1 - OFENSIVA CAPITALISTA APROFUNDA DESIGUALDADES E INJUSTIÇAS
A situação internacional caracteriza-se pelo aprofundamento da crise do capitalismo que tendo o seu epicentro nos EUA e assumindo particular relevo na Europa, afecta todos os países à escala mundial.
A natureza e o agravamento das contradições do capitalismo lançaram o mundo numa crise profunda que, ao mesmo tempo que confirma a sua incapacidade para se libertar das crises que ciclicamente o abalam, é reveladora de uma crise bem maior, de natureza estrutural e sistémica, que revela que a sobreprodução e a sobre-acumulação de riqueza, não são solução para os problemas da humanidade, antes destroem as forças produtivas, agravam a exploração dos trabalhadores e dos povos e atacam a soberania de cada país, impondo medidas que se traduzem num enorme retrocesso civilizacional. Um retrocesso que, em si mesmo, é gerador de mais e maiores crises.
A centralização e concentração do capital e da riqueza: a financeirização da economia; o ataque sistemático a funções sociais do Estado conquistadas pela luta dos trabalhadores e dos povos; a. mercantilização de todas as esferas da vida social, numa lógica de privatizar tudo quanto possa gerar maiores rendimentos ao capital; os ataques ao direito internacional e à soberania dos Estados; a centralização do poder político e da sua submissão ao poder económico e às estratégias de militarização das relações internacionais, são componentes das políticas capitalistas que dominam a maioria dos países por todo o mundo.
A exploração dos trabalhadores e das trabalhadoras agrava-se e intensifica-se por todo o mundo, sendo claramente marcada pela negação de direitos e pelo uso abusivo da sua força de trabalho a troco de salários cada vez mais baixos
São eixos centrais desta ofensiva: A redução dos salários reais;
A intensificação dos ritmos de trabalho;
A desregulamentação e o aumento do horário de trabalho; A desregulamentação das relações laborais;
A generalização do trabalho precário, particularmente entre as mulheres e os jovens trabalhadores;
A sobreexploração dos trabalhadores migrantes;
A apropriação dos ganhos de produtividade do trabalho pelo capital; O aumento da idade de reforma;
A diminuição dos valores de reformas e pensões; O aumento das taxas de desemprego;
a regressão de direitos sociais e laborais;
A negação do direito de negociação colectiva e de greve
Uma ofensiva que se expressa também no ataque ao sindicalismo de classe e à contratação colectiva, que procura dividir para reinar, que aumenta a clivagem entre trabalhadores públicos e privados, que acentua as discriminação e a divisão das profissões e que fomenta as relações individuais de trabalho, quer para quebrar a solidariedade entre a classe trabalhadora, quer para enfraquecer os sindicatos.
Uma ofensiva que só pode ser travada pela prática de um sindicalismo de classe e de massas, de unidade na acção em torno daquilo que é comum: a defesa dos direitos, interesses e aspirações dos trabalhadores, pela sua emancipação e por uma sociedade
livre da exploração do homem pelo homem.
Os processos de mudança que estão a ser desenvolvidos por alguns povos e governos na América Latina, trazem-nos a esperança e o exemplo de que há alternativas ao modelo capitalista. Apesar das diferenças evidenciadas em cada país, inerentes à sua própria realidade e das contradições e obstáculos existentes, há elementos comuns que nos permitem falar de um caminho diferente, de esquerda ou progressista, tendo Cuba como referência com os seus 50 anos de processo revolucionário e resistência à ofensiva imperialista dos EUA nesse continente.
2 - DESTRUIÇÃO DE UM SECTOR ESSENCIAL
AO DESENVOLVIMENTO DAS SOCIEDADES
Em média, as empresas dos sectores de acção da UIS-Transportes empregam 5 a 8% da mão-de-obra de um país e são responsáveis por 4 a 8% do PIB.
Facilitando a comunicação e o transporte de pessoas e bens, o sector contribui para ainda para a redução da pobreza. Isso mesmo é assumido pelo Banco Mundial (2006), que realça o facto de, por exemplo, no Nepal, cerca de 42% da população viver abaixo do limiar da pobreza e de se encontrar em zonas onde os transportes são inexistentes ou, quando existem, terem infra-estruturas desadequadas. Este número cresce para 70% se pensarmos na índia, onde cerca de 900 milhões de pessoas vivem em completo isolamento e por isso privadas de bens essenciais, como a saúde, a educação ou mesmo a alimentação, pois não têm acesso a mercados.
Apesar de concordarmos com este alerta, não podemos ignorar o cerrado ataque que o Banco Mundial tem movido ao sector dos transportes, em todos os seus modos, forçando as companhias de transporte público a desmembramentos e privatizações e empurrando milhões de trabalhadores e trabalhadoras para o desemprego, como acontece, por exemplo, na África Sub-Sahariana, na América Latina ou até na Europa.
Um pouco por todo o mundo, em particular na União Europeia, a lógica neo-liberal desfralda a bandeira da privatização das empresas de transportes e comunicações como mais uma das suas inevitabilidades: auto-estradas, caminhos-de-ferro, portos e aeroportos, correios e telecomunicações estão cada vez mais concentrados nas mãos de grandes grupos económicos e financeiros, que têm como objectivo único o aumento desmedido do lucro. E fazem-no, sacrificando interesses nacionais, à custa da exploração dos trabalhadores e das trabalhadoras e do sacrifício das populações.
Vejam-se as consequências negativas
Favorecem-se as grandes empresas, que absorvem ou compram outras, em muitos casos empresas tradicionais ou parte delas, criando grandes grupos transnacionais com forte capacidade de pressão para fazer prevalecer os seus interesses;
Perdem-se milhares de postos de trabalho e acentua-se a degradação das condições de trabalho que, exclusivamente baseada num critério de redução de custos, aumenta o trabalho precário e nega ou põe em causa o direito a um trabalho digno;
Intensifica-se a exploração dos trabalhadores através da contínua desregulamentação da organização dos tempos de trabalho, que impõe o
aumento de horários e ritmos de trabalho ao mesmo tempo que acentua a redução dos tempos de descanso, o agravamento da conciliação entre a vida profissional dos trabalhadores e as esferas da sua vida privada, perante uma redução real de salários;
Procura-se o recrutamento de trabalhadores de países com economias mais débeis, mais permeáveis ao primado dos baixos salários e do trabalho sem direitos, que facilitem a imposição generalizada de um modelo laboral de semi-escravização dos trabalhadores e a maximização do lucro;
Aumenta o número de acidentes de trabalho e de doenças relacionadas com o trabalho, seja pela falta de segurança nas infra-estruturas, por sinalização inadequada e por uma débil manutenção, seja por via das longas jornadas de trabalho ou pela falta de formação a que os trabalhadores estão sujeitos;
Fomenta-se a discriminação e a deterioração das relações sociais, procurando quebrar a união e os laços de solidariedade entre os trabalhadores e enfraquecer a resistência e luta de quem trabalha;
A desregulamentação do sector tem conduzido a um aumento das tarifas e a uma degradação dos serviços oferecidos aos cidadãos, que se reflecte na qualidade, na fiabilidade e na segurança;
3 - COM A LUTA CRIAR ALTERNATIVAS
O movimento sindical tem a obrigação de dar uma resposta firme na defesa dos interesses de classe dos trabalhadores, no quadro de um combate forte e determinado ao capitalismo, que é responsável pela crise e pelos graves problemas com que os trabalhadores se confrontam.
O reforço do movimento sindical com orientação de classe tem que constituir um importante instrumento ao serviço da luta dos trabalhadores, pela satisfação das suas reivindicações e pela sua emancipação.
A defesa dos interesses dos trabalhadores faz-se com o reforço da organização e com a luta, que, no actual confronto com o capital, tem que ser mais forte, mais abrangente e com o movimento sindical de classe a ser o principal dinamizador da unidade na acção dos trabalhadores.
A UIS–Transportes, portadora do projecto sindical de classe e de massas, de acção e luta da Federação Sindical Mundial, deve protagonizar a mobilização dos trabalhadores do sector, num quadro de alargamento da unidade na acção em todos os continentes, a partir da dinâmica de luta em cada país, mas procurando conjugar a acção e as reivindicações, a nível regional, continental e mundial.
Um vector central da intervenção da UIS-Transportes é a luta por um sector público, seguro e com qualidade, que se complemente nas suas diversas componentes.
Que lute contra as privatizações e avance com a reivindicação de políticas públicas, que se direccionem a recuperação de papel do Estado e recupere sectores que são estratégicos para a economia da defesa de país, tais como: Portos, Aeroportos Pesca, Telecomunicações, Transporte Público Urbano, etc.
Enquanto sector estratégico para o desenvolvimento humano, as empresas de transportes e comunicações assumem uma importância vital para o desenvolvimento dos
países e dos povos, porque:
Promovem o desenvolvimento económico;
São um bem público essencial para a sociedade, com um efeito importante de aproximação dos territórios e fundamental para favorecer a mobilidade e a comunicação dos cidadãos;
Geram postos de trabalho;
Garantem o desenvolvimento sustentável das nossas sociedades; E contribuem para a redução da pobreza.
4 - PROPOR, REIVINDICAR, LUTAR
Neste quadro de forte ataque à componente pública do sector, aos salários, direitos e condições de trabalho é necessária uma forte mobilização sindical, em torno das seguintes reivindicações:
Desenvolvimento sustentável do sector dos transportes, comunicações e pescas, numa lógica de serviço aos países e aos cidadãos, com uma forte componente pública;
Reconhecimento e valorização dos trabalhadores, através da melhoria dos salários e das suas condições de trabalho;
Distribuição eficiente e justa dos fundos públicos.
Dinamização da contratação colectiva como forma de progresso social, de modo a negociarem-se justas remunerações do trabalho, horários de trabalho com regras que respeitem o trabalhador enquanto cidadão com direitos, que combate a precariedade no trabalho que atinge essencialmente os trabalhadores mais jovens;
Igualdade de géneros, na base do princípio de salário igual para trabalho igual ou de igual valor;
Um modelo onde haja a formação e valorização dos seus trabalhadores e trabalhadoras, com normas de segurança e saúde nos locais de trabalho, de modo a garantir um serviço de qualidade e seguro;
5 - REFORÇAR A UIS E A INTERVENÇÃO
DO MOVIMENTO SINDICAL DE CLASSE
A UIS-Transporte é a estrutura sectorial da Federação Sindical Mundial e exerce a sua acção no sector do transporte terrestre, ferroviário, metro, portos, transporte marítimo, aéreo e comunicações em todos os continentes, em articulação com as acção geral da FSM a nível Continental e Mundial..
Desde o último Congresso, apesar da actividade descontinuada da UIS-Transporte, podemos comprovar as fortes possibilidade de envolver na sua acção outras organizações, mesmo filiadas em organizações reformistas, mas que deram suporte a acções conjuntas na Europa.
Alargar a unidade na acção tem que constituir uma preocupação central da UIS-Transportes nos próximos tempos, sem deixar de ter em conta as especificidades de cada continente.
O aumento da influência do movimento sindical de classe neste sector, depende na sua capacidade fazer propostas reivindicativas e de acção que unam os trabalhadores e suas organizações.
A unidade constrói-se no debate e na proposta de temas com que os trabalhadores se identifiquem e a UIS-Transportes deve, procurar atrair para a sua acção todas as organizações que se identifiquem com as suas propostas.
Para desenvolver a sua actividade, a UIS-Transportes tem que se estruturar a nível central, mas acima de tudo em cada continente e região.
A UIS-Transportes tem que se assumir, cada vez mais, como um importante instrumento ao serviço da acção e luta dos trabalhadores pela sua emancipação e pelo fim da exploração.
A UIS-Transportes tem que se assumir essencialmente como uma estrutura de acção e luta, procurando combater a tendência de resumir a sua actividade a reuniões e encontros, que, sendo importantes, não podem ser redutores da sua acção, mas sim como uma etapa para potenciar a mobilização dos trabalhadores.
Só conseguirá cumprir este seu papel em todo o Mundo, na medida em conseguir alargar a sua acção organizada. assim define-se como linhas de intervenção:
Estruturar a UIS em cada Continente/Região, a partir do Conselho geral e Secretariado, criando-se Secretariados Regionais e/ou Federações, os quais se devem alargar às estruturas que se identifiquem com as propostas do Movimento Sindical de Classe;
Procurar apoios para o funcionamento regular dos órgãos da UIS-Transportes; Aumentar a filiação na UIS, a partir das realidades de cada Continente.
6 - MEDIDAS DE ACÇÃO IMEDIATA
No concreto e no que respeita às principais linhas de trabalho, intervenção e luta num futuro próximo, a UIS-Transportes compromete-se a desenvolver esforços com vista a: Prosseguir durante o próximo mandato, a discussão em cada continente, de
modo a adaptar às realidades e especificidades de cada um deles as reivindicações e acção;
Para se conseguir este objectivo, tem que ser dada prioridade à constituição de organismos da UIS em cada continente/região, seguindo a estruturação regional da FSM, com a qual deve articular toda a sua acção, pelo que, no próximo ano,
se deve fazer um esforço para levar a cabo conferências regionais, para alcançar este objectivo;
Promover encontros regionais da UIS-Transportes, mobilizando o apoio das organizações da FSM nessas regiões e definindo as reivindicações das organizações sindicais de classe e a sua intervenção e acção, na defesa dos interesses de classe dos trabalhadores;
Assegurar uma articulação com as acções da FSM, nomeadamente os dias de Acção de luta Mundial, no qual deve ser feita uma mobilização a partir dos problemas e aspirações concretas dos trabalhadores do sector, de acordo com a especificidade em cada continente/região;
Mobilizar, num quadro de alargamento da unidade na acção, os trabalhadores do sector a nível mundial, para acções convergentes, num dia a definir em cada ano, e que tenham por base as reivindicações aprovadas em Congresso, de que
se destaca;
Valorização dos salários;
Combate à precariedade no trabalho e combate à desregulamentação dos tempos de trabalho;
Segurança e saúde nos locais de trabalho;
Defesa da componente pública das empresas de transportes e comunicações.