• Nenhum resultado encontrado

Literatura negra nos Estados Unidos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Literatura negra nos Estados Unidos"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

LITERATURA NEGRA NOS ESTADOS UNIDOS da "plantation" ao gueto, resistência e criação

Alvaro L. Hattnher

A trajetória d a l i t e r a t u r a n e g r a n o r t e a m e -r i c a n a , e n t e n d i d a como a q u e l a p o -r a u t o -r e s ne-g r o s( 1 ), d e f i n e - s e b a s i c a m e n t e e n t r e d o i s p o l o s históricos: a p l a n t a t i o n e o g u e t o . E n t r e e s t e s s i t u a - s e um p o n t o de e x t r e m a importância p a r a a compreensão não só da produção literária ne-g r a n o s EUA mas também de t o d a a história do país: a G u e r r a C i v i l ( 1 8 6 1 - 1 8 6 5 ) . E s t e c o n f l i t o r e p r e s e n t a e f e t i v a m e n t e o m a r c o i n i c i a l d a história n o r t e a m e r i c a n a . E a questão d a e s c r a v a t u r a , e p o r extensão o s p r o b l e m a s d o n e g r o , a f i g u -r a - s e como uma d e s u a s c a u s a s m e n o -r e s . A G u e r r a C i v i l c o n s t i t u i o momento de r e s o -lução de um p r o c e s s o de tensão com a própria colonização d o país. Resolução e s t a q u e s e f a z p e l a integração d o p o l o agrícola e d o p o l o s e m i -i n d u s t r -i a l -i z a d o , p e l a d e r r o t a ( p a r c -i a l ) d a

men-(1) S o b r e a questão específica da adequação do t e r m o " l i t e r a t u r a n e g r a " , c o n s u l t a r BERND, Z. - Introdução à l i t e r a t u r a n e g r a . São P a u l o : B r a s i l i e n s e , 1 9 8 8 .

(2)

t a l i d a d e aristocrática s u l i s t a d i a n t e d a m e n t a l i d a d e c a p i t a l i s t a i n d u s t r i a l d o n o r t e , p e l a v i -tória d o p r o t e c i o n i s m o s o b r e o l a i s s e z - f a i r e . É também a G u e r r a C i v i l q u e i n i c i a o pro-c e s s o de mudança d o l o pro-c u s de inserção s o pro-c i a l d o n e g r o n o r t e - a m e r i c a n o , d a p l a n t a t i o n p a r a o s g u e t o s u r b a n o s , mudança q u e v a i s e c o n s o l i d a r com o s g r a n d e s m o v i m e n t o s migratórios n o f i m d o século X I X e início d o século XX e q u e a c a r r e t a i m p o r t a n t e s transformações n a s relações e n t r e o homem n e g r o n o r t e - a m e r i c a n o e o a m b i e n t e sócio-c u l t u r a l que o r o d e i a .

P o r t a n t o , podemos u t i l i z a r a g u e r r a c i v i l como um d e m a r c a d o r cronológico q u e d i v i d i r i a a evolução d a criação literária n e g r a n o s E s t a d o s U n i d o s em d o i s m o m e n t o s : o momento de inserção do n e g r o no r e g i m e de p l a n t a t i o n , em que o ho-mem está s o c i a l m e n t e p o s i c i o n a d o n a condição d e e s c r a v o , e o momento de inserção do n e g r o no g u e t o , o n d e a a n t i g a condição d e e s c r a v o a d q u i -r e n o v a s -r o u p a g e n s e a e s t a b i l i d a d e n a e s c a l a s o c i a l d e t e r m i n a d a p e l a escravidão t r a n s f o r m a -s e e m m a r g i n a l i d a d e . T o m a n d o s e o a n o d e 1619 como m a r c o i n i -c i a l d a presença n e g r a n o s E s t a d o s U n i d o s , e p e r c o r r e n d o - s e uma l i n h a cronológica até o f i m d a G u e r r a C i v i l , t e m o s q u a s e d o i s séculos e

(3)

m e i o d e experiência d a escravidão. É e s s a e x p e riência q u e v a i d e t e r m i n a r a s p r i m e i r a s m a n i f e s tações d e uma criação artística n e g r a n o s E s t a -d o s U n i -d o s . I s s o s e comprova, p o r e x e m p l o , com a s p r i m e i r a s f o r m a s m u s i c a i s a f r o - a m e r i c a n a s , t a i s como a s worksongs e o s s p i r i t u a l s .

Mas a s p r i m e i r a s manifestações literárias n e g r a s n o s E s t a d o s U n i d o s p o u c o o u n a d a t i v e r a m a v e r com o s s p i r i t u a l s . E m b o r a a experiência d a escravidão d e t e r m i n a s s e o s t e m a s d a m a i o r p a r t e d a produção literária n e g r a até a G u e r r a C i v i l , não podemos f a l a r em uma "estética a f r o -a m e r i c -a n -a " p r o p r i -a m e n t e d i t -a , um-a v e z q u e , d o p o n t o de v i s t a f o r m a l , t o d a s a s manifestações literárias d o período p a u t a m - s e p e l o s cânones estéticos e u r o p e u s .

A s s i m , A N a r r a t i v e o f t h e Uncommon S u f f e r i n g s a n d S u r p r i s i n g D e l i v e r a n c e o f B r i t o n Hammon, a N e g r o Man ("Um R e l a t o d o s Notáveis So-f r i m e n t o s e d a S u r p r e e n d e n t e Libertação d e B r i t o n Hammon, Homem N e g r o " ) , p o s s i v e l m e n t e o p r i m e i r o t e x t o d e um homem n e g r o p u b l i c a d o n o s EUA ( B o s t o n , 1760) , nada, m a i s é do que um r e l a t o d e a v e n t u r a s , e s t e t i c a m e n t e m o l d a d o p e l o p a -drão d o s r e l a t o s d e v i a g e m e d e descrição, bast a n bast e comuns n o s primórdios d a l i bast e r a bast u r a n o r -t e - a m e r i c a n a .

(4)

N a v e r d a d e , o s m o d e l o s f o r m a i s d a criação literária n e g r a e s t a v a m s u j e i t o s a o código de v a l o r e s do público l e i t o r b r a n c o , do q u a l o s e s c r i t o r e s n e g r o s d e p e n d i a m , o que e x p l i c a a presença maciça de estereótipos c u l t u r a i s n o s p r i m e i r o s t e x t o s d e s s e s a u t o r e s . A introjeção d e s s e s estereótipos p o d e s e r p e r c e b i d a n a o b r a d e P h i l l y s W h e a t l e y ( 1 7 5 4 1 7 8 4 ) , p r o v a v e l m e n t e a p r i m e i r a p o e t a n e g r a n o r -t e - a m e r i c a n a . V e n d i d a com s e -t e a n o s d e i d a d e a J o h n W h e a t l e y , r e c e b e u educação r e l i g i o s a , a p r e n d e u a l e r e , além d a Bíblia, t e v e c o n t a t o com a l i t e r a t u r a i n g l e s a e a m i t o l o g i a clássi-c a , t e n d o clássi-c o n s e g u i d o p u b l i clássi-c a r e m 1770 o l i v r o Poems o n V a r i o u s S u b j e c t s , R e l i g i o u s a n d M o r a l . A p o e s i a de W h e a t l e y está l i g a d a à t r a d i -ção literária i n g l e s a , em e s p e c i a l a A l e x a n d e r P o p e , mas também a c o m p a n h a as tendências do iní-c i o d a evolução d a l i t e r a t u r a n o r t e - a m e r i iní-c a n a , q u a n d o o caráter didático é a m a r c a p r e d o m i n a n -te da produção li-terária, e o t e x t o poético e a pregação p u r i t a n a f u n d e m s e em um único d i s c u r -s o . W h e a t l e y a i n d a vê a -s i me-sma e a o -s o u t r o -s n e g r o s p e l a ótica e s t e r e o t i p a d a d a civilização b r a n c a , c o n s i d e r a n d o o c r i s t i a n i s m o , u m d o s s u s tentáculos ideológicos da escravidão, como um v e r d a d e i r o benefício. A l e i t u r a de "On B e i n g

(5)

B r o u g h t f r o m A f r i c a t o A m e r i c a "( 2 ) , u m d e s e u s

poemas m a i s f a m o s o s , pode c o n f i r m a r o e x p o s t o :

"Twas mercy brought me from my Pagan land Taught my benighted s o u l to understand

That there's a God, that there's a Saviour too: Once I redemption n e i t h e r sought nor knew. Some view our sable race with s c o r n f u l eye, "Their c o l o r i s a d i a b o l i c d i e " .

Remember, C h r i s t i a n s , Negrões, black as Cain, May be r e f i n ' d , and j o i n th' angelic t r a i n .

S e W h e a t l e y não p o d e s e r l e m b r a d a como p o e t i s a d e f o r m a s próprias, e m u i t o menos como p o r

-t a - v o z d e u m p r o -t e s -t o n e g r o , a q u a l i d a d e d e s e u s v e r s o s destrói a f a l s a e a b s u r d a idéia de uma relação entre cor da pele e excelência da

criação literária(3). ( 2 ) I n : L O N G , R . A . e C O L L I E R , E . W . ( e d s . ) -A f r o - a m e r i c a n w r i t i n g : a n a n t h o l o g y o f p r o s e a n d p o e t r y . N e w Y o r k : N e w Y o r k U n i v e r -s i t y P r e -s -s , 1 9 7 2 . p . 1 8 . ( 3 ) H A S L A M , G e r a l d W . - " T h e a w a k e n i n g o f a m e r i c a n n e g r o l i t e r a t u r e : 1 6 1 9 - 1 9 0 0 " . I n : B I G S B Y , C . W . E . ( e d . ) - T h e b l a c k a m e r i c a n w r i t e r : p o e t r y a n d d r a m a . B a l t i m o r e : P e l i c a n B o o k s , 1 9 7 1 . p . 4 1 - 5 1 .

(6)

O m o v i m e n t o a b o l i c i o n i s t a i n i c i a d o no sécu-l o X V I I I e a pubsécu-licação d o p r i m e i r o j o r n a sécu-l neg r o n o s EUA e m 1 8 2 7 , o " F r e e d o m ' s J o u r n a l " , e s t i m u l a r a m o s u r g i m e n t o d e uma l i t e r a t u r a d e p r o -t e s -t o e de d i v e r s o s a u -t o r e s como W i l l i a m W e l l s B r o w n ( 1 8 1 6 - 1 8 6 4 ) , D a v i d W a l k e r ( 1 7 8 5 - 1 8 3 0 ) , S a m u e l Ward ( 1 8 1 7 - 1 8 6 4 ) , e n t r e o u t r o s . S e B r o w n p o d e s e r c o n s i d e r a d o o p r i m e i r o r o m a n c i s t a e d r a m a t u r g o n e g r o , é F r e d e r i c k D o u g l a s s ( 1 8 1 7 - 1 8 9 5 ) a f i g u r a de m a i o r importânc i a do período. A u t o r de três d i f e r e n t e s a u t o -b i o g r a f i a s ( N a r r a t i v e o f t h e L i f e o f F r e d e r i c k D o u g l a s s ( 1 8 4 5 ) , "My B o n d a g e a n d M y F r e e d o m " (1855) e L i f e a n d t i m e s o f F r e d e r i c k D o u g l a s s ( 1 8 8 1 - 1 8 9 2 ) , e d i t o r d e u m j o r n a l a b o l i c i o n i s t a , o " N o r t h S t a r " (de 1847 a 1 8 6 0 ) , e x - e s c r a v o ( t e n d o f u g i d o d e M a r y l a n d p a r a N o v a Y o r k e m 1 8 3 8 ) , D o u g l a s s é u m d o s e x p o e n t e s d o m o v i m e n t o a b o l i c i o n i s t a n o r t e a m e r i c a n o e u m d o s p r e c u r s o -r e s de W.E.B. D u B o i s ao d e f e n d e -r a idéia de q u e a libertação d o p o v o n e g r o s e d a r i a p e l a ação política e não p o r mudanças de c o m p o r t a m e n t o .

E x c e l e n t e o r a d o r , c o n v i d a d o a f a z e r u m d i s -c u r s o d u r a n t e a s -comemorações d o 4 de j u l h o em 1 8 5 2 , D o u g l a s s expõe, p o r m e i o d e p e r g u n t a s r e tóricas, o s i g n i f i c a d o d a independência n o r t e -a m e r i c -a n -a p -a r -a o s n e g r o s d i -a n t e d e um-a pl-atéi-a

(7)

(4) T r a d u z i m o s o t r e c h o a que s e r e f e r e HASLAM, o p . c i t . , p . 4 6 - 7 .

p r e d o m i n a n t e m e n t e b r a n c a :

P o r q u e f u i c h a m a d o p a r a f a l a r a q u i h o j e ? O q u e t e n h o e u , o u a q u e l e s a quem r e p r e s e n t o , a v e r com s u a

independência n a c i o n a l ? Será q u e o s g r a n d e s princípios d e l i b e r d a d e política e d e justiça v e r d a d e i r a incluídos n a D e c l a r a ç ã o d e I n d e p e n d ê n c i a e s t e n d e m - s e a nós? (...) O q u e é , p a r a o e s c r a v o a m e r i c a n o , o Q u a t r o d e J u l h o ? E u r e s p o n d o : é o d i a q u e l h e r e v e l a , m a i s d o q u e t o d o s o s o u t r o s d i a s d o a n o , a s injustiças e c r u e l d a d e s b r u t a i s d a s q u a i s é uma v í t i m a c o n s t a n t e .( 4 ) Como já d i s s e m o s , o f i m d a G u e r r a C i v i l m a r c a o início d a história d o s E s t a d o s U n i d o s . Mas a b o l i d a a escravidão, e s t o p i m menor d a g u e r -r a , a b a t a l h a d o homem n e g -r o muda de campo, t r a n s f e r i n d o - s e d a p l a n t a t i o n p a r a o s g u e t o s . O g r a n d e f l u x o migratório de populações n e g r a s e m direção a o s c e n t r o s u r b a n o s que o c o r r e n a s últimas três décadas do século 19 d e s e n c a d e i a um p r o c e s s o de b u s c a de expressão própria, de i d e n t i d a d e , d e auto-afirmação. E s s a é a p r o p o s t a de W.E.B. D u B o i s (1868-1 9 6 3 ) , sociólogo, h i s t o r i a d o r , j o r n a l i s t a , lí-d e r n e g r o , um lí-d o s f u n lí-d a lí-d o r e s lí-d a NAACP ( N a t i o n a l A s s o c i a t i o n f o r t h e A d v a n c e m e n t o f C o l o r e d P e o p l e ) e u m d o s p r e c u r s o r e s d o p a n a f r i c a n i s

(8)

a idéia d e q u e todos os povos de ascendência a f r i -t i n h a m i n -t e r e s s e s comuns e d e v e r i a m a -t u a r o s n a l u t a p o r s u a l i b e r d a d e( 5 ) . D u B o i s

t a e m direção à África p a r a b u s c a r raízes rança, a p o i a n d o a l u t a do c o n t i n e n t e afri-c a n o afri-c o n t r a o afri-c o l o n i a l i s m o . A p a r t i r d a s posições de D u B o i s , e de ou-tros a u t o r e s como P a u l D u n b a r e A l a i n L o c k e , a c e r c a d a s questões d e i d e n t i d a d e e d e a f i r m a -ç ã o d e v a l o r e s n e g r o s , s u r g e a "Renascen-ça d o H a l e m " . E s s e m o v i m e n t o , s u r g i d o n a década d e 20 no b a i r r o n o v a i o r q u i n o , a f i g u r a - s e como um " i r m ã o não m a i s v e l h o " d a N e g r i t u d e d e A i m é Césaire, Léopold S e d a r S e n g h o r e o u t r o s i n t e l e c -tuais l i g a d o s às r e v i s t a s L e g i t i m e Défense e E t u i a n t N o i r ( 6 ). A Renascença do H a r l e m c a t a l i z a a b u s c a e a d e s c o b e r t a de f o r m a s de expressão não v i n c u -( 5 ) P a r a u m p a n o r a m a m a i s a m p l o s o b r e o moviment o , c o n s u l moviment a r DECRAENE, P. O p a n a f r i c a -n i s m o . T r a d . Octávio M e -n d e s C a j a d o . São P a u l o : Difusão Européia do L i v r o , 1 9 6 2 . (6) O p e q u e n o l i v r o de Zilá B e r n d , O q u e é neg r i t u d e (São P a u l o : B r a s i l i e n s e , 1 9 8 8 ) , p o -d e s e r uma b o a intro-dução a o e s t u -d o -d e u m t e m a tão polémico q u a n t o o d a N e g r i t u d e .

(9)

l a d a s a o s m o d e l o s estéticos e x i s t e n t e s , b r a n c o s e o c i d e n t a i s . A tradição o r a l a f r i c a n a e a p r e sença de uma visão de mundo contrária a o s e s t e -reótipos v i g e n t e s m a r c a m , e n t r e o u t r o s f a t o r e s , o caráter d e s s e m o v i m e n t o , que a g r u p o u e s c r i t o r e s , músicos, p i n t o r e s e u m g r a n d e público, n e -g r o e b r a n c o . N e s s e cenário d e s t a c a - s e a f i g u r a d e L a n g s t o n Hughes ( 1 9 0 2 1 9 6 7 ) , p r i m e i r o ( e p r o v a -v e l m e n t e único) e s c r i t o r n e g r o n o r t e - a m e r i c a n o a s o b r e v i v e r a p e n a s com o s g a n h o s d e s u a c a r r e i -r a lite-rá-ria. A p o e s i a de H u g h e s é uma praça p a r a o n d e c o n v e r g e m d i v e r s a s v i a s : o l i r i s m o , a denúncia, a a m a r g u r a , o o r g u l h o r a c i a l , a miséria (humana e s o c i a l ) , a s e n s u a l i d a d e , a i r o n i a e até mesmo o humor. A c r e s c e n t e s e a i s s o u m t r a b a l h o f o r -m a l p r o f u n d a -m e n t e i n f l u e n c i a d o p e l a s e s t r u t u r a s m u s i c a i s a f r o - a m e r i c a n a s como o s b l u e s e uma c e r t a vinculação a o f l u x o d a tradição literária n o r t e - a m e r i c a n a , v i a W a l t W h i t m a n , e t e m - s e u m pálido r e t r a t o d e s s e q u e p o d e s e r c o n s i d e r a d o o m a i s i m p o r t a n t e p o e t a n e g r o d o s E s t a d o s U n i d o s . É d e H u g h e s u m d o s m e l h o r e s r e t r a t o s poéti-c o s d a questão n e g r a n o r t e - a m e r i poéti-c a n a , o poema

(10)

" H a r l e m " ( 7 )

What happens to a dream d e f e r r e d ? O que a c o n t e c e com um sonho a d i a d o ?

Does i t d r y u p l i k e a r a i s i n i n t h e sun? O r f e s t e r l i k e a s o r e -And t h e n r u n ? Does i t s t i n k r o t t e n meat? Or c r u s t and s u g a r o v e r -l i k e a s y r u p y sweet? Maybe i t j u s t sags l i k e a heavy l o a d . Or does it explode? E l e s e c a

Como uma uva ao s o l ? O u a p o d r e c e q u a l f e r i d a que v a z a ?

E l e f e d e como c a r n e p o d r e ? Ou e n c r o s t a e açucara como doce melado?

T a l v e z e l e apenas a f u n d e Como um p a c o t e p e s a d o . Ou e l e explode? Hughes d e i x a d e s e r a p e n a s u m " p o e t a n e -g r o " p a r a a t i n -g i r o u n i v e r s a l em poemas como " S u i c i d e ' s N o t e " , o n d e a f o r m a telegráfica l e m -b r a a l g u m a s d a s criações d e E m i l y D i c k s o n : The c a l m , O calmo C o o l f a c e o f t h e r i v e r e tranqüilo r o s t o do r i o Asked me f o r a k i s s Pediu-me um beijo.

Ou q u a n d o , a o p e n s a r p o e t i c a m e n t e o p a r t i -c u l a r , d e s -c r e v e uma -c e n a -comum ao -c o t i d i a n o de t r a b a l h a d o r e s n e g r o s e b r a n c o s e m "Subway R u s h H o u r " ( H o r a d o R u s h n o M e t r ô ) : (7) E s t e poema e o s s e g u i n t e s f o r a m t r a d u z i d o s a p a r t i r d a s versões c o n t i d a s em HUGHES,

(11)

M i n g l e d b r e a t h and s m e l l s o c l o s e m i n g l e d b l a c k and w h i t e so n e a r no room f o r n e a r M i s t u r a d o s b a f o s e c h e i r o s tão j u n t o s m i s t u r a d o s n e g r o s e b r a n c o s tão p e r t o

sem espaço p r o medo

Mas se por um l a d o a e u f o r i a c r i a t i v a da

Renascença do H a r l e m a b r i g a a u t o r e s como Hughes,

C l a u d e McKay e J e a n Toomer, a c r i s e de 1929 v a i

aguçar os p r o b l e m a s s o c i a i s dos n e g r o s e o

ra-c i s m o dos b r a n ra-c o s .

As imagens e p r o b l e m a s c o n c r e t o s d e r i v a d o s

d a c r i s e vão s e r r e t r a t a d o s m a g n i f i c a m e n t e por

R i c h a r d W r i g h t em N a t i v e Son (1940) , que

pode-mos c o n s i d e r a r a c o n t r a p a r t i d a u r b a n a dos

ro-mances s o c i a i s de J o h n S t e i n b e c k , em e s p e c i a l

The Grapes of Wrath e Of M i c e and Man,

marcar-do um p o n t o de confluência e n t r e a u t o r e s n e g r o s

e b r a n c o s e mais uma vez i n t e g r a n d o a e s p e c i f i

c i d a d e d a l i t e r a t u r a n e g r a a o f l u x o d a l i t e r a t u

-ra n o r t e - a m e r i c a n a como um t o d o .

W r i g h t é tão i m p o r t a n t e p a r a a l i t e r a t u r a

n e g r a dos EUA na década de 40 q u a n t o serão

R a l p h E l l i s o n ( a u t o r d o The I n v i s i b l e Man) n a

década de 50 e James B a l d w i n na de 60.

O p r o t e s t o e a denúncia c o n t r a o r a c i s m o

c o n t i n u a m sendo o b j e t i v o s d a p o e s i a n e g r a n o r

(12)

t e a m e r i c a n a , em e s p e c i a l n a década de 6 0 , q u a n -d o e s s e s t e m a s estarão a r t i c u l a -d o s -d i r e t a m e n t e com o momento histórico v i v i d o p e l o s p o e t a s . Ve-j a - s e , p o r e x e m p l o , o poema " V i e t n a m n . 4"(8), d e C l a r e n c e M a j o r : a c a t s a i d o n the c o r n e r the o t h e r day d i g mau

how come so many o f us n i g g e r s a r e d y i n g o v e r t h e r e i n t h a t w h i t e man's war um n e g r o d i s s e numa e s q u i n a n o u t r o d i a s a c a , c a r a como pode t a n t o s de nós n e g r o s 'tarem morrendo lá n a q u e l a g u e r r a do homem b r a n c o t h e y say more of us a r e d y i n g t h a n t h e n peckerwoods and i t j u s t d o n ' t make s e n s e dizem que tá morrendo mais gente n o s s a do que a q u e l e s c h i n a e i s s o num f a z s e n t i d o u n l e s s i t ' s t r u e t h a t t h e honkeys só se f o r v e r d a d e que os b r a n q u e l o ( 8 ) T r a d u z i d o d a v e r s ã o p u b l i c a d a em C H A P M A N , A . ( e d . ) - New b l a c k v o i c e s - a n a n t h o l o g y o f c o n t e m p o r a r y a f r o - a m e r i c a n l i t e r a t u r e . New J e r s e y : New A m e r i c a n L i b r a r y , 1 9 7 2 . p . 2 9 9 .

(13)

a r e t r y i n g t o k i l l us o u t t ã o t e n t a n d o m a t á a g e n t e w i t h t h e same s t o n e cora a mesma pedra

t h e y k i l l i n g them o t h e r c a t s que visam p r a matá w i t h a q u e l e s c a r a

you know, he s a i d , sabe como é, d i s s e e l e ,

two b i r d s w i t h on s t o n e d o i s pássaros com uma p e d r a só.

H o j e , a l i t e r a t u r a n e g r a n o s EUA v o l t a a o tema d a escravidão. A u t o r e s como A l i c e W a l k e r e T o n i M o r r i s o n vão b u s c a r n o s r e l a t o s d e e s c r a v o s a e s p e c i f i c i d a d e d a experiência n e g r a n o r t e a m e r i c a n a . F e c h a s e u m c i c l o : m a i s d e t r e z e n -t o s a n o s de expressão li-terária. Um razoável número d e a u t o r e s f o r a m c a n o n i z a d o s , o u t r o s são d e s c o n h e c i d o s até p a r a o público l e i t o r n e g r o . A l i t e r a t u r a n e g r a n o r t e a m e r i c a n a , e n -q u a n t o afirmação de i d e n t i d a d e c u l t u r a l , é exem-p l o exem-p e r f e i t o de uma l i t e r a t u r a de resistência. Resistência a q u i s i g n i f i c a n d o a l u t a p e l a i n v e r são d o v a l o r d e s i g n o s m a r c a d o s p e l o p r e c o n c e i -t o . S i g n i f i c a n d o -também a sobrevivência no am-b i e n t e h o s t i l de uma estética autoritária e ra-c i s t a . A existênra-cia d e s s a l i t e r a t u r a é a p r o v a

inquestionával de q u e resistência, em q u a l q u e r acepção ou c o n t e x t o , é sinônimo de criação.

Referências

Documentos relacionados

Na segunda etapa, a ˆ enfase estar´ a no estudo do problema do isomorfismo propriamente dito, onde primeiramente ser´ a analisado seu estado da arte (defini¸ c˜ oes, aplica¸ c˜

In this work we present expansions of intersection local times of fractional Brownian motions in R d , for any dimension d ≥ 1, with arbitrary Hurst coefficients in (0, 1) d..

Dentre esses meios públicos de atuação destacam-se aqueles decorrentes do cumprimento da missão constitucional dos órgãos de controle, em especial dos Tribunais de Contas, que devem

Arrisco  afirmar,  contudo,  ser  no  nível  médio  de  ensino  que  as  competências  são  definidas  mais  claramente  como  princípios organizadores 

(MARTINS, 2011). Nessa dissertação, estudamos as gêneses de um curso do programa de aprendizagem sobre Cultivo de Macieira, em que muitos jovens do município participaram.

32 — Nas vendas efetuadas por quem não exerça habitualmente a mercância o imposto será pago por verba, mediante requerimento do interessado dirigido á

A figura 14 demonstra mais uma vez grande semelhança nas transformações estruturais das diversas mesorregiões do estado, sendo a região que menos apresentou mudanças foi

We describe a case series of 28 patients older than 18 years old identified as presenting a bloodstream and/ or sterile site acquired infection caused by ColRKP at the Hospital