• Nenhum resultado encontrado

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA"

Copied!
106
0
0

Texto

(1)

PATRÍCIA MARTINS MAFRA

Angola e Brasil – Poder e Discurso Político

A constituição do

ethos

discursivo dos presidentes de Angola e do Brasil

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

(2)

Angola e Brasil – Poder e Discurso Político

A constituição do

ethos

discursivo dos presidentes de Angola e do Brasil

MESTRADO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Dissertação apresentada à Banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa, sob a orientação da Professora Dra. Neusa Maria Oliveira Barbosa Bastos

(3)

________________________________________________

________________________________________________

(4)

Título: Angola e Brasil – Poder e Discurso Político.

A constituição do ethos discursivo dos presidentes de Angola e do Brasil

RESUMO

Busca-se, nesta pesquisa, com base na teoria da Análise do Discurso (AD) de linha francesa e o direcionamento da semiolinguística, com observação da pesquisa de Maingueneau (2008) e Charaudeau (2008), analisar a constituição do ethos discursivo dos pronunciamentos presidenciais dos países lusófonos Angola e Brasil, da década de 1990. Especificamente, os corpora da pesquisa são constituídos pelo pronunciamento do Senhor José Eduardo dos Santos, Presidente da República de Angola, na assinatura do Acordo de Lusaka, em 1994 e pelo pronunciamento do Senhor Fernando Collor de Mello, Presidente da República Federativa do Brasil, na cerimônia de posse no Congresso Nacional, em 1990. Para tanto, essa análise visa à identificação de semelhanças e de diferenças da constituição do ethos dos referidos discursos, a partir do contexto histórico e situacional, dos procedimentos linguísticos e das representações sociais acerca da legitimidade, por meio de eleições democráticas, da credibilidade e da identificação do sujeito político. Os resultados apontam que há semelhanças e diferenças na construção do ethos discursivo dos corpora em questão, e que as mesmas assinalam diferentes efeitos de sentido nos coenunciadores.

(5)

The constitution of the discursive ethos of the presidents of Angola and Brazil

ABSTRACT

The objective, in this research, based on the discourse analysis (DA) of French line and the directions of the semiolinguistic with observation of the research of Maingueneau (2008) and Charaudeau (2008), is to analyze the constitution of the discursive ethos of presidential pronouncements of lusophone countries Angola and Brazil, in the 1990s. Specifically, the corpuses of the research are constituted by Mr. José Eduardo dos Santos pronouncement, President of the Republic of Angola, the signing of Lusaka’s agreement, in 1994 and the pronouncement of Mr. Fernando Collor de Mello, President of the Federative Republic of Brazil, the swearing in ceremony of National Congress, in 1990. Therefore, this analysis aims to identify similarities and differences of the constitution of the ethos of already mentioned discourse, from the historical and situational context, the linguistic processes and social representations concerning legitimacy, through democratic elections, the credibility and identification of the political subject. The results show that there are similarities and differences in the construction of discursive ethos of the corpuses in question, and they point out different effects of meaning in the co-enunciators.

(6)

A realização deste trabalho só foi possível graças à colaboração direta ou indireta de muitas pessoas, às quais manifesto minha sincera gratidão. Algumas delas, entretanto, foram fundamentais para que o sonho de mestrado fosse concretizado na presente dissertação. Dessa forma, agradeço particularmente:

Ao meu pai, aos meus filhos e à minha neta, que sempre me ofereceram amor, compreenderam a importância do mestrado para minha formação e, assim, apoiaram minhas decisões e incentivaram as minhas iniciativas;

À minha amiga Andrea Coccaro, pelo incentivo para a realização desse sonho e por seu companheirismo nas horas de estudo;

Aos Professores do Programa de Pós-Graduação de Língua Portuguesa que, em suas disciplinas, abriram espaço para a discussão de questões relevantes, aqui desenvolvidas;

Aos Professores da Banca Examinadora: Dr. Carlos Augusto Baptista de Andrade e Dr. Jarbas Vargas Nascimento, que gentilmente aceitaram o convite para participar dessa Banca.

Agradeço, especialmente, à minha orientadora Professora Dra. Neusa Maria Oliveira Barbosa Bastos, pela dedicação, pelo apoio e pelo direcionamento, que certamente foram fundamentais para desenvolvimento deste trabalho.

(7)

Introdução... 01

CAPÍTULO I CONTEXTUALIZAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA: ANGOLA E BRASIL. 04 1.1 Angola: colonização perversa – da chegada do colonizador à independência 04 1.2 Angola: heranças do colonizador e a busca da democracia... 09

1.3 Brasil: escambo e escravidão – da chegada do colonizador à independência 12 1.4 Brasil: os movimentos republicanos e a busca da democracia... 17

CAPÍTULO II A ANÁLISE DO ETHOS NO DISCURSO POLÍTICO... 22

2.1 O discurso político... 22

2.1.1 A imagem de dominação: da legitimação à soberania... 26

2.2 O ethos... 28

2.2.1 O ethos e os procedimentos enunciativos... 31

2.2.2 O ethos político... 33

2.3 A representação social na construção do ethos... 37

2.3.1 A imagem da função pública: ethos de credibilidade... 42

2.3.2 A imagem sobre o referente: ethos de identificação... 43

2.4 O imaginário sociodiscursivo no âmbito político... 44

CAPÍTULO III ANÁLISE DOS CORPORA DE REFERÊNCIA DA PESQUISA... 48

3.3 Semelhanças e diferenças na constituição do ethos discursivo dos pronunciamentos presidenciais de Angola e do Brasil... 0 71

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 81

REFERÊNCIAS ... 83

ANEXOS... 86

3.1 Análise do discurso do Presidente da República de Angola ... 48

3.1.1 A imagem de dominação: da legitimação à soberania...0 49 3.1.2 A imagem da função pública: ethos de credibilidade...O 51 3.1.3 A imagem sobre o referente: ethos de identificação... 52

3.2 Análise do discurso do Presidente da República do Brasil ...0 55 3.2.1 A imagem de dominação: da legitimação à soberania. ...0 55 3.2.2 A imagem da função pública: ethos de credibilidade... 59

(8)

O tema deste trabalho diz respeito a momentos políticos de transição

ocorridos nos países lusófonos, Angola e Brasil, respectivamente, na década

de 90, expressos em discursos presidenciais.

Angola e Brasil têm um passado em comum e trazem semelhanças

resultantes das ações do período da colonização portuguesa. Dentre essas

podemos citar a língua portuguesa como elemento unificador, o sacrifício e a

escravidão imposta aos seus nativos por lucros financeiros, a fim de sustentar

a metrópole colonizadora e as várias intervenções de outros países por

interesses comerciais. Além disso, o tráfico de escravos angolanos para o

Brasil aproximou esses dois países, já que descendentes africanos passaram a

constituir grande parte dos brasileiros. Em relação à chegada de angolanos

em terras brasileiras, discorre Andrade (1996, p.4), “[...] o Brasil recebeu uma

grande influência africana, em grande parte, ainda conservada”.

De acordo com Menezes (2000), deve-se levar em conta que o período

da colonização portuguesa, apesar de ter deixado como herança o atraso

econômico e social em Angola e no Brasil, legou similar identificação a esses

dois países ao impor a língua portuguesa, tendo em vista ser o aspecto

linguístico o elemento fundador do discurso e criador de uma consciência

verbal, capaz de unir cada indivíduo aos membros de seu grupo social (KOCH,

2007). Dessa forma, o discurso, intimamente vinculado à produção de uma

identidade é o instrumento primordial e marcante na busca da dignidade do

povo angolano e do povo brasileiro, no referido momento histórico.

De um lado Angola: colonizada e subjugada até 1975, vivendo uma

severa crise econômica e social e em busca de um entendimento entre

instituições e tribos, para que se configurassem a instância política e a

instância cidadã, a partir da pretensão da instauração da paz e da democracia.

Do outro, Brasil: em pleno século XX – década de 90 – tentando se colocar

(9)

O discurso proferido pelo presidente da República de Angola e pelo

presidente do Brasil, nesse trabalho analisados, evidenciam que tanto o povo

angolano, quanto o povo brasileiro, constituídos identitariamente de formas

diferentes, apesar de muitos fatores em comum, trazem heranças sociais e

reagem de diferentes maneiras diante dos discursos que lhes são

apresentados.

Assim, temos como objetivo geral:

- Analisar a construção do ethos discursivo do pronunciamento do Senhor José Eduardo dos Santos, Presidente da República de Angola, na

assinatura do Acordo de Lusaka, em 20 de novembro de 1994 e a construção

do ethos discursivo do pronunciamento do Senhor Fernando Collor de Mello,

Presidente da República Federativa do Brasil, na cerimônia de posse no

Congresso Nacional, em 15 de março de 1990.

E temos como objetivos específicos:

- Identificar as semelhanças e as diferenças que constituem o ethos discursivodesses discursos presidenciais;

- Verificar se as semelhanças e as diferenças na construção do ethos discursivo interferem nos efeitos de sentido dos referidos pronunciamentos

presidenciais.

O quadro teórico da pesquisa está baseado na Análise do Discurso

(AD) de linha francesa e no direcionamento da semiolinguística com

observação da pesquisa de Maingueneau (2008) e de Charaudeau (2008).

O trabalho está dividido em três capítulos:

O capítulo I é dedicado à análise da história de Angola e do Brasil,

desde a chegada do colonizador até o contexto situacional do pronunciamento

presidencial, priorizando a colonização, os movimentos de libertação e a busca

da democracia.

No capítulo II é apresentada a fundamentação teórica com a aplicação

do conceito discurso político, o ethos, o ethos e os procedimentos enunciativos,

o ethos político, a representação social na construção do ethos e, por fim, o

imaginário sociodiscursivo no âmbito político.

No capítulo III é realizada a análise dos corpora dos discursos

pronunciados pelo do Senhor José Eduardo dos Santos, Presidente da

(10)

de 1994 e pelo Senhor Fernando Collor de Mello, Presidente da República

Federativa do Brasil, na cerimônia de posse no Congresso Nacional, em 15 de

março de 1990. Nessas análises são abordados os seguintes aspectos:

imagem de dominação: da legitimação à soberania; imagem da função

pública:o ethos de credibilidade; imagem sobre o referente: o ethos de

identificação. Além disso, são verificados os procedimentos linguísticos e os

tipos de imaginários constitutivos do ethos construído nos discursos.

Finalmente, é apresentada a análise contrastiva das semelhanças e das

diferenças na construção do ethos discursivo dos referidos pronunciamentos.

A partir da observação dos objetivos e da fundamentação teórica,

(11)

CAPÍTULO I

CONTEXTUALIZAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA: ANGOLA E BRASIL

1.0 Angola: colonização perversa – da chegada do colonizador à independência

Antes de iniciarmos a contextualização sócio-histórica de Angola,

justificamos a existência deste capítulo ao entendermos que para se

compreender o sentido do discurso político, o que ele representa em termos de

visão de mundo e da ação que o mesmo propõe, se faz necessário entendê-lo

no seu contexto histórico e situacional. Dessa forma, apresentaremos uma

síntese do processo de estruturação social e política de Angola e do Brasil, que

vai desde a chegada do colonizador até o momento atual do pronunciamento

dos discursos propostos nos corpora de análise.

Os portugueses chegaram às terras de Angola – África, em 1482. A

frota comandada por Diogo Cão tinha por objetivo primeiro atingir as terras da

Índia, já que a diretriz portuguesa para seus navegantes era a de estabelecer

“acordos” visando a possíveis trocas comerciais.

Essa diretriz lusitana foi logo superada, depois que os portugueses

perceberam que poderiam dominar o território angolano para exploração

presente e futura, a começar pela “necessidade espiritual” de converter os

pagãos locais à crença católica européia, uma vez que o pensamento

escolástico em vigor, oriundo da época das Cruzadas, determinava que a

primeira missão dos navegadores fosse a evangelização dos povos não

crentes. Assim, em 1491, para que Portugal sustentasse a posição de

colonizador do território, um grande número de padres foi trazido pelo

(12)

da recusa das tribos autóctones. Em relação a essa recusa Boavida (1967,

p.34) aponta o seguinte:

E, “a primeira rebelião armada teve lugar em 1491”1

sob o comando de Panzo-A-Nginga, que se recusou a receber o batismo e as novas leis impostas pelos missionários e pelos Militares vindos de Portugal. Durante os cinco séculos de presença estrangeira os N’Golas não deixaram de resistir ao invasor europeu. Pertencem já a lenda os atos de heroísmo das populações e povos de Angola na Resistência ao invasor e na Luta pela LIBERDADE. O explorador inglês Mr. Barth, em 1788, refere-se ao fato de estarem “permanentemente em rebelião, e não serem jamais dominados a não ser pela força e com derramamento de sangue”. (grifo do autor).

Até meados no século XIX, Angola era vista pelo colonizador como

fonte de mão-de-obra escrava e, assim, se beneficiou das diferenças tribais

locais para capturar vidas humanas para a comercialização. Com a

independência do Brasil, em 1822, Portugal chegou a fazer esforços para a

melhoria das relações com o território angolano, contudo, essa prática

permaneceu até o final do século XIX. Boavida (1967, p. 46) faz o seguinte

apontamento em relação ao período do tráfico negreiro no território angolano:

Luanda, que foi fundada em 1605 e teve foro de cidade em 1755, contava em 1854 com cerca de um mil oitocentos e trinta europeus, a maior parte dos quais habitando no alto da colina [...]. Os pescadores da ilha abasteciam o mercado da cidade e alguns pontos do interior com os produtos do mar, e comercializavam com os europeus da cidade alta. Os portugueses traziam produtos alimentares, que chegavam a Luanda nos porões vazios dos navios negreiros, e trocavam-os pelos escravos que, durante quatro séculos, êles comercializaram em Angola.

Os portugueses foram forçados ao adentramento territorial angolano

devido ao combate de algumas potências europeias à prática escravagista, que

resultou no final da escravidão em 1878. Esse adentramento foi marcado por

imensas dificuldades em virtude da resistência das tribos locais. Contudo, no

1

(13)

início do século XX, os portugueses obtiveram sucesso na conquista do

Planalto Central Angolano.

Apesar das conquistas, Portugal somente era considerado pelas

principais metrópoles europeias, graças à sua contribuição primitiva na

“descoberta” do continente. As fronteiras angolanas são o resultado de acordos

entre os colonialistas mundiais do século XIX. Em relação à demarcação das

fronteiras por Portugal, Menezes (2000, p.111) afirma o seguinte:

Pode-se concluir, portanto, que as fronteiras atuais da República de Angola são o resultado de uma partilha feita pelas potências do último grande movimento colonialista mundial, ocorrido no século XIX, não levando em conta, tanto em Angola, quanto, possivelmente, nos demais países especificidades culturais e étnicas e os interesses dos povos autóctones, demarcando simplesmente linhas geográficas[...].

O uso da força militar, a habilidade de manipular os grupos autóctones

e a criação de vilas e cidades marcaram a presença do colonizador português

em Angola. Esse controle territorial somente se deu a partir das primeiras

décadas do século XX.

De acordo com Menezes (2000), com a justificativa de “colonizar” e de

“catequizar” a população angolana, Portugal adota um colonialismo

caracterizado como “colonialismo perverso” dividido em quatro fases:

O acúmulo de riquezas e a corrupção dos colonizadores portugueses

no território angolano fazem parte da primeira fase da colonização lusitana

(1494 a 1598) e, na avaliação de alguns especialistas, de acordo com Menezes

(2000), foram marcantes e definiram comportamentos. Menezes (2000, p.115)

conclui:

(14)

A segunda fase da colonização lusitana (1598 a 1789) em Angola foi

marcada pela concorrência intermetropolitana. Portugal continuou a aplicar a

colonização do princípio “mínimo necessário” na organização

político-administrativa, mantendo precariamente as condições de produção para a

continuidade do fornecimento de escravos para a Europa e para o Brasil.

A terceira fase, colonização de dependência, com duração de todo o

século XIX, revela a fundamental importância de Angola para Portugal,

principalmente, após a independência do Brasil (1822), já que é marcada pela

grande dependência econômica, diplomática e política em relação à Inglaterra

e aos movimentos liberais ocorridos no mundo na época.

O quarto e último período denominado colonialismo tardio (início século

XX até a independência) deveu-se ao fato de Portugal estar longe da época

gloriosa de suas descobertas marítimas e experiências coloniais regionais. A

estagnação da economia portuguesa fez aumentar o caráter parasitário da

exploração colonial, contribuindo para intensificar a condição de dependência

para a manutenção da metrópole portuguesa.

A realidade angolana, em pleno início do século XX, retrata que

embora já não houvesse mais a mão-de-obra escrava, o nativo era

simplesmente alugado ou arrendado pelo governo, ainda que, legalmente fosse

considerado livre. Esse pensamento contribuiu com a manutenção da

estagnação das relações econômica e social, gerando a ausência de

investimentos que permitiriam alavancar a economia do território angolano e,

ainda, fez aumentar o racismo racial, ou seja, evidencia a debilidade trazida

pelo colonialismo perverso.

Essa debilidade também foi evidente no que se diz respeito à

evangelização católica. Paradoxalmente, Portugal, uma nação fortemente

católica, foi incapaz de evangelizar de forma competente o território de seu

domínio, dessa forma permitiu que as ações protestantes e de outras correntes

fizessem esse trabalho. Em relação à essas ações Menezes (2000, p. 147)

(15)

Angola experimentou também uma ação intensa de missionários protestantes, principalmente de origem canadense e americana. Os protestantes apresentavam atividade mais consistente e continuada, não obstante em menor volume que os católicos. As missões protestantes atuavam, sobretudo, na educação tanto do branco europeu quanto dos africanos admitidos ao sistema. A maioria das escolas existentes em Angola era particular ou pertencia a essas atividades missionárias.

Após a Segunda Guerra Mundial, Portugal criou manobras legais, a fim

de se desviar da opinião pública internacional, contrária à exploração colonial.

O trabalho de uma ideologia que favorecia o colonialismo foi imposto. Assim,

não foram feitos investimentos educacionais, embora a educação fosse um

elemento libertador, e quase a totalidade da população autóctone era

analfabeta (99%). Além disso, havia a cobrança de impostos locais para a

população, a fim de subjugá-los. Em relação às normas de emancipação do

colonizador, Menezes (2000, p. 149) afirma o seguinte:

Só a “assimilação” poderia emancipar os “indígenas”. O nativo só se classificava como “civilizado” quando lhe era conferido o grau de emancipado, significando que possuía determinados índices de integração como “falar corretamente o português”, “ter profissão definida”, “apresentar bom comportamento”, “cumprir o serviço militar”, dentre outros. (grifo do autor).

Com o tempo, devido à política de repressão, os africanos foram

abandonando a posição de conformismo com a situação e a partir da década

de 50 foram criados vários movimentos nacionalistas que tinham por objetivo a

libertação de Angola. Todavia, houve uma grande luta por parte da polícia

colonial contra esses movimentos, ocasionando a morte de mais de 50 mil

angolanos e uma grande fuga dos nativos para os países vizinhos.

A abertura para a livre atividade do capital estrangeiro em Angola, em

1965, no governo Salazar, assegurou ao colonialismo português uma espécie

do seguro do capital estrangeiro. Contudo, por pressão estrangeira e de alguns

setores da sociedade portuguesa, houve modificações nos estatutos voltados

(16)

do não-civilizado), criação de meios de acesso à instrução básica e, em 1963,

foram criados os primeiros cursos superiores em Angola.

Durante o ano de 1974, as forças portuguesas cometeram muitos

massacres no território angolano. Simultaneamente os movimentos

nacionalistas se posicionavam. O movimento nacionalista FNLA (Frente

Nacional de Libertação de Angola), estava desejoso do poder, contudo,

considerava que o país ainda não estava preparado para a independência.

Diante disso, buscava possibilidades para cessar a guerra e acordos para

beneficiar o seu grupo. Já o movimento MPLA (Movimento Popular para a

Libertação de Angola), não escondia a intenção da instalação de uma

República popular em Angola. Várias manifestações violentas aconteceram. O

povo angolano pretendia a liberdade e os movimentos nacionalistas o poder.

Em meio de estratégias políticas entre 11 e 15 de janeiro de 1975,

foram debatidos e assinados os acordos de Alvor em Portugal, estabelecendo

um período de transição que iria de janeiro a novembro, no qual o governo

seria exercido por representantes do FNLA (Frente Nacional de Libertação de

Angola), MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), da UNITA

(União Nacional para a Independência Total de Angola) e do Governo

português.

Devido ao acordo, uma intensa evasão humana e de recursos ocorreu

em Angola por receio da chegada do “socialismo” e do “comunismo”. Tal fato

gerou um gravíssimo impacto sobre a nova economia que estava para ser

criada (MENEZES 2000).

No transcorrer do acordo, por desentendimento explícito entre a FNLA

e MPLA, um confronto armado foi seguido. Como resultado, com a ajuda da

população, o MPLA expulsou do Governo de Transição os membros do FNLA e

da UNITA e iniciou uma ofensiva para a conquista do país, que foi tomado

militarmente. Assim, no dia 11 de novembro de 1975, Agostinho Neto, líder

máximo do MPLA, proclama a República Popular de Angola e torna-se o

primeiro presidente com mandato indeterminado. Com sua morte, em setembro

de 1979, foi sucedido pelo engenheiro José Eduardo dos Santos, segundo líder

(17)

1.2 Angola: heranças do colonizador e a busca da democracia

Após a independência, a FNLA (e seu aliado Zaire) teve sua atuação

enfraquecida na guerra devido ao pequeno contingente pouco preparado. Seu

líder Holden Roberto ficou exilado no exterior, só retornando em 1992, como

candidato nas eleições à presidência da República.

A UNITA, liderada por Jonas Savimbi, passou a contar com o apoio dos

EUA (Estados Unidos da América) e avançou para diversas partes do território

do país. Além do apoio dos EUA, contou com a colaboração do exército e dos

mercenários sul-africanos. Ao governo do MPLA só restou a alternativa de

enfrentar os conflitos, contando com o apoio direto de Cuba. Assim, Menezes

(2000, p.214) conclui: “[...] agravaria ainda mais sua situação diante dos países

ocidentais e dos EUA, inimigos mortais dos cubanos.”

A guerra representou um duro golpe na economia de Angola,

sobretudo porque os recursos dispendidos fizeram falta às políticas de

reconstrução e de desenvolvimento do país. Seu termo só foi possível em

1991, porque de um lado cessaram os esforços da Guerra Fria (uma vez que o

enfraquecimento da União Soviética e o encaminhamento de Angola para o

capitalismo já não justificavam os gastos com a UNITA) e, de outro, a UNITA,

sem a cooperação estrangeira, já não podia sustentar conflitos em um território

tão amplo, além de suas ações não serem reconhecidas internacionalmente.

Após 16 anos de guerra civil, no dia 31 de maio de 1991, o Governo

angolano e a UNITA assinaram um acordo de paz, gestado pelos governos dos

Estados Unidos, de Portugal, da União Soviética e pela Organização das

Nações Unidas (ONU), em Estoril- Portugal. O acordo incluiu um cessar-fogo

imediato. A realização de eleições em 1992 e a criação de uma Comissão

Conjunta Político-Militar (CCPM), com a incumbência de criar um exército

nacional formado por efetivos dos dois lados.

No quadro político emergente de transição para um sistema

multipartidário, surgiram vários novos partidos, que fizeram acordos com o

MPLA - Partido do Trabalho e com a UNITA. Isso resultou em crescente

(18)

As mudanças dos anos 90 foram além dos acordos em nível político e

diplomático e se refletiram na mobilização e na transformação da sociedade

angolana.

Pressionado por uma dívida externa de mais de seis bilhões de

dólares, o governo apelou à comunidade internacional em busca de ajuda

econômica. Os Estados Unidos se negaram a suspender o bloqueio econômico

e diplomático, alegando que Angola era uma nação marxista e anunciaram

que, até as eleições de 1992, não efetuariam o reconhecimento diplomático.

Após intensas negociações entre o governo e a UNITA, concordou-se

em realizar eleições em setembro de 1992, depois de quase 500 anos de

domínio português e 18 de pós-independência. No mês de maio de 1992,

iniciou-se oficialmente o registro eleitoral em todo o país sob a fiscalização do

Conselho Nacional Eleitoral (CNE). A primeira fase permitiu o registro de um

total de 4,86 milhões de eleitores, de um universo estimado de 5,3 milhões, e

foi considerada pelas Nações Unidas como coroada de êxitos, apesar de um

número significativo de cidadãos com capacidade eleitoral não ter sido

registrado como era ideal. Quanto à campanha eleitoral, embora tenha havido

alegações de intimidações por parte de agentes de alguns partidos políticos e

de dificuldades de acesso a certas áreas, particularmente as controladas pela

UNITA, ela decorreu sem incidentes relevantes, suscetíveis de comprometer o

processo. O mesmo também se deve dizer do ato eleitoral, ou seja, da votação,

nos dias 29 e 30 de Setembro, durante o qual os angolanos, de forma ordeira e

pacífica, demonstraram um extraordinário exemplo de civismo e cidadania.

Numa declaração oficial, a então Representante Especial do

Secretário-Geral das Nações Unidas, Margareth Anstee, reconheceu que, “da

mesma forma como tinham procedido quando do registro eleitoral, os

angolanos, uma vez mais, mostraram uma extraordinária determinação,

paciência e disciplina, tendo em muitos casos aguardado longas horas para

votarem”.

O resultado das eleições evidenciou que o governo do MPLA obteve

49% dos votos, contra 41% da UNITA. Jonas Savimbi, líder da UNITA, não

reconheceu sua derrota e a partir daí deu-se o reinício das hostilidades. As

eleições presidenciais e legislativas em Angola foram inconclusivas, com a

(19)

De acordo com Menezes (2000), apesar de as eleições não

constituírem por si o fim, elas estabeleceram uma parte importante de um

processo de desenvolvimento democrático em Angola.

Em novembro de 1993, as negociações de paz foram reiniciadas em

Lusaka, capital da Zâmbia, onde foi assinado, em 20 de novembro de 1994, o

Protocolo de Lusaka, implementação dos acordos de paz para Angola,

estabelecido entre o Governo da República de Angola e a União Nacional para

Independência Total de Angola (UNITA), com mediação da Organização das

Nações Unidas (ONU), representada pelo Secretário Geral da ONU em Angola,

Senhor Alionune Bolndin Beye. Esse documento foi assinado na presença de

representantes dos países observadores do Processo de Paz em Angola,

sendo: o Governo dos Estados Unidos da América, Governo da Federação da

Rússia e Governo de Portugal. O Protocolo de Lusaka tinha como objetivos

essenciais o seguinte: 1) Concluir a implementação dos acordos de paz para

Angola; 2) Assegurar o funcionamento regular e moral das instituições

resultantes das eleições realizadas em 29 e 30 de setembro de 1992; 3)

Instaurar a Paz justa e duradoura no quadro de uma reconciliação nacional.

Contudo, as principais disposições do acordo – uma trégua e

mudanças constitucionais para que Jonas Savimbi assumisse a

vice-presidência do país – não foram postas em prática até o final de 1995 e a

guerra prosseguiu.

1.3 Brasil: escambo e escravidão – da chegada do colonizador à independência

Em abril de 1500, Pedro Álvares Cabral chegou à Bahia de Todos os

Santos (litoral da Bahia), tomou posse oficial das terras brasileiras e rumou

para o objetivo principal de sua expedição: comercializar na Índia.

Para os portugueses essas terras eram muito menos rentáveis do que

as da África e da Índia. A faixa da costa descoberta não possuía grandes

(20)

os tupis, aparentados com os guaranis. Em relação ao trato do território, no

primórdio da chegada, por parte do colonizador, Lobo (1973, p.131) afirma:

Compreende-se, pois, que Portugal, nesses tempos de embriagadora prosperidade, se descuidasse do Brasil, onde não havia cidades opulentas a saquear, nem ouro, nem as especiarias pelas quais tão caro pagavam os europeus.

Converter os índios ao cristianismo e utilizar o Brasil como escala de

Portugal até a Índia foram as primeiras atitudes do reino português em relação

ao novo território descoberto. A partir disso, no período pré-colonial (1500 a

1532), Portugal utilizou o território descoberto para o escambo com os

indígenas: os portugueses davam objetos que os indígenas apreciavam em

troca do pau-brasil. Essa árvore tinha um alto valor comercial na Europa. Sobre

a exploração do pau-brasil por meio do escambo com os indígenas, Maior

(1977, p.42) observa:

A exploração do pau-brasil era rudimentar e realizada com a ajuda dos indígenas, que em troca de miçangas e quinquilharias, derrubavam as árvores com ferramentas fornecidas pelos portugueses e as empilhavam na orla marítima, prontas para o embarque.

O sistema de capitanias na colonização do Brasil se deu a partir da

decadência do comércio de especiarias das Índias. Os franceses,

contrabandeavam o pau-brasil e cada vez mais organizados em companhias

preparavam-se para colonizar e resistir. Assim, devido às dificuldades

financeiras D. João III viu-se obrigado a colonizar o Brasil com recursos de

particulares, valendo-se do regime das capitanias hereditárias.

Os portugueses seguiram com a sua tradição comercial e marítima e

dividiram a costa brasileira em capitanias que eram concedidas aos donatários,

indivíduos proeminentes, que se presumia ter recursos suficientes para levar

adiante a ocupação e a exploração das terras.

Em vista da dificuldade do plantio de cana-de-açúcar na Europa e as

vantagens do plantio no Brasil - país tropical, os portugueses vieram ser donos

(21)

mundial de cana dos séculos XVI e XVII. Com a decisão de exportação de

cana-de-açúcar ficou evidente que os índios não se submeteram à disciplina

imposta nas plantações, já que boa parte dos nativos da região havia sido

dizimada pelas enfermidades do europeu, ou havia fugido para outras zonas,

devido a pressão para o trabalho escravo. Dessa forma, a utilização de

escravos africanos foi privilegiada a partir da criação de um centro

administrativo: o Governo-Geral. Surgiram, então, as grandes fazendas

dedicadas à exportação da cana-de-açúcar: os engenhos. Maior (1977, p.82)

aponta as seguintes características acerca do índio e do negro para o trabalho

escravo nos engenhos:

O índio brasileiro não se prestava à escravidão. Não estava acostumado ao trabalho agrícola estável e sedentário; além disso, contava com os esforços dos jesuítas em favor da manutenção de sua liberdade. O negro, ao contrário, já havia atingido na África a um estágio francamente agrícola, era resistente e não dispunha de protetores.

Por volta de 1551 começaram a chegar ao território brasileiro os

jesuítas fortalecendo a igreja católica. Eles foram muito ativos aprendendo a

língua tupi para converter os nativos ao catolicismo. Sobre as ações dos

jesuítas no território brasileiro, Lobo (1973, p. 153) afirma o seguinte:

No litoral e em vários outros pontos do Brasil e da América estabeleceram esses religiosos vastos aldeamentos, que chegavam a conter milhares de indígenas, e são conhecidos pelo nome de reduções [...]. Consistiam estas em enormes agrupamentos de choças de indígenas, rodeando uma igreja de pedra ou taipa por eles construída sob a direção dos jesuítas que, ao lado do templo, faziam erguer também o seu “colégio”. (grifo do autor).

Durante a colonização do Brasil pelos portugueses, o rei da Espanha,

por meio de uma série de matrimônios entre membros das duas casas reais,

subiu ao trono português. Consumou-se a União Ibérica, que integrou toda a

(22)

Portugal faziam parte do mesmo reino. Apesar da união das coroas, houve um

acordo para que Portugal mantivesse certa autonomia e a colonização do

Brasil continuou controlada por Lisboa.

Entre 1630 e 1654, os holandeses afirmaram seu domínio em

Pernambuco, e só foram expulsos pelo esforço comum de portugueses,

africanos e indígenas. No período da ocupação o governo e as leis passaram a

ser holandesas, contudo, os invasores não tomaram os engenhos, pois o que

lhes interessava era o comércio e não a produção. A única exigência que

faziam era que os senhores de engenho só vendessem o açúcar para a

Companhia das Índias Ocidentais. O resultado foi uma grande harmonia entre

os holandeses e os senhores de engenho. Em relação à expulsão dos

holandeses de Pernambuco, Lobo (1973, p. 157) afirma o seguinte:

Interesses econômicos também haviam concorrido para a expulsão dos holandeses de Pernambuco, [...]. Naquela região, com efeito, a ganância da “Companhia das Índias Ocidentais” se fez sentir, de maneira opressiva, após a demissão do inteligente e maneiroso Maurício de Nassau. [...]. Acontece que, pouco depois de sua partida, inúmeros senhores de engenho se encontravam em situação aflitiva, ameaçados de ver penhorados os seus bens por esses estrangeiros, cujos processos de cobrança já não primavam pela tolerância e cuja exploração da colônia estava se tornando extorsiva.(grifo do autor). A União Ibérica tinha sufocado Portugal e em 1640, com o auxílio

militar da Inglaterra, os portugueses nobres se rebelaram e separaram o país

da Espanha.

Em 1696, no atual estado de Minas Gerais, foram encontrados os

primeiros filões de ouro. No século XVIII foi alcançado o maior índice de

extração do metal. Nesse ínterim, por Portugal já não ser mais a nação

vigorosa da época das grandes navegações, países europeus como a

Inglaterra, a Holanda e a França tomaram dos portugueses a maior parte dos

pontos comerciais do oriente. Assim, a grandeza de Portugal era baseada nas

riquezas extraídas do Brasil. Por isso, o governo de Lisboa criou várias leis,

visando ao aumento do controle sobre a colônia.

No final do século XVIII, a economia do Brasil colonial estava em crise.

As minas de ouro estavam se esgotando, os produtos agrícolas exportados

pelo Brasil não compensavam o declínio da mineração, tendo em vista os

(23)

criou novas taxações, cobrou tributos atrasados e ampliou o controle sobre o

Brasil. A situação tornou-se insuportável para todas as classes sociais. Lobo

(1973, p. 158) cita uma das situações a respeito do descontentamento com o

governo português:

A rainha D. Maria I tinha tomado várias resoluções altamente desagradáveis para a Capitania das Minas Gerais, dela exigindo obrigações que não mais estava em condições de suportar, pois os rendimentos das minas vinha diminuindo sensivelmente. A situação de todos que possuiam alguma coisa, nessa região, tornou-se realmente apreensiva ao aproximar-se o ano de 1789, porquanto a “governança lusa” resolvera cobrar os quintos atrasados e, [...]. Os habitantes da Capitania sabiam não ser possível satisfazer tal compromisso sem sacrifícios extraordinários e disso nasceu a atmosfera de rebeldia que permitiu aos poetas mineiros, com suas ideias democráticas, arranjar numerosos adeptos para uma abortada conspiração. (grifo do autor).

As ideias iluministas de liberdade e de direito de os povos se rebelarem

contra governos opressores se encaixaram perfeitamente no Brasil, assim

surgiram os primeiros movimentos de independência na colônia, que foram

rapidamente sufocados pelo poder metropolitano.

A invasão napoleônica da Península Ibérica, em 1808, determinou a

decisão do rei de Portugal, D. João VI, de transladar a corte para o Brasil. Tal

fato colocou o Brasil em uma situação de semi-independência. A metrópole

deixou de ser intermediária, e o Brasil passava a negociar diretamente com seu

cliente principal, a Grã-Bretanha. Assim, a nova classe comercial brasileira se

via beneficiada, em detrimento do setor comercial ligada ao monopólio

português.

Em 1821, a Revolução do Porto, em Portugal, tentou restabelecer o

velho sistema colonial monopolista. O rei partiu para a metrópole portuguesa e

a classe comercial brasileira, que não estava disposta a perder todo o terreno

ganho, declarou, em setembro de 1822, a independência do Brasil, com o

beneplácito da Grã-Bretanha. O Brasil passou a ser um império e o príncipe

regente foi coroado como imperador D.Pedro I. Sobre a situação econômica e

administrativa do Brasil com o fim do colonialismo, Maior (1977, p. 209)

(24)

Mudaria o aspecto geral do país não somente pela independência política, mas também porque a vida urbana havia atingido relativo desenvolvimento, constituindo-se o Brasil um mercado consumidor razoável para as utilidades que o industrialismo estrangeiro podia oferecer.

Devido à agitação causada pela abdicação de D. Pedro I, em 1831, a

Constituição foi modificada para descentralizar o governo. A partir dessa

modificação, em 1834, criou-se as assembléias provinciais dotadas de

considerável poder local. Em 1840, foi antecipada a maioridade de D. Pedro II

que assumiu o trono.

Durante o império (1822 a 1889), o Brasil consolidou sua unidade

nacional e ampliou as fronteiras abertas pelos bandeirantes nos séculos XVII e

XVIII. A economia permaneceu atada ao latifúndio, à exportação de produtos

agrícolas tropicais – principalmente o café – e à exploração do trabalho escravo

- abolido somente em 1888. Essa demora contribuiu para a queda do regime

monárquico e a proclamação da República, ainda que, com ela não tenham

sido substancialmente modificadas as condições políticas e sociais dos negros,

que tiveram a liberdade política negada com a proibição do voto dos

analfabetos (MAIOR, 1973).

Nas últimas décadas do século XIX, abriu-se cada vez mais brecha

entre as cidades e as zonas rurais. Tanto a classe média urbana como os

militares e os produtores paulistas de café ansiavam por uma modernização.

Para eles a monarquia estava demasiadamente vinculada aos velhos sistemas

de produção. Em 1889, uma conspiração com o apoio do exército derrubou a

monarquia. D. Pedro II abdicou e se exilou na Europa.

1.4 Brasil: os movimentos republicanos e a busca da democracia

A abolição da escravidão e a queda da Monarquia deram início a um

(25)

modernização, embora essa não tenha se dado sem traumas políticos, sociais

e religiosos.

Em 1894, foi eleito o primeiro presidente civil, Prudente de Morais. Em

1893, havia sido fundado o Partido Republicano Federal e, nesse ano e no

seguinte, ocorreu uma revolta da armada.

Até 1920, foram freqüentes os tumultos setoriais, as explosões de

autoritarismo sertanejo e as lutas entre as oligarquias regionais. Não existia a

Justiça Eleitoral nem o voto secreto, sendo geral a insatisfação com o

resultado das eleições.

A revolução de 1930 levou Getúlio Vargas ao poder e marcou o fim do

predomínio dos latifundiários, cujo poderio fora afetado pela crise mundial de

1929. Getúlio Vargas inaugurou o modelo de substituição de importações,

dando prioridade à produção industrial própria e à siderúrgica. Vargas

governou ditatorialmente o Estado Novo, de 1937 a 1945, voltando ao poder,

em 1950, como presidente constitucional. Duas constantes marcaram sua ação

política: o nacionalismo e a defesa dos interesses dos trabalhadores, em um

movimento que ficou conhecido como trabalhismo.

Após o suicídio de Getúlio Vargas, o governo de Juscelino Kubitschek

(1956 a 1961) permitiu a entrada de empresas transnacionais,

concedendo-lhes grandes privilégios. Ao longo de sua administração deu-se a construção

de Brasília com a pretensão de firmar um novo marco de uma nova etapa no

desenvolvimento econômico do país.

Em setembro de 1961 o vice-presidente João Goulart, líder do Partido

Trabalhista, herdeiro político de Getúlio Vargas, assumiu a presidência. Mas o

alto comando militar ofereceu resistência e criou-se uma crise. Para a saída da

situação que se instalara adotou-se o Regime Parlamentar, com Tancredo

Neves como Primeiro-Ministro. Em janeiro de 1963 restabeleceu-se o

presidencialismo, mas derrubado em 1.º de abril de 1964 por um golpe militar

apoiado pelos Estados Unidos.

O novo governo promulgou o Ato Institucional n.º 1, que abolia a

Constituição Liberal de 1946 e permitia a cassação de mandatos parlamentares

e a suspensão de direitos políticos. As prisões se sucederam em todo o país, e

(26)

O alto comando revolucionário indicou o general Humberto de Alencar

Castelo Branco para a presidência, o qual só deveria governar até o final do

período constitucional, mas teve o seu mandato prorrogado até 1967. Nas

eleições para os governos estaduais, celebradas em outubro de 1965, a

oposição venceu no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Como represália, foi

editado o Ato institucional n.º 2, que estabelecia a eleição de presidente da

República por um colégio eleitoral e declarava dissolvidos os partidos políticos

existentes. Foi criado um sistema bipartidário integrado pela Aliança

Renovadora Nacional (Arena) da situação e majoritária, e o Movimento

Democrático Brasileiro (MDB), de oposição consentida, mas sem nenhuma

possibilidade de chegar ao poder.

Em janeiro de 1967, entrou em vigor a nova Constituição de caráter

autoritário. Dois meses mais tarde, o general Arthur da Costa e Silva assumia a

presidência da República. Em agosto de 1969, em virtude do Ato Institucional

n.º 5, Costa e Silva foi substituído por uma junta militar que governou o país até

outubro, quando o general Emílio Garrastazu Médici foi indicado para

presidência da República. O governo Médici se caracterizou por sua extrema

violência na repressão aos movimentos legais e ilegais da oposição, ao mesmo

tempo em que a sua política econômica estimulava a euforia consumista da

classe média. Em 1974 assumiu o poder o general Ernesto Geisel que assinou

um discutido acordo nuclear com a Alemanha Ocidental e ampliou as

facilidades concedidas ao capital estrangeiro.

Ao longo do governo Geisel, iniciou-se a estratégia de distensão

política lenta e gradual, apesar da censura dos meios de comunicação e

propaganda. O MDB obteve êxitos eleitorais e significativos em 1974 e 1978.

Ao término de seu mandato, Geisel entregou o poder ao general João Baptista

Figueiredo.

Figueiredo assumiu em março de 1979 e anunciou o propósito de

concluir a abertura política. Em agosto de 1979, o Congresso aprovou um

projeto de anistia muito mais ampla do que o Executivo pretendia. Os presos

políticos foram libertados e os exilados puderam voltar ao país.

No campo econômico e financeiro, as consequências da política

monetária aplicada pelos governos militares anteriores foram sentidos no

(27)

começo da década de 1980, o Brasil passou de país importador a exportador

de recursos financeiros enviados ao estrangeiro como o pagamento dos juros

de uma dívida externa calculada em 100 bilhões de dólares.

Segundo dados oficiais sobre uma população de mais de 30 milhões

de habitantes, existiam somente nas cidades em 1985, mais de seis milhões de

desempregados e treze milhões de subempregados.

As eleições de 1982 refletiram o enorme descontentamento popular e

resultaram em uma vitória da oposição. O governo federal venceu em 2

estados; a oposição em dez, entre eles os mais importantes como São Paulo,

Rio de Janeiro e Minas Gerais, que representavam 59 % da população e 75%

do Produto Interno Bruto (PIB).

O governador de Minas Gerais, Tancredo de Almeida Neves, foi o

grande articulador da frente de oposição ao Regime Militar. Fracassada a

campanha popular em prol das eleições diretas em 1984, a oposição pôde

triunfar no colégio eleitoral, devido à divisão do partido governista. Tancredo

Neves foi indicado presidente e José Sarney, que tinha sido presidente do

partido governista, vice-presidente.

Na véspera de assumir o cargo na tarde 11 de março de 1985,

Tancredo Neves precisou ser hospitalizado e foi submetido à uma intervenção

cirúrgica. O vice-presidente tomou posse do cargo em seu lugar como

presidente interino, assumindo definitivamente a presidência após a morte do

presidente indicado. José Sarney com uma aceitação popular desfavorável e

em um contexto de acentuada crise econômica pautou o seu governo pelo

imobilismo e pelo clientelismo.

Com a elaboração de uma nova carta Constitucional, uma complacente

legislação havia permitido a livre criação partidária, propiciando a criação de

um grande número de legendas.

O processo de democratização adquiriu contornos ainda mais definidos

com a aprovação do bojo de um grande movimento popular das eleições

diretas para a presidência da República e para prefeitos das capitais, além da

convocação das Assembléia Nacional Constituinte para janeiro de 1987 e o

reconhecimento do direito de voto aos analfabetos.

Sarney decretou a moratória da dívida externa em 1986, juntamente

(28)

inflação. O plano resultou positivamente em curto prazo, provocando um pique

de consumo e crescimento econômico. Coube ao Partido do Movimento

Democrático Brasileiro (PMDB), após uma vitória esmagadora das eleições

parlamentares de 1986, a redação de uma nova Constituição com o objetivo de

inaugurar o retorno do Regime Democrático.

A implementação do Plano Cruzado para o combate à corrida

inflacionária, apesar de a princípio trazer bons resultados, não foi capaz de

impedir o retorno da crise econômica e financeira. A permanência da inflação e

da recessão, o desequilíbrio fiscal e as indefinições a respeito da renegociação

da dívida externa trouxeram prejuízos para o regime democrático, que

procurava se firmar. A crise econômica e a democracia caminharam juntas,

numa década em que se acentuaram os graves problemas sociais brasileiros.

Em 1988 o país ganhou sua nova Constituição e um grupo de

parlamentares de centro-esquerda deixou o PMDB para formar o Partido da

Social Democracia Brasileira (PSDB). O posicionamento da maior parte do

PMDB pelo mandato de cinco anos para José Sarney, o que adiava as tão

esperadas eleições diretas à presidência para 1989 e o alinhamento do partido

com os setores mais conservadores do Congresso motivaram a ruptura.

O desgaste do PMDB junto à opinião pública ficou evidente em 1989,

quando finalmente foram realizadas as primeiras eleições livres para

presidência da República em quase 30 anos. No primeiro turno, os mais

votados foram Fernando Collor de Mello, candidato das forças conservadoras,

com 42,75% dos votos válidos e José Inácio Lula da Silva, líder do Partido dos

Trabalhadores (PT), com 37,86% dos votos válidos.

No segundo turno das eleições, o Brasil viveu uma impressionante

polarização ideológica entre grupos de direita e de esquerda. Ao lado de Collor

ficaram os remanescentes do regime militar, os conservadores do PMDB e a

imensa maioria do empresariado e proprietários de terras. Com Lula, além do

PT, PSB (Partido Socialista Brasileiro) e PC do B (Partido Comunista do Brasil),

fecharam o PDT (Partido Democrático Trabalhista),o PCB (Partido Comunista

Brasileiro), o PSDB e representantes dos movimentos populares e de direitos

civis.

Apresentando-se como o “caçador de marajás” – alusão a funcionários

(29)

conseguiu vencer as primeiras eleições diretas no Brasil, depois de quase três

décadas.

Finalizada a contextualização sócio-histórica de Angola e do Brasil, no

capítulo seguinte, apresentaremos a fundamentação teórica que abarcará os

seguintes temas: o conceito de discurso político, o ethos, o ethos político, a

representação social na construção do ethos e, por fim, o imaginário

sociodiscursivo no âmbito político.

CAPÍTULO II

A ANÁLISE DO ETHOS NO DISCURSO POLÍTICO

2.1 O discurso político

Antes de iniciarmos este capítulo observamos ser pertinente explicar

que nele abordaremos os conceitos que se instauram em relação à construção

do ethos no discurso político, ou seja, conceitos que buscam explicar o sentido

que surge do encontro entre um sujeito que enuncia e outro que interpreta,

cada qual formando imagens um do outro. Essas imagens que, de acordo com

Charaudeau (2008), representam o próprio ser em sua verdade de troca.

Assim, discorreremos a respeito dos conceitos teóricos sobre: discurso político:

a imagem de dominação; o ethos: os procedimentos enunciativos e o ethos

político; a representação social na construção do ethos: a imagem da função

pública e a imagem sobre o referente e, por fim, o imaginário sociodiscursivo

no âmbito político.

Em relação ao conceito de discurso político, todo ato de linguagem

surge de um sujeito que para definir-se precisa de um outro para a afirmação

de sua existência e afirmação de si (princípio da alteridade). Nessa relação é

necessário que o sujeito traga o outro para si, a fim de que o mesmo diga,

pense ou aja segundo a intenção daquele (princípio de influência). Contudo, se

o outro tiver seu próprio projeto de influência, os dois sujeitos serão levados a

regular suas relações segundo o princípio de regulação. Sobre o projeto de

(30)

Desde que seja reconhecida [a autoridade] pelo parceiro de troca, o projeto de influência adquire certo poder de ação. Da mesma forma, o sujeito-alvo é colocado em uma posição de dominado, o sujeito de autoridade em uma situação dominante e os dois em uma relação de poder. Assim, pode-se dizer que todo ato de linguagem está ligado à ação mediante as relações de força que os sujeitos mantêm entre si, relações de força que constroem simultaneamente o vínculo social.

Todo ato de linguagem que dá origem ao discurso político participa de

um processo global de comunicação concebido pelo sujeito enunciador. O

plano de ação se dá com o intuito de um resultado positivo que depende da

coincidência de interpretações que poderão ocorrer entre o sujeito enunciador

e o coenunciador. Sendo assim, a política é um espaço de ação que depende

dos espaços de discussão e de persuasão e de lugares de construção de

valores. Dessa forma, fica evidente a grande importância do ato de linguagem

na política como define Charaudeau (2008, p. 21):

O governo da palavra não é tudo na política, mas a política não pode agir sem a palavra: a palavra intervém no espaço de discussão para que seja definido o ideal dos fins e os meios da ação política; a palavra intervém no espaço da ação para que sejam organizadas e coordenadas a distribuição das tarefas e a promulgação das leis, regras de decisões de todas as ordens; a palavra intervém no espaço da persuasão para que a instância política possa convencer a instância cidadã dos fundamentos do seu programa e das decisões que ela toma ao gerir os conflitos de opinião em seu proveito. (grifo do autor).

Para que exista a ação é necessário que haja um objetivo e uma

estruturação em um espaço fechado irreversível. Nesse contexto o sujeito

agente é o decisor, aquele que elabora o projeto no qual está inscrito, o meio e

o fim a atingir, tornando-se totalmente responsável. Esse agente decisor se dá

os meios necessários para, certamente, obter um resultado positivo, contudo

avalia constantemente as vantagens e as desvantagens da escolha de

variados meios, ou seja, o sujeito não é totalmente livre para tematizar o seu

(31)

Já na decisão coletiva, as características da ação encontram-se

modificadas, haja vista a necessidade de entendimento dos diversos indivíduos

que compõem o coletivo para a elaboração de um projeto em comum. Assim, o

compromisso de ação será de responsabilidade do conjunto que terá um

representante que deverá prestar contas de seus atos à coletividade. Esse

processo compreende um espaço de discussão dos objetivos a definir. Os

espaços de discussão e de persuasão, constitutivos da ação política, são

nomeados instâncias que são definidas como instância política e instância

cidadã.

A instância política é delegada e assume a realização da ação política,

que é de decisão e deve agir em função do possível. Já a instância cidadã está

na origem da escolha dos representantes do poder para realizar o desejável.

Apesar de representar a vontade da coletividade, a instância cidadã não

conhece as regras do funcionamento do Estado e ignora as condições da ação

política. Tal fato assegura as contrariedades do poder político, que está

incumbido de realizar a ação política sempre se assegurando do consentimento

da instância cidadã. Sobre a adesão Charaudeau (2008, p.19) concebe: “Isso

faz com que ao espaço de discussão que determina os valores responda um

espaço de persuasão, no qual a instância política, jogando com argumentos da

razão e da paixão, tenta fazer a instância cidadã aderir à sua ação”. (grifo do

autor).

Nos espaços de discussão os valores correspondem às ideias

defendidas e representam um ideal que definiria os seres em suas relações de

trocas, estabelecendo situações de igualdade entre indivíduos. A propriedade

coletiva dos valores cria entidades abstratas (Estado, República, Nação) que

garantem os direitos e os deveres na sociedade. Sobre o ideal do sujeito

enunciador, Charaudeau (2008, p. 188), discorre:

(32)

De acordo com Charaudeau (2008), existe a necessidade de um

contrato de comunicação política que é definido pela partilha entre a instância

política e a instância cidadã de um mesmo ideal de sociedade e é estabelecido

levando-se em conta a construção do discurso realizar-se por meio da

intersecção entre um campo de ação, um lugar de trocas simbólicas e um lugar

dos mecanismos de encenação da linguagem. Assim, as significações e os

efeitos do discurso político resultam de um procedimento complexo de

circulação e de entrecruzamento de saberes e de crenças que são construídos

por uns e reconstruídos por outros. Os sujeitos desse procedimento ocupam

diferentes lugares e possuem diferentes posicionamentos nesse contrato,

marcando a heterogeneidade do discurso político.

O contrato de comunicação política é regido por um dispositivo, ou

seja, aquele que estrutura a situação na qual se desenvolvem as trocas

linguageiras organizadas de acordo com os lugares ocupados pelos parceiros e

faz com que todo enunciado produzido em seu interior seja interpretado e a ele

relacionado. Os parceiros desse contrato são de categorias abstratas e

definidas instâncias que, em cada dispositivo, se definem de acordo com seus

atributos identitários.

Além das instâncias política e a cidadã, já citadas, convém expandi-las,

tendo em vista a complexidade da estruturação do campo político: no campo

da instância política há o desdobramento na instância adversária e podemos,

ainda, considerar a instância midiática (CHARAUDEAU, 2008).

A instância adversária se mantém fora do poder, contudo, representa

uma parcela da instância cidadã, dessa forma ela é relevante na ação política,

já que é a partir dela que o discurso é conduzido e produz um discurso

sistemático de crítica ao poder vigente, que é retribuído.

Já o discurso da instância midiática encontra-se em um enfoque de

cooptação que leva a dramatizar a narrativa dos acontecimentos, para obter a

fidedignidade e a credibilidade da instância cidadã. Além disso, denuncia e

acusa poderes públicos com o objetivo da justificação para a obtenção de um

lugar na opinião pública. A respeito do contrato de comunicação Charaudeau

(33)

O dispositivo do contrato de comunicação política é, de certa forma, uma máquina de forjar discursos de legitimação que constroem imagens de lealdade (para a instância política), que reforça a legitimidade da posição de poder; de protesto (para a instância cidadã), que justifica a legitimidade do ato de tomar a palavra; de denúncia (para a instância midiática), que mascaram a lógica comercial pela lógica democrática, legitimando esta em detrimento daquela. Esse dispositivo coloca em jogo não só a legitimidade dos Estados e de seus chefes, dos governantes e de seus dirigentes, dos partidos, de seus líderes e militantes, mas também é a legitimidade dos povos, dos cidadãos, e dos seus modos de intervenção. (grifo do autor).

Dessa forma, entendemos o discurso político como tudo o que diz

respeito à organização da vida em sociedade e ao governo do bem público.

Conforme Charaudeau (2008), o objeto de busca da ação política é um “bem

soberano” que une as instâncias política e cidadã em um pacto de

reconhecimento de “ideal social”. Assim, o discurso político determina esse

ideal como busca universal das sociedades.

Embora exista um ideal em comum nas sociedades, os indivíduos que

a compõem são diferentes e não têm a princípio os mesmos interesses nem os

mesmos objetivos. Tal fato marca o paradoxo do discurso político. O discurso

político busca ser um discurso de verdade que diz qual é o sistema de valores,

para que se estabeleça o elo social que une essa diversidade. Segundo

Charaudeau (2008, p.190), “ a verdade relaciona-se com o discurso. Não se

pode dizer que ela é apenas discurso, mas não se pode representá-la senão

por meio da linguagem, pois é a linguagem que ao mesmo tempo funda e

configura os sistemas de valor”.

As estratégias discursivas empregadas pelo sujeito político para atrair a

simpatia de seu público dependem de muitos fatores: de sua própria identidade

social, de sua percepção da opinião pública e da posição de outros atores

políticos. Assim, o discurso deverá adaptar-se ao seu tipo de público, com a

consciência de que essa observação não é garantia de um resultado positivo,

já que o seu público é formado por indivíduos heterogêneos, ou seja, com

visões de mundo diferentes.

O discurso político, assim, de acordo com Charaudeau (2008), é

(34)

programa e dos meios para atingi-los; o valor dos indivíduos que atuam na

política, sua experiência, sua competência e seu saber-fazer. Esses fatores

refletem o principal objetivo do sujeito político: fazer com que o maior número

de cidadãos adira às suas ideias, ao seu programa, à sua política e à sua

pessoa.

2.1.1 Imagem de dominação: da legitimação 2à soberania

Charaudeau (2008) afirma que o enunciador é um ser duplo, tendo em

vista uma parte dele se refugiar em sua legitimidade de ser social e outra no

que é construído em seu discurso. Essa duplicidade se justifica em

necessidade, pois uma não existiria sem a outra.

No discurso político a legitimidade tem sua origem para justificar os

feitos e os gestos daquele que age em nome de um valor que deve ser

reconhecido por todos os membros de um grupo, ou seja, ela é o resultado de

um reconhecimento, que dá o poder de falar e agir pelos outros, por um direito

adquirido, no caso, por meio de eleições presidências pelo voto direto.

Contudo, os poderes conferidos por essa legitimação são determinados,

reconhecidos e regulados pelos membros desse grupo social.

No tocante ao resultado da legitimação conferida aos sujeitos políticos

em questão, não se trata da vontade da totalidade da instância cidadã. Assim,

a construção dos pronunciamentos evidencia pretensões que vão desde a

manutenção daqueles que os elegeram à adesão daqueles que não os

legitimaram no processo eleitoral. Quanto a instância adversária e midiática, o

sujeito político pleiteia cooptar a adesão à sua pessoa e às suas propostas, a

fim de fortalecer a sua identidade social (presidente).

A legitimação garante a soberania ao sujeito. Sobre legitimação e

soberania Charaudeau (2005, p. 69) descreve:

2 Conceito de legitimidade e legitimação: o primeiro, especificamente no âmbito político, pode

Referências

Documentos relacionados

FRANCISCO ELBDS DE SOUZA (GOIANIRA) LUCIENE DE SOUZA SILVA FERNANDES (SANTO ANTÔNIO DO DESCOBERTO) FRANCISCO PAULINO DA SILVA NETO (JOVIÂNIA) GETULIO BARBOSA CABRAL FILHO (RIO

que tem muitas fotos em que ela se expõe, mostrando o corpo, e que seria fácil esquecer da idade dela olhando apenas para as fotos. Em seguida, mostra um trecho de um vídeo do canal

Verificar a prevalência e o perfil da violência de gênero (física, psicológica e sexual) perpetrada contra a mulher pelo parceiro(a) atual ou

As alterações introduzidas no regime das PPPs pelo DL 141/2006 têm aplicação imediata a todos os procedimentos de PPPs, ainda que já se tenha iniciado o estudo e preparação

Caso as palavras SAPI/DAPI recebidas não coincidam, o Transponder irá alarmar TIM, porém mesmo assim, irá entregar o que está no Payload do quadro OTN para o

As pessoas nacionais da Argentina, Brasil, Paraguai, Venezuela, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador ou Peru podem solicitar a Residência Temporária MERCOSUL com facilitações

A partir da situação atual de desmatamento e grande ocorrência de incêndios no Cerrado, este trabalho tem como objetivo principal quantificar e espacializar os focos de

Neste âmbito é de realçar o Programa Aprendizagem Independente Alcançada pelos Alunos (AIAA), um programa iniciado por Janet L. Este é um “programa metacognitivo que