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ECLI:PT:TRE:2006: D9

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ECLI:PT:TRE:2006:1127.06.2.D9

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRE:2006:1127.06.2.D9

Relator Nº do Documento

Acácio Proença

Apenso Data do Acordão

31/10/2006

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Apelação Social apelação improcedente

Indicações eventuais Área Temática

Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores

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Sumário:

I. Permitindo a factualidade provada concluir pela existência de subordinação jurídica do prestador do trabalho àquele que o recebe, estão reunidos os requisitos para que se considere existir uma relação jurídica de trabalho subordinado.

II. Não pode confundir-se a transmissão da posição contratual entre transmitente e adquirente do estabelecimento, regulada pelo nº 1 do artº 37º da LCT, e a responsabilidade solidária do

adquirente a que alude o nº 2 do mesmo preceito. Estando apenas em causa créditos, não tendo sido demonstrado que o trabalhador os reclamou até ao momento da transmissão, nem tendo sido alegada a falta de afixação do aviso a que alude o nº 3 do artº 37º da LCT, não pode recorrer-se ao regime estabelecido no artº 37º da LCT para responsabilizar solidariamente o adquirente pelo respectivo pagamento.

Decisão Integral:

Acordam na Secção Social do Tribunal da Relação de Évora:

No Tribunal de Trabalho de …, A…, intentou a presente acção declarativa de condenação, com processo comum, contra B. … com sede C. … e D. …, pedindo: a) a declaração da existência de um contrato de trabalho entre o A. e a D…. b) a declaração da transmissão do estabelecimento entre a Ré C…e a Ré D…, entre esta e a Ré C…e entre esta e a Ré B…; c) o reconhecimento da ilicitude da recusa de atribuição de trabalho pela Ré B. … ao A.; d) a condenação solidária das RR.a pagar ao A. as verbas correspondentes às férias e aos subsídios de férias e de Natal, vencidos, no montante de €31.426,34; e) a condenação da Ré B… a reintegrar o Autor sem prejuízo da sua antiguidade e categoria profissional; f) a condenação da Ré B… a pagar ao A. as retribuições vencidas e exigíveis no montante de € 7.286,40, acrescidas de todas as que se vieram a vencer; g) a condenação da Ré B. … a pagar juros de mora à taxa de 4% desde a data da citação. Para o efeito alegou, em síntese, que a C. …é responsável pela recolha, transporte, tratamento e destino final dos resíduos sólidos urbanos, para o que criou um estabelecimento denominado Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos; a C…e a D. …, em 1997, celebraram um contrato de concessão, por via do qual esta ficou encarregue da construção e instalação de equipamento e tendo como contrapartida a exploração da referida Estação; para o exercício da actividade concessionada, a D. … contratou vários trabalhadores, entre os quais, aos 01.10.97, o A., contratação essa que, embora efectuada sob a aparência formal de um contrato de prestação de serviços, correspondia a um contrato de trabalho, já que o A. agia sob as ordens, direcção e fiscalização da Ré D..., cumprindo um horário de

trabalho, respondendo pelo trabalho junto dos seus superiores hierárquicos, auferindo uma

retribuição de 10,35 por hora a que corresponde a retribuição mensal de €1.821,60; em Junho de 2003 a C…resgatou a mencionada Estação, a qual voltou à sua exploração directa mas, através de novo contrato de concessão de exploração, essa exploração foi transmitida à B. … através de novo contrato de concessão de exploração, com transmissão também dos contratos de trabalho; porém, no que respeita ao Autor, a B… recusou-se a admiti-lo, tendo proibido sua entrada nas instalações da Estação e não lhe havendo pago qualquer retribuição, comportamento este que viola o direito ao trabalho efectivo; considera-se com direito a que lhe sejam pagas as retribuições vencidas e

vincendas até final e, porque durante a prestação de trabalho nunca recebeu férias, nem subsídios de férias e de Natal, considera-se que são as RR. solidariamente responsáveis pelo pagamento da quantia de €31.426,34 a esse título.

(3)

A C…, na sua defesa, sustenta que é parte ilegítima, pois que não celebrou com o A. qualquer contrato de prestação de serviços ou outro; por outro lado, nega que o Autor tenha mantido com a D… um contrato de trabalho. Pede a sua absolvição da instância ou do pedido consoante a

procedência, ou não, da excepção da ilegitimidade.

A B… pugna pela improcedência da acção e pela sua absolvição do pedido, na base de que na sequência do resgate da Estação pela C… aquela foi entregue livre de ónus ou encargos; o A. mantinha com a Ré D… um contrato de prestação de serviços para a «recolha selectiva de lixos», actividade esta que não fazia parte do contrato de concessão celebrado entre a C… e a D… e desempenhava também outras funções que não se enquadravam na actividade da Central, não tendo, por isso, qualquer obrigação de o admitir nos seus quadros, nem pode ser considerada solidariamente responsável pelo pagamento das quantias peticionadas.

A Ré D… pugna também pela improcedência da acção e sua consequente absolvição do pedido; no essencial alega que o A. nunca foi trabalhador da Ré, antes foi celebrado entre as partes um

contrato de prestação de serviços que inicialmente se reportava apenas à recolha selectiva de lixos e, depois, por acordo verbal, passou a incluir também serviços relacionados com outros sectores de actividade da Central e outros respeitantes à actividade desenvolvida pela Ré D… fora da Central; o A. não estava sujeito à autoridade e direcção da Ré, apenas recebia orientações genéricas por parte do Director da Central e desempenhava a sua actividade com total autonomia; nunca foi incluído no registo de pessoal, no mapa de horário de trabalho, no seguro de acidentes de trabalho; não cumpria horário de trabalho, não picava o ponto, não marcava faltas e era pago apenas pelas horas em que efectivamente prestava actividade, nunca tendo recebido qualquer quantia a título de férias e de subsídios de férias e de Natal.

Foi proferido despacho saneador, no qual foi julgada improcedente a excepção da ilegitimidade deduzida pela C…, foi seleccionada a matéria de facto assente e dispensada a elaboração da base instrutória, sendo que daquela selecção reclamou a B…, no que foi atendida.

Realizada a audiência de discussão e julgamento foi fixada a a matéria de facto que resultou

provada e, depois, foi proferida sentença julgando a acção totalmente improcedente contra a B… e a C… e parcialmente procedente contra a D…., na sequência do que foi esta condenada a pagar ao Autor a quantia global ilíquida de €22.613,25 a título de férias e subsídios de férias proporcional a 2003 e subsídios de férias de 1998 a 2003 e subsídios de Natal de 1997 a 2002.

Inconformada com o assim decidido apelou a Ré D…. para esta Relação rematando a respectiva alegação com as seguintes conclusões:

a). Dos factos provados resulta evidente que era apenas o resultado da actividade prestada pelo recorrido que delimitava o carácter da sua intervenção profissional, não havendo qualquer dever de obediência às ordens emanadas da Recorrente, integração na sua estrutura hierárquica ou sujeição ao respectivo poder disciplinar: o recorrido tinha plena autonomia técnica.

b). A exigência de respeito pelas orientações genéricas da empresa recorrente não é mais que uma “exigência genérica e apriorística”, semelhante ao que sucede, quer no mandato (al. a) do artº 1161º do CC), quer na empreitada (artº 1208º e nº 1 do artº 1216º, ambos do CC), posto que, desde que o Recorrido se não afastasse de tais critérios, o mesmo poderia sempre coordenar os serviços sem qualquer interferência da recorrente.

c). Enquanto que o trabalhador tem um horário de trabalho, usualmente fixado pela entidade empregadora, afectando a sua capacidade produtiva, durante esse período de tempo, à entidade empregadora, o prestador de serviço não está na disponibilidade do dono da obra. Ora, resulta da matéria de facto provada que, não só não existia disponibilidade da força de trabalho do recorrido,

(4)

como o recorrido não estava sujeito a qualquer horário de trabalho, maxime a um horário de trabalho que resultasse de qualquer imposição da recorrente.

d). Para além da matéria de facto assente nos autos não permitir concluir pela existência de uma pré-determinação do local de prestação das tarefas do recorrido, tal predeterminação, a existir, é insuficiente para qualificar o contrato como contrato de trabalho, tanto mais que não é específica do contrato de trabalho e que a especificidade própria da actividade desenvolvida pelo recorrido torna perfeitamente aceitável e justificável que essa actividade se desenvolva preferencialmente nas instalações da recorrente, sem que tal impeça, contudo, a qualificação do contrato como sendo um contrato de prestação de serviços.

e). Acresce que não se verificava o pagamento de uma quantia certa e regular pela actividade profissional desenvolvida pelo recorrido, o qual era pago pelas horas de trabalho efectivamente prestada, não se verificando igualmente o pagamento de qualquer quantia a título de subsídio de férias e de Natal, prestações essas que tipicamente caracterizam uma relação de trabalho

subordinado.

f). Não só não corresponde à verdade que a propriedade de todos os instrumentos de trabalho do recorrido pertencessem à recorrente, como importa ter sempre em atenção que, para a qualificação de um contrato como de prestação de serviços ou de trabalho, é necessário proceder à análise da relação jurídica como um todo e não ao mero somatório dos factos que poderão conduzir a uma ou outra qualificação.

g). Ora, da análise conjugada dos factos e do seu confronto com os diversos indícios de cada conceito-tipo, ou seja, com base num juízo de globalidade, impõe-se concluir terem as partes efectivamente celebrado um contrato de prestação de serviços.

h). Diga-se, por fim, que sempre que se suscitem dúvidas quanto à real vontade das partes na celebração de um contrato, se deve atender ao sentido normal da declaração negocial, atribuindo-lhe o significado que será razoável presumir em face do comportamento do declarante, e fazendo prevalecer as soluções que melhor salvaguardem o princípio da boa-fé: uma vez que as partes denominaram o contrato como “contrato de prestação de serviços; que a respectiva minuta foi da responsabilidade do próprio recorrido, seguindo, alias, a forma de contratação que o mesmo não ignorava ser também pretendida pela recorrente; que o recorrido sempre emitiu “recibos verdes” e cobrou IVA, nunca tendo, em contrapartida, reclamado o pagamento de quaisquer subsídios de férias e de Natal, sempre se terá de concluir, inevitavelmente, pela prestação de serviço, em detrimento do contrato de trabalho;

i). Subsidiariamente, dir-se-á ainda que, quer por força da lei, designadamente do previsto no artº 37º da LCT, quer por força do previsto do contrato de concessão dos autos (transmissão

automática, para o Município de …., após transferência para este da Central, de todas as obrigações decorrentes para a recorrente do mencionado contrato e existentes em tal data, incluindo as

relativas aos trabalhadores que, nos termos do contrato, se encontrassem afectos em exclusividade à Central) a posição jurídica que a recorrente detinha no contrato de trabalho celebrado com o recorrido – sem conceder – se transmitiu para o mencionado Município.

j). Donde conclui a recorrente pela necessária improcedência da totalidade dos pedidos contra si deduzidos pelo recorrido nos presentes autos.

l). A douta sentença revivenda interpretou, pois, incorrectamente, o disposto nos artºs 1152º e 1154º do CC e artº 37º da LCT.

Termina pedindo a revogação da sentença recorrida e a improcedência dos pedidos contra si formulados.

(5)

As Rés B… e C…responderam para pugnar pela confirmação da decisão recorrida. O Autor não respondeu.

Admitido o recurso, os autos subiram a esta Relação.

O digno magistrado do Ministério Público teve vista dos autos e emitiu douto parecer no sentido da improcedência do recurso que, notificado às partes, não mereceu qualquer resposta.

Mostram-se colhidos os vistos dos senhores juízes adjuntos. Cumpre decidir.

A sentença recorrida assentou na seguinte factualidade que considerou provada, que não vem impugnada e este tribunal considera não dever alterar por não se verificaremos pressupostos estabelecidos no artº 712º do CPC:

(Matéria de facto assente aquando da sua selecção):

1. A Ré C…é, por via legislativa, responsável pela recolha, transporte, tratamento e destino final dos resíduos sólidos urbanos na área do município. (Al. A)

2. Para cumprimento da referida obrigação, a Ré C…, por deliberação camarária de 24.10.1991, criou o estabelecimento denominado Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos. (Al. B)

3. As RR. C…e D…celebraram, por escritura pública, o «Contrato de Adjudicação de Empreitada de Concepção, Construção e Exploração de uma Central de Tratamento de Resíduos Sólidos», o qual consta do documento que constitui fls. 143 a 168 dos autos, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais, (Al. C)

4. Na sequência do qual a Ré D… procedeu à construção e instalação do equipamento e à exploração da referida Central. (Al. D)

5. Em Novembro de 1997, as RR. C… e D… celebraram um «Protocolo» para recolha selectiva de lixo, denominado «Protocolo» para «Recolha Diferenciada de Papel e Cartão e Embalagens de Vidro Na Área do Município de …» que consta do documento que constitui fls. 64 a 66 dos autos, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais. (Al. E)

6. Em Junho de 2003, a Ré C… deliberou resgatar a exploração da mencionada Central de Tratamento de Resíduos Sólidos, (Al. F)

7. Exploração essa que transmitiu à Ré B…. na sequência da integração do Município de … no sistema multimunicipal operada por via do nº 1 do DL 127/2002, de 10.5. (Al. G)

8. As RR. C….. e B… celebraram o «Protocolo», datado de 31.07.2003, que consta do documento que constitui fls. 110 a 112 e seu anexo de fls. 113 a 115 dos autos, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais, (Al. H)

9. Tendo os trabalhadores, pelo menos adstritos à Central de Tratamento de Resíduos Sólidos, da Ré D… rescindido o contrato com esta para, de imediato, serem admitidos ao serviço da Ré B….. (Al. I)

(6)

Prestação de Serviços» que consta do documento que constitui fls. 171 e 172 dos autos, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais. (Al. J)

11. A Ré D… enviou ao A. a carta, datada de 16.07.03, que consta do documento que constitui fls. 67 dos autos, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais. (Al. K)

12. O A. enviou à Ré D… a carta que consta do documento que constitui fls. 69 dos autos, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais. (Al. L)

13. A Ré B. … enviou ao A. a carta, datada de 27.08.2003, que consta do documento que constitui fls. 70 dos autos, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais. (Al. M)

14. A Ré D… enviou ao A. a carta, datada de 09.09.03, que consta do documento que constitui fls. 71 e 72 dos autos, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais. (Al. N)

15. A Ré B… enviou ao sindicato dos Trabalhadores …. a carta que consta do documento que constitui fls. 73 dos autos, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais. (Al. O)

(Matéria de facto considerada provada após a audiência de julgamento):

16. O A., no âmbito do contrato referido na Al. J), desempenhava todas as funções de coordenação da recolha selectiva de lixo, designadamente coordenação da recolha desse lixo, seu enfardamento e venda à sociedade P. .. por montante por esta pré fixado e recebimento, análise e resolução de reclamações apresentadas.(nº 1)

17. Essa recolha tinha por objecto o lixo depositado nos contentores de papel/papelão e vidro existentes nos locais – Ecopontos – a isso destinados, (nº 2)

18. Locais esses que eram definidos pelas Juntas de Freguesias. (nº 3)

19. Os contentores onde era depositado o lixo, sejam os destinados ao lixo indiferenciado, sejam os destinados ao lixo objecto da recolha selectiva, que eram comercializados pela Ré D. …, eram por esta vendidos à Ré Câmara Municipal de …..(nº 4)

20. A actividade de recolha do lixo referido em 1) era efectuada por dois veículos pertencentes à Ré C..., sendo os dois motoristas que os conduziam trabalhadores da Ré D. (nº 5)

21. O enfardamento do lixo objecto da actividade mencionada em 1.) era efectuado por trabalhadores da Ré D…. (nº 6)

22. Os trabalhadores mencionados em 5) e 6) não desempenham, exclusivamente, a sua actividade no âmbito da recolha selectiva do lixo, pois que desempenhavam também a sua actividade profissional no âmbito da recolha do lixo indiferenciado. (nº 7)

(7)

23. Até à denúncia a que se reporta o nº 31, a actividade da recolha selectiva de lixo era levada a cabo na Central de Tratamento de Resíduos Sólidos a que se reportam as alíneas C) e D) (de ora em diante apenas designada por Central). (nº 8)

24. Para além da actividade referida em 1) e fora do âmbito da recolha selectiva de lixo, o A.: -Acompanhava as visitas de estudo que eram efectuadas à Central por estabelecimentos de ensino, institutos e outras entidades, actividade esta que ocorria, em média, 2 dias por semana; -Participou em 1 ou 2 acções de «caracterização» de lixo indiferenciado, acções estas que era, ou deveriam ser, levadas a cabo entre 2 a 6 vezes por ano, e que consistiam na análise e separação do lixo.

-Coordenava a venda, pela Ré D…., do lixo indiferenciado à sociedade P…

-Apresentou um número não concretamente determinado, porém superior a duas e inferior a 10, propostas para a venda, pela Ré D…, de contentores de lixo por esta comercializados.

-Colaborou com o Director da Central, em, pelo menos uma, proposta para fornecimento de tratamento de lixo no Litoral Alentejano. (nº 9)

25. O A. participou ainda em feiras, uma no estrangeiro e outras em Portugal, em que a Ré D… estava representada. (nº 10)

26. O A. era uma pessoa da confiança do Director da Central, havendo sido, nos termos referidos em J), contratado por proposta deste. (nº 11)

27. O A. reunia, informal e diariamente, com o Director da Central, o qual acompanhava e estava a par da actividade que o A. desenvolvia, sendo que o A. não reportava ou prestava contas a

qualquer outra pessoa que não o mencionado Director. (nº 12)

28. Actividade essa que, dado o seu carácter rotineiro e a confiança depositada no A. conforme referido em 11), o A. levava a cabo com autonomia, sem prejuízo quer das orientações referentes à política geral da Ré D. …, quer do referido no número seguinte, que lhe eram transmitidas pelo Director da Central. (nº 13)

29. A tomada de decisões, por parte do A., que envolvessem despesas para a Ré D…,

designadamente a resolução de questões no âmbito da actividade referida em 1) decorrentes de reclamações apresentadas dependia da autorização da Ré D. …, emitida ou pela Administração desta ou pelo o Director da Central consoante ultrapassassem, ou não, o «plafond» para este fixado. (nº 14)

30. O A. iniciava a prestação da sua actividade às 9h00, trabalhando até às 18h00, sendo que por vezes o fazia para além das 18h00, horário esse – das 9h00 às 18h00 –que era o praticado pelo pessoal de escritório da Ré D…. (nº 15)

31. O A. não picava o ponto ao contrário do que sucedia com a generalidade dos trabalhadores da Ré D….. (nº 16)

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€10,35 por cada hora de trabalho, acrescido de IVA. (nº 17)

33. Sendo que o A. apresentava ao Director da Central o número de horas trabalhadas, número esse não inferior a 8 horas diárias, que o referido Director verificava e rubricava sendo depois tais horas pagas pela Ré D…, emitindo o A. os vulgarmente denominados «recibos verdes» . (nº 18) 34. Para efeitos de contabilidade interna da Ré D…., o número de horas prestadas pelo A. era imputado à actividade desenvolvida no âmbito da recolha selectiva de lixo e à restante actividade fora desse âmbito numa proporção de cerca de 60% a 80% e de 40% a 20%, respectivamente, percentagens essas que, aproximadamente, correspondiam ao trabalho prestado pelo A. no âmbito de cada uma dessas actividades. (nº 19)

35. O A., nas suas deslocações, utilizava viatura própria, sendo as despesas que o A. efectuasse, designadamente com combustível, suportadas pela Ré D…, a qual suportou, também, as despesas com a viagem e estadia do A. aquando da participação deste na feira no estrangeiro mencionada em 10). (nº 20)

36. O A. tinha um gabinete nas instalações da Ré D…, o qual era compartilhado com uma outra pessoa – Drª… - trabalhadora da Ré D…. (nº 21)

37. O A., para o exercício da sua actividade, utilizava um computador da Ré D…, sendo os restantes materiais utilizados, designadamente canetas e papel, por esta fornecidos. (nº 22)

38. As despesas e receitas decorrentes da actividade desenvolvida pelo A. eram da Ré D…. (nº 23) 39. O A. nunca recebeu subsídios de férias e de Natal e, pelo menos a maior parte das vezes, não gozou férias. (nº 24)

40.O resgate mencionado em F) foi efectuado nos termos do documento que constitui fls. 273 a 278, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais. (nº 25) 41. A Ré D… forneceu à Ré C…a listagem dos trabalhadores daquela afectos à Central. (nº 26) 42. A Ré C…forneceu à Ré B… a listagem dos trabalhadores afectos à Central, da qual não constava o A., havendo aquelas acordado que os trabalhadores constantes da mesma passariam a trabalhar para a Ré B…, em cujos quadros seriam incluídos, nos termos constantes do Protocolo que consta do documento que constitui fls. 110 a 115 dos autos. (nº 27)

43. Aquando do acima referido surgiram por parte da Ré B… e da Ré C… algumas dúvidas quanto aos dois motoristas afectos à recolha selectiva de lixo pelo facto de estarem afectos a tal

actividade, os quais vieram, porém, a ser admitidos na Ré B…. (nº 28)

44. A Ré B… recusou-se a aceitar o A. nos seus quadros alegando, designadamente, que o mesmo não constava da listagem dos trabalhadores afectos à Central fornecida pela Ré C… à ré B…. (nº 29)

(9)

45. A Ré B… proibiu a entrada do A. nas suas instalações. (nº 30)

46. A Ré C….denunciou o Protocolo referido na Al. E) com efeitos a partir de 01.06.2003, o que comunicou à Ré D… através da carta que consta do documento que constitui fls. 169 dos autos, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais. (nº 31)

47. Tendo a recolha selectiva do lixo, após essa denúncia, passado a ser levada a cabo pela Ré B…, nas instalações desta sitas em …. e não na Central a que se reportam as alíneas C) e D), (nº 32)

48. Actividade essa que, pelo menos até ao referido na al. G), era executada por trabalhadores da Ré B…. (nº 33)

49. A entrega, na sequência do referido na Al. G), das instalações da Central à Ré C…teve lugar no dia 31.07.03. (nº 34)

50. O A. iniciou a prestação da sua actividade, referida em 1), para a Ré D… aos 01.10.1997. (nº 35) 51. O A. forneceu à Ré D… a minuta do contrato, intitulada de «Contrato de Prestação de Serviços», que consta do documento que constitui fls. 173 dos autos, sendo que as correcções que constam dos dizeres manuscritos nela apostos foram escritos por pessoa dos serviços jurídicos da Ré D…, (nº 36)

52. Forma de contratação essa que foi a indicada ao A., pelo Director da Central, aquando da proposta de contratação. (nº 37)

53. O A. não constava do registo de pessoal da ré D…, bem como do respectivo mapa de horário de trabalho, nunca havendo sido comunicado ao departamento de pessoal eventuais faltas do A. ao serviço, bem como ausências para gozo de férias. (nº 38)

54. O A. e a Ré C…, aos 01.10.2003, celebraram o contrato denominado de «Contrato de Prestação de Serviços (Modalidade de Avença)» que consta do documento que constitui fls. 193 dos autos, cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais., no âmbito do qual o A., desde tal data, vem prestando para a mencionada Ré a sua actividade profissional. (nº 39) *

Perante as conclusões da alegação da recorrente, que delimitam o objecto do recurso (artºs 684º, nº 3 e 690º, nº 1 do CPC), este tribunal é chamado a pronunciar-se essencialmente sobre duas espécies de questões: -a primeira relativa à qualificação da relação jurídica que entre A. e Ré D… se estabeleceu e que, no entender da Ré-recorrente, seria uma relação de prestação de serviços, enquanto na sentença recorrida se entendeu que era uma relação subordinada ao regime jurídico do contrato individual de trabalho; a segunda, posta subsidiariamente, consiste em saber se a

posição que a Ré D… detinha no referido contrato se transmitiu para o Município de ….*Comecemos por analisar aquela primeira questão atinente à qualificação da relação jurídica que entre Autor e Ré D… se estabeleceu, isto é, se configura um contrato de prestação de serviço (como entende a recorrente) ou antes configura um contrato de trabalho (como se entendeu na sentença recorrida),

(10)

considerando que na solução do caso há que atender ao regime jurídico que vigorava antes da entrada em vigor do Código do Trabalho, face ao que resulta dos artºs 3º e 8º da Lei nº 99/2003 de 27/08, pois que os factos invocados na acção ocorreram todos antes da entrada em vigor daquela lei.

Como resulta do artº 1º do regime aprovado pelo D.L. nº 49.408 de 24/11/1969 (que reproduz a norma do artº 1.152º do Cód. Civil), contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua actividade intelectual ou manual a outra pessoa, sob

autoridade e direcção desta. Por seu turno a lei define por contrato de prestação de serviço “aquele em que uma das partes se obriga a proporcionar a outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual, com ou sem retribuição”, assumindo este várias modalidades, entre as quais o

mandato, o depósito e a empreitada (artºs 1.155º e 1.156º do Cód. Civil).

Atentas as afinidades que, em face dos referidos conceitos, existem entre ambas as figuras contratuais, a doutrina e jurisprudência têm-se debruçado sobre a análise dos elementos que os distinguem. Porém, em determinadas situações concretas nem sempre se torna fácil descortinar qual das referidas figuras se verifica, tanto mais que não é vinculante a designação que as partes envolvidas tenham dado às relações que estabeleceram, antes essa qualificação há-de fazer-se em face do conteúdo das cláusulas que regulam essas relações ou de indícios fornecidos pela forma como essas relações se desenvolveram no caso concreto.

É, no entanto, unanimemente aceite que entre contrato de trabalho e contrato de prestação de serviço ocorre uma diferença fundamental que é caracterizada pelo carácter subordinado com que o trabalho é prestado no primeiro e pelo carácter autónomo com que é prestado o segundo. No contrato de trabalho o trabalhador disponibiliza ao empregador não apenas o resultado do seu trabalho mas também e sobretudo a sua força de trabalho; nele a entidade patronal dispõe da própria actividade do trabalhador, que organiza e dirige com vista à obtenção de um resultado. Já no contrato de prestação de serviço, o trabalhador obriga-se apenas a atingir um resultado que terá de entregar à outra parte; porém, toda a actividade desenvolvida para atingir esse resultado fica fora do controle e direcção da pessoa servida, sendo essa actividade livremente organizada pelo próprio fornecedor do trabalho (o processo conducente à produção do resultado, a organização dos meios necessários e a ordenação da actividade que o condicionam ficam fora do contrato). Daí que insistentemente se diga que para poder reconhecer-se a existência de um contrato de trabalho é essencial que, no caso concreto, se verifique subordinação jurídica do trabalhador ao dador de trabalho, a qual consiste, como refere Monteiro Fernandes ( in Direito do Trabalho, 10ª Ed., pág. 121), numa relação de dependência necessária da conduta pessoal do trabalhador face às ordens, regras ou orientações ditadas pelo empregador, dentro dos limites do contrato de das normas que o regem.

Aquela subordinação jurídica não pode confundir-se com dependência económica (que também pode existir no contrato de prestação de serviço) e, por outro lado, ela não carece de ser efectiva (isto é, transparecer em cada momento da vida da relação), sendo suficiente que ela seja potencial, isto é, ela verificar-se-à logo que a entidade patronal tenha o direito de dar ordens, dirigir ou

fiscalizar a actividade do trabalhador, não se exigindo que de facto e permanentemente o faça. Admite-se até que possam ser objecto de contrato de trabalho – e, portanto, revistam aquela característica de subordinação jurídica – actividades em que o trabalhador goze de absoluta

autonomia técnica (vide artº 5º, nº 2 da LCT), casos em que a subordinação jurídica será integrada apenas pela sujeição do trabalhador à observância das directivas gerais do empregador em matéria de organização do trabalho (local, horário, normas de procedimento burocrático, regras

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disciplinares).

Pese embora esta relativa clareza de conceitos na distinção entre as referidas figuras contratuais, mesmo assim surgem frequentes dificuldades na qualificação de situações concretas. Por isso, a jurisprudência recorre com frequência a um método tipológico baseado na procura de indícios que mais não são que reveladores de características parcelares do trabalho subordinado. No elenco desses indícios assumem particular destaque os que respeitam ao momento organizativo da

subordinação, a saber: a vinculação a horário de trabalho, a execução da prestação de trabalho em local definido pelo empregador, a existência de controle externo do modo de prestação, a

obediência a ordens, a sujeição à disciplina da empresa (elementos estes característicos daquelas situações de integração numa organização técnico-laboral predisposta e gerida por outrem). Além desses indícios outros se apontam: a modalidade de retribuição (fixada, no contrato de trabalho, por via de regra, em função do tempo), a propriedade dos instrumentos de trabalho e, em geral, a

disponibilidade dos meios complementares da prestação (que no contrato de trabalho, em regra, pertence à entidade patronal), a existência de pessoal assalariado dependente do trabalhador (indiciador de autonomia), a exclusividade da prestação do trabalho (indiciador de subordinação) e a observância dos regimes fiscal e de segurança social próprios do trabalho por conta de outrem (indício este de carácter formal e externo)- vide, a este propósito Monteiro Fernandes, in Direito do Trabalho, 10ª Ed., pág. 133, António Jorge da Motta Veiga, in Lições de Direito do Trabalho, 6ª Ed., pág. 356. e ainda António Meneses Cordeiro, in Manual de Direito do Trabalho, 1991, pág. 535). Essa pluralidade de indícios ou critérios acessórios, que só por si poderão não ser conclusivos, devem ser utilizados como tópicos indiciadores de subordinação jurídica, isto é, de situações nas quais uma das partes tenha a possibilidade potestativa de determinar a prestação da outra. É claro que a prova da existência de um contrato de trabalho ou dos elementos de facto que permitem concluir pela sua existência, nomeadamente dos factos que indiciariamente possam conduzir à verificação de subordinação jurídica, compete a quem alega o contrato de trabalho como fonte do seu direito (artº 342º, nº 1 do Cód. Civil), que normalmente é o trabalhador, pois que o ordenamento jurídico a que devemos atender não estabelece qualquer presunção legal a favor deste no que a tal matéria respeita.

Postas estas considerações introdutórias, desçamos ao caso dos autos.

A matéria de facto que resultou provada em parte alguma registou expressamente que o Autor, no exercício das suas funções, trabalhava sob as ordens, direcção e fiscalização da Ré, que a ter ficado consignado revelaria directamente a existência daquela subordinação jurídica que conduziria à imediata qualificação como de contrato de trabalho das relações que entre as partes se

estabeleceram.

Porém, a factualidade provada fornece-nos um plêiade de indícios externos que, cremos, são suficientes para, com segurança, qualificarmos juridicamente aquelas relações, pela descoberta através deles da existência ou não de subordinação jurídica da Autora à Ré.

Dissemos que o momento organizativo da subordinação fornece elementos de especial valor para aquilatar-se da existência ou não de trabalho subordinado. Ora, a matéria de facto provado

esclarece que: - o A., não se obrigou perante a Ré D… à concretização ou obtenção de um certo e determinado resultado, antes tendo colocado à disposição desta a sua actividade, o que decorre não apenas da natureza e objecto da actividade a cujo exercício se comprometeu, como também do carácter duradouro ou indeterminado dessa actividade e do período de tempo durante a qual foi exercida (ao longo de mais de 5 anos); - o A. foi contratado para prestar a sua actividade no âmbito da recolha selectiva de lixo que havia sido adjudicada à Ré D... pela Ré C..., actividade essa que,

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pela sua natureza, pressupunha uma prestação continuada e duradoura não só da actividade em si, como também da que era prestada pelo A., característica esta do contrato de trabalho; - a prestação ajustada entre as partes tinha um carácter genérico, próprio de um contrato de trabalho, e não específico, como o seria no âmbito da prestação de serviços; - apesar da autonomia com que o A. desempenhava a sua actividade, ele reunia diariamente com o Director da Central, o qual acompanhava e estava a par da actividade que o A. desenvolvia e a cujas orientações, ainda que de política geral, estava sujeito; - o A. não tinha qualquer autonomia de decisão em questões com repercussão financeira, o que pouco compatível se mostra com um contrato de prestação de serviços, em que o prestador age por sua conta e risco ou, pelo menos, com alguma autonomia a esse nível; - o carácter rotineiro da actividade prestada, bem como a confiança depositada no A. pelo Director da Central tornavam desnecessária uma constante orientação e fiscalização da

actividade do A., o que não significa, no entanto, que o referido Director Geral o não pudesse fazer, tanto mais que diariamente acompanhava o trabalho desenvolvido pelo A.; - o A. foi sempre

remunerado em função do número de horas que trabalhava e segundo um montante fixo por cada hora de trabalho (aliás, não inferior a 8 horas por dia), o que significa que era remunerado em função da sua actividade e não em função do resultado dessa actividade; - as despesas efectuadas não eram suportadas pelo A., mas sim pela Ré D…; - os instrumentos de trabalho

utilizados pelo Autor não lhe pertenciam ( os meios, humanos e materiais, pertenciam ou à D… ou à C…) o que também orienta no sentido do contrato de trabalho e não do contrato de prestação de serviços; - o A. prestava o seu trabalho em instalações da Ré D…, onde partilhava um gabinete com uma trabalhadora desta; - o risco da execução da actividade não incidia sobre o A. que, aliás, nem tinha qualquer autonomia financeira, mas sim sobre a Ré D. …, ao contrário do que seria normal no âmbito da prestação de serviços; - embora não picasse o ponto, o A. cumpria diariamente, no mínimo, 8 horas de trabalho.

Cremos que, perante tais elementos, não pode deixar de concluir-se que fica diagnosticada a existência de subordinação jurídica na prefigurada relação por forma que esta tem de considerar-se integrada na figura de contrato de trabalho.

A prestação a que o Autor estava obrigado concretizava-se em instalações da entidade servida, com meios por esta disponibilizados e tinha de fazê-lo num determinado horário, ainda que não formalmente fixado pela entidade patronal. O Autor prestava contas ao Director da Central, com o qual reunia diariamente, o que contribui para que mais fundadamente se conclua pela subordinação jurídica do Autor, que não é afastada pela relativa autonomia de que gozava. O pagamento da respectiva retribuição fazia-se em função do tempo que dedicava à função que, veja-se, não era inferior a 8 horas diárias. As apontadas especificações revelam também que não estava em causa apenas o resultado do trabalho do Autor mas a sua própria actividade que a Ré retribuía em função da disponibilidade daquele. Trata-se, pois, de um tratamento em tudo idêntico ao que se verifica em relação aos trabalhadores subordinados.

É certo que o Autor não picava o ponto, nunca recebeu subsídios de férias e de Natal, a maior parte das vezes não gozava férias e, embora pago à hora, a sua remuneração era acrescida de IVA, emitindo o Autor recibos verdes. Porém, esses elementos não são decisivos para concluir-se pela inexistência de contrato de trabalho, já que provando-se a existência de subordinação jurídica a falta de pagamento daquelas prestações e aquela forma de proceder apenas revelará que a entidade patronal infringiu as disposições legais ou convencionais que estabeleciam o respectivo direito a favor do trabalhador ou pretendiam dar uma aparência diferente daquela que era a realidade contratual.

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A relação que entre as partes se estabeleceu configura, pois, analisada a factualidade provada na sua globalidade, uma relação jurídica de trabalho subordinado, nenhuma censura merecendo a decisão da 1ª instância que nesse sentido concluiu.

Improcede, pois, o fundamento do recurso baseado na diferente qualificação da relação jurídica que entre A. e Ré D… se estabeleceu.

*

Caberia, agora, analisar a outra questão, que era a de saber se a posição jurídica que a D… detinha no referido contrato de trabalho celebrado com o Autor se transmitiu ao Município de ….

Na decisão recorrida só a Ré D… foi condenada e apenas no pagamento da quantia correspondente aos subsídios de férias e de Natal vencidos na vigência do contrato e aos proporcionais de férias e subsídio de férias pelo tempo de trabalho prestado em 2003 (até 31/07/2003). Todos os demais pedidos formulados pelo Autor foram julgados improcedentes, tendo nesse domínio a sentença transitado em julgado pois que o Autor, que quanto a tais pedidos decaiu, não interpôs recurso, e só ele tinha legitimidade para o fazer.

Relativamente aos créditos que foram reconhecidos ao Autor e pelos quais a D…. foi considerada responsável, apenas poderia discutir-se, nesta fase, se a responsabilidade pelo respectivo

pagamento se comunica também às demais Rés; porém, atenta a forma como a questão vem abordada no recurso, a Ré-recorrente apenas pretende apenas pretende que a posição jurídica que detinha no contrato celebrado com o recorrido se transmitiu para o Município de ….

No entanto, são coisas totalmente diferentes a transmissão da posição contratual entre o transmitente e o adquirente do estabelecimento (regulada pelo nº 1 do artº 37º da LCT) e a responsabilidade solidária que o nº 2 do artº 37º da LCT estabelece: o adquirente do

estabelecimento é apenas solidariamente responsável pelas obrigações do transmitente vencidas nos seis meses anteriores à transmissão desde que reclamadas pelos interessados até ao

momento da transmissão.

Mesmo admitindo que tenha havido transmissão do estabelecimento da D…. para a C… – o que é discutível, mas a sentença recorrida se encarrega de demonstrar que não é assim – a verdade é que, relativamente aos créditos reconhecidos na sentença recorrida, não foi demonstrado que o Autor os tivesse de alguma forma reclamado, a não ser na presente acção, que deu entrada em juízo em 2/01/2004, muito depois da alegada transmissão. Aliás, nem sequer foi alegada a falta de afixação do aviso a que alude o nº 3 do artº 37º da LCT, para eventualmente poder funcionar-se com um prazo de reclamação diferente. Basta isso para poder afirmar-se que, no respeitante aos referidos créditos, não pode recorrer-se ao regime estabelecido no artº 37º da LCT para

corresponsabilizar a C... pelos créditos reconhecidos.

Porém, também no que respeita aos termos contratuais estabelecidos entre a D… e a C…, convém não olvidar aquela cláusula inserta no documento de resgate em que se prevenia que “os

montantes a pagar pelo Município à D… serão deduzidos de eventuais obrigações da concessionária, vencidas e não pagas à data da produção de efeitos do resgate”.

Dado que pelo mecanismo do artº 37º da LCT não é possível chegar à responsabilização da C... pelos créditos que na acção foram reconhecidos ao Autor, ainda que em regime de solidariedade com a D…, e de igual forma tem de reconhecer-se em face das negociações que entre a C…e a D… se estabeleceram, é de concluir que bem andou a decisão recorrida ao responsabilizar unicamente a D… pelo pagamento das prestações que ao Autor foram reconhecidas.*Improcedem, pois, todas as conclusões da alegação da recorrente.*Termos em que acordam os juízes na Secção Social desta Relação em julgar a apelação totalmente improcedente e confirmar a sentença recorrida.

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Custas pela apelante.* Évora, 31/10/2006 Acácio Proença Gonçalves Rocha Chambel Mourisco Página 14 / 14

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