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Outubro, 2014 Dissertação de Mestrado em Jornalismo

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Jornalismo de proximidade e elites locais

Sara Coelho Vieira

Outubro, 2014

Dissertação de

Mestrado em Jornalismo

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Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Jornalismo, realizada sob a orientação

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Dedicatória pessoal

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AGRADECIMENTOS

 Ao meu orientador, Pedro Coelho. Obrigada pela exigência, pelo rigor e pelo empenhamento que pautou este trabalho.

 Aos meus colegas de trabalho do Região de Cister, sobretudo ao nível da recolha de dados para o estudo de caso e revisão do trabalho. Obrigada Luci, obrigada Joaquim Paulo, obrigada Carolina, obrigada João, obrigada Jero.

 Aos meus amigos do coração, que me apoiaram incansavelmente.

 À minha avó Rosa, que me permitiu avançar com este trabalho.

 À minha mana, pela compreensão e a quem “roubei” tanto tempo.

 À minha mãe, que apesar da fase difícil, acreditou em mim.

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RESUMO

ABSTRACT

Jornalismo de proximidade e elites locais

Journalism proximity and local elites

Sara Vieira

PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo, Imprensa Regional, Jornalismo regional, Proximidade, Elites, Região de Cister, O Alcoa, Região da Nazaré, Alcobaça, Nazaré

Elaborada no âmbito do Mestrado em Jornalismo, esta dissertação procura a relação entre o jornalismo de proximidade e as elites locais na imprensa dos concelhos de Alcobaça e da Nazaré, através de uma reflexão sobre o papel, as potencialidades, as fragilidades e os compromissos do jornalismo regional. Partindo de uma base teórica para uma análise de conteúdo, este trabalho expõe, de um modo geral, a influência das elites, maioritariamente económicas e políticas, nos conteúdos noticiosos produzidos pelas três publicações em estudo.

KEYWORDS: Journalism, Regional Press, Regional Journalism, Proximity, Região de Cister, O Alcoa, Região da Nazaré, Alcobaça, Nazaré

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ÍNDICE

Introdução ... 8

Objeto de estudo e metodologia ... 11

Capítulo I: A imprensa na região de Cister ... 15

I. 1. A região de Cister ... 15

I. 2. Imprensa nos concelhos de Alcobaça e da Nazaré ... 17

I. 3. O Alcoa... 20

I. 4. Região de Cister ... 23

I. 5. Região da Nazaré ... 26

Capítulo II: Jornalismo de proximidade e elites locais ... 29

II. 1. Conceito de jornalismo de proximidade ... 29

II. 2. Compromisso comunicacional ... 32

II. 3. Papel do jornalismo de proximidade ... 36

II. 4. Fragilidades da proximidade ... 41

II. 6. O peso das elites ... 46

Capítulo III: Análise de conteúdo ... 52

III. 1. Apresentação e interpretação dos resultados ... 52

III. 2. Categorização temática ... 52

III. 3. Géneros jornalísticos ... 61

III. 4. Primeira página ... 67

III. 5. Receitas publicitárias ... 70

III. 6. Elites políticas ... 75

Conclusão ... 80

Bibliografia ... 86

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ÍNDICE DE TABELAS E GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição dos jornalistas por sexo e idade ... 19

Gráfico 2 - Distribuição dos jornalistas inquiridos por sexo e jornal ... 19

Tabela 1 - Número total de peças analisadas e distribuição por jornal ... 52

Tabela 2 - Número total de peças analisadas por categoria ... 53

Tabela 3 - Número total de peças da sociedade analisadas por subcategorias 53 Tabela 4 - Número total de peças da economia analisadas por subcategorias. 60 Tabela 5 - Número total de peças informativas ... 61

Tabela 6 - Número total de peças informativas por jornal ... 61

Tabela 7 -Temas de entrevista por tema por jornal ... 62

Tabela 8 -Número total de géneros opinativos ... 64

Tabela 9 - Número total de géneros opinativos analisados por jornal ... 65

Tabela 10 - Número de categorias mais retratadas em 1.ª página ... 68

Tabela 11 - Número de categorias mais retratados em 1.ª página por jornal ... 69

Tabela 12 - Origem da publicidade dos jornais ... 70

Tabela 13 - Mancha de publicidade analisada por jornal ... 71

Tabela 14 - Número total de receitas publicitárias por género ... 73

Tabela 15 - Número total de receitas publicitárias por género por jornal ... 74

Tabela 16 - Número total de peças sobre partidos políticos ... 76

Tabela 17 - Número de candidaturas às Câmaras e Juntas em 2013 ... 77

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INTRODUÇÃO

Sou jornalista desde 2011. Desde então tenho exercido a minha atividade profissional na imprensa regional. Primeiro n’O Alcoa, jornal de inspiração cristã de Alcobaça, tendo participado num processo de estruturação do jornal, que até então nunca tinha tido nenhum jornalista e depois no Região de Cister, semanário generalista dos concelhos de Alcobaça e da Nazaré, em que exerço atualmente a minha profissão.

Esta minha condição profissional, principalmente na estreita ligação a dois dos jornais que integram o objeto de estudo (O Alcoa e o Região de Cister), foi determinante na forma como este trabalho foi desenvolvido. Se, por um lado, este conhecimento e experiência pessoal me permitiu uma análise privilegiada do objeto de estudo, por outro conduziu-me, inevitavelmente, a abordagens do problema que refletem, na investigação, um menor distanciamento. O rigor do meu orientador terá impedido, em grande parte, que alguma falta de imparcialidade fosse espelhada no trabalho, o que iria, obviamente, prejudicar a investigação. Ainda assim, há casos caricaturais, maioritariamente representados pelo Região da Nazaré (o outro jornal que integra o meu objeto de estudo), que vão ilustrando conceitos ou análises de autores, que serão reflexo de um menor distanciamento.

Esta dissertação resulta, assim, de uma experiência que reflete uma preocupação e uma necessidade em compreender as fragilidades dos jornais regionais, padronizados pela falta de qualificação dos seus profissionais, pelas pressões políticas, económicas e religiosas ou por outras, pela falta de investigação dos jornalistas e pela escassez de qualidade dos projetos editoriais.

O trabalho que nos propomos desenvolver procura analisar a influência das elites no jornalismo regional ou de proximidade. Em termos globais, interessa-nos verificar quem são as elites privilegiadas nos jornais regionais, qual a sua influência nas narrativas noticiosas e de que forma usam estes meios de comunicação social para controlar o espaço público. Será que ao conceito de jornalismo de proximidade poderemos acrescentar um conceito de jornalismo de elites?

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geral, interessa-nos analisar nos jornais que integram o nosso objeto de estudo os temas e os géneros jornalísticos que são mais destacados, quais os temas privilegiados na primeira página, qual a influência das elites locais e que peso têm as receitas publicitárias na construção noticiosa dos jornais. Serão as elites políticas que têm mais influência na imprensa regional? Ou as económicas? Ou ambas? Ou outras? E de que forma controlam estes media? E quais são as consequências dessa ação para a comunidade?

Para responder a todas essas questões, a presente investigação está organizada em três capítulos. Em primeiro lugar, é feita uma breve introdução sobre o objeto de estudo, os jornais que o integram e a metodologia do trabalho que foi realizado, identificando e contextualizando a análise de conteúdo na imprensa de Cister. No primeiro capítulo, fazemos uma breve descrição do território e da imprensa regional, que nos serve de objeto de estudo, com o objetivo de contextualizar a ação e os comportamentos das três publicações que analisamos ao longo do trabalho.

Por sua vez, no segundo capítulo definimos o conceito de proximidade e caracterizamos o pacto de proximidade, que é, no fundo, o compromisso assumido e estabelecido entre a comunidade e os seus meios de comunicação social, em prol do desenvolvimento local. A especificidade dos meios de comunicação social de proximidade resulta desse pacto estabelecido entre emissor, recetor e comunidade. Dessa forma, como poderá o jornalismo de proximidade afirmar-se como um meio de promoção e mobilização local e um elo social de identidade comunitária, contribuindo para a amplificação de um espaço público local mais racional e comprometido com as causas do progresso coletivo?

Apresentamos também algumas das funções da imprensa regional, decisivas para permitir a progressão do espaço público – mas também as marcas que impedem a sua própria progressão, como a proximidade demasiado próxima, entre os jornalistas e as elites locais. Será que os meios de comunicação social regionais poderão mais facilmente do que os grandes meios de comunicação social promover o debate e a discussão racionais com vista à progressão? Abordagem que nos conduz à identificação das fragilidades do jornalismo de proximidade, avaliando em concreto o papel e o peso das elites dominantes nos meios de comunicação social regionais.

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Também procuraremos responder a essa questão, analisando a influência nos conteúdos que os jornais publicam sobre as elites do tecido empresarial da região, da Igreja Católica ou das instituições públicas locais que as financiam.

No terceiro capítulo, fazemos o cruzamento entre os jornais que nos servem de objeto de estudo e o enquadramento teórico, que pretenderá demonstrar a relação das elites locais e a região de Cister. Este trabalho empírico leva-nos a questionar a influência das elites que integram o nosso objeto de estudo e a perceber que opinião pública promovem os mesmos meios de comunicação social regionais.

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OBJETO DE ESTUDO E METODOLOGIA

Objeto de estudo

Antes de mais, importa justificar a escolha dos títulos regionais – O Alcoa, Região de Cister e Região da Nazaré – para objeto de estudo deste trabalho. O primeiro motivo tem a ver com a experiência profissional pessoal em dois destes jornais – O Alcoa e o Região de Cister. O conhecimento e experiência profissional respeitantes aos três objetos de estudo incentivaram, assim, a escolha destes títulos. Obviamente que a relação entre eles, nomeadamente no seu âmbito geográfico e na comunidade local, validou a opção.

Além disso, importa referir que só o conhecimento e a experiência pessoal que existe do território e dos jornais em questão, pelo exercício da profissão de jornalista

n’O Alcoa durante dois anos e no Região de Cister desde 2013 até ao presente,

permitiram descrever e explicar grande parte dos processos, comportamentos e atitudes das publicações, com maior detalhe, rigor e complexidade. As informações e factos descritos neste trabalho, relativamente às três publicações em estudo, são ainda sustentados em entrevistas e inquéritos.

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Metodologia

O estudo de caso é um trabalho empírico feito com base nas características do fenómeno em estudo e num conjunto de especificidades associadas ao processo de recolha de dados e às estratégias de análise dos resultados, que consiste na investigação de determinado fenómeno em contexto real, através de diferentes formas de recolher dados (Yin, 1989, p. 13). Neste trabalho em particular, o estudo de caso desenvolvido teve como característica o facto de se realizar em diferentes jornais ao mesmo tempo, sendo por isso um estudo de caso múltiplo (ibidem, p. 52).

No processo de recolha de dados, o estudo de caso recorre a várias técnicas próprias da investigação qualitativa, nomeadamente a pesquisa documental, a entrevista e a observação. Segundo Yin, a utilização de múltiplas fontes de dados na construção de um estudo de caso permite-nos considerar um conjunto mais diversificado de tópicos de análise e, em simultâneo, permite confirmar o mesmo fenómeno (1994, p. 92). No caso de o investigador ser um observador-participante, alguns autores (ibidem, p. 88) e Merriam, 1995, p. 11), alertam para esse perigo, mas também para as mais-valias que esse papel pode proporcionar.

Para darmos corpo à dissertação sob o tema “Jornalismo de proximidade e elites

locais” optámos por uma análise bibliográfica sobre imprensa regional, de modo a

encontrar o fio condutor de um quadro teórico que nos sirva de referência. Entendemos, por isso, que seria útil um enquadramento teórico através de uma análise do jornalismo de proximidade, focando o seu conceito, as suas funções, as suas fragilidades e o peso das elites locais.

Contudo, em primeiro lugar, iremos descrever alguns aspetos do contexto geográfico onde os três jornais do nosso estudo intervêm, passando a uma caracterização geral sobre o perfil de cada publicação. A nossa análise será sustentada em documentação escrita e no conhecimento empírico do território, resultante da experiência pessoal em duas das redações em estudo e de entrevistas com um dos diretores dos jornais e do presidente da Câmara Municipal da Nazaré.

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do Região de Cister 26 edições, no caso d’O Alcoa 12 edições e no Região da Nazaré 13 edições. A escolha desse período deveu-se ao facto de terem decorrido eleições autárquicas, realizadas em setembro de 2013, possibilitando uma análise mais objetiva e rigorosa ao tratamento que os três jornais deram, em diferentes momentos, às elites com mais expressão a nível local: os políticos. Durante estes seis meses houve conteúdos noticiosos, que suplantaram o agenda setting quotidiano, facto que, pelo seu valor jornalístico, mobilizou os três jornais que integram o nosso objeto de estudo, tornando, assim, a análise comparativa mais efetiva.

Uma vez definida a amostra a estudar, a análise de conteúdo decorreu em duas fases complementares: a análise quantitativa, em que contabilizámos e analisámos os assuntos tratados nas primeiras páginas e no corpo do jornal; e a análise interpretativa, em que, além dos resultados percentuais sobre as categorias que mais destaque deram os jornais, procedemos a uma identificação dos protagonistas ou entidades, nas mais diversas áreas, que surgem com maior regularidade em cada publicação.

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notícias sobre hospitais e centros de saúde. Na Educação agrupam-se notícias relacionadas com escolas, alunos, professores e projetos pedagógicos.

No caso da Política, dada a diversidade de ângulos de que é objeto, consideramo-la no seu sentido mais convencional: atividade partidária (tudo o que diga respeito à vida interna dos partidos, as suas ações externas em tempo de eleições ou fora delas); atividade autárquica (atuações dos executivos municipais, reuniões políticas e declarações das maiorias e das oposições referentes à gestão camarária) e assembleias municipais (debates, reuniões e votações). Aqui, e como parte do período compreendido da análise coincidiu com as eleições autárquicas de 2013. Também especificamos quais os partidos ou candidatos que mereceram mais, ou menos, destaque nos três órgãos de comunicação social regionais de Alcobaça e da Nazaré.

Por sua vez, na Economia consideram-se as notícias que retratem empresas e associações empresariais, bem como notícias sobre consumo, evolução do tecido empresarial e projetos de áreas comerciais e industriais. Na Cultura, tivemos em conta as notícias de todas as áreas culturais reconhecidas como teatro, música, dança, artes plásticas e literatura. Por fim, no Desporto incluem-se todas as notícias das diferentes modalidades, facilmente identificadas, não se justificando, por isso, a sua divisão em subcategorias.

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Capítulo Primeiro

A IMPRENSA NA REGIÃO DE CISTER

A região de Cister

O território da imprensa regional dos concelhos de Alcobaça e da Nazaré, designadamente os quinzenários O Alcoa e o Região da Nazaré e o semanário Região de Cister, que integram o nosso objeto de estudo, é o mesmo território onde se instalou, durante seis séculos, a Ordem religiosa de Cister que, por doação de D. Afonso Henriques, ergueu, na confluência dos rios Alcoa e Baça, o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça. Foi a chamada região de Cister que serviu de polo aglutinador de uma região dispersa e que se estendia da serra ao mar, criando um conceito de comunidade que juntava agricultores e pescadores debaixo da mesma ordem religiosa.

A história de Alcobaça é contada por diversos autores da cidade1, que nos servem de referência nesta fase do trabalho. A origem de Alcobaça como vila remonta à época dos romanos, como se depreende do nome da antiga povoação “Helcobatie”. Mais tarde, adquiriu a denominação árabe de Al-cobaxa, que resulta da composição do

antigo “al” e “cobaxa” (carneiros), característica das paisagens de outeiros em redor da

vila. Além do nome da cidade, o artigo “al” é característica a algumas freguesias do concelho, tais como Alfeizerão, Aljubarrota e Alpedriz. A partir do século XII, o Mosteiro organizou um sistema agrícola, altamente produtivo, no território dos coutos de Alcobaça. Os monges, para além da sua atividade religiosa e cultural, desenvolveram uma ação colonizadora notável. Eram 13 as vilas dos coutos de Alcobaça: Alcobaça, Alfeizerão, Aljubarrota, Alvorninha, Cela, Cós, Évora de Alcobaça, Maiorga, Paredes da Vitória, Pederneira, Santa Catarina, São Martinho do Porto e Turquel. A vila de Alcobaça recebeu foral de D. Manuel I, em 1514. Em meados do século XVII, a maioria dos coutos já pertencia aos habitantes das vilas e dos seus concelhos. Durante séculos, os monges governaram o território e desenvolveram técnicas agrícolas que ainda hoje perduram, sendo célebre o sistema hidráulico introduzido dentro do próprio Mosteiro e que permitia a gestão da água por baixo do convento, servindo diversos espaços do monumento. A 13 de outubro de 1833, os monges são expulsos do Mosteiro, na

1 Maria Zulmira Furtado Marques é a autora da obra “Por terras dos antigos coutos de

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sequência da extinção das ordens religiosas por ordem de D. Pedro IV, e, em 1834, parte do Mosteiro é vendido em hasta pública. Das 13 “vilas-concelho”, apenas duas subsistem como sede de concelho: Alcobaça e Pederneira, a atual Nazaré. A 30 de agosto de 1995, Alcobaça foi elevada a cidade.

Por sua vez, o concelho da Nazaré foi ocupado desde tempos remotos por romanos, povos bárbaros e povos medievais e cristãos. O território que, atualmente, ocupa o concelho da Nazaré foi couto dos “monges brancos” de Cister, terra de reis, lugar de milagres e de peregrinações. As freguesias de Famalicão e de Valado dos Frades apresentam vários vestígios desses tempos antigos.

O Sítio da Nazaré foi, desde o século XIV, um local de devoção e de milagre, onde nasceu o mais antigo santuário mariano da Península Ibérica, erigido em honra de Nossa Senhora da Nazaré que, diz a lenda, salvou o fidalgo D. Fuas Roupinho de cair do promontório. A instalação de um elevador mecânico, que faz a ligação entre o Sítio e a Praia, em 1889, consolidou o desenvolvimento da povoação, sendo ainda hoje uma das principais atrações turísticas da vila.

A vila da Pederneira é o centro histórico mais antigo, sendo referenciado como terra de pescadores desde o século XII. Durante os séculos XV e XVI, a Pederneira recebeu um importante estaleiro naval que construiu naus na Época dos Descobrimentos. Recebeu Carta de Foral em 1514, por D. Manuel I. A vila da Nazaré é relativamente recente, pois só no século XVII, em 1643, é que surge referência sobre a pesca na atual Nazaré, outrora ocupada pelo mar. Os pescadores ocupavam a parte mais alta – o Sítio – e só com o recuo das águas começaram a ocupar a zona mais baixa. Em 1780, a Nazaré já tinha adquirido um desenvolvimento considerável, uma vez que nessa data existiam na praia 58 cabanas para a arrecadação dos utensílios de pesca. Contudo, até inícios do século XIX, os pescadores, para fugir às constantes agressões de piratas argelinos e holandeses, viviam na Pederneira e no Sítio. Só em meados desse século é que a Nazaré começa a ser conhecida como praia de banhos. Até 1855, a sede do concelho foi a Pederneira, passando depois para Nazaré, só havendo alteração da toponímia em 1912.

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Com uma população de 56.037 habitantes, disperso num território de 408,14 quilómetros quadrados e distribuído por 13 freguesias, Alcobaça é um dos mais importantes concelhos do distrito, do ponto de vista económico, histórico e social. Além da atividade agrícola, o concelho destaca-se pela diversidade industrial, com destaque para setores como a cerâmica, a agricultura, o calçado, os moldes ou a cutelaria, que se dedicam, maioritariamente, à exportação. O Mosteiro é, ainda hoje, o grande ex-líbris do concelho, sendo um dos monumentos nacionais mais visitados por turistas.

Por sua vez, o concelho da Nazaré, constituído por três freguesias e com um território de 82,43 quilómetros quadrados, tem, segundo os últimos Censos, uma população residente de 14.813 habitantes. É um dos concelhos geograficamente mais pequenos do distrito, destacando-se pela forte identidade cultural, marcada pela arte piscatória e pelo turismo, as duas principais atividades económicas da população.

Imprensa dos concelhos de Alcobaça e da Nazaré

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a redação em Alcobaça, e a Rádio Benedita FM, que tem a sua área de influência nas freguesias da Benedita e de Turquel.

Na Nazaré, o quinzenário Região da Nazaré é o único título de imprensa a ser publicado, depois do fim do também quinzenário Gazeta da Nazaré, jornal que foi fundado por António José Balau e que foi vendido em 1997 à Sojormedia, que já detinha, entre outros, o Região de Leiria. O jornal manteria a periodicidade até ser adquirido, em 2001, por um grupo de empresários ligados ao PS. A Gazeta da Nazaré manteve a publicação como quinzenário até 2006, já depois de ter mudado de proprietários, no caso com ligações ao executivo PSD na Câmara. Já extinto foi o mensário Notícias da Nazaré, que foi considerado, nos primeiros anos da década de 1990, um dos principais adversários políticos do socialista Luís Monterroso, antigo presidente da Câmara. Até 1998 também se publicou o mensário Voz da Nazaré, título editado por um professor primário, António Quadrado, que era considerado um jornal próximo dos pescadores. A rubrica “O mar é um cão”, que recordava naufrágios e acidentes no mar, era uma das imagens de marca desta publicação. Hoje em dia, o concelho dispõe, ainda, da Rádio Nazaré FM, emissora que é propriedade da associação que organiza a Meia-Maratona Internacional da Nazaré.

Prosseguimos agora com um breve historial dos três jornais que nos servem de objeto de estudo, referindo os principais elementos que os caracterizam, optando pela ordem cronológica da respetiva data de fundação.

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Dos cinco jornalistas do Região de Cister (três) e d’O Alcoa (dois), a maioria são do sexo feminino, com uma percentagem de 80% (cinco contra um). Em relação à idade, metade tem entre 30 e 40 anos e a outra metade varia entre os 20 e os 30 anos. Relativamente às habilitações literárias, comprova-se que todos os jornalistas possuem o grau de licenciatura, sendo que a mais frequente é em Comunicação Social e em Ciências da Comunicação. Estes dados ilustram a aposta qualitativa por parte dos órgãos de comunicação social em jovens quadros com formação específica na vasta área das ciências da comunicação, afastando, assim, a imagem de uma imprensa regional amadora ou sem formação académica dos seus quadros.

Em relação ao tempo de serviço, verifica-se que os dois jornalistas do Região de Cister trabalham há mais de dez anos no semanário, enquanto a outra jornalista e as

duas jornalistas d’O Alcoa estão ligados aos jornais há menos de cinco anos. Todos os

80%

10% 10% 0

1 2 3

Até 29 anos 30 a 40 anos

Gráfico 1. Distribuição dos jornalistas por sexo e idade

Feminino Masculino

0 1 2

O Alcoa Região de Cister

Gráfico 2. Distribuição dos jornalistas inquiridos por sexo e jornal

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jornalistas possuem carteira profissional, à exceção de uma jornalista d’O Alcoa. De realçar, que dois dos quatro jornalistas têm carteira profissional há mais de 10 anos, enquanto os outros dois a possuem há menos de cinco anos.

No que diz respeito ao vínculo laboral, os profissionais das redações da imprensa de Alcobaça estão, na sua maioria, efetivos, sendo que dois deles se encontram em regime de freelancer. Em relação à remuneração ilíquida mensal dos jornalistas, o conhecimento que temos permite-nos afirmar que a maioria dos jornalistas (três) recebe um salário entre os 500 e 750 euros e os restantes (dois) auferem um rendimento entre os 750 e os 950 euros.

Esta caracterização da classe jornalística dos jornais de Alcobaça em estudo permite-nos concluir que a maioria dos jornalistas são mulheres, com formação superior na área da comunicação social, habilitados com carteira profissional e alguma estabilidade laboral. Por outro lado, as redações são compostas com uma média de três jornalistas, obrigando a um trabalho intensivo e que, consequentemente, poderá resultar em menor qualidade do trabalho editorial.

O Alcoa

No número 1 do Ano I, o diretor João de Sousa e Brito escreveu: “Rompemos a marcha, animados dessa esperança compreensiva que alenta os bem intencionais, proporcionando à nossa região um órgão informativo de segura utilidade, para o seu progressivo desenvolvimento”. Nascia assim, a 27 de dezembro de 1945, o primeiro número do jornal O Alcoa, propriedade da Paróquia de Alcobaça.

O padre Manuel Vitorino, pároco de Alcobaça na época, foi o responsável pela fundação do periódico, que arrancou com quatro páginas e que se assumiu como o semanário de Alcobaça, com edições de 300 exemplares. A 26 de fevereiro de 1972 passou a quinzenário, sob a direção de Mário Campos Vazão, que desempenhou funções até março de 2011. Os seus antecessores foram João Maria de Sousa e Brito, que esteve 16 anos à frente do jornal; Padre Luís da Costa, um ano e meio; Tarcísio Trindade, durante seis anos, acumulando o cargo com o de presidente da Câmara de Alcobaça, e, por sua vez, Adélio Maranhão, dez meses.

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apenas por “correspondentes” das freguesias, que, voluntariamente e de uma forma amadora, davam a conhecer aos leitores as notícias da sua terra. As primeiras páginas eram muitas vezes feitas com comunicações de Salazar ao país e com visitas a Alcobaça de altos dirigentes da União Nacional (entre novembro de 1947 e dezembro de 1949). O jornal esteve sempre muito próximo do regime, adotando uma atitudeconservadora.

Fotografias a ilustrar artigos só aparecem a partir do jornal número 9, a 21 de fevereiro de 1946. As poucas imagens que são publicadas têm a ver com acontecimentos políticos nacionais. Este facto poderá dever-se à falta de meios do jornal para obter fotografias de temas locais. Nos últimos meses do ano de 1949, o jornal deu um salto qualitativo com diversos números dedicados a notícias das freguesias. Nessa época, ainda que todos os números fossem visados pela censura, o jornal crescia a bom ritmo e chegaram a contar-se mais de oito mil assinantes.

Mário Vazão esteve à frente do jornal durante 39 anos e foi o responsável pela estabilidade d’O Alcoa. O professor manteve uma atitude de equilíbrio editorial, evitando situações polémicas ou de conflito, posicionamento que se mantém até aos dias de hoje do quinzenário. Apaixonado pela imprensa regional, foi o responsável pela encadernação de todas as edições do jornal e, além disso, adotou a mesma atitudepara outros títulos da imprensa da região, alguns dos quais já extintos. Muitos estudantes universitários recorrem aos arquivos d’O Alcoa para trabalhos de investigação histórica, cumprindo-se, desta forma, um serviço público de grande importância para a comunidade científica e para a população em geral.

Sob a coordenação do padre Carlos Jorge Vicente, também pároco de Alcobaça, e a direção de Ana Caldeira, que assumiu o cargo em março de 2011, a publicação tem procurado uma linha mais generalista de conteúdos e de grafismo, nomeadamente através da contratação de duas jornalistas e uma designer. O jornal conta ainda com uma diretora-adjunta, uma administrativa e duas comerciais. Recentemente, o padre Carlos Jorge Vicente foi substituído pelo padre Ricardo Cristóvão.

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informação, pondo em evidências a falta de conhecimento e experiencia dos seus quadros. Na cidade e no seu concelho é ainda visto como o “jornal dos mortos”, pela publicação extensiva de anúncios de necrologia.

O quinzenário do concelho de Alcobaça assumiu um novo grafismo na edição de 29 de dezembro de 2011, na data em que comemorou 66 anos de vida. A partir dessa edição, o jornal de inspiração cristã passou a estar dividido pelas suas 24 páginas da seguinte forma: “Nascente”, que reflete a sua linha editorial e espelha as notícias da

Igreja e da paróquias do concelho de Alcobaça; “Corrente” que noticia a atualidade da

região; “Contracorrente” dando espaço aos artigos de opinião, perguntas aos leitores e cartas ao diretor; “Afluente” que traz cultura, lazer, desporto e saúde; “Canal” que dá

informação útil ao leitor e a última página, denominada “Foz”, com uma rubrica fixa

(“Onde está Você”) que pretende dar a conhecer ao seu público o percurso de pessoas com raízes alcobacenses espalhadas pelo mundo. O recurso às novas tecnologias de informação foi outro passo tomado por esta direção, que, em abril de 2012, disponibilizou, pela primeira vez, uma página da Internet do quinzenário em www.oalcoa.com, ainda que sem acesso online à edição em pdf.

Sob o slogan “O Jornal de Todos Nós”, O Alcoa, que já deu à estampa mais de

dois milhares de edições, sai para as bancas quinzenalmente à quinta-feira, contando com uma tiragem média de 4700 exemplares por edição e 4400 assinantes, assumindo-se como o jornal regional de Alcobaça com mais assinantes.

Propriedade da Paróquia de Alcobaça, O Alcoa afirma no seu estatuto editorial que o jornal “entende a sua orientação cristã como um desafio acrescido de independência e pluralidade no tratamento da informação e de abertura ao debate de

ideias”, assumindo-se, em simultâneo, como “um jornal de informação geral, aberto aos

diferentes temas e pontos de vista”. Contudo, em situações tão polémicas para a Igreja como o aborto ou o casamento entre homossexuais, o quinzenário assume claramente a sua parcialidade.

Região de Cister

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Joaquim Marques, Fernando José Luís, José Pedrosa, Rui Paulino e a empresa Henriques e Henriques, Lda, representada por António José Henriques. Joaquim Marques foi nomeado diretor.

A 9 de agosto de 1993, a SICA cede o título à recém-criada Coopicister (Cooperativa Cultural da Região de Cister), constituída por um conjunto de empresários da região que assumem vontade de manter a publicação do jornal. Inicialmente, o jornal era considerado como próximo da maioria do PS na Câmara Municipal de Alcobaça, uma vez que, alguns dos proprietários pertenciam ao partido que estava no poder, alguns dos quais, inclusive, com funções executivas. Esta foi uma imagem que, ao longo de alguns anos, se começou a desvanecer com o profissionalismo da redação e com a venda do título à Jorlis, a 22 de dezembro de 1997, que já detinha os semanários “Jornal de Leiria”, “Correio de Pombal” e “Tribuna do Oeste”. A 2 de janeiro de 1998 a Jorlis assumiu a administração do semanário e no dia 21 desse mesmo mês, Joaquim Marques decide renunciar ao cargo de diretor.

Com uma equipa redatorial semiprofissional, e dois jornalistas nos quadros, o jornal começa a implantar-se no mercado, mas os primeiros anos do semanário são marcados por dificuldades económicas, agravadas com a falta de apoios institucionais por parte do Estado. Só a partir de 1 de janeiro de 1995, o Região de Cister passou a ter “Porte Pago”2. A passagem do título para a Jorlis representa um reforço imediato da

redação, com a contratação de um grupo de três jovens jornalistas que procuram dar um novo impulso à publicação. O jornal conhece avanços e recuos até ao verão de 2002, momento em que a empresa proprietária resolve suspender a publicação do jornal durante o mês de agosto devido, sobretudo, a questões financeiras.

O Região de Cister renasce sob a direção de Francisco M. Figueiredo e com uma equipa de jovens jornalistas que irão assegurar uma verdadeira transformação no semanário. O jornal ganha credibilidade e assume-se como uma publicação incontornável na região. José Ribeiro Vieira acumula a administração com a direção editorial do jornal, em novembro de 2006. O semanário introduz novos métodos de produção e coloca os jornalistas a escrever diretamente na página, prática que se mantém até aos dias de hoje, suprimindo, assim, o posto de trabalho de um paginador.

2Pagamento, total ou parcial, pelo Estado aos operadores postais, em regime de avença, dos custos de

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O semanário dos concelhos de Alcobaça e da Nazaré entra, então, numa fase marcada pela inovação tecnológica e pela entrada na Internet, aumenta o número de páginas e começa a produzir novos conteúdos. A transformação definitiva dá-se com o lançamento do novo grafismo, em dezembro de 2008, que faz uma quebra com a imagem anterior do jornal.

Mandatário em diversos atos eleitorais, nomeadamente de Cavaco Silva às presidenciais de 2007, de Isabel Damasceno à Câmara de Leiria pelo PSD em 2009 e de José Sócrates às legislativas de 2005, José Ribeiro Vieira suspendeu, temporariamente, as funções na direção no Jornal de Leiria nesses períodos eleitorais, mas nunca o fez no Região de Cister, o que criou alguma celeuma na comunidade política de Alcobaça e Nazaré. Ainda assim, foi sob esta administração e direção, que o Região de Cister se consolidou como uma publicação de referência na região.

Por razões financeiras, mas sobretudo de saúde do administrador e diretor do semanário, em finais de 2011, a Jorlis resolve desfazer-se do título. José Ribeiro Vieira dirige o jornal durante os últimos meses de vida, período durante o qual consuma a venda do título à Prosa Perfeita, empresa criada pelo empresário Pedro Calado, com participação no capital social de duas associações locais: a Associação de Agricultores da Região de Alcobaça e a Associação de Produtores Florestais de Alcobaça. Pedro Calado, antigo presidente da Associação dos Agricultores da Região de Alcobaça e que chegou a ser líder da concelhia do CDS/PP no concelho de Porto de Mós, passa a diretor, tendo procurado que o jornal fosse mais direcionado para assuntos como a agricultura e as florestas. Em termos políticos, o empresário chegou a tomar posições públicas que também criaram polémica, nomeadamente a publicação de um editorial, com a sua assinatura, em tom acusatório, contra Álvaro Cunhal (PCP). A situação foi altamente excecional, uma vez que os editoriais do semanário nunca são assinados e, nessa época, até eram redigidos pelo editor do jornal, tendo merecido violentas críticas das estruturas políticas locais do PCP, mas também de leitores, que se fizeram sentir através de cartas ao diretor, publicadas na edição seguinte, manifestando a sua indignação para com a posição tomada.

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1 euro. Também os seus recursos humanos sofreram alterações, com a saída de uma jornalista dos quadros, de uma administrativa e uma técnica comercial, ficando a redação reduzida a uma comercial/administrativa em regime de estágio e apenas dois jornalistas nos quadros da empresa, sendo que um dos profissionais esteve ausente da redação cerca de um ano, por razões de saúde.

Estes constrangimentos colocaram, uma vez mais, o jornal em risco de fechar. Até que em março de 2014, o jornal é vendido à Banda de Alcobaça, instituição dedicada ao ensino da música e da dança, que dá novo impulso ao título. A nova administração pretende vincar uma quebra com o passado recente e, pela primeira vez em oito anos, nomeia um jornalista para o cargo de diretor e não um dos proprietários do jornal para assumir aquelas funções. Além da nomeação de Joaquim Paulo como diretor do semanário, a administração baixa de imediato o preço das assinaturas para 32 euros e aumenta o número de páginas das edições para 20. Desde então que a administração e direção do jornal têm procurado apostar em novos públicos e novas fontes de receita, nomeadamente com a criação de um novo site (www.regiaodecister.pt) e com o lançamento de novos projetos editoriais, como é o caso do Made in Cister, constituído pela edição de uma revista, a produção de um documentário em vídeo e a realização de uma conferência pública, em contexto real, sobre um setor tradicional dos concelhos de Alcobaça e Nazaré. Esta intensa atividade editorial e comercial, a que se acresce a opção estratégica de publicar, como suplemento, jornais escolares e edições especiais sobre freguesias ou eventos, faz com que o jornal passe a ser publicado com edições de 28 e 32 páginas com muita frequência.

Joaquim Paulo, diretor do semanário, com uma tiragem de 2.500 exemplares,

afirma que existem dois tipos de leitores do Região de Cister: “os assinantes, com mais

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Região da Nazaré

Fundado em setembro de 2003, o quinzenário Região da Nazaré surgiu na sequência da cisão do corpo redatorial da Gazeta da Nazaré, jornal que se publicava com a periodicidade de quinzenário desde que foi adquirido, em agosto de 2001, pela empresa GuilhimPress à Sojormedia, grupo que detinha, entre outros títulos, o Região de Leiria.

O arrastar da situação financeira da GuilhimPress, com salários e fornecedores em atraso, e a falta de soluções da administração da empresa levou os jornalistas e colaboradores a encontrarem novos investidores para o jornal. O empresário António Salvador, que detinha a loja onde funcionava a redação do jornal, assumiu o compromisso de viabilizar a Gazeta da Nazaré, mas os sócios da GuilhimPress não compareceram à escritura de venda do título, o que originou a saída do diretor Manuel António Sequeira e da restante equipa editorial, que fundam, com António Salvador na administração, o Região da Nazaré.

O novo quinzenário surge nas bancas com um grafismo arrojado e uma abordagem noticiosa que questiona o poder autárquico local. Dois anos depois, António Salvador é candidato à Câmara, em 2.º lugar na lista, pelo Grupo de Cidadãos Independentes. A Gazeta da Nazaré mantém a sua publicação, com Artur Ledesma na direção, sendo adquirido por empresários ligados ao PSD, partido no poder. Este jornal, porém, fecha as portas em 2006, pouco depois das eleições autárquicas.

O Região da Nazaré apresenta algumas novidades no arranque, nomeadamente o facto de não se cingir à cobertura noticiosa do concelho da Nazaré. A administração do jornal define como política editorial acompanhar as freguesias do concelho de Alcobaça que tinham continuidade geográfica territorial com o concelho da Nazaré: Pataias, Alcobaça, São Martinho do Porto, Bárrio, Cela, Cós, Montes, Alpedriz, Alfeizerão, Maiorga. E assume essa ligação territorial na capa do jornal. Porém, seis meses depois, e devido à recetividade do mercado, o Região da Nazaré passa a chegar também às restantes freguesias do concelho vizinho: Turquel, Benedita, Vimeiro e Martingança.

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do BE à Assembleia Municipal e encontra no Grupo de Cidadãos Independentes, no qual consta António Salvador como candidato à Câmara, o principal adversário.Ambos são eleitos.

O jornal sofre algumas alterações e aposta uma atitude críticapara com os atores políticos locais, sendo, algumas vezes, o próprio vereador António Salvador a ser sancionado. Pouco depois António Paulo demite-se da direção do Região da Nazaré, justificando não ter condições para desempenhar o cargo. António Salvador, que era vereador na Câmara, passa a ser diretor do jornal em outubro de 2006, desempenhando ambos os cargos. A administração decide-se por um processo disciplinar a António Paulo, que chega aos tribunais e não conhece desfecho devido à morte do jornalista.

Com a mudança no executivo, o Região da Nazaré passa a ter uma nova abordagem noticiosa dos assuntos relacionados com a Câmara, valorizando o trabalho desenvolvido pela nova maioria no executivo e ficando a oposição com menos espaço para formular críticas e fazer o contraponto da atividade autárquica. Em 2009, António Salvador integra a lista do PSD à Câmara e o Região da Nazaré continua a ser vinculado à maioria, até que, em 2011, o presidente da Câmara nomeia todos os vereadores da oposição para cargos executivos. Essa opção política leva a novo afastamento de Jorge Barroso e António Salvador, o qual virá a ser o candidato do MPT à Câmara em 2013. O jornal volta a funcionar, nesses dois anos, como moeda de arremesso política, com grande protagonismo para a oposição.

Hoje em dia, o Região da Nazaré integra o grupo MediaOeste, no qual se integra o Jornal das Caldas, cujos colaboradores assumem a maior parte dos conteúdos noticiosos do Região da Nazaré, que continua a ser dirigido por Clara Bernardino e que não tem qualquer jornalista nos quadros. Da equipa inicial apenas se mantém o colaborador do Desporto. O jornal tem ainda um correspondente em Alcobaça. A falta de uma estrutura profissional tem sido apontada como uma das principais fragilidades do jornal, aliada a uma falta de isenção e distanciamento para com a cena política local, variando a linha editorial em função do posicionamento do seu proprietário.

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Capítulo Segundo

JORNALISMO DE PROXIMIDADE E ELITES LOCAIS

Conceito de jornalismo de proximidade

Os jornais regionais dirigem-se a um público perfeitamente identificado, por norma tendo em conta uma determinada área geográfica, e sempre ligados por um contexto de comunidade e identidade. A existência de valores históricos, sociais, culturais e económicos, em suma, de interesses comuns, tende a aproximar as populações, criando uma lógica de proximidade e partilha entre pessoas, instituições e empresas que a imprensa local e regional procura representar e amplificar, trabalhando, portanto, uma informação de proximidade.

Vejamos o conceito de jornalismo de proximidade apresentado por Moragas acerca dos órgãos de comunicação social de proximidade:

“São todos os que se dirigem a uma comunidade humana de tamanho médio ou pequeno, delimitada territorialmente, com conteúdos relativos à sua experiência quotidiana, às suas preocupações e aos seus problemas, ao seu património linguístico, artístico e cultural e à sua memória histórica.” (apud Coelho, 2004, p. 154).

Esta definição parece-nos ser o conceito de jornalismo de proximidade mais completo, uma vez que não valoriza apenas a localização geográfica dos órgãos de comunicação, trazendo à luz o aspeto que, verdadeiramente, espelha a imprensa regional: a comunidade. “São as comunidades que mantêm contacto entre si por via da partilha de interesses comuns, privilegiando formas de solidariedade informal aos modelos de organização convencional” (Mercadé, 1997, p. 49). Diz-nos ainda Manuel Fernández Areal que “o jornal nasce sempre ligado a uma comunidade. O jornal deve servir, pois, os interesses nobres desta comunidade a que deve a sua existência. O jornal local ou regional é, concluamos, o mais claro exemplo de serviço a uma comunidade reduzida –por contraste com a nacional” (apud Camponez, 2002, p. 31).

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de emigrantes dispersas pelas partes mais longínquas do Mundo”. Tal como Carlos Camponez confirma:

“O território revela-se (...) insuficiente para, por si só, (...) explicar a imprensa regional e local. (...) A proximidade já não se mede em metros. Devemos estar preparados para conceber a produção de conteúdos que, embora longe de nossas casas, nos são próximos, bem como para assistir à produção nas regiões de conteúdos tão homogeneizados e massificados

quanto os das grandes corporações de media.” (Camponez, 2002, p. 128).

O autor apoia-se na ideia de Teun Van Dick (1996, pp. 173-181), de que a proximidade não se limitaria a uma dimensão geográfica ou territorial, mas compreenderia a existência de outros tipos de demarcação, nomeadamente a social e psicoafetiva. De acordo com Camponez, “a proximidade pode ser geradora do que denominamos por comunidades de lugar. O conceito reporta-se a uma proximidade

situada localmente, num espaço e num tempo territorialmente identificados”. Daí que,

“esta proximidade da comunidade de lugar, criada na partilha de valores e de um território é também geradora de formas comunicacionais características de que a imprensa regional é um exemplo” (2002, p. 45).

Luísa Teresa Ribeiro acrescenta a afinidade cultural e a comunhão de interesses como dois critérios determinantes para a delimitação e formação de conteúdos na imprensa local e regional (2006, p. 93). A nosso ver, esta associação faz todo o sentido, uma vez que o “território” determina e delimita o “campo de ação”, mas, neste tipo de jornalismo, deixou de ser meramente espacial; pode ser “de base cultural, ideológica, idiomática, de circulação da informação, familiaridades no campo das identidades histórico-culturais (língua, tradições, religião), proximidade de interesses” (Peruzzo, 2005, p.10).

Por seu turno, Mercadé apontou, na sua tese de doutoramento, “a redação (o lugar de produção e de apreensão dos acontecimentos), o âmbito de difusão e cobertura, a vocação e intencionalidade da publicação, o tratamento dado aos conteúdos, a perceção do jornal sobre o leitor, e a relação com as fontes de informação institucionais,

elementos fundamentais para o conceito de jornalismo de proximidade” (apud

Camponez, 2002, p. 158).

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região. A estes meios de comunicação social compete, assim, desenvolver um espaço familiar à comunidade, que pode estar em qualquer local do mundo, mas que os acontecimentos noticiados lhes dizem diretamente respeito, e, por isso, constrói-se uma relação de identificação entre a comunidade e os acontecimentos, como afirma Peruzzo:

“Importa entender que o local se caracteriza como espaço vivido em que há elos de proximidade e familiaridade, os quais ocorrem por relacionamentos (económicos, políticos, vizinhança, etc.) e laços de identidade os mais diversos, desde uma história em comum, até a partilha dos costumes, condições de existência e conteúdos simbólicos, e não simplesmente em decorrência de demarcações geográficas.” (Peruzzo, 2003, p. 69).

Falamos, então, de uma identidade, que Morley e Robbins (1995, p. 72)

entendem ser “matéria-prima construída pela história, pela memória coletiva, pela

tradição, pela geografia e pela religião”, ligada a uma região. P. Bourdieu (1994, pp.

107-132) defende, aliás, que “a fronteira nunca é mais do que o produto de uma divisão

a que se atribuirá mais ou menos fundamento na realidade social”. Até porque, o

importante é que o leitor se reveja nessa identidade regional, esteja perto ou longe das suas raízes, onde os jornais têm a sua sede.

O Alcoa, um dos jornais que integra o nosso objeto de estudo, serve de exemplo para entender a questão do discurso da imprensa regional e local entre a localização territorial do jornal e a comunidade que procura servir. Apesar de assumir como área geográfica de influência o concelho de Alcobaça, o quinzenário acaba por “desrespeitar” a divisão administrativa autárquica entre os concelhos de Alcobaça e da Nazaré, apresentando conteúdos das freguesias de Valado dos Frades e de Famalicão, que integram o concelho da Nazaré. Além das razões históricas, sociais, económicas e culturais, a ideia dessa territorialidade e comunidade construída pel’O Alcoa pode explicar-se pela própria divisão administrativa do Patriarcado de Lisboa, a que o

quinzenário “responde” na hierarquia da Igreja Católica. O grupo, da Vigararia de

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Também o Região da Nazaré rompe com as fronteiras e estende-se até à comunidade de Alcobaça. Contudo, o quinzenário da Nazaré e de Alcobaça dá primazia às notícias da sede territorial do jornal, conferindo mais espaço noticioso ao concelho da Nazaré, em detrimento do concelho de Alcobaça, o que se explica com o facto de os seus leitores serem maioritariamente nazarenos e estes terem criados elos de proximidade e familiaridade mais fortes ao jornal.

O Região de Cister parece ser o único jornal regional que assume os territórios dos concelhos de Alcobaça e da Nazaré como a sua comunidade. De salientar que, ainda assim, as mensagens difundidas pelo semanário têm sempre em conta os seus destinatários, que, neste caso, são maioritariamente alcobacenses, daí que o concelho de Alcobaça tenha habitualmente mais espaço nas páginas de Sociedade – quatro a cinco páginas – do que o concelho da Nazaré – nunca passa de uma página por edição.

No fundo, os três jornais direcionam a sua mensagem para o mesmo território geográfico – a área dos concelhos de Alcobaça e da Nazaré –, mas para destinatários distintos: O Alcoa destaca-se como um jornal ao serviço da Igreja Católica e, por isso, difunde a sua mensagem ao público religioso e com maior predominância para Alcobaça, por ser a sua sede; o Região da Nazaré dirige-se, sobretudo, para o público do concelho da Nazaré, embora também aspire alcançar a do concelho de Alcobaça; enquanto o Região de Cister procura assumir-se como um jornal que, como o próprio nome indica, quer servir as populações dos concelhos, embora reforce a sua presença noticiosa em Alcobaça, onde tem a sede.

Estas tendências confirmam e enfatizam que o conceito de proximidade no jornalismo vai muito além do espaço geográfico; ele estende-se aos elos de proximidade e familiaridade dos seus leitores, que tanto podem ter acesso aos jornais no espaço onde estes são produzidos, como no outro lado do mundo. A afinidade e esta partilha de valores e identidade entre os leitores permitirão facilmente a descodificação da mensagem difundida pelos meios de comunicação social de proximidade.

Compromisso comunicacional

“Entre os meios de comunicação social de proximidade e os destinatários há um conjunto de experiências compartilhadas e isso surge refletido nos conteúdos impressos

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comunicacional que assenta num compromisso específico com a proximidade: defender a região e as suas gentes, em nome do desenvolvimento” (Coelho, 2004, p. 129). Cenário que Carlos Camponez também defende:

“A especificidade da imprensa regional resulta do seu compromisso específico, do seu

pacto comunicacional com um território que não pode deixar de representar um recorte parcial de um espaço mais vasto. Trata-se, portanto, de um jornalismo de proximidade, fundamentalmente comprometido com a sua região e com as suas gentes.” (Camponez, 2002, p. 20).

Este compromisso comunicacional de que o autor aborda implica, obviamente, uma dedicação de ambas as partes envolvidas no processo – de um lado, o órgão de comunicação social em questão, e do outro, os habitantes dessa comunidade. Sem esse

empenhamento, o compromisso tende a falhar. “É nesse compromisso que frutifica ou

fracassa, que se diversifica ou homogeneíza a comunicação” (Camponez, 2002, p. 273). Torna-se, por isso, crucial, que os órgãos de comunicação social se esforcem por conquistar e manter esse elo de proximidade para, simultaneamente, serem entendidos como um reencontro dos leitores com as suas raízes.

Quando, em 2008, o Região de Cister apresentou o novo grafismo do jornal procurou reforçar a sua ligação à comunidade local, utilizando como exemplo o clube de futebol da cidade. O Ginásio Clube de Alcobaça sempre foi conhecido em Alcobaça e na região como Ginásio, mas nos jornais regionais e nacionais o clube era identificado como “Gin. Alcobaça”, “G. Alcobaça” ou “Alcobaça”, consoante a opção de cada órgão de comunicação social. A partir do novo grafismo, o Região de Cister assumiu a proximidade ao clube da cidade e passou a identificá-lo como Ginásio, deixando “cair” o nome Alcobaça. Essa opção reforçou o pacto comunicacional com a comunidade local, ao mesmo tempo que fortaleceu a identidade do clube, acabando por influenciar outros órgãos de comunicação social regionais que, progressivamente, seguiram esse exemplo e passaram a referir-se ao clube apenas como o Ginásio.

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movimento dirigido em dois sentidos. Por um lado, são instâncias de reforço da identidade das comunidades com que se relacionam e, por outro, são espaços de uma

potencial ‘abertura ao mundo’”. (1997, p. 147). Ainda nesta linha, Aníbal Alves

considera que a imprensa regional e local “participa no trabalho social de definição das conceções, das normas e dos valores, bem como no da formulação e legitimação dos objetivos e das políticas sociais. (…) A imprensa local participa nas tarefas de definição e formação da identidade e da mudança da sociedade de que é fruto e alimento.” (1990, p. 236).

O Alcoa, por exemplo, assumiu publicamente o seu envolvimento e apoio num movimento de cidadãos de Alcobaça, que surgiu em novembro de 2012 com o objetivo de dinamizar a economia local. Durante os primeiros seis meses do “Viver Alcobaça”, O Alcoa fez quatro foto-manchetes com as iniciativas do grupo, a somar à cobertura dos diversos debates temáticos que o grupo promoveu (foi o único meio de comunicação social da região que o fez) e à parceria com o movimento nos debates autárquicos entre os candidatos à Câmara Municipal de Alcobaça centrados no tema do Turismo. Através deste acompanhamento ao Viver Alcobaça, o quinzenário acabou por dar voz aos problemas locais, “sugerindo alternativas e reivindicando mudanças”, com o objetivo de incentivar o debate na opinião pública. Por outro lado, o jornal acabou por ter uma participação ativa naquele movimento independente e alternativo, em que o objetivo era promover a discussão do panorama económico local no espaço público. Algumas das iniciativas do grupo, que tinham em vista uma progressão do local, acabaram por registar uma grande participação da comunidade, o que pode ter sido reflexo da divulgação, promoção e apoio dado pelo jornal.

Ainda assim, este exemplo pode introduzir aqui um outro conceito, uma vez que este envolvimento levantou algumas reservas na opinião pública pela excessiva proximidade do jornal ao movimento. Um dos grandes dilemas deste jornalismo comprometido com as suas gentes é, aliás, a própria delimitação da proximidade. Poderá introduzir-se então, aliado ao jornalismo de proximidade, um conceito de

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O Região da Nazaré preconiza vários exemplos desta excessiva proximidade. Um deles é protagonizado por Clara Bernardino, que assumiu a direção do jornal após a nomeação do marido para vereador a tempo inteiro na Câmara. Aquando das eleições para a liderança do PSD, em 2007, a diretora do jornal assinou uma peça em que afirma que ela própria é a mandatária de Marques Mendes no concelho da Nazaré. E utiliza informação exclusiva obtida numa reunião, fechada aos jornalistas num hotel em Alcobaça, na qual esteve presente enquanto militante do PSD. Este caso traduz-se numa perversão da proximidade, desrespeitando os valores da isenção e distanciamento do jornalista, já que a jornalista é parte interessada no objeto da notícia e, mais grave, é parte interveniente da notícia. Trata-se, no fundo, de um episódio que revela um controlo absoluto de uma elite política sobre um jornal. A autora da notícia é, simultaneamente, interveniente política e diretora do jornal, procurando tirar benefícios dessa condição.

Esta proximidade demasiado próxima vai impor, necessariamente, travões ao pacto comunicacional estabelecido entre os jornais regionais e os seus leitores, quebrando assim o compromisso em defender a região e a sua comunidade, em prol do desenvolvimento local. Importa sublinhar que o compromisso de um jornal local ou regional pelo desenvolvimento da região em que está inserido resultará de uma aliança com essa comunidade. Falamos de identidade regional que, como defende Pedro Coelho, “é o motor da região”:

“Uma identidade é sempre construída pela história, pela memória coletiva, pela tradição, pela geografia, pela religião. Havendo coerência e uma certa continuidade na aquisição dessa matéria-prima, forma-se essa identidade comum aos sujeitos que a construíram. Depois de construí-la, é preciso mantê-la e renová-la.” (Coelho, 2004, p. 113).

Esta afirmação permite-nos confirmar que são essas “matérias-primas” que formam a identidade regional, resultando na coesão e na manutenção da identidade coletiva. Na opinião de João Carlos Correia, a identidade regional necessita de

“mecanismos de produção simbólica que contemplem o reforço do sentimento de

pertença” (1998, p. 56). Quando uma região possui um forte grau de identidade,

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identidade local que se transforma no mostruário local (ou regional), amplificando a sua

visibilidade e propiciando a sua abertura ao exterior.” (Rebelo, 2011, p. 317).

O papel do jornalismo de proximidade

Referindo-se aos jornais de proximidade, Manuel Fernández Areal defende que

“nesses medias dirigidos a públicos muito concretos, normalmente reduzidos, com

nomes e apelidos, é onde o jornalismo é mais humano e mais verdadeiramente social ao pôr em contacto e ao relacionar os que informam ou opinam, escrevem editoriais e dão conselhos, com um público que não é apenas recetor, mas é também normalmente ativo, que por sua vez, informa, recrimina, aceita, valora, aplaude ou censura de forma eficaz.” (apud Camponez, 2002, p. 121). Entendemos, por isso, que o jornalismo de

proximidade deve ter como função primordial “a manutenção e promoção de uma

saudável vida democrática, facilitando a troca de ideias e favorecendo o debate, procurando fazer com que os seus leitores se interessem pelo ambiente que os rodeia, com o objetivo de os levar a participar socialmente.” (Camponez, 2002, p. 122).

Ao tratar de temas diretamente relacionados com o público, o jornal regional é um meio facilitador de cidadania, permitindo à população daquele território de proximidade participar no desenvolvimento local, reclamar os direitos públicos e fiscalizar o poder público. O Região de Cister, mais orientado para conteúdos sociais, políticos e económicos, procura ser um veículo de causas comuns que liguem os diversos membros da comunidade. “Procuramos ser um jornal da terra e, por isso, damos espaço à comunidade local, sempre que aconteça algo que o justifique. Sempre que há campanhas solidárias, iniciativas coletivas ou projetos que visem o desenvolvimento local, o Região de Cister dá o devido destaque”, garante Joaquim Paulo, diretor do semanário regional. Da mesma forma, O Alcoa, mais direcionado para assuntos sociais e religiosos, tem adotado um posicionamento de um meio de comunicação social próximo da comunidade, dando voz a pequenos problemas que causam constrangimentos à rotina diária dos seus habitantes, como é o caso da estrada por alcatroar ou a falta de iluminação nas ruas.

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reflexão e participação entre a comunidade. Foi o caso da edição de 6 de março de 2014, em que o jornal comemorou o seu 21.º aniversário, data coincidente com a mudança de propriedade, pedindo a 21 personalidades, consideradas influentes nas áreas da política, cultura e economia da região, 21 ideias para o futuro dos concelhos de Alcobaça e da Nazaré. Nessa mesma edição, lançou o desafio aos leitores para enviarem também as suas ideias para a redação do Região de Cister, que posteriormente publicaria numa das suas edições semanais. Esta opção editorial confirma a intenção do jornal procurar o debate e a discussão pública. Também O Alcoa tem apresentado novas rubricas que permitem o envolvimento dos seus leitores, como é o caso da “Outra grande ideia”, uma espécie de bolsa de ideias para o desenvolvimento regional e do “Fale pela sua terra”, em que é dada a oportunidade aos leitores, através da página web do quinzenário, de identificarem problemas na sua localidade.

Contudo, em ambos os casos, a participação dos leitores não foi muito representativa. O Região de Cister recebeu apenas duas “ideias”, não tendo sido publicada nenhuma participação até à data de conclusão deste trabalho, e no caso d’O Alcoa apenas foram publicadas três opiniões, em ambas as rubricas, nas três edições seguintes à apresentação dos novos espaços do leitor. Esta ausência de participação pode ser explicada, por um lado, pela falta de interesse dos leitores do ambiente que os rodeia ou, por outro, pela falta de divulgação dos próprios órgãos de comunicação social regionais aos leitores desses espaços. Não lhes tendo sido feito essa pedagogia, os leitores poderão não saber qual o papel dos meios de comunicação social regionais e, nesse caso, é natural que não tenham consciência da importância do seu contributo na aplicação do pacto de proximidade.

Falamos, assim, de um jornalismo destinado a reforçar a coesão social através da

“procura de uma maior justiça”, da “defesa do interesse geral, dos direitos e da

dignidade do homem” e, finalmente da “promoção da tolerância e o respeito pelo

pluralismo” (Gerbaud, 1996, p. 16). O autor utiliza ainda as palavras de Jacques

Saint-Criq, na qualidade de então presidente do Syndicat de la Presse Quotidienne Régionale,

em França, afirmando que os profissionais da imprensa regional devem ser “jornalistas

-assistentes do cidadão”. Até porque, tal como reforça Pedro Coelho, “só a comunicação permite a sobrevivência e progressão de uma região”:

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pensamento e na razão e que elegem a discussão e o debate como instrumentos essenciais para se chegar ao consenso.” (Coelho, 2004, p. 154).

No seguimento desse raciocínio, os meios de comunicação de proximidade chegam a ser encarados como espaços alternativos de comunicação, pois a proximidade

que lhes está inerente funciona como “instrumento de mediação, que num ato de

cumplicidade com os destinatários, amplificam a discussão.” (ibidem). De facto, João Carlos Correia chama a atenção para a possibilidade de os meios de comunicação social

de proximidade se transformarem no “elemento estruturador desse espaço público

regional entendido como esfera crítica de debate e de interação dos cidadãos em torno dos problemas que lhe são mais próximos” (1998, p. 156).

O “Fórum”, rubrica publicada no Região de Cister, em que quatro pessoas –

podendo ser figuras públicas, políticos, empresários ou cidadãos comuns – apresentam a sua opinião sobre determinados temas da ordem do dia e o “Sim ou não”, d’O Alcoa, em que também quatro pessoas – por norma cidadãos comuns – respondem, de forma sucinta, a uma questão em concreto, são exemplos de debate e da interação dos agentes locais em tornos dos problemas ou preocupações locais, com potencial para transformar os jornais regionais num elemento estruturador da opinião pública. Também as chamadas cartas ao diretor, textos de comentário escritos por instâncias externas ao jornal em que a interpretação e a opinião são deliberadas, e os artigos de opinião são espaços privilegiados de discussão pública. No seu trabalho sobre o jornalismo regional e cidadania, Juliana Ribeiro defende que “a participação do público se dá no momento

da reflexão e do debate sobre os problemas locais.” (2004, p. 54).

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serviu de meio de mobilização local e de elo social de identidade comunitária, acionando a sua parte no pacto de proximidade.

A promoção do debate pluralista, o incentivo para a participação dos cidadãos no processo político e o incentivo à prestação de contas pelo poder público são algumas das funções dos media apontadas por Blumler e Gurevitch (1995). De resto, os autores apontam ainda a definição dos temas mais importantes em curso (agenda setting); o esclarecimento por parte de políticos e representantes da sociedade civil; a vigilância do ambiente sociopolítico e a resistência a eventuais tentativas de subversão da independência e integridade dos meios (ibidem).

Neste âmbito, é ainda entendida como uma missão do jornalismo de proximidade, a denúncia, resultado de um trabalho de investigação dos seus profissionais, que resulte na apresentação de uma realidade escondida ou em problemas, anseios ou fragilidades locais que afetem a comunidade. O encerramento do Museu do Vinho em Alcobaça é um desses exemplos. Ao longo de vários anos, o Região de Cister assumiu, através de diversos editoriais e publicação de notícias, uma posição crítica para com a opção do Ministério da Agricultura de encerramento do Museu do Vinho,

“exigindo” a sua reabertura. O museu foi encerrado, em 2007, depois dos funcionários

terem passado para o quadro de mobilidade da função pública e permaneceu encerrado até junho de 2013, apenas por questões burocráticas entre o Estado, o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e a Câmara de Alcobaça. Entendido como meio de mobilização, promoção e amplificação dos anseios e projetos locais, o jornal denunciou o que considerava ser uma decisão do poder central, que era contrária aos interesses das populações locais.

Mas, aos meios de comunicação social de proximidade não bastará denunciar os problemas que afetam a comunidade. É também sua função envolver-se no esforço coletivo de promover o debate e a discussão racionais, com vista à procura de soluções para esses problemas. Tal como Esteves defende:

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Gráfico 1. Distribuição dos jornalistas   por sexo e idade
Tabela 2 – Número total de peças analisadas por categoria   Categoria  N.º de peças  Percentagem
Tabela 3  –  Número total de peças da Sociedade analisadas por subcategorias  Subcategorias  N.º de peças  Percentagem
Tabela 4 - Número total de peças da economia analisadas por subcategorias  Subcategoria  N.º de peças  Percentagem
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