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Ensino e avaliação nas práticas pedagógicas de dois docentes universitários de artes e humanidades

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Academic year: 2021

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INVESTIGACIONES EN EL CONTEXTO

UNIVERSITARIO ACTUAL

INVESTIGACIÓNS NO CONTEXTO

UNIVERSITARIO ACTUAL

PEDRO MEMBIELA NATALIA CASADO M.ª ISABEL CEBREIROS (EDITORES)

SEPARATA

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Investigaciones en el contexto

universitario actual

Investigacións no contexto

universitario actual

Pedro Membiela, Natalia Casado y Mª Isabel Cebreiros (editores)

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Edita Educación Editora

Roma 55, Barbadás 32930 Ourense

email: educacion.editora@gmail.com

Imprime: Tórculo Comunicación Gráfica, S. A. ISBN: 978-84-15524-16-8

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41. Ensino e avaliação nas práticas pedagógicas

de dois docentes universitários

de artes e humanidades

*

Domingos Fernandes1 e Andreia Gaspar2

Universidade de Lisboa

1dfernandes@ie.ul.pt, 2andreiacgaspar@gmail.com

Resumo

O propósito desta investigação era descrever, analisar e interpretar práticas de ensino e avaliação de dois docentes universitários da área de Artes e

Humanida-des. Os dados foram recolhidos através de observações e entrevistas aos

profes-sores e aos estudantes. O estudo permitiu concluir que as práticas dos docentes pareceram basear-se mais na sua intuição, experiência e conveniência do que em qualquer esquema conceptual/conhecimento pedagógico formal. No entanto, num dos casos, verificou-se existir articulação entre os processos de ensino, ava-liação e aprendizagem, utilizando-se tarefas diversificadas, interação e feedback sistemáticos, práticas de auto e heteroavaliação e uma avaliação essencialmente formativa. No outro caso o professor dominou todo o tempo e espaço pedagógi-cos, num contexto em que o ensino era magistral por natureza e a avaliação ori-entada exclusivamente para a atribuição de classificações. Os estudantes do pri-meiro caso mostraram-se mais interessados, empenhados e satisfeitos com as suas aprendizagens do que os estudantes do segundo.

Palavras-Chave

Ensino, avaliação, práticas pedagógicas, avaliação formativa, ensino superior.

Introdução

A investigação que se apresenta e discute neste artigo enquadra-se num proje-to mais amplo, em curso entre Abril de 2011 e Abril de 2014, envolvendo 36 investigadores de sete universidades (quatro portuguesas e três brasileiras). O seu

*Esta investigação foi financiada por Fundos Nacionais através da FCT (Fundação para a Ciência e a

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Investigaciones en el contexto universitario actual

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principal propósito era descrever, analisar e interpretar práticas de ensino e de avaliação numa variedade de unidades curriculares de quatro grandes áreas do conhecimento: Ciências Sociais, Artes e Humanidades, Ciências da Saúde e

Ci-ências e Tecnologias. O presente trabalho, realizado numa das universidades

participantes, foi apenas baseado na recolha de dados efetuada nas aulas de duas unidades curriculares de duas licenciaturas da área das Artes e Humanidades e nas entrevistas aos seus professores e a dois grupos de estudantes.

Enquadramento conceptual

A literatura tem evidenciado que todos os estudantes aprendem melhor quan-do a avaliação, sobretuquan-do a de natureza formativa, faz parte integrante da organi-zação e desenvolvimento do ensino (e.g. Black e Wiliam, 2006). Por outro lado, tem também sugerido que, no essencial, as práticas mais comuns de ensino e de avaliação dos docentes universitários ainda são essencialmente baseadas na transmissão de conhecimentos, avaliados através de testes e/ou exames finais (e.g. Yorke, 2003).

Numa síntese de literatura realizada por Fernandes e Fialho (2012), verifi-cou-se que a avaliação formativa só faz real sentido quando, entre outras condi-ções, os estudantes: a) recebem feedback diversificado e de qualidade de forma sistemática; b) são chamados a resolver uma diversidade de tarefas utilizadas para ensinar, para aprender e para avaliar; c) estabelecem interações com os seus colegas e professores; d) participam em processos de auto e heteroavaliação e de regulação e auto regulação das suas aprendizagens; e e) colaboram ativamente no desenvolvimento e organização das aulas. Como é óbvio, estas condições só po-derão ser criadas se a planificação, a organização e as práticas de ensino estive-rem estreitamente articuladas, ou mesmo integradas, com a avaliação e com as aprendizagens. Efetivamente, tal como tem vindo a ser sublinhado por vários autores (e.g. Black e Wiliam, 2006; Bryan e Clegg, 2006), não faz sentido consi-derar os processos de ensino, de avaliação e de aprendizagem como entes de mundos diferentes e, por isso, encontrar novas e inovadoras formas de avaliar os estudantes, implicará sempre transformações profundas nas formas de organizar e desenvolver o ensino e vice-versa.

Problema e questões da investigação

Os resultados sintetizados por Fernandes e Fialho (2012) e outras investiga-ções (e.g. Bryan e Clegg, 2006; Dancer e Kamvounias, 2005) mostraram que a participação ativa dos estudantes nos processos de avaliação e aprendizagem, as práticas de auto e heteroavaliação e a qualidade das interações que se estabele-cem nas salas de aula, são algumas das condições necessárias para melhorar a qualidade das aprendizagens no ensino superior.

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Fernandes e Gaspar

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Tendo em conta estas considerações, o problema desta investigação resultou da necessidade de descrever, analisar e interpretar práticas pedagógicas de ensino e de avaliação no contexto real das salas de aula.

Nestas condições, para efeitos deste trabalho, formularam-se as seguintes questões orientadoras:

1. Como se estruturam e dinamizam as aulas? Qual a natureza das tarefas propostas? Qual a natureza, a frequência e a distribuição do feedback?

2. Como se organiza e desenvolve o processo de avaliação? Quais são as suas funções, utilizações e a sua natureza?

Método e procedimentos

Tendo em conta a natureza do problema, elaborou-se uma Matriz da

Investi-gação em que o Ensino, a Avaliação e a Aprendizagem eram os objetos

funda-mentais tendo-se definido para cada um deles um conjunto de dimensões. Por exemplo, para o Ensino, foram definidas dimensões tais como: Planificação e

Organização do Ensino e Natureza, Frequência e Distribuição de Feedback. A Matriz permitiu focar a investigação e apoiar os investigadores a compreender

relações relevantes relacionadas com o seu propósito e as suas questões.

As duas aulas das unidades curriculares observadas, uma de Desenho, da Li-cenciatura em Desenho e outra de História da Arte Moderna em Portugal, da Licenciatura em História de Arte, eram de natureza teórico-prática.

A investigação foi qualitativa por natureza. Numa primeira fase, para cada unidade curricular, foram produzidas três narrativas: uma referente à observação de 20 horas de aulas, uma referente à entrevista ao professor e outra relativa à entrevista focada ao grupo de estudantes. A agregação e transformação dos da-dos, que teve em conta o trabalho e as recomendações de Wolcott (1994), permi-tiu obter, numa segunda fase, uma narrativa para cada unidade curricular e, fi-nalmente, uma só narrativa que relata as práticas observadas e percecionadas pelos participantes nas aulas das duas unidades curriculares da área das Artes e Humanidades.

Apresentação e discussão dos principais resultados

A estrutura, a dinâmica das aulas e as tarefas utilizadas nas duas unidades curriculares observadas eram bastante diferentes. Num caso as aulas eram estru-turadas em cinco momentos distintos: a) síntese da aula anterior; b) exposição do docente; c) trabalho individual dos estudantes assistido pelo docente; d) balanço do trabalho desenvolvido até metade da aula; e e) trabalho individual dos dantes assistido pelo docente. Esta estrutura facilitava a interação entre os estu-dantes e o professor, a distribuição de feedback individualizado era frequente e orientado para apoiar as aprendizagens. As tarefas eram diversificadas,

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proporci-Investigaciones en el contexto universitario actual

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onavam uma boa articulação entre a teoria e a prática e eram utilizadas para en-sinar, aprender e avaliar. O professor tinha um papel orientador e motivador e suscitava a reflexão dos estudantes acerca do seu trabalho. Os estudantes partici-pavam naturalmente na construção das suas aprendizagens. No outro caso as aulas tinham dois momentos: a) síntese da aula anterior; e b) exposição do do-cente. A interação foi praticamente inexistente ao longo das 20h de observações. O professor, um excelente comunicador, falava todo o tempo não utilizando qualquer estratégia que suscitasse a participação dos estudantes. As aulas, sem-pre apoiadas em transparências, não sem-previam quaisquer tarefas a realizar pelos estudantes e, por isso, o feedback não fazia sentido. Os estudantes foram críticos relativamente às estratégias de ensino do professor, considerando que, nas aulas, não aprendiam o que esperavam.

Também no que se refere à avaliação a investigação mostrou duas realidades distintas. Numa das unidades curriculares o processo de avaliação ocorreu em todas as aulas e estava organizado para apoiar o ensino e as aprendizagens dos estudantes, verificando-se uma estreita articulação entre estes três processos. Para além das tarefas das aulas, objeto sistemático de análise e feedback por par-te do docenpar-te, faziam-se pontos de situação no meio e no final do semestre, atrvés das avaliações intermédias. Neste caso, o docente tinha oportunidade de a-preciar e comentar todos os trabalhos realizados por cada um dos estudantes. Era um ponto de situação para orientar e ajudar o estudante a consolidar e melhorar o seu trabalho. Havia ainda uma avaliação final destinada a estudantes com classi-ficações fracas e/ou muito boas que era realizada por um júri de professores. A avaliação tinha sobretudo funções reguladoras e auto reguladoras das aprendiza-gens e do ensino. Os estudantes valorizaram a clareza do processo de avaliação, os seus critérios, a sua natureza formativa, o feedback, as tarefas propostas e as oportunidades para refletirem sobre o seu trabalho e sobre o dos seus colegas (auto e heteroavaliação). Na outra unidade curricular a avaliação era de natureza sumativa, orientada para classificar os estudantes e, por isso, foi sobretudo base-ada num trabalho e num teste realizados no final do semestre. Nestas circunstân-cias, a avaliação era um processo pouco ou nada articulado com o ensino e a aprendizagem e, de facto, não era utilizada para melhorar e/ou regular e auto regular estes processos. Apesar dos esforços do docente para acompanhar a reali-zação do trabalho final por parte dos estudantes, proporcionando-lhes feedback, a verdade é que estes não procuravam esse tipo de apoio. Provavelmente porque faziam o trabalho após o final do semestre letivo. Os estudantes não conheciam bem as regras do processo de avaliação, nomeadamente os critérios utilizados e as ponderações para atribuição das classificações, e mostraram-se algo insatisfei-tos por não saberem como podiam fazer para melhorar o seu desempenho escolar.

Conclusões

A estrutura, a dinâmica das aulas e as tarefas utilizadas nas duas unidades curriculares observadas foram bastante diferentes, mas ambos os docentes

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pare-Fernandes e Gaspar

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ceram agir mais de forma intuitiva do que de forma deliberada e articulada con-ceptualmente. Um dos docentes organizou o ensino e a avaliação proporcionando um ambiente favorável à motivação dos estudantes para aprender. A avaliação formativa, o feedback e a interação eram uma constante. Os estudantes desen-volviam tarefas de forma autónoma e participavam na análise e reflexão dos seus trabalhos e dos colegas. O outro docente, ainda que fosse um excelente comuni-cador e profundo conhecedor das matérias que ensinava, desenvolveu práticas de ensino magistral e de avaliação para classificar em que a interação e o feedback eram praticamente inexistentes. Os estudantes mostraram-se mais motivados, empenhados e orientados para as aprendizagens no primeiro caso do que no se-gundo. Mais concretamente, a investigação mostrou que é possível organizar e desenvolver o ensino e a avaliação de forma a melhorar a predisposição dos es-tudantes para participar no processo de avaliação e para os motivar a aprender.

Referências

Black, P. e Wiliam, D. (2006). Assessment for learning in the classroom. Em J. Gardner (ed.), Assessment and learning (pp. 9-25). London: Sage.

Bryan, C. e Clegg, K. (2006). Introduction. Em C. Bryan e K. Clegg (orgs.),

Innovative Assessment in Higher Education (pp. 3-10). New York: Taylor and

Francis.

Dancer, D. e Kamvounias, P. (2005). Student involvement in assessment: A project designed to assess class participation fairly and reliably. Assessment and

Evaluation in Higher Education, 30 (4), 445-454.

Fernandes, D. e Fialho, N. (2012). Dez anos de práticas de avaliação das aprendizagens no Ensino Superior: Uma síntese da literatura (2000-2009). Em C. Leite e M. Zabalza (coords.), Ensino superior: Inovação e qualidade na

docên-cia (pp. 3693-3707). Porto: CIIE da Universidade do Porto.

Wolcott, H. (1994). Transforming qualitative data: Description, analysis,

and interpretation. London: Sage.

Yorke, M. (2006). Formative assessment in higher education: Moves towards theory and the enhancement of pedagogic practice. Higher Education, 47, 477-501.

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Referências

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