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(Scanning Laser Polarimeter, NFL II) Avaliação da sensibilidade e especificidade da polarimetria laser no rastreio de glaucoma

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Analisador da Camada de Fibras Nervosas da Retina

(Scanning Laser Polarimeter, NFL II)

Avaliação da sensibilidade e especificidade da

polarimetria laser no rastreio de glaucoma

M.F. Domingues*, J. Silva Cotta**, F. Falcão Reis***

OBJECTIVOS: Avaliar a sensibilidade e especificidade da polarimetria laser na detecção de glaucoma e determinar o índice que melhor permite distinguir os olhos normais dos olhos com glaucoma e hipertensão ocular.

MÉTODOS: Submeteram-se à polarimetria laser 103 olhos (da consulta do Serviço de Oftalmologia) que previamente se dispuseram em três grupos: grupo 1 (Normal) – relação C/D inferior a 0,6, Humphrey C 30-2 normal e tonometria < 21 mmHg; grupo 2 (Suspeito) – tonometria > 21 mmHg, Humphrey C 30-2 normal e sem medicação anti-hipertensiva ocular; grupo 3 (Glaucoma) – Humphrey C 30-2 com 3 pontos adjacentes com perda > 5 dB ou com 2 pontos adjacentes com perda > 10 dB, tonometria > 24 mmHg e/ou relação C/D superior a 0,6. O mapa da camada de fibras nervosas da região peripapilar foi dividido em 4 sectores (superior, inferior, nasal e temporal), cada qual com 45º. Foi efectuada uma análise estatística com recurso ao teste T-Student para amostras emparelhadas dos resultados da polarimetria laser.

RESULTADOS: A sensibilidade da polarimetria laser foi de 93% e a especificidade foi de 100%. A relação entre o retardamento do sector superior e o retardamento do sector nasal foi o índice que melhor permitiu discriminar os 3 grupos (p < 0,005). CONCLUSÕES: Não obstante o reduzido número de indivíduos examinados e a adveniente variabilidade ocasional – o que restringe a força probante deste trabalho –, permitimo-nos concluir que a polarimetria laser é um teste de promissora validade no rastreio de glaucoma. Pelo que toca ao follow-up de pacientes com glaucoma e hipertensão ocu-lar, são necessários estudos longitudinais para averiguar da eficácia da polarimetria laser.

INTRODUÇÃO

O glaucoma abrange um conjunto de doenças que se caracterizam pela deterioração progressiva da cabeça do nervo óptico e das fibras nervosas da retina. A sua detecção clínica fundamenta-se na seguinte tríade clássica de sinais: defeitos dos fei-xes de fibras nervosas nos campos visuais, altera-ções estruturais na escavação do disco óptico e pressão intra-ocular acima do valor normalizado (>21 mmHg). Contudo, dos olhos com glaucoma observados num exame de rotina, 1/3 não

apre-Palavras-chave:

Polarimetria laser, analisador da camada de fibras nervosas, retardamento, rastreio de glaucoma.

senta pressão intra-ocular elevada. Além do mais, é sabido que muitos olhos com hipertensão ocular não desenvolvem glaucoma.

Uma vez que um grande número de fibras nervo-sas é destruído antes de a doença glaucomatosa poder ser detectada, quer pelos métodos conven-cionais de avaliação do campo visual, quer pelos métodos de avaliação do disco óptico, vários es-forços têm sido envidados no sentido de identifi-car esta doença - causa considerável de cegueira, bem como os seus estádios precoces assintomá-ticos. O glaucoma abrange um conjunto de doen-ças que se caracterizam pela deterioração progres-siva da cabeça do nervo óptico e das fibras nervo-sas da retina. A sua detecção clínica fundamenta-se na fundamenta-seguinte tríade clássica de sinais: defeitos dos feixes de fibras nervosas nos campos visuais, alterações estruturais na escavação do disco

óp-* Interno Complementar de Oftalmologia do Serviço de Oftalmologia do Hospital de S. João.

** Chefe de Serviço de Oftalmologia do Hospital de S. João. *** Director do Serviço de Oftalmologia do Hospital de S. João e Professor

Agregado de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

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tico e pressão intra-ocular acima do valor nor-malizado (>21 mmHg). Contudo, dos olhos com glaucoma observados num exame de rotina, 1/3 não apresenta pressão intra-ocular elevada. Além do mais, é sabido que muitos olhos com hiperten-são ocular não desenvolvem glaucoma.

Uma vez que um grande número de fibras nervo-sas é destruído antes de a doença glaucomatosa poder ser detectada, quer pelos métodos conven-cionais de avaliação do campo visual, quer pelos métodos de avaliação do disco óptico, vários es-forços têm sido envidados no sentido de identifi-car esta doença - causa considerável de cegueira, bem como os seus estádios precoces assintomá-ticos. Todavia, a maior parte dos testes, dado o seu carácter subjectivo, não se revela suficiente-mente sensível na detecção atempada de qualquer anomalia, pois que só a torna perceptível quando as fibras nervosas da retina já se encontram con-sideravelmente destruídas (tabela 1). Ora, de acordo com os resultados avançados por vários estudos, a deleção das fibras nervosas da retina chega a atingir uma proporção de 50%, antes de ocorrer um defeito na perimetria.

de laser paralelos, sendo tal retardamento causa-do pelos microtúbulos das células ganglionares da retina peripapilar1,2.

O retardamento, cuja detecção é efectuada pelo polarímetro, traduz o desfasamento existente nos dois feixes de laser reflectidos e correlaciona-se linearmente com a espessura (em mm) da camada de fibras nervosas da retina (fig.1).

Tabela 1 – Métodos de rastreio de glaucoma

Métodos Sensibilidade Especificidade

Scanning Laser Polarimeter3 96% 93%

Glaucoma Hemifield Test4 94% 90%

Avaliação do disco óptico5 85% 94%

Confocal SLO6 83% 88%

Fotografia “red-free” da CFN7 64% 84%

Tonometria8 70% 30%

Por tudo isto, o grande desafio na prevenção e tratamento do glaucoma tem sido a sua detecção precoce e a monitorização sensível e objectiva da sua evolução.

Em Outubro de 1996, é apresentado, na Academia Americana de Oftalmologia, o Nerve Fiber Analyzer (NFL II) como o primeiro instrumento de 3ª gera-ção que, provido de uma nova técnica de imagem, permite fazer a detecção precisa e objectiva do glaucoma. Trata-se de um analisador da camada de fibras nervosas da retina que é constituído por um Confocal Scanning Laser Ophthalmoscope, no qual foi integrado um polarímetro. A fonte lumi-nosa consiste num díodo laser (l=780 nm) em que o estado de polarização é modulado. Os outputs eléctricos da unidade de detecção da polarização são digitalizados e guardados num computador pessoal. Em vez de medir, como a maior parte dos sistemas de scanning laser, a topografia ou a es-pessura da retina, o NFL II mede a quantidade de retardamento (em graus) sofrida por dois feixes

Fig.1 – As propriedades de polarização da camada de fibras

ner-vosas da retina como base da polarimetria laser.

Este método fundamenta-se, pois, nas proprieda-des de polarização da camada de fibras nervosas da retina.

O NFL II, além de efectuar o mapa da espessura da camada de fibras nervosas da retina peripapilar, analisa os dados e compara os resultados com uma base de valores normativa, em que se atende à idade, ao sexo e à raça.

Este exame foi proposto como meio de diagnósti-co e de follow-up de glaudiagnósti-coma, tendo sido já apro-vado pela FDA.

O NFL II permite visualizar uma imagem do disco óptico e da retina peripapilar, imagem que abran-ge um campo de 15ºx15º, com centro no disco óptico. Após ter sido focada a imagem, a aquisi-ção de data, através de uma pupila não dilatada, demora apenas 0,7 segundos, ficando eliminada, assim, a influência de um eventual movimento ocular.

Nesta fase, um aparelho com propriedades de com-pensação neutraliza os efeitos de polarização do segmento anterior, isolando-os das medições da polarização da camada de fibras nervosas da reti-na1.

Como o NFL II não utiliza técnicas de imagem óptica, as suas medições não são afectadas pelos erros refractivos (de +10 a –10 D), nem pelas opa-cidades dos meios ópticos oculares, nem pela miose.

O scanning de toda a área de 15ºx15º do disco resulta numa matriz de informação que correspon-de a 256x256 pixels. O software, suportado pelo Windows‚ permite, então, a análise dos 65,536

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Em seguida, o operador coloca manualmente uma elipse sobre os limites do disco óptico, e o progra-ma incumbe-se de apresentar uprogra-ma segunda elipse, concêntrica, que surge ampliada 1,75 vezes os diâ-metros do disco óptico e com uma largura de ban-da de 10 pixels (fig. 2 e 3).

sidade dessa camada e a azul, a uma menor densi-dade. No gráfico, é mostrada, notoriamente infe-rior ao normal, a curva de distribuição da espes-sura média da camada de fibras nervosas ao lon-go dos quatro quadrantes. O último quadro apre-senta, em micrómetros, o desvio de cada quadrante em relação à média da base de dados.

De um outro modo, conforme se pode observar na fig. 4, são apresentados, declaradamente anormais, os vários parâmetros da análise estatística.

Fig. 2 – Sectores peripapilares [S = superior (45º-135º), I =

infe-rior (225º-315º), N = nasal (45º-315º), T = temporal (135º-225º)].

A partir deste momento está definida a área da camada de fibras nervosas peripapilar que será submetida a análise pelo software do computador (vd. elipse verde peripapilar da fig.3).

Fig. 3 – Imagens da polarimetria laser de um olho

com glaucoma.

A imagem da papila e região peripapilar é visua-lizada no ecrã com a medição da espessura da camada de fibras nervosas, representada em sec-ção segundo 2 linhas perpendiculares. Ao lado, é apresentada uma colorimetria que traduz, em es-quema, a espessura da camada de fibras nervosas. A cor vermelha corresponderá a uma maior

den-Fig. 4 – Resultados da análise estatística da polarimetria laser da

fig.3.

Nerve Fiber Analysis

Act. Value Status Probability

Symmetry 1.57 Outside Normal 0,1%

Superior Ratio 1.42 Within Normal

Inferior Ratio 0.91 Ouside Normal 1.3% Superior Nasal 1.95 Within Normal

Max Modulation 0.95 Within Normal Elipse Modulation 2.19 Within Normal

The Number 93

Average Thickness 46 Bordeline 5.1%

Ellipse Average 46 Outside Normal 3.3%

Superior Average 55 Bordeline 6.9%

Superior Integral 0.177 Within Normal

Esta análise é sintetizada por um índice (NUMBER), isto é, por um número experimental que pode va-riar entre 0 e 100 (fig.4). É de sublinhar, porém, que este índice se encontra ainda em fase de ava-liação, porquanto se trata de uma técnica muito recente. Posto isto, os valores em função dos quais cada resultado é classificado podem apresentar-se como segue: até 30, o exame poderá ser conside-rado normal; um valor entre 30 e 70 apontará para um resultado suspeito de glaucoma; se o valor for superior a 70, tratar-se-á de um glaucoma avan-çado.

OBJECTIVOS

Com o presente trabalho, propomo-nos avaliar a sensibilidade e especificidade da polarimetria laser na detecção de glaucoma e determinar o índice que melhor permite distinguir os olhos normais dos olhos com glaucoma e hipertensão ocular.

MATERIAL E MÉTODOS

Indivíduos de ambos os sexos, de raça caucasiana e com idade superior a 30 anos, foram examina-dos na consulta do Serviço de Oftalmologia do H. S. João, tendo sido posteriormente distribuídos em

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três grupos: o primeiro grupo era constituído por indivíduos saudáveis, sem escavação patológica, com Humphrey Central 30-2 e com tonometria normal; do segundo grupo faziam parte indivídu-os com hipertensão ocular, sem medicação anti-hipertensiva e sem defeito na perimetria; ao ter-ceiro grupo respeitavam indivíduos com glaucoma, cujo diagnóstico observou os critérios constantes da tabela 2.

superior e do sector temporal), S/N (relação da espessura do sector superior e do sector nasal), I/T (relação da espessura do sector inferior e do sec-tor temporal), MT (espessura média da camada de fibras nervosas peripapilar, expressa em micróme-tros). Um valor de p menor que 0,05 foi conside-rado estatisticamente significativo.

RESULTADOS

No grupo normal, foram classificados 24 olhos (100%) com polarimetria dentro da normalidade (NUMBER <30), tendo-se obtido uma média de 17 e um desvio padrão (DP) de 7; no grupo suspeito, 12 exames (31,5%) foram classificados como anor-mais (NUMBER ≥ 30) e os outros 26 (69,5%) como normais; no grupo com glaucoma, apenas 3 exa-mes (7,3%) apresentaram um NUMBER inferior a 30, tendo os 38 restantes (92,7%) obtido um re-sultado anormal (gráfico 1).

Tabela 2 – Critérios de classificação dos 3 grupos. Normal: Relação C/D inferior a 0,6

Humphrey C 30-2 normal Tonometria < 21 mmHg

Suspeito: Tonometria > 21 mmHg Humphrey C 30-2 normal

sem medicação anti-hipertensiva ocular

Glaucoma: Humphrey Central 30-2:

- 3 pontos adjacentes com perda > 5 dB ou

- 2 pontos adjacentes com perda > 10 dB Tonometria > 24 mmHg

e/ou

Relação C/D superior a 0,6

No primeiro grupo, foram classificados 24 olhos (23,3%), no segundo, 38 olhos (36,9%) e, no ter-ceiro, 41 olhos (39,8%), o que perfaz um total de 103 olhos.

A média de idades e o respectivo desvio padrão (DP) foram, por grupo, os seguintes: Normal - 53 anos / 9,63; Suspeito - 56 anos / 13,7; Glaucoma - 62 anos / 11,1.

Submeteram-se os 103 olhos à polarimetria laser, sem recorrer à dilatação pupilar. Em cada olho foi efectuada a captação de 3 imagens fidedignas, ten-do siten-do rejeitadas pelo computaten-dor aquelas que não satisfizessem os critérios mínimos de quali-dade.

Em seguida, o software calculou a imagem média, a partir da qual efectuou toda a análiseestatística. O mapa da camada de fibras nervosas da região peripapilar foi dividido em 4 sectores (superior, inferior, nasal e temporal), cada qual com 45º (fig.2).

Os exames da polarimetria laser foram classifica-dos como normais ou anormais, consoante o va-lor do NUMBER (índice de probabilidade de alte-rações morfológicas compatíveis com glaucoma) fosse < 30 ou ≥ 30, respectivamente.

Foi realizada uma análise estatística com recurso ao teste T-Student para amostras emparelhadas dos seguintes resultados da polarimetria laser: S/I (relação da espessura do sector superior e do sec-tor inferior), S/T (relação da espessura do secsec-tor

Gráfico 1 – Distribuição dos resultados da polarimetria laser,

traduzidos por um índice (NUMBER), nos 3 grupos; média e desvio padrão do NUMBER, por grupo.

Em função de tais valores, a sensibilidade da polarimetria laser ficou determinada em 93% e a especificidade em 100% (tabela 3). A distribuição da espessura média no grupo normal, foi de 56,0 mm com um DP de 9,95; no grupo suspeito, foi de 66,4 mm com um DP, bastante elevado, de 18,3; no grupo com glaucoma, foi de 49,5 mm com um DP de 11,1 (tabela 4).

A relação entre o retardamento do sector superior e o retardamento do sector inferior (S/I) não per-mitiu obter diferenças significativas nos 3 grupos (p < 0,4). Resultados semelhantes foram observa-dos no que tange à relação entre o retardamento do sector inferior e o retardamento do sector tem-poral (I/T). Quanto à relação S/T (retardamento do sector superior / retardamento do sector tempo-ral), verificou-se uma diferença estatisticamente significativa entre os três grupos (p< 0,03). A

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rela-ção entre o retardamento do sector superior e o retardamento do sector nasal (S/N) foi o índice que melhor permitiu destrinçar os 3 grupos (p < 0,005).

DISCUSSÃO

No glaucoma, à medida que as células ganglionares se atrofiam, verifica-se uma perda dos seus axónios, também denominados de fibras nervosas da retina. A presença – maior ou menor – destas fibras nervosas na região peripapilar e no disco óptico pode ser clinicamente observada, recorren-do à oftalmoscopia ou à fotografia monocromática de alto contraste, e pode servir de meio de diag-nóstico de glaucoma ou de monitorização da sua evolução9.

Recentemente introduzido, o Scanning Laser

Pola-rimeter (NFL II) permite efectuar, com celeridade e

sem necessitar de dilatação pupilar, a medição do retardamento da camada de fibras nervosas da retina peripapilar. Para além de providenciar in-formação objectiva e quantitativa, o NFL II per-mite uma elevada reprodutibilidade de resultados, visto que os seus coeficientes de variação nas medi-ções intra-operador são de 4,48% a 4,92%10,11. A

reprodutibilidade interoperador também é eleva-da (p=0.20-0.93), se apenas uma elipse for apli-cada às imagens de todos os operadores11.

Posto que a medição do retardamento seja relati-va, isto é, não absoluta, quando comparada com outros métodos de exame indirecto da camada de fibras nervosas da retina, ela torna patente várias vantagens10. Avulta, em primeiro lugar, o facto de

não se fundamentar nos princípios de imagem óptica, razão por que as medições resultantes não sofrem erros de ampliação. Por outro lado, a me-dição do retardamento não requer nenhum plano de referência.

No domínio da camada de fibras nervosas da reti-na peripapilar humareti-na, cabem várias proprieda-des12, estando as principais descritas no conjunto

que segue: a) a camada de fibras nervosas peripa-pilar é mais espessa nas regiões arqueadas superi-or e inferisuperi-or; b) a espessura da camada de fibras nervosas peripapilar diminui, quando aumenta a sua distância em relação ao disco óptico; c) as arteríolas e vénulas maiores estão imersas na ca-mada de fibras nervosas, pelo que esta caca-mada é mais fina sobre os vasos do que nas áreas adja-centes; d) o número de fibras nervosas peripapilar torna-se menor com o aumento da idade. Como em outros trabalhos10, apenas pudemos verificar

esta última relação nos sectores superior e inferi-or; nos sectores temporal e nasal não se observa-ram, nos 3 grupos, diferenças significativas rela-tivamente à idade.

Conquanto a diferença entre o grupo normal e o grupo com glaucoma, no que concerne ao valor da espessura média da camada de fibras nervosas da retina, seja estatisticamente significativa (p=0,037), verifica-se uma sobreposição conside-rável na distribuição dos valores entre os dois

gru-Tabela 3 – Sensibilidade e especificidade da polarimetria laser.

Distribuição dos resultados da polarimetria laser, nos 3 grupos, de acordo com o NUMBER (índice de probabilidade de altera-ções morfológicas compatíveis com glaucoma). A polarimetria foi considerada normal, quando o NUMBER era inferior a 30, e anormal, quando o NUMBER era superior ou igual a 30.

Gráfico 2 – Distribuição dos resultados da

polari-metria laser, traduzidos por um índice (Relação Superior/Nasal), nos 3 grupos; média e desvio pa-drão (dp) da relação S/N, por grupo.

Tabela 4 – Resultados da polarimetria laser

Distribuição dos índices da polarimetria laser nos 3 grupos

Média ± Desvio Padrão

Normal Suspeito Glaucoma p

S/I 1,016 ± 0,13 0,938 ± 0,18 0,972 ± 0,17 < 0,4 S/T 2,510 ± 0,50 2,180 ± 0,54 1,530 ± 0,27 < 0,03 S/N 2,140 ± 0,45 1,790 ± 0,37 1,360 ± 0,26 <0,005 I/T 2,597 ± 0,66 2,315 ± 0,61 1,602 ± 0,31 < 0,4 MT 56,0 ± 9,95 66,4 ± 18,3 49,5 ± 11,1 < 0,04

•S/I – relação entre a espessura do sector superior e do sector inferior

•S/T – relação entre a espessura do sector superior e do sector temporal

•S/N – relação entre a espessura do sector superior e do sector nasal

•I/T – relação entre a espessura do sector inferior e do sector temporal,

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pos. Sobreposição semelhante já foi também de-monstrada em outras características estruturais, designadamente na relação C/D, na área do anel neuro-retiniano e no volume da escavação13.

Ao invés do que foi apontado num outro estudo10,

não só observámos que os resultados da espessura média do grupo considerado suspeito (média = 66,4 mm / DP = 18,3) foram superiores aos valores do grupo normal (média = 56,0 mm / DP = 9,95), mas também anotámos uma diferença estatisticamen-te significativa (p=0,003).

À semelhança do que tem sido apurado em outros estudos14,15, constatámos que os resultados do

gru-po normal (DP = 9,95 mm) manifestam a existên-cia de uma grande variação na espessura da ca-mada de fibras nervosas. Tal facto poderá dever-se à regressão variável das células ganglionares, ocorrida durante o período pré-natal16-18. A

mes-ma variabilidade foi notada também em outros índices da polarimetria laser do grupo normal. Sirvam de exemplo os resultados do índice

NUMBER desse mesmo grupo: apesar de a média

apresentada ter sido de 17, valor que pode variar entre 0 e 29, verificou-se, porém, um desvio pa-drão de 7.

O nosso trabalho não conseguiu demonstrar dife-rença estatisticamente significativa (p<0,4) para a relação entre a espessura média da camada de fibras nervosas do sector superior e a espessura média da camada de fibras nervosas do sector in-ferior (S/I), entre os 3 grupos (S/I do grupo normal = 1,016, DP = 0,13; S/I do grupo suspeito = 0,938, DP = 0,18; S/I do grupo com glaucoma = 0,972, DP = 0,17). Ora, este resultado é assaz peculiar, pois, ao contrário do que seria de pressupor10,19,20,

verificámos, no grupo com glaucoma, uma dimi-nuição relativamente simétrica da espessura da camada de fibras nervosas no sector superior e no sector inferior. Convirá mencionar, a este propó-sito, um estudo de C.D. Phelps20 em que se

deter-minou a frequência da distribuição dos defeitos dos campos visuais em olhos com glaucoma cró-nico de ângulo aberto, tendo-se concluído que o campo visual superior era mais atingido do que o inferior e que a periferia nasal também era mais frequentemente atingida. Daqui se pode inferir que, na história natural do glaucoma, a retina nasal, responsável pelo campo visual temporal, estaria inicialmente mais protegida.

Tal poderá ser corroborado, neste trabalho, pelo índice S/N (relação entre o retardamento do sec-tor superior e o retardamento do secsec-tor nasal), em razão de ter sido o índice que melhor permitiu discriminar os 3 grupos (p < 0,005). O sector na-sal da camada de fibras nervosas, por apresentar menor atingimento e por se manter mais unifor-memente nos 3 grupos (normal, suspeito e glauco-ma), contribuiria para um índice S/N

progressiva-mente menor, à medida que o glaucoma avanças-se, tornando assim possível destrinçar melhor os olhos normais dos olhos com glaucoma e hiper-tensão ocular.

Estudos de longa duração (2,5 a 15 anos), em indivíduos com hipertensão ocular, referem uma taxa de conversão em glaucoma de 0 a 52%21.

Como corolário, os doentes propensos a desen-volver glaucoma seriam mais bem avaliados com o NFL II, dado que, no grupo suspeito, tendo 26 exames (69,5%) obtido um resultado normal, 12 exames (31,5%) já foram classificados como anor-mais (NUMBER ≥ 30). Todavia, a percentagem de resultados anormais (31,5%) em olhos com Humphrey C 30-2 ainda normal, a despeito de ser significativa, não prediz uma evolução inevitável para o glaucoma. No futuro, estudos longitudi-nais poderão comprovadamente asserir se a polarimetria laser é o método mais sensível na detecção e monitorização da perda de fibras ner-vosas devida ao glaucoma.

Sem resultados falsos positivos (0 exames anor-mais em 24 olhos do grupo normal) e com apenas 3 resultados falsos negativos (3 exames normais em 41 olhos do grupo com glaucoma), a sensibili-dade e a especificisensibili-dade da polarimetria laser (NFL II) ficaram avaliadas, neste trabalho, em 93% e em 100%, respectivamente (tabela 3). Em 1997, Tjon-Fo-Sang3, com um número de olhos

bastan-te superior (155 normais e 200 glaucomatosos), e utilizando o NFL I, chegou a resultados que defi-niram uma sensibilidade de 96% e uma especifi-cidade de 93%. Com efeito, refira-se que a tonome-tria, a avaliação do disco óptico, o glaucoma

hemifield test, o confocal scanning laser ophthal-moscope e a fotografia red-free da camada de

fi-bras nervosas da retina (tabela 1) apresentaram valores inferiores em relação à polarimetria laser, quer empregando o NFL I, quer o NFL II. No en-tanto, os resultados da sensibilidade e especifici-dade poderão estar sobrestimados, já que têm es-tritamente por base casos clínicos de um serviço de glaucoma, em lugar de casos clínicos oriundos da população geral.

CONCLUSÕES

Não obstante o reduzido número de indivíduos examinados e a adveniente variabilidade ocasio-nal – o que restringe a força probante deste traba-lho –, permitimo-nos concluir que a polarimetria

laser é um teste de promissora validade no rastreio

de glaucoma.

Considerando os valores atinentes à sensibilidade (93%) e especificidade (100%) da polarimetria laser no rastreio de glaucoma, e atendendo a que tal patologia se define classicamente pela perda de

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função, ou melhor, pela perda de campo visual, não podemos asseverar que a polarimetria laser se constitua num exame de indeclinável profici-ência no rastreio supracitado, uma vez que visa tão-somente a definição de parâmetros morfoló-gicos.

Contudo, é de prever que esta nova técnica não seja fácil de implementar num programa de rastreio em larga escala, pois, para além de exigir pessoal técnico diferenciado, requer um instrumento cuja aquisição é relativamente dispendiosa.

Pelo que toca ao follow-up de pacientes com glau-coma e hipertensão ocular, são necessários estu-dos longitudinais para averiguar da eficácia da polarimetria laser.

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Referências

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