ANO VIII / NÚMERO 29 DEZEMBRO 2010
Oscar Niemeyer em Israel
Kátia Lund, Moacyr Scliar,
Tel Aviv, A.B. Yehoshua, Boreka
filmes e mais
Ofakim: O horizonte no
deserto de Joseph Dadoune
ESPECIAL
ISRAEL
Casa de Cultura de Israel
Jornalista da área de cultura, trabalhou em veículos impressos, online e participa do programa “Scream & Yell” na rádio Levi’s.
MARCO
TOMAZZONI
Coeditor da Maayan, revista israelense de arte e poesia e editor do Maarvon, único magazine israelense de cinema. Em 2007 foi curador da Bienal israelense de Herzliya, com mais de 70 artistas.
JOSHUA
SIMON
Israelense, é fotógrafo e vídeoartista. Seu trabalho tenta desenvolver uma estética no encontro do Oriente e Ocidente, partindo da paisagem de sua infância em Ofakim.
JOSEPH
DADOUNE
Poeta, editor, jornalista e ativista israelense. Trabalha com questões ligadas à etnicidade e às classes sociais dos judeus mizrahim.
MATI
SHEMOELOF
Arquiteto israelense e historiador da arquitetura, fundador-membro do Fórum de Preservação da Memória Audiovisual em Israel.
ZVI
ELHYANI
Israelense, trabalha há mais de 30 anos na I.D.F. Radio Station (emissora de rádio do exército israelense) como radialista e editor, na área de música. Diretor artístico de vários festivais, organizou o ano do Choro brasileiro, em Israel, 2009.
DUBI
LENZ
Escritor brasileiro, com mais de 70 livros publicados. É o sétimo ocupante da ca-deira 31 da Academia Brasileira de Letras.
MOACYR
SCLIAR
Francês radicado no Brasil há 5 anos, é formado em Sociologia da Arte pela École Normale Supérieure. Trabalha como dire-tor de programação do Centro da Cultura Judaica.
BENJAMIN
SEROUSSI
Licenciado em Artes Visuais e mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Unesp, coordena as ações educativas do Centro da Cultura Judaica.
FELIPE
PAROS
Superintendente da Editora Melhoramen-tos é gourmand, pesquisador e escritor. Especializado em culinária judaica, estuda sua história e a de seus ingredientes.
BRENO
LERNER
Instrumentista, arranjador, compositor e produtor. Está à frente da gravadora Núcleo Contemporâneo e é curador do programa “Intercâmbio Musical”, do Cen-tro da Cultura Judaica.
BENJAMIM
TAUBKIN
Diretora de cinema e roteirista, codirigiu
Cidade de Deus, dirigiu três episódios do
seriado “Cidade dos homens” (2003) e um dos sete curtas do projeto “Crianças invisíveis” (2005).
KÁTIA
LUND
Crítico de cinema, colaborador do jornal Folha
de S.Paulo.
CHRISTIAN
PETERMANN
Expediente
Colaboradores
Conselho Editorial Ernesto Strauss; Flavio Mendes
Bitelman; Raul Meyer; Yael Steiner
Publisher Flavio Mendes Bitelman Diretora Geral Yael Steiner Editor Benjamin Seroussi Editor convidado Cadão Volpato Coordenação Editorial Marcília Ursini Projeto Gráfico Estúdio Campo Revisão Paula B. P. Mendes
Tradução Hebraico Nancy Rozenchan Tradução Inglês Fernanda Sampaio Impressão Ipsis Gráfica e Editora
Impresso nos papéis Superbond Opticolor, 75 g/m2 e Off set, 90g/m2 e 180g/m2.
Tiragem 8.000 exemplares
As matérias assinadas não necessariamente refletem a opinião da Revista 18 ou do Centro da Cultura Judaica.
Rua Oscar Freire, 2500 . São Paulo . SP CEP 05409-012 . TEl.: (11) 3065 4333 www.culturajudaica.org.br
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Horário de funcionamento
3ª a Sáb., das 12h às 19h / Dom., das 11h às 19h
Colaboraram nesta edição:
Benjamim Taubkin, Benjamin Seroussi, Breno Lerner, Cadão Volpato, Cecília Ben David, Christian Petermann, Dubi Lenz, Felipe Paros, Joseph Dadoune, Joshua Simon, Kátia Lund, Mati Shemoelof, Marco Tomazzoni, Moacyr Scliar, Zvi Elhyani
Capa: Horizons - fragments II, 2009, de Joseph Dadoune.
OPINIÃO
Alguém compreende aquele pedaço de mundo...
Por Kátia Lund
P. 08
PERFIL
O surprendente A. B. Yehoshua
Um dos grandes autores israelense, perfilado por Moacyr Scliar
P. 12
ENTREVISTA
No táxi com Leon Prudovsky
Um passeio por Tel Aviv, na companhia do cineasta israelense
P. 16
COLABORADORES
EDITORIAL
P. 03
P. 04
P. 22
P. 34
P. 38
ENSAIO
HorizontesO deserto de Ofakim e seus significa-dos pela ótica do artista israelense Joseph Dadoune
ANÁLISE
Projetando Niemeyer
A passagem do arquiteto brasileiro por Israel, nos anos 60, levantou discussões que permanecem até hoje
ANÁLISE
I like borekas in the morning
Mati Shemoelof discorre sobre o gênero cinematográfico que marcou as décadas de 1960 e 1970, em Israel
ARQUIVO
O impacto de ver um país nascendo
João Candido Portinari relembra a viagem feita à Israel na companhia do pai
P. 20
P. 50
P. 56
P. 58
P. 61
A CIDADE VISTA POR...
Ao dobrar a esquina
Tel Aviv-Iafo vista pelo curador israelense Joshua Simon
ACONTECE NO CENTRO
Valorizando diferenças
Benjamim Taubkin e as experiências do “Intercâmbio Musical”
NO CENTRO E UM
POUCO MAIS
Exposições, livros e filmes
GLOSSÁRIO
Hebraico no português
P. 65
Algumas matérias traduzidas para o hebraico
VIAGEM
Apetitoso Mahane Yehuda, o shouk dos shouks Breno Lerner faz um passeio de
múltiplos sentidos por um dos maiores mercados de Jerusalém
P. 42
Guimátria
Sumário
As letras têm valor fonético e numérico.
Pode-se atribuir desta maneira um valor
numérico a palavras, frases, sentenças ou
textos inteiros, e, por meio deles, perceber
relações entre elas. Este método hermenêutico
se chama
guimátria, do grego “geometria”.
ALEF BETH GUIMEL DALET HEY VAV ZAIN CHET TET IOD KAF LAMED MEM NUN SAMECH AIN PEI TZADI KUF RESH SHIN TAV
א
ב
ג
ד
ה
ו
ז
ח
ט
י
כ
ל
מ
נ
ס
ע
פ
צ
ק
ר
ש
ת
NOME
VALOR
NUMÉRICO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 200 300 400
GRAFIA
8=
10=
+
ח
י
18=
=
יח
VIDA
Ensaio
HORIZONTES
Por Benjamin Seroussi Fotos Joseph DadouneNesta página: Ofakim, 2009.
Quando encontrei o artista israelense Joseph-Yossef Dadoune
a primeira vez em São Paulo, ele comentou a respeito de uma
pesquisa sua em Ofakim, Israel. De passagem pelo país, resolvi
encontrá-lo novamente, em Ofakim, para ele apontar o que
tinha me contado. De repente, apareceu a paisagem e o seu
significado no mesmo gesto.
םיקפוא
237=
SIGNIFICADO: HORIZONTES
CRIADA EM 1955
24.400 HABITANTES
31
017’N 34
037’L
40 KM DO EGITO
24 KM DE GAZA
A esquerda: Vista topográfica da região, 1945. Horizons - Fragments II, 2009 (detalhe)shivá, escola religiosa. Ele conversa comigo em francês
enquanto tomamos um chá no Café Momó. A menina de olhos pintados que serve o chá é do Azerbaijão. A gente ouve uma bomba explodindo ao longe... um treinamento. Chega o taxista que vai nos levar por Ofakim; de origem marroquina, fala ladino comigo. Tel Aviv parece uma pálida província do Ocidente perto deste vilarejo onde o mundo marcou de se encontrar.
Kibbutzim e moshavim prósperos desfilam pela janela,
radares gigantes aparecem no horizonte, tendas de beduínos, prédios caídos, shikunim, para alojar os imi-grantes, bases militares. Os horizontes de Ofakim se estendem ao redor do nosso táxi.
“É importante para mim estar aqui, porque quero de-senvolver uma estética própria da região, uma região chamada Sul, que tem uma luz diferente, que tem sua coerência, que tem de se desenvolver a partir de um território.” Joseph aponta para a paisagem. “O deserto aparece nos mapas em vermelho – proibido, inaces-sível; ele pertence ao exército. Mas veja ali, essa área verde, verde metálica, isso é a riqueza, a consistência dos kibbutzim. E a luz? Branca! Esta luz é linda. Cada vez que o Sul é descrito no cinema israelense, você o vê em amarelo ou laranja. Mas a luz aqui não é amarela. Ela é branca. O Norte enxerga o Sul como se fosse Law-rence da Arábia, projeta cores de uma visão orientalista Ofakim, assim como todas as cidades “periféricas”, tinha
que cumprir a visão do primeiro ministro Ben Gurion: “mo-biliar o deserto”. O deserto não estava exatamente vazio: além dos beduínos sempre presentes, já existia ali uma rede formada pelos kibbutzim e moshavim desde antes da criação de Israel. A ideia de Ben Gurion era justamente aproveitar essas fazendas coletivas para criar as novas ci-dades periféricas. Zona de conflito, foram também criadas ao redor dela duas bases militares. E, no meio, Ofakim, es-cudeiro humano. Mas “se você colocar água em um papel seco, se criam raízes“, comenta Joseph a respeito dessa tentativa de povoar o deserto.
Aconteceu à noite: transferiram para o deserto milhares de judeus mizrahi, judeus orientais recém-chegados da Tuní-sia e do Marrocos. Ficaram em tendas, Ma’abarot. Assim começa a tragédia mizrahi em Israel: num país dominado por uma elite ashkenizita que se enxerga como pertencendo ao Ocidente, os judeus orientais incomodam, pois lembram que esta terra fica no Oriente Médio. Vieram também judeus indianos, Bene Israel, seguidos por judeus russos e etíopes. “Existe um colonialismo interno, dentro da sociedade israel-ense; todo mundo fala de Israel e da Palestina, mas existem questões importantes dentro da sociedade israelense. Por exemplo: este país é multicultural? E eu acho que seu futuro é multicultural!” Joseph nasceu em Nice, no Sul da França, veio pra cá ainda criança com a mãe e estudou numa
ye-Torá comumente chamado de Números e que conta justamente a longa jornada dos hebreus neste deserto que aparece agora à nossa frente. “Mas não podemos andar aqui. Se for, você vai ver que é uma zona de tiro. Está cheio de mísseis, cartuchos. Se quiser sair da cidade, andando, não pode chegar a este deserto.” O táxi dá meia-volta. Deixamos o deserto imaginário e voltamos para o deserto concreto. Joseph me leva para conhecer as fábricas abandonadas que rep-resentaram, nos anos 80, uma esperança de cresci-mento por meio da então indústria têxtil. No contexto do seu projeto artístico e social “No Deserto”, Joseph quer reativar as fábricas abandonadas: “imagina uma
kunsthalle com um centro social dentro, um centro
de reinserção e reorientação profissional dedicado à comunidade. A política se conectaria finalmente ao lo-cal.” Ele me mostra a fábrica, os grafites, as pichações em várias línguas, híbridos culturais, uma espada, um cipreste, um cavalo preto árabe. Joseph trabalha esta falha dentro da formulação de um programa de urban-ização por meio de seu projeto de centro cultural, das fotos e dos filmes. Mas ele me avisa: “Você vai ver isso no meu trabalho, mas a compreensão real é sempre mais forte.” Com este intuito de trazer pedaços desta realidade, Joseph chama alguns de seus trabalhos de “fragmentos”. A Revista 18 trouxe de Israel, com exclu-sividade, alguns deles.
enquanto aqui para mim é concreto. Aqui é o concreto, o concreto é imposto pelo governo que construiu os
shi-kunim.” Estamos longe do estilo Bauhaus de Tel Aviv. “A
arquitetura que você vê aqui não foi feita por arquitetos, mas por engenheiros. É o copiado/colado de todas as cidade periféricas, uma arquitetura com azulejos be-ges que apagou o deserto.” Olhando pela janela, vejo o deserto coberto, modificado, e tento enxergá-lo com os instrumentos que Joseph me propõe: verde metálico, vermelho, bege.
Passamos ao lado de um forte otomano, atravessamos um riacho cuja fonte esta na Jordânia, o táxi continua. Passamos campos de flores, fazendas de avestruzes, ce-mitério de tanques. A terra muda, a pedra deixa o lugar para a areia. O deserto aparece novamente.
“Destruímos o deserto, pois não se pensou uma arquite-tura que correspondia ao que seria a israelidade neste deserto. Mas é neste deserto que os hebreus ficaram quarenta anos errando.” Joseph desenvolveu um pro-jeto artístico e social em Ofakim chamado “No Deserto”,
Bamidbar em hebraico, primeira palavra do capítulo da
“Destruímos
o deserto (...)”
Ofakim, HD, one channel sound, 14:47, 2010 Horizons - Fragments II, 2009
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Análise
PROJETANDO
NIEMEYER
Quase no final da década de 1950, paralelamente à estabilização das dimensões da imigração, ao relati-vo crescimento econômico e à criação de camadas sociais sólidas que ocorreram principalmente em se-quência aos pagamentos de compensações da Ale-manha, Israel quis modificar seu status de estado em desenvolvimento e assumir normas de comportamento de país desenvolvido.
Aqueles anos se caracterizaram por uma autocon-fiança que ainda não era eufórica e pela vontade de
afinar-se com a aspiração internacional e de interna-cionalização, de atualização, de contemporaneidade e de modismo. Este anseio de Israel de se alinhar com acontecimentos internacionais, em especial ociden-tais, e de adotar o “novo” se expressou, entre outros fatos, por trazer a Israel renomados especialistas es-trangeiros, dentre eles arquitetos.
O arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer foi considerado um dos grandes intérpretes das ideias de Le Corbusier já nos anos 1940–1950. A partir de meados dos anos 1950 seu nome ficou famoso como o principal arquiteto da nova cidade de Brasília, construída então de acordo com o projeto de seu mestre e sócio Lucio Costa. Nie-meyer foi relevante para Israel por causa do exotismo heroico que se agregou a seu nome: fazer florescer um deserto brasileiro com instrumentos arquitetônicos
e urbanos ousados e talvez os mais contraditórios do movimento moderno.
A visita de Niemeyer e os projetos de construir para o alto que ele propôs despertaram alguns dos primeiros debates públicos em Israel sobre questões de planeja-mento, construção e paisagem. A percepção de Nie-meyer não se resumiu à construção para o alto apenas, mas tratou de percepções de dimensão arquitetônica e de densidade urbana, percepções que eram estranhas à concepção de planejamento em Israel tanto antes
como depois da criação do Estado em 1948. O mo-vimento sionista tratou de grandes projetos, mas pen-samentos referentes a dimensões lhe eram estranhos. Os padrões de trabalho de construção anteriores ao Estado e imediatamente posteriores a sua criação indi-caram uma percepção panorâmica extensiva do espa-ço, mais do que a percepção cristalizada de objeto ou de uma grande construção, assinaladora do lugar. As propostas de Niemeyer em Israel excederam, portanto, a paisagem local construída e subverteram de modo absoluto esta percepção.
Os meses de trabalho de Niemeyer em Israel indicaram o início de um período de exílio que secciona a longa e sinuosa carreira do arquiteto que atua desde as pri-meiras décadas do século passado até hoje. Depois da inauguração de Brasília, Niemeyer iniciou suas viagens
marítimas entre Europa, Norte da África, Oriente Médio e Brasil e trabalhou paralelamente em projetos no seu país e fora dele por um período de doze anos (1962-1974).
O período das viagens de Niemeyer se vincula aos acontecimentos políticos que abalaram o Brasil na pri-meira metade da década de 60, principalmente o golpe militar que substituiu o presidente Goulart por um go-verno militar de direita em março de 1964, o mês em que Niemeyer chegou a Israel. Ao ser colocado na lista negra da direita, Niemeyer encontrou apoio em alguns governos fora do Brasil, principalmente em Gana, Portu-gal, Israel, França e Argélia. Como alguém que é identi-ficado com grupos comunistas na esquerda intelectual brasileira, Niemeyer entendeu que, voltando ao país, estava se arriscando a ser preso, no melhor dos casos. Deprimido, convocou o calculista Werner Müller para ir a Lisboa e de lá ambos partiram para Israel, onde sua permanência se estendeu por longos meses. No início de abril de 1964, duas semanas após a chegada e a instalação no Hotel Dan, na Rua Iarkon, em Tel Aviv, as principais manchetes da imprensa internacional relata-vam de forma ampla a oposição ao presidente Goulart que acabou levando ao golpe militar.
Exilado preocupado ou arquiteto hedonista, Niemeyer não desperdiçou um instante em Israel. Passeou pelo país com sua comitiva e com os acompanhantes isra-elenses, os arquitetos David Reznik*, Chaim e Monica Tibon, Aba Elchanani e outros. Mergulhou no lago de Ti-beríades e no mar Morto, admirou-se com as paisagens do Néguev, que equiparou ao solo lunar, e insistiu em ver de perto o fenômeno das cidades em desenvolvimento. Entrementes, Niemeyer planejou, em um período de no máximo seis meses, uma série de prédios, complexos, bairros, edificações públicas, ampliações de constru-ções, palacetes e uma cidade conceitual. A importân-cia destes trabalhos consiste talvez justamente no fato de que todos eles ficaram no papel e foram delineados de maneira canhestra, com jeito de artista, numa per-cepção critica do espaço ao qual fora lançado quase involuntariamente e, do ponto de vista raro do arquiteto genial, hóspede por um momento.
Niemeyer foi relevante para Israel por causa
do exotismo heróico que se agregou ao seu
nome: fazer florescer um deserto brasileiro
De Tel Aviv a Haifa, das novas cidades do deserto ao mar
Morto, a passagem do arquiteto Oscar Niemeyer por Israel
suscitou debates públicos que, por bem ou por mal,
reper-cutem hoje na verticalização das cidades israelenses.
* CONFIRA A MATÉRIA: David Reznik: Em busca de uma arquitetura israel-ense, publicada na Revista 18 – Ano IV – nº 13 – Set-Nov/2005, pg. 47-51
Oscar Niemeyer (à direita) visita David Ben-Gurion (à esquerda) no Sde-Boker College, 1964
Por Zvi Elhyani ARQUIVO ZVI
ריאמינ לש ותימדת תגצה
1999= GuimátriaA vinda de Niemeyer insuflou novas esperanças em Israel, cuja economia já estava imersa no início da pri-meira temporada de moderação de sua história. Porém, basicamente Niemeyer foi trazido a Israel para promo-ver os projetos de negócios do construtor Kassil Fe-derman, que quis alugar a fama de um dos arquitetos mais conhecidos então no mundo a fim de proporcionar um encanto arquitetônico, principalmente imobiliário--especulativo, a alguns campos atrativos que o grupo construtor de Federman tinha adquirido ao lado do Ho-tel Dan Carmel (posteriormente Central Panorama), em Haifa, e no bairro de Nordia (posteriormente Diesengoff Shopping Centre) em Tel Aviv. Nos terrenos, Federman e seus sócios planejaram construir complexos modernos que mesclariam centros de compras, edifícios residen-ciais, construções públicas e áreas municipais abertas. Os projetos de melhoramentos destes terrenos foram o motivo direto para trazer Niemeyer a Israel.
Como hóspede de Kassil Federman, Niemeyer e sua comitiva se hospedaram nos hotéis Dan em Tel Aviv e Dan Carmel em Haifa, os hotéis da bandeira, então, em Israel. Além dos aposentos que receberam, foi li-berado para eles o salão íntimo de refeições Acad no
andar intermediário do hotel em Tel Aviv, cujo parapeito da varanda, tendo como fundo a paisagem marítima, serviu de pedestal fixo para fotografar as maquetes dos projetos. Nas mesas do pequeno salão, que se trans-formaram em mesas de estúdio improvisado, Niemeyer delineou seus projetos.
Dentre os países em que Niemeyer trabalhou durante seu exílio entre os anos de 1962 a 1974, em Israel ele planejou em menos de um ano, de 1964 a 1965, o maior número de trabalhos: um centro comercial-residencial e de lazer no espaço Nordia, em Tel Aviv; um centro co-mercial-residencial e de lazer no espaço Panorama, em Haifa; um centro residencial-comercial e de hotelaria na Praça Hamediná, em Tel Aviv; o campus da Universida-de Universida-de Haifa; um prédio resiUniversida-dencial e central telefônica “Tsviat Hachen”, na esquina da Avenida Ben Tsvi e Rua King George, em Tel Aviv; um projeto conceitual de uma nova cidade no Neguev; o “Hotel Escandinávia” ao norte
de Tel Aviv; um anexo de alas para o “Hotel Rei David”, em Jerusalém; um complexo residencial em Cesárea; palacetes para a dinastia Rothschild, em Cesaréa, e para a família Federman, em Herzliya, próximos ao Hotel Acádia, de propriedade deles.
Nenhum destes foi construído segundo os projetos de Niemeyer, se é que o foi. O antagonismo da realidade de planejamento israelense não podia conter a dimensão utópica que Niemeyer anteviu para Israel, principalmente em suas grandes propostas que trataram de concentra-ção, construção para o alto e utilização mista.
O espírito de Niemeyer e o mito sobre os meses de seu trabalho em Israel voltaram à tona na última década, pa-ralelamente ao interesse crescente com o potencial de sustentação futura do espaço israelense construído. O apocalipse de nivelamento e dispersão das descrições de Niemeyer em Israel nos anos 60 ecoa nas conclusões do plano diretor “Israel 2020” e nos princípios básicos do plano do perfil atual de Israel, PDN 35, pelo qual, gra-ças ao desenvolvimento concentrado e denso do país, se procura evitar a construção de novas comunidades e o adensamento de centros urbanos existentes, dentre
outras possibilidades, pela construção até grandes altu-ras, tópicos que Niemeyer utilizou quando trabalhou em Israel em 1964.
Quarenta e cinco anos mais tarde, Israel constrói hoje mais do que nunca para o alto. Só em Tel Aviv estão sen-do erguidas 59 torres com altura superior a 100 metros, e a cidade foi classificada recentemente no quinquagé-simo lugar mundial na relação de cidades que constro-em para o alto. Muitas dezenas de torres encontram-se em fase de planejamento e licenciamento, dentre elas a metamorfose atual das torres na Praça Hamediná, que Niemeyer também planejou naquela época. Em 2009, com a entrada dos superarquitetos internacionais na linha das alturas de Israel, seria interessante voltar a convidar o mestre brasileiro, de anos contados, para retornar e projetar como grand finale o círculo vazio da Rua He Beiyar e corrigir o grande desperdício que Israel fez com relação a Niemeyer.
...admirou-se com as paisagens do Néguev
e insistiu em ver de perto o fenômeno das
cidades em desenvolvimento.
*
O livro do arquiteto e historiador Zvi Elhyani, Niemeyer
em Israel, será
lan-çado em 2011 na série Arquiteturas, da Editora Babel, em Israel
O. Niemeyer, plano para o Neguev, Israel, 1964 (maquete)
ורבדמב קפואה :םיקפוא
ןודד ףזו’ז ףסוי לש
לארשיב ריאמינ רקסוא
/ ביבא לת / ראילקס ריסאומ / דנול היטק
דועו סקרוב יטרס / עשוהי .ב .א
29 רפסמ / 8 הנש
2010 רבמצד
Casa de Cultura de Israel
10 8