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"CRESCER PARA SAIRMOS DA CRISE"

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I M P R E N S A

CONSELHO EUROPEU O PRESIDENTE

PT

Bruxelas, 26 de abril de 2012 (OR. en) EUCO 71/12 PRESSE 177 PR PCE 63

"CRESCER PARA SAIRMOS DA CRISE"

Alocução de abertura da Cimeira Europeia das Empresas

proferida pelo Presidente do Conselho Europeu,

Herman Van Rompuy

É com o maior prazer que tomo a palavra nesta Cimeira Europeia das Empresas, plataforma de intercâmbio, mas também de mudança. E a Europa precisa de mudar. Sensibilizar as pessoas para o que está em jogo será fundamental para que tenhamos êxito. Temos de adaptar os nossos modelos socioeconómicos a um mundo em rápida mutação, implicando as pessoas e a opinião pública. Os resultados das eleições e as sondagens de opinião por toda a Europa demonstram que estamos perante um enorme desafio político. Empresários ativos e os primeiros a viver estas mudanças, cabe-vos desempenhar um papel essencial: fazer passar a vossa mensagem, alimentando os debates públicos realizados nos vossos próprios países e sociedades.

O objetivo é claro e por todos partilhado: a Europa tem de continuar a ser para todos os cidadãos este continente onde dá gosto viver e trabalhar, criar riqueza e consumir. Para isso precisamos de crescer – e de crescer com "qualidade". E de um clima de diálogo social, coesão e justiça.

Enquanto empresários, as vossas necessidades também são claras. No meu entender, resumem-se a quatro: precisais de ideias, de um clima propício à inovação, especialmente na indústria; precisais de pessoas, com as mais variadas espécies de competências e capacidades; precisais de capital para financiar os vossos investimentos; e precisais também de mercados, para vender e comprar.

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Estas "quatro frentes" determinam as condições do crescimento e do emprego. E estão no cerne da estratégia europeia para o crescimento. Inovação e investigação, crédito bancário e capital de risco, mercados de trabalho, comércio internacional: apesar da crise, temos feito esforços em todas estas frentes – e assim continuaremos a fazer!

Mas há outra necessidade fundamental, a número cinco. Quando tudo corre bem, é invisível e, como tal, facilmente esquecida, mas ainda assim de importância crucial: é a estabilidade. Estabilidade política, social, económica e financeira. É condição prévia das outras quatro, base da confiança e função central dos Governos. Não se pode assegurá-la sozinho.

Desde 2008, a Europa enfrentou duas graves crises – a crise da banca e a crise da dívida soberana. Ambas poderiam ter tido efeitos incrivelmente perturbadores. Mas esses efeitos foram contidos, porque as autoridades públicas intervieram – e continuam a intervir – para proporcionar estabilidade económica. Ajudar os bancos e regular a sua atividade de forma mais eficaz, ajudar os países da área do euro com dificuldades financeiras, ajudar as

entidades patronais e os trabalhadores a superarem o período de tensão. Em suma, absorver os choques.

Este esforço vital de procura da estabilidade ofuscou, aos olhos das pessoas, o trabalho desenvolvido em prol do crescimento. Hoje em dia, o crescimento começa a protagonizar os debates que se realizam por toda a Europa, e por boas razões. De facto, nunca deles esteve ausente, só que era menos visível – foi até o tema principal do primeiríssimo Conselho Europeu por mim convocado, em fevereiro de 2010. Um ano mais tarde, tomámos decisões nos domínios da inovação e da energia. Este ano, já consagrámos duas reuniões do Conselho Europeu ao crescimento e ao emprego.

Gostaria de tecer ainda três curtas observações para traçar o pano de fundo.

Primeira: em média, a recessão com que a Europa se vê hoje confrontada é moderada, mas com grandes diferenças entre Estados-Membros. Não há risco generalizado de uma espiral deflacionista. As projeções apontam para que o PIB da área do euro registe uma contração de 0,3% em 2012, voltando a crescer no ano seguinte. Algumas economias europeias estão a crescer, tanto fora como dentro da área do euro. A estabilidade dos preços – condição para a confiança económica e política – foi assegurada.

Segunda: há que distinguir o que é estrutural do que é excecional. A crise financeira e a crise da dívida foram (e são) excecionais. Causaram dificuldades reais em certos países. Pensemos nos milhões de desempregados – homens e mulheres – na Grécia ou na Espanha. Mas a crise revelou também desafios estruturais preexistentes, que a todos nós dizem respeito. Desafios sistémicos, tanto para a União Económica e Monetária como para os países individualmente considerados. Os Estados-Membros que mais fizeram para

aumentar a sua competitividade (como a Alemanha, há dez anos atrás, e os Países Baixos e a Suécia há duas décadas) resistiram melhor à crise do que os outros.Terceira observação: atualmente, a política macroeconómica tem uma margem de manobra limitada. Durante a crise, os instrumentos orçamentais e monetários foram totalmente mobilizados.

Recentemente, o Banco Central Europeu estendeu os seus instrumentos quase até ao limite. A dívida e os níveis do défice deixam muito pouco campo de ação para o estímulo

orçamental, apesar de alguns países disporem de uma margem que permite a atuação dos estabilizadores automáticos.

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Tenho a sensação de que por vezes nos confrontamos com exigências esquizofrénicas, de pessoas a dizer-nos num dia que a falta de disciplina orçamental compromete a confiança no mercado e no dia seguinte que a consolidação orçamental mata o crescimento.

Falemos claramente: a consolidação orçamental não é um objetivo em si mesmo, é um pré--requisito para um crescimento sustentável. As reformas estruturais continuam a ser a principal alavanca à nossa disposição. Não têm, nem podem ter, efeitos imediatos, mas darão resultados visíveis ao longo do tempo e virão a criar empregos. Há que dizer a verdade: não existem fórmulas mágicas. As reformas levam tempo, tal como o seu impacto sobre o crescimento e o emprego.

Obviamente, ao falar de reformas, a nossa atenção centra-se sempre no caminho que temos pela frente. Poderá parecer escarpado, mas pensem na distância que já percorremos. Tal deverá ser um motivo de incentivo.

Foram tomadas decisões corajosas em toda a Europa. decisões que são contrárias aos interesses estabelecidos, de todos os tipos: no mundo das finanças, no setor da energia, no mercado de trabalho, nos serviços protegidos. A justiça social só será possível se os esforços e os sacrifícios forem equitativamente repartidos.

Os meus colegas Elio Di Rupo e Mario Monti acabam de vos dar alguns exemplos notáveis. Outros colegas também agarraram o touro pelos cornos. A Espanha e Portugal tornaram os seus mercados laborais mais flexíveis. A Grécia abriu 150 profissões de acesso restrito. A Finlândia e muitos outros reduziram a carga fiscal sobre o trabalho. A Polónia aligeirou a burocracia para as empresas emergentes (start-ups) e as sociedades.

Os Estados do Báltico, que se contavam entre os mais afetados de todo o mundo, tomaram medidas drásticas. Atualmente o crescimento está de volta e em parte alguma da Europa os níveis de emprego estão a crescer tão rapidamente como na Lituânia, na Letónia e na Estónia! E isto com sistemas de taxas de câmbio fixas. Pela minha parte, nunca acreditei que a saída dos problemas estruturais passasse pela desvalorização!

Boa parte deste trabalho destinado a aumentar a competitividade tem de ser efetuada por cada um dos Estados-Membros. Podemos assim aprender com a experiência uns dos outros. Todos os colegas estão agora perfeitamente conscientes de que o fracasso – ou o sucesso – de um país pode mudar as perspetivas de todos. Isto confere uma nova intensidade aos debates entre os dirigentes no Conselho Europeu. E eu considero que é meu dever, enquanto seu primeiro presidente permanente, tirar o máximo partido da continuidade que me confere o meu mandato e recordar aos meus colegas – de forma delicada mas constante – as promessas feitas por cada um e os compromissos assumidos coletivamente.

Medidas da UE para o crescimento

Do trabalho para a criação de um ambiente propício ao crescimento, há uma parte que só podemos empreender juntos, a nível da UE.

Veja-se o caso das patentes, essenciais para converter ideias em produtos. O custo de registo de uma patente na Europa é, atualmente, vinte vezes mais elevado do que nos Estados Unidos ou no Japão. Nunca estivemos tão perto de um acordo sobre a tão

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Veja-se também o trabalho da União sobre o mercado único, a nossa conquista inigualada, e sobre o comércio, com a obtenção de novos mercados externos para as nossas empresas. Desde que num contexto de condições de igualdade, o comércio internacional é um motor essencial de crescimento. O exemplo da Alemanha prova que a Europa é perfeitamente capaz de defender a sua posição como exportadora de produtos de elevada qualidade. Vamos certamente retirar enormes benefícios da abolição dos obstáculos não pautais. Disso é bom exemplo o nosso acordo com a Coreia. Esperamos que o Japão cumpra a sua anunciada intenção de abrir os seus mercados. As negociações sobre comércio com os Estados Unidos poderão vir a ter um enorme impacto, mas ainda lá não chegámos. São muitas as empresas com excelentes negócios na China, mas há ainda um vasto potencial por explorar. O comércio é uma rua de dois sentidos.

As relações a nível mundial não são só uma questão de mercado, são também uma questão de pessoas. Muitas vezes se afirma que está em curso uma "corrida mundial aos talentos" – o que é verdade, mas também pode dar uma impressão errada, a saber, que se trata de elites. Na realidade, a necessidade de competências é um problema que se coloca a todos os níveis. Há mais de dois milhões de ofertas de emprego na União. E suponho que não estamos à procura de dois milhões de Einsteins...!

Mas muito mais podemos fazer para assegurar que a nossa mão de obra continue a ser a mais qualificada do mundo. Sejamos concretos. O que podemos fazer por um jovem de 16 anos em Espanha ou na Suécia?

Primeiro: facultar formação apropriada, antes e ao longo das carreiras, em função das necessidades das nossas economias. Vencer a distância entre a sala de aula e o posto de trabalho: algo que exige esforços de ambas as partes.

Em segundo lugar, temos de tornar mais fácil o lançamento dos jovens nas suas carreiras: aprendizados, experiência de trabalho, primeiros contratos dignos desse nome. A era do "emprego para toda a vida" acabou, por isso cada um deve pelo menos obter uma primeira oportunidade justa.

Terceiro: temos de fazer com que seja mais fácil ir para os sítios onde estão os empregos. O número impressionante de ofertas de emprego, na Alemanha, no Reino Unido e alhures na Europa, revela que há efetivamente falta de mão de obra, ou pelo menos carências a nível localizado. Fazer ao trabalho o mesmo que o "Erasmus" fez aos estudos, é esse o desafio! E a Comissão mobilizou para tal os seus melhores cérebros.

Pode-se ter ideias, mercados, pessoas com qualificações – sem capital é que não se vai a lado nenhum. O financiamento é fundamental para o crescimento a longo prazo, e também a curto prazo, para evitar que se entre numa espiral descendente. A Europa pode dar um contributo decisivo nesse sentido.

O nosso trabalho em matéria de estabilidade ainda está por terminar. Como podemos ver no atual contexto do mercado da dívida, os governos, as empresas e os bancos têm cada vez mais dificuldade de acesso a financiamento fora dos seus próprios países. É uma situação muito preocupante e, a longo prazo, insustentável. Estou convicto de que temos de continuar a avançar no sentido de uma maior integração do enquadramento do setor

financeiro e do sistema orçamental da área do euro. Trata-se de passos cruciais para reforçar os alicerces da nossa moeda comum e dar aos cidadãos e aos investidores a segurança de que necessitam para o futuro.

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Mas voltemos ao crescimento. O orçamento da UE é um dos instrumentos para o

alcançarmos. Até ao final do ano definiremos o quadro financeiro da UE para 2014-2020, que, embora represente apenas cerca de 1% do nosso PIB, ascende a aproximadamente um bilião de euros para um período de sete anos e pode ter efeitos de alavancagem muito significativos: permite investimentos com um potencial de crescimento à escala europeia que de outro modo seriam simplesmente impossíveis, criando por exemplo ligações para a energia ou os transportes ou financiando ambiciosas redes digitais ou de investigação. Temos este ano um ensejo único de transformar este orçamento numa ferramenta de crescimento futuro.

Para colmatar as lacunas de financiamento deixadas pelos mercados, a União Europeia também tem o seu próprio banco de investimento: o Banco Europeu de Investimento, que é o maior banco multilateral do mundo. O grande público não o conhece muito bem, mas creio que muitos de vós o conhecem perfeitamente: o BEI empresta diretamente às

maiores empresas, e ajuda os bancos a conceder empréstimos às mais pequenas. Participou no desenvolvimento de importantes projetos de infraestruturas, como centrais eólicas ou estações de energia solar.

Durante a crise, no momento em que os bancos se atemorizaram e o mercado recuou, o BEI aumentou substancialmente a sua parada, garantindo que determinados projetos cruciais continuassem a receber o financiamento necessário. Neste momento, sem capital novo, em breve o Banco se veria forçado a reduzir a dimensão das suas intervenções. É certo que para obter capital novo é necessário recorrer aos governos e contribuintes europeus. Mas há bons argumentos a favor desta ideia.

Não deveríamos, então, refletir sobre a forma como o BEI pode alargar o seu papel nas situações em que se torna mais necessário? Parece-me que sim.

Com um aumento de capital de 10 mil milhões, poderíamos aumentar a capacidade de empréstimo global do Banco em 60 mil milhões de novos empréstimos nos próximos três anos, a fim de apoiar novos investimentos até 180 mil milhões de euros. Este apoio é essencial para que os países e as empresas vençam a crise pelo crescimento!

Concluindo: o que está em jogo é, obviamente, crucial. A Europa precisa de crescimento económico estrutural, e podemos consegui-lo. Repito: as reformas levam o seu tempo. É essa a nossa maior prioridade, enquanto dirigentes europeus, e para isso estamos a desenvolver uma estreita colaboração. Voltaremos a reunir-nos em junho, no Conselho Europeu, a fim de tomar decisões importantes. Não excluo a possibilidade de convocar os dirigentes para um jantar informal prévio em que possamos trocar abertamente opiniões sobre a melhor forma de preparar os temas de junho.

Temos que nos empenhar no combate de ideias. Consolidação orçamental não é apenas austeridade momentânea. Significa também investir no futuro. É fazer as escolhas certas, com os olhos no futuro. Os cortes e os impostos têm de ser justos. Até uma política de crescimento implica opções e sacrifícios, mas estes não devem ser suportados por um só grupo social ou geração. Alguns criam a impressão (ou a ilusão) de que é fácil conduzir

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Como disse de início, também vós, empresários, deveis fazer ouvir a vossa voz neste debate sobre o futuro da Europa. Precisamos de um discurso positivo sobre a Europa. Basta de críticas. Basta de medos. Precisamos de um discurso de esperança. Se defenderdes a causa da mudança com toda a vossa energia, encontrareis aliados inesperados – não só nos círculos habituais da administração pública ou dos negócios, mas também entre os

trabalhadores, os jovens, os desempregados. A esperança é uma ideia atraente. Somos capazes de forjar a mudança. Já o fizemos antes. Somos nós os donos do nosso futuro.

Referências

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