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Interessado: Defensor Público Dr. Lucas Akira Pascoto Nishikawa

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Academic year: 2021

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Consulta

Interessado: Defensor Público Dr. Lucas Akira Pascoto Nishikawa

Assunto: Atuação nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher junto ao

JVD Sul.

Trata-se de consulta formulada pelo Defensor Público Lucas Akira Pascoto Nishikawa, Coordenador da Unidade Polo Especializado de Santo Amaro, com relação à atuação dos Defensores Públicos classificados na respectiva Unidade nos casos de violência doméstica, considerando que ainda não atuam Defensores Públicos junto ao respectivo Juizado de Violência Doméstica, o JVD Sul II, que detém a competência territorial de Santo Amaro e Parelheiros, ou seja, competência territorial do Foro Regional de Santo Amaro e do Foro Distrital de Parelheiros.

Segundo o consulente, as medidas previstas na Lei Maria da Penha são importantes na tutela da mulher vitimizada, sendo insubstituíveis por outras medidas cautelares cíveis comuns. Ocorre que, segundo informou, a falta de Defensores Públicos no JVD Sul tem feito que esses casos sejam remetidos ao Ministério Público ou à Delegacia de Polícia.

Segundo ele, “estamos encaminhando os casos da Lei Maria da Penha para o MP do JVD ou Delegacia, que atuam como co-legitimados para requerer as cautelares protetivas, marcando retorno livre (assistida pode voltar qualquer dia), caso não consiga a cautelar ou não seja atendida pelo órgão.”

Porém, o Defensor Público questiona se essa postura institucional é adequada ou, indiretamente, se não há violação dos deveres funcionais dos Defensores Públicos que realizam o atendimento na Unidade Polo Especializado de Santo Amaro.

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Prezados,

Nós, Defensores do Polo Sul, temos dúvida na atuação no caso de violência doméstica e familiar contra a mulher. Segundo notícia do NUDEN, não há Defensor que atua no JVD SUl I.

Nesses termos, não há como enviar petições com pedidos de cautelares, por não haver Defensor que acompanhe o pedido. Observo que, em comparação com a cautelar de afastamento do lar, as cautelares protetivas, realmente tutelam o interesse da assistida. A Lei Maria da Penha criou uma proteção efetiva para a Mulher vítima de violência doméstica, uma vez que qualquer quebra nas proibições acarreta a prisão do agressor, muito diferente das cautelares de família, que impõem multa em caso de descumprimento.

Nesses termos, é patente que a melhor forma de atender aos pleitos da assistida é a aplicação na totalidade da Lei Maria da Penha, em especial, com a proibição de se aproximar. A cautelar de afastamento do lar se mostra meio inadequado e ineficaz, gerando mais riscos à assistida (basta pensar o caso do juiz determinar a citação do agressor, sem deferir a liminar).

Assim, colocando em primeiro plano a proteção da assistida, estamos encaminhando os casos da Lei Maria da Penha para o MP do JVD ou Delegacia, que atuam como colegitimados para requerer as cautelares protetivas, marcando retorno livre (assistida pode voltar qualquer dia), caso não consiga a cautelar ou não seja atendida pelo órgão.

Isso posto, gostaria de informações, principalmente, se essa atuação é adequada.

Att,

Lucas Akira Pascoto Nishikawa

23ª Defensoria Pública de Santo Amaro - Pólo Sul.

Coordenador da Unidade Polo Especializado de Santo Amaro. Rua Américo Brasiliense, 2139, Santo Amaro, São Paulo/SP. Telefone: (11) 5182-2677

É o breve relatório. Passo a opinar.

É indiscutível que o Defensor Público te m o dever funcional de prestar o melhor e mais eficiente serviço de assistência

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jurídica, sem descurar, em hipótese nenhuma, dos direitos dos usuários1 da Instituição, bem como de seus objetivos2, ambos trazidos pela Lei Complementar nº 132/09, em alteração à LC 80/94.

Aliás, tais dispositivos, somados a os princípios do modelo público de prestação e do Defensor Natural, também consagrado pela novel legislação (art. 4º-A, IV, LC 80/94), impõem ao Poder Público, leia -se, à Defensoria Pública, ainda mais responsabilidades funcionais e restringem, em certo grau , a ampla discricionariedade admin istrativa na tomada dos rumos estratégicos da Instituição, mesmo que este go ze de independência e autonomia .

Ademais, este mesmo raciocínio serve de lastro jurídico para fundamentar a existência de parâmetros no exercício da independência funcional do Defensor Público. De fato, representa ela importante prerrogativa do Membro da carreira, à evidência uma conquista do Estado Democrático de Direito, mas, como todo instituto,

1 Art. 4º-A. São direitos dos assistidos da Defensoria Pública, além daqueles previstos na legislação

estadual ou em atos normativos internos: (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009). I – a informação sobre: (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

a) localização e horário de funcionamento dos órgãos da Defensoria Pública; (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

b) a tramitação dos processos e os procedimentos para a realização de exames, perícias e outras providências necessárias à defesa de seus interesses; (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009). II – a qualidade e a eficiência do atendimento; (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

III – o direito de ter sua pretensão revista no caso de recusa de atuação pelo Defensor Público; (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

IV – o patrocínio de seus direitos e interesses pelo defensor natural; (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

V – a atuação de Defensores Públicos distintos, quando verificada a existência de interesses antagônicos ou colidentes entre destinatários de suas funções. (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

2

Art. 3º-A. São objetivos da Defensoria Pública: (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009). I – a primazia da dignidade da pessoa humana e a redução das desigualdades sociais; (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

II – a afirmação do Estado Democrático de Direito; (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009). III – a prevalência e efetividade dos direitos humanos; e (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

IV – a garantia dos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório. (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

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jamais terá efeitos absolutos ou incondicionados, especialmente diante de grandes princípios hermenêuticos pós -modernos como o da proporcionalidade, o da razoabilidade, o d a ponderação ou do sopesamento dos interesses em aparente conflito, dentre alguns outros.

Pois bem, a questão trazida na presente consulta traz tema relevante para a pauta da Corregedoria -Geral, que permanece atenta e sensível a essa evolução dogmática das diretrizes que formam o Estatuto jurídico da Defensoria Pública no Brasil.

Portanto, a partir desse prisma, algumas premissas preliminares podem ser apresentadas:

a) A mulher vítima de violência doméstica merece a máxima atenção e o atendimento , além de desburocratizado, mais eficiente diante do seu caso concreto e de suas particularidades;

b) Certamente, haverá casos que indicarão a suficiência de medidas jurídicas de natureza cível/família. Por exemplo , da ação cautelar de separação de corpos, como medida preparatória para a futura ação principal, sendo esta uma ação de divórcio ou, então, uma ação de reconhecimento e dissolução de união estável. Nesse caso, para a titular do direito à vida ou à integridade física violado ou ameaçado, basta o mero afastamento do lar, sem outras medidas coercitivas ou sub -rogatórias em complemento; ou, então, da ação de separação judicial litigiosa com pedido liminar de afastamento de lar, que serve para o mesmo contexto fático acima relatado.

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c) Porém, outros casos exigirão, mui to além do mero afastamento do lar, outras medidas em complementação como, por exemplo, a determinação da não aproximação do agressor, além de outras medidas previstas nos artigos 22, 23 e 24 da Lei nº 11.340/06 .

d) Em outras palavras, somente o caso concret o submetido ao crivo do Defensor Público, que deve ser sensível às suas necessidades, será capaz de indicar a melhor medida a ser tomada. Por isso, é inútil e impertinente a previsão, liminar e em abstrato, de quais as medidas devem ser tomadas pela Defensoria Pública no atendimento da mulher vítima de violência doméstica, chegando a ser irrelevantes a estrutura administrativa institucional e a localização territorial de determinado Juízo ou Foro competente s, se o Defensor Público possuir atribuições específicas para a análise e o atendimento dessa s demandas, ao menos num primeiro momento e para a adoção das medidas urgentes e imediatas.

e) Na mesma linha, vale repetir, considerando que o s Defensores Públicos da Unidade Polo Especializado de Santo Amaro tê m atribuições específicas3 para o atendimento público e a adoção

3Ato Normativo nº 50, de 27 de maio de 2011, da Defensoria Pública-Geral.

Art. 4º. A atuação dos Defensores Públicos nos polos regionais de atendimento das demandas de família abrange:

I – instauração do correspondente processo administrativo (PA); II – orientação;

III – mediação, conciliação e elaboração do respectivo termo;

IV – instrução necessária à propositura de ações judiciais, com a expedição dos ofícios cabíveis; V – elaboração de petições iniciais.

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de medidas protetivas de urgência, não pode m eles se furtar desse dever funcional, sob pena de imputação disciplinar, sem olvidar que cabe a ele s, conforme a independência funcional de cada um, optarem pelo instrumento jurídico mais adequado e eficiente ao caso em análise, seja com o manejo do Código de Processo Civil, seja com o uso da legislação especial. O que não podemos admitir é a mera omissão ou, então , o encaminhamento dessas sensíve is demandas a outros órgãos ou instituições, afinal, são funções institucionais da Defensoria Pública.4

Dessa forma, considerando ainda que é atribuição da Corregedoria-Geral o recebimento e análise de consultas, bem como a expedição de orientações à car reira, a partir exclusivamente dos seus relatos, concluímos, sem prejuízo das observações acima, que :

- Se o caso de violência contra a mulher indicar a necessidade da adoção das medidas protetivas da Lei Maria da Penha , cabe ao Defensor Público do respectivo Polo Especializado o atendimento adequado da usuária e a adoção das medidas cabíveis junto ao Juizado de Violência Doméstica (JVD) competente, mesmo que este ainda não disponha de atuação

§ 1º. O atendimento dos polos regionais, além das demandas da área de família, abrange também as medidas no âmbito da infância e juventude (área cível) e da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06), nesse último caso ressalvadas as atribuições da Unidade JECRIM/DIPO da Regional Criminal da Capital.

4

Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

V – exercer, mediante o recebimento dos autos com vista, a ampla defesa e o contraditório em favor de pessoas naturais e jurídicas, em processos administrativos e judiciais, perante todos os órgãos e em todas as instâncias, ordinárias ou extraordinárias, utilizando todas as medidas capazes de propiciar a adequada e efetiva defesa de seus interesses; (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009) XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado; (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

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permanente da Defensoria Pública junto a ele, sendo que a vítima deverá ser intimada dos atos processuais subsequentes, conforme art. 21 da referida lei5 e, se necessário, retornar à Unidade da Defensoria Pública para eventual orientação.

- Caso a questão exija a adoção de outras medidas, normalmente cautelares de natureza cível ou família, devem ser elas promovidas nos respectivos Juízos Cíveis ou de Família competentes, cujo acompanhamento do processo, nesses casos, já será feito pela própria Defensoria Pública, pelos Defensores Públicos classificados na Unidade responsável.

São Paulo, 28 de maio de 2013

ALUÍSIO IUNES MONTI RUGGERI RÉ Defensor Público

Corregedor Assistente

5 A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos

pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor público.

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Consulta

Interessado: Defensor Público Dr. Lucas Akira Pascoto Nishikawa

Assunto: Atuação nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher junto ao

JVD Sul .

Vistos.

Acolho o parecer da lavra do Corregedor Assistente, Dr. Aluisio Iunes Monti Ruggeri Ré, tendo em vista o arcabouço jurídico mencionado, inclusive normativa interna da Defensoria Pública do Estado, a respeito da temática.

Encaminhe-se aos Interessados, ao Núcleo de Defesa da Mulher e à 2ª Subdefensoria Pública-Geral, por memorando, via mensageria eletrônica Institucional.

São Paulo, 29 de maio de 2013

MARCIA REGINA GARUTTI Defensora Pública Corregedora-Geral

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