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GUTEMBERG GOMES DE OLIVEIRA UNESP/IPPRI DESAFIOS PARA CONSTRUÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAMPO E CIDADE INTRODUÇÃO

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Academic year: 2021

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GUTEMBERG GOMES DE OLIVEIRA UNESP/IPPRI GUTEMBERG_GEOGRAFO@HOTMAIL.COM

DESAFIOS PARA CONSTRUÇÃO DE UMA EDUCAÇÃO PARA ALÉM DO CAMPO E CIDADE

INTRODUÇÃO

A formação geo histórica da Pedagogia da Alternância como experiênciapedagógica sistematizada no mundo se inicia na década de 30 na França, por um grupo de camponeses e educadores com a ajuda da igreja, que resistiam tanto ao modelo de desenvolvimento do capital no campo quanto ao modelo de educação urbano imposto para os jovens do campo. A Pedagogia da Alternância se desenvolveu no Brasil na década de 60 por padres jesuítas, e desenvolvida pioneiramente no Espírito Santo que se espacializou por várias partes do estado. Criada em maio de 1985, a Escola Família Agrícola de Pinheiros tem seu histórico enraizado nas comunidades camponesas do município e região, foram às famílias das comunidades, que em forma de mutirão, deram início a construção da EFAP. Esta marca de participação encontra-se nos prédios que foram erguidos pelas famílias, nas atas de reuniões da associação de pais, onde se tomaram as decisões políticas e na unidade produtiva, em que parte da produção é fruto do esforço das comunidades.

Desenvolvida a partir das insatisfações dos camponeses com o modelo convencional e basicamente urbano imposto nas escolas do campo, a EFAP vem construindo uma proposta de Educação do Campo que fortaleça a autonomia da família e da comunidade, uma formação de sujeitos críticos capazes de analisar, refletir e agir

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na sua realidade, uma educação que não separa o mundo do trabalho, da família e da comunidade do mundo da escola, estabelecendo uma unidade dialética através do método da Pedagogia da Alternância.

Faremos uma análise do processo em que a Escola Família Agrícola de Pinheiros/ES se encontra diante das transformações e dos desafios em acompanhar a dinâmica da sociedade, dada pelo processo de desenvolvimento do capitalismo no campo, representado pela expansão do agronegócio da cana de açúcar e do eucalipto, tendo como consequência a desterritorialização do campesinato, o desaparecimento de várias comunidades camponesas, aumento do êxodo rural. Desenvolvendo assim o desafio em fazer a formação destes sujeitos que nascem desta contradição e que agora se adéquam a realidade da urbanização, mantendo relações com o campo em alguns casos apenas como assalariados, proletários que vendem sua força de trabalho para o agronegócio ou no comércio urbano. Atualmente a EFAP é formada de estudantes camponeses que ainda mantêm relações diretas com a terra, com o trabalho familiar, produção para subsistência e o pequeno comércio, que encontra condições favoráveis para pôr em pratica as técnicas e conteúdos abordados na escola. Ao lado a estes, temos estudantes que vivem na cidade e famílias que vendem em grande parte do dia a sua força de trabalho para o agronegócio, indústria ou comércio como assalariados e autônomos, limitando a convivência familiar no dia-a-dia e o acompanhamento do estudante na escola.

A EFAP preza valores filosóficos do campo, sua práxis está voltada para a emancipação do indivíduo, a territorialização do campesinato, a participação da famíliaetc. Em nossos métodos usados para materializar este projeto atualmente, encontramos uma dificuldade, pois a teoria e a prática trabalhada no espaço da escola, muitas vezes não é a mesma prática do estudante na sua realidade. Temos famílias que moram no campo, mas trabalham na cidade e famílias que moram na cidade e trabalham de assalariados no campo. Então como trabalhar uma filosofia camponesa, uma

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Educação do Campo, com sujeitos urbanos? Às vezes do campo, porém urbanizados, outros da cidade, porém com princípios do campesinato?

Neste paradigma da relação campo e cidade, rural e urbano, nos desafiamos a repensar e reconstruir conceitos e práticas que nos possibilite compreender os processos contemporâneos de desenvolvimento do capitalismo e desenvolver alternativas atuais para os problemas enfrentados na educação de sujeitos que são consequência deste processo contraditório. Trataremos no desenvolvimento deste trabalho de pesquisa, a análise destes processos socioterriteriais que compõem a dinâmica da área de abrangência da EFAP, bem como dos desafios políticos pedagógicos que se configuram na sua dinâmica cotidiana.A Pedagogia da Alternância na EFAP tem cumprido o seu papel junto a natureza dos seus estudantes?Quais os limites da Pedagogia da Alternância na EFAP tendo em vista que os seus estudantes em sua maioria são da cidade e se identificam com a cidade?

O capitalismo no campo, denominado por alguns autores como agronegócio, se territorializa de forma crescente no campo, nas palavras de Oliveira, o caso da agroindústria açucareira é um dos exemplos mais avançados do desenvolvimento de relações sociais capitalistas no campo. (2001. p. 11)

Deste movimento contraditório e desigual dentro do sistema capitalista e do seu desenvolvimento surge o campesinato proletarizado que é resultado desta própria contradição, no caso da luta pela terra, os movimentos sociais do campo ao conquistar a terra, em alguns casos constroem o território com relações de solidariedade e baseado na coletivização da terra e agricultura para subsistência efetivando assim relações não capitalistas de produção, ou seja segundo Oliveira:

As relações não capitalistas de produção no campo hoje como criadas pelo próprio processo contraditório de desenvolvimento do modo de produção capitalista, ou seja, seria o próprio modo capitalista de

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produção dominante que geraria relações capitalistas e não capitalistas de produção combinadas ou não, em função do processo contraditório intrínseco a esse movimento (desenvolvimento). (2007. p. 46)

O agronegócio desenvolvido principalmente pelo capital externo, grupos empresariais ou corporações, tem um enorme apoio e incentivo do estado, desarticulando o mercado da agricultura familiar, concentrando a riqueza e a propriedade da terra, urbanizando a cultura e o perfil do homem do campo.

O campesinato fora do seu território material, da posse da terra e dos meios de produção, que segundo as leituras clássicas estas são as condições essenciais para sua existência, estão sujeitos a vivenciar sua campesinidade, muitas vezes através de um contato estreito com a terra, precarizado, se sujeitando a níveis de exploração de sua mão de obra, nas formas de assalariados do campo, cortadores de cana, trabalhadores da colheita, dos tratos culturais do café, moradores da cidade que cultivam em áreas reduzidas nas periferias das cidades, preservando uma forma de vida expressa nos comportamentos, nas relações sociais, nas práticas cotidianas e na relação com a terra. Produzem nos quintais as suas hortas, criam galinhas, árvores frutíferas, erva medicinais, a relação de comunidade com os vizinhos, a educação e humildade na forma de se relacionar1.

Para melhor compreensão concebemos o território como espaço de construção da vida do homem e da mulher, da natureza em sua multidimensionalidade. Esta condição só é compreendida pela relação social, política, econômica, cultural e espiritual, isso acontece em um espaço, material e imaterial, entendendo que um, é a subjetivação e objetivação do outro, dialeticamente se criam e recriam.

1 Estas afirmações são fruto de minha observação de campo na periferia da cidade de Pinheiros - ES, bem

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No Estado do Espírito Santo, nas regiões de atuação das Escolas Famílias Agrícolas, na maioria das vezes, estes camponeses desterritorializados, estimulados pela existência da campesinidade presente em si, colocam seus filhos e filhas nas EFAs, numa perspectiva de uma educação que reproduza práticas e valores trazidos da terra, para que não se distancie do território de origem. Numa perspectiva de volta ao campo, porém de uma forma, talvez, não tão sofrida e marcada pela violência da desterritorialização provocada pelo avanço das monoculturas na região.

OBJETIVO

Analisar a realidade em que a EFAP está inserida e contribuir para reflexão da importância de sua existência na atual fase em que se encontra a Educação do Campo e a luta de classes na região e globalmente, assumindo a necessidade da inserção da realidade da cidade em seu contexto, para construção de uma tática multisetorial de atuação dos movimentos sociais e de educação popular, compreendendo as transformações que causam a desterritorialização do campesinato e os desafios que limitam a realização do método da Pedagogia da Alternância na escola, e da união dos diversos sujeitos inseridos em vários setores da sociedade.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Compreender o processo de territorialização da monocultura da cana de açúcar na região norte do Espírito Santo;

 Analisar a desterritorialização das famílias camponesas das comunidades onde a EFAP atua, para a cidade;

 Levantar as principais dificuldades para a realização das metodologias de educação da EFAP com estudantes da cidade;

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 Mapear geograficamente as usinas de álcool da região Norte do Espírito Santo.  Fazer o mapeamento das migrações das famílias dos estudantes da EFAP que

moravam em comunidades rurais e atualmente estão na cidade.

 Refletir sobre os limites e desafios para a educação do campo, e as experiências de educação popular desenvolvidas em movimentos urbanos.

 A pontar as fragilidades da Pedagogia da Alternância para os alunos da EFAP.  Propor possibilidades de uma educação para além do campo e cidade, na ótica de

uma construção de uma unidade da multisetorialidade da sociedade e dos sujeitos oprimidos pelo capital.

METODOLOGIA

Para compreender o processo de territorialização da monocultura da cana de açúcar na região norte do Espírito Santo, faremos um levantamento dos estudos já realizados por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo –UFES, estudos e análises também feitas po organizações e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, pelo Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA, fotografias das paisagens e dados coletados em jornais regionais sobre as empresas sucroalcooleiras. Através de dados coletados no EMCAPER – Empresa Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural, diálogos com moradores mais das comunidades e na Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente vamos poder fazer um levantamento e análise da desterritorialização das famílias camponesas das comunidades onde a EFAP atua. Junto aos Monitores (professores), estudantes e familiares vamos fazer o levantamento das principais dificuldades para realização e aplicabilidade das metodologias da pedagogia da Alternância tanto para os jovens do campo quanto para os jovens da cidade. Como a monocultura da cana de açúcar é predominante nas áreas de pesquisa deste trabalho e

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onde as maiorias das famílias assalariadas dos estudantes da cidade vendem sua força de trabalho, faremos um mapeamento das usinas sucroalcooleiras no norte do ES, através de dados levantados por pesquisadores na UFES. Faremos através de um diálogo com as famílias dos estudantes um mapeamento da migração destas famílias do campo para a cidade. No conjunto dos professores alunos e pais, vamos propor fazer uma reflexão sobre a problemática levantada com este trabalho e analisar possíveis alternativas e reflexões sobre os desafios encontrados pela educação.

RESULTADOS PRELIMINARES

Podemos observar com o desenvolvimento da pesquisa que com a necessidade de compreender a relação campo e cidade, no interior das relações da Escola Família Agrícola de Pinheiros, causou uma desconforto tanto entre os educadores quanto dos educandos, preocupação que resultou na proposta pelos próprios estudantes de realizar atividades com temáticas da realidade da cidade, especificamente nos locais onde os educandos vivem.

INDICAÇÃO DO ESTÁGIO DA PESQUISA

A problemática abordada na pesquisa pode ser acompanhada e vivenciada na Escola Família Agrícola de Pinheiros, especificamente onde fiz está pesquisa, no norte do estado do Espirito Santo. Porem está problemática pode ser encontrada em outras realidades como é o caso das Escolas Famílias Agrícolas de Vinhático (Montanha), Boa Esperança, Alfredo Chaves (São Mateus) e Rio Bananal, todos localizados na região norte do estado.

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BIBLIOGRAFIA

ARROYO, M. G.; CALDART, R. S.; MOLINA, M. C. (2004) Por uma educação do campo.

Petrópolis: Vozes.

CARTILHA DO 1º SEMINÁRIO INTERNACIONAL DA PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA.

UNEFABE: união nacional das escolas famílias agrícola do brasil. brasília-df: DUPLIGRÁFICA, 1999.

FERNANDES, Bernardo Mançano (1999). Contribuição ao Estudo do Campesinato Brasileiro Formação e Territorialização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST (1979 – 1999). Tese apresentada no Curso de Pós – Graduação do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo – SP.

FERNANDES, Bernardo Mançano (2005) Movimentos socioterritoriais e movimentos socioespaciais, contribuição teórica para uma leitura geográfica dos movimentos sociais.

GRAMSCI, Antonio (1968). Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira.

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LOMBARDI, José Claudinei. SAVIANI, Dermeval (2005). Marxismo e Educação debates contemporâneos. Campinas-SP. Autores associados: HISTEDBR.

MÉSZÁROS, István (2005). A educação para além do capital. São Paulo. Boitempo.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de (2001). A agricultura camponesa no Brasil. São Paulo.

Contexto.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de (2007). Barbárie e modernidade: o agronegócio e as transformações no campo. Cadernos do XII Encontro Nacional do MST. São Paulo: MST.

Referências

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