TROCAS SOLIDÁRIAS: UMA ALTERNATIVA ECONÔMICA, SOCIAL E ECOLÓGICA
Área Temática: Cultura
Darlene Torrada Pereira (Coordenadora da Ação de Extensão)
Talita Araújo Krepelka, Luana Bortolini Giesta, Patrick da Silva Araujo, Tiago Larrosa Freitas, Thamiris Escobar Peres, Deise Bittencourte Munhoz, Luiz Fernando Lourenço Almeida, Felipe Morais da Silva1
Talita Araújo Krepelka, Luana Bortolini Giesta2 Darlene Torrada Pereira3
Palavras-Chave: Economia Solidária, trocas, autonomia.
Resumo
A Revolução Industrial provocou o crescimento da riqueza, o aumento das desigualdades, a degradação ambiental e a perda de sentido comunitário. Diante disso, surgem alternativas como as trocas solidárias. A proposta é estimular a cooperação, viabilizando a troca de bens sem o uso da moeda oficial, criando novas práticas de produção, distribuição e consumo. É ecológica, por promover a reutilização de produtos. Na FURG existe o MTSLivros, desde 2006 e a partir de maio de 2011 o Brechó, onde troca-se diferentes produtos através do escambo.
Introdução
A visão de mundo e o sistema de valores que estão na base de nossa cultura foram formulados, em suas linhas essenciais, nos séculos XVI e XVII. Entre 1500 e 1700 houve uma mudança drástica na maneira como as pessoas descreviam o mundo e em todo o seu modo de pensar. A nova mentalidade e a nova percepção do cosmo
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Autores: Acadêmica do curso de Oceanologia – IO/FURG; Acadêmica do curso de História – ICHI/FURG; Acadêmico do curso de História – ICHI/FURG; Acadêmico do curso de História – ICHI/FURG; Acadêmica do curso de Matemática Aplicada– IMEF/FURG; Acadêmica do curso de Física – IMEF/FURG; Acadêmico do curso de Matemática Aplicada– IMEF/FURG; Acadêmico do curso de Matemática Aplicada– IMEF/FURG.
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Ministrantes da oficina.
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Coordenadora da Ação, Mestre em Desenvolvimento Social, Técnica Administrativa em Educação/FURG, darlenetp@vetorial.net.
propiciaram à nossa civilização ocidental aqueles aspectos que são característicos da era moderna.
A partir da Revolução Industrial, temos visto um crescimento exponencial da produção da riqueza material no mundo, através do tripé tecnociência, indústria e mercado. De outro lado, vemos também o aumento dos desequilíbrios sociais, da degradação ambiental e da perda expressiva de sentidos coletivos e comunitários. Diante desta crise social, acelerada pelo processo de globalização, surgem novas formas de organização e de produção, como a Economia Solidária, que é uma alternativa às milhares de pessoas que vivem à margem da sociedade. As Trocas Solidárias fazem parte deste movimento e possibilitam o envolvimento comunitário e as ações coletivas, ao mesmo tempo que buscam suprir as necessidades cotidianas de produtos, serviços e saberes dos “trocantes”.
A troca ou escambo representa uma maneira criativa de enfrentar a crise social, gera satisfação de necessidades imediatas e não incentiva o acúmulo de riquezas monetárias como o mercado tradicional. Também acaba sendo, indiretamente, uma prática ecológica, por promover a reutilização de produtos, prolongando assim a sua vida útil e, conseqüentemente, diminuindo o consumo de produtos novos, que tem um custo ambiental embutido em sua produção.
A proposta das Trocas Solidárias é estimular a cooperação entre as pessoas, colocando os “trocantes” como sujeitos desta outra economia, já que propõe novas práticas de produção, distribuição e consumo dos bens materiais. Sua finalidade é viabilizar espaços onde as pessoas possam intercambiar produtos, serviços e saberes, sem o uso da moeda corrente.
A ação do projeto tem como objetivo principal despertar as pessoas para esta outra economia, através da formação de multiplicadores da metodologia das Trocas Solidárias.
Com isso, buscamos melhorar as condições de vida da população, promovendo a reeducação econômica, a partir de princípios éticos de cooperação, distribuição da riqueza, apoio mútuo e autogestão. Pretendemos ainda desmistificar o poder do dinheiro e mostrar como é possível criar novos instrumentos de troca.
Metodologia
O Projeto „Trocas Solidárias‟ optou por adotar o método ação – reflexão – ação, que parte da realidade vivenciada pelas comunidades e envolve o processo reflexivo sobre a situação do modelo econômico vigente. A ação é realizada por meio de oficinas, intervenções planejadas e da experiência vivida, que ocorre na medida em que as pessoas passam a participar dos Mercados e Clubes de Trocas, resultando em um novo pensar e agir. As intervenções são sistematicamente avaliadas, readequadas e corrigidas para as próximas ações. É estimulada a autonomia das comunidades, pois estas são encorajadas a conduzir o próprio processo após conhecer esta metodologia. Assim, configura-se a autogestão.
Nas oficinas para formação de multiplicadores, utilizamos uma ferramenta de participação popular, onde todas as vozes têm a oportunidade de se expressar: as dinâmicas do “Delibera” e a Dinâmica Grupal Explícita – DGE. Seu objetivo é fazer com que opiniões destoantes aproximem-se, a partir do conhecimento das diferenças e assim chegue-se a um consenso, por meio do diálogo.
As oficinas seguem as etapas de acolhida/recepção, mística de integração, explicitação sobre as trocas, questionamentos, prática da moeda, rodada de discussão, avaliação e encaminhamentos sobre formas de multiplicar a idéia. Seu tempo é de aproximadamente duas horas.
Já o Mercado de Trocas de Livros segue outra metodologia de trabalho. Ele é gerido pelos estudantes, bolsistas e voluntários que disponibilizam ao público livros e revistas para a troca direta ou por meio da moeda social. O processo de formação dos trocantes se dá durante os momentos de troca quando são recebidos e orientados sobre como funciona o mercado e quais os princípios das trocas solidarias, oportunizando a liberdade de negociar e discutir sobre o valor a ser atribuído aos seus produtos.
A experiência vem sendo realizada a partir da atividade de extensão universitária do Projeto Trocas Solidárias, desenvolvida pela FURG na cidade do Rio Grande.
As atividades contam com o empenho e dedicação de pessoas envolvidas com a Economia Solidária e em Movimentos Sociais. Além destes, conta-se com o apoio de instituições parceiras nas atividades dos Clubes e Mercados de Trocas.
Na FURG temos o Mercado de Trocas de Livros desde 2006 e até 2010 funcionava as segundas-feiras, passou a funcionar também as terças, quintas e sextas no Centro de Convivência da Universidade, e a partir de maio passou a funcionar também o Brechó das Trocas, onde são trocados produtos pela prática do escambo. O Brechó das Trocas teve início do Encontro e Diálogos em Educação Ambiental, onde estivemos propondo (Mercado de Livros e Brechó) a prática do escambo. Algumas pessoas participaram nos três dias de evento, sendo trocados por volta de 50 produtos: livros, roupas, bijuterias, artesanato.
Figura 2: Espaço de Trocas no III EDEA – Encontro e Diálogos em Educação Ambiental, realizado na FURG em maio/2011.
Conclusões
A experiência realizada pelas Trocas Solidárias, a partir de 2002 tem representado uma importante contribuição para o fortalecimento das organizações envolvidas, seja no âmbito local ou no estadual. Além disso, tem permitido o intercambio internacional, oportunizando aos estudantes novas experiências e possibilidades de produção do conhecimento.
O trabalho realizado até o momento nos permite analisar os aspectos favoráveis e reconhecer o crescimento e evolução do Projeto no sentido da promoção e valorização da cidadania e inclusão social dos sujeitos envolvidos. Entendemos que o trabalho realizado é resultante do acúmulo de experiências vivenciadas ao longo dessa trajetória de trocas de saberes e, principalmente de energia positiva dos “trocantes” que se engajaram na proposta.
O projeto atende uma importante demanda social, possibilitando a promoção do desenvolvimento com sustentabilidade das comunidades que se encontram em processo de organização, ampliando e potencializando o seu protagonismo.
Desde o início do projeto foram trocados mais de 5000 livros, seja no Mercado semanal no Centro de Convivência ou em outros eventos. Desde 2006 as Trocas Solidárias são presença permanente na Feira do Livro da Universidade Federal do Rio Grande. O projeto tem participado de diversos eventos dentro e fora da Universidade, como Fórum Social Mundial, Feicoop e outros. Além disso, oportunizou a elaboração de duas monografias já concluídas e outras duas em fase de elaboração.
Referências
ANTUNES, Adriana Guimarães; FREITAS, Tiago Larrosa; KUNDE, Carlos Fernando; PEREIRA, Darlene Torrada; ROSA, Aline Anjos. Mercado de Trocas de Livros:
democratizando o acesso ao conhecimento. Artigo para o Seminário de Extensão
Universitária – SEURS. Rio Grande/RS, 2007.
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1982.
Cartilha da Red LatinoAmericana de SocioEconomia Solidaria – RedLASES: Moeda
Social e democracia: manual para compreender e fazer. Buenos Aires, 2006.
CUNHA, Teresa. SANTOS, Celina [org.]. Raízes da Participação: Reflexões
Caminhantes/Práticas que abrem caminhos. São Bras/Portugal, A. J. Paz, 2008.
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra, 1970.
SANTOS, Severiano José. Ecovilas e Comunidades Intencionais: Ética e
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Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade Brasília, 2006.