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História: O Movimento da Cintura Verde As florestas e a saúde O fardo das mulheres As florestas e os modos de vida...

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Página

Florestas

10

Neste capítulo:

História: O Movimento da Cintura Verde . . . 176

As florestas e a saúde . . . 177

O fardo das mulheres . . . 180

As florestas e os modos de vida . . . 181

História: Proteger as florestas e os modos de vida . . . 182

Ecoturismo . . . 183

Outros produtos da florestas para além da madeira . . . 183

História: Apanhar medicamentos na floresta . . . 184

Destruição da floresta . . . 185

Conflitos florestais . . . 186

Actividade: Sociodramas . . . 186

Uso sustentável das florestas . . . .189

Actividade: Usar o conhecimento de todos, considerar as necessidades de todos . . . 191

Fazer um plano de gestão da floresta . . . 192

Parcerias para proteger a floresta . . . 193

História: Trabalhar em conjunto para proteger a floresta amazónica . . . 193

Reservas florestais . . . .194

História: Floresta que sustenta as pessoas e as árvores . . . .195

Reflorestação . . . 196

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175

Florestas

As florestas oferecem recursos essenciais como alimentos, lenha, materiais para construção, forragens, medicamentos e muitas outras coisas. As árvores e as florestas também desempenham um papel importante a sustentar um ambiente saudável. Elas mantêm o ar e a água limpos, previnem a erosão e as cheias, enriquecem o solo, servem de casa para os pássaros, os animais e as plantas, dão sombra e tornam as nossas comunidades mais bonitas.

Para que as florestas continuem a oferecer recursos e a manter o ambiente saudável, elas devem ser cuidadas, geridas com justiça e usadas com sabedoria. Mas, como os recursos das florestas são considerados valiosos pelas indústrias e pelas comunidades, e como a terra debaixo das florestas é muitas vezes desejada para outros usos, as florestas em todo o mundo estão a ser abatidas mais depressa do que conseguem voltar a crescer. Algumas empresas de exploração de madeira ou outras indústrias que abatem as florestas, como a indústria mineira, oferecem às pessoas fontes de rendimento de que elas precisam desesperadamente.

No entanto, é preciso encontrar um equilíbrio entre a necessidade de uso da terra e dos recursos e a necessidade de proteger estes recursos para o futuro. Quando um recurso é usado em excesso, isso causa danos de grande alcance e duradouros. Muitas comunidades que viveram da floresta durante gerações sabem que vão ser gravemente prejudicadas se a floresta for usada em excesso ou abatida.

(3)

O Movimento da Cintura Verde

Wangari Maathai, uma mulher do Quénia, país da África Oriental, diz que o Monte Quénia costumava ser uma montanha “tímida”, sempre escondida por detrás das nuvens. Esta montanha é sagrada para o seu povo, porque muitos rios correm das florestas que em tempos cobriam as encostas da montanha. Agora, o Monte Quénia já não é “tímido”. As nuvens que o cobriam foram-se embora e as florestas também. E com a perda das florestas e das nuvens, os rios também começaram a secar.

À medida que foi crescendo, Wangari viu como é que a desflorestação levou à erosão do solo, à perda dos recursos de água e à falta de lenha. Ela começou a compreender que a desflorestação causava pobreza e seca. Por isso, Wangari começou a plantar árvores.

Wangari organizou um grupo de mulheres para plantar árvores à volta das suas casas e campos. Como elas plantavam as árvores em filas ou “cinturas”, elas ficaram conhecidas como o Movimento da Cintura Verde. As mulheres do Movimento da Cintura Verde começaram a explicar às pessoas como é que as suas vidas eram afectadas pela desflorestação e começaram a plantar árvores com elas. Trouxeram árvores de fruto para os camponeses e plantaram-nas nas encostas dos montes, para prevenir a erosão. Ao plantar árvores nas cidades e nas aldeias para criar espaços verdes, e para disponibilizar lenha, elas mostraram como é que plantar árvores podia resolver muitos problemas. O Movimento da Cintura Verde também plantou jardins, construiu pequenas barragens para captar a água das chuvas e realizou encontros para ajudar as pessoas a compreenderem a necessidade de terem florestas saudáveis.

Ao assumir a responsabilidade pelo seu desenvolvimento, o Movimento da Cintura Verde apercebeu-se de que precisava de apoio do seu governo, para cuidar do ambiente para o bem de todos os quenianos. Plantar árvores tornou -se uma expressão de um movimento pela paz e democracia no Quénia. Quando surgiam conflitos entre diferentes comunidades, o Movimento da Cintura Verde usava “árvores da paz” para ajudar a reconciliá-las.

Enquanto mulher que plantava árvores, Wangari tornou-se uma heroína no seu país. Mas ela também enfrentou muitas dificuldades. Incapaz de viver com uma mulher tão forte, o seu marido deixou-a. Como ela se organizava entre os pobres, o seu governo prendeu-a. Mas, por causa da sua coragem, e do trabalho de milhares de quenianos, o Movimento da Cintura Verde teve sucesso a plantar milhões de árvores.

Em 2004, Wangari Maathai ganhou o Prémio Nobel da Paz, um dos prémios mais famosos do mundo. O prémio foi-lhe dado a ela por promover a paz através do desenvolvimento sustentável, que inclui democracia, direitos humanos e igualdade para as mulheres. E tudo

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A S FLO R E S TA S E A SAÚD E 177

As florestas e a saúde

As florestas são um importante apoio para a saúde das pessoas em todo o lado e estabilizam o clima. Mesmo as pessoas que vivem longe das

florestas, ou em áreas onde as florestas se degradaram ou foram gravemente estragadas, dependem de coisas que a florestas oferece. Quando as florestas são degradadas ou destruídas, a saúde comunitária fica ameaçada, porque os processos e funções que as árvores e as florestas realizam no apoio à saúde não são realizados.

Medicamentos Frutos e outros alimentos

Sombra em relação ao sol

Protecção da chuva

Casa para outras plantas e animais Madeira para combustível e abrigo As folhas constroem o solo As raízes mantêm o solo no seu lugar e mantêm a água no chão

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As florestas e a água

Algumas pessoas acreditam que as árvores atraem a chuva e mantêm a água perto do chão. Outras acreditam que as árvores usam mais água do que a que disponibilizam e que elas competem com as culturas. Conforme o tipo de árvore, o lugar onde elas crescem e outras condições, ambas as crenças podem ser verdade.

Os solos de floresta ricos e as raízes profundas das árvores funcionam como filtros para a água. Quando os pesticidas, os metais pesados e outros produtos químicos tóxicos poluem a água à superfície e a água subterrânea, as florestas ajudam a filtrá-las. A água filtrada alimenta os nossos poços, rios e lagos e mantém saudáveis as nossas bacias hidrográficas e as pessoas que lá vivem. Sem as

florestas para proteger as fontes de água, há menos água segura para beber e tomar banho. Por todas estas razões, é habitualmente melhor deixar as árvores de pé do que cortá-las, sobretudo se a sua água for limpa e abundante. Mas alguns tipos de árvores, sobretudo as árvores que crescem depressa e não são naturais da área (ver página 202), podem gastar os recursos de água. É importante que os camponeses e outras pessoas que queiram proteger os recursos de água reparem como é que os diferentes tipos de árvore afectam a água e tomem decisões cuidadosas sobre que tipo de árvores devem plantar.

As florestas e o tempo

As florestas têm efeitos importantes no tempo meteorológico e no clima (o tempo meteorológico num lugar ao longo de um período de tempo). Elas podem ajudar a tornar o tempo com temperaturas menos extremas arrefecendo e humedecendo o ar quente e aquecendo e secando o ar frio. As árvores protegem as casas e as culturas dos ventos fortes e do sol quente, e dão abrigo quando há chuvas fortes.

Numa escala maior, as florestas combatem o aquecimento global (ver página 33) ao absorverem a

poluição tóxica. Isto ajuda a manter mais suave o clima de todo o planeta, e o ar e a água saudáveis. Quando perdemos grandes áreas de floresta, aumenta a ameaça de desastres naturais, como por

exemplo os furacões, as secas e as vagas de calor.

Quando as florestas são abatidas, o tempo meteorológico torna-se mais extremado.

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A S FLO R E S TA S E A SAÚD E 179

As florestas previnem a erosão e reduzem o risco de cheias

Ao acrescentar folhas ao solo, ao dar sombra para as plantas que crescem entre as árvores e ao manter o solo no lugar com as suas raízes, as árvores previnem a erosão e reduzem o risco de cheias. Elas reduzem a velocidade da água da chuva e espalham-na pelo chão, para que ela se infiltre no solo em vez de escorrer sobre ele.

Quando as florestas são abatidas, o solo é arrastado para os rios e ribeiros. Quando as tempestades vêm, o solo já não é capaz de absorver e segurar a água da chuva. Em vez disso, a água escorre mais depressa

sobre a terra, causando cheias. Manter as árvores e as florestas de pé é uma maneira importante de proteger o fluxo natural da água através da bacia hidrográfica (para uma actividade que mostra o que a chuva faz ao solo sem árvores ou plantas, ver página 289).

Diversidade florestal e saúde

Numa floresta, é fácil ver a teia da vida (ver página 27), porque uma floresta saudável contém muitos tipos diferentes de plantas e animais. Esta diversidade de vida protege a saúde das pessoas de muitas formas.

As abelhas e outros insectos que vivem nas árvores fazem a polinização das culturas, para que elas dêem flor e produzam fruto. As vespas e as formigas comem insectos que atacam as culturas. Os morcegos e os pássaros comem mosquitos que propagam a malária, a febre-amarela e outras doenças. Outros animais da floresta mantêm os ratos, as pulgas, as moscas e as carraças sob controlo, caçando-os ou competindo com eles, e impedem-nos de propagarem doenças.

Quando os povoamentos humanos são construídos dentro ou perto de florestas degradadas, o número e variedade de animais é reduzido, porque as suas fontes de abrigo e alimento tornam-se menos abundantes e menos diversas. Além disso, os animais que restam são forçados a viver em contacto estreito com as pessoas. Isto traz uma maior possibilidade das doenças dos animais passarem para as pessoas. Ao manter umaa floresta suficientemente abundante para suportar uma variedade de plantas e animais, protegemos a saúde humana.

(7)

Florestas, alimentos, combustível e

medicamentos

As florestas contêm uma grande variedade de frutos, nozes, sementes, raízes, insectos

e animais que servem como alimento e medicamento para as pessoas. Quando as florestas se degradam, isso muitas vezes resulta em fome, malnutrição e doença. As pessoas que dependem destes recursos devem encontrar outras formas de sobreviver. Quando os alimentos e os medicamentos da floresta se perdem, o conhecimento sobre como prepará-los e usá-los também se perde. Desta forma, a perda de florestas leva à perda de conhecimentos e de tradições importantes.

Em lugares onde os recursos são poucos, as pessoas muitas vezes sentem-se forçadas a escolher entre manter as florestas de pé ou deitar abaixo as árvores para plantarem culturas como alimento. Mas até mesmo para os camponeses que abatem a floresta para plantar culturas é importante manter algumas árvores. Em áreas onde a agricultura compete com as florestas, é importante tentar manter um equilíbrio entre elas (para mais informação sobre florestas e agricultura, ver página 302).

O fardo das mulheres

As mulheres e as crianças fazem muitas vezes o trabalho duro de recolher e transportar madeira para combustível. O fardo deste trabalho, ao longo de muitos anos, pode causar problemas de saúde. À medida que as florestas são destruídas, as pessoas percorrem distâncias cada vez mais longas para recolherem madeira. Isto dá-lhes menos tempo para fazerem outros trabalhos necessários e para irem à escola.

As mulheres e as crianças também enfrentam a violência física e sexual quando viajam para apanhar lenha. Por causa disto, nalguns lugares as mulheres e as raparigas vão recolher lenha em grupos, durante o dia. Quando se plantam e mantêm boas árvores para lenha perto de casa, as pessoas que recolhem madeira podem ficar mais seguras e melhorar a sua saúde.

Transportar cargas pesadas ao longo de grandes distâncias pode causar dores de cabeça, dores de costas e, sobretudo nas crianças, pode estragar a coluna vertebral.

Como é que podemos cozinhar, se os alimentos e a lenha

da nossa fl oresta desapareceram?

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A S FLO R E S TA S E OS M O D OS D E V IDA 181

As florestas e os modos de vida

As florestas são uma fonte importante de formas de ganhar a vida. Alguns governos e organizações internacionais dizem que o maior prejuízo às florestas é causado pelas pessoas pobres que cortam árvores para praticar agricultura ou para ganhar a sua vida de outras formas. Mas quando as pessoas não têm suficientes alimentos, rendimentos para outras necessidades básicas, a necessidade de sobreviver torna-se mais importante do que a necessidade de preservar as florestas. Às vezes, as pessoas não têm outra escolha senão cortarem árvores, seja para limparem novos terrenos para a agricultura, seja para apanharem lenha e madeira. A culpa da destruição da floresta raramente é colocada nas indústrias que retiram enormes quantidades de madeira ou deitam abaixo florestas para exploração mineira, exploração de petróleo ou plantações industriais.

Quando as necessidades diárias das pessoas são satisfeitas, elas são mais capazes de pensar no futuro, incluindo pensar na forma de cuidarem do ambiente. As pessoas que vivem nas florestas e cuidam delas sabem que há muitas formas de ganhar a vida com a floresta sem causar muitos danos. Pessoas que vivem nas florestas e cuidam delas sabem que há muitas maneiras de ganhar a vida da floresta sem causar muito dano.

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Praticar agricultura na floresta

Em muitos lugares, os camponeses limpam alguns espaços da floresta para plantarem culturas, deixando a floresta que fica à volta dos seus campos sem ser tocada. Eles cultivam esse espaço até que as ervas daninhas comecem a competir com as suas culturas. Então, limpam um novo pedaço de terra e a floresta volta a crescer no terreno antigo e restaura o solo. Isto é por vezes chamado de agricultura de “corte e queimada”.

A agricultura de corte e queimada é praticada há milhares de anos. Mas, à medida que as populações crescem e se estabelecem em novas áreas, a quantidade de floresta disponível para agricultura é reduzida. Nem há terra suficiente para deixar que os pedaços de terra voltem a ser repostos pela floresta. Este tipo de agricultura tornou-se insustentável, tanto para os camponeses como para a floresta. As comunidades que praticam agricultura em áreas de floresta podem obter melhores resultados e permanecer na sua terra por mais tempo se usarem métodos agrícolas sustentáveis (ver Capítulo 15).

Proteger as florestas e os modos de vida

Nas florestas do Andra Pradesh, na Índia, os aldeãos limpam algumas parcelas de terreno na floresta para produzirem as suas culturas. Mas nos meses em que há pouca comida proveniente dos seus terrenos agrícolas, a vida de muitas pessoas depende daquilo que é produzido na floresta. Alguns aldeãos reúnem-se e vendem madeira para combustível, enquanto outros usam madeira para fazerem ferramentas para vender. A forma como os aldeãos são autorizados a usar os recursos da floresta é controlada por grupos chamados “comités comunitários florestais”.

Quando os comités florestais viram que algumas áreas estavam a ficar estragadas por causa do uso excessivo, criaram novas regras para reduzir a quantidade de madeira que podia ser tirada. As regras eram muito restritas e as vidas de muitas pessoas ficaram ameaçadas. As pessoas que sobreviviam vendendo madeira para combustível e fazendo ferramentas deixaram de ter esta fonte de rendimento. Durante os meses em que a comida faltou, estas famílias sofreram.

Os membros dos comités florestais vinham destas mesmas comunidades, por isso, eles queriam encontrar uma solução que garantisse que nenhum membro da comunidade passasse fome, ao mesmo tempo que se protegia a floresta. Depois de muitos encontros, foi tomada uma decisão. Em vez de mudar as novas regras da floresta, os comités florestais

iriam melhorar a terra agrícola, construindo barreiras de contorno dos campos para reduzir o movimento da água e prevenir a erosão.

Isto iria tornar o solo mais rico e também iria disponibilizar mais água para as culturas, de modo que as quintas seriam mais produtivas e

(10)

A S FLO R E S TA S E OS M O D OS D E V IDA 183

Ecoturismo

O ecoturismo é uma forma de ganhar dinheiro com visitantes que vêm ver a beleza natural de uma área ou aprender sobre as plantas e os animais que aí vivem. Alguns projectos de ecoturismo trazem pessoas apenas para gozarem da beleza natural. Outros convidam -nas a viver com as pessoas na comunidade, para aprenderem como proteger o ambiente. Outros projectos ainda convidam os turistas a trabalharem activamente em projectos para proteger o ambiente.

O ecoturismo é uma boa maneira de as comunidades florestais

ganharem dinheiro. Mas começar a gerir um projecto pode ser caro e

necessita de um planeamento cuidado. Os turistas requerem alimentos, conforto, alojamento, guias e muita paciência para lidar com as diferenças culturais. Eles podem ter acidentes ou precisar de cuidados de saúde. Conseguir que os turistas venham visitar requer fazer publicidade em revistas ou na internet, imprimir brochuras e organizar outras formas de publicidade.

Os projectos de ecoturismo nem sempre são sustentáveis. Eles devem ser geridos com cuidado, para que o dinheiro que trazem beneficie a comunidade e não apenas os agentes ou negócios exteriores, ou um grupo pequeno de famílias locais. Muitas vezes, os projectos de ecoturismo bem

-sucedidos limitam o número de visitantes, para causar menos pressão sobre a comunidade e menos estragos no ambiente.

Outros produtos da floresta para além da madeira

Os produtos da floresta, para além da madeira, são tudo o que pode ser retirado e vendido sem prejudicar a floresta. Isto inclui nozes, frutos, plantas medicinais e fibras. As comunidades que têm sucesso a vender produtos da floresta, para além da madeira, consideraram importante seguir estas directivas:

• Estabelecer regras claras sobre quem pode apanhar e vender os produtos e como é que se recolhe os produtos de uma forma sustentável. Assim que um produto se torna muito procurado, há o perigo de ele ser apanhado em excesso. Apanhe apenas a quantidade suficiente para que o produto possa continuar a crescer e a reproduzir-se.

• Encontrar ou criar um mercado para o produto. Não faz nenhum sentido recolher produtos se eles não vão ser vendidos ou usados.

O ecoturismo cuidadosamente gerido pode proteger as florestas.

(11)

Apanhar medicamentos na floresta

Perto da Baía de Benguela, na Índia, muitas pessoas consultam médicos tradicionais quando estão doentes. Estes médicos fazem medicamentos a partir de plantas apanhadas na floresta. Um dia, as pessoas de uma organização não-governamental (ONG) chegaram a uma aldeia para ajudarem os aldeãos a apanharem estas plantas medicinais e as venderem na cidade. Ao usarem a sua organização para venderem estes medicamentos, eles ajudaram a comunidade a ganhar dinheiro com a floresta, sem deitarem abaixo as árvores.

Os aldeãos estavam contentes de terem uma nova forma de ganhar dinheiro e muitas pessoas começaram a recolher e a vender plantas medicinais. Mas eles não perguntaram aos médicos tradicionais como é que se apanhavam as plantas sem as estragar e não tiveram cuidado com a quantidade que apanhavam.

Excitados com a ideia de ganharem dinheiro, alguns aldeãos estragavam as árvores de onde retiravam as plantas. Em vez de cavarem à volta de uma árvore para apanharem algumas raízes, algumas pessoas deitavam abaixo toda a árvore. Em pouco tempo, as plantas medicinais quase que tinham desaparecido da floresta. Isto deixou os médicos tradicionais sem plantas para usarem nos tratamentos. Por isso, os aldeãos tinham de gastar muito dinheiro a comprarem medicamentos na farmácia quando estavam doentes. No final, a saúde das pessoas e da floresta sofreram devido à forma como foi feita a recolha de plantas não pensando no futuro.

(12)

D E S T RUI Ç ÃO DA FLO R E S TA 185

Destruição da floresta

A maior parte das florestas são destruídas pelas empresas de exploração de madeira e por outras empresas que obtêm lucro com o uso não sustentado dos recursos. Quando uma floresta é destruída, as grandes empresas limitam-se a mudarem-limitam-se para outra floresta. Mas as pessoas que vivem na floresta destruída, ou perto dela, habitualmente não têm outro lugar para onde ir.

As pessoas que não vivem directamente das florestas continuam a usar muitos produtos da mesma, para fazer livros e jornais, materiais de construção, alimentos como carne, soja e óleo de palma nas plantações que substituíram os espaços das florestas, e minerais retirados da escavação por debaixo da floresta. É raro estas pessoas considerarem a necessidade de substituírem as florestas usadas destas formas.

Como é que as florestas são degradadas e destruídas

Se os recursos florestais não são usados e geridos de forma que permita que a floresta continue a crescer e a produzir, todas as nossas florestas vão desaparecer em breve. As causas dos estragos, em larga escala, sobre as florestas incluem os seguintes:

O abate industrial de madeira (quando a maior parte das árvores numa área é abatida para obtenção de madeira) compacta e provoca a erosão do solo, destrói a vida selvagem e enche os cursos de água com sedimentos.

A agricultura comercial em grande escala, a criação de gado e as

plantações de árvores envolvem muitas vezes a limpeza dos terrenos das

florestas.

As quintas de produção de camarões são construídas através do abate e da limpeza de pântanos e outras florestas costeiras, muitas vezes deixando pequenas comunidades de pescadores sem trabalho, contaminando a água e levando ao aumento de doenças, pobreza e malnutrição.

As fábricas de papel deixam resíduos tóxicos que poluem a terra, a água e o ar.

As empresas de minas, petróleo e gás abatem florestas e deixam um rasto de resíduos tóxicos que envenenam a água, a terra e o ar.

Os grandes projectos de barragens inundam grandes áreas de floresta. As pessoas, forçadas a deslocarem-se do local onde vai deslocarem-ser construída a barragem, cortam, em seguida, mais árvores para fazerem novas casas e campos agrícolas.

As empresas e os governos raramente consideram os efeitos na saúde e nos modos

de vida das pessoas quando as florestas se transformam em fonte de produtos para serem

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Sociodramas

Um sociodrama é uma maneira de usar o teatro para ajudar a pensar sobre os confl itos e as causas desses confl itos. Os sociodramas também podem ajudar as pessoas a explorarem várias possibilidades de acção e mudança (ver página 17 para mais informação sobre sociodramas e dramatizações; ver também o livro da Hesperian Helping Health Workers Learn).

Dividir as pessoas em grupos (de cerca de 5 pessoas cada) e dar a cada grupo

uma pequena descrição de uma situação que poderá levar ao confl ito sobre o uso de recursos fl orestais. Criar situações em que as pessoas acreditem, mas evitar situações locais que possam envergonhar ou provocar

a zanga das pessoas envolvidas nelas. As peças de teatro serão mais realistas se os participantes usarem

disfarces e adereços simples para mostrar os papéis que estão a desempenhar.

Pedir a cada grupo para gastar 15 a 20 minutos a

preparar um sociodrama de 5 minutos. Incentivar todos a desempenharem um papel. Cada grupo apresenta a sua peça aos outros participantes. Depois de cada sociodrama ter terminado, realizar

uma discussão sobre os confl itos comunitários pode levar a encontrar soluções. Também pode esperar até todos os grupos terem apresentado a sua peça e discuti-las todas em conjunto.

Como é que se sentiu? Depois de apresentar os sociodramas e antes da

discussão (ver página 189), perguntar a cada participante como é que se sentiu ao desempenhar o seu papel. Perguntar às pessoas que observaram como é que se sentiram durante a apresentação de cada sociodrama e o que é que os actores os fi zeram sentir sobre o confl ito.

Conflitos florestais

Como os recursos florestais são limitados, surgem muitas vezes conflitos entre as pessoas que precisam de usá-los de maneiras diferentes. Os conflitos também dependem da floresta e das indústrias exteriores à comunidade que querem os recursos que a floresta pode oferecer.

Um(a) facilitador(a) deve conhecer os confl itos na comunidade e ser sensível às

formas como os diferentes membros da comunidade podem

reagir à discussão. Durante os sociodramas deve ter o cuidado

de criar um ambiente seguro e aberto onde as pessoas não

tenham medo de falar.

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(14)

CO N FL I C TOS F O R E S TA L E S 187

Sociodramas (continuação)

Escolher algumas das histórias que se seguem para construir os sociodramas

sobre os confl itos fl orestais. Ou criar sociodramas com base em confl itos reais existentes na sua comunidade.

Situação 1. Personagens: homem com gado;

pessoas que apanham plantas medicinais; participantes de reunião comunitária. Depois de anos longe da comunidade, um homem regressa com 10 cabeças de gado e elas começam a pastar em terreno de fl oresta comunitária. Quando os outros membros da comunidade vão à fl oresta recolher

medicamentos e capim, descobrem que o gado comeu tanto naquele lugar que restou muito pouco para eles. Convocam uma reunião para discutir o problema. O homem com o gado insiste que tem o direito de pôr o seu gado a pastar, independentemente do que o gado come. Os outros membros da comunidade discordam. O que é que acontece a seguir?

Situação 2. Personagens: homens jovens a cortarem árvores; trabalhadores do

governo; mulheres a apanharem lenha.

Vários homens jovens estão a cortar árvores em terrenos comunitários sem autorização e estão a vender a madeira aos trabalhadores governamentais locais, que levam a lenha num camião. Uma mulher vai ao local onde habitualmente apanha lenha e descobre os jovens a cortar as árvores. Um dos homens é o seu fi lho. Ela volta para a comunidade e conta às mães dos outros jovens. No dia seguinte, as mulheres vão à fl oresta para dizerem aos jovens que parem de deitar abaixo as árvores. O fi lho da primeira mulher diz que precisa do dinheiro da venda das árvores para comprar medicamentos para a sua fi lha bebé, a neta dela. O que é que acontece a seguir?

Situação 3. Personagens: membros da comunidade com machados e bois;

homens do governo com serras eléctricas e camiões; ofi ciais do conselho da aldeia. Durante gerações, as pessoas cortaram árvores com machados e

puxaram-nas para fora da fl oresta com bois. Agora, homens do governo local têm vindo com serras eléctricas, deitando abaixo árvores e dizendo que a fl oresta é propriedade do Estado. Um dia, os homens do governo

aparecem com buldózers e equipamento pesado. Eles querem construir uma estrada na fl oresta para tirarem as árvores maiores. Um grupo de homens da comunidade entra na fl oresta para os confrontar. O que é que acontece a seguir?

(15)

R: O gado podia pastar em áreas sem

plantas de que a comunidade

precisa.

R: O dono do gado podia construir

uma vedação.

R: O dono do gado podia desistir do

seu direito de recolher produtos da

floresta em troca do direito de pôr

o seu gado a pastar e depois trocar

por produtos da floresta quando

precisasse deles.

Se a discussão criar muitos desacordos, é importante terminar de maneira que todos estejam juntos. Cantar uma canção em conjunto ou fazer uma actividade de cooperação pode ajudar as pessoas a saírem do encontro com um sentimento melhor.

Sociodramas (continuação)

Discutir cada sociodrama

Pedir aos actores que coloquem os seus disfarces e adereços num monte na frente da sala e regressem ao grupo. Depois, colocar as questões que ajudem todo o grupo a:

Contar o que aconteceu no sociodrama;

Identifi car as acções que levaram ao confl ito;

Identifi car as diferentes necessidades que foram as causas profundas do confl ito;

Sugerir formas de resolver o confl ito a longo prazo.

Repetir este processo com cada sociodrama. O(A) facilitador(a) pode querer escrever as ideias importantes numa folha de papel grande ou num quadro.

Levar os actores a “saírem” dos seus papéis antes de começar a discussão impede que as pessoas ponham rótulos num dos participantes,

considerando-o(a) como vilão ou vítima. É importante não confundir a pessoa com o papel que ele

ou ela desempenha.

P: Resolver este conflito levará a uma

maior ou menor igualdade dentro

da comunidade?

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R: Não houve acordo sobre quem podia

usar a floresta e para que fins.

P: O que é que causou o confl ito?

R: Um homem queria ter gado, mas isso

estragou a floresta.

P: Porque é que o homem sentiu que

tinha direito a pôr o seu gado a

pastar na floresta?

P: Como é que os danos à floresta

afectaram a comunidade?

P: Que necessidades estão em

conflito?

R: Deixou de haver medicamentos e

capim.

P: Há alguma maneira de ambas as

necessidades serem satisfeitas?

R: A necessidade de ter produtos da

floresta e a necessidade de pôr o

gado a pastar.

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US O SUS T EN TÁV EL DA S FLO R E S TA S 189

Uso sustentável das florestas

A gestão sustentável da floresta significa usar e cuidar das florestas de maneira a que se satisfaçam as necessidades diárias ao mesmo tempo que se protegem as florestas para o futuro. Os métodos sustentáveis não são os mesmos em todos os lados. Cada comunidade precisa de descobrir o que é melhor para eles e para a sua floresta.

Fazer um plano de gestão sustentável da floresta pode ajudar uma comunidade a decidir como usar melhor a sua floresta. Também pode ajudar a resistir a ameaças à floresta por parte da indústria ou do governo. Às vezes, você pode conseguir um preço melhor pelos produtos da floresta se puder mostrar que eles foram produzidos de maneira sustentável. Mas a parte mais importante de um plano de gestão sustentável da floresta é que ele ajuda as pessoas locais a trabalharem em conjunto para usarem e protegerem as florestas.

Algumas formas de usar e proteger a floresta ao mesmo tempo incluem o seguinte:

Desbastar vinhas, plantas e árvores deixa entrar mais luz do sol na

floresta, para que as plantas que você quer possam crescer.

O plantio enriquecido significa plantar novas árvores ou plantas debaixo de árvores velhas ou em pequenas clareiras quando elas não estão a a crescer por si mesmas.

Replantar depois de cortar é uma maneira de garantir que haverá novas

árvores e sementes para substituir as que foram cortadas.

As queimadas controladas podem reduzir os arbustos que crescem debaixo das árvores. Isto liberta os nutrientes para o solo e mata as pragas que poderiam prejudicar as árvores. As queimadas controladas precisam de ser planeadas com cuidado, porque os fogos podem ficar facilmente fora de controlo.

O abate selectivo significa cortar apenas algumas árvores, salvando árvores pequenas e algumas árvores mais velhas saudáveis, para reter o solo e ter sementes para o futuro.

Desbastar as árvores signifi ca cortar certas árvores para que as que outras possam crescer maiores e mais saudáveis O abate selectivo protege algumas árvores para o futuro, deixando que a fl oresta continue a crescer.

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Recolher e vender outros produtos da floresta, em vez de vender madeira,

é uma maneira de cuidar da floresta ao mesmo tempo que se ganha dinheiro.

Pagar às pessoas que têm gado para manterem os animais que pastam

fora da floresta e pagar aos camponeses para não cortarem árvores em parte da sua terra, pode manter as florestas saudáveis e prevenir conflitos.

Preservar os corredores de animais selvagens (áreas de floresta ou terra

virgem ligadas entre si) permite que os animais selvagens vivam e passem através de uma área.

Plantar espaços verdes, áreas mais pequenas de árvores em lugares

onde a maior parte das árvores foram cortadas ou onde a floresta desapareceu completamente, é uma maneira de melhorar o solo, a água e o ar, mesmo em cidades e vilas com muita população.

Apoiar o crescimento e a recuperação natural das florestas, limitando o uso

de áreas onde demasiadas árvores foram cortadas, ajuda a floresta a recuperar.

Usar animais para transportar os troncos causa menos estragos do que

usar buldózers ou outra maquinaria pesada.

Cortar a casca e os ramos das árvores que caíram antes de as levar para

fora da floresta causa menos estragos a outras plantas quando a árvore é arrastada para fora. A casca e os ramos apodrecem e fazem bom solo. • O ecoturismo é uma forma de ganhar dinheiro mostrando aos visitantes

a beleza natural da floresta sem ter de cortar árvores ou estragar o ambiente.

Há muitas maneiras de usar a floresta que a mantêm saudável para o futuro.

Os animais compactam menos o solo da fl oresta do que as máquinas.

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US O SUS T EN TÁV EL DA S FLO R E S TA S 191

Esta actividade ajuda a comunidade a pensar sobre como usar e cuidar dos recursos da fl oresta de maneiras que benefi ciam todos. Pode ser feita com um máximo de 25 pessoas, divididas em 3 grupos mais pequenos. É importante incluir todos os que vão ser afectados pelas decisões sobre o uso da fl oresta.

Tempo: 3 a 6 horas (ou em mais do que uma sessão, desde que você guarde os mapas)

Materiais: Canetas, lápis, papel de bloco de notas, 3 folhas grandes de papel com os mapas da sua área, fi ta-cola. Os mapas podem ser desenhados à mão, desde que as pessoas consigam reconhecer o que eles querem representar.

Dar 1 mapa a cada grupo. Pedir a cada pessoa que desenhe imagens do que faz na fl oresta (cortar lenha, pastar o gado, apanhar frutos e plantas, caçar, etc.) no papel de bloco de notas.

Dentro de cada grupo, cada pessoa fala sobre o que desenhou e explica o que é que isso signifi ca para ela. Depois, 1 ou 2 pessoas

desenham imagens no mapa grande para mostrar onde e como é que cada pessoa usa a fl oresta.

Juntar os grupos para uma discussão sobre o que os mapas grandes mostram. Há algumas partes da fl oresta que são mais usadas do que outras? Os homens, mulheres, crianças e pessoas mais velhas usam a fl oresta de maneiras diferentes? Houve algumas surpresas sobre a maneira como a fl oresta é usada?

O(A) facilitador(a) orienta a discussão sobre a saúde da fl oresta fazendo perguntas como estas: Agora a fl oresta oferece os mesmos recursos que sempre ofereceu? Há menos pássaros, animais e plantas do que havia antigamente? Há lugares onde todas as árvores foram cortadas? O que é que acontece agora nesses lugares?

1 ou 2 pessoas de cada grupo deve marcar o seu mapa, usando cores diferentes ou símbolos, os lugares onde a fl oresta é saudável, degradada ou onde ela desapareceu.

Pensar em áreas diferentes da fl oresta e conversar sobre as mudanças que as pessoas querem ver. Desenhar ou escrever essas mudanças

no mapa. Na página seguinte estão algumas perguntas que podem ajudar a orientar uma discussão.

Usar o conhecimento de todos, considerar as

necessidades de todos

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Fazer um plano de gestão da floresta

Depois de fazer a actividade da página 191, tenha em conta estas perguntas: • Que benefícios e recursos é que a floresta nos dá? Que árvores, plantas e

animais é que são usados? Quanto é que é usado em cada época? Existem áreas onde estes recursos são poucos ou desapareceram?

Como é que nós apoiamos a floresta? A comunidade planta árvores, protege

certas áreas ou tem outras formas de garantir que a floresta se mantém saudável?

Algumas partes da floresta deviam ser protegidas e não usadas? Como é que

isso vai afectar as pessoas que usam essas partes da floresta? • Os métodos sustentáveis devem ser praticados em algumas partes? Que

conhecimentos a comunidade tem sobre o cuidado com as florestas que podem ajudar a fazer estas mudanças?

Que capacidades precisamos de ter para gerir a floresta de maneira

sustentável? Se não temos essas capacidades, podemos aprendê-las? Vamos precisar de confiar noutras organizações? Como é que podemos formar alianças fortes com organizações em quem confiamos para elas nos ajudarem a ganhar capacidades e conhecimentos?

Como é que a nossa comunidade pode manter o controlo sobre os projectos florestais? As comunidades bem organizadas que apresentam uma

mensagem forte e clara às pessoas de fora sobre o que querem recebem habitualmente maiores benefícios dos projectos florestais sustentáveis. • Como é que vamos fazer chegar os nossos produtos ao mercado? Muitas

vezes, é mais caro fazer chegar os produtos locais aos mercados nacionais ou internacionais do que vender os produtos localmente. Os preços locais são baixos, mas o custo de os vender também é baixo.

Quanto é que valem os nossos produtos da floresta? Se não sabe se está

a receber um preço justo pelos produtos da floresta, pode contactar algumas organizações de comércio justo (ver secção de Recursos). • Que mudanças o novo plano vai trazer? O novo plano de gestão vai limitar

a capacidade de algumas pessoas de usarem a floresta? Como é que a comunidade vai ajudar essas pessoas em troca?

Se cortarmos demasiada madeira este ano, podemos não ter árvores medicinais sufi cientes no próximo ano. E precisamos de proteger as nossas árvores que nos dão lenha, para que durem durante a época

das chuvas.

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US O SUS T EN TÁV EL DA S FLO R E S TA S 193

Parcerias para proteger a floresta

Construir parcerias com a maior parte dos grupos que beneficiam da floresta ajuda a garantir que a floresta seja usada de forma a satisfazer as necessidades das pessoas. As parcerias com pessoas de fora da área local também podem ajudar a proteger os seus direitos.

Trabalhar em conjunto para proteger

a floresta amazónica

O povo de Amazanga nem sempre viveu no lugar onde está agora. Um derrame de petróleo forçou os membros da tribo Quichua a sair da sua terra de origem, no Amazonas. Quando as suas novas casas foram ameaçadas pela desflorestação e pela agricultura industrial, os aldeãos decidiram que gerir as suas próprias terras de acordo com as tradições do seu povo – caçar, pescar e recolher plantas para comer e para fazer medicamentos – era a melhor maneira de protegerem as suas terras.

Mas isto requeria mais terra do que a que eles tinham. Amazanga exigiu que o governo lhes desse um território para viverem tal como os seus antepassados tinham vivido. “Não podemos viver num pedaço de terra como um pedaço de pão”, disseram. “Estamos a falar de um território e do direito a viver bem da floresta.” Quando o governo ignorou a sua exigência, eles pediram ajuda a grupos ambientalistas internacionais para comprarem de volta as suas terras ancestrais.

Os aldeãos convidaram os seus parceiros internacionais a fazerem fotografias e vídeos mostrando as formas tradicionais de usar a floresta e a partilharem-nos com as pessoas nos seus países de origem. Passados vários anos, o povo de Amazanga juntou o dinheiro suficiente para comprar quase 2000 hectares de floresta.

Mas a compra de toda esta terra levantou suspeitas entre os membros da tribo Shuar, que vivia ali perto. Quando os Shuar alegaram ser donos da mesma terra, as pessoas de Amazanga compreenderam que tinham cometido um erro. Eles tinham construído parcerias com organizações internacionais, mas não tinham feito acordos com os seus vizinhos! Os Shuar estavam tão zangados que ameaçaram com violência. Depois de muitos encontros, as pessoas de Amazanga e os Shuar concordaram em partilhar a floresta de acordo com regras comuns. Como os Quichua e os Shuar tinham entendimentos semelhantes sobre como melhor usar a floresta, foram capazes de formar uma aliança.

Transformaram a terra numa reserva florestal e concordaram num plano de gestão da floresta para prevenir o abate de árvores e a construção de estradas. A terra foi declarada “património de todas as tribos indígenas do Amazonas” e protegida para as gerações futuras. Ao ligarem-se aos visitantes de perto e de longe, as pessoas de Amazanga conseguirão proteger a floresta, preservar a sua cultura e ajudar os outros a protegerem as suas próprias casas na floresta.

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Reservas florestais

Criar parques e reservas florestais pode ser uma maneira de obter apoio dos governos e das organizações internacionais para proteger as florestas e promover o ecoturismo. Mas os governos e os grupos de conservação da natureza muitas vezes pensam que a única maneira de proteger e preservar uma floresta é afastar as pessoas. Em muitos casos, eles estão errados. As pessoas que vivem na floresta sabem como usar e cuidar dela. Ao ficarem na floresta e gerirem os parques e reservas florestais, as pessoas locais são mais capazes de protegê-la do que qualquer governo ou grupo de conservação da natureza.

Algumas comunidades mantêm o acesso aos recursos das reservas florestais fazendo acordos com o governo e com outras comunidades locais para gerirem esses recursos em conjunto. A isto chama-se um ‘esquema de gestão conjunta’.

As parcerias de gestão conjunta deixam as pessoas continuarem a utilizar os recursos da floresta e os seus produtos como tradicionalmente e de forma sustentável . As comunidades que gerem as reservas florestais também podem educar outras comunidades para a importância de proteger a floresta.

Mas nós sempre viemos aqui para buscar medicamentos! Precisamos de falar com o governo sobre isto. ESTA FLOREST A É PROTEGIDA PELO GOVER NO PROIBIDO ENTRAR

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R E SER VA S FLO R E S TA IS 195

Floresta que sustenta as pessoas e as árvores

Na floresta amazónica do Brasil, surgiram muitas vezes conflitos entre empresas de exploração de madeira, produtores de gado e outras pessoas que ganham lucros deitando abaixo a floresta e as pessoas que vivem na floresta praticando agricultura, colhendo borracha e fazendo artefactos. Depois de grande parte da floresta tropical ter sido destruída, os trabalhadores e as pessoas locais convenceram finalmente o governo a criar “reservas extractivas” — grandes áreas de floresta protegidas da destruição mas abertas a um uso limitado.

Infelizmente, mesmo às pessoas que viveram na floresta durante muitos anos foi-lhes negado o direito ao uso das reservas extractivas. A própria floresta que eles tinham lutado com tanto esforço para proteger já não ia proteger as suas vidas.

As pessoas da Reserva Florestal Comunitária de Tapajos ganhavam

tradicionalmente a sua vida através da agricultura, da caça e do uso dos produtos da floresta para fazer cestos, canoas e outros bens. Mas eles também precisavam de medicamentos, ferramentas, combustível, electricidade e outras

coisas, o que implicava que tinham que ganhar dinheiro. Com alguma ajuda financeira, construíram uma oficina de carpintaria à qual deram o nome de Oficina Caboclo, para o povo Caboclo, constituído por pessoas de origem local, africana e europeia. Usando apenas árvores abatidas em terrenos para agricultura, eles faziam móveis para vender nos mercados locais e nas lojas de todo o Brasil.

Este rendimento levou-os a pensar em fazer mais produtos de madeira para ganharem mais dinheiro. Mas eles estavam proibidos de cortar árvores que estivessem de pé, a não ser que tivessem um “inventário da floresta” e um “plano de gestão sustentável” aprovado pelo Ministério do Ambiente.

Para satisfazer estes requisitos do governo, teriam que recolher informação sobre quanta madeira existia na floresta e quanta nova madeira crescia em cada ano. O governo não acreditava que pessoas das aldeias, muitas das quais não sabiam ler ou escrever, pudessem fazê-lo. Mas os aldeãos eram os verdadeiros peritos da floresta. Eles tinham guiado especialistas ambientais através da floresta durante anos, ensinando-os sobre plantas e animais. Agora, os cientistas ensinaram-lhes uma ferramenta simples para medir o crescimento das árvores e calcular quanta madeira nova crescia em cada ano. Os aldeãos fizeram um plano para produzir pequenos produtos de grande valor, como tábuas para a cozinha e bancos, limitando o seu uso de madeira à quantidade que podia crescer num ano.

O Ministério do Ambiente aceitou o seu plano e agora a Oficina Caboclo permite-lhes ganhar dinheiro sem abusar dos recursos da floresta.

Os habitantes da floresta da Oficina Caboclo fizeram o que muitos cientistas, economistas e trabalhadores de desenvolvimento lutaram anos e anos por conseguir: criar um plano de gestão da floresta que seja sustentável para a sua comunidade e para a floresta.

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Reflorestação

As florestas antigas (florestas velhas que nunca foram gravemente

estragadas ou cujas árvores nunca foram cortadas) são cada vez mais raras. Assim que uma floresta antiga desaparece, nunca mais volta a crescer de forma a conter a variedade de plantas e vida animal que tinha dantes. Mas as florestas secundárias (florestas que foram estragadas mas que voltam a crescer) podem oferecer muitos dos mesmos recursos das florestas antigas, se as deixarem crescer e manter a biodiversidade. E as florestas plantadas pelas pessoas e bem geridas também podem oferecer muitos recursos para apoiar a saúde comunitária.

Uma floresta saudável leva muito tempo a crescer, mas há coisas que você pode fazer para um bom começo. Controlar a erosão, preparar o solo e plantar árvores nativas ou árvores que sejam adequadas à sua área vai ajudar a floresta a crescer bem. Seguir a ordem natural do crescimento das árvores nas florestas é outra forma de ajudar a produzir uma floresta mais saudável (ver Capítulo 11).

Plantar árvores é sempre bom?

Antes de começar um projecto de reflorestamento comunitário, garanta que este vai satisfazer as necessidades da sua comunidade e do seu ambiente local. As árvores podem competir com as culturas por água e terra limitada. Às vezes, dá demasiado trabalho cuidar de árvores jovens em ambientes difíceis. Plantar árvores em lugares onde as mesmas não podem ou não vão ser cuidadas, tem como resultados o fracasso dos projectos e a destruição de grande quantidade de árvores.

Se a sua comunidade depende dos produtos da floresta, como a madeira ou os frutos, plantar árvores pode ser uma boa forma de voltar a ter rapidamente recursos da floresta. Se a sua comunidade depende sobretudo da floresta como espaço para caçar ou para proteger o solo, o ar e a água, então você pode beneficiar mais protegendo certas áreas de terra enquanto as árvores crescem novamente de forma natural.

As florestas não são adequadas a todos os lugares. Poucas árvores crescem naturalmente nos desertos, pântanos ou pastagens. Se as pessoas tentarem plantar árvores nestes lugares, isso pode perturbar o equilíbrio entre as plantas e os animais. Mas noutros lugares onde há poucas árvores, como nas cidades e vilas, plantar árvores ao longo das ruas, perto de fábricas e em parques pode melhorar muito a saúde e o bem-estar da comunidade.

Quem é dono da terra e quais são as leis?

Se você quer reflorestar um terreno e usar os seus produtos mais tarde, deve garantir que vai ser autorizado a usar a floresta depois de ela crescer. Saber quem é legalmente dono da terra e obter permissão antes de plantar árvores pode ajudar a evitar problemas mais tarde.

Terra que tenha sido fraca e árida vai tornar-se valiosa quando estiver coberta por floresta saudável. Além disso, alguns lugares têm leis que proíbem as pessoas de cortarem ou de usarem certas árvores, mesmo que tenham sido elas a plantá-las. Descubra se essas leis existem no local onde você vive.

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R EFLO R E S TAÇ ÃO 197

Árvores diferentes satisfazem necessidades diferentes

Os tipos de árvores plantadas devem ser decididos com base naquilo de que as pessoas na comunidade precisam e querem.

Mas nós também queremos proteger o nosso abastecimento de água. … por isso, vamos plantar árvores diversas perto da casa. Então e lenha, madeira e forragem animal para a comunidade? Podemos plantar árvores diversas em

terras comuns para uso de todos. Eu quero comida, medicamentos e forragem animal para a minha família… … devemos plantar árvores que dão sombra num lugar público,

como um parque.

Embora possa ser preciso tempo e paciência, ao usar o conhecimento de todos e ao ter em conta as necessidades de todos, pode ser feito

um bom plano para toda a comunidade.

Se queremos um lugar para descontrair e

gozar…

Por isso, devemos plantar árvores

que crescem devagar ao longo

dos rios e à volta das nascentes.

… podemos plantar árvores com raízes profundas nas encostas

áridas, onde a fl oresta foi deitada abaixo. Precisamos

de prevenir a erosão…

Referências

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