judicialização das políticas públicas e a sua efetivação aos adolescentes e à juventude. Objetiva, com isso, analisar a efetividade ou não das políticas para adolescentes no Estado brasileiro e a sua possível (in)eficácia sob a ótica dos direitos humanos, seja pelas deficiências estruturais ou de recursos humanos e financeiros em grupos de risco social e vulnerabilidade. Por fim, as políticas públicas devem assegurar direitos e garantias a todos os segmentos, especialmente aos grupos vulneráveis da sociedade para, assim, promover a igualdade de todos os segmentos, o que raramente acontece.

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ABSTRACT

This course conclusion paper, entitled “Public policies for adolescents in the Brazilian State: an analysis from the perspective of human rights”, aims to analyze the origins of these policies, define the concepts of adolescents and youth and understand the construction and historical evolution human rights. Then, it analyzes the way adolescents are constituted in society, the sociological conceptions of youth and adolescents and the infraction. And, finally, how adolescents are subject to rights, the judicialization of public policies and their implementation to adolescents and youth. Thus, it aims to analyze the effectiveness or not of policies for adolescents in the Brazilian State and their possible (in) effectiveness from the perspective of human rights, whether due to structural deficiencies or human and financial resources in social risk and vulnerability groups. Finally, public policies must ensure rights and guarantees for all segments, especially vulnerable groups in society, thus promoting equality for all segments, which rarely happens.

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LISTA DE SIGLAS

CASE Centro de Atendimento Socioeducativo

CF/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

CREAS Centro de Referência Especializada de Assistência Social

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EUA Estados Unidos da América

FASE Fundações de Atendimento Socioeducativo

FUNABEM Fundação Nacional de Bem-Estar ao Menor

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LA Liberdade Assistida

LEP Lei de Execuções Penais

MSE Medida Socioeducativa

ONU Organização das Nações Unidas

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

PSC Prestação de Serviço à Comunidade

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SINASE Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

SUAS Sistema Único de Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

1 POLÍTICAS PÚBLICAS E DIREITOS HUMANOS PARA ADOLESCENTES E

JOVENS NO ESTADO BRASILEIRO 13

1.1 Origens e conceito de políticas públicas 13

1.2 Definições de adolescentes e de juventude 18

1.3 Construção e evolução histórica dos Direitos Humanos 23

2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O ESTATUTO DA

JUVENTUDE: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS 28

2.1 Como se constituem os adolescentes na sociedade 29

2.2 Concepções sociológicas de juventude 33

2.3 Adolescentes e o ato infracional 36

3 ESPAÇO DE PROMOÇÃO DE VALORES CULTURAIS E AMBIENTAIS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E INTEGRAL DOS ADOLESCENTES

POR MEIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS INCLUSIVAS 45

3.1 Adolescentes sujeito de direitos 46

3.2 A judicialização das políticas públicas 48

3.3. Efetivação de políticas públicas aos adolescentes e à juventude 52

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REFERÊNCIAS 60

INTRODUÇÃO

Em meados de 1985 ingressei na carreira do Magistério Público, incialmente como professor de classes multisseriadas unidocente e, após dois anos tive a oportunidade de trabalhar com componentes curriculares da área das Humanas, nos anos finais do Ensino Fundamental. Nessa nova perspectiva, passei a conviver com adolescentes, o que me permitiu observar injustiças, desigualdades e falta de oportunidades dos adolescentes e jovens. Primeiramente tive experiências em escolas rurais e, mais tarde, em escolas urbanas, a maioria localizada em periferias, onde era visível a ausência de políticas públicas.

No decorrer do processo de formação profissional cursei Licenciatura Curta de Estudos Sociais, História Plena, pós-graduação​lato sensu em Gestão e Políticas Públicas na Educação, mestrado ​stricto sensu em Direitos Humanos, com a dissertação intitulada​Direitos Humanos e inclusão social de adolescentes em conflito com a lei: estudo de caso na Região Noroeste do RS​”. Por fim, em fase de conclusão, o curso de bacharel em Direito,

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defendido mediante a apresentação deste estudo, intitulado “ ​As Políticas Públicas para

adolescentes no Estado brasileiro: uma análise sob a ótica dos direitos humanos​”.

A escolha do tema se justifica pela minha trajetória histórica de cidadão e profissional comprometido com a causa e com a observação da incapacidade do próprio Estado em resolver problemas relacionados aos adolescentes e jovens na sociedade. Nesse contexto, são “podados” direitos de igualdade e de oportunidades de vida digna, o que infringe os direitos humanos, uma vez que é dever do Estado garantir e assegurar esses direitos por meio de politicas públicas afirmativas e inclusivas. Esses fatos geraram angústia profissional e, ao mesmo tempo, impotência para resolver situações de risco e de vulnerabilidade social de adolescentes e jovens.

Cabe ao Estado propor soluções a partir de políticas públicas, possibilitando o acesso a direitos e garantias elementares, os quais foram negados ao longo da História. O desenvolvimento psicológico, físico e intelectual está garantido por meio da proteção integral contemplado recentemente no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), instituído pela Lei n. 8.069/90.

A hipótese levantada neste estudo parte do pressuposto da ineficácia das políticas públicas direcionadas aos adolescentes e jovens, o que decorre da falta de agentes públicos qualificados para desenvolver os projetos designados na base dos municípios, local onde o risco e a vulnerabilidade social são iminentes, e onde se constituem os grupos sociais que mais necessitam de políticas públicas afirmativas. Observa-se, também, a falta de infraestrutura para desenvolver essas ações, bem como a presença de equívocos na efetivação dos projetos, pois não há um “projeto piloto” que aproxime a teoria dos gabinetes ministeriais e das práticas efetivadas pelos monitores locais.

Neste contexto, a hipótese possui uma relevância especial pois revela uma crescente parcela da sociedade constituída de adolescentes sem “voz e vez”, ou seja, esquecida pelo Estado brasileiro, em sua grande maioria sem acesso à escola, à moradia, ao lazer, à saúde e à formação profissional. São, portanto, tratados de forma excludente e afastados de uma vida digna, inclusive com possibilidade de serem direcionados ao mundo do crime.

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Neste sentido, o presente estudo parte das concepções conceituais de políticas públicas, de adolescentes e de juventude, bem como da construção e evolução histórica de direitos humanos. As políticas públicas são ações afirmativas e programas desenvolvidos pelo Estado a fim de garantir e colocar em prática os direitos previstos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88).

Já o termo “adolescência”, a partir da segunda metade do século XX, é considerada a fase de desenvolvimento humano, pois até então, por um determinado período da Idade Média, as crianças eram consideradas adultas desde os seus tenros sete anos de idade. O Estatuto da Juventude foi instituído a partir de meados do século XXI com o objetivo de garantir e assegurar políticas públicas a esse segmento da sociedade brasileira. Para ambos os segmentos – adolescentes e juventude – o direito à vida e à dignidade humana são premissas dos Direitos Humanos.

No decorrer deste estudo propõe-se realizar uma análise dos princípios e objetivos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e do Estatuto da Juventude, bem como semelhanças e diferenças entre esses dois estatutos. Busca-se, assim, conhecer a histórica evolução da adolescência na sociedade, e as concepções sociológicas da juventude a partir da observação de uma diversidade de teorias que fundamentam o tema. É importante reconhecer um movimento que inicialmente era insignificante, mas que no decorrer do processo de adesão de agentes públicos ganhou corpo na sociedade, fazendo com que os adolescentes e a juventude fossem reconhecidos em diferentes espaços políticos e socioculturais da sociedade.

Em relação aos atos infracionais dos adolescentes constata-se que diferentes períodos históricos determinaram a história da punibilidade desse segmento. Anterior ao Código Penal do Brasil, de 1830, as Ordenações Filipinas foram aplicadas de 1603 a 1830, período em que a imputabilidade penal iniciava aos sete anos e eximia o menor de pena de morte, concedendo-lhe redução penal. Como o passar dos anos houve alterações que foram asseguradas pelas normas jurídicas. Reconhece-se, atualmente, que o segmento “adolescente” é um avanço sociológico, político, cultural e social, pois nem sempre havia essas concepções.

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O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) trouxe nova concepção de punibilidade ao adolescente infrator, desta vez com a corresponsabilidade da delinquência pelo Estado, família e sociedade. Essas instituições, porém, necessitaram de uma infraestrutura melhorada, formação de recursos humanos, criação e estruturação de órgãos de apoio e um trabalho voltado, principalmente, à mudança cultural da sociedade como um todo. A responsabilização do ato infracional envolveu todos os segmentos da sociedade, e a proteção integral passou a ser a essência contemplada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

No decorrer deste estudo observa-se um espaço de promoção de valores culturais e ambientais que visam o desenvolvimento sustentável e integral dos adolescentes por meio de políticas públicas inclusivas. A ausência desses aspectos inviabiliza ações de políticas públicas, gerando, assim, uma infância desassistida, adolescentes criados sem possibilidade de acesso aos mínimos direitos e a convivência com pares violentos, cujos requisitos geram uma sociedade violenta.

Observa-se que a forma como a sociedade percebe os segmentos “adolescentes” e “juventude” é determinante para que as políticas públicas possam promover o seu acesso. A infraestrutura do poder público deve disponibilizar projetos e ações em favor desses segmentos, assim como a qualificação dos agentes públicos que monitoram tais projetos, traduzidos em espaços de lazer, saúde e oportunidades de formação e princípios, possibilitando condições de trabalho aliadas à orientação e políticas públicas extensivas ao núcleo familiar.

Por fim, este estudo pretende ser um referencial para novas políticas públicas que observem a conjuntura socioeconômica, histórica e política da sociedade, capaz de articular debates e possibilidades de alternativas viáveis à efetivação de ações, principalmente aos grupos de adolescentes e jovens em condições de risco e vulnerabilidade social. Somente assim será possível o acesso à justiça social, o desenvolvimento da cidadania e da consciência, bem como a mobilidade social dentro de um Estado democrático de Direito.

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1 POLÍTICAS PÚBLICAS E DIREITOS HUMANOS PARA ADOLESCENTES E JOVENS NO ESTADO BRASILEIRO

Diante de fatos que corroboram o desenvolvimento da sociedade encontram-se segmentos vulneráveis, como é o caso dos adolescentes e jovens, os quais compõem um grupo significativo nos aspectos econômico, social e político. Tais segmentos necessitam de projetos governamentais a serem implementados por meio de políticas públicas afirmativas com vistas à inclusão social e ao respeito à universalidade dos Direito Humanos.

Vive-se numa sociedade em processo evolutivo contínuo e complexo, em que os fatos se alteram continuamente e os contrastes são visivelmente postos em ação. Percebe-se, assim, que enquanto alguns sujeitos usufruem altas tecnologias, outros vivem num passado muito distante; os conceitos se multiplicam; a cultura prevalece nos grupos dominantes e o poder se alterna; descartar pessoas torna-se cada dia mais evidente, prevalecendo o “ter” em detrimento

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do “ser”. Neste cenário, os adolescentes e a juventude brasileira são vítimas de um Estado que não respeita o seu direito de terem direitos. As políticas públicas são processos nos quais a sociedade brasileira deveria investir, tornando, assim, a vida mais digna, respeitando a universalidade dos Direitos Humanos (MAAS, 2015).

Neste capítulo será aprofundado o tema relativo às políticas públicas que permeiam os segmentos citados, fundamentam as condições sociais e determinam a dignidade humana. Observa-se, nesse sentido, que há carência de profissionais habilitados para trabalhar com adolescentes e jovens nos seus municípios, bem como estruturas deficitárias e projetos carentes de informações precisas, gerando gastos públicos com poucos resultados. Paradigmas são interrompidos e novos são implementados, gerando dúvidas à sociedade.

1.1 Origens e conceito de políticas públicas

Nesta sociedade de contrastes nunca se dispôs de tanta tecnologia, ao mesmo tempo em que se vive um processo de barbárie social, com falta de comunicação, respeito, educação, saúde, lazer, ética e igualdade de gênero e de condições econômicas. Uma das deficiências da humanidade é a falta de comprometimento do Estado com as necessidades básicas da população. A ele cabe proporcionar condições aos cidadãos para terem uma vida digna, com políticas públicas que visem equalizar oportunidades, tornando-as justas a todos.

As políticas públicas são ações afirmativas e programas desenvolvidos pelo Estado a fim de garantir e colocar em prática direitos previstos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88) e nas leis complementares. Segundo Ademar Antunes da Costa e Quelen Brondani de Aquino (2013, p. 176), “as políticas públicas são tidas como elementos concretos para o enfrentamento da delinquência juvenil e a promoção da inserção do jovem no mercado de trabalho.” Nesse contexto, percebe-se que é papel do Estado garantir direitos aos grupos sociais menos favorecidos.

Pode-se, também, observar o conceito de políticas públicas segundo a percepção de Roseli Esquerdo Lopes, Carla Regina Silva e Ana Paula Serrata Malfitano (2019, p. 124):

As políticas sociais configuram-se como uma resposta do Estado à demanda de enfrentamento das questões sociais dentro de um determinado período histórico.

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Reconhecer a presença de demandas sociais e a necessidade, bem como a responsabilidade de intervenção estatal sobre elas é condição prévia para se abordar esse tema.

Persiste na sociedade brasileira uma visão adultocêntrica ao se verificar que as políticas públicas são reconhecidamente insuficientes, fragmentadas e inadequadas à realidade de segmentos vulneráveis que buscam seus espaços de sujeitos de direitos. Observa-se, também, que as legislações vigentes estão em adaptação, transição, efetivação e com nova estruturação social, a fim de se tornarem eficazes e reconhecerem que o papel do Estado é intervir, quando necessário, na formação de seus cidadãos.

Nas democracias modernas, instituídas pelos estados europeus e norte-americanos, as políticas públicas têm encontrado pauta positiva nas discussões ao longo do século XIX e início do XX, em que grupos de crianças e adolescentes, jovens, de gêneros, étnicos e idosos, são incluídos na agenda de governos liberais. A participação e organização desses segmentos buscaram direitos e garantias no sentido de tomar atitude para fazer ou deixá-lo fazer.

João Pedro Schmidt (2008, p. 2311) assinala que o termo “políticas públicas” é utilizado com diferentes significados, ora indicando uma determinada atividade, ora um “propósito político” e, em outras vezes, “um programa de ação ou os resultados obtidos por um programa”. Constata-se, assim, que políticas públicas se relacionam com ações de governos e até mesmo políticas de Estado decorrentes de processos eleitorais que têm caráter ideológico, político, econômico, social e filosófico de conceitos de cidadão, cidadania e sociedade.

As políticas públicas, portanto, estão asseguradas na legislação brasileira, observadas na CF/88, em seu art. 3º, que trata dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, que são: assegurar a construção de uma sociedade justa, igualitária e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; e erradicar a pobreza e a marginalização, reduzindo as desigualdades sociais e regionais, assim como promover o bem de todos, independentemente de preconceito e discriminação. Se, porém, os governantes levassem a sério e ao “pé da letra” os objetivos constitucionais da República Federativa, não haveria tantas injustiças e carências de políticas públicas.

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Para assegurar os objetivos propostos pela Carta Magna e efetivar as políticas públicas, é indispensável o direito à educação e à cidadania, conforme assevera Isabelle Christina da Mota Bolfarini (2016, p. 236):

Para se entender a real extensão dessa afirmação seria importante reconhecer que o direito à educação é condição fundamental à efetividade prática das diferentes dimensões de cidadania e uma forma de garantir tal praticidade é por meio da adoção de políticas públicas nesse sentido. É justamente essa a perspectiva que importa ao presente estudo: para que uma política pública seja capaz de efetivar a educação, ela deve ter como fundamento todas as dimensões de cidadania.

O direito à educação e à cidadania, portanto, são premissas do Estado democrático de direito para a efetivação de políticas públicas inclusivas em uma sociedade onde a diversidade étnica e religiosa é constante e as desigualdades sociais permeiam os segmentos. A intervenção estatal na esfera privada da Educação é relevante para fazer as devidas correções e equalizar grupos sociais vulneráveis por meio de políticas públicas, considerando que os adolescentes e a juventude se encontram neste contexto histórico, político, social, econômico e cultural.

As democracias liberais avançam no mundo, seguindo a lógica evolutiva dos direitos e das garantias. O Brasil, país signatário, adota uma tímida e evolutiva política pública inclusiva que abrange segmentos que estavam, até então, esquecidos pelo próprio Estado. A Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC), (1989), promovida pela Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), contou com a participação de 196 países, todos signatários, assim como o Brasil (UNICEF, 2009).

Nesse processo evolutivo de direitos e garantias configurou-se a CF/88, ao oportunizar e dar visibilidade a grupos velados que possibilitaram a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, do Estatuto Racial, do Estatuto do Idoso e, por fim, do Estatuto da Juventude e tantos outros segmentos que se organizaram e se mobilizaram para incluir adolescentes e jovens nas políticas públicas de Estado e governos.

Diante desses fatos, o Brasil passou a ser visto na sociedade mundial como um país próspero que oportuniza a grupos vulneráveis a conquista de direitos e garantias que, historicamente, lhes eram negados. Para muitos, é uma dívida social que o Estado brasileiro

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possui com parte da sociedade que vive em um processo de exclusão, no qual impera a ausência de políticas públicas. Nestes grupos excluídos encontram-se os adolescentes e a juventude.

Neste sentido, a Constituição brasileira, promulgada em 1988, em uma “onda” de avanços liberais e democráticos em relação a direitos e garantias, no art. 227, mais especificamente no parágrafo oitavo, incs. I e II, estabelece diretrizes sobre a política pública de proteção integral das crianças, adolescentes e jovens, rompendo com o paradigma vigente até então:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem ​, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. [...].

§ 8º. A lei estabelecerá: I – o ​estatuto da juventude​, destinado a regular os direitos dos jovens; II – o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias esferas do poder público para a ​execução de políticas públicas.​ (BRASIL, 1988, grifo meu).

Os avanços propostos pela CF/88, no entanto, entendidos por parte da população como melhoramentos com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Estatuto da Juventude, não se efetivaram na sua prática por inúmeros motivos. O principal foi o descompasso da lei e suas práticas que deveriam ser instituídas, mas, por vezes, tinham mal compreensão, além do discernimento cultural e educacional que a lei propunha para a efetivação do novo paradigma apresentado à sociedade em relação aos adolescentes e à juventude.

Alan Araújo Sousa (2016, p. 125), observa nesse sentido que:

A partir da interpretação sistemática da Constituição Federal de 1988, verifica-se que o Estado brasileiro tem, na sua essência, um caráter social. O modelo de constituição adotada é, ao mesmo tempo, democrático, social e dirigente, residindo neste último aspecto um plano de transformação da sociedade brasileira, destinado a reforçar os direitos sociais, promover o desenvolvimento, erradicar a miséria e as desigualdades sociais e regionais.

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Percebe-se que os constituintes que elaboraram a CF/88 foram visionários, assim como a sociedade, que vivia a expectativa de novos tempos, de abertura democrática, movimentos sociais organizados, reivindicando direitos, deixando para trás tempos sombrios, onde “direitos sociais” eram a tônica dos discursos e ações: promoção de transformações, do desenvolvimento, da erradicação da miséria, da redução das desigualdades sociais e regionais. Na atualidade percebe-se um distanciamento dessas lutas que “bateram às portas” dos que necessitavam de dignidade, de respeito e de direitos.

Vive-se, portanto, uma espécie de “direita volver”, ou seja, um retrocesso de direitos, em que segmentos como adolescentes e juventude sofrem o impacto das “portas se fechando” para a formação e para mercados, vislumbrando-se claramente a ausências de políticas públicas. Volta-se no tempo, em que investir em educação, conhecimento, qualificação, cultura, formação e lazer eram gastos que o Estado não podia fazer para todos os segmentos, independentemente de níveis econômicos. São tempos perigosos, em que os adolescentes e jovens ouvem afirmações do tipo “estuda que tem dinheiro” e/ou “quem não tem dinheiro trabalha”. A partir desse pensamento não é preciso ser muito esperto para prever o futuro da sociedade.

Cleoman Fernandes da Silva Filho (2016, p. 178-179) corrobora com essa ideia:

[...] é razoável se inferir que o baixo investimento financeiro por aluno tenha impacto direto e negativo na qualidade e nos resultados alcançados na educação no Brasil. Todavia, não se pode concluir pela integral proporcionalidade e notas, do contrário, a posição do Brasil nas avaliações repetir-se-ia na mesma proporção dos gastos individualizados [...]. Números por gastos individualizados por estudantes, nota-se que o investimento brasileiro, paradoxalmente, é um dos piores, o que pode ter repercussão direta nos índices alcançados. Entretanto, é certo que a relação gasto por aluno x resultado PISA não é inteiramente proporcional, do contrário a posição brasileira espalhar-se-ia em ambos os indicadores.

Seguindo o raciocínio lógico dos fatos e ações, observa-se na afirmação de Silva Filho (2016), que o Brasil possui baixos gastos com educação, comprometendo a insuficiência de notas nas avaliações de órgãos nacionais e internacionais. Logo, percebe-se a necessidade de políticas públicas inclusivas, necessárias para a elevação do nível de qualidade da educação – um dos aspectos fundamentais para o desenvolvimento da sociedade brasileira. É necessário

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alterar essa lógica vigente para alcançar o desenvolvimento da “onda jovem”, presente na sociedade para, futuramente, termos uma “onda de idosos” bem-sucedidos.

Historicamente, portanto, a sociedade brasileira está baseada na cultura do trabalho. Assegurar aos adolescentes e jovens o direito ao lazer, estudo, tratamento individualizado e adequado de saúde, sem visar o mercado de trabalho enquanto crianças e/ou adolescentes, gera motivos de indignação, principalmente de pessoas idosas com baixo nível de escolaridade e de pouco conhecimento. São exemplos os chavões populares: “ ​é o trabalho

que dignifica as pessoas​” e/ou “​o trabalho não mata ninguém​”, os quais permeiam a resistência a políticas públicas que possam romper paradigmas e preconceitos institucionalizados pelo Estado e pela sociedade (MAAS, 2015).

Destarte, pode-se afirmar que é por meio das políticas públicas que a sociedade passa a adquirir um nível de desenvolvimento satisfatório, e na medida em que um número maior de sujeitos adere ao processo. É preciso acreditar no futuro da sociedade, onde a “onda jovem” passa ser tratada com respeito, dignidade e com princípios da universalização de Direitos Humanos.

1.2 Definições de conceitos de adolescentes e de juventude

Na Idade Média, a sociedade tratava a criança como adulto a partir dos sete anos de idade. No decorrer do processo da evolução histórica, social, política e cultural da sociedade essa ideia foi perdendo força e a fase da criança foi sendo ampliada e respeitada. Só muito recentemente o termo “adolescência” passou a ser evidenciado na sociedade. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) efetivou a distância entre a teoria e a prática em relação aos seus direitos e garantias.

Recentemente, passou-se a discutir o papel da juventude brasileira na sociedade, pois “os jovens de hoje nasceram em tempos de crise social, não é por acaso que quase 2/5 estão desempregados ” (SINGER, 2011, p. 28). A sociedade e seus governantes deveriam se1

1Entre os jovens, 36% trabalham, 32% já trabalharam e estão desempregados, 8% estão procurando trabalho e 24% nunca trabalharam e nem estão procurando emprego (pesquisa do Projeto Juventude) (SINGER, 2011, p. 28).

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preocupar com os dados que retratam a situação caótica que esse segmento enfrenta no processo de inclusão social. Historicamente, a juventude se submeteu a lutas e revoluções que marcaram desafios em relação ao poder, tempo e espaço, como por exemplo: nas revoluções francesa e cubana e, também, envolvimento e contribuição na queda do muro de Berlin (SINGER, 2011).

No contexto da ascensão mundial, adolescentes e jovens buscam mobilizar e sensibilizar a sociedade para a importância da sua participação, ampliando espaços democráticos de direitos e garantias a partir da inclusão de políticas públicas que oportunizem a ascensão política, social, cultural e econômica de grupos vulneráveis, bem como o seu acesso ao conhecimento. Acredita-se, assim, no desenvolvimento da sociedade a fim de que possa haver um processo uniforme e evolutivo.

Em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi criado para implementar a formatação de políticas públicas quanto ao atendimento à criança e ao adolescente. As situações de vulnerabilidade vividas por crianças e adolescentes pobres em diferentes pontos do país provocaram a reação de grupos religiosos e de movimentos sociais populares, pois o “menor” não se encontrava contemplado nas políticas sociais e leis existentes na sociedade.

Observa-se, nesse sentido, que o Estatuto da Criança e do adolescente (ECA), introduzido por meio da Lei 8.069/1990, estabelece diretrizes e mudanças pontuais em relação ao tratamento dado às crianças, adolescentes e jovens, os quais devem ser tratados com isonomia, pois são sujeitos de direito. A lei anterior – o Código de Menor – tinha caráter discriminatório, e associava a pobreza à delinquência, considerando que os infratores eram menores pobres e negros que deveriam ser tratados como caso de polícia. Romper com este paradigma tem um custo para a sociedade, pois se evidenciam discursos e práticas de que o infrator – “o problema” – tem classe social, nível de escolaridade, religião, endereço e cor.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece nesse sentido que:

Art. 5º. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punindo na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

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Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II – opinião e expressão; III – crença e culto religioso; IV – brincar, praticar esportes e divertir-se; V – participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI – participar da vida política, na forma da lei; VII – buscar refúgio, auxílio e orientação. (BRASIL, 1990).

A fim de proporcionar um melhor entendimento do contexto histórico, social e cultural da sociedade atual, as legislações vigentes propõem um maior discernimento e compreensão do que é ser criança, adolescente e jovem. Nessa nova concepção acredita-se que o Estado deve oportunizar e assegurar, mediante políticas públicas inclusivas, princípios universalizantes dos Direitos Humanos na formação e no tratamento adequado a esses sujeitos de direitos. Os representantes do Estado brasileiro, quando oportunizado e em ocasiões festivas/comemorativas, evidenciam, por intermédio de discursos, que o futuro da sociedade brasileira depende do tratamento que crianças, adolescentes e jovens recebem do Estado.

Neste sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) assim conceitua Crianças e Adolescentes:

Art. 2º. Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade.

Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre 18 e 21 anos de idade. (BRASIL, 1990).

Já o Estatuto da Juventude, instituído pela Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, assim conceitua Juventude:

§ 1º. Para os efeitos desta Lei, são consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 e 29 anos de idade.

§ 2º. Aos adolescentes com idade entre 15 e 18 anos aplica-se a ​Lei nº 8.069, de 13

de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, ​e, excepcionalmente, este

Estatuto, quando não conflitar com as normas de proteção integral do adolescente. (BRASIL, 2013).

A maior discrepância em relação ao tema “Adolescente e jovens no Brasil” é o descompasso da transição em relação à lei e sua aplicabilidade – sua prática na sociedade –, onde se observam resistências e tradições que imperam e determinam certas ações, dificultando a compreensão do modelo proposto. São entraves que dificultam e resistem às mudanças que podem formar adolescentes e jovens sujeitos de direitos (CUSTÓDIO, 2008). Observa-se, assim, que parte da sociedade conservadora e tradicional, que não cede às

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mudanças, não se resigna ao ver adolescentes e jovens sendo explorados no comércio ambulante em pontos de sinaleiras, entretanto, desperta resignação se estiverem estudando ou em espaços de lazer durante horário comercial.

Por muito tempo, a visibilidade da juventude no Brasil ficou restrita a jovens escolarizados de classe média, enquanto jovens de classes vulneráveis estavam velados nas periferias das cidades e no meio rural, sendo explorados como mão de obra barata e desqualificada, condenando gerações descendentes da escravidão brasileira. Discussões que tratam do tema das políticas públicas para jovens passaram a chamar a atenção da sociedade no início da década de 1990, quando os debates políticos passaram a ganhar espaços nas agendas governamentais de forma ainda muito tímida, pois as discussões estavam centradas na implementação efetiva do Estatuto da Criança e do Adolescente (ABRAMO, 2011).

A sociedade contemporânea vivencia conflitos de gerações culturais, históricas e paradigmáticas em relação ao lugar em que os adolescentes e jovens possam constituir uma identidade autônoma e capaz de dar rumos a um projeto idealizado com a sua participação. O sistema de “freios e contrapesos”, instituído pela sociedade adultizada, impede tais mudanças, mudando a concepção que hoje se tem em relação aos adolescentes e jovens, que é diferente daquela que existia na Idade Média.

O processo evolutivo da efetivação de normas jurídicas implantadas por meio dos Estatutos, principalmente do ECA e, mais tarde, do Estatuto da Juventude, foram projetos criados em gabinetes com a participação restrita de segmentos. Sua implementação ocorreu mediante normas jurídicas eficazes, bem elaboradas, trazidas de discussões em âmbitos internacionais. Não houve, porém, mecanismos eficientes para discutir o assunto no âmbito da sociedade com diferentes níveis culturais, principalmente com grupos sociais vulneráveis, o que causou interpretações jurídicas equivocadas, as quais foram implantadas a partir dos Conselhos Tutelares em níveis locais.

Neste sentido, afirma Norberto Bobbio (2004, p. 62):

Num discurso geral sobre direitos do homem, deve-se ter a preocupação inicial de manter a distinção entre teoria e prática, ou melhor, deve-se ter em mente, antes de

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mais nada, que a teoria e prática percorrem duas estradas diversas e a velocidades muito desiguais.

Sanar equívocos, portanto, é um trabalho árduo que exige competência profissional, disponibilidade técnico-financeira de apoio e estrutura adequada para reverter e ajustar o projeto que está sendo proposto. Nesse contexto cultural, social, econômico e histórico fica difícil alavancar políticas públicas, garantia de direitos, inclusão e dignidade humana pelo viés da universalização dos Direitos Humanos, onde a sociedade resiste a mudanças devido a atos falhos acontecidos no decorrer do processo. Prevalecem, assim, conceitos ultrapassados de adolescentes e jovens, se é que em algum momento histórico eles existiram.

Recentemente foi criado o Estatuto da Juventude , o qual dispõe sobre os direitos dos 2 jovens e os princípios e diretrizes das políticas públicas da juventude. O Estatuto culminou com a publicação do Decreto nº 9.306/2018 , que regulamenta o Sistema Nacional de 3 Juventude, e constitui uma forma de articulação e organização da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos municípios e da sociedade civil na promoção de políticas públicas da juventude. Tais instrumentos possibilitam uma atenção especial para um público considerado juventude, entre 18 e 29 anos, que totaliza cerca de 52 milhões de brasileiros (IBGE, 2010).

O Estatuto da Juventude atende, especificamente, a um grupo de jovens com idade entre 18 a 29 anos, que não possui nenhuma proteção específica. A CF/88 faz menção ao termo “juventude” em seu art. 24, inc. XV, ao estabelecer que é competência da União, dos Estados e do Distrito Federal legislar concorrentemente: “[...] inc. XV – Proteção à infância e à juventude.” (VASCONCELOS, 2009, p. 111). A legislação específica, mencionada pelo Estatuto da Juventude, busca assegurar entre os demais o direito à cidadania, à participação social, à política e à representação juvenil, assim como o direito à educação, à profissionalização ao trabalho, à renda, à cultura, à liberdade de expressão, aos desportos e lazer, à segurança e o acesso à justiça (BRASIL, 2013).

2BRASIL.​Lei n° 12.852​ , de 5 de agosto de 2013 ​. Institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude – Sinajuve. Câmara dos Deputados. Disponível em: ​http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/ Lei/L12852.htm​. Acesso em: 19 set. 2019.

3 BRASIL. ​Decreto nº 9.306, de 15 de março de 2018​. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Juventude, instituído pela Lei n° 12.852, de 5 de agosto de 2013. Câmara dos Deputados. Disponível em:

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Ao refletir sobre Políticas Públicas é preciso lembrar da complexidade de espaços, da faixa etária e do nível econômico de diferentes interesses com os quais convivem adolescentes e a juventude, o que implica na diversidade e na necessidade que pode oscilar entre oportunidade de trabalho, de estudos, de formação, de habitação, de lazer, entre outros. Oportunizar é não cair no erro de falar dos adolescentes e de jovens como se fossem uma unidade, um grupo com interesses comuns, mas lembrar da garantia de direitos como elemento fundamental de respeito à dignidade e de Direitos Humanos dos sujeitos.

Diante das discussões e reflexões sobre os adolescentes e a juventude na sociedade atual, exige-se cada vez mais políticas públicas que possam combater as desigualdades de acesso a fim de que alcancem condições de inclusão, de dignidade humana e de universalidade de Direitos Humanos. Priorizar aos agentes públicos a formação e qualificação, fazendo com que tenham discernimento das diversidades sociais, econômicas e culturais desses segmentos, bem como disponibilizando recursos, é um projeto inovador e integrador, que libertará gerações que ainda estão condenadas pelo poder estatal e da própria sociedade.

1.3 Construção e evolução histórica dos Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um dos pilares da constituição do Estado de Direito Democrático, órgão constituído em 10 de dezembro de 1948, em Assembleia Geral da ONU, em Paris. Naquele momento foi editado o documento que consolidou a proteção dos Direitos Humanos como ​status normativo constitucional a ser alcançado por todos os povos e nações após os horrores vividos na Europa durante as guerras mundiais, em que autoridades mundiais buscaram mecanismos para frear as atrocidades ocorridas até então. Aleatoriamente, as civilizações adotaram medidas de proteção e dignidade da pessoa humana, como por exemplo: o cilindro de Ciro (539 a.C.), a Magna Carta (1215), a Declaração de Virgínia e a Independência dos EUA (1776), entre outros.

No sentido de corroborar com o debate, Costas Douzinas (2009, p. 358) afirma que: “O mundo social é o espaço do egoísmo, da cidadania, do ordenamento jurídico e político e

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dos Direitos Humanos.” Os aspectos históricos, culturais, econômicos, políticos, sociais e jurisprudenciais estão presentes para empoderar o tratamento desigual e preterido, a exemplo do caso dos adolescentes e da juventude. Para que realmente possam assegurar os direitos fundamentais e a universalização dos Direito Humanos são necessários, muitas vezes, o enfrentamento ao Estado, mediante lutas e avanços para que a sua efetivação ocorra no núcleo da sociedade.

O modelo de sociedade ao qual pertence o indivíduo está baseado no sistema capitalista, que evidencia o individualismo, o egoísmo, o lucro e, consequentemente, o apelo consumista. Configura, assim, o ​status​, as necessidades e prioridades que não são elementares, mas que renunciam, aparentemente, o conhecimento e a espiritualidade em prol de uma superficialidade. Os adolescentes e a juventude estão inseridos nesse processo cultural, sendo vitimizados pela tendência global inédita e incapaz de visualização de futuro próximo. Destarte, verdades absolutas estão dando espaço à relativização de verdades, em que o “certo e o errado” estão em constantes mudanças nas gerações advindas, o que se estende a partir da concepção do Estado Moderno e avança numa rapidez constante sobre a sociedade.

Gilberto Natal Maas (2015, p. 109) corrobora a ideia, afirmando que:

A organização do Estado moderno traz em seu bojo um novo paradigma de garantia de um estado de direito democrático, assegurando, com isso, os Direitos Humanos. Os avanços no conjunto de direitos positivados a partir da Magna Carta, da Lei do

Habeas Corpus, Bill Off Rights​, da Declaração de Virgínia, da Independência dos Estados da América (EUA), da Declaração dos Direitos do Homem e dos Cidadãos e da Declaração dos Direitos Universais, influenciaram e determinaram uma tendência histórica, cultural e social da evolução humana, na qual a sociedade internacional vem tendo reflexos.

Nesse processo evolutivo do novo paradigma instituído a partir do Estado moderno percebe-se que até mesmo os pensadores das Ciências Humanas imaginavam tal transformação sociocultural, política, econômica, histórica e social, que se desencadearia em nível global, atingindo todas as classes sociais. Nesse sentido, dificilmente é possível identificar diferenças entre adolescentes e jovens quanto a sua forma de vestir e de frequentar locais de lazer, pois há uma hegemonia que condiciona os cidadãos de forma ética, moral lícita ou ilícita a se manter no padrão e ​status​ socialmente exigidos.

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Esse conjunto de Direitos Humanos em um processo de ascensão, portanto, não consegue garantir dignidade ​in loco aos segmentos da sociedade, mas confirma a ideia de que “os direitos humanos seriam para os humanos direitos” (BOBBIO, 2004). Existem fatores que contribuem para essa ideia, como a falta de conhecimento e a desinformação.

Historicamente, os Direitos Humanos constituídos pela humanidade estão sob domínio de temas culturais, de interesses dominantes e do poder constituído. No decorrer da história, da política, da economia e da cultura, os adolescentes e a juventude brasileira não tiveram visibilidade nesse processo evolutivo. O modelo paradigmático, instituído em relação aos adolescentes e a juventude, o Estado e a Sociedade, busca corrigir injustiças por meio de normas específicas que protegem direitos e garantias.

Dentro do processo de mudança e evolução do desenvolvimento humano, a sociedade busca ampliar e assegurar direitos e garantias fundamentais que dignificam a pessoa humana. A sociedade atual vive os efeitos de todo esse processo, culminando com as ideias instituídas na Declaração dos Direitos Humanos (ONU, 1948), à qual, até então, as sociedades pós-modernas procuram se adaptar.

Observa-se, assim, no preâmbulo do Estatuto da Declaração dos Direitos Humanos: Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana é o fundamento da liberdade, justiça e paz no mundo. Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo no qual os seres humanos gozem de liberdade de expressão e de crença e da liberdade do medo e da miséria, foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum [...]. (ONU, 1948).

A complexidade do preâmbulo, que é uma espécie de introdução e apresentação do Estatuto da Declaração dos Direitos Humanos, de 1948, permite perceber que houve uma condição recente de genocídio contra a humanidade durante a Segunda Guerra Mundial, trazendo a ideia de criar mecanismos legais para impedir um novo holocausto. O que se observa, porém, é que crescem movimentos em desrespeito ao Estatuto dos Direitos Humanos, já que em nenhum momento da História este se consagrou eficaz. O que se

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vislumbra são movimentos que, dependendo do contexto socioeconômico, provocam condições para a propagação das ideias genocidas. Esse fato não é diferente no contexto brasileiro, onde se tem um contingente de 1,4 milhões de adolescentes com idade entre 15-17 anos que abandonaram seus estudos (UNICEF, 2009).

Os desafios da família, do Estado e da sociedade para com os adolescentes e jovens são imensuráveis diante da complexidade do seu efetivo direito de participação em processos decisórios em todos os níveis, independentemente de sua classe social, região geográfica, gênero, etnia, ser portador ou não de necessidades especiais e de orientação sexual. Da mesma forma, cabe oportunizar novas formas de organização e motivar novas lideranças jovens, a fim de superar a visão “adultocêntrica” nos espaços políticos de participação, viabilizando e fortalecendo espaços de controle das políticas públicas e garantias no que tange à universalidade dos direitos humanos (UNICEF, 2009).

Tratar os adolescentes e jovens desconsiderando o contexto histórico da evolução humana e social pode ser um equívoco, podendo-se observar que:

Além de serem sujeitos de direitos, os jovens são também sujeitos de experiência, capazes de contribuir positivamente para o cotidiano das ações em curso. Portanto, a participação da juventude é um elemento central para o processo cotidiano das políticas públicas, capaz de influenciar, fortemente, seus resultados. Há várias iniciativas, na América Latina e no Caribe, de estímulo à participação política dos jovens, em instâncias como os Parlamentos Juvenis. (UNICEF, 2009, p. 16).

Observa-se, neste contexto, que há uma mudança de paradigma social que vai além dos direitos dos adolescentes e jovens e visa dar um novo sentido à sociedade. A participação efetiva desses segmentos é fundamental para um processo de desenvolvimento capaz de superar pontos divergentes e nevrálgicos, históricos e culturais em relação aos conceitos de senso comum, que os considera incapazes, irresponsáveis e demais adjetivos que denigrem esse segmento. Oportunizar aos adolescentes e jovens, precocemente, a responsabilização social e política fará com que se sintam incluídos no processo de cidadania e, consequentemente, proporcionará uma sociedade diferente da atual.

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Em relação ao Estatuto da Declaração Universal dos Direito Humanos, percebe-se a lógica instituída aos países signatários, os quais rompem com o paradigma posto até então. Os Estados-membros têm dificuldade para efetivar este novo olhar sobre segmentos sociais vulneráveis que não possuem voz e nem vez, e que perecem ser de organização e de liderança. Para romper com o velho modelo e instituir um novo, cabe afastar-se de laços culturais que ainda estão sob o crivo da verdade absoluta. Nesses segmentos caracterizados estão inseridos os adolescentes e jovens, que muito recentemente passaram a ser considerados grupos sociais na história da sociedade brasileira. A própria juventude não conseguia, por si só, se organizar dentro da sociedade para buscar e assegurar seus direitos e garantias.

Diante do exposto, a sociedade mundial inaugura uma onda de novas gerações de direitos que passam a consagrar e assegurar garantias sociais, aliadas à política neoliberal dos direitos transindividuais, que decorrem das profundas mudanças pelas quais passou a sociedade internacional devido ao desenvolvimento tecnológico e científico. Essas mudanças alteraram as relações econômicas, sociais, históricas e culturais e, consequentemente, surgiram novos problemas, como o meio ambiente e a proteção de consumidores, que comprometem as futuras gerações de adolescentes e jovens.

Neste sentido, a sociedade brasileira sofre os reflexos da globalização e busca efetivar políticas públicas inclusivas, operacionalizando os seus estatutos e princípios jurídicos, sendo signatário de decisões internacionais, como a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 1989. Assim, as concepções de criança, de adolescente e de juventude passaram a ser alteradas, garantindo princípios de prioridade, integralidade, segurança, lazer, trabalho, educação, moradia, alimentação e saúde. As forças ativas da sociedade efetivaram o que a legislação determina, nascendo movimentos de amparo e garantia de direitos integrais que constituem a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, e a Lei 12.594/12 (Sistema Nacional de Atendimento socioeducativo – SINASE), que ​regulamenta a execução das medidas socioeducativas destinadas a adolescentes que praticam ato infracional. Todas essas ações se efetivam a partir de uma lógica global pautada nos princípios históricos da evolução dos Direitos Humanos dos quais o Brasil é signatário.

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É necessário, portanto, buscar espaços de direitos e de garantias aos adolescentes e à juventude por meio de políticas públicas afirmativas, onde esses segmentos possam se desenvolver em aspectos amplos, complexos e integrais, seja na cultura, no lazer, na intelectualidade, no emocional, no espiritual e no físico. Assim, as normas especiais deveriam fornecer guarida para a organização ativista e pragmática de grupos sociais vulneráveis, mas, para tanto, necessitam de apoio, incentivo e orientação.

2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O ESTATUTO DA JUVENTUDE: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS

O Estado sempre passa a se organizar a partir de exigências da própria sociedade. Observa-se, contudo, no decorrer do processo civilizatório, uma total ausência de garantias de direitos em determinados segmentos que até então eram esquecidos pelos representantes do poder público, como no caso dos adolescentes e da juventude. A partir da segunda metade do século XX, o mundo passou a questionar e buscar alternativas jurídicas para efetivar garantias e direitos aos adolescentes. O Brasil, da mesma forma, também passou a discutir ações afirmativas que pudessem assegurar proteção e direitos.

Assim, no final da década de 80 do século passado, houve mudanças políticas no Brasil, como o fim do regime militar (autocracia), abertura democrática, eleições diretas, nova constituição e implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Esses fatores trouxeram um novo paradigma em relação à criança e ao adolescente, cujos segmentos passaram a ter proteção integral do Estado e a ser tratados como sujeitos de direitos. A partir daí a implantação de políticas públicas inclusivas passou a fazer parte da política de Estado e,

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mesmo de uma forma tímida, o processo teve avanços e retrocessos na sua implementação pelo Estado. Já mais tarde, nos primeiros anos do século XXI, em um processo globalizante, o Brasil passou a discutir o Estatuto da Juventude – algo muito recente e complexo que ainda precisa de incrementos e adaptações para a sua efetivação.

Quanto às diferenças conceituais e de abrangência entre adolescentes e juventude, o primeiro segmento surgiu da lógica desenvolvimentista, sendo uma etapa do desenvolvimento humano pelo qual todos, obrigatoriamente, precisam passar. Está, portanto, relacionado aos aspectos psicológicos, conforme determina o art. 2º do ECA: “considera-se [...] adolescentes aquele entre 12 e 18 anos de idade.” Já quanto ao conceito de juventude, esse nos faz pensar no sujeito como um ser construído e absorvido por fluxos de multiplicidade e diferenças, privilegiado no campo das teorias sociológicas e históricas na qual a leitura do coletivo prevalece, conforme expressa o Estatuto da Juventude em seu art. 1º, § 1º: “[...] para efeito desta lei, são considerados jovens pessoas com idade entre 15 e 29 anos de idade.” (BRASIL, 2013).

Diante dessas afirmações observa-se que o Estatuto da Juventude veio para complementar as políticas públicas inclusivas, pois dispõe sobre os direitos dos jovens, seus princípios e as diretrizes. Sendo assim, possibilita a incorporação das políticas de juventude como política de Estado para além do ECA, pois enquanto este assegura direitos e proteção até os 18 anos, aquele amplia a sua atuação com o objetivo de fortalecer as políticas de autonomia e emancipação dos jovens entre 18 e 29 anos.

Neste capítulo são abordados temas que se relacionam, primeiramente, à forma como se constituem os adolescentes na atual sociedade, a historicidade do conceito de adolescente e as concepções sociológicas de juventude que ora tem se discutido nos meios acadêmicos e jurídicos, cuja concepção é relativamente nova e de ampla complexidade. Analisa-se, também, a relação dos adolescentes com o ato infracional, considerado um ponto nevrálgico nos meios acadêmicos, midiáticos, culturais, sociológicos e jurisdicionais.

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A adolescência se configura como uma fase do desenvolvimento humano, caracterizada pela passagem da infância à vida adulta (juventude). Nessa fase o sujeito busca independência, por vezes de forma agressiva e com personalidade forte em seus conceitos. Observa-se, também, uma crescente consciência e conhecimento do “eu”, o que gera uma adaptação progressiva com o núcleo social da família, da escola e da comunidade em geral. Diante da complexidade do desenvolvimento humano, nessa fase os adolescentes processam mudanças biológicas, físicas e psicológicas que, na maioria das vezes, não são respeitadas pelo adulto que, de forma cultural, sociológica e histórica mantém a tradição de educar.

Neste sentido, percebe-se que a fase da adolescência precisa ser estudada e analisada em suas especificidades, uma vez que se trata de um conceito novo em relação à história civilizatória. Deve, portanto, ser uma condição singular a partir das características que formam o adolescente, sendo que cada caso possui suas especificidades, como se pode observar a seguir:

É embrionária a inserção histórica e social do termo “adolescente” na sociedade, pois somente no século XX começou a ser usado a fim de conceituar um período do desenvolvimento humano entre infância e idade adulta, que engloba desde a puberdade ao completo desenvolvimento do organismo. Trata-se de uma fase de alterações físicas e mentais que não ocorrem apenas no próprio adolescente, mas também relativamente ao seu entorno. (MAAS, 2015, pp. 70-71).

O processo civilizatório global, porém, deu pouca atenção à adolescência, pois historicamente o conceito é bastante recente. Assim, tem-se um Estado idealizado e efetivado a partir das concepções adultas, enquanto esse grupo passa a participar da sociedade de forma ativa na política, na economia e, recentemente, também no social. No caso específico do Brasil, a sociedade não percebe os adolescentes com “bons olhos”, e acaba naturalizando estigmas, criando, assim, um determinismo cultural, um discurso psicologizado que, por sua vez, naturaliza as condições dos adolescentes.

Diante desses aspectos, a fase da adolescência se encontra vitimizada pela sociedade, devido, principalmente, às suas tempestividades emocionais, psicológicas e intelectuais, além de tensões e conflitos que, às vezes, são apresentadas nos meios sociais como uma forma de pedido de socorro, de romper uma ordem institucionalizada que culturalmente se encontra estática. Romper com este modelo paradigmático, contudo, é necessário para a harmonia

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social, mas grande parte da sociedade está insensível aos apelos de um segmento populacional bem significativo. Neste sentido, Deborah Fernandes Carvalho (2012, p. 48) observa que:

Essa tendência justifica, ainda, a presença e a expressividade da criança e dos adolescentes na esfera midiática. Nas últimas décadas, pode-se notar um aumento nas ofertas de comunicação dirigidas a esse público, incluindo muitos programas e filmes infantis. Além disso, tanto a programação dirigida ao público adulto ganha elementos que atraem esse segmento, quanto as propagandas dirigidas à criança e aos adolescentes proliferam na mídia. A publicidade reconhece a criança na sua condição de consumidor atual, com poder de decisão sobre a compra de artigos infantis, de consumidor do futuro, sendo atraído hoje em um processo de fidelização e seu poder de influência sobre itens de consumo de toda a família. Já o adolescente é visto, além dos atributos citados às crianças, pelo seu valor aspiracional, tanto dos mais novos, que querem imitar os um pouco mais velhos, quanto dos adultos, na busca de parecerem mais jovens, ​cools​ e “antenados”, exige a atual sociedade. Diante desse paradigma, a sociedade brasileira paga um preço alto pela forma de tratar, governar, olhar, refletir, jurisdicionar e tomar medidas eficazes pelos adolescentes. A sociedade Ocidental moderna e capitalista vive em função das necessidades geradas pela cadeia de produção e consumo. Os adolescentes, consequentemente, constituem um quarto dessa sociedade, e se tornam integrantes dessa cadeia.

A atual sociedade tem o consumo como valor mais característico e supremo para uma vida feliz, e considera os adolescentes como potenciais consumidores. Cada dia que se passa, porém, fica mais evidente que consumir não traz felicidade (BAUMAN, 2008).

Nesse contexto, o mercado oferece produtos que atentam adolescentes e jovens a adotarem padrões de consumo cada vez mais normatizados, os quais se renovam a uma velocidade extrema. Isso levou ao desenvolvimento de uma estratégia de ​marketing extremamente agressiva que procura impor tal padrão de consumo. Vive-se, dessa forma, em uma sociedade utópica onde o consumismo se tornou sinônimo de felicidade. O processo de exclusão do mercado institucionaliza a violência do “ter”, fazendo com que os adolescentes, muitas vezes, atuem de forma ilícita, praticando o roubo, furto, tráfico de drogas, latrocínios, etc.

Adolescentes ricos e pobres apresentam diferenças substanciais entre si, especialmente quanto à vivência. Nas camadas pobres, os adolescentes são agredidos pela estrutura econômica, vivenciando formas muito diferentes daquelas apregoadas culturalmente como

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ideais e desejadas. Convivem, assim, com o trabalho precoce, a pobreza, a violência, o despreparo familiar e social, além de tantos outros problemas, submetendo-se a formas cruéis de perda da infância e da adolescência, bem como a entrada prematura na vida adulta. Já em grupos privilegiados, a adolescência se prolonga por mais tempo, permitindo uma formação educacional e aspirações de uma carreira profissional.

Também se observa a influência da violência urbana que promove restrições, ou seja, um “engaiolamento espacial” dos adolescentes, principalmente de grupos privilegiados que restringem o direito de ir e vir, permanecendo ilhados nas escolas e nos ambientes familiares, incidindo nos limites de liberdade e promovendo uma fragilidade psíquica. Como consequência, surgem adultos fragilizados, sem muita determinação e com falta de convivência com os diferentes grupos, distanciados de uma realidade social. Esta é, muitas vezes, a realidade brasileira, de onde surgem os mandatários e administradores do Estado nos poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e de grandes corporações.

Os adolescentes não se conectam apenas a um momento particular do estado de desenvolvimento de um corpo, mas mantêm conexões profundas com certas formas de sociabilidade, de organização social, de vinculações afetivas, com espacialização da cidade, com a vida urbana, com produções culturais, propaganda, presença da meios de comunicações sociais e jogos eletrônicos, com instituições sociais e tantos outros órgãos vinculados à sociedade. Assim, os adolescentes, como agentes transformadores, por meio da transgressão e não aceitação de um mundo pré-estabelecido, conflitam contra determinados valores, estigmas, preconceitos e tradições que lhes são impostos. Isso, porém, não significa, necessariamente, que este adolescente está doente ou que está atravessando uma crise psicológica. Trata-se de fenômenos naturais, passagem de atitudes de simples expectador para uma posição ativa, questionadora, e que vai gerar revisão, autocrítica e transformação, sendo fundamental para a formação de sua própria personalidade.

Leila Maria Ferreira Salles (2005, p. 35) afirma nesse sentido que:

A identidade da criança e do adolescente é construída hoje numa cultura caracterizada pela existência de uma indústria da informação, de bens culturais, de lazer e de consumo onde a ênfase está no presente, na velocidade, no cotidiano, no

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aqui e no agora, e na busca do prazer imediato. A subjetividade é, então, construída no comigo mesmo, na relação com o outro e num tempo e num espaço social específicos.

Neste sentido, a história de vida dos adolescentes, embora seja simples, não é um processo independente da sociedade em geral, pois o social constitui o subjetivo. Os adultos exigem e se fundamentam na concepção de que os adolescentes devem ser disciplinados e responsáveis. Este é, portanto, um período de experimentação de valores, de papéis sociais e de identidade, ou seja, uma fase em que ocorre uma ambiguidade entre ser criança e ser adulto. Assim, a fase da adolescência é tida como conflituosa e de variação de humor, com oscilações de ideias e de planos, período de instabilidade emocional e psicológica não entendida pela sociedade adultizada.

Na complexa sociedade pós-moderna, repleta de contrastes sociais, econômicos, políticos e históricos nunca vistos até então, os sujeitos são influenciados pela ação midiática, pela disponibilidade do conhecimento, pelas redes de fake News, consumo e consumismo desenfreado, em que tudo é descartável, inclusive as relações sociais. Tudo está pronto, acabado, e não exige do sujeito nenhuma criatividade, o “ter” prevalece acima do “ser”, e tudo passa a ser descartável – famílias, pessoas, instituições, valores, princípios... Diante desse contexto, os sujeitos buscam uma identidade de criança, adolescente, jovens, adultos e velhos, cada um com uma história própria que atende a uma subjetividade social. É uma utopia imaginar um novo paradigma social diferente do que os poderes constituídos impõem ao indivíduo e esperar que o mesmo faça diferente do que está sendo feito (MAAS, 2015).

É preciso repensar o modelo de sociedade em que os adolescentes estão inseridos: o que se espera deles? O que se pode oferecer a eles como alternativas às que são postas até então? Como esperar que pratiquem ações de justiça, de igualdade, de dignidade, de paz, de solidariedade, que se faça uma corrente do bem que invada o dia a dia de todos sem nenhuma ou tímidas atitudes da sociedade adulta empoderadas?

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A definição que se tornou referência da categoria de juventude é o recorte a partir de uma faixa etária específica do período de transição entre a adolescência e o mundo adulto, considerada de construção social. Essa concepção se estabeleceu a partir da Conferência Internacional sobre a Juventude (Conferência de Grenoble, 1964), a qual teve como principal preocupação o êxodo de jovens do campo às cidades, em detrimento das mudanças no setor produtivo, já que a cidade exigia mão de obra no processo industrial, iniciado no século XIX.

O termo “juventude” demonstra homogeneidade e esconde diferenças e desigualdades que, histórica e socialmente, variam entre aqueles definidos como jovens. Vencer a invisibilidade, buscar a formação, caminhos e olhares que permitem a construção de uma nova identidade social, portanto, são perspectivas que predominam entre a juventude urbana dos grandes centros metropolitanos brasileiros.

Nilson Weisheimer (2009, p. 38) elucida nesse sentido que:

A juventude surge como tema de pesquisa social no alvorecer da Sociologia. Antes de esta se constituir como ciência autônoma e institucionalizada no sistema de ensino universitário, a juventude foi objeto de investigação nos estudos de levantamento social que marcam a pré-história das Ciências Sociais no século XVIII. Esses estudos precursores da Sociologia da Juventude foram, em grande medida, impulsionados pelas transformações sociais provocadas pela emergência do capitalismo como modo de produção dominante. Este trouxe como efeitos o abandono, o aumento da criminalidade juvenil e toda uma série de violências contra jovens, como, por exemplo, a doméstica e o abuso sexual praticado por pessoas em situações de vantagem em relação a suas vítimas.

No final do século XX e início do século XXI presenciou-se um grande impulso nos debates sobre a juventude. Embora ainda considerado marginal por diversos autores, há uma extensa produção literária para os jovens do meio urbano, ao contrário da juventude rural que ainda convive com uma restrita produção bibliográfica. Isso pode ser justificado pelo contingente populacional da faixa etária de 15 a 29 anos no Brasil, que representa em torno de 53 milhões, ou seja, 27% da população total, enquanto a população de jovens rurais contabiliza cerca de 8,1 milhões, ou seja, 4,5% da população brasileira, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE, 2009).

Referências

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