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A AVALIAÇÃO DA VINCULAÇÃO DO ADULTO: UMA REVISÃO CRÍTICA A PROPÓSITO DA APLICAÇÃO DA ADULT ATTACHMENT SCALE-R (AAS-R) NA POPULAÇÃO PORTUGUESA

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Academic year: 2021

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A AVALIAÇÃO DA VINCULAÇÃO DO ADULTO:

UMA REVISÃO CRÍTICA A PROPÓSITO DA APLICAÇÃO DA ADULT ATTACHMENT SCALE-R (AAS-R)

NA POPULAÇÃO PORTUGUESA M. Cristina Canavarro1

Pedro Dias2 Vânia Lima3

Resumo: O presente artigo, numa primeira parte, procura esclarecer algumas questões conceptuais em torno do conceito de vinculação do adulto. Seguidamente são referidas algumas implicações dos tópicos abordados para a avaliação da vin-culação do adulto, assim como debatidos alguns aspectos mais polémicos associa-dos às metodologias utilizadas.

Por último, focando a avaliação da vinculação do adulto através de questionários de auto-resposta, apresentam-se alguns dos estudos psicométricos realizados em Portugal com a Adult Attachment Scale-R (Collins & Read, 1990), que na versão portuguesa recebe a designação de Escala de Vinculação do Adulto (EVA).

Palavras-chave: vinculação; vinculação do adulto; avaliação; Adult Attachment Scale, Escala de Vinculação do Adulto

The Assessment of Adult Attachment: A critical review on the sequence of the appli-cation of the Adult Attachment Scale-R (AAS-R) to the Portuguese population (Abstract): This article, in its first part, tries to gather knowledge about some of the conceptual issues on adult attachment. These conceptual issues are discussed in terms of the adult attachment assessment and also some of the most polemical aspects on methodology are also highlighted.

Finally, focusing on the assessment of adult attachment through self-report ques-tionnaires, some psychometric data and results of Portuguese studies concerning

1 Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Toda

a correspondência sobre este artigo deve ser enviada para Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Rua do Colégio Novo, Apartado 6153, 3001-802 Coimbra, ou para mccanavarro@fpce.uc.pt.

2 Instituto de Educação, Universidade Católica Portuguesa do Porto. Bolseiro de

doutora-mento pela FCT (ref. SFRH/BD/6944/2001).

3 Departamento de Psicologia, Universidade do Minho. Bolseira de doutoramento pela

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the adaptation of Adult Attachment Scale-R (Collins & Read, 1990), named “Es-cala de Vinculação do Adulto” (EVA) are presented.

Key-words: attachment; adult attachment; assessment; Adult Attachment Scale

Introdução

Embora Bowlby, ao longo da sua obra (1973, 1977, 1988), reconhe-ça, em diversas ocasiões, a importância da vinculação ao longo de todo o ciclo de vida do ser humano, a sua investigação centrou-se fundamental-mente na infância. Bowlby e Ainsworth focaram a atenção nas origens desenvolvimentais do sistema de vinculação, centrando-se na vinculação da criança aos pais e, sobretudo, à mãe.

A partir da década de 80, um conjunto de investigadores ofereceu contributos distintos que tornaram relevante o estudo da vinculação du-rante a adolescência e idade adulta. Entre eles, salientam-se os estudos de Main e da sua equipa sobre a dimensão representacional da vinculação, dos quais resultou a construção da Adult Attachment Interview (AAI, George, Kaplan & Main, 1984), os trabalhos de Hazan e Shaver sobre a aplicação da classificação da vinculação de Ainsworth à organização emocional e comportamental dos adolescentes e jovens adultos, explorando o amor romântico enquanto processo de vinculação e, ainda, os trabalhos de um conjunto de investigadores que, de forma separada, desenvolveram instru-mentos para avaliar aspectos diversos relacionados com a vinculação.

O último tipo de contribuição mencionado, a construção de instru-mentos de avaliação dirigidos a adolescentes e a adultos, a maior parte de auto-resposta (oferecendo alguns deles, de forma associada, também o formato de entrevista), tem proliferado e interessa-nos particularmente, no âmbito do presente artigo, motivo pelo qual desenvolveremos mais deta-lhadamente este tópico no ponto dedicado às questões sobre a avaliação da vinculação do adulto.

Os contributos que anteriormente referimos e, especificamente, a possibilidade de avaliar domínios da vinculação do adulto, permitiram que a Teoria da Vinculação tenha vindo a ser utilizada por um número cres-cente de investigadores, como quadro conceptual de referência, ao estudar aspectos psicológicos diversos relativos à idade adulta.

Mais especificamente, encontramos vários trabalhos que, com refe-rência à Teoria da Vinculação, estudam processos de continuidade e mu-dança ao longo da vida (Fraley, 1999; Scharfe & Bartholomew, 1994; Mena--Matos, 2002), avaliam o amor romântico como um processo de vinculação (e.g., Hazan & Shaver, 1987), testam a influência das relações estabelecidas

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com os pais na infância e adolescência nas relações estabelecidas na idade adulta (e.g., van IJzendoorn, 1995) e procuram compreender o papel da vinculação nas estratégias de coping associadas aos pedidos de ajuda (Bartholomew, Rebecca, Cobb & Poole, 1997; Fraley & Shaver, 1998).

Recentemente, é ainda frequente encontrarmos a Teoria da Vincula-ção utilizada como grelha conceptual na investigaVincula-ção sobre questões mais particulares da idade adulta, tais como a violência conjugal (Holtzworth--Munroe, Stuart & Hutchinson, 1997); os maus-tratos infantis, a orientação sexual (Kurdek, 2002), a aliança terapêutica (Dozier, 1990; Mallinckrodt, Cocle & Gantt, 1995) e diversos quadros clínicos psicopatológicos (e.g., Canavarro, 1999; Carlson & Sroufe, 1995; Dozier, 1990; Eng, Heimberg, Hart, Schneier & Liebowitz, 2001).

Constatamos, assim, que a Teoria da Vinculação tem permitido o de-senvolvimento de uma das linhas de investigação mais abrangentes, pro-fundas e criativas da nossa era (Cassidy & Shaver, 1999). Por esta razão, torna-se ainda mais premente o debate e esclarecimento de questões con-ceptuais e metodológicas associadas ao processo de avaliação da vincula-ção na idade adulta. O presente artigo pretende ser, por isso, uma contri-buição para esta clarificação. Centrando-nos na avaliação do adulto através de questionários de auto-avaliação, apresentamos alguns dos estudos psi-cométricos resultantes da aplicação da Adult Attachment Scale-R (Collins & Read, 1990) à população portuguesa.

A vinculação do adulto: questões conceptuais

De acordo com Crowell, Fraley e Shaver (1999), o conceito de vin-culação do adulto pressupõe duas ideias fundamentais, com importantes implicações para os processos de avaliação. A primeira prende-se com a assunção sobre os aspectos normativos do sistema de vinculação e com a sua relevância durante a idade adulta; a segunda, com a presença de dife-renças individuais na organização da vinculação, no contexto das relações interpessoais. Os tópicos mencionados parecem-nos, de facto, centrais para o esclarecimento do tema e iremos utilizá-los como guia no esclarecimento das questões conceptuais sobre a vinculação na idade adulta, enriquecendo--os com aspectos que entendemos como associados e que permitem apro-fundar o conceito de vinculação do adulto.

A importância da vinculação ao longo da vida

Bowlby (1973, 1980) propôs que um sistema comportamental está subjacente à tendência das crianças para formar fortes laços emocionais

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com os seus cuidadores, as suas figuras de vinculação. Este sistema de vin-culação, quando activado, permite à criança procurar a proximidade física com a figura de vinculação e, assim, contribui para a promoção de segu-rança.

Embora o sistema de vinculação esteja permanentemente activo, funcionando no que podemos designar num nível mínimo, permitindo a constante monitorização das situações ambientais e da disponibilidade da figura de vinculação, os comportamentos de vinculação só são activados em alturas de stress, perigo ou situações novas. A sua activação permite a manutenção da proximidade e contacto com a figura de vinculação, exis-tindo, desta forma, uma especificidade das manifestações da vinculação relativamente ao contexto. Quando a criança percepciona a figura de vin-culação como disponível e o ambiente como tranquilo, pode explorar o meio com confiança, fenómeno de interacção que Ainsworth, Blehar, Waters e Wall (1978) designaram por base segura.

Na linha do sugerido por West e Sheldon-Keller (1994), parece-nos importante para o esclarecimento do conceito de vinculação do adulto: (1) encontrar elementos de congruência entre a vinculação durante a infância e a que sucede em épocas posteriores do ciclo de vida; (2) reconhecer as diferenças entre os processos que sucedem nas épocas diferentes da vida e (3) distinguir as relações de vinculação na idade adulta de outras estabele-cidas nesse período.

Sobre a questão da congruência da vinculação ao longo da vida, já Bowlby (1969/1982) tinha considerado que a vinculação na idade adulta é semelhante, na sua natureza, à que ocorre durante a infância e apontou poucas diferenças entre as relações estabelecidas entre as crianças e as figuras cuidadoras e as relações formadas entre pares ou companheiros românticos.

A este propósito, Ainsworth (1991) considerou o fenómeno de base segura como o elemento central da vinculação ao longo da vida, referindo que uma relação de vinculação segura é aquela que facilita o funciona-mento e competência fora da relação.

Como elementos de congruência entre a vinculação na infância e na idade adulta, Weiss (1982/1991) apontou a similaridade das características emocionais e comportamentais (e.g., desejo de proximidade à figura de vinculação em alturas adversas, conforto na presença da figura de vincula-ção, ansiedade face à inacessibilidade da figura de vinculavincula-ção, respostas de luto em situação de perda), a generalização da experiência, dado que ele-mentos emocionais associados à vinculação durante a infância são expres-sos nas relações de vinculação na idade adulta, e, ainda, a ligação temporal entre os fenómenos, uma vez que a centralidade dos pares como figuras de

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vinculação se encontra associada ao esbatimento dos progenitores en-quanto figuras de vinculação primárias.

Para diferenciar a vinculação estabelecida na infância e na idade adulta, Weiss (1982) refere que as relações de vinculação na idade adulta são tipicamente estabelecidas entre pares, o sistema comportamental impli-cado não se destaca tanto de outros semelhantes, dada não estar em causa, na maioria das vezes, a sobrevivência e, por último, o autor aponta a sua inclusão em relações que muitas vezes comportam dimensões de envolvi-mento sexual.

Hinde e Stevenson-Hinde (1986) apontam também como distintivo da vinculação característica da infância e da idade adulta o facto de serem necessários acontecimentos indutores de stress mais fortes para activar o sistema de vinculação, devido ao desenvolvimento da capacidade de repre-sentação, que permite fixar a figura de vinculação e a maior destreza para lidar, de forma autónoma, com pequenas adversidades do dia-a-dia.

No entanto, a diferença mais referida na literatura, apontada por muitos autores (Crowell et al., 1999; Hinde, 1997; Hinde & Stevenson--Hinde, 1986, Weiss, 1982) como a mais significativa, prende-se com a na-tureza recíproca das relações de vinculação estabelecidas na idade adulta, por comparação com a natureza complementar das relações de vinculação estabelecidas na infância. Por outras palavras, nas relações de vinculação entre adultos, prestam-se e recebem-se cuidados alternadamente, de acordo com o contexto e necessidades de cada interveniente na relação.

Ao longo do tempo, diversos autores têm, também, procurado distin-guir as relações de vinculação na idade adulta de outras estabelecidas na mesma época do ciclo de vida, salientando sempre a sua função única de promover uma sensação de segurança e pertença. Neste sentido, as relações de vinculação na idade adulta distinguem-se das de afiliação (Weiss, 1982; West & Sheldon-Keller, 1994), dependência (Ainsworth, 1972; Rutter, 1995) e das que comportam envolvimento sexual (Berman & Sperling, 1994; West & Sheldon-Keller, 1994).

Diferenças individuais e modelos internos dinâmicos

A ideia da existência de diferenças individuais na organização da vinculação emergiu do trabalho de Ainsworth et al. (1978). As diferenças encontradas entre os diversos padrões de vinculação na infância parecem desenvolver-se primariamente de acordo com as diferentes experiências de interacção com a figura de vinculação.

Desta forma, um padrão “seguro” estaria associado a uma interacção caracterizada por protecção e conforto por parte da figura de vinculação em ocasiões adversas para a criança. Em alturas oportunas, o suporte e

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dispo-nibilidade da figura de vinculação optimizariam o comportamento de ex-ploração da criança. Por sua vez, os padrões “inseguros” (“evitante” e “ambivalente”) emergiriam em contextos de interacção em que o compor-tamento de vinculação da criança fosse seguido, respectivamente, de rejei-ção ou inconsistência, por parte da figura de vincularejei-ção. Para reduzir a ansiedade gerada por estas situações, a criança desenvolveria estrategica-mente respostas de hipo e hiperactivação do sistema de vinculação, consi-deradas assim adaptativas ao contexto, mas desadequadas fora do âmbito desta relação particular, dado que comprometem o sistema de exploração.

Muitos dos desenvolvimentos ocorridos no âmbito da teoria e inves-tigação na área da vinculação do adulto têm subjacente a proposta formu-lada por Bowlby (1973/1980), segundo a qual as crianças desenvolveriam um conjunto de expectativas acerca de si próprias, dos outros e do mundo, que designou por modelos representacionais ou modelos internos dinâmi-cos. Estes modelos permitiriam, numa fase inicial, interpretar e prever o comportamento da figura de vinculação e, ao longo da vida, seriam utiliza-dos como guias comportamentais, constituindo uma base para interpretação de experiências relacionais.

Como referimos anteriormente, as diferenças individuais na organi-zação da vinculação emergiriam na sequência do contexto de interacção entre a criança e a figura de vinculação, que possibilitaria a construção dos modelos internos dinâmicos. Embora estes modelos sejam relativamente estáveis e possam operar automaticamente e influenciar expectativas, es-tratégias e comportamentos nas relações estabelecidas posteriormente (Bretherton, 1985), foram adjectivados de dinâmicos (“working” models, no original). A opção por esta designação enfatiza a possibilidade de serem reformulados no contexto de experiências de vinculação significativas, capazes de infirmarem experiências anteriores e/ou de possibilitarem novas concepções sobre as experiências passadas, abrindo caminho à possibilida-de possibilida-de mudança ao longo da vida.

As diversas concepções sobre a origem das diferenças individuais na organização da vinculação estão associadas à discussão em torno da esta-bilidade e da mudança da vinculação, ao longo do ciclo de vida, e com-portam implicações para a avaliação da vinculação na idade adulta.

Abordagens conceptuais da vinculação do adulto

Na literatura, a vinculação do adulto surge conceptualizada de três formas distintas (Berman & Sperling, 1994; Shaver & MiKulincer, 2000): (1) vinculação como estado, que emerge em situações de stress, num esfor-ço para restabelecer contacto com a figura de vinculação; (2) vinculação como traço ou tendência para formar relações de vinculação similares ao

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longo da vida; (3) vinculação como um processo de interacção no contexto de uma relação específica.

A vinculação como estado remete para os primeiros trabalhos de Bowlby (1973) de caracterização das respostas das crianças face à separa-ção da mãe, dos quais resultou a identificasepara-ção de diversas fases: “protesto”, “desespero e desorganização” e “desvinculação”4. A constatação de que os adolescentes e adultos, em situações de separação da figura de vinculação (como acontece nos casos de saída de casa dos pais, separação conjugal ou morte de uma figurara de vinculação), exibiriam respostas semelhantes às observadas nas crianças separadas da figura de vinculação levou a com-cluir-se que estes comportamentos seriam “reacções normativas de intole-rância à inacessibilidade da figura de vinculação” (Weiss, p. 135).

Nas investigações mais recentes, a forma mais comum de concep-tualizar a vinculação do adulto prende-se com a assunção da existência de diferenças individuais estáveis ao longo do tempo. Subjaz a esta concepção a ideia de que modelos internos dinâmicos específicos determinam as res-postas às separações e reuniões, reais ou imaginadas, da figura de vincula-ção. Estes modelos representacionais são entendidos como consistentes ao longo do tempo e dos diversos contextos relacionais e, para a maioria dos autores, como já mencionámos, encontram as suas raízes nas experiências de vinculação precoces. A ligação entre os modelos internos dinâmicos da infância e os da idade adulta não está completamente esclarecida e conti-nua a ser tema de debate. Há um consenso geral sobre a estabilidade da vinculação durante a idade adulta, no entanto, esse padrão pode não corres-ponder ao observado na infância (Shaver et al., 1988). A este propósito, como referimos, alguns autores (e.g., Main et al., 1985) têm proposto me-canismos explicativos da mudança na organização da vinculação ao longo do tempo. Adicionalmente, também, continua por esclarecer a contribuição das diferentes relações de vinculação na infância para a construção de uma estratégia organizada do sistema de vinculação (Lewis, 1994; Howes, 1999) e a sua associação com a vinculação na idade adulta.

O número de estilos de vinculação dos adultos também não é consen-sual. De forma geral, a maior parte dos autores propõe a existência de apenas

4 A referir que a descrição das fases inicialmente realizada por Bowlby sofreu importantes

reformulações (Bowlby, 1980) após a observação clínica e o trabalho de investigação levado a cabo com adultos que tinham sofrido perdas. A constatação de que, muitas ve-zes, os indivíduos após a perda negam-na, possivelmente por esta ser muito dolorosa e incompreensível, levou à introdução de uma fase inicial designada por “choque e nega-ção”. Também com base na capacidade dos adultos para lidar cognitiva e emocional-mente com a perda e apoiado na evidência de que a reunião com uma figura de vincula-ção pode provocar elevada activavincula-ção do sistema de vinculavincula-ção, Bowlby alterou a desi-gnação da última fase mencionada de “desvinculação” para “reorganização”.

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um estilo seguro e de vários inseguros. A revisão da literatura permite-nos referir investigadores que propõe a existência de dois, de três e mesmo de quatro estilos de vinculação insegura. Destacamos os mais referidos.

O modelo original de Ainsworth et al. (1978), que inclui os estilos “seguro”, “evitante” e “ansioso/ambivalente” foi adoptado por Hazen e Shaver (1987) para estudar as relações heterossexuais como processos de vinculação. A equipa de Main também adoptou inicialmente um modelo tri-partido, onde mais tarde incluiu uma quarta categoria: “autónomo”, “desli-gado”, “preocupado” e a classificação suplementar “unresolved” (Main et al., 1985), habitualmente associada a perdas ou situações traumáticas.

Com base nas representações internas sobre si próprio e sobre os outros, Bartholomew e Horowitz (1991) propuseram um modelo com qua-tro categorias. Para além das dimensões “segura” e “preocupada”, contem-pladas nos outros modelos até à data, os autores identificam dois subtipos de estilo “evitante”: o “evitante-desligado”, que combina a percepção do próprio como merecedor de cuidados dos outros com a representação des-tes como não respondendo às suas necessidades; e o “evitante-amedron-tado”, que se caracteriza pela percepção do próprio como não merecedor dos cuidados dos outros, combinado com uma avaliação destes como pes-soas em quem não se pode confiar.

Já Bowlby (1980) inicialmente tinha proposto algumas variações da insegurança da vinculação do adulto com origens na infância, incluindo os estilos “prestação de cuidados compulsiva”, “procura de cuidados compul-siva”, “autoconfiança compulsiva” e “desvinculação emocional”.

Para além das variações que acabámos de referir relativas ao número de estilos considerados por diversos autores, encontramos também diversi-dade em relação às dimensões consideradas como subjacentes aos estilos referidos e, ainda, disparidade em relação à natureza dos modelos conside-rados, que incluem abordagens categoriais, dimensionais ou prototípicas.

Por considerarmos que estes dois aspectos comportam especiais im-plicações para os procedimentos de avaliação da vinculação do adulto, serão abordados em maior detalhe no tópico seguinte.

A avaliação da vinculação do adulto

As questões ligadas à avaliação da vinculação do adolescente e do adulto têm ocupado, na actualidade, um grande espaço de debate.

O interesse e curiosidade que o tema tem suscitado nas últimas dé-cadas têm sido acompanhados de uma proliferação de instrumentos de me-dida. Estes instrumentos de avaliação têm, muitas vezes, subjacente con-cepções distintas da vinculação, avaliam diferentes domínios e recorrem a

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abordagens diversas. Uma tal dispersão tem preocupado diversos autores pelo risco de se poder comparar resultados de estudos empíricos obtidos com com base em instrumentos de avaliação bem diferentes. Por outro lado, um tão rápido crescimento tem também criado o receio do risco de distanciamento da teoria original (Hazan & Shaver, 1994).

Recentemente, temos assistido a esforços que representam tentativas de selecção, ordenação e integração de um conjunto de tópicos sobre a avaliação da vinculação do adulto. De entre as iniciativas, salientamos um conjunto de artigos em forma de debate sobre questões polémicas da área (e.g., Shaver & Mikulincer, 2002; Waters, Crowell, Elliot, Corcoran & Treboux, 2002), o desenvolvimento de estudos cujo objectivo é comparar a validade convergente e divergente de dimensões e itens que compõem di-versos instrumentos de avaliação (e.g., Fraley, Waller & Brennan, 2000; Sperling, Foelsch & Grace, 1996) e, por último, a publicação de obras de referência sobre o tema, nomeadamente, em 1999, a edição do Handbook of Attachment: Theory, research and clinical implications, de Cassidy e Shaver e, mais recentemente, em 2004, o Adult Attachment: Theory, research and clinical implications, de Rholes e Simpson.

Nesta linha, no presente artigo, procuramos analisar o estado da arte, salientando aspectos que consideramos centrais em torno da vinculação do adulto. Começamos por analisar as diferentes abordagens conceptuais subjacentes à avaliação das diferenças individuais, passamos a descrever os domínios temáticos que os diferentes instrumentos pretendem contemplar e, por fim, referimos as metodologias de recolha de informação. Em segui-da, centrados na avaliação através de questionários de auto-resposta, foca-mos aspectos centrais da avaliação através dos questionários de auto-res-posta. Por fim, depois de revisto o panorama português sobre a avaliação da vinculação do adulto, passamos a apresentar os estudos psicométricos resultantes da aplicação da Adult Attachment Scale (Collins & Read, 1990) à população portuguesa.

Abordagens conceptuais de avaliação das diferenças individuais Encontramos três grandes tipos de abordagens conceptuais subja-centes ao processo de avaliação da vinculação do adulto: aquelas que se baseiam em concepções categoriais ou tipológicas; as que têm por base concepções dimensionais e, por fim, as que se caracterizam por abordagens prototípicas (Bartholomew & Shaver, 1998; Matos, 2002).

Como já referimos anteriormente, as abordagens categoriais ou ti-pológicas encontram as suas origens nos trabalhos de Ainsworth e colabo-radores (1978) sobre a avaliação das diferenças individuais na vinculação

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de crianças, através do procedimento laboratorial designado por Situação Estranha.

Posteriormente, Hazan e Shaver (1987), influenciados pelos traba-lhos de Ainsworth sobre vinculação durante a infância, procuraram traduzir para a idade adulta, no âmbito da relação amorosa, o mesmo sistema de classificação em três categorias adoptado pela autora. Com este objectivo, construíram um instrumento de auto-resposta, no qual é pedido ao indiví-duo que escolha, de entre um conjunto de três parágrafos, descritivos dos três estilos de vinculação (evitante, seguro e ansioso/ambivalente), aquele com que mais se identifica.

É de notar, no entanto, que, com os trabalhos de Hazan e Shaver (1987) e também com Main e colaboradores (George et al., 1984), assisti-mos a uma mudança do foco de avaliação da vinculação, da organização comportamental da criança, para a organização representacional do adulto.

O instrumento de Hazan e Shaver (1987), embora tenha tido um forte impacto no desenvolvimento da investigação empírica (para uma revisão, cf. Fraley & Waller, 1998), apresenta limitações (Collins & Read, 1990; Hazan & Shaver, 1987; Simpson, 1990), nomeadamente, alguns autores referem que a natureza categorial do instrumento assume que cada estilo é independente dos restantes e que não permite avaliar o grau e ex-tensão em que cada estilo é característico de um indivíduo.

As abordagens dimensionais surgiram numa tentativa de ultrapassar os problemas metodológicos das medidas categoriais. Assim, alguns inves-tigadores começaram a utilizar escalas de avaliação contínuas nos seus ins-trumentos. Collins e Read (1990) incluem-se neste grupo5, procurando identificar e separar as descrições contidas em cada um dos parágrafos do instrumento de Hazan e Shaver (1987), transformando-as em múltiplos itens, que poderiam ser avaliados de forma independente, numa escala de tipo Likert, e que confluiriam em três dimensões: Close, Depend e Anxiety6.

A possibilidade de o sujeito se situar ao longo de dimensões contí-nuas possui algumas vantagens: assume uma maior variabilidade entre sujeitos, não impõe fronteiras rígidas de pertença a grupos, exige o esforço conceptual de definição e a operacionalização dos componentes básicos da vinculação, possibilitando, igualmente, estudos psicométricos mais preci-sos (Fraley & Waller, 1998; Griffin & Bartholomew, 1994).

No entanto, dada a perda de informação que uma abordagem pura-mente dimensional comporta, no sentido de aceder a configurações

5 A este respeito, é de referir, igualmente, os importantes contributos de Levy e Davis

(1988), West e Sheldon (1988) e também de Simpson (1990). 6 Uma descrição mais detalhada do instrumento será feita mais à frente.

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cativas não redutíveis às dimensões (Matos, 2002), muitos dos autores dos instrumentos dimensionais desencorajam explicitamente os investigadores a abandonar os modelos tipológicos (Brennan & Shaver, 1995; Collins & Read, 1990; Hazen & Shaver, 1987).

Como forma de colmatar esta situação, surgem as abordagens pro-totípicas, que procuram conciliar as abordagens anteriores. Assim, simul-taneamente, identificam características de um grupo de sujeitos e assumem a existência de variabilidade individual na pertença ao grupo.

O modelo de Bartholomew (Bartholomew, 1990; Bartholomew & Horowitz, 1991) é considerado na literatura a referência principal deste tipo de abordagem. De acordo com este modelo, as quatro categorias (se-guro, preocupado, desinvestido e amedrontado) localizam-se num espaço bidimensional definido pelo posicionamento positivo ou negativo relativa-mente ao objecto dos modelos internos dinâmicos (o self e o outro).

No entanto, diversos autores que utilizam escalas dimensionais pro-curam, através da utilização de procedimentos estatísticos específicos, no-meadamente através da análise de clusters, enquadrar os sujeitos em gru-pos, de acordo com determinadas configurações de resultados ao longo das dimensões, que habitualmente correspondem aos estilos de vinculação (Collins & Read, 1990; Collins, 1996; Collins & Feeney, 2000; Feeney, Noller & Hanrahan, 1994; Eng, Heimberg, Hart, Schneier & Liebowitz, 2001). Este procedimento constitui também uma aproximação à abordagem prototípica.

Dimensões temáticas subjacentes à vinculação do adulto

A avaliação sobre a vinculação do adulto tem-se centrado em três grandes dimensões temáticas: as relações com os pais durante a infância; as relações com figuras de vinculação específicas na adolescência e idade adulta, nomeadamente os pais e os pares; e a vinculação ao companhei-ro(a). Recentemente, a este propósito, Shaver e Mikulincer (2002) referi-ram que este facto se prende a aspectos conceptuais relacionados com a existência de múltiplos modelos internos dinâmicos,

that can be conceptualized as hierarchically arranged, running, at the bottom, from episodic memories of interaction with particular relationship partners, trough representations of kinds of attachment relationships (e.g. child-parent; romantic, close friendship, client-therapist), to generic repre-sentations of attachment relationships. (p. 243).

Esta concepção tem importantes implicações para a avaliação. Os investigadores devem estar atentos à necessidade de tomar opções sobre

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estes aspectos quando constroem ou utilizam medidas de avaliação à vin-culação do adulto.

Em relação aos domínios temáticos que os diversos instrumentos procuram contemplar, podemos distinguir diversos tipos, sobrepostos às três dimensões referidas, nomeadamente, (1) um grupo de instrumentos que pretende avaliar as memórias dos adultos sobre as suas experiências, durante a infância e adolescência, relacionadas com a sua história de vin-culação (e.g., Adult Attachment Interview, AAI, George, Kaplan & Main, 1985; Inventory for Assessing Memories of Parental Rearing Behaviour, EMBU, Perris, von Knorring & Perris, 1980; Parental Bonding Instrument, PBI, Parker, Tupling & Brown, 1979; Attachment History Questionnaire, AHQ, Pottharst & Kessler, 1990); (2) um outro conjunto que tem como objectivo avaliar a qualidade da relação com figuras de vinculação par-ticulares, pais ou pares (e.g., Inventory of Parent and Peer Attachment, IPPA, Armsden & Greenberg, 1987; Reciprocal Attachment Questionnaire for Adults (West & Sheldon-Keller, 1994); (3) por fim, um conjunto de medidas que pretende avaliar a vinculação ao companheiro(a) (e.g., Attach-ment Style Questionnaire, Hazan & Shaver, 1990; Adult AttachAttach-ment Scale, Collins & Read, 1990; Relationship Questionnaire, RQ, Bartholomew & Horowitz, 1991; Relationship Style Questionnaire, RSQ, Griffin & B., Bartholomew, 1994; Current Relationship Interview, CRI, Crowell & Owens, 1996; Adult Attachment Questionnaire, AAQ, Simpson, Rholes & Nelligan, 1992, Simpson, Rholes & Philips, 1996; Experiences in Close Relationships Revisited, ECR-R., Brennan, Clark & Shaver, 1998, 2000).

Metodologias de avaliação da vinculação do adulto: entrevistas ou questionários?

Como mencionámos anteriormente, na década de 80, surgiram duas grandes linhas de investigação distintas dedicadas à vinculação do adulto, às quais se juntou um terceiro contributo de diversos autores na construção de instrumentos de avaliação. Uma das linhas, coordenada por M. Main centrou-se nas dimensões representacionais das relações de vinculação com os pais durante a infância, avaliadas através da Adult Attachment Interview (AAI, George, Kaplan & Main, 1985); a segunda, representada por Hazan e Shaver (1987), que, ao explorar o amor romântico como forma de vinculação, utilizaram um instrumento de auto-resposta, baseado nos padrões de vinculação identificados por Ainsworth para a infância.

Estas duas vias de exploração da vinculação do adulto, focadas em dimensões temáticas da vinculação distintas (uma nas relações parentais e outra nas relações com o companheiro), têm as suas origens em diferentes culturas disciplinares. Main, como discípula de Ainsworth, recebeu

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forma-ção analítica, interessou-se pelos problemas clínicos, trabalhou com pe-quenos grupos, preferindo, como métodos de avaliação, entrevistas e medi-das de observação comportamental, que revelariam de forma indirecta a organização da vinculação, partindo do pressuposto que os indivíduos não estão conscientes dessa dinâmica. Hazan e Shaver, como psicólogos so-ciais, habituados a pensar em termos de traços de personalidade e interac-ções sociais, com interesse na população em geral, preferiram estudar amostras maiores, através de questionários de auto-resposta, que partem do pressuposto que os indivíduos têm a capacidade de descrever as suas emo-ções e comportamentos associados às relaemo-ções significativas. Cada uma destas equipas concentrou a sua atenção nos seus objectos de estudo e me-todologias, não abrindo muitas vias de comunicação entre os seus trabalhos (Bartholomew & Shaver, 1998).

Como ambas as linhas de investigação cresceram em torno da Teoria da Vinculação de Bowlby e Ainsworth, ambas centradas na avaliação das diferenças individuais, muitos assumiram que as duas classificações seriam equivalentes. Este é um enorme equívoco, por todos os motivos de nature-za conceptual que abordámos anteriormente.

Nos últimos anos, surgiram alguns artigos (e.g., Borman & Cole, 1993; Crowell & Treboux, 1995) que comparam medidas da vinculação do adulto pertencentes às duas tradições que acabámos de apontar. De forma geral, os autores concluem que as medidas não são equivalentes e habi-tualmente questionam a validade dos instrumentos de auto-resposta. A este propósito, são esclarecedores na identificação de tópicos que tornam esta comparação inadequada: divergência nas dimensões temáticas da vincula-ção avaliadas; diferença no conceito de modelo interno dinâmico subja-cente (no sentido do exposto anteriormente por nós próprios, a respeito da posição de Shaver e Mikulincer, 2002); e, por último, inadequação dos pro-cedimentos estatísticos utilizados.

Bartholomew e Shaver (1998) concluem que, podendo existir ten-dência para a convergência dos diversos tipos de medida, quando se trata da avaliação de representações genéricas da vinculação, quando compara-dos diferentes domínios específicos compara-dos padrões de vinculação, os padrões serão necessariamente diferentes. Parece-nos que esta interpretação sobre a comparação de metodologias é consistente com a ideia central de Bowlby (1988) de que, embora a vinculação do adulto tenha as suas raízes nas in-teracções com as figuras de vinculação durante a infância, é influenciada, ao longo da vida, por experiências como a morte de uma figura de vincula-ção, a qualidade de uma relação amorosa ou por uma intervenção psicote-rapêutica. Ao longo das trajectórias desenvolvimentais, é possível assistir à divergência de modelos internos dinâmicos das relações com os pais da-queles que se formam baseados nas relações com parceiros românticos ou

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amigos significativos e ao subsequente processo de integração destes mo-delos, modificando os modelos internos dinâmicos mais genéricos (Bartholomew e Shaver, 1998; Collins & Read, 1994).

Ao comparar a utilização de entrevistas e questionários na avaliação da vinculação do adulto, Crowell et al. (1999) referem três argumentos a favor da utilização de instrumentos de auto-resposta para avaliar diferenças individuais da vinculação na idade adulta: o facto de a vinculação ter um papel muito importante na vida emocional dos indivíduos (Bowlby, 1973, 1980) e os adultos poderem fornecer informação sobre as suas experiências emocionais7; um segundo argumento diz respeito ao facto de os adultos te-rem suficiente experiência relacional para sabete-rem descrever como se sen-tem e comportam nessas relações, bem como conhecer o tipo de afirmações dos parceiros sobre o seu comportamento; por último, o facto de os proces-sos conscientes e inconscientes concorrerem para o mesmo objectivo.

No entanto, Crowell et al. (1999) consideram que os questionários de auto-resposta, sendo úteis para avaliar as diferenças individuais relativa-mente à segurança, não o são para avaliar a dinâmica existente entre a vin-culação e as estratégias defensivas. Por outras palavras,

placing a person in the two-dimensional attachment style space is not, by itself, the same as determining why the person is located in a particular region of the space (Crowell et al., 1999, p. 453).

Ponderando todos estes aspectos, convém mencionar que, a propó-sito da escolha de instrumentos de avaliação da vinculação do adulto, de-fendemos a necessidade de opções fundamentadas, baseadas na conceptua-lização da vinculação subjacente, nas variáveis a estudar e nos objectivos a atingir.

Em Portugal, têm vindo a ser dadas algumas contribuições para ava-liar a vinculação na adolescência e idade adulta, que têm permitido a reali-zação de estudos empíricos sobre o tema no nosso país. Nomeadamente, Isabel Soares e a sua equipa têm trabalhado na aplicação da AAI a diversos grupos da nossa população (e.g., Jongenelen, 2003; Machado, Soares & Silva, 1996; Soares, 1996; Soares, Dias, Fernandes, Klein, Alves, Ferreira, Felgueiras, Pinho, Neves, Figueiredo, Jongenelen, Matos, Gonçalves,

7 Sobre este tópico, também Bartholomew e Shaver (1998) referiram que muitos dos

estudos que, ao encontrar pequena associação entre os questionários e as entrevistas, concluem que os questionários são especialmente vocacionados para medir o erro, não têm em consideração diversos estudos (e.g., Shaver & Brennan, 1992; Feeney & Noller, 1991) que revelam elevadas associações entre a vinculação e a observação da comunica-ção conjugal, a forma de terminar relações ou ainda a forma de procurar e fornecer apoio social em épocas adversas.

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chado & Cunha, 2002); Neves, Soares e Silva (1999) validaram o Inven-tory of Parent and Peer Attachment (IPPA, que recebeu a designação em Portugal de Inventário da Vinculação na Adolescência) e Paula Mena Ma-tos desenvolveu dois instrumenMa-tos de vinculação designados por Ques-tionário de Vinculação ao Pai e à Mãe (QVPM, 2002) e QuesQues-tionário de Vinculação Amorosa (QVA, 2002).

Também um de nós (Canavarro, 1997) iniciou, no final da década de 90, o processo de validação da Adult Attachement Scale (Collins & Read, 1990), que em Portugal recebeu o nome de Escala de Vinculação do Adulto (EVA). O robustecimento da amostra da população em geral, assim como a aplicação da escala a grupos clínicos têm vindo a decorrer até ao presente momento, oferecendo dados importantes para o estudo psicomé-trico deste instrumento de avaliação. O processo e resultados decorrentes destes trabalhos serão descritos a seguir.

A avaliação da vinculação do adulto através de questionários de auto-resposta: o caso da Adult Attachment Scale-R

Descrição do instrumento original

A escala foi construída por Collins e Read (e revista, pelos mesmos autores, em 1990) com o objectivo de ultrapassar as limitações inerentes ao instrumento de três itens de Hazan e Shaver (1987), que referimos ante-riormente.

Na construção da escala, os autores extraíram, em primeiro lugar, as afirmações dos parágrafos do instrumento de Hazan e Shaver (1987), obtendo quinze itens (cinco para cada estilo de vinculação). Em seguida, seis novos itens foram acrescentados, para incluir dois aspectos funda-mentais da vinculação, não incluídos no instrumento de Hazan e Shaver: (a) crenças sobre a disponibilidade da figura de vinculação e a sua resposta quando requerida (três itens) e (b) reacções à separação da figura de vin-culação (três itens). A versão preliminar da escala ficou, assim, composta por vinte e um itens, sete para cada estilo de vinculação. Numa amostra de 286 mulheres e 184 homens, foram realizados estudos psicométricos do instrumento dos quais resultou a actual versão de 18 itens.

A análise factorial dos 18 itens revelou a presença de três dimensões, cada uma das quais constituída por seis itens. A primeira, designada por Close, avalia a forma como o indivíduo se sente confortável ao estabelecer relações próximas e íntimas; a segunda, Depend, avalia a forma como os indivíduos sentem poder depender de outros em situações em que necessi-tam deles; por último, a terceira, Anxiety, avalia o grau em que o indivíduo se sente preocupado com a possibilidade de ser abandonado ou rejeitado.

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Correlações feitas entre os três factores revelaram uma ligação mo-desta entre os factores Depend e Close (r = 0,41), sugerindo que as pessoas que possuem confiança nos outros tendem a sentir-se mais confortáveis com a proximidade emocional; uma ligação fraca entre os factores Anxiety e Depend (r = -0,18) e a inexistência de ligação entre os factores Anxiety e Depend (r = -0,08).

Os autores apontam índices de razoável fiabilidade para a escala, re-ferindo alphas de Cronbach para as três dimensões (0,75, para a dimensão Depend; 0,72, para a dimensão Anxiety e 0,69, para a dimensão Close). Collins & Read (1990) referem, para um período de dois meses, uma esta-bilidade temporal de r = 0,52, para a subescala Anxiety, r = 0,68 para a subescala Close e r = 0,71 para a subescala Depend.

Aspectos da validade convergente da escala são mencionados pelos mesmos autores, através da tradução das dimensões em estilos de vincula-ção, feita a partir de procedimentos de análise de funções discriminantes e de análise de clusters, que organizaram os resultados ao longo de três gru-pos teoricamente consistentes com os três estilos de vinculação referidos por Hazan e Shaver (1987).

Como a validade de um instrumento é um processo cumulativo, sempre em aberto, alguns estudos posteriormente elaborados com a AAS-R merecem também a nossa atenção.

Com base num modelo hipotético de associação entre modelos inter-nos dinâmicos, cognições (atribuições), emoções e comportamentos, Collins (1996), numa amostra de 135 indivíduos, procurou analisar a influ-ência da vinculação (avaliada através da AAS-R) e dos estilos atribucionais nas emoções e comportamentos. Os resultados revelaram que ambas as variáveis consideradas são preditores das componentes comportamentais, mas apenas o estilo de vinculação é capaz de predizer as respostas emocio-nais. Também neste trabalho Collins utilizou procedimentos de análise de clusters para transformar as dimensões da AAS-R nos estilos de vinculação de Hazan e Shaver (1987).

Posteriormente, em 2000, Collins e Feeney, numa amostra de 93 ca-sais, investigaram a associação entre diferenças individuais de vinculação e capacidade de pedir e fornecer apoio, no contexto de relações íntimas. Neste estudo, salientamos os resultados sobre a importância das diferenças individuais na vinculação (avaliadas por transformação das dimensões da AAS-R nos estilos de vinculação de Hazan e Shaver (1987), através de procedimentos de análises de clusters): a vinculação evitante surge como um bom preditor de ineficácia na procura de suporte e a vinculação ansiosa prediz baixa capacidade para fornecer suporte.

Eng et al. (2001) exploraram a organização da vinculação em indiví-duos com ansiedade social. Com este objectivo, numa amostra de 118

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pa-cientes com ansiedade social, realizaram uma análise de clusters, com base nas dimensões da AAS-R. Estes indivíduos incluem-se preponderante-mente nos clusters associados a estilos de vinculação ansioso e seguro. Os indivíduos representados pelo cluster correspondente ao estilo de vincula-ção ansioso, por comparavincula-ção com os representados pelo cluster correspon-dente a vinculação segura, apresentam níveis mais elevados de ansiedade social e evitamento, maiores níveis de depressão e menor satisfação com a vida.

Mallinckrodt, Coble e Gantt (1995) examinaram a relação entre os estilos de vinculação e a aliança terapêutica junto de 76 mulheres acompa-nhadas em psicoterapia, tendo encontrado uma correlação negativa entre a sub-escala Anxiety e dimensões da aliança terapêutica.

Com o objectivo de explorar a congruência entre diversas medidas de auto-relato da vinculação na idade adulta, Sperling, Foelsch e Grace (1996) administraram o instrumento de Hazan e Shaver para avaliação dos estilos de vinculação (1987), a Attachment Style Measure (Simpson. 1990), a Adult Attachment Scale (Collins & Read, 1990), o Attachment Style Inventory (Sperling & Berman, 1991), o Reciprocal Attachment Question-naire (West, Sheldon & Reiffer, 1987) e a Anxious Romantic Attachment Scale (Hindy, Schwarz & Brodsky, 1989) a 160 estudantes universitários. Globalmente, os resultados indicam níveis satisfatórios de consistência interna nos diferentes instrumentos e valores de correlação significativos entre as diversas medidas.

Holtzworth-Munroe, Stuart e Hutchinson (1997) recorreram à AAS, no sentido de avaliar diferenças entre sujeitos violentos e não violentos, em contexto conjugal. Os resultados permitem concluir que os sujeitos vio-lentos apresentam valores superiores na escala Anxiety e valores inferiores nas escalas Close e Depend, relativamente aos dos verificados nos sujeitos não violentos.

Estudos psicométricos realizados em Portugal

Os primeiros estudos psicométricos resultantes da aplicação da Adult Attachment Scale à população portuguesa foram realizados por um de nós (Canavarro, 1997). Nessa ocasião, à versão portuguesa da escala corres-pondeu a designação de Escala de Vinculação do Adulto (EVA), designa-ção que se mantém actualmente.

Posteriormente, outros estudos realizados com a EVA, por diversos autores (Tereno, 2001; Almeida, 2005), permitiram robustecer a amostra inicial, oferecendo, assim, importantes contributos para o estudo das quali-dades psicométricas da versão portuguesa da escala.

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Nos primeiros estudos psicométricos realizados (Canavarro, 1997), procedeu-se à tradução do instrumento original de Collins e Read (1990, versão revista). Seguidamente, foi feita a retroversão e a passagem do ins-trumento a um pequeno grupo de pessoas, com o objectivo de verificar a acessibilidade do vocabulário e a compreensão unívoca dos itens, de acordo com os procedimentos sugeridos por De Figueiredo e Lemkau (1980) para estas situações.

Finalmente, a escala foi preenchida por uma amostra de 192 indiví-duos (150 mulheres e 42 homens), maioritariamente casados ou a viver maritalmente e com um grau de instrução correspondente a um curso mé-dio ou à frequência universitária.

Nessa ocasião, os estudos da consistência interna da EVA revelaram, através da análise da média dos itens (e dado que o desvio-padrão varia entre 0,731 e 1,155) que todos eles se encontram bem centrados. O índice de alpha de Cronbach correspondente a cada item apresentava valores dentro dos intervalos considerados adequados, situando-se entre 0,759 e 0,688. A análise das correlações entre o item e o valor global, e o item e o valor global, excluindo o item, revelou que os itens 1 e 14 não apresenta-vam valores considerados adequados de acordo com os critérios de Streiner e Norman (1989), ou seja, superiores a 0,2, o que conduziu à sua posterior reformulação e ajustamento.

No referido estudo, num subgrupo de 102 indivíduos, foi também avaliada a estabilidade temporal do instrumento. O tempo entre o teste e o reteste correspondeu a um intervalo mínimo de seis semanas. Verificou-se que as correlações encontradas (entre 0,423 e 0,645) eram significativas, indicando boa estabilidade temporal da escala.

Com o duplo objectivo de avaliar a validade do instrumento e co-nhecer as dimensões factoriais subjacentes, procedeu-se à extracção de componentes principais, com rotação de tipo varimax. Os 18 itens foram então submetidos a uma análise factorial, da qual foi possível extrair seis factores ortogonais. Como critério de retenção de componentes, utilizámos o recomendado por Stevens (1996), que se baseia num método gráfico designado por scree-test. Aplicando o critério mencionado, retivemos três factores, equivalentes aos encontrados, quando, na análise factorial explo-ratória de tipo varimax, pedimos a extracção de três factores. Os factores encontrados nessa ocasião, com capacidade para explicar 46,62% da va-riância total, eram condizentes com a Teoria da Vinculação do Adulto, mas, dada a forma como os itens se organizavam, optámos, de forma seme-lhante ao efectuado posteriormente por Kurdek (2002), por designar as di-mensões de acordo com o modelo de Hazan e Shaver (1987), isto é, dimen-sões de Vinculação Ansiosa, Segura e Evitante.

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Canavarro (1997-1999) refere o poder discriminativo das três dimen-sões da EVA para distinguir entre população em geral e dois grupos de indivíduos com perturbações emocionais, respectivamente, um com pertur-bações depressivas e um outro com perturpertur-bações mediadas pela ansiedade. Pela sua relação com o presente artigo, salientamos mais alguns resultados do estudo referido. Nomeadamente, ao avaliar, através do EMBU, a influ-ência das relações afectivas estabelecidas com os pais, na infância e ado-lescência, na vinculação na idade adulta, os resultados sugerem que pais carinhosos, disponíveis, atentos e capazes de responder às necessidades dos filhos (isto é, que os suportam emocionalmente) parecem ter contribuí-do para a formação de dimensões associadas a vinculação segura na idade adulta. No entanto, é de salientar que

diversos dados confluem no sentido que a maior contribuição para a saúde mental do adulto é oferecida pelas relações afectivas estabelecidas na idade adulta” (Canavarro, 1999, p. 320).

Posteriormente, à amostra utilizada nos primeiros estudos de caracteri-zação psicométrica do instrumento, juntaram-se as amostras da população em geral, utilizadas nos estudos de Tereno (2001) e de Almeida (2005). A amostra total ficou, assim, constituída por 434 sujeitos da população em ge-ral, provenientes das zonas norte e centro do país. A faixa etária compreende o intervalo entre os 18 e os 63 anos (M = 25; DP = 8,75), sendo 83,2% dos sujeitos do sexo feminino e 16,8% do sexo masculino. Em Termos de habilitações literárias, 7,4% dos sujeitos possuem o ensino básico, 13% o ensino secundário e 79,6% frequentam ou concluíram o ensino superior.

Neste segundo estudo, a análise das características psicométricas da escala foi realizada utilizando o programa informático SPSS, versão 13 para Windows (SPSS, 2004), em duas fases distintas.

Num primeiro momento, interessados em reavaliar, em primeiro lu-gar, a estrutura dimensional da escala, procedeu-se a uma Análise Factorial Exploratória de Componentes Principais (rotação varimax) pedindo a ex-tracção de três factores.

Em seguida, foram realizadas análises sobre a fiabilidade do instru-mento, de acordo com a escala como um todo e com as dimensões encon-tradas.

Os resultados desta análise factorial, quanto à saturação, valor pró-prio e variância explicada, são apresentados no Quadro 1.

Tal como se verifica, esta solução é responsável por 46,9% da va-riância total, sendo o factor 1 constituído por itens que se relacionam com a dimensão Ansiedade, o factor 2 composto por itens que se associam à di-mensão de Conforto com a Proximidade e o factor 3 constituído por itens que se relacionam com a dimensão Confiança nos Outros.

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Quadro 1: EVA – solução de 3 factores ortogonais após análise factorial

Ansiedade Conforto com a Proximidade Confiança nos Outros

Item Peso Item Peso Item Peso

9 0,784 12 0,750 18 0,688 10 0,773 1 0,715 2 0,619 3 0,762 14 0,648 16 0,539 11 0,754 6 0,567 17 0,483 15 0,591 8* -0,396 7 0,444 4 0,570 13* -0,343 5* -0,312 Valor próprio 5,00 1,93 1,52 Variância explicada 27,73% 10,74% 8,45%

Total variância explicada

46,92% Nota: * Itens invertidos.

Esta solução factorial replica parcialmente a estrutura proposta por Canavarro (1997), aproximando-se, no entanto, mais da do instrumento original (Collins & Read, 1990).

Embora exista paralelismo entre as dimensões que anteriormente de-signámos por Dimensões de Vinculação Ansiosa, Segura e Evitante e as actuais dimensões designadas, respectivamente, por Ansiedade; Conforto com a Proximidade e Segurança nos Outros, como se poderá constatar através da contribuição dos itens para cada dimensão, as alterações verifi-cadas8 e a ponderação de alguns aspectos conceptuais levaram-nos a optar pelas designações que indicamos neste trabalho, que reflectem, de forma mais linear, as adoptadas por Collins e Read (1990; 1994).

Assim, o factor 1, Ansiedade, refere-se ao grau de ansiedade sentida pelo indivíduo, relacionada com questões interpessoais de receio de aban-dono ou de não ser bem querido; o factor 2, Conforto com a Proximidade,

8 Em relação às dimensões encontradas por Canavarro (1997), verifica-se uma

distribui-ção mais equitativa em reladistribui-ção ao número de itens por dimensão (seis), dado que os itens 7 e 5, anteriormente pertencentes à dimensão de Ansiedade, apresentam agora maior peso na dimensão três, que designámos por Confiança nos Outros; por sua vez, o item 13, anteriormente pertencente à dimensão Evitamento, tem, neste trabalho, maior peso na Dimensão Conforto com a Proximidade.

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refere-se ao grau em que o indivíduo se sente confortável com a proximi-dade e a intimiproximi-dade; e, por último, o factor 3, Confiança nos Outros, diz respeito ao grau de confiança que os sujeitos têm nos outros, assim como na disponibilidade destes quando sentida como necessária.

Em relação à comparação da estrutura da EVA com a AAS-R, verifi-camos que todos os itens saturam nas mesmas dimensões, com a excepção dos itens 17 e 14. O item 17, em sentido invertido, pertence à dimensão Close na AAS-R e na EVA, pertence à dimensão Confiança nos Outros, sem inversão do sentido; a situação inversa acontece com o item 14. Se atendermos ao con-teúdo dos itens e à sua ponderação em sentido directo ou inverso, este facto não interfere com o significado das dimensões nas quais se incluem.

Uma segunda etapa dos estudos psicométricos foi feita no sentido de encontrar indicadores de fiabilidade do instrumento. Com esse objectivo, analisámos as correlações entre o item e o valor das sub-escalas, excluindo o item. Foram igualmente encontrados os valores globais para os coefi-cientes de Spearman-Brown e de correlação split-half.

Quadro 2: EVA – correlação item-total e alpha se o item for retirado, por sub--escala

Factor Item R item-total (sem item) Alpha

Ansiedade 3 4 9 10 11 15 0,674 0,495 0,686 0,660 0,686 0,540 0,808 0,841 0,805 0,811 0,806 0,834 Conforto com a Proximidade 1 6 8r 12 13r 14 0,461 0,276 0,402 0,482 0,323 0,487 0,606 0,677 0,631 0,601 0,655 0,596 Confiança nos Outros 2r 5 7r 16r 17r 18r 0,211 0,037 0,311 0,379 0,275 0,513 0,535 0,587 0,484 0,440 0,497 0,369

No Quadro 2, encontram-se, por sub-escala, os valores de correlação item-total e alpha se o item for retirado, de acordo com a estrutura facto-rial. Numa análise global, é possível verificar que os itens apresentam

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cor-relações satisfatórias com os totais das sub-escalas, exceptuando-se o item 5 na dimensão Confiança. No entanto, dada a importante contribuição que este item apresenta para a dimensão Confiança nos Outros, optámos por o incluir na versão final da escala.

O Quadro 3 apresenta os indicadores de fiabilidade para as sub--escalas da EVA e para o total da escala. A sub-escala Ansiedade apresenta um valor elevado de alpha (0,84), o que não acontece com as sub-escalas Conforto com a Proximidade e sobretudo com a Confiança nos Outros, que apresentam valores de 0,67 e de 0,54, respectivamente, constituindo valo-res um pouco inferiovalo-res ao desejável.

O valor de alpha para o total da escala é elevado (0,81), registando--se o mesmo para os índices de Spearman-Brown (0,84) e de correlação split-half (0,83).

Quadro 3: EVA – valores de alpha de Cronbach, Spearman-Brown e Guttman

Split-half

Factor EVA

Ansiedade

α = .84

Conforto com a Proximidade

α = .67

Confiança nos Outros

α = .54

Total

α de Cronbach = 0,81

Coeficiente de Spearman-Brown = 0,84 Correlação split-half = 0,83

Procurou-se também conhecer as correlações entre as três dimensões da EVA, tendo-se verificado que a escala de Ansiedade se encontra inver-samente correlacionada com as escalas de Conforto com a Proximidade e de Confiança nos Outros (r = -0,353, p < 0,001; r = 0,391, p < 0,001 res-pectivamente) e que estas duas últimas se encontram positivamente corre-lacionadas (r = 0,312, p < 0,001).

Para explorar a validade discriminativa do instrumento, procedeu-se ao estudo das diferenças de médias entre a amostra normativa e uma amos-tra clínica, agrupando sujeitos provenientes de 3 estudos distintos (Tereno, 2001; Marques, 2004; Coutinho, 2005). No seu conjunto, a amostra clínica ficou composta por 88 sujeitos, com diagnósticos de anorexia nervosa (47 sujeitos), bulimia nervosa (25 sujeitos) e perturbações de internalização (16 sujeitos), com idades compreendidas entre os 18 e os 38 anos, sendo 97% do género feminino e 3% do género masculino.

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Os resultados revelaram diferenças significativas entre as amostras nas três sub-escalas: nas escalas de Conforto com a Proximidade e de Confiança nos Outros, os sujeitos da amostra normativa apresentam valo-res mais elevados do que os registados pelos sujeitos da amostra clínica (t = 4,59; p < 0,001 e t = 8,66; p < 0,001, respectivamente). Pelo contrário, na sub-escala de Ansiedade, os sujeitos da amostra clínica apresentam va-lores significativamente mais elevados do que os da amostra normativa (t = -10,16; p > 0,01).

Resultados da estatística descritiva para as pontuações da escala Apresentam-se de seguida os valores de média e desvio-padrão das três sub-escalas para o total da amostra normativa (N = 434).

Dado que o sexo não altera significativamente as pontuações obtidas, não são apresentados os resultados em função do sexo.

Quadro 4: EVA – estatística descritiva para as pontuações das três dimensões

Média DP

Ansiedade 2,43 0,74

Conforto com a Proximidade 3,49 0,58

Confiança nos Outros 3,27 0,53

Procedimentos de análise de clusters: estudo exploratório

Embora, como mencionámos anteriormente, as abordagens dimen-sionais proporcionem uma análise mais detalhada da vinculação do adulto, conceptualmente continua a ser útil não perder a possibilidade de aceder a configurações significativas da vinculação, habitualmente correspondentes a estilos de vinculação.

Com este objectivo, utilizando a amostra da população em geral, procedemos a uma análise de clusters utilizando as dimensões Ansiedade, Conforto com a Proximidade e Confiança nos Outros, para classificar os indivíduos em estilos de vinculação, no sentido do já efectuado por diver-sos autores (Collins & Read, 1990; Collins, 1996; Collins & Feeney, 2000; Feeney, Noller & Hanrahan, 1994; Eng et al., 2001).

Utilizámos o software SPSS (versão 13, 2004) para realizar a análise de clusters, recorrendo ao método não hierárquico K-means (Johnson & Wichern, 2002, in Maroco, 2003). Seguimos os procedimentos recomenda-dos por Collins e Read (1990), tendo igualmente em consideração o referi-do a este respeito por Collins (1996), para determinar a solução final de

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clusters, o que, na nossa amostra, resultou na opção por uma divisão em três perfis (k = 3).

Como se pode observar no Quadro 5, os clusters encontrados corres-pondem à descrição teórica dos três estilos de vinculação de Hazan e Shaver (1987). O grupo correspondente ao perfil Seguro sente-se confor-tável com a proximidade, é capaz de confiar nos outros e não sente especial receio de ser abandonado; o grupo correspondente ao perfil Evitante não se sente confortável com a proximidade, não confia nos outros e não sente receio especial em ser abandonado; por último, o grupo correspondente ao perfil Preocupado não se sente confortável com a proximidade, não confia nos outros e sente um grande receio com a possibilidade de ser abandona-do. Do total da amostra, 46% dos indivíduos foram classificados como se-guros, 35% como evitantes e 19% como preocupados. Estas percentagens correspondem, de forma aproximada, aos estudos prévios que utilizaram esta metodologia.

Quadro 5: Médias das dimensões da EVA para estilos de vinculação obtidos através de uma análise de clusters

Clusters/Estilos de Vinculação Dimensões EVA Preocupado

(N = 83) Evitante (N = 150) Seguro (N = 201) F (2, 431) Conforto com a Proximidade 3,16 3,28 3,95 109,01*** Confiança nos

Ou-tros 2,88 3,15 3,66 99,287***

Ansiedade 3,54 2,44 1,80 462,944***

Nota: ***p < 0,001.

Uma análise de variância multivariada (MANOVA) dos perfis de vin-culação, revelou um efeito estatisticamente significativo, mostrando que a Ansiedade é a dimensão que tem um maior peso discriminativo no esta-belecimento dos clusters. As médias de cada dimensão, correspondentes aos estilos referidos, encontram-se igualmente no Quadro 5.

Classificação em protótipos de vinculação a partir da AAS-R: análi-se exploratória

Partindo da sugestão de N. Collins (1996, comunicação pessoal), procedeu-se também à exploração da classificação dos indivíduos nos

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qua-tro protótipos de vinculação propostos por K. Bartholomew (1990), na amostra normativa.

Com esse objectivo, foram replicados os procedimentos e utilizada a sintaxe construída para este fim, de acordo com as indicações de N. Collins (1996, comunicação pessoal). Assim, primeiro foram calculados os valores médios nas dimensões Ansiedade, Confiança e Conforto com a Proximida-de. De seguida, foi calculado o valor compósito das dimensões Confiança nos Outros e Conforto com a Proximidade (valor médio destas duas di-mensões, criando a variável Conforto-Confiança (ClosDep, no original). Finalmente, procedeu-se à classificação dos indivíduos a partir dos valores obtidos na variável Conforto-Confiança e na variável Ansiedade do se-guinte modo: os indivíduos que apresentassem valores superiores ao valor médio da escala (3) na variável Conforto-Confiança e valores inferiores ao valor médio na variável Ansiedade eram classificados como Seguros; os que apresentassem valores superiores a 3 na variável Conforto-Confiança e superiores a 3 na variável Ansiedade eram classificados como Preocupa-dos; os que apresentassem valores inferiores a 3 na variável Conforto-Con-fiança e inferiores a 3 na variável Ansiedade eram classificados como Desligados; os que apresentassem valores inferiores a 3 na variável Con-forto-Confiança e superiores a 3 na variável Ansiedade eram classificados como Amedrontados.

Como pode ser verificado no Quadro 6, utilizando este procedimento foi possível classificar 88,9% dos sujeitos, ficando por classificar 48 su-jeitos, que apresentaram valores intermédios, ou seja, podem situar-se na fronteira entre vários estilos em simultâneo. A classificação dos sujeitos pelos estilos foi a seguinte: 64,3% seguros, 10,6% preocupados, 7,8% des-ligados e 6,2% amedrontados.

Quadro 6: Distribuição dos sujeitos por protótipos de vinculação (Bartholomew, 1990) Estilos (Bartholomew, 1990) N % Seguro 279 64,3 Preocupado 46 10,6 Desligado 34 7,8 Amedrontado 27 6,2 Não classificáveis 48 11,1 Total 434 100

(26)

Procedimentos de cotação

Para obter as pontuações nas três dimensões da EVA, os itens da es-cala devem ser cotados de 1 a 5, tendo em atenção que os itens assinalados no Quadro 7 com um asterisco devem ser cotados de forma inversa, por se encontrarem invertidos9. Após a cotação dos itens, deverá ser efectuada a soma do conjunto de itens que compõe cada dimensão, dividindo a pontua-ção obtida pelo número de itens (6).

Quadro 7: EVA – itens pertencentes a cada dimensão (procedimentos de cotação)

Dimensões Itens

Ansiedade 9 10 3 11 15 4

Conforto com a proximidade 12 1 14 6 8* 13*

Confiança nos outros 18* 2* 16* 17* 7* 5

Nota: *Itens invertidos

Comentário final

Os estudos realizados com a EVA possibilitam-nos afirmar que as características psicométricas deste instrumento permitem a sua utilização científica e clínica.

Os resultados no âmbito da fiabilidade e os relativos à validade são bastante bons, à excepção da consistência interna das dimensões Conforto com a Proximidade e, sobretudo, da Confiança nos Outros, que, quando avaliadas através do indicador alpha de Cronbach, apresentam valores um pouco inferiores ao desejável. No entanto, estas subescalas diferenciam população em geral de população clínica e mostram-se bons elementos na construção de estilos de vinculação consistentes com a Teoria da Vincula-ção do Adulto (Bartholomew, 1990; Collins & Read, 1990, 1996, 2000; Hazan & Shaver, 1987), sugerindo que a maioria dos seus conteúdos são pertinentes em termos da vinculação do adulto.

Nas diversas análises efectuadas, os resultados obtidos na dimensão Ansiedade mostram-nos a sua centralidade no instrumento, facto consis-tente com os mais recentes desenvolvimentos da Teoria da Vinculação do Adulto, que a consideram, conjuntamente com a dimensão evitamento,

9 A este propósito, convém anotar que, para efeitos de cotação, com o objectivo de todas

as dimensões poderem variar em sentido crescente, os itens da dimensão Confiança nos

Outros foram invertidos em relação à solução factorial antes de ser somados,

Referências

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