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Dano moral na relação de emprego - parte II

Marco Antônio Garcia de Pinho *

Como citar este artigo: PINHO, Marco Antônio Garcia de. Dano moral na relação de emprego. Disponível em http://www.iuspedia.com.br 29 jan. 2008.

Alguns maus empregadores prestam informações desabonadoras de seus ex-empregados para empresas onde esses buscam novo emprego, deixando nitidamente claro não só o objetivo de prejudicá-los, impedindo futuras contratações, mas, sobretudo, de denegrir a imagem dos mesmos e ofender-lhes a honra, impedindo-os ainda de exercer seus próprios ofícios, direitos esses que têm proteção certa na Carta Maior.

Outros chegam ao absurdo de informar, de modo tendencioso, que o ex-empregado recebeu todas as verbas trabalhistas devidas e mesmo assim, reclamou na justiça direitos que não possui.

Com isso, tenta-se passar a imagem de um trabalhador litigante de má-fé, insinuando que a Justiça do Trabalho dá guarida a pretensões absurdas e, finalmente, restringindo o direito público e indisponível de ação que possui o cidadão.

Essas atitudes têm causado graves prejuízos aos trabalhadores e respectivas famílias, uma vez que aqueles se deparam com o mercado de trabalho fechado, contrariando, inclusive, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, quando assegura que "Todo homem tem

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direito ao trabalho, à livre escolha do emprego, às condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego [...]" (art. 23).

Menosprezam-se os direitos do homem, num verdadeiro desacato ao Direito Internacional. Problemas dessa ordem, ainda que ocorridos após a extinção do contrato, guardam vínculo com a relação de emprego, permitindo ao ex-empregado a busca da devida reparação do dano moral.

Bastariam tais considerações para se concluir pela pertinência desse dano no Direito do Trabalho. Arnaldo Süssekind[14] , ao tratar do assunto, afirma que:

[...] o quotidiano da execução do contrato de trabalho, com o relacionamento pessoal entre o empregado e o empregador, ou aqueles a quem este delegou o poder de comando, possibilita, sem dúvida, o desrespeito dos direitos da personalidade por parte dos contratantes. De ambas as partes - convém enfatizar - embora o mais comum seja a violação da intimidade, da vida privada, da honra ou da imagem do trabalhador.

São oportunas as considerações deste tratadista, porque verdadeiramente quem sofre o dano é o empregado, e a prática tem nos demonstrado isso, pois depende ele de seus salários para sobreviver e, muitas vezes, se submete a ordens absurdas que denigrem sua imagem, refletindo seriamente também nos demais colegas de trabalho. Pioneiro nesta discussão está o notável Pinho Pedreira[15] . Eis o que coloca:

[...] como é sabido, o trabalhador deve cumprir pessoalmente a principal prestação a seu cargo, e, em geral, não de forma ocasional, como ocorre nos outros contratos, mas permanentemente, incorporando-se a uma organização alheia com a obrigação de realizar suas tarefas em lugar e condições determinados, submetido a todo momento às faculdades de direção e disciplinares que a lei reconhece ao empregador. Isto quer dizer que, enquanto "nas contratações privadas" se acham normalmente em jogo valores econômicos e como exceção podem ser afetados bens pessoais dos contratantes, geralmente de forma indireta,

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no contrato de trabalho o trabalhador, pela situação de dependência pessoal em que se encontra, arrisca permanentemente seus bens pessoais mais valiosos (vida, integridade física, honra, dignidade, etc.).

Consta das mesmas conclusões que no ordenamento jurídico argentino a personalidade e dignidade do trabalhador foi objeto de uma especial proteção, garantindo-se assim seus interesses ideais e morais. Conforme os princípios morais, o empregador há de responder pelos danos morais que cause, se por seu dolo ou culpa lesam-se esses interesses ou bens não patrimoniais. Para que proceda a reparação, o dano deve ter entidade suficiente para afetar a personalidade do trabalhador em qualquer de suas manifestações.

Na esteira dos entendimentos doutrinários, o dano moral tem aplicação em toda a área do Direito.

A Constituição Federal não restringiu seus dispositivos (art. 5º, incisos V e X) a certos ramos, e sim estabeleceu um comando genérico que, por sua vez, tem plena aplicação junto à área trabalhista, comando este, reforçado pelos artigos 186, 187, 926 e 927 do CC/02. Como sabemos, na relação de emprego existem abusos, por parte do empregador, atingindo a honra, a dignidade daquele que lhe presta serviços e que colabora para com o crescimento da produção, e que absolutamente não pode ser tratado com indiferença ou insensatez, mas reconhecido em seu desempenho, pois a pessoa humana é a fonte e o fulcro de todos os valores.

Essa questão é fundamental, tendo razão a preocupação apontada, pois o Direito do Trabalho possui princípios protetivos, em especial o magno princípio de proteção ao trabalhador. Portanto, defendê-lo contra as investidas do gênero, constitui um dever do Direito do Trabalho.

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Nessa peculiaridade, o curioso é que o legislador do Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078, de 11.9.90), nas palavras de Francisco Meton Marques de Lima [16], "implantou o princípio oriundo da doutrina trabalhista", ao inserir o artigo 47, que diz que "as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor", obviamente porque também é função do Estado (artigo 170, CF), a "defesa do consumidor" (inciso V).

Ao mesmo tempo que o legislador do Código de Proteção e Defesa do Consumidor protegeu o destinatário, inseriu no artigo 6º, inciso VI, a reparação dos danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos, que porventura venham a ocorrer, o que, diga-se de passagem, funciona como elemento de desestímulo às investidas do gênero, advindas de fornecedores e maus comerciantes. Partindo desse raciocínio, o grande equívoco é pensar que o Direito do Trabalho, fonte de toda essa inspiração da modernidade, ora representada no Código do Consumidor, não contemple a hipótese de segurança à personalidade do trabalhador.

Temos claro que o conflito existe e sempre existirá, sobretudo no regime capitalista em que vivemos, mas o que não podemos avalizar é que na relação capital-trabalho ocorram investidas do gênero (dano moral), advindas de quaisquer das partes contratantes.

A prática nos demonstra que o empregado é o mais atingido. Por isso, precisamos superar a hegemonia do capital sobre o trabalho.

A ética deve sempre prevalecer na relação de emprego, posto que ao empregador não seja dado investir impetuosamente contra seu empregado, destinando-lhe ofensas imprudentes contra a sua honra.

Tem razão Jorge Pinheiro Castelo[17] , quando afirma que:

[...] a condenação no pedido de dano moral é fundamental para que se ponha um paradeiro em alegações pesadas, insinceras e levianas contra a honra das pessoas, especialmente de

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alguém que, por vezes, dedica até anos de sua vida a uma empresa. É preciso impor um basta à impunidade e penalizar a má-fé e a falta de seriedade e ética nas relações laborais. Deste modo, quando a empresa for acusar alguém de ímprobo precisa ter a certeza da acusação de conduta desonesta que está imputando ao seu empregado. Aliás, se na vida civil exige-se que as pessoas tenham esta certeza antes de acusarem qualquer pessoa, podendo inclusive incidir em crime, com muito maior razão é de se exigir que o empregador tenha cuidado quando, v.g., acusa de desonesto o empregado que lhe serviu, às vezes, por anos.

No fundo, o Direito do Trabalho tem familiaridade com o assunto, como o prova o próprio artigo 482, da CLT, letra k, que assegura ao empregador a resolução do contrato de trabalho do empregado, por atos lesivos à sua honra, ao passo que o artigo 483, letra e, do mesmo diploma, garante também ao empregado a rescisão indireta em casos de ofensas à sua honra e à boa fama.

O legislador trabalhista ainda avançou, preocupando-se com o menor (embora não seja mais correto falar em menor, mas sim em criança e adolescente), assegurando que de sua ocupação não poderá sobrevir prejuízo à sua formação moral (artigos 405 a 407, da CLT). Assegurou, finalmente, no artigo 408, do mesmo texto, a faculdade do responsável do menor pleitear a extinção do contrato de trabalho, desde que comprovado que o serviço acarrete prejuízo de ordem moral [18].

Ante o noticiado, de conformidade com as posições doutrinárias aqui apresentadas, nossa convicção é de que a personalidade do empregado tem guarida no Direito do Trabalho, restando, portanto, plenamente justificável a reparação quanto aos atos que atinjam sua honra, sua dignidade, bens jurídicos valiosos, enfim, sua condição de cidadão-trabalhador.

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1. ZENUN, Augusto. Dano moral e sua reparação. 7 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p.73.

2.Apelação Civil n. 38.677 – 2ª Câmara Cível – Porto Alegre – j.29.10.81 – Desembargador Milton dos Santos Martins

3.FLORINDO, Valdir. A proximidade da Justiça do Trabalho com o dano moral. Informativo Dinâmico, IOB, Edição n. 42, Junho de 1995, p. 570-571.

4.PAMPLONA FILHO, Rodolfo. O dano moral na relação de emprego. 3 ed. rev. e atual. São Paulo: LTr, 2000. p. 88

5.CARDONE, Marly A. A responsabilidade Civil no Direito do Trabalho. Repertório 108 de Jurisprudência, n. 18/93, 2ª quinzena de setembro de 1993, p.322.

6.FLORINO, Valdir. Op. cit., p.348.

7.MACIEL, José Alberto Couto. O Trabalhador e o dano moral. Síntese Trabalhista, Maio, 1995, p. 8.

8.DALAZEN, João Oreste. Competência Material Trabalhista. São Paulo: LTr, 1994, p.106.

9.MARANHÃO, Délio. Instituições de Direito do Trabalho. 20 ed. São Paulo: LTR, 2002, p.247.

10.RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr,, 2004 p.270-271.

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12.FLORINDO, Valdir. Op. cit., p.573.

13.CARDONE, Marly A. Entrevista concedida. Jornal Tribuna do Direito. n. 62. Ano 6, Junho, 1996, p.23-24.

14.SÜSSEKIND, Arnaldo Lopes. Tutela da Personalidade do Trabalhador. Revista LTr, v.59, Maio, 1995, p. 595.

15.PEDREIRA, Pinho. A Reparação do Dano Moral no Direito do Trabalho. Revista LTr, v. 55, maio, 1991, p.553-554.

16.LIMA, Francisco Meton Marques de. Manual sintético do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p.79.

17.CASTELO, Jorge Pinheiro. O Dano Moral Trabalhista. Revista LTr, v.59, abril de 1995, p. 491.

18.A Emenda Constitucional n.20/98 deu novo texto ao inciso XXXIII, do artigo 7º, da Constituição Federal, para estabelecer a "proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos". Por sua vez, a Lei n.10.097, de 19 de dezembro de 2000 (In: DOU 20.12.2000, p.1) alterou vários dispositivos da Consolidação das Leis de Trabalho referentes ao trabalho do menor e à aprendizagem profissional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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* Pós-Graduado em Direito Público, Pós-Graduado em Direito Social, Pós-Graduado em Direito Processual e Pós-Graduado em Direito Privado. Autor de artigos e ensaios jurídicos, presta consultoria bilíngüe e atualmente é servidor público do TJMG - Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais

Disponível em:

http://www.wiki-iuspedia.com.br/article.php?story=20080129121429343. Acesso em: 25 maio 2008.

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