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Joana Filipa Linhares de Azevedo Neiva. Estão por vossa conta : Crianças e Jovens Privados de Parentalidade por Homicídio

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Universidade do Minho

Escola de Psicologia

Joana Filipa Linhares de Azevedo Neiva

“Estão por vossa conta ”: Crianças e Jovens

Privados de Parentalidade por Homicídio

do Parceiro Íntimo

Es o po r vo ss a co nt a : Cr ia as e Jo ve ns Pr iv ad os d e P ar en tal id ad e p or H o mic íd io do P ar ce ir o Ín ti mo Jo an a Ne iv a

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Universidade do Minho

Escola de Psicologia

Joana Filipa Linhares de Azevedo Neiva

Estão por vossa conta

”: Crianças e Jovens

Privados de Parentalidade por Homicídio do

Parceiro Íntimo

Dissertação de Mestrado

Mestrado Integrado em Psicologia

Trabalho efetuado sob a orientação da

Professora Doutora Marlene Matos e da

Doutora Mariana Gonçalves

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DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR TERCEIROS

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas as regras e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e direitos conexos. Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada.

Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em condições não previstas no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da Universidade do Minho.

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações CC BY-NC-ND

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Agradecimentos

À Prof. Dr.ª Marlene pela visão crítica e conhecimento transmitido. À Dr.ª Mariana, por semear em mim o gosto e o prazer pela investigação. Agradeço todo o cuidado, carinho, toda a disponibilidade e encorajamento ao longo de todo o processo.

Obrigado às minhas colegas de equipa pela ajuda e encorajamento contínuo. Obrigado Gabriela por continuares presente mesmo estando tão longe.

O mais profundo e sincero obrigado à minha mãe, pai e irmão, por todo o incentivo, carinho e amor incondicional. Obrigado por acreditarem em mim mesmo quando eu não acredito. O caminho nem sempre é fácil, mas sei que posso seguir o meu porque vos tenho na retaguarda.

Obrigado Bianca, Daniele, Giselle, Gabriela, Bruna e a todos os meus amigos, por estarem sempre presentes, por todos os contributos, pelas palavras de encorajamento e força, por simplificarem tudo.

Por fim, obrigado Maria e Ana, por terem aceite participar neste estudo, por me confiarem a vossa história e não terem medo do futuro, mesmo quando incerto. Sou uma pessoa mais rica por vos ter conhecido.

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DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.

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“Estão por vossa conta”: Crianças e Jovens Privados de Parentalidade por Homicídio do Parceiro Íntimo

Resumo

As crianças e jovens privados de parentalidade por homicídio do parceiro íntimo ficam profundamente marcados pelo evento traumático, são obrigados a gerir inúmeras mudanças em ambientes com poucos recursos, ficando sujeitos a numerosas consequências. O presente estudo teve como principais objetivos analisar a resposta dada a estes processos em Portugal, identificar recursos existentes e carências vivenciadas, assim como, analisar as consequências do homicídio nas crianças e jovens. Este estudo focou-se na caracterização e comparação das trajetórias de vida de duas participantes que perderam a mãe para este crime, cada participante realizou uma entrevista semi-estruturada e um questionário online. Foi possível identificar diversas mudanças devido ao evento traumático, nomeadamente, mudança de residência, de escola e amigos, a separação dos irmãos e conflitos familiares. Foram identificadas consequências psicológicas, relacionais e escolares. Os resultados demonstraram a importância da intervenção em crise e da atuação do sistema de apoio após o homicídio, incidindo na centralidade no acesso a acompanhamento psicológico e apoio económico. A importância de adoção de práticas focadas no trauma e atribuição do estatuto de vítima especialmente vulnerável foi clara neste estudo. O conhecimento nesta problemática é ainda reduzido, é fundamental criar respostas eficazes, garantir que estão disponíveis e são adequadas.

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“You are on your own”: Children and Youth Deprived of Parenthood due to Intimate Partner Homicide Abstract

Children and youth deprived of parenthood due to intimate partner homicide are deeply affected by the traumatic event, they are usually forced to manage innumerous changes, in environments with few resources and are exposed to numerous consequences. The present study had as main objectives to analyze the response given to these processes in Portugal, to identify existing resources and experienced needs, as well as analyze the consequences of the homicide in children and youth. This study focused on the characterization and comparison of the life trajectories of two participants who lost their mother to this crime, each participant took part in a semi-structured interview and an online questionnaire. It was possible to identify several changes due to the traumatic event, namely, change of residence, school and friends, the separation of siblings and family conflicts. Psychological, relational and academical consequences were identified. The results showed the importance of intervention in crisis and the support system after the homicide, especially in access to psychological and economical support. It was clear the importance of adopting practices focused on trauma and assigning the status of particularly vulnerable victims. The data on this issue is still limited, it is essential to create effective responses, ensure that they are available and are appropriate.

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Índice

“Estão por vossa conta”: Crianças e Jovens Privados de Parentalidade por Homicídio do Parceiro Íntimo

... 8 Metodologia ... 11 Participantes ... 11 Instrumentos ... 13 Procedimento ... 14 Análise de Dados ... 14 Resultados ... 16 Pré-homicídio ... 16 Setting do Homicídio ... 16 Adaptação Pós-homicídio ... 17

Atuação do Sistema de Apoio ... 17

Atuação do Sistema de Justiça ... 18

Impacto e Consequências a Médio e Longo Prazo ... 19

Mensagens Enquanto Peritas Experienciais ... 21

Indicadores de Saúde Mental ... 21

Qualidade de Vida ... 21

Discussão ... 23

Referências ... 29

Anexos ... 32

Índice de Tabelas Tabela 1. Descrição da Fratria ... 12

Tabela 2. Temas e Subtemas Principais ... 15

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

“Estão por vossa conta”: Crianças e Jovens Privados de Parentalidade por Homicídio do Parceiro Íntimo

A Violência contra o Parceiro Íntimo (VPI) pode ser definida como o abuso físico, psicológico/emocional, sexual, social ou económico perpetrado por um parceiro, atual ou anterior, que coabite ou tenha coabitado no mesmo espaço da vítima (Coker et al., 2002). Estima-se que, a nível global, mais de 30% das pessoas do sexo feminino já tenha sofrido abusos físicos ou sexuais por parte de um (ex)parceiro (UNODC, 2018). Um inquérito realizado na União Europeia, revelou que em Portugal 4% das mulheres foram vítimas de abuso físico e/ou sexual por um parceiro atual e 5% por qualquer parceiro durante a vida; 47% das mulheres experienciaram violência psicológica perpetrada por um ex-parceiro e 12% perseguição (FRA, 2014). Os resultados quanto à prevalência deste fenómeno no sexo masculino são escassos, a probabilidade de reportar o crime é menor devido ao risco de rejeição, humilhação e falta de suporte social (Barber, 2008). A VPI tende a aumentar na frequência e intensidade, podendo culminar na morte da vítima (Walker, 2016), estimando-se que 67% a 80% das mulheres sofreram de abuso físico por parte do parceiro antes do homicídio (Campbell et al., 2007).

O Homicídio por Parceiro Íntimo (HPI) é o homicídio praticado por um (ex)parceiro que coloca termo à vida do cônjuge, ou (ex)parceiro (Campbell et al., 2007). Aproximadamente 14% dos homicídios são HPI, sendo as mulheres as mais afetadas numa proporção de 6 para 1 (Stöckl et al., 2013). Em Portugal, desde 2004 mais de 400 mulheres perderam a vida por HPI (UMAR, 2018, 2019).

Para além da vítima e do homicida do HPI, também os filhos, principalmente os menores, são diretamente afetados por este crime. Em última análise, podem ser considerados órfãos, em consequência da perda inesperada de ambos os pais ou figuras parentais, um por homicídio e o outro por encarceramento ou suicídio (Hardesty et al., 2008). Alisic et al. (2015), estimaram que 40% das vítimas de HPI tinham filhos e que, considerando que uma família envolve em média dois filhos, anualmente, mais de 55.000 crianças no mundo são enlutadas por HPI. Em Portugal, considerando os dados dos Relatórios do Observatório das Mulheres Assinadas (OMA), desde 2012 é possível contabilizar mais de 270 filhos que perderam a mãe devido ao HPI (UMAR, 2014, 2015, 2016, 2017, 2019). Estima-se que pelo menos um terço da crianças e jovens testemunhe o homicídio ou a cena do crime (Alisic, 2018). Em Portugal, entre 2012 e 2015 pelo menos 77 filhos que assistiram ao homicídio ou à tentativa de homicídio da mãe (UMAR, 2014, 2015).

Lewandowski et al. (2004), concluíram que mais de dois terços das crianças testemunhavam episódios de violência recorrentes anteriormente ao homicídio e 9% foi vítima de abusos/negligência

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

infantil. Em Portugal, os dados da violência perpetrada contra a criança são inegavelmente insuficientes. Os dados da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) indicam que 12% das situações diagnosticadas em 2018 eram referentes a violência doméstica, apesar de constituírem 22.7% das situações de perigo comunicadas. As faixas etárias onde se verificam um maior número de queixas é dos 6 aos 10 anos (30.9%) e dos 11 aos 14 (22.8%; CNPDPCJ, 2019).

As crianças e jovens privados de parentalidade pelo HPI têm de lidar com inúmeras mudanças após o homicídio. Frequentemente, as crianças apresentam elevados défice de estabilidade e segurança (Kaplan et al., 2001), com a mudança de lar, o contexto onde estão inseridos acabar por mudar, inerentemente acabam removidos da sua rede de apoio e da familiaridade da escola e dos amigos (Hardesty et al., 2008). Lewandowski et al. (2004) concluíram que 87% das crianças alterou a residência após o homicídio, 47% para residir com a família da vítima, 12% com parentes do homicida, 10% alternava entre ambas as famílias e 9% com outros cuidadores.

A permanência da criança com a família da vítima diminui as consequências a nível psicológico e relacional e implicar menos alterações de residência. Os dados não são conclusivos quanto às crianças/jovens institucionalizados ou que residem com a família do homicida (Kaplan et al., 2001). É possível encontrar um lar dentro da família alargada, no entanto, a dinâmica resultante entre a família da vítima e do homicida é comumente caracterizada por sentimentos competitivos, de hostilidade e de posse, podendo criar conflitos de lealdade e representar uma exigência emocional adicional para a criança/jovem (Kaplan, 1998). Os familiares podem, de forma inconsciente, estar preocupados com as suas próprias respostas emocionais à perda e, portanto, estar indisponíveis para cuidar dos menores (Black & Kaplan, 1988). A relação intrafamiliar apresenta uma dinâmica muito própria, a família do homicida tem frequentemente a necessidade de gerir a vergonha e a culpa, enquanto a família da vítima se foca na perda e no luto (Kapardis et al., 2017). Quando as crianças estão com a família da vítima evitam expressar sentimentos de amor e saudade para com o homicida e/ou ressentimento para com a vítima, quando são colocados com a família do homicida o oposto acontece (Lev-Wiesel & Samson, 2001).

As crianças e jovens gerem numerosos desafios de saúde e adaptação a diferentes contextos, com dificuldades contínuas, em ambientes com poucos recursos, tentando simultaneamente processar a perda da vítima e os efeitos do HPI na família próxima. Por conseguinte, os menores têm maior probabilidade de desenvolver problemas psicológicos, físicos, comportamentais e sociais (Hardesty et al., 2008).

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

A nível psicológico, a literatura reconhece como síndrome primária a PSPT, com taxas de prevalência estimadas acima de 16% (Alisic et al., 2015). Mesmo na ausência de diagnóstico, as vítimas podem experienciar pensamentos intrusivos, imagens e sons, pesadelos, sentimentos de desapego, ansiedade e tentativa de evitar sentimentos (Black & Kaplan, 1988). No Reino Unido, de 95 crianças encaminhadas para serviços clínicos após HPI, 60% apresentou problemas comportamentais, 50% sintomas ou diagnóstico de stresse pós-traumático e 40% sintomas de distúrbios emocionais (Harris-Hendriks et al., 2002). As crianças e jovens presentes no momento do homicídio demonstram sintomatologia mais intensa, respostas regressivas e mal adaptativas (Black & Kaplan, 1988). Adicionalmente, é mais provável que crianças que sofreram de violência prévia desenvolvam comportamentos antissociais e ideação suicida (Lev-Wiesel & Samson, 2001).

As crianças enlutadas por HPI exibem reações significativas e persistentes de luto, embora a extensão das reações de luto e os seus fatores preditivos não sejam bem compreendidos (Eth & Pynoos, 1994). Alisic et al. (2015), propõem o luto prolongado e traumático como resposta específica em crianças afetadas pelo HPI. O luto prolongado refere-se a angústia grave persistente que envolve sintomas como dormência, angústia de separação ou a sensação de que a vida não tem sentido (Spuij et al., 2012). O luto traumático refere-se a uma combinação patológica das reações ao trauma e ao luto, a criança/jovem é sobrecarregada pela resposta ao trauma e incapaz de realizar as “tarefas normais de luto” (Brown & Goodman, 2005).

Devido à falta de protocolos e complexidade destes casos, as respostas de apoio a nível psicológico parecem ser inexistentes, tardias e/ou inadequadas, o que torna provável que estes problemas se mantenham na idade adulta (Boira & Nudelman, 2018). Lewandowski et al. (2004), encontraram diversas famílias onde as crianças tiveram acesso apenas a uma sessão de aconselhamento e em 22% das famílias não existiu qualquer apoio psicológico.

O impacto do HPI em outras áreas de funcionamento tem sido menos abordado na literatura. A nível físico há registos de alterações no peso e no apetite e de sintomas psicossomáticos como dores de cabeça ou dores no peito (Black & Kaplan, 1988). A nível social, a estigmatização e a dificuldade de relacionamento com os colegas parecem ser os problemas mais reportados (Kaplan et al., 2001) A nível académico, normalmente são registadas quebras no rendimento e um aumento do abandono escolar. (Hardesty et al., 2008).

Alisic et al. (2015) compilam e organizam os diversos fatores que podem exacerbar ou mitigar as consequências do HPI. Os fatores de risco, incluem características anteriores ao homicídio, como a presença de violência doméstica, abuso/negligência infantil, o abuso de substâncias e/ou a instabilidade

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

do ambiente familiar. A presença no momento do homicídio e se a criança/jovem foi agredida são também fatores de risco. Após o homicídio são considerados fatores de risco a saúde mental e capacidade de resposta dos cuidadores, a separação dos irmãos, os conflitos entre a família e as dificuldades que surgem pós HPI (e.g., económicas).

Contrariamente, existem fatores protetores do impacto do HPI, no momento do homicídio são exemplos de fatores protetores, as características da intervenção em crise, o que foi dito à criança/jovem e de que forma, a avaliação/intervenção psicológica precoce e a disponibilização de serviços de apoio. Após o homicídio são exemplos fatores protetores, a liberdade para falar sobre o homicídio, a vítima e o agressor no novo local de residência, o reconhecimento e validação dos sintomas da criança/jovem pelos cuidadores e o acesso a acompanhamento psicológico (Alisic et al., 2015).

Em Portugal não existem estudos referentes a esta realidade. Não existem registos oficiais do número de crianças nesta situação nem sistemas de referenciação ou programas que atendam às suas necessidades específicas. Neste sentido, este estudo retrospetivo foca-se na caracterização e na análise comparativa das trajetórias de vida de duas participantes que perderam as figuras maternas devido ao HPI. Este estudo tem como objetivo explorar essa experiência, os recursos de que dispunham e exigências que vivenciaram, não só no momento do homicídio, mas também a longo prazo, procurando analisar o tipo de resposta que tem sido dada a estes processos em Portugal.

Metodologia Participantes

Maria1: Sexo feminino, 20 anos aquando da entrevista. Residia em união de facto com o namorado,

habitando também com o cunhado e a sogra. Concluiu o 9º ano de escolaridade e trabalhava como empregada de mesa. Os rendimentos do agregado familiar provinham da participante e da sogra. O homicídio da mãe ocorreu em 2014, quando tinha 15 anos, frequentava o 8ºano e residia com a mãe, o padrasto e o irmão. O homicida foi o padrasto, utilizando um machado. A participante não assistiu ao homicídio nem testemunhou o local do crime. O homicida foi condenado a 25 anos de prisão. Maria ingressou numa instituição até completar 18 anos. A participante usufruiu de acompanhamento psicológico durante um ano no Sistema Nacional de Saúde (SNS).

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

Ana2: Sexo feminino, 22 anos aquando da entrevista. Residia com o namorado, os sogros e a avó do

namorado. Concluiu o 12.º ano de escolaridade e trabalhava como empregada de mesa. Os rendimentos derivam de todo o agregado familiar. O pai de Ana faleceu anteriormente ao homicídio.

O homicídio ocorreu em 2014, Ana tinha 16 anos, frequentava o 10º ano e residia com a mãe e o irmão mais novo. O homicida foi o ex-namorado da mãe, com recurso a arma de fogo. A participante não testemunhou o homicídio, todavia presenciou o local do crime, acabando por assistir à morte da mãe. O homicida foi condenado a 18 anos tendo sido posteriormente reduzida a pena para 14. Ana foi acolhida pelos avós maternos. A participante não usufruiu de acompanhamento psicológico.

Na Tabela 1 encontra-se a descrição das fratrias das participantes. Tabela 1.

Descrição das Fratrias

A. E. I. O.

Fratria Maria Ana Ana Ana

Idade atual 23 12 30 33

Sexo Masculino Masculino Feminino Masculino

Circunstâncias do Homicídio

Idade 17 7 25 28

Assistiu Não Sim Não Não

Acompanhamento

Psicológico SNS Não Não Não Não

Acompanhamento

Psicológico Não Sim Sem informação Sem informação

Pensão de

Orfandade Sem informação Sim Não Não

Indemnização Sim Sim Não Não

Acolhimento Instituição Residência de I. Residência Própria

Residência Própria - Estrangeiro

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

Instrumentos

Entrevista semiestruturada (Neiva et al., 2020) desenvolvida para a presente investigação com base na literatura. A entrevista encontrava-se dividida em 8 temas: (1) caracterização sociodemográfica (atual e momento do homicídio); (2) caracterização familiar pré-homicídio; (3) caracterização do homicídio e intervenção no imediato; (4) processos de adaptação pós-homicídio; (5) recursos existentes; (6) perceções, crenças e sentimentos em relação ao homicídio, à vítima e ao homicida; (7) impactos; (8) situação atual da participante.

Brief Syptom Inventory (BSI; Derogatis, 1993, versão portuguesa de Canavarro, 1999), constituído por 53 itens, avalia sintomas psicopatológicos, organizado em nove dimensões de sintomatologia e três Índices Globais, sendo estes avaliações sumárias de perturbação emocional. Cada item foi classificado numa escala de Likert de cinco pontos (0 “nunca” a 4 “muitíssimas vezes”). A versão portuguesa do instrumento revelou boas propriedades psicométricas, com coeficientes de consistência interna entre 0.72 e 0.80, à exceção das dimensões da Ansiedade Fóbica e do Psicoticismo (α=.62; Canavarro, 1999). Posttraumatic Stress Disorder Checklist (PCL-5; Weathers et. al, 2013, versão portuguesa de Carvalho et al., 2015), constituído por 20 itens, avalia sintomatologia da Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT), inclui quatro subescalas correspondentes aos clusters do DSM-5: Sintomas Intrusivos, Evitamento, Alterações negativas na cognição e no humor (ANCH) e Alterações significativas da ativação e reatividade (AAR). Cada item foi classificado numa escala de Likert de cinco pontos (0 “nunca” a 4 “extremamente”). Demonstra excelentes propriedades psicométricas e elevada consistência interna (α=.94), fiabilidade teste-reteste (r=.82; Blevins, et al., 2015). Para se estabelecerem diagnósticos provisórios segundo o DSM-5 (APA, 2013), um item é clinicamente relevante quando apresenta um resultado igual a 2 ou superior, são necessários, pelo menos, um sintoma Intrusivo, pelo menos um sintoma de Evitamento, pelo menos dois sintomas de ANCH e pelo menos dois sintomas de AAR (Blevins et al., 2015).

World Health Organization Quality of Life – Bref (WHOQOL-Bref; WHOQOL Group, 1994, versão portuguesa de Canavarro et. al, 2007), constituído por 26 itens, permite avaliar a qualidade de vida de indivíduos adultos, organizado em 4 domínios (físico, psicológico, relações sociais e ambiente) e uma faceta sobre qualidade de vida geral. Cada item foi classificado numa escala de Likert de cinco pontos

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

de 0 a 4, os resultados podem variar entre 0 e 100. A avaliação da consistência interna através é aceitável, sendo variável entre .64 (Relações Socias) e .92 para a escala total (Canavarro, 2007).

Procedimento

As entrevistas foram realizadas numa sessão, num local escolhido pelas participantes. No início foi preenchido o consentimento informado, sendo as participantes informadas que podiam parar/desistir da entrevista a qualquer momento, sem qualquer prejuízo. Nas entrevistas procurou-se respeitar o processo de luto do indivíduo. Posteriormente, foi solicitado o preenchimento de um questionário online que incluía os restantes instrumentos constituintes do protocolo de investigação.

Inicialmente este estudo objetivava a análise temática de 10 entrevistas. De Janeiro a Março de 2020 foram efetuados contactos com CPCJ da zona Norte e Centro, Gabinetes da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima e da União de Mulheres Alternativa e Resposta, a Associação contra o Femicídio, e diversas Instituições de Acolhimento. Obtiveram-se 10 respostas de CPCJ, sem casos que se enquadrassem no estudo.

As participantes acabaram por ser recrutadas através dos contactos dos investigadores. Os critérios de exclusão foram: o HPI ter ocorrido há menos de 1 ano e a incapacidade de o indivíduo manter um funcionamento regular, devido à ativação e desconforto emocional e psicológico subjacentes à experiência adversa alvo de atenção neste estudo. Inicialmente, foram identificados cinco possíveis participantes, apenas Maria e Ana aceitaram participar. Foi efetuado o contacto para realizar as entrevistas com as respetivas fratrias, não havendo disponibilidade para tal. O irmão de Maria registava consumo abusivo de substâncias. Na fratria de Ana, a guardiã legal não permitiu entrevistar o irmão mais novo e os outros dois irmãos não demonstraram disponibilidade. A partir desta limitação partiu-se para a análise do estudo comparativo. Após a recolha de dados foi oferecida a possibilidade de as participantes serem seguidas pelos serviços de apoio.

Análise de Dados

Os dados qualitativos foram analisados recorrendo à análise temática, foi utilizado o NVivo (versão 12) para codificar e organizar os dados. Foi construída uma grelha inicial informada pela literatura para orientar as primeiras codificações. As categorias foram sendo refinadas e adicionadas à medida que os dados foram analisados. A grelha final de codificação inclui categorias principais subdivididas em categorias secundárias. Os temas emergiram dos dados através de um processo de codificação completo e inclusivo, sendo necessário trabalho interpretativo para os identificar (Tabela 2).

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

Os dados foram codificados por dois juízes, juiz A (autora da tese) e juiz B (psicóloga júnior). O juiz A codificou 100% dos dados, o juiz B codificou 30% dos dados. Os juízes codificaram os dados após as duas entrevistas. A taxa de fidelidade obtida, calculada segundo Vala (1986), foi de 0.91. As discrepâncias encontradas foram discutidas e resolvidas consensualmente.

Os dados quantitativos foram analisados através de análise descritiva com recurso ao SPSS versão 26 para MacOS e interpretados recorrendo aos manuais de cotação para população portuguesa. Tabela 2.

Temas e Subtemas Principais

Temas Subtemas

Pré Homicídio Relações Familiares

Situação Familiar

Setting do Homicídio O cenário

Intervenção das Entidades Perceção da Morte Adaptação Pós-Homicídio Tempo de Adaptação

Alterações no Quotidiano Atuação do Sistema de Apoio Acompanhamento Psicológico

Apoio Económico Apoio Familiar Apoio Social

Atuação do Sistema de Justiça Processos de Promoção e Proteção Audiências

Indemnização

Efeitos da Resposta Judicial Impacto e Consequências a Médio e Longo

Prazo

Consequências Psicológicas Consequências Académicas Consequências Relacionais Abandono

Sentimentos relacionados com a vítima, homicida e homicídio

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

Resultados Pré-homicídio

A relação familiar das participantes com os homicidas era distinta. Maria considerava o padrasto um pai; Ana conhecia o homicida como sendo amigo de longa data da família, o relacionamento amoroso entre este e a sua mãe nunca fora revelado. Ambas descreveram a relação com a mãe e os irmãos como muito positiva e próxima.

A situação familiar de Maria era “complicada”. A mãe encontrava-se desempregada e o padrasto reformado por invalidez, a família residia em habitação social. O padrasto apresentava um historial de dependência, não havendo registo de consumos no momento do homicídio. O ambiente familiar era caracterizado por episódios de violência física e psicológica dirigidos à mãe. Os episódios não eram testemunhados pelos filhos. Foram apresentadas diversas queixas na polícia. No momento do homicídio o processo-criminal encontrava-se suspenso.

O ambiente familiar de Ana “era muito bom (...)apoiávamo-nos muito”. A VPI iniciou-se após o término do relacionamento da mãe com o homicida, a participantes descreveu ameaças e episódios de perseguição à vítima. Nunca foi apresentada queixa na polícia.

Setting do Homicídio

Relativamente ao cenário, Maria não assistiu ao crime nem testemunhou a cena do homicídio. Ana não assistiu ao homicídio, todavia, testemunhou a cena do crime e presenciou a morte da mãe. O seu irmão de 7 anos, testemunhou o crime e pediu auxílio, ambos tentaram prestar os primeiros socorros até à chegada das entidades competentes.

A intervenção das unidades policiais no caso de Maria foi escassa, em nenhum momento foi explicado à participante o que estava a acontecer, a notícia foi-lhe comunicada pela filha do homicida. Em contrapartida, Ana caracterizou as entidades policiais como “muito persistentes” e “intrusivas”, “é

como se tu ali não fosses nada”. Respondeu ao interrogatório com as roupas ainda ensanguentadas,

tendo desmaiado. Quando acordou o interrogatório prosseguiu. Destacou inúmeras vezes que teve que recontar o que sabia e que o local do crime não foi isolado, “ser pressionada pela polícia, a ser

pressionada pelos jornalistas(...)tudo no mesmo sítio, tudo junto, foi uma confusão”.

A perceção da morte da mãe e o homicídio não foram claros para o irmão mais novo de Ana. A criança respondeu às mesmas perguntas colocadas à participante. Contudo, não compreendia as questões, demonstrando dificuldade em assimilar a situação e o que significava, “Onde está a mãe?(...)O

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

Adaptação Pós-homicídio

O tempo de adaptação para Maria durou cerca de meio ano. Ana descreveu que o processo durou anos, após o homicídio permaneceu uma sensação de dormência que perdurou “um ano e

seis/sete meses”, “estava a passar pela minha casa no autocarro e foi como se eu começasse a sentir

o cheiro da comida da minha mãe(...)foi como se ali naquele momento alguém me dissesse que ela

tinha morrido”. Segundo a participante, após este episódio responder a perguntas sobre o homicídio e

as suas consequências era muito mais penoso.

Imediatamente após o homicídio existiram alterações no quotidiano. Maria ficou com o pai biológico, contudo não foi permitido que permanecesse com o mesmo. Alguns dias após o homicídio, ingressou numa instituição. Maria caracterizou a instituição como “uma prisão”, as regras que existiam faziam com que se sentisse “muito diferente”, não era possível sair ao fim-de-semana ou usar o telemóvel, “para além do tempo que nós íamos para a escola, era ali e acabou”. Contudo, a instituição proporcionou-lhe um ambiente seguro e estável e a oportunidade de falar sobre a mãe e o padrasto quando necessitava.

Ana ficou com a irmã mais velha e depois com os avós maternos. Durante seis meses houve um processo difícil de adaptação e de criação de rotinas. Ficar com os avós permitiu-lhe ter “um bocado de

paz e de sossego”, contudo devido às dificuldades económicas saiu da residência antes de completar

18 anos.

Com os novos lares, ambas alteraram a zona de residência e, consequentemente, a escola e o círculo de amigos. Outras alterações derivaram das necessidades que surgiram após o homicídio, por exemplo, “arranjar trabalho(...)tinha que ganhar dinheiro porque não tive ajuda nenhuma do estado, não

tive nada” (Ana). Inevitavelmente, as participantes acabaram por ser separadas dos irmãos, existindo

apenas visitas semanais. Após o homicídio, foi destacado o papel fundamental dos irmãos e das novas cuidadoras no processo de adaptação. Maria destaca, também, a segunda técnica da CPCJ, “apoiou-me

muito (...)foi quase como uma segunda mãe”.

Atuação do Sistema de Apoio

A nível de acompanhamento psicológico, Maria usufruiu de acompanhamento no SNS, de carácter obrigatório, que se iniciou um mês após o homicídio e teve a duração de um ano. O acompanhamento psicológico foi percecionado como muito positivo, permitiu “conseguir falar à vontade,

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

acompanhamento foi oferecida a possibilidade de o processo ser reaberto em caso de necessidade. Na família de Ana ninguém conseguiu acompanhamento no SNS. Ana usufruiu de uma consulta numa instituição, decidindo não prosseguir o acompanhamento, “não quis ajuda nenhuma de psicólogos, não

me sentia a vontade para falar com ninguém, na altura era muito mais frágil”.

Relativamente a apoio económico, no caso de Maria a instituição não entregava a mesada, “não

recebia(...)porque fumava e então elas pra me castigarem, não me entregavam”. O único dinheiro a que

tinha acesso era disponibilizado pelo pai biológico. No caso de Ana não existiu apoio financeiro, apesar de existirem dificuldades económicas enquanto vivia com os avós e quando passou a morar sozinha.

No apoio familiar ambas aludiram à fragilidade emocional da família. Referiram que a mãe e/ou o homicídio não eram abordados no contexto familiar, Maria até à data não abordava o assunto com o irmão e para Ana os únicos momentos em que falavam da mãe era quando o irmão mais novo “puxava

o assunto”. Em nenhum dos casos foi referida a família do homicida ou a família paterna. Maria e Ana

mencionaram conflitos com a família próxima. Maria referiu ter andado um “bocadinho enganada” em relação ao pai. Ana relatou conflitos entre os avós e o irmão mais velho a partir do momento que começaram a ser discutidas indemnizações.

A nível do apoio social, o grupo de pares acabou por se afastar. Relativamente aos adultos, ambas mencionam a ausência de preocupação/cuidado quando eram abordadas (“as pessoas não

perguntam “como é que tu estás?” Não, elas perguntam “a tua mãe morreu?”).

O apoio proveniente da nova escola foi importante. As instituições foram informadas sobre o homicídio de forma a evitar perguntas focadas na família e permitir que o corpo docente pudesse estar atento às necessidades das jovens. Maria acreditava que este procedimento fez com que os colegas a vissem “com um bocado de pena”, contrariamente para Ana esta prática foi positiva (“foram muito

recetivos e sempre tiveram muito cuidado com as palavras, muito cuidado com as perguntas”). No caso

de Ana foi disponibilizado acompanhamento psicológico, o qual a participante rejeitou.

Atuação do Sistema de Justiça

As participantes não possuíam um conhecimento abrangente dos tramites legais, não sendo possível averiguar de forma clara os processos judiciais. Os Processos de Promoção e Proteção ficaram a cargo da CPCJ. Maria, durante os três anos que permaneceu na instituição nunca conseguiu contactar a técnica responsável, “nunca me atendeu, nunca me retribuiu as chamadas, não me ia lá ver, não ia lá

falar comigo(...)Não quis saber, simplesmente espetou comigo para lá e pronto”. Quando atingiu a

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

técnica mantinha um contacto frequente percecionado como positivo. Ana não tinha conhecimento da atuação da CPCJ. No início existiu “pressão” para ser institucionalizada, mas após a guarda ter sido definida não existiu qualquer outro contacto. Não é claro de que forma foi decidida a guarda sobre as participantes: Maria ficou ao cargo da responsável da instituição e a guarda de Ana foi entregue aos avós maternos.

As audiências e processos no tribunal foram descritos como violentos a nível psicológico. Ambas as participantes testemunharam em tribunal. Maria referenciou, a dureza em ouvir o advogado do homicida. Ana destacou a dificuldade em ter a audiência com “a aldeia toda” presente e ter-se cruzado com o homicida no tribunal. Durante as audiências repetiu o testemunho. Contudo, Ana destacou a

“sensibilidade” do juiz com o irmão mais novo que adaptou a linguagem utilizada e introduziu a “mãe à

conversa” lentamente.

Relativamente às indemnizações, nenhuma das participantes ou das respetivas fratrias recebeu o estipulado. Maria recebeu menos de metade dos 80.000 euros definidos em tribunal. Ana dos cerca de 20.000 euros estipulados, até à data, só tinha recebido “despesas”. Os irmãos mais velhos de Ana não usufruíram de qualquer tipo de indemnização visto que já eram “independentes”.

Os efeitos da resposta judicial não foram positivos. As participantes referiram não sentir a sua experiência valorizada e revelaram descrença nas autoridades e/ou sistema de justiça. No discurso de Ana esteve muito presente a sensação de injustiça/impunidade do homicidae frieza com que a família foi tratada, “porque é tudo tão normal para a polícia(...)para o sistema todo, que pra ti também tem que

ser normal, entendes? As pessoas abordam-te de uma maneira fria porque é normal”. Adicionalmente,

criticou a constante reiteração do testemunho: “ter que repetir a mesma história pra outra pessoa que

podia perfeitamente passar a informação é abusivo”.

Impacto e Consequências a Médio e Longo Prazo

As consequências psicológicas inicialmente eram idênticas, ambas experienciaram problemas de sono e memórias intrusivas. Ana referiu também dores psicossomáticas e ideação suicida. No momento da entrevista, 6 anos depois, Maria revelou a superação de grande parte da sintomatologia, experienciando apenas dificuldade em permanecer em espaços fechados. Para Ana as dificuldades em dormir permaneciam, referiu tornar-se “mais fria” e apresentou um nível elevado de embotamento emocional, “eu finjo que nunca se passa nada(...)eu nunca demonstrei às pessoas porque nunca quis

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

As consequências académicas espelharam-se na redução do rendimento e consequente abandono escolar. Maria tentou voltar a estudar, mas acabou por desistir, “não conseguia estar dentro

de uma sala durante muito tempo”. Ana, em consequência das dificuldades económicas, acabou por

interromper os estudos (“eu queria muito mesmo, só que(...)tu vês que não consegue dinheiro para

acabar o 12º, tu vais te meter numa universidade como?”).

A nível de consequências relacionais, ambas referiram ter muitas dificuldades em estabelecer novas relações e em confiar. Maria considerava não “ter muitos amigos”, os seus amigos eram os amigos do namorado. Ana não especificou um grupo de amigos e a nível amoroso não considerava as suas relações positivas. A ausência de uma rede de apoio influenciava a sua permanência nas mesmas, “Já teria dito, “querido, olha queres, cresce! porque senão”, mas só que eu não posso porque se não vou

ficar na rua”.

As participantes descreveram, ainda, diversas experiências de “discriminação”, “tu vês, por exemplo, quando alguém de trata de maneira a excluir-te, de maneira a que tu te sintas mal (...)eu

sentia-me um pedaço de carne”. Ambas descrevem que após o HPI “toda gente olhava (...)com um bocado de

pena” e que quando eram abordadas as pessoas “eram frias, brutas e diretas”.

O isolamento foi um grande foco durante as entrevistas, ambas referiram não ter “contacto com

quase ninguém”. Maria após o homicídio tornou-se “muito fechada” e Ana referiu “não ter ninguém com

quem contar, não ter uma pessoa com quem desabafar”.

O sentimento de abandono pautou a vida das participantes e dos irmãos após o homicídio. Maria sentiu que o cuidado que recebeu esteve relacionado com a idade que tinha e, devido ao facto de o irmão completar 18 anos meses após o homicídio, o mesmo não aconteceu. As vivências de Ana eram similares às que Maria relatou do irmão: com quase 17 anos foi difícil encontrar alguém que a acolhesse e apoiasse, “é uma sobrevivência, é uma luta diária que tens que ter, a nível monetário, psicológico,

físico e ninguém tem essa noção”. O sentimento era partilhado por todos os elementos da família, “fomos

completamente abandonados, ficamos sem apoio(...)foi completamente “vocês estão por vossa conta””.

Os sentimentos em relação ao homicida e ao homicídio alteraram-se ao longo do tempo. Maria apresentou sentimentos ambíguos em relação ao homicida, “eu sinto falta dele e sinto vontade de estar com ele (...)nunca o vou perdoar pelo que fez, mas por outro lado, às vezes dou comigo a pensar que

minha vontade é ir lá para vê-lo e perdoá-lo”. Ana não mantinha contacto com o homicida. Após o

homicídio “havia um sentimento vingança, uma revolta muito grande e hoje em dia (...)sou mais levada

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

Mensagens Enquanto Peritas Experienciais

Primeiramente as participantes destacaram a centralidade em manter um contacto próximo com os irmãos. Maria descreveu o irmão como uma “pessoa muito fechada” e “revoltado com a vida e com

as pessoas”, explicou que a oportunidade de permanecerem juntos poderia ter amenizado as

consequências para ambos. Maria destacou a ausência de apoio que existiu para com o irmão, principalmente após atingir a maioridade, em nenhum momento usufruiu de acompanhamento psicológico/psiquiátrico, nem teve orientação ou acompanhamento, “podiam ter continuado a segui-lo e

tê-lo o orientado (...)incentivá-lo a estudar, ou (...)ajudarem-no a arranjar um emprego”.

Ana alertou para as dificuldades económicas que sentiu após o HPI, frisou a importância do acesso a apoios económicos (e.g. pensão de orfandade) e a garantia da receção da indemnização. Alertou para a impossibilidade em aceder ao SNS e, para o irmão mais novo, a ausência de apoio no suporte dos custos de um terapeuta privado. Sublinhou ainda, no caso da criança, o bullying sofrido e a ausência de apoio em contexto escolar, assim como, a intrusividade por parte das auxiliares de ação educativa,

“perguntavam como é que ela estava, como é que foi, se havia muito sangue...”. Finalmente, Ana

assinalou a importância de não verbalizar repetidamente os eventos do dia do homicídio, focando-se na atuação das entidades policiais onde a informação não era transmitida entre agentes.

Indicadores de Saúde Mental

Maria no BSI registou os valores obtidos pela população geral. Nos valores obtidos por Ana a somatização, depressão, ansiedade, hostilidade, ideação paranóide e o psicoticismo enquadravam-se nos valores das perturbações emocionais. Ana demonstrava sintomatologia complexa e intensa, pontuou o máximo nos itens relativos ao sentimento de não poder confiar nos outros, na sensação de isolamento e na desesperança em relação ao futuro.

Nos resultados do PCL-5, Maria pontuou significativamente em 3 dos 5 sintomas intrusivos e em 2 dos 6 sintomas relacionados às alterações significativas de ativação e reatividade. Apesar de existir alguma sintomatologia, não se verificava a existência de PSPT. Ana pontuou significativamente em 19 dos 20 itens, com valores elevados . A participante preencheu os critérios para o diagnóstico provisório de PSPT.

Qualidade de Vida

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A PRIVAÇÃO DE PARENTALIDADE POR HPI

Ambiente encontram-se acima da média comparativamente a indivíduos sem perturbações psicológicas. Os valores de Ana, com exceção do domínio físico, eram abaixo da média comparativamente a elementos pertencentes a grupo clínico.

Tabela 3.

Indicadores de saúde mental e qualidade de vida

Maria Ana BSI Somatização 0.57 2 Obsessão-Compulsão 0.66 1.5 Sensibilidade Interpessoal 0.75 1.25 Depressão 1.16 2.83 Ansiedade 0.66 2.16 Hostilidade 1 3.4 Ansiedade Fóbica 0.2 0.8 Ideação Paranóide 0.8 2.2 Psicoticismo 0.8 2 IGS 0.74 2.06 ISP 1.18 2.79 TSP 33 39 PCL-5 Intrusivo 3 5 Evitamento 0 2 ANHC 0 6 AAR 2 6 WHOQOL-Bref Domínio Físico 64.2 78.5 Domínio Psicológico 62.5 33.3

Domínio Relações Sociais 83.3 33.3

Domínio Ambiente 75 37.5

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Discussão

Este estudo teve como objetivo explorar a experiência das crianças e jovens privadas de parentalidade por HPI em Portugal, identificar os recursos que dispunham e as carências que vivenciaram no momento do homicídio e a longo prazo, procurando conhecer a resposta que tem sido dada a estes processos.

Os resultados demonstram que, no momento do homicídio, a atuação das forças de segurança e a intervenção em crise são fundamentais para mitigar os efeitos do HPI. Após o homicídio é essencial que as vítimas se sintam apoiadas e seguras no momento em que partilham as suas histórias, e que percebam nas figuras de autoridade adultos em que possam confiar (Callaghan et al., 2017).

Não testemunhar o local do crime e não ser exposto ao corpo da vítima parecem funcionar como fatores protetores, tal como já concluído a nível internacional (Kaplan et al., 2001). É possível que receber a notícia através de uma pessoa em quem confiam também o tenha sido. Os resultados demonstram a importância de adaptar a linguagem ao estado desenvolvimental da criança/jovem no momento em que lhe é comunicada a notícia. Revelar o HPI à criança/jovem é um momento delicado, é preciso considerar a forma de comunicar (Boira & Nudelman, 2018), o momento adequado e selecionar a informação (Alisic et al., 2015).

Os resultados indicam que não estabelecer contacto com a criança ou jovem ou forçar a repetição do evento traumático podem intensificar as consequências do HPI e a descrença nas forças policiais. Adicionalmente, os resultados mostram a ausência de partilha de informações entre as entidades envolvidas, o que promove a revitimação secundária (Stanley et al., 2018). Esta circunstância podia ser prevenida, nomeadamente se as autoridades tivessem recorrido à recolha de declarações para memória futura, um mecanismo legislativo que prevê a proteção de vítimas vulneráveis, como as crianças (Lei n.º 130/2015, de 04 de Setembro).

Após o homicídio, as novas residências implicaram remover as jovens dos contextos onde estavam inseridas, agravando a sensação de isolamento. Ficar com a família materna impulsionou o sentimento de segurança e de conforto, no entanto não foram encontradas evidências que sustentem que residir com a família da vítima reduz as consequências a nível psicológico e relacional (Kaplan, 1998). A institucionalização promoveu o acesso a acompanhamento psicológico e a sua obrigatoriedade. Contudo, a ausência de liberdade e de apoio económico acentuam o isolamento. A separação dos irmãos e a perda de contacto consistiram stressores adicionais (Black et al., 1992). Apesar da inevitabilidade da separação é essencial promover a interação e facilitar o contacto, preservando os vínculos seguros.

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A atuação do sistema de apoio é essencial na recuperação após o HPI. Os resultados demonstram as dificuldades em obter cuidados de saúde mental e a necessidade de protocolizar ou clarificar os critérios que definem o acesso a apoio psicológico no SNS, tal como encontrado por Lewandowski et al. (2004). A obrigatoriedade deste acompanhamento parece ser determinante para a sua continuação, a rejeição de apoio psicológico surgiu associada à dificuldade em estabelecer vínculos (Kaplan et al., 2001) e ao evitamento da memória traumática ou dos sentimentos que desperta (Black & Kaplan, 1988).

Nestes casos estiveram presentes dificuldades económicas quando a vítima ficou com a família. Os resultados apontam para a associação entre a idade da vítima e o acesso a apoio económico, sendo mais difícil conseguir apoio quanto mais velha for a vítima. O acesso a apoio económico é um fator que contribui para a diminuição da disrupção da vida das vítimas (Alisic et al., 2015).

A nível familiar foram encontradas a fragilidade/indisponibilidade emocional e o evitamento em falar da vítima, do homicida e do homicídio no seio familiar. O foco da família estava voltado para processar a perda e para o próprio processo de luto, confirmando-se a dificuldade em responder às necessidades das crianças e jovens (Black & Kaplan, 1988). Neste aspeto, a institucionalização proporcionou a oportunidade para abordar a mãe, o homicida ou o homicídio. Não se verificaram conflitos entre as famílias da vítima e do homicida, contudo, surgiram conflitos intrafamiliares associados às indemnizações.

A escola assumiu um papel importante na adaptação das jovens. Este resultado demonstra a importância dos educadores formais e o seu papel no acompanhamento destes jovens, sendo este um resultado ausente na literatura internacional. Os resultados acrescentam ainda a importância de que as conversas sobre o HPI em contexto escolar sejam iniciadas pelas crianças/jovens.

A atuação do sistema de justiça foi direcionada para o HPI, não se centrando nas perdas sofridas pela criança (Eth & Pynoos, 1994). Uma intervenção adequada do sistema de justiça é fundamental para não exacerbar as consequências do homicídio. Os resultados deste estudo demonstram que testemunhar/estar na presença do homicida (Hardesty et al., 2008) e as audiências com público impactam negativamente as vítimas. Quando a criança/jovem testemunha contra o homicida é necessário considerar o medo de retaliações, de desaprovação da família e o surgimento de conflito de lealdade, principalmente quando o homicida sobreviveu. É fundamental ponderar se a criança ou o jovem se encontram em condições legais e psicológicas para testemunhar (Eth & Pynoos, 1994). É central que o sistema de justiça adote práticas focadas no trauma quando em contacto com estas vítimas. Nestes

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casos, a conduta do juiz contribuiu de forma positiva para o processo, a adaptação da linguagem e a tentativa de estabelecer um laço com a testemunha constituem boas práticas.

A nível das consequências a longo prazo os resultados obtidos não permitem associar unicamente a presença no momento do homicídio à intensidade/diversidade da sintomatologia. A ausência de acompanhamento psicológico, um sistema familiar fragilizado, as dificuldades económicas e todos os fatores de risco presentes, inevitavelmente, agravaram e diversificaram a sintomatologia (Alisic et al., 2015). Contudo, os resultados apontam para o acesso a terapia como o maior contributo na recuperação da criança/jovem (Alisic et al., 2015).

Os sintomas reportados após o homicídio são concordantes com os encontrados na literatura: memórias intrusivas (Black & Kaplan, 1988), ansiedade (Eth & Pynoos, 1994), problemas de sono e evitamento (Hardesty et al., 2008). Adicionalmente, assistir ao homicídio e a ausência de intervenção terapêutica parecem estar associados ao processo de luto prolongado (Spuij et al., 2012) e à presença de elementos de luto traumático, particularmente experienciar e gerir as emoções relacionadas com a morte da vítima e a capacidade de desenvolver ou aprofundar relações existentes de forma a processar a morte (Brown & Goodman 2005).

A sintomatologia, apesar de similar nos momentos após o homicídio, com a ausência de psicoterapia parece intensificar-se e diversificar-se na idade adulta (Boira & Nudelman, 2018), afetando inevitavelmente a vida destas vítimas. Alguns sintomas podem ser explicados pelas vivências pós-homicídio, por exemplo, o embotamento emocional pode ser potenciado pelas experiencias de estigmatização (Black & Kaplan, 1988) ou pelos conflitos com a família (Lev-Wiesel & Samson, 2001). A sensação de se sentir sozinha quando está com outras pessoas associa-se provavelmente à dificuldade de estabelecer relações significativas (Black & Kaplan, 1988).

A intensidade da sintomatologia expressa na ausência de acompanhamento psicológico indica a centralidade do mesmo. Assim como, a necessidade de considerar a capacidade de os novos cuidadores reconhecerem e validarem a sintomatologia da criança/jovem (Burman & Allen-Meares, 1994) e possuírem os recursos para encontrar apoio.

As consequências académicas vão de encontro ao que Hardesty et al. (2008) encontraram, existe uma quebra no rendimento escolar e a presença drop out. Eventualmente, poderá considerar-se que o abandono escolar pode estar associado à sintomatologia, às dificuldades económicas que surgem pós-homicídio ou ao desejo de sair da residência em que se encontravam e, portanto, necessitar de emprego. Nas consequências relacionais, os resultados apontam para o evitamento e o afastamento do

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As dificuldades a nível social surgem associadas aos episódios de discriminação (Black & Kaplan, 1988) e à sensação que ninguém as compreende ou consegue ajudar. Ainda a nível relacional, os resultados indicam a permanência em relações percecionadas como negativas devido à ausência de uma rede de apoio.

Por último, a sensação de abandono resulta das lacunas na atuação do sistema de apoio e da indisponibilidade emocional da família (Black & Kaplan, 1988), assim como dos conflitos existentes. Esta sensação está associada à idade da vítima, que quanto mais próxima da maioridade, menor a ajuda disponível. Estar perto de atingir a maioridade parece acentuar a vulnerabilidade após o homicídio, eram jovens dependentes dos progenitores, que se encontram privados dos recursos existentes e com dificuldades em encontrar quem os acolha na família. Estes jovens estão em risco de experienciar as consequências mais intensas e de que estas permaneçam de forma vincada ao longo do tempo.

Os resultados desta investigação indicam que um ambiente familiar instável pré-homicídio, com diversos fatores de risco presentes, associado a um pós-homicídio caracterizado pela segurança e atenção às necessidades da vítima aumente a qualidade de vida percebida. Contrariamente, um ambiente pré-homicídio considerado positivo associado a um pós-homicídio pautado pela dificuldade e sensação de abando é associado a uma qualidade de vida percebida como muito baixa. É possível afirmar o impacto negativo do HPI nos resultados mais amplos do bem-estar e funcionamento diário das crianças, assim como a influência dos vários fatores de risco e protetores na história pré-trauma e no atual ambiente de apoio (Alisic et al., 2015).

Implicações Práticas

Este estudo pretende orientar boas-práticas que suportem o desenvolvimento saudável dos filhos privados de parentalidade por HPI. É fundamental que lhes seja atribuído o estatuto de vítimas especialmente vulneráveis e que sejam postos em prática os parâmetros definidos na lei. Nesse sentido, a intervenção adequada, cuidada e flexível por parte das entidades competentes no momento do homicídio é necessária, assim como, recolha de declarações para memória futura. Os processos de promoção e proteção são centrais e uma resposta eficiente tem que ser proporcionada. O acompanhamento psicológico tem que ser disponibilizado, não só às crianças e jovens, mas como aos novos cuidadores, assegurando a sua capacidade de cuidar destas vítimas. É necessário facilitar o acesso ao apoio económico e agilizar/garantir o pagamento das indemnizações. É fundamental criar apoios para os jovens que estão perto de atingir a maioridade uma vez que estão em maior risco de não obter uma resposta.

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Limitações

Este estudo teve acesso a apenas duas participantes, os resultados obtidos são meramente indicativos do que poderá acontecer em Portugal. A informação obtida sobre a atuação do sistema de justiça é escassa neste estudo.

Conclusão

As crianças e jovens privados de parentalidade por HPI viram a sua vida interrompida da pior e mais trágica forma (Kapardis et al., 2017). Estas vítimas são muitas vezes invisíveis, para além de perderem a família, são expostas a situações de riscos com potencial extremo de outcomes negativos. Poucas evidências empíricas estão disponíveis sobre as circunstâncias, necessidades e os resultados das crianças enlutadas pelo HPI, embora diversas investigações sugiram a necessidade de apoio psicológico e acesso a serviços sociais a longo prazo este apoio é escasso (Boira & Nudelman, 2018).

Este estudo aponta para importância da qualidade da atuação do sistema de apoio, principalmente o acompanhamento psicológico na recuperação após o trauma (Alisic et al., 2015). A caracterização desta população, o conhecimento das suas circunstâncias, necessidades e trajetórias permite a capacitação de profissionais, uma melhor alocação de recursos e uma melhoria na intervenção. É necessário compreender os processos de adaptação, analisar os recursos disponíveis, explorar como interagir e comunicar com as crianças e jovens e descobrir como efetuar cuidados psicológicos e sociais de primeira linha (Boira & Nudelman, 2018).

É fundamental que a perspetiva das vítimas faça parte da base de evidências que informa as decisões após o HPI (Callaghan et al., 2017). Apesar das dificuldades inerentes, é preciso que as vítimas tenham a oportunidade de expressar as suas necessidades, participando ativamente na tomada de decisões sobre a sua vida. As expectativas dos profissionais ou cuidadores sobre as necessidades de uma criança não são precisas sem se perguntar diretamente (Alisic et al., 2017).

O conhecimento sobre esta população ainda é reduzido. Não foram encontrados estudos que abordem em profundidade as características da intervenção das unidades policiais no momento do homicídio ou da atuação do sistema de justiça. A informação sobre a atuação do sistema apoio é limitada, não foram encontradas investigações sobre o apoio psicológico, económico ou social disponibilizado. É fundamental que investigações futuras se foquem em colmatar estas lacunas e essencial que incluam amostras representativas, de forma a construir uma base de evidências sólida. Os estudos realizados baseiam-se maioritariamente em autorrelato, conseguir envolver diferentes entidades na recolha de

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informação pode ser essencial para a obtenção de dados mais completos e construção de protocolos realistas.

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Anexos

Referências

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