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Crise e democracia: resolução da crise e aprofundamento da democracia

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8. CRISE E DEMOCRACIA:

RESOLUÇÃO DA CRISE

E

APROFUNDAMENTO DA DEMOCRACIA

Helena Rato'

-Whatever fate or deslíny lhe future may hold for human cívílízation, that future wíll be a product 01' human choíce.•

Vincent Ostrom1

LvrnODUÇÃO

Etimologicamente, crise rem duas origens: a grega (krisiSl, para desig­ nar

um tempo de extrema co't!(usão ou perigo

mas, também, uma

etapa crucial

ou ponto de viragem no decurso de qualquer coisa;

a latina (crise), que signifi­ ca

vento, perturbação individual, estágio

de

alternância, sem possibilidade de

regresso aos antigos padrões.

O conceito de crise incorpora, pois, a ideia da ne­ cessidade de mudança ranto ao nfvêl socieral como ao nível dos comportamentos

• Iovesüg'J.dor:1 Principal no Instítuto N:acior.::ü de AdminL'3trJção onue é la:nhém &re('T0ra da equipa rnulriillsdplinar de inve,Stigado c consultoria. Investigadora e presidente da Mesa da Assembleia-Geral do CEDEP lJnkiaJt: de Investigaçao de Economia Imer%lc:onai, Centro A5SO~

(;aoo da Universidade Lusófona dt, Humanidades e Tecnologias.

1 Ostmffi, Vinc('ot, n?e lmellectual Crisis ir, Am<m·catt PuhUc Admim:'ltration, The UnivcrSiry of Alabárna Prcss, Tuscaloosa, Alabama) 3.ª edição, 2008.

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176 L"VESTTGA(ÀO E PRAnCA EM ECONOMIA CRHE E DEMOC

individuais, pelo que a superação da(s) crise(s) constitui um desafio que exige determinação, competência e ousadia na busca de soluções inovadoras. Assim, podemos considerar que a procura de soluções para a resolução das crises tem sido o grande motor da evolução histórica da humanidade.

Em favor desta tese, temos a perspectiva de Albert Einstein sobre as crises: -A crise é a melhor bênção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos [, ..1 É na crise que nascem as invenções, os descobri­ mentos e as grandes estratégias [, ..1 O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar as saídas e as soluções fáceis [, ..1 A verdadeira crise é a crise da incompetência.»2

O pensamento de Einstein levanta de imediato duas questões, a saber: a) quem tem e onde estâo as competências capazes de produzir as inovações ne­ cessárias; bl quem tem o suficiente poder de decisào para promover ou dificultar o desenvolvimento e a aplicação das inovações. A resposta a estas questões im­ plica uma análise das múltiplas dimensões que compõem a organização política e determinam o funcionamento de uma sociedade. Entre essas dimensões, pela pertinência em relação ao assunto aqui tratado, destacamos as seguintes: forma de legitimação do poder político; processo da tomada de decisões, especialmen­ te no âmbito das políticas públicas; formas de execução e grau de efectividade dessas políticas; inrer-relação entre poder político e poder económico; processo de selecção das pessoas que detêm o poder económico. Em suma, na sociedade actual, em que consisre e como funciona a democracia.

Tal como crise, democf:lcia é, etimologicamente, uma palavf:l com origem na Grécia antiga que significa governo (cracia) do povo (demo). Nas sociedades modernas o conceito evoluiu para

governo do povo, pelo povo.

No entanto, sob esta designação, encontramos um leque diversificado de formas de organização e de funcionamento do poder político. Por exemplo, há a

democracia directa,

a democracia representativa, a democracia participativa e, mais recentemente, está em construção o conceito de democracia económica.

Assim, como resumo desta diversidade e paf:lfraseando Michel LasserreJ,

definimos democracia como "um conjunto de práticas sociais, assentes nos valo­ res da igualdade, da liberdade e da justiça que se tem enriquecido ao longo do tempo, em função do desenvolvimento das sociedades humanas-o

2 http://ope ninnovation .orgl2009 /05/31/como-einstein-encarava-as-cl1scs/.

j LASSERRE, Michel, Démocratie Politique, Démocratie Economique, Démocratie Globale,

www.m-lassen.c.com. Déc. 2001, Esta definição presente texto: de qu de uma crise de múlt aprofundamento dos BREVE DISCUSSÃO D Embora exista ficá-Ias em dois gran macro. No primeiro organizações empre~ de âmbito maero, m pondo em causa as r tualmente, do sistem Do ponto de \ rais. No primeiro casl dos factores ele prod oferta ou para aproe fundas, com graves

lução implica mudar podendo induzir alt, organização político­ ou poucos países oe Ao nível mac nómicas e caracteri; gualdades e injustiç de exclusão, de viol -sociais tanto ao nív [erísticas das crises ~ e espaciais, duração estão associadas. Cc se torna particularml rural, sobretudo se E possibilidades de re Embora, na v como funções as im

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Esta elefmição rem o mérito de corresponeler clarAmente ao objectivo elo presente texto: de que forma e até onde a procura de soluções para a resolução de uma crise ele múltiplos contornos, como é o caso actual, poderá coneluzir ao aprofundamento dos valores e práticas em que assenta a democracia,

BREVE DISCUSSÃO DAS CRISES

Embora exista uma granele eliversidade de tipo de crises, podemos classi­ ficá-las em elois grandes grupos: as crises ele âmbito micro e as crises de âmbito macro, No primeiro grupo temos, por exemplo, crises pessoais, familiares, de organizações empresariais, As crises, cuja problemática é aqui focalizada, são de âmbito IIlaCro, mais especificamente, são as crises que atingem as lIações, pondo em causa as respectivas organizações da vida económica, social e, even­ tualmente, do sistema de organização política,

Do ponto de vista económico, as crises podem ser conjunturais ou estrutu­ rais, No primeiro caso, a resolução da crise obedece a reajustamentos do, preços dos factores de produç';!o, coadjuvados por políticas públicas orientadas para a oferta ou para a procurd, No segundo caso, a crise assume dimensoes mais pro­ fundas, com graves impliGlções ao nível social e polírico, pelo que a sua reso­ lução implica mudanças na própria forma de organização do sistema produtivo,

podendo induzir alterações no tecido social e na forma vigente do modelo de organizaí;ào político-administrativa, Qualquer uma delas poele ficar limitada a um ou poucos países ou, pelo contrário, assumir uma dimensão multinacionaL

Ao nível macro~ as crise;::; sociais decorrem, gemlnlente, das crises eco­ nómicas e caracterizam-se pelo aparecimento e/ou aprofundamento de desi­ gualdades e injustiças sociais, a que se associam fenómenos de intolerância, de exclusão, de violência e de outros comportamentos desestruturantes e antÍ­ -sociais tanto ao nível individual como colectivo, Consequentemente, as carac­ terísticas das crises sociais em termos de dimensões e amplitudes demográficas e espaciais, duração e intensidade, dependem do tipo de crise económica a que estão associadas, Como exemplo lemos o caso do desemprego cuja resolução se torna particularmente difícil no quadro de uma crise económica de tipo estru­ turdl, sobretudo se esta assumir uma dimensão multinacional, pois isso limita as possibilidades de redução das taxas de desemprego pelo recurso à emigrJção, Embora, na visão minimalista do Estado nacional, se lhe atribuam apenas como funções as inerentes ii defesa nacional, à segurança na ordem interna e à

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administração da justiça, a análise da evolução histórica demonstrJ que os sis­ temas de organização política dos países e sociedades só persistem enquanto conseguem assegurar o bom funcionamento dos respectivos sistemas económi­ cos e sociais. ,'vlais especIfkamente, o reconhecimento da legitimidade do po­ der político, pelas populações, depende da eficácia do mesmo para organizar a sociedade, de forma a garantir os aumentos de ganhos de produtividade' necessários para que as necessidades das populações sejam satisfeitas, no res­ peito pelo

statuo 'luo

do sistema soeletal vigente, tanto em termos da composi­ ção e da estrutura social como dos respectivos valores éticos. Quando (l sistema

deixa de poder assegurar ganhos de produtividade, o equilíbrio entre os grupos sociais, que mantém o

statuo quo,

rompe-se e o modelo de organização política é posto em causa, exigindo-se uma reformulaçào da estrutura social, com base numa nova redistribuição da riqueza e do poder económico de decisào. Esta exigência conduz quer a uma reforma do modelo de organização política, eco­ nómica e social, quer a revoltas e revoluções cujos resultados são imprevisíveis, podendo oscilar desde o agravamento da crise até à autodestruição do sistema, situação que, eventualmente, culmina com a mstituição de um novo sistema de organização económica, social e política.

Com efeito, desde os primórdios da humanidade até ao advemo da socie­ dade de consumo, o principal desafio das sociedades consistiu em obter ganhos de produtividade suficientes para alimentar nào só o crescimento demográfico, sem o qual a própria existência dessas sociedades seria posta em causa, mas também as ameaças de conquLsta. A construção dos impérios esteve sempre associada ii procura de captação dos ganhos de produtiVidade dos povos con­ quistados. pelo que o comércio 11 distância e a guerra foram, geralmente. duas faces da mesma moeda. Com o aumento da capacidade produtiva, incluindo o decorrente das conquistas imperiais, desenvolveu-se uma luta pela repartição dos ganhos de produtividade, facto que oonduziu ao alargamento do número de dasses sociais que passaram a beneficiar da criação de riqueza e, subsequen­ temente, ao alargamento da base social representada nos órgãos do poder polí­ tico. Este processo acelerou quando o progresso tecnológico passou a ser um dos principais factores do desenvolvimento económico, levando à implantação do sistema político alicerçado na democracia representativa.

A aceleraçào do ritmo de crescimento económico, assente no binómio progr,~sso tecnológico e competitividade, apesar de garantir ganhos de produ­

tividade sem precede humanidade, a saber: Na realidade, a passado mais ou mm através dos textos an para citar a penas alg referir: a crise ambier no século XIX, a gear ta, provocada por um provocou a ruína e a I'

mente franceses, itali< efeitos catasrróficos s< de obtenção de ganhe global, a questão é sa mento que privilegia ( ganhos de produtivid: essa questão é que n: sustentável, deve reg( consumo e do tipo d, destruição do meio a cidade produtiva; c) ,

A

CRISE DO

sÉcuw

Aceitar a icleiz financeira desencade sequentemente, com em injectar liquidez f entraram em process! erro que, pela dimen das para a sociedade tratar da dor de cabe· ticaram um tumor nc \ P;w..:;to, Boris (org.t Ó Fitz, Don: Green Pa

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tívidade sem precedentes, trouxe também um novo e ameaçador problema à humanidade, a saber: a crise do sistema ecológico global.

Na realidade, a humanidade já se confrontou com crises ecológicas, no passado mais ou menos distame, desde as glaciaçóes, cujos ecos nos chegaram at!'avés dos textos antigos, incluindo os textos .sagrados •. Mais recentemente, para citar apenas alguns dos exemplos históricos mais conhecidos, podemos referir: a crise ambiental que assolou a Europa nos princípios do século XIV, no século XIX, a grande fome da Irlanda, que teve origem na doen,J da bata­ ta, provocada por um fungo; igualmente no século XIX, a crise da fi!oxera, que provocou a ruína e a emigração em massa dos vinhateiros europeus, designada­ mente franceses, italianos, portugueses e espanhóis'- Todas essas crises tíveram efeitos catastróficos sobre as sociedades, devido à queda brusca da capacidade de obtenção de ganhos de produtividade. Mas, num contexto de crise ecológica, global, a questão é saber se é possível continuar com um sistema de desenvolvi­ mento que privilegia o crescimento económico assente na procura incessante de ganhos de produtividade. Segundo os teóricos da ecologia política", a resposta a essa questão é que não, advogando que o sistema económico, ambientalmente sustentável, deve reger-se pelos seguintes objectivos: a) alteração dos hábitos de consumo e do tipo de bens produzidos, no sentido de reduzir o desperdício e a descruiçào do meio ambiente, b) acabar com o aumento incontrolado da capa­ cidade produtiva; c) diminuir a produção de resíduos e de lixo,

A

CRISE DO sÉCU'LO

XXI

Aceitar a ideia de que a actual crise mundial decorre apenas da crise financeira desencadeada pela falência dos fundos hipotecários nos EUA e, con­ sequentemente, considerar que o remédio para a resolução da crise consiste em injectar liquidez financeira nos bancos e noutras instituições de crédito que entraram em processo de falência, seja este -témico" ou real, constitui um grave erro que, pela dimensão e profundidade da crise, pode ter trágicas consequên­ cias para a sociedade. Parafraseando, é como prescrever a alguém aspirinas para t,atar da dor de cabeça, ignorando diversos relatórios médicos que lhe diagnos­ ticaram um tumor no cérebro.

<; fausto, Boris (org.), FazL>raAmt-5rlca, EditOr<! rniversldade de São PaUlO, Bmsil, 2000.

Í) Fitz, Don; Green Party of Sr, Louis/Gate\\'uy Green AlHãnce, A Democratic Economy mui a

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180

Com efeito, com base nos inúmeros eSlUdos produzidos por diversos analistas económicos', desde meados da década de 80 do século passado, foi possível diagnosticar que a actual crise constitui um surro epidémico de um pro­ blema sistémico inerente ao processo de globalização financeira, na medirb em que este processo engendra a produçiío descontrolada de liquidez internacio­

nal, sem ter correspondência com a economia real. Para !lustrar a dimensào do problema, basta referir que, em 1992, a média diária das transacções em divisas foi de um triliâo de dólares, enquanto que o valor anual do comércio mundial foi inferior a qUatro tríliões de dólares". O gigantesco diferencL,1 de volume destas duas categorias de transacções é um indicador do carácter especulativo da qua­ se totalidade das transacções em divisas", Desde então, a situação não mudou. Só que a contabilização mundial deste tipo de transacçôes se tornou cada vez mais difícil, pelo facto de as operações especulativas utilizarem cada vez mais as praças de

oJfshore

w Quanto ao facto de se considerar a presente crise como um surro epidémico de uma crise sistémica, basta recordar a segunda-feira negra de 1987, com o colapso das acções Down jones, a crise dos fundos de pensões de 1989 e a subsequente recessão económica de 1990-1991, a crise mexicana de 1992, ou a crise asiática de 1997-1999.

Assim e porque o sistema financeiro é um subsistéma do económico, a análLse das causas e conseqoências da actual crise financeira deve ser efectua­ da numa perspectiva multidimensional, tendo como foco centml a avalia~iio

da dinâmica de desenvolvimento que conduziu à globalização da economia de mercado.

Causas e consequências da economia de mercado

A actual globalização decorre de um duplo processo de expansão do sistema da economia capitalista de mercado, quer em termos geográficos, quer em termos da mercantilizaçào de toda a produção resultante da actiVIdade hu­ mana, seja ela material ou imaterial, entendendo-se por economia capitalista

~ Ferrari Filho, F.; PAlHA, L F' j Globali::açâo FinUtlceim,' ensa{os de rnacroecoHomw aberta,

Perrópo!i5, Voz.c~, 2004, 646 pp.

H Hallwood, C. Paul; MacDonald, Ronalc, Internaftonal ;Houryand Finance. RhlCkwelt, OxfunJ

& Cambridge, 2.ª edíção, 1994,

9 Rato, Helena, ,Necessita-se, urgentemente, ue urna noYá tco~ià cwnómica". m Sob o Signo de H6rus, Homeruxgem a Edu.ardo de SOUStl Ferreira, Ed. Arnldeu PJiv:l, Ediçõe> Colihri, li.:;boa,

2007"

lt Couvrat, Jean Fram,-'Ois; PIe&;, Nicolas. Úi Face Cocbée de rtcunomie Mondiale, Haiter, Paris,

1%'9.

de mercado o sistm mentais (o quê, com acumulação do capil produtiva (' em que função dos preços, E o movimento das de revolução industrial, Mundial com o cons micamente desen\Col trocas comerciais e! nais de capitaL"

A dinâmica (' assenta no dilema ('t

dade entre os agenl< ele,'ados ganhos de saparecimento dos t conduziu à concentl a internacionalizaçà, das multinacionais' mente, dinamizandc Nesta corrida perder os países qu nomiasll) levando:

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1, Fotopoulos. Takb

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CmSE E DIlMOCI<AClA .. RtSúljfl;'AO DA GRISE" APII010WTHMFN1V lJA ik"OCRACIA 181

de mercado O sistema em que a resolução dos problemas económicos funda­

mentais (o quê, como e para quem produzir) tem por base a maximização da acumulação do capital necessário ao financiamento do aumento da capacidade produtiva e em que o equilíbrio entre produção e consumo se estabelece em função dos preços, Este processo, que alguns consideram ter sido iniciado com o movimento das descobertas marítimas portuguesa e outros com o advento da revolução industrial, atingiu o ponto de nào retorno a partir da Segunda Guerra Mundial com o consenso que se estabeleceu, entre os principais países econo­ micamente desenvolvidos, sobre as vantagens recíprocas da liberalização das trocas comerciais e, subsequentemente, da liberalização dos fluxos internacio­ nais de capitais,

A dinâmica de desenvolvimento da economia capitalista de mercado assema no dilema

crescimento ou morte",

ou seja, na aceleração da competitivi­ dade entre os agentes econ6micos, em husca de permanentes e cada vez mais elevados ganhos de produtividade, o que provoca a falência e, porranto, o de­ saparecimento dos menos eficazes e eficientes, Consequentemente, o modelo conduziu à concentração do poder econ6mico ao mesmo tempo que expandia a internacionalização da produção de bens e serviços, processo em que o papel das multinacionais e das transnacionais (TNC) foi preponderante, designada­ mente, dinamizando e tirando o maior proveito da revolução informática.

Nesta corrida mundial por maiores ganhos de produtividade, ficaram a perder os países que tinham optado por modelos de controlo social das eco­ nomias", levando à aceitação generalizada do princípio de quanto menor

Estado, melbor, utilizado como argumento quer para a redução da capacidade de

intervenção do poder público no âmbito da regulamentação, do controlo e da fiscalização dos mercados quer para a extinção de qualquer fOlIDa de economia estatizada ou intervencionada,

A perda da capacidade de intervenção do Estado teve pesodas consequên­ cias no que concerne a neutralizaçào das externalidades negativas do mercado, a produção de externalidades positivas capazes de promover a equidade e a justiça social, assim como a promoçào dos direitos humanos, designadamente os direitos fundamentais de segunda e de terceira geração",

II Fotopoulos, Takis, .The Multidimensional Crisis and Jnc:uslve DelTI(xracy·, lntprrJtüi(mal ]oumai oflttclusit/c netnocrac}', 2009.

1) fotopoulos, Takb, idertL

!} Humenhuk. Hewerstlon, .A Teoria dos Direitos Fundamentais", Ret:i:ua Ju.<; Vigilm-aibus, 2, de Outubro de 2003, http:,'!!Usv1.com/J:lnlgos:/690.

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I

182 l\<VPS17G.4Ç:AO}:' PRAnCA 11M ECO.\'OMfA

I

ExternaHdades negativas e positivas

As externalidades negativas surgem quando a produção ou o consumo de um bem gera efeitos adversos a outros produtores/consumidores ou a quaisquer outros stakeholders, incluindo a população em geral, sem que esses efeitos pos­ sam ser corrigidos através do mecanismo de preços do mercado14A degrada,'ào do ambiente, provocada pelas descargas poluentesl

' e pela queima de combus­

tíveis fósseis, é O tipo de externalidades negativas mais conbecida. Mas a estas pode-se acrescentar um número ilimitado de outros tipos de externalidades, com origem nos actuais processos produtivos, como é o caso da introduçào de químicos na agricultura e na indústria alimentar cujas consequências nefastas se repercutem ao nível da saúde pública e da dilapidação de recursos naturais, do património genético e da biodiversidade". Neste âmbito, é interessante citar a decisâo de um juiz indiano, Balakrishnana Nair. que, em Dezembro de 2003, -expediu parecer contrário ii Coca-Cola, exigindo que a empresa cessasse os bombeamentos que vinha realizando no lençol de Plachimada. no Kerala, região do sul da Índia, alegando que os recursos naturais como o ar, a água do mar e as florestas têm para a população mundial uma importância tão gmnde que seria totalmente injustificado fazer delas objecto de propriedade privada,".

As externalidades positivas têm em comum com as negativas o facto de os seus efeitos, neste caso benéficos, não poderem ser traduzidos em termos de preços, pelo que o mercado não tem condições para garantir a produção/ /distribuiçào de bens que geram aquele tipo de externalidacles. Como exem­ plo podemos referir, especificamente, as campanhas de vacinações que, por limitarem o número de pessoas susceptíveis de contrair determinada doença, protegem, também, as pessoas não vacinadas. Mais globalmente, as políticas públicas de promoção da saúde, da educação, da segurança e da protecção so­ cial dos Cidadãos são exemplos de actividades que, não podendo obedecer às leis do mercado, produzem externalidades positivas para toda a sociedade. As­ sim, o movimento pró-privatizaçiío dessas actividades, que atingiu O seu auge nas décadas de 80 e de 90 do século XX, ao mercantilizar, designadamente os 14 Togeiro de A., Luciana, Po/[tlca ambk.<fltal: uma análise económica, U:tesp, Sfto Paulo, 1998.

1'> 'A'Vfw.ezin~artide5.corrv?(()maminçdtapw:lters; Vlv,w.petrole'Jmeq:Jities.com!OilSupplyRepént.

'I> Goulart, Marcelo Pedroso (Promotor de Justiça do Estado de São Paulo), Impactos Srxi()~

-amhientais da Monocultura da Cana de Açúcar; Escola Superior do Ministério Puhlico de Goiás, www.mp.gogov.br/naumcroalcool<:tro/Documt:ntos/ . ./06.pJL

F Shiva, Vandana, >.>\$ mulheres do Kerala conilll a Coca-Cola.) in teMonde Diptomatiqu(!~ Mal~'o

200'5, citado por Silveira, Stefano José Caetáno, -Externalidades negarivas: as ahordagens ncorláss:ca e institudomlista~, Rédsta FA}:,; Ccritiha, v, 9, n.>: 2, pp 39~44, Julho-Dezembro de 2006.

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serviços de saúde, te dados de saúde por f comribuiu para o aun potenciar exrernalida O aumento do núme se) e com outras dOE dessa realidadel

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Estes exemplo: ele serviços públicos reitos Humanos. seml ços públicos.

Direitos Hum Até ao início dos Direitos do Hom Estes, designados de não eram universais, damente às mulhere,s' políticos absolutistas direitos se fOFdm tom damental, foram sen( sucessivamente; tram paradigma a aelual C tos de segunda geraç ou de colectividades teso Posteriormente, ção tecnológica no d as ameaças ambiem; ao desenvolvimento, sobre o património c !H \~'hilehe'Jd Margart

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10 ONU, Coywençào,

(9)

CRl'ln f DL'>1üCRAClA: RrSOH.íÇ..40 DA CmSF li Nj()nJ!VDAMF/\71) IH Dt:.tJUCRACfA 181

de mercado o sistema em que a resolução dos problemas económicos funda­ mentais (o quê, como e para quem produzir) tem por base a maximização da acumulação do capital necessário ao financiamento do aumento da capacidade produtlva e em que o equilíbrio entre produção e consumo se estabelece em função dos preços. Este processo, que alguns consideram ter sido iniciado com O movimento das descobertas marítimas portuguesa e outros com o advento da revolução industrial, atingiu o ponto de não retorno a partir da Segunda Gurrm Mundial com o consenso que se estabeleceu, entre os principais países econo­ micamente desenvolvidos, sobre as vantagens recíprocas da liberalização das trocas comerciais e, subsequentemente, da liberalização dos fluxos internacio­ nais de capitais.

A dinâmica de desenvolvimento da econom;a capitalista de mercado assenta no dilema

crescirnento ou mort,j',

ou seja, na aceleração da competitivi­ dade entre os agentes económicos, em busca de permanentes e cada vez mais elevados ganhos de produtividade, o que provoca a falência e, portanto, o de­ saparecimento dos menos eficazes e eficientes. Consequentemente, o modelo conduziu à concentração do poder económico ao mesmo tempo que expandia a internacionalização da produção de bens e serviços, processo em que o papel das multinacionais e das transnacionaLs (TNe) foi preponderante, designada­ mente, din<lmizando e tirJndo o maior proveito da revolução informática.

Nesta corrida mundial por maiores ganhos de produtividade, ficaram a perder os países que tinham optado por modelos de controlo social das eco­ nomias", levando 'ii aceitação generalizada do princípio de

quanto menor

Estado, melhor,

utilizado como argumento quer para a redução da capacidade de intervenção do poder público no âmbito ela regulamentação, do controlo e da fiscalização dos mercados quer para a extinção de qualquer forma de economia estatizada ou intervencionada.

A perda da capacidade de intervenção do Estado teve pesadas consequên­ cias no que concerne a neutralizaçào das externalidades negativas do mercado, a produção de externalidades positivas capazes de promover a equidade e a justiça social, assim como a promoção dos direitos humanos, designadamente os direitos fundamentais de segunda e de terceira geração" .

• 1 Fotopoulos, Takis, ~The Multidimensional Crisis and Inclusive Democf'd('Y", Jntç~ti(mal

10umal (!{Inclusive Dt!mocrar.)I, 2009.

FNopoult~'i, Takis, idem.

13 Humenhuk, H<.:::wcrstton, .A Teoria dos Direitos Fundamentilis·) Revista jus l/(~ilanfibus,

(10)

182 lNVJ;SflGAçÃO E PRATICA EH ECaVVMfA

ExternaHdades negativas e positivas

As extefnalídades negativas sUfgem quando a produção ou o consumo de um bem gefa efeitos adversos a outros produtores/consumidores ou a quaLsquef outros stakeholders, incluindo a população em geral, sem que esses efeitOs pos­ sam sef corrigidos atfavés do mecanismo de preços do mefcado<'< A degfadação do ambiente, provocada pelas descafgas poluentesl5 e pela queima de combus­ tíveis fósseis, é o tipo de externalídades negativas mais conhecida, Mas a estas pode-se aCfescentar um número ilimitado de outros tipos de extemalidades, com origem nos actuais pfocessos produtivos, como é o caso da introdução de químicos na agficultura c na indústria alimentaf cujas consequências nefastas se repercutem ao nível da saúde pública e da dilapidaçào de fecur.;os natufais, do património genético e da biodiversidade l'. i'leste âmbito, é interessante citar a decisão de um juiz indiano, Balakrishnana Nair, que, em Dezembro de 2003, .expediu parecer contrário ii Coca-Cola, exigindo que a empresa cessasse os bombeamentos que vinha fealizando no len,'ol de Plachimada, no Kerala, região do sul da Índia, alegando que os recursos naturais como o ar, a água do mar e as florestas têm para a população mundial uma importância tão grande que sefia totalmente injustificado fazer delas objecto de propriedade privada,l'.

As externalidades positivas têm em comum com as negativas o facto de os seus efeitos, neste caso benéficos, não poderem ser traduzidos em termos de preços, pelo que o mercado nào tem condições para garantir a produçãoí / distribuição de bens que geram aquele tipo de externalidades, Como exem­ plo podemos refefir, especificamente, as campanhas de vacinações que, por limitarem o número de pessoas susceptíveis de contrair determinada doença, protegem, também, as pessoas não vacinadas, Mais globalmente, as políticas públicas de promoção da saúde, da educação, da segurança e da protecção so­ cial dos cidadàos são exemplos de actividades que, não podendo obedecef às leis do mercado, produzem externalidades positivas pafa toda a sociedade, As­ sim, o movimento pró-pfivatizaçào dessas actividades, que atingiu o seu auge nas décadas de 80 e de 90 do século XX, ao mercantilizar, designadamente os

14 Togeiro de li., Luci:ma, Politica ambiental,' Uffll4 análise económica, Unesp, Sao Pauto, t9;-J8.

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I';: Gouhu1:, Marcelo Ped:<:x;o (Promotor de ]us:iça do ESla.do de Sào Paulo), lmpactos Súcio­

·ambientais dli, Monocultura da Cana CÚ! Açúcar, E5(01a Superior do Ministério PUblico de Goiás,

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F Shiva, Vandana, -As mulheres do Kt'rala contra a Cc)(-,~J"Cola., in IR lrfonde Diptomatique, Marçu

2ooS, dwdo por Silvttra, Stefaco José Caetano, .Externalidades negativas: as abordagens neoclássica

e institudona[is(a", RerJistardE, Cuririba, v, 9, n.'" 2, pr. 39-4/1, Julho-Dezembro de 2006.

CRISE E DEM<X

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(11)

CiUS'i'.· h DEMCX'RAC1A: RESO[{)Ç'ÃO Dtl CRISE h APROFV,'lDA41ElI/TO DA DEtfOCRtlCJA 183

serviços de saúde, teve como consequências a diminuição do acesso aos cui­ dados de saúde por parte das populações mais pobres e vulneráveis, facto que contribuiu para o aumento das desigualdades entre pessoas e países!8, além de potenciar externalidades negativas em casos de epidemias ou de pandemias, O aumento do número de pessoas infectadas pelo bacilo de Koch (tuberculo­ se) e com outras doenças, clinicamente neutralizáveis, constitui um indicador dessa realidade!9

Estes exemplos demonstram, também, como as opções de privatização de serviços públicos essenciais interferem com aspectos fundamentais dos Di­ reitos Humanos, sempre que a privatização obste ao acesso universal aos servi­ ços públicos,

Direitos Humanos Fundamentais

Até ao início do século XX, os Direitos Fundamentais, então designa­ dos Direitos do Homem, restringiam-se aos direitos civis e políticos individuais, Estes, designados de "direitos fundamentais de primeira geração", na realidade não eram universais, visto não se aplicarem à maior parte das pessoas, designa­ damente às mulheres2u, aos povos colonizados e a outros que viviam sob regimes políticos absolutistas ou autocráticos, No decorrer do século XX, nào só esses direitos se foram tornando progressivamente universais como outros direitos fun­ damentais foram sendo consignados em [ratados e convenções internacionais e, sucessivamente, transpostos para os direitos fundamentais das nações, de que é paradigma a actual Constituiçào ela República Portuguesa, Os novos direitos, di­ tos de segunda geração, sào os direitos sociais, culturais, económicos, colectivos ou de colectividades, como é o caso dos direitos fundamentais dos trabalhado­ res, Posteriormente, na sequência do movimento da descolonização, da revolu­ ção tecnológica no domínio da comunicação e da tomada de consciência sobre as ameaças ambientais, surgiram os direitos de terceira geração que se referem ao desenvolvimento, à paz, à sustentabilidade do meio ambiente, à propriedade sobre o património comum da humanidade e à comunicação, Finalmente, como

IH WhitehelU Margarct, Dahlgrcn GOran, Evans Timothy, Equity and beu!th sector reforms: mn

low-income countries escape lhe medical poverty trap? International Association of Health Polic}',

hnpi/",,"w,healthp,org! node/91,

19 Lngcr Jean-Pierre et al., De.~i1'ltegruted care: lhe Achilles heel (!f intematíonal health jJolicies

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iOec.\central. nih.gov / anil:lcrcndcr. fcgi?artiu= 1'576'5Ó6.

2°ONe, Convenção dos Direitos Políticos das Mulheres, Assembleia Geral das Nações Unidas, Nova Iorque, 23 de Março de 19'53­

(12)

184

í

]:'VYB7lGAÇÀ(J F. PRA1JCA. 1::::11 Eco:vO.1!lA

consequência do processo de globalização, emergiram os direitos de quarta ge­ ração, a saber: o direito à democracia, à informação e ao pluralismol l

Como já referimos, os direitos fundamentais do ser humano estão consig­ nados no quadro legislativo internacional e, genericamente, no quadro legisla­ tivo nacional da maioria dos países imegmdos na O"lU, pelo que os órgãos de soberania desses países são os legítimos garantes dos Direitos Fundamentais, competindo aos governos fazê-los cumprir. Contudo, a concretização desta res­ ponsabilidade tem vindo a ser dificultada pelas e,:ternalidades negativas decor­ rentes da globalização do modelo económico neoliberal.

Com efeiro, a g1oly,dização desregulamentada do mercado financeiro re­ tirou aos governos a prerrogativa de criação e controlo da criação de dinheiro, tendo este passado a ser um produto da expansão do crédito gerado pelo sL-;tema financeiro"- Instalou-se, assim, um dilema cuia não resolução conduziu à actual crise e constitui uma ameaça ao actual sistema político de democmcia represen­ tativa, a saber: a criação permanente de um excesso de liquidez internacional, que engendra bolhas especulativas e que tem como corolário uma situação de escassez permanente de meios financeiros para os governos poderem assegurar aos cidadàos o usufruto dos Direitos Fundamentais no âmbito social cultural , " económico e ambiental.

Hipertrofla da liquidez internacional

Diz-se que há hipertrofia da liquidez internacional quando a oferta de dinheiro, ,eja ela monetária ou oob qualquer outra forma de financiamento, excede largamente a capacidade produtiva mundiaL Consequentemente. grande parte do dinheiro é canalizada pam aplicações nào produtivas, proporcionando o aparecimento de bolhas especulativas que propulsionam a hipertrofía. TmGl­ -se, portanto, de uma questão central para a resolução da crise anual, embora pouco divulgada junto da opiniào pública e até do meio académico, pelo menos em Portugal, daí a pertinência de se aprofundar o conhecimento sobre as causas e consequências dessa hipertrofia.

Inicialmente, isto é desde os finais da década de

60

até meados da década de 80 do século XX, considerou-se que tal hipertrofia resultava do excesso de pro­ dução de dinheiro pelos bancos centmls, como fonna de financi:unento dos déflces

il Humenhuk, Hewer$two, op. ctt

22 Brown, EUeo Hodgson, j. D., 'Ibe Web 01 Dobl, 3 de Julho de 2007, htrp:í/wv..'w.webofdcbt.

('om/artides/dollar~dercption,php.

govemamentlis, COtL o dólar ser a divisa ( tmnsacções externas restrições por parte ( países eram (são) COI

do problema, podem 7200 mil milhões de

li crítica ao er Escola de Chicago ~ monetána através da e cambiais. Esta esc< estava associado à o Na prática, as sassem a ser merçan dilO deixasse de esta no que diz respeito risco de crédito. O r<

internacional, por el também pela revolu pode ser feita à velo 970/0 da oferta de dir créditos bancários.

Uma das com ameaça de derrapag políticas orçamentai inflacionista do lade Políticas orç No que cone, que a principal jusr

2~ DR] Banque des

lel Carvalho, Fernanc

II, o Dilúl:'to?, http://''WíV' " Federal Reserve S relcases/H6/200060223. llsminLgov; 811:11 Bmw! 2.G Rolx:Ilsnn, James; com, 2003, p. 26

(13)

CnlSI' DMl()(:RACkC lIJiSOl.CÇAO DA CJIf5E li ApROFEVDAflfEYfO DA D~WCKRA(:M 185

governamentais, com principal destaque para os EUA. Com efeito, pelo facto de o dólar ser a divisa de tmnsacções internacionais. por excelência, os défices das transaCções e"1.ernas dos EUA nào emm, nem são, objecto de qualquer tipo de restrições por pane do FMI, até porque <IS reservas cambiais da lllJ!ior pane dos paises eram (sào) contabilizadas em dólares. Para termos UlllJ! ideia da dimensão do problema, podemos referir que, em 2004, a dívida e",tema dos EUA asrendia a 7200 mil milhóes de dólares'\ ou seja, o equivalente a

66%

do PIB desse pais.

A crítica ao endividamento do Estado foi suportada pelos economistas da Escola de Chicago que advogal'am ser poss[vel controhlr o aumento da massa monetária através da libemlizaçào e desregulamentação dos mercados financeiros e cambiais. Esta escola defendeu, também, que o desenvolvimento económico estava associado à oferta de crédito bancário.

1'Ia prática, as políticas monetaristas permitiram que títulos e moedas pas­ sassem a ser mercantilizados como produtos de

persi

e que a concessão de cré­ dito deixasse de estar sujeita ao respeito das regm, prudenciais", especialmente no que diz respeito às taxas de constituição de provisões e de cobertura para o risco de crédito. O resultado foi o aumento excessivo e incontrolado da liquidez internacional, por efeito da aceleração do multiplicador monetário, alavancado também pela revolução informática na medida em que a atribuiçào de créditos pode ser feita 11 velocidade da luz. Como resultado, e,tima-se que, actualmente, 97% da oferta de dinheiro, nos EUA'~ e no Reino Unido", foi criada através dos créditos bancários.

Uma das consequências da cria\,ão de excesso de liquidez é a permanente ameaça de derrapagem inflacionista, Esta ameaça tem conduzido ii aplicação de políticas orçamentais e salariais restritivas, com o objectivo de reduzir a pressão inflacionista do lado da procura,

Políticas orçamentais

1'10 que concerne à restrição das políticas orçamentais, é necessário referir que a principal justificação assenta no controlo do défice, sendo que este

de-l! BRI func;uE' déS R('gl(;'lnents Internationaux, 75,º Reb,(ório Anual, Bále, 200).

;., Carvalho, Fernando J, CArtUm, Regulaç:ào Prudencial na Encntz#bada; Depois de Basileia

II, o Di/úvio? lmp://wv.'W.ie.ufrj,br/mot'da/pdfs/regularnentacao3,pdf/,

n Federal Reserve StatLstical Release H6, .Money Stock )1easures,> ~'WWJooeralrc5t:'lYc.govj

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(14)

186 JNVr:~TlGAÇ.jO ii PRATiCA EW F.cONOMIA CRi:-.iE E DHMOC

corre do facto de a tendência ao crescimento das despesas públicas ser claramen­ te superior ao das receitas. Neste cenário, as políticas de contenção orçamental têm-se centrado mais na redução da despesa pública, prejudicando a etlcácia das políticas públicas sociais, designadamente no âmbito da promoção da igualda­ de de oportunidades, do combate à pobreza e à discriminação dos grupos mais vulneráveis, trdduzindo-se num signitlcativo aumento das desigualdades sociais e mesmo da pobreza, gerando situações particularmente dramáticas no caso dos países com economias mais débeis.

Neste âmbito, convém questionarmo-nos sobre a razão da rigidez veritl­ cada do lado do aumento das receitas públicas, em termos de impostos, visto o recurso ao endividamento do Estado estar fortemente limitado pelo receio de que possa alimentar as pressões inflacionistas". A rigidez do aumento das recei­ tas públicas decorre, pois, da incapacidadelimpossibjlid~lde de se proceder ao necessário aumento da matéria colectável. Esta questão é, sem dúvida, comple­ xa apesar de ser objecto de inúmeros estudos e opiniões. 'lo entanto, de um" trulneira sucinta podemos afirmar que está em causa a inadaptação do actual sistema de impostos ii realldade do processo de globalização, em curso, desig~

nadamente pelo facto do crescente protdgonismo das transacções com suporte electrónico porem em causa as práticas de imposição, baseadas na localização geográfica das actividades e dos agentes económico,s28.

A desmaterialização das sedes das empresas, a possibilidade de se proce­ der rapidamente ii deslocalização de segmentos de produção e a fluidez interna­ cional dos movimentos de capital financeiro, levou a que o aumento das receitas fiscais incida sobre o consumo (impostos indirectos) e sobre os rendimentos cio trabalho por conta de outrem", neste caso sobretudo quando as cotizações e os benefícios da segurança sodallhes estão associados. Estl prática teria conduzido a uma redução do poder de compra da população que vive dos rendimentos do trabalho se, em compensação, o sistema financeiro não lhe tivesse proporciona­ do o acesso fácil ao crédito. A contrapartida foi o excessivo endividamento das famfliasJú e a subsequente fragilização do próprio sistema bancário.

F Ilftp://ec,europ3"eu!eCOn(}my_fj.nance/the_.euro/joinin~eu9413~çn.hrm

28 Jlny.an li; Jonarhan Sec, J:"Jectronic (,ommerce arld Int(!rnational Ta:mtion, http;!losgoode-.

yorku.ca/osgmedia,nsf/

2~ Ganghof, Steffen, ProgressuJe ir/come Taxatton ln Advanced OECD Coutltnes. RevisitinIÇ lhe

Stmctural Dej:x'tidenc(} O/lhe State Otl Capital, PapeI p;esenfed at the annuàl meeting of the Ame­ rican PoliticaI Sciefice As:,ociarion, Chkago, 11, 23 de Agosto de 2004 htrp:// ...."''''''',Jilacademic. rom;!mctaJp"i9789_tndex,htmL

W Fosterj John Rel!::tmy, Tbe bousehoid dOOi bubbk, Monthly Rc\,iev: \'01. S8, n5' 1, Maio de 2CX)"i

Desregulame O aumento da são em favor da desn do lrdbalho, que se I

çâo do emprego pre( dos países nórdicos, uma forma de apoio do tempo. Nos outre facilitado os despediJ de penalizarem as

r,

aos afectos. Estas co tais, de que sào exetr juvenil, do insucesso desinreresse pela po De referir que sobre os usos do ter bre os custos societa do meramente persp de ganhos de eficiêr amigas das famílias, a eficácia e a efíciên

Novos

PARADIGMA;

A complexida causa e do intrinccadc e, subsequente, rdOl mica. Nesta perspect

crescimento econórn

1: RAto, Helena, Vai,

Comunicaçào ao 6.Q

Con

9 Bakvis, PeleI, Diro info/...ítradt:-'Jl1Íons-corr

13 Mason, Mary Ann Work and Fami[y Sw"veJ­

(15)

CRIsE E Df.'M(XRAr]A: RESOlrçAO DA CRISE E Al'ROFUADAHl1/\70 DA DPMfXJL4DA 187

Desregulamentação do mercado

de

trabalho

O aumento da competitividade internacional provocou uma elevada pres­ sào em favor da desregulamentação e da consequente flexibilização do mercado do trabalho, que se tem traduzido na perda de direitos laborais e na prolifera­ ção do emprego precário. Como excepção a esta tendência global temos o caso dos países nórdicos, onde a flexibilização do trabalho tem sido entendida como uma forma de apoio às fammas", espedalmente no que diz respeito aos usos do tempo. Nos outros países, a flexibilização e a precariedade do trabalho têm facilitado os despedimentos e contribuído para a diminuiçào dos salários", além de penalizart:m as famílias retirando-lhes tempo disponível para se dedicarem aos afectos. Estas consequências provocam outras, com elevados custos socie­ tais, de que sào exemplo o aumento de famUias desestruturadas, da delinquênda juvenil, do insucesso escolar, das doenças do foro psicológico e psiquiátrico, do desinteresse pela politica.

De referir que a discussão sobre estas problemáticas e. mais em particular, sobre os usos do tempo, tem gerado uma crescente tomada de consciência so­ bre os custos societais inerentes às práticas de llexibílização do tralYdlho, quan­ do meramente perspectivadas numa óptica empresarial orientada para a procura de ganhos de eficiência, levando algumas instituições a introduzir práticas mais amigas das faffil1ias, com resultados muito positivos, também, no que concerne a eficácia e a eficiência produtivas·H

Novos

PARADIGMAS PARA O DESENVOLVlMEl''TO SUSTENTÁVEL

A complexidade da crise actual, devido à multiplicidade das variáveis em causa e do intrincado das respectivas conexões que conduzem à auto-alimentaçào e, subsequente, reforço dos desequilfbrios, demonstra tratar-se de uma crise sisté­ mica. Nesta perspectiva, impõe-se mudar o paradigma do desenvolvimento pelo crescimento económico, assente no modelo neoliberal, para um novo parailigma

;'1 Ruo, Helena, Valorlzaçâo social do uso do tempo ria promoçâo da igualdade de género,

Comunioçao ao 6Y Congresso INA, APl, lJsboo, 2008.

32 Bakvisl Peter, Director of rhe m)C!Glohal Unions Washington l),c. office, http://www.gun. info/.../rude-unions-combat-tÍle ·global-finandal-cnsis!

'1;\ Maron, Mary Aoo; Stacy, Angélica; Goulden, Mare, RejXJrt 011 tbe Universj~y 01 Calljurnill

Work and FamiJy SUri)(?Y Developing New lrtitiati'L'csjbra FamiJ}tFriendly Package, 9 de Junho de 2004.

(16)

188 lV'y7!S71C/Aç40 E PRÁ1lG4 &W J:,C():YO.4/IA

de desenvolvimento sustentável que promova a participação, a justiça e a coesào social, de acordo com os Direitos Humanos Fundamentais.

Neste âmbito, a revisão bibliográfka, no domínio da economia política, per­ mite identificar duas grandes correntes de pensamento sobre modelos alternativos para o desenvolvimento: a da ecologia política e a da democracia económica.

o

modelo da ecologia política

A ecologia política'" considerando que os valores societais constituem a alavanca de mudan\:a do sistema e que esses valores são construídos pelas pes­ SoaS em interacção com o ambiente envolvente, advoga um modelo assenle na autogestão das comunidades e, portanto, no empoderamenlo das pessoas que constituem as comunidades, Esta é, por exemplo, a posição defendida por Elia­ nor Ostrom, designadamente na sua obra, de 1990, Governing tbe Commons: lhe

Eva/ution ofInstitutionsfor Collective Action,

O problema com este modelo ê a sua aplicabilidade ao nível macro, numa economia global onde o espírito de lucro continua a persistir, na medida em que esse espírito pode minar os valores éticos da reputação, da confiança e da reci­ procidade, factores essenciais ao sucesso das práticas de autogestão';, Este tipo de dificuldade pode ser ilustrddo pela crise da pesL""', Com efeito, no contexto da economia de mercado, a gesrão dos recursos piscatórios pelos respectivos stakebo/ders (armadores, pescador",,,, consumidores, disrribuidores e vendedo­ res) tem conduzido a situações de sobrepesea que põem em perigo a sustenta­ biJidade dos stocks piscatórios. Por outro lado, nào se entende como as práticas locais de autogestào podem ser aplicadas a políticas ambientais que, necessaria­ mente, têm de assumir uma dimensão internacional, como é o caso da reduç:lo de emissões de CO~,

,

Em suma, o modelo de ecologia política apresenta-se como uma alternati­ va de "governance", apenas ao micronívd. Consequentemente, a exequibilidade do modelo de ecologia política pressupõe o desenvolvimento de um outro mo~ delo, com aplicabilidade ao nível macro, desde que ambos obedeçam a objecti~ vos e valores civilizacíonais comuns) de forma a garamir-se uma .:governancc" a multinível, de aconlo com o princípio da subsidiariedade,

3~ lkJeira, Sérgio tuis, ,Ecologia PoHtlca: Guerreiro Ramos e Friljof Capra>, ln Ambiente & So­

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http:// ega 12009.easyplanners. ínfo.

:li> www.u5.cambridge,orglcat.'1logueJcatalí)gut\3sp?is!:rrt

O modelo da c O modelo de d, poder económico e

ur

esta ideia possa parec enunciado por BeItran

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vo; o acesso equílibr< acesso de todos à infe Primeiro piIaJ Hilitoricamente ligada à socíalizaÇllo a desde sempre, oS proe 50 produtivo engendr sociais desviantes) enf Cd e doméstica, a deli: no processo produtiv, e ao empobrecimentc elevadas taxas de abs A integr-ação d, dos Direitos Humano âmbito do direito ao II de criação de empreg' sensuaL O problema ( a inovaçâo tecnológic ao dou/nsizlng, ou Se] A partilha do t, tipo de política que ter

r Dowbor, Ladislau, L

deste do Brasil, 2007. .'Ii< Dowbor, Lacuslau, (~

(17)

o modem

da democracia económica

O modelo de democracia económica" pressupõe uma desconcentração do poder económico e uma repartição mais equitativa da riqueza produzida. Embora esta ideia possa parecer utópica, podemoo objectivá-Ia recorrendo ao paradoxo enunciado por Bertmnd Russell, em 1940: ,Considemmos ultrapassado uma famflia real querer mandar num paLs, nU doar uma região a um sobrinho, com habitantes e tudo, mas achamos normal uma famuia, os Rockefeller, por exemplo, usarem o poder económico e político de que dispõem para repassar, compmr ou ven­ der propriedades, com trabalhadores e tudo, como se fossem feudos pessoai",".

A afirmaçâo do modelo de democracia económica desenvolve-se sobre três pilares fundamentais, a saber: a inser~'ào das pessoas no processo produti­ vo; o acesso equilibrado das pessoas aos resultados dos esforcos colectivos: o acesso de todos à informação.

Primeiro pilar da democracia económica

Historicamente, a construção da condição humana está intrinsecamente ligada à socialização através do trabalho em equipa, facto que tem influenciado, desde sempre, os processos educativos. Assim, a exdusào das pessoas do proces­ so produtivo engendra fenómenos de alienação que originam comportamentos sociais desviantes, entre os quais podemos citar: a apatia cívica, a violência étni­ ca e doméstica, a delinquência, a criminalidade. A não participação das pessoas no processo produtivo acaba, pois, por conduzir à sua exclusào social e cívica e ao empobrecimento da vivência democrática, que se tem vindo a traduzir em elevadas taxas de abstenção eleitoral.

A integração das pessoas no processo produtivo corresponde 11 aplicação dos Direitos Humanos Fundamentais de segunda geração, designadamente no âmbito do direito ao trabalho. Assim, a sua efectivação passa por políticas activas de criação de emprego. Em temros político/partidários, esta é uma questão con­ sensual. O problema está em como passar da teoria ii prática, sobretudo quando a inovação tecnológica e a procura da eficiência organizacional têm conduzido ao doumsizing, ou seja, ii redução sistemática de postos de trabalho,

A partilha do tempo de trabalho, pela wduçào de horários laborais, é um tipo de política que tem vindo a ser tentada em alguns países, de que s:lo exemplo

3~ Dov.oor. L3dlSb.u, Democracia Ecouómica, rim .fJa.-<>seiü pelas teorias, Fortale7-2.: 13aoco Nor~

,b1< do BrasH. 2007

(18)

190 GRISE E lJEJI0CR.

o Canadá, a França (Loi Robien, de 1996), a Suécia e a Noruegal9, Relativamente a este tipo de política, o problema está no aumento de custos para as empresas, cuja resolu\~ào implica uml partilha equilibrada desses custos entre empregado­ res, trabalhadores e Estado, tomando em consideração oS respectivos benefícios, De um modo geral, os benefícios advêm da redução do desemprego. da maior disponibilidade de tempo para os trabalhadores se ocuparem de si próprios

e

da famuia, assim como para participarem em actívidades, lúdicas, culmrais, cívicas e outras de desenvolvimento das capacidades

e

competências individuais, Trabalha­ dores menos stressados. com mais tempo para os afectos, são trabalhadores mais felizes. saudáveis'" e motivados e, portanto, mais produtivos e criativos, condições essenciais para um bom desempenho na sociedade do conhecimento.

No plano soeiela I estas políticas traduzem-se em desenvolvimento do potencial e do capital humano e em outros resultados com elevado impacto po­ sitivo, entre os quais destacamos a diminuição do envelhecimento demogrãfico, Com efeito, a redução do horário de trabalho, introduzida através das POlítÍC'dS de apoio à família, tem contribuído para o aumento da natalidade, por exemplo na Dinamarca e na Suécia. Por outro lado, estima-se que as finanças púhlicas também beneficiem da política de promoção do emprego. na partilha do tempo de trahalho, devido quer ao a umento das receitas fiscais, decorrentes do aumento dos rendimentos e do consumo das famílias, quer ii reduçào da despesa pública no âmhito das prestações sociais e dos cuidados de s'lúde, Consequentemente, a partilha do tempo de trAbalho pode ser financiada através da redução de im­ postos, do aumento da produtividade nas empresas e, nalguns casos, de uma redução eqUilibrada e, necessariamente negociada, dos salários que poderá ir até 1%, como aconteceu em França aquando da aplicação da lei Robien,

O investimento público em sectores de actividade que necessitam de ele­ vado capital humano, tanto em quantidade como em qualidade, como é o caso da educação e da formação ao longo da vidaH, da cultura, da saúde, da protec­

ção e do desenvolvimento do capital natural e patrimonial, é outra forma de se reduzir o desemprego ,~ de se melhorar a qualidade de vida das populações, no curto, médio e longo prazo, A título de exemplo, podemos referir que a promo­ ção da cultuf'.l constitui um poderoso incentivo ao turismo: na UE-25, a cultura

,'19 ;\h'o"SOl, Main, L'école ii temps panagé el te partnge du tramil, Presses de l'Unlversiré bval, Québec-Caoada, 1997.

4() Fa)ârd, Marcel J., A OUltxJ da Félicidade ei1 Saude Mental, Ca&.'l Publicadora Brasileira, São Paulo,

41 European Trade Unio:n Confederation, E1TJC and lhe [i..;;;bon mid~tcrm reJ.!iew· a hackground

document to tbe draft reolutlon, ETUCJEC165/]M/RHíRj/hr!23illi20Q4.

e o turismo cultural cc tendo sido considef'J( instrumento eficaz paI

Segundo

pilar

A concretizaçàc librado das pessoas a criada pelo investimel para a coesão sodal e hilO, incluem-se as po rendimento mínimo e pa ra as pessoas c paa A.s políticas de orientadas no sentido do crédito ao mnsum mento produtivo ou " das pou panças e dos financeiras derivadas famllias

e a

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O estabelecime que visa limitar sHuaç! meiro pilar, podemos ( será proporcionar às p seja um emprego está de protecção social, ( evitar as remuneraçõe justific:íveis por re,uh: exemplo a citar é o d

41 KEA European Aff

peao Commjs,.':,ion, ~)irecto HGroupc de Tra"~di: :.u

posiliOttS de Réformes du " rappr;!.'cabV·

:.. TCAC - Trade UnioJ the glebal cds/s. Position P ~'i Cosl~mLL Rogério ~.;; ~(, Piniwti, Sam, ·The I Julho·AgoMo de 2005, p. 4

(19)

CRI",,; F DEMO(,1<AG1A: RESOLl"ÇÂO DA CRISE E ApRONJA'/JAMJ:7\i,O IJA Dfi.;\HXRACIA 191

e o turismo cultural contribuíram para 3,10/(, do total de emprego e 2,6% do PIB, tendo sido considerado que o investimento na cultura e na criatividade é um instrumento eficaz p'ara se concretizar a Agenda de Lisboa".

Segundo

pilar da

democracia económica

A concretização do segundo pilar da democracia económica, aCeSSo equi­ librado das pessoas aos resultados dos esforços colectivos, ou seja, à riqueza criada pelo investimento e pelo trabalho, é também uma condição necessária para a coesào social e, ponanto. para o desenvolvimento sustentável. Neste àm­

bito, incluem-se as políticas de regulação e controlo do sistema financeiro", de rendimento mínimo e de rendimento máximo, de promoção da equidade fiscal para as pessoas e para as empresas.

As políticas de regulação e controlo do sistema fínanceiro" devem Ser orientadas no sentido de impedir a criação descontrolada de dinheiro, através do crédito ao consumo e à especulação, a fim de prevenir: o deSvio do investi­ mento produtivo ou socialmente útil para aplicações especulativas; a destruiçào das poupanças e dos sistemas de segurança social, em consequência das crises financeiras derivadas das bolhas especulativas; o excessivo endividamento das famuias e a criação de .falsos. milionários; a ameaça inflacionista.

O estabelecimento de um rendimento mínimo é já, hoje, uma realidade que visa limitar situações de extrema pobreza. Contudo, se considerarmos o pri­ meiro pilar, podemos concluir que mais importante do que o rendimento mínimo será proporcionar às pHssoas a possibilidade de terem um emprego decente+', ou seja um emprego estável (não precário), suficientemente remunerado e gerador de protecção social. Quanto à fixaçào de um rendimento máximo, destina-se a evitar as remunerações escandalosas de executivos, sobretudo quando nào sào justificáveis por resultados palpáveis e objectivos das empresas. Neste caso, um exemplo a citar é o do Plano de Breedem. Nomeado judicialmente, em 2002~"

~l KEA European Affairs, Tbe Hconomy ofCulture ln Europe, Study prcpared for The Euro~

pean Commission, Directoratc· General for Edllcation and Culture, 20Qli

.e Groupe de Tra";:t!1 Sl:r b Crise Fin;tndêrc lnterrwüonale U\.sscmblC"e l\atlonale er Sênan, Pro­

positiom de Réjor'l11éf. du ~ysteme Financier lntemationai. Vvw<;v.assen:bitt-naüonalc.fr!.. j,--Tisefi~ rapport.asp_

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14 Pizzigati, Sam, ,The Rich and thc Rcst: th~~ growing concentration of wea![h., in Tbe Fu.tu.rist,

(20)

192 CRl5F F Dff.MCIG

para pôr cobro aos escândalos de uma multinacional dos EUA, Breedem impôs um tecto ao rendimento global dos execulÍvos, tendo por isso sido considerado como o pai do primeiro salário máximo.

A atribuição de regalias a executivos, cujo custo pode ser incorporado em despesas dedutíveis ao imposto das empresas, é, tJmbém, um processo de fuga ao fisco e que lesa o princípio da equidade fiscaL A equidade fiscal passa, pois, pela legislaçào sobre despesas dedut[veis. regras de contabilidade, práticas de auditoria e de fiscalidade.

Terceiro pilar da democracia económica

O acesso de todos à informação, terceiro pilar da democracia económica, tem duas vertentes essenciais, a saber: a vertente da produção e divulgação da informação; a vertente da c~apacidade das pessoas em aceder e em compreender a informação. Na primeif'J vertente impõe-se que governos, administmçào públi­ ca, empresas e qualquer outro actor cuja actividade tenha consequências para a vida das pessoas produzam e divulguem toda e qualquer informaçào relevante para a sociedade, em geral, e as pessoas, em particular. Essa informaçào deve ser objectiva, verdadeira e de fácil apreensão. Quanto à acessibilidade, impoe·se a tomada de medidas que garantam a todas as pessoas a efectividade do direito à informa~'ào, Para isso há que prevenir as dificuldades de acessibilidade por razoes de deficiência física ou de iliteracía, através de políticas de integração de pessoas com necessidades especiais, de educação, de promoção da culturJ e de formação ao longo da vida.

ROTEIRO PARA A DEMOCRACIA ECONÓMICA

A concretização das politicas de constlUção e de desenvolvimento da de­ mocf'Jcia económica exige vontade e determinação dos governantes mas também capacidade de financiamento público e uma Administração Pública competente, empenhada, criativa e responsável.

Formação dos governantes

A vontade e a determinação dos governantes são Clracterí.~tkas relaciona­ das com competências comportamentais e inteligência emocional. No entJnto, a utilizaçào dessas competências, no quadro de um determinado programa de refor­ mas, decorre do grau de conhecimento que os governantes têm wbre a necessida­

de de aplicactio das f(' dos custos e benefíci de objectivos e da m independentemente ( tências que eles foran

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Aumentoda( O aumento de: nllição das despesas, mas inerentes à cons nâo pode ser orientac na despesa pública, e tomando em conside: programáticos da ref( niente de uma gestãc racionalização da lltil Como já refer dificuldades devido da globalização ecom desemprego, em reSl de democracia econ, bre o trabalho, impõ< equitativa. Neste case Obama, que prevê a dos no estrangeiro, e zadas em offtbores e

aos impostos das de beneficiárias paguem

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CJaSH l' DH!OCRAC/cit RESOLU(.-AO IJA CRISE F. APkOPfJ:'iDA!.1.EJ't"trJ 1)./1 DE.'.1.XX;{{AClA 193

de de aplicação das reformas, do contexto sodetal em causa, incluindo a avaliação dos custos e benefícios acarretado,; pelas reformas, da subsequente priorização de objectivos e da monitorização dos resultados que vão sendo obtidos, Assim, independentemente das qualidades individuais dos governantes e das compe­ tências que eles !,xam adquirindo ao longo da vida, a concepção e implementa­

çiío de reformas complexas, como as que se impõem no âmbito da constru,'ào

da democracia económica, podem exigir formação complementar. Diagnosticar as necessidades de formação dos governames e daborar o,; correspondentes programas é uma actividade a ser desenvolvida por instituições públicas voca­ cionadas para a formação protlssional, como o INA, IP, oU por universidades. Esta é já uma prática nalguns pai'ie', tais como os EUA, a Suécia e o Brasil"­

Aumento da capacidade pública de fInanciamento

a

aumento desta capacidade pressupõe o aumento das receitas e a dimi­ nuição das despesas, púhlicas, Contudo, no quadro da implementação das relor­ mas inerentes à construção da democracia económica, a redução das despesas nào pode ser orientada pela prática economicLsta de cones cegos. A haver corres na despesa pública, estes têm de ser avaliados em termos de custosibenefícios, tomando em consideroção os impactos directos e indirectos sobre os objectivos programáticos da reforma. Claro está, que toda a diminuição de despesa prove­ niente de uma gestão mais eficiente, resultante da redu,'ào do desperdício e da racionalização da utilizaçào dos recursos, será sempre indispensáveL

Como já referimos, o aumento das receitas fiscais enfrenta grandes dificuldades devido ao desajustamento do actual sistema fiscal no contexto da globalização económica, Assim, embora se possa prever que a diminuiçáo do desemprego, em resultado do própt10 processo de implementação do modelo de democrocia económica, contrihua para o aumento das receitas fiscais so~ bre o trabalho, impõe-se uma reforma fiscal capaz de tornar a carga fiscal mais equitaLiva. Neste caso, é de realçar o programa de reforma fisml do Presidente abama, que prevê a tributação dos lucros das multinacionais americanas obti­ dos no estrangeiro, em particular os que advêm das operações de filiais locali­ zadas em

ojlshores

e paraísos fiscais, Para isso, propôs acabar com as deduções aos impostos das despesas em investimento estl"angeiro até que as empresas beneficiárias paguem os impostos sobre os lucros provenientes daquele tipo de

-~ http:!ív.'v/w,cemrovh'o.org/noclt'J119; hftP:i Iftp.esi~intl.comjpublíc/onsiterrainjng!statean·

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194

investimentos". Esta proposta está a provocar uma grande discussão nos EUA e, provavelmente, enfrentará forte oposição. No entanto, tem o mérito de apontar o caminho para a necessidade do sistema fiscal ter, também, uma wmponente global, ideia já defendida noutros momentos. Com efeito, já em 1972, o ewno­ mista Tobin'9, ao propor a criaçào de um imposto sobre as transacções financei­ ras internacionais, lançou o debate sobre a oportunidade e a exequibilidade de se implementar uma tributação de âmbito internacional.

A tlscalidade verde" é outra experiência de reforma fiscal, enquadrada naS orientações da Uniào Europeia relativamente à defesa do ambiente, que está a ser levada à prática em países europeus. Mas, também neste caso, os resultados apontam para a necessidade de uma articulação entre 05 governos, no plano in­ ternacional.

Capadtação das adminlstrações públicas

Estas e outras reformas implicam acrescidas exigências " competência das administrações públicas, nas mais diversas áreas de actuação. A primeira diz respeito à capacidade de informar de forma objectiva os governantes sobre os diversos contornos da realidade soeietal, nos planos nacional e internacional, sobre os quais irão incidir as reformas. A segunda será o desenvolvimento de competências no quadro da negociação com todos oS actores que venham a ser implicados nas reformas, tanto no plano nacional como internacional. A terceira prende-se com a capacidade de transmitir aos governantes os resultados da im­ plementaçào das reformas, incluindo a opinião dos cidadãos sobre as mesmas. A quarta refere-se à capacidade de informar os cidadàos sobre os resultados esperados das reformas, assim como sobre as dificuldades inerentes ao proces­ so de implementaçào, pam que a monitorização das reformas possa receber o contributo activo e participante de todos os interessados. Esta é de resto uma questão central para se cumprir dois princípios essenciais ao desenvolvimento .sustentável da democracia económica, prestação de contas aos cidadãos sobre o cumprimento dos programas e políticas públicas, induindo os gastos de dinheiro público; transparência na forma de fazer política.

,~ Obama calls for cuebs no ofhhore tax havens, h~tp:/1v.'wv;"nytime:-.com/2009/ü5!051 busiot"s.s/O"Jtax,htm:Lr=l&nl"pol&e!nc"'" poja J.

19 Reiseo, Helmut, :robio tax: could iI work?", ln OECD Obsemer; nY 231/232, Maio de 2002.

)(\ Decrop, Jehàn, Fiscalité «IJene~: quelles balises sociales?, hnp:/!www.rev\je~democrat:e.be/ index.phP'r'art&id'4!55.

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Referências

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