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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE MESTRADO MARCO ANTÔNIO MARTINS DA CRUZ

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Academic year: 2019

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE MESTRADO

MARCO ANTÔNIO MARTINS DA CRUZ

USOS E APROPRIAÇÕES SOCIAIS DO ESPAÇO PÚBLICO NAS PRAÇAS DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO

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USOS E APROPRIAÇÕES SOCIAIS DO ESPAÇO PÚBLICO NAS PRAÇAS DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão, para a obtenção do Título de Mestre em Ciências Sociais.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Fernandes Keller

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CRUZ, Marco Antônio Martins da.

Usos e apropriações sociais do espaço público nas praças de São Luís do Maranhão/Marco Antônio Martins da Cruz. – São Luís, 2011

140f.

Impresso por computador (fotocópia). Orientador: Prof. Dr. Paulo Fernandes Keller.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Maranhão, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, 2011.

1. 1. Praças públicas – São Luís–MA – Interação social 2. Espaço público – Uso I. Título

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MARCO ANTÔNIO MARTINS DA CRUZ

USOS E APROPRIAÇÕES SOCIAIS DO ESPAÇO PÚBLICO NAS PRAÇAS DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão, para a obtenção do Título de Mestre em Ciências Sociais.

Aprovada em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Prof. Dr. Paulo Fernandes Keller (Orientador)

Doutor em Ciências Humanas (Sociologia) Universidade Federal do Maranhão

______________________________________________ Prof. Dr. Carlos Frederico Lago Burnett

Doutor em Arquitetura e Urbanismo Universidade Estadual do Maranhão

______________________________________________ Prof. Dr. José Odval Alcântara Jr

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A Deus, pela enigmática dádiva da vida.

Aos meus pais in memoriam Gilberto Martins da Cruz e Dária do Carmo Mendes Guimarães da Cruz, pelo eterno carinho, base na criação e perseverança no ensino da responsabilidade para com os afazeres diários.

À minha esposa Maria Lúcia Soares da Cruz, pelo seguro apoio e compreensão nos momentos de afastamento para a redação deste estudo.

Aos meus filhos Allan Kássio Beckman Soares da Cruz, Ricardo Bruno Beckman Soares da Cruz, Deborah Duane Beckman Soares da Cruz e Jean Renan Beckman Soares da Cruz, pela colaboração na pesquisa com a tabulação dos resultados.

Aos meus irmãos Paulo Marcelo Martins da Cruz, Antônio Carlos Martins da Cruz e Márcia Valéria Martins da Cruz, pela torcida.

À instituição de fomento Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), pelo incentivo com a concessão de apoio financeiro, na forma de Auxilio – Taxa de Bancada, como forma de apoiar a execução desse projeto de mestrado.

Ao meu orientador, Professor Doutor Paulo Fernandes Keller, pela pronta atenção e orientação segura no percurso de pesquisa.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFMA, em especial a Igor Gastal Grill, Marcelo Domingos Sampaio Carneiro, Elizabeth Maria Beserra Coelho, Eliana Tavares dos Reis, Mundicarmo Maria Rocha Ferretti, Sergio Figueiredo Ferretti, que lecionaram as disciplinas cursadas, contribuindo em parte para a elaboração desta dissertação.

A Mary Lourdes Gonzaga Costa, secretária do PPGCS, pela permanente atenção. A Rosana Santos Pinheiro, auxiliar da Secretaria do PPGCS, pelo bom atendimento.A Soraya Cristina Barbosa Carvalho, secretária da Revista Pós-Ciências Sociais, pela garantia na comunicação das informações do Programa.

A todos os amigos e colegas de turma do Mestrado pelos momentos de convivência nesses dois anos de muitas aprendizagens.

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“O espaço não é uma dimensão vazia ao longo da qual agrupamentos sociais vão sendo estruturados, mas deve ser considerado em função do seu envolvimento na constituição de sistemas de interação”.

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RESUMO

Usos e apropriações sociais do espaço público nas praças de São Luís do Maranhão compõe-se de um estudo sobre as práticas sociais de usos atribuídos pelos citadinos ao espaço social público contemporâneo da cidade. Compara-se o transcurso das condições sociais de usos, apropriações e interações nas praças públicas e o processo de construção de sociabilidades no cotidiano por indivíduos e grupos, enquanto habitantes de diferentes territórios, regiões e bairros da cidade. São discutidos em uma perspectiva interacionista os conceitos de espaço e lugar onde indivíduos e grupos estabelecem ações, relações e interações sociais. Descreve-se o processo histórico de transformações urbanas de São Luís, com seus reflexos nas mudanças e permanências na estrutura da cidade e configurações sociais nas praças. Estudam-se as articulações individuais e coletivas na composição do espaço social. Observa-se como a proximidade e o distanciamento possibilitam a construção de fronteiras sociosimbólicas entre indivíduos e grupos. Para compreender os usos, as apropriações e as interações sociais no espaço público são estudados os casos de três praças da cidade: Praça Gonçalves Dias, Praça da Ressurreição e Praça do Conjunto dos Ipês. Por meio de observação direta e entrevistas são identificados e examinados os procedimentos interacionais que permitem a indivíduos e grupos estabelecer arranjos sociais direcionados aos usos e apropriações sociais do espaço público nas praças. Evidenciam-se, assim, as dinâmicas sociais dos rituais decorrentes das sociabilidades cotidianas, que caracterizam modalidades e estratégias de convívio na cidade.

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ABSTRACT

Uses and social appropriation of public space in the squares of São Luís do Maranhão is composed of a study on the social practices of uses attributed by city dwellers to the contemporary social space of the city. It compares the course of the social uses, appropriations and interactions in public places and the construction of sociability in everyday life by individuals and groups, as inhabitants of different territories, regions and neighborhoods. The concepts of space and place where individuals and groups establish actions, relationships and social interactions are discussed in an interactionist perspective. It is described the historical process of urban transformation of São Luís, with its reflections on the changes and continuities in the structure of the city and social settings in the squares. It is studied the collective and individual joints in the composition of social space. It notes how the proximity and distance allow the construction of socio symbolic boundaries between individuals and groups. In order to understand the uses, appropriations and social interactions in public space are studied the cases of three squares of the city: Gonçalves Dias Square, Ressurreição Square, and Conjunto dos Ipês Square. Through direct observation and interviews are identified and examined the interactional procedures that allow individuals and groups establish social arrangements directed to the social uses and appropriations of public space in squares. Became evident, therefore, the social dynamics of everyday rituals derived from sociability, featuring arrangements and strategies of living in the city.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Mapa de São Luís com a localização das praças pesquisadas ... 94

Figura 2 – Mapa do Centro de São Luís com a localização da Praça Gonçalves Dias ... 95

Figura 3 – Vista parcial da Praça Gonçalves Dias... 98

Figura 4 – Fotografia de satélite da Praça Gonçalves Dias ... 99

Figura 5 – Cenários dos usos e apropriações na Praça Gonçalves Dias ... 105

Figura 6 – Mapa com a localização Praça da Ressurreição ... 109

Figura 7 – Fotografia de satélite da Praça da Ressurreição ... 110

Figura 8 – Vista parcial da Praça da Ressurreição ... 112

Figura 9 – Cenários dos usos e apropriações na Praça da Ressurreição... 115

Figura 10 – Mapa com a localização da Praça do Conjunto dos Ipês ... 117

Figura 11 – Fotografia de satélite da Praça do Conjunto dos Ipês ... 119

Figura 12 – Vista parcial da Praça do Conjunto dos Ipês ... 121

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Evolução Demográfica de São Luís (1612 – 1820) ... 65

Tabela 2 – Evolução Demográfica de São Luís (1872 – 2010) ... 69

Tabela 3 – Evolução Demográfica de São Luís e Maranhão (1991 – 2010) ... 70

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 REVISÃO DE LITERATURA ... 22

2.1 Espaço e lugar: atores e relações sociais ... 22

2.2 Espaço social público: condições objetivas para as interações... 37

2.3 As praças enquanto espaço público: conceituação e configurações ... 49

3 HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO URBANO DE SÃO LUÍS ... 55

3.1 Histórico das transformações urbanas de São Luís ... 55

3.2 Mudanças e permanências na composição urbana e os usos das praças: do tradicional ao supermoderno ... 72

4 USOS E APROPRIAÇÕES SOCIAIS DO ESPAÇO PÚBLICO NAS PRAÇAS DE SÃO LUÍS ... 79

4.1 Usos e apropriações sociais do espaço público: introdução ... 79

4.2 Usos e apropriações sociais do espaço público: o caso das praças de São Luís .... 90

4.2.1 Introdução ao estudo de caso... 90

4.2.2 A Praça Gonçalves Dias ... 95

4.2.3 A Praça da Ressurreição ... 107

4.2.4 A Praça do Conjunto dos Ipês ... 117

5 CONCLUSÃO ... 126

REFERÊNCIAS ... 137

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1 INTRODUÇÃO

Neste estudo são analisados os usos, as apropriações e as interações sociais estabelecidas e mantidas no espaço público de praças localizadas na cidade de São Luís–MA. Estas são compreendidas como lugares públicos de interação social, para refletir sobre como é construído e cultivado o processo de sociabilidades, as múltiplas formas em que transcorre a ordem da interação e como são exercitadas e sustentadas na cidade as relações intersubjetivas nas diversas dimensões sociais: cultural e simbólica, econômica e política. São pensados de modo articulado os conceitos fundamentais de espaço público e privado, praça, atores sociais, interação, sociabilidade, relação social, identidades, proximidade, distanciamento, individualidade, coletividade, usos e apropriações sociais. Reflete-se, portanto, sobre os atores sociais copresentes1 e suas práticas interacionais, no contexto sócio-histórico contemporâneo, no qual prevalecem novas dinâmicas que requalificam os espaços públicos urbanos.

O objeto de investigação refere-se aos usos, às apropriações e às interações sociais nos lugares constituídos em espaços públicos específicos da cidade de São Luís do Maranhão, a saber: Praça Gonçalves Dias, Praça da Ressurreição e Praça do Conjunto dos Ipês. Justifica-se a escolha das três praças pela possibilidade de admitir uma análiJustifica-se que comportasJustifica-se identificar e confrontar práticas interacionais em bairros e contextos sociais diversificados.

Discutir usos, apropriações e interações sociais no espaço público é remeter às dinâmicas sociais básicas, concebendo a cidade como espaço de convivência e as praças públicas como lugares onde ocorrem ritos sociais de interação. Como pontua Goffman (2011), objetiva-se evidenciar a ordem comportamental encontrada nas praças de São Luís, quando as pessoas entram na presença imediata de outras. Considera-se teoricamente o espaço dos ajuntamentos sociais, no contexto do que Goffman (2011) chama de sociologia das ocasiões, observando as ações das pessoas em atividades interacionais temporárias. Afirma Goffman (2011, p. 9) que, nessas ações entre atores, “estão envolvidos um breve período de tempo, uma extensão limitada no espaço, e os eventos são restritos àqueles que devem ser completados depois de iniciados. Há um emaranhado complexo com as propriedades rituais das pessoas e com as formas egocêntricas da territorialidade”.

1 Copresentes, neste contexto, refere-se à copresença que, para Goffman (2009, p. 11), pode ser entendida como

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Assim, o que se visa é pensar sobre os citadinos, indivíduos e grupos que vivem o cotidiano contemporâneo da cidade de São Luís. Como diz Frúgoli Jr (2007, p. 48), interessa estudar os processos que “efetivamente emerge[m] de um encontro público, [...] Tendo em vista, portanto, que o citadino circula por mundos diferentes, contíguos porém distintos”. É parte dessa realidade citadina que se investigou.

Na introdução a este estudo é oportuno considerar o que levou o pesquisador a indagar, querer estudar e refletir sobre os usos e apropriações sociais de praças, entre tantos prováveis fenômenos passíveis de investigação no universo social. O interesse pelo estudo das interações e sociabilidades nas praças foi despertado no curso de Graduação em Ciências Sociais (1983-1986) e aprofundado em uma Especialização em Sociologia Urbana (1994), concluídos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. No exercício da docência, desde 1991, deve-se mencionar a continuidade dos estudos relacionados à temática da cidade.

As praças públicas estão localizadas em determinados espaços físicos e sociais, nos quais são estabelecidas interações entre indivíduos e grupos que ali se encontram; lugares esses que se fazem presentes também no imaginário social coletivo, nas ideias e nas representações de mundo das pessoas. Foi no espaço público em que se fundaram historicamente as noções de política e cidadania. Não se pode conceber o espaço urbano sem incluir igualmente esses locais por onde se deslocam e nos quais interagem ou convivem as pessoas que habitam determinada região. São ambientes propícios à convivência, onde se desenvolve a construção de interações e envolvimentos na cidade.

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Configurações estas que permitem compor e renovar cotidianamente as modalidades de usos, apropriações e interações sociais no espaço público.

As praças, em uma concepção tradicional, costumam ser pensadas como núcleos irradiadores a partir dos quais a urbe se desenvolve. Essa ideia, contudo, pode ser questionada na vida social contemporânea, quando a praça deixa de ter o sentido político que tivera no passado. É pertinente perguntar, então, se outros espaços têm ocupado o lugar social reservado outrora à praça pública. A propósito, representam as praças de alimentação nos shopping centers novos espaços de interação social e de sociabilidades na atual sociedade capitalista.

Assim sendo, visa a pesquisa, por meio de um percurso investigativo a praças da cidade, compreender o espaço público considerando suas destinações, a concorrência relativa às suas apropriações sociais, seja pelos moradores da vizinhança, pelos que ali permanecem algumas horas dos dias, pelos que circundam aquele espaço, pelos que por lá transitam e pelo Estado, o qual deveria, em tese, zelar por esse locus privilegiado de interações e sociabilidades.

A questão de pesquisa se coloca a partir de quais costumes e sob quais condições estruturais e interacionais os citadinos estabelecem, mantêm e tornam possíveis os usos e apropriações sociais em praças (públicas) na cidade de São Luís-MA no transcurso das situações sociais. Inicialmente, foram verificadas no cotidiano as diferentes maneiras pelas quais indivíduos e grupos conduzem espécies e padrões de usos nesses espaços urbanos. Do mesmo modo, constataram-se interações sociais marcadas por diversos tipos de trocas, sejam gratuitas, onerosas ou ainda marcadas por intercâmbios simbólicos de variados bens.

Investiga-se, portanto, como os atores em suas interações são condicionados pelo contexto social da copresença nas praças de São Luís. O que os atores sociais costumam fazer para organizar e estabelecer espaços que são usados e apropriados nas praças? Quais são os padrões de conduta característicos das formas de revezamento para uso? Ocorrem conflitos interativos motivados por códigos de condutas, tradições, regras e normas divergentes entre os frequentadores desses espaços? São estabelecidos consensos para a distribuição e seletividade desses usos sociais? Quais os recursos2 que indivíduos e grupos lançam mão nas interações

2 Recursos empregados pelos agentes visam “manter um senso coerente dos eventos centrais das trocas”

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para cultivar as relações e sustentar as situações sociais? Como são articuladas no processo de interação as condições sociais para o uso e a apropriação de determinados territórios? Podem ser verificadas diferenças ao serem confrontados os usos sociais em bairros diversos? Quais são e como transcorrem os usos, as apropriações e as interações sociais no processo de construção de sociabilidades no cotidiano por indivíduos e grupos, enquanto habitantes de uma região da cidade? Como ocorrem as interações entre indivíduos conhecidos que conservam relações de proximidade com estranhos?

A dissertação pretende contribuir com as discussões e debates sobre as formas de interações estabelecidas no espaço urbano, oferecendo meios para a elaboração de um diagnóstico acerca das sociabilidades nesse ambiente. A investigação a respeito das relações entre os diversos atores que circulam, transitam, ocupam, usam e vivem esses lugares deve proporcionar subsídios para reflexão a respeito das interações entre indivíduos, grupos e instituições nas praças da cidade de São Luís contemporânea.

A pesquisa tem seu objeto associado à Antropologia e à Sociologia Urbana. As produções teóricas do urbanismo, disciplina conexa, merecem igualmente destaque. Os referenciais teóricos que orientam a metodologia deste estudo estão baseados, sobretudo, em autores como Max Weber, Georg Simmel, Norbert Elias, Erving Goffman, Anthony Giddens, Harold Garfinkel, Gilberto Freyre, Roberto DaMatta, José Alcântara Jr., entre outros. Discutem eles as interações e sociabilidades em determinados espaços sociais.

Weber (2009) formulou conceitos adequados ao tema da pesquisa, como ação social e relação social, a qual pode ser comunitária ou associativa. Diferenciou ainda uso e costume, que permitem pensar os usos sociais das praças. O conceito e categorias da cidade (WEBER, 1987) possibilitam também relevantes aportes teóricos para analisar as praças no contexto urbano.

Do mesmo modo, pensa-se a noção de sociabilidade. Para Simmel, este conceito expressa a aproximação com outras pessoas (SIMMEL, 2006). A ausência de sociabilidade pode ser desenvolvida em razão de atitudes opostas à aproximação, causando dificuldade de diálogo e convivência. Com isso, podem ser analisados os grupos e redes sociais de interações que se formam no cotidiano. Para caracterizar os espaços de sociabilidade utilizam-se também

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as concepções de Elias. Considera este autor as redes de interdependência que os indivíduos estabelecem nas configurações que lhes são próprias (ELIAS, 1994). O conceito de configuração é aplicado à análise das formas de interação que tornam efetivos os usos sociais das praças.

Estão, ainda, incluídas na pesquisa as concepções teóricas de Goffman. Trata ele da representação, que seria a totalidade da atividade de determinado indivíduo, em dada ocasião, realizada com o objetivo de influenciar de certa maneira um dos participantes (GOFFMAN, 2009). Alude este autor a diferentes estratégias e técnicas de atuação, analisando a dinâmica social como se acontecesse em palcos – as praças –, com os atores desempenhando papéis de diferentes personagens.

Da mesma forma, Giddens (2005b) considera a vida social a partir da interação que ocorre entre indivíduo e sociedade. Na condição de agente de suas ações, o indivíduo usa sua consciência discursiva e prática. Com base no conceito de consciência prática são estabelecidas relações com os atores sociais, que seriam não apenas aqueles que praticam a ação, mas os que possuem a capacidade para realizar determinada ação que deve produzir um efeito. A teoria da estruturação de Giddens (2003) permite também a análise de encontros sociais localizados segundo tempo, espaço e regionalização.

Outra perspectiva nesta pesquisa é a da etnometodologia de Harold Garfinkel. O ponto de vista da etnometodologia é apresentado por Uwe Flick. De acordo ele,

[...] a interação é produzida de uma maneira bem ordenada, sendo que o contexto constitui a estrutura da interação que é, ao mesmo tempo, produzida na interação e por meio dela. As decisões acerca do que seja relevante para os membros da interação social apenas podem ser tomadas por meio de uma análise da interação, e não pressupostas a priori. O foco não é o significado subjetivo para os participantes de uma interação ou de seus conteúdos, mas a forma como essa interação é organizada. O tema de pesquisa passa a ser o estudo das rotinas da vida cotidiana, em vez dos eventos extraordinários conscientemente percebidos e revestidos de significado. (FLICK, 2009, p.71).

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para fenômenos empíricos da atividade social e de organização das condutas sociais, o que admite pensar as diversificadas interações no contexto do espaço social das praças públicas.

Ao buscar formulações conceituais que ampliem a capacidade de estudo, compreensão e crítica, serviram ainda como referências as orientações teóricas de Alex (2008), Gomes (2010) e Harvey (2007), que permitem discutir as formas de uso, apropriação e população usuária das praças públicas na cidade contemporânea.

A metodologia adotada para realização da dissertação orientou-se pela perspectiva do interacionismo e da etnometodologia. Entre as técnicas empregadas nesta pesquisa qualitativa estão estudos bibliográficos, estudo de caso, observação direta e entrevista estruturada. A primeira etapa, que se desenvolveu simultaneamente à investigação de campo, foi marcada pelos estudos bibliográficos. A literatura com que se subsidia a análise buscou esboçar o conhecimento das produções teóricas de vários autores nas áreas da antropologia, da sociologia e das ciências sociais em geral acerca da questão do fenômeno das interações e sociabilidades relacionadas com o uso e a apropriação do espaço público das praças.

Para o estudo propriamente das rotinas da vida cotidiana nas praças, o pesquisador iniciou como frequentador em observação direta. Enquanto usuário das praças foi possível anotar em Diário de Campo os ritmos conferidos pelos citadinos a esses espaços, permitindo reunir informações sobre a identificação de usuários individuais e coletivos, ocasionais e frequentes.

Foram, também, delimitados horários nas manhãs, tardes e noites nos quais se manteve o critério de rodízio para examinar como ocorrem determinadas formas de apropriação dos espaços. O início da manhã ou o fim da tarde são momentos de maior frequência à praça. A fluência à praça nos dias úteis é diferente em relação àquela verificada nos fins de semana. Nestas ocasiões, a copresença é maior e encontra-se na praça um número mais expressivo de pessoas.

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estruturado, contendo uma relação invariável e padronizada de perguntas em forma de questionário, cujo modelo de formulário está anexo ao final deste volume. Foram dirigidas, aproximadamente, a uma centena de entrevistados, classificados, conforme as observações prévias, em categorias para atender às finalidades da pesquisa em: skatistas, jovens, casais, estudantes uniformizados, estudantes universitários, religiosos, vizinhos, servidores públicos que trabalham no entorno das praças, turistas, vendedores ambulantes, flanelas guardadores de veículos e passantes.

Com a aplicação das entrevistas buscavam-se informações sobre os citadinos usuários das praças, seus perfis socioeconômicos, hábitos e percepções a respeito do espaço e como são estabelecidos os limites que tornam possível a presença simultânea ou copresença para os usos e apropriações desses espaços sociais. Foi utilizada a análise de padrões e interdependência de comportamentos ao observar e entrevistar os diversos atores investigados, visando apreender similitudes e diferenças nas interações e sociabilidades. Os resultados da tabulação das entrevistas são apresentados a partir da exposição do que se apurou no estudo de caso das praças.

As praças pesquisadas no estudo de caso estão localizadas em três regiões diferentes da cidade de São Luís–MA. A Praça da Ressurreição e a Praça do Conjunto dos Ipês são praças de bairros, com as sociabilidades próprias aos que habitam aquelas zonas residenciais. A Praça Gonçalves Dias está situada em um espaço central, tradicional e histórico da cidade e tem sido retratada como cartão-postal. Apesar de fazerem parte de um conjunto de praças na mesma cidade, há ritmos e comportamentos diferenciados de usos e apropriações conforme os dias e horários da semana e a intervenção de diferentes e diversificados atores.

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nos limites deste estudo, relevâncias comerciais e políticas do passado, as quais certamente permitiriam escolher outros lugares, como o Largo do Carmo ou demais áreas do Centro, que outrora foram proeminentes na vida social de São Luís.

Não bastava, para compor uma amostra significativa, conforme os propósitos da pesquisa, considerar apenas uma praça. Precisava-se incluir outra mais para fins de comparações e confrontos. Por isso, como segunda destacada está a Praça da Ressurreição, por representar uma região da cidade de ocupação contemporânea, com população composta majoritariamente por membros da classe trabalhadora. Localizada ao sudoeste da cidade tem, instalados em seu território, grandes grupos econômicos como Vale, Alumar e Eletronorte. Essa praça foi construída na década de 1970, quando a habitação do bairro era ainda recente. Fazia parte de um conjunto de espaços urbanos destinados ao exercício de lazeres naquela região. Nos anos 1990, quando o governo do Estado do Maranhão implantou a política dos “Vivas” foi urbanizada e dotada do atual traçado arquitetônico, que, em sua remodelagem, atendeu propósitos muito diferentes dos existentes ao tempo da inauguração da Praça Gonçalves Dias. Por sua localização, as interações e os usos sociais conferidos pelos frequentadores são mais restritos aos moradores do Anjo da Guarda e adjacências.

Uma terceira praça foi adicionada para compor uma mostra mais expressiva. Representa um termo mediano entre as outras duas; não é a praça do cartão-postal, como o é a Gonçalves Dias, nem é tão pouco de grandes dimensões como a Praça da Ressurreição. A Praça do Conjunto dos Ipês, situada no Recanto dos Vinhais, está em um bairro habitado por uma população de classe média e foi construída na década de 1980. Como decorrência de sua localização, com frequentadores que provêm de mais de uma comunidade – o núcleo do Conjunto dos Ipês e as áreas próximas de posse irregular – os usos e apropriações sociais dessa praça apresentam interações diferenciadas ao se comparar com as demais listadas.

A estrutura da dissertação conta com uma INTRODUÇÃO, na qual se delimitou o tema do trabalho, com indicação de questão de pesquisa. Apontam-se autores e conceitos que são operacionalizados ao longo do texto, bem como explicitada a metodologia utilizada.

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ajuntamento, situação e ocasião social, interação focada e desfocada, fachada e pedaço. Em seguida, analisou-se o espaço enquanto público e privado e como se articulam as condições objetivas para as interações. Delimitou-se, igualmente, a noção de praça pública, enquanto lugar diferenciado no conjunto da cidade e equipamento urbano ou local onde ocorrem as interações entre indivíduos e grupos.

Em HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO URBANO DE SÃO LUÍS são examinadas, em perspectiva histórica, as transformações urbanas e os movimentos populacionais de migração que afetaram a composição socioespacial da cidade com reflexos nas condições de uso e apropriação de suas praças. Com a apreciação dessas mudanças e permanências na composição da população residente na cidade, percebidas de um ponto de vista diacrônico, intentou-se evidenciar a criação das condições sociais para os usos das praças a partir do processo de urbanização de São Luís. Com o tempo, a estrutura da cidade e de seus edifícios passou do precário e artesanal às edificações aformoseadas com pretensões em observar estilos de construção caracteristicamente europeus. Esta transição reflete um processo incessante de transformações incorporadas à composição edificada e à vida citadina.

No capítulo USOS E APROPRIAÇÕES SOCIAIS DO ESPAÇO PÚBLICO NAS PRAÇAS DE SÃO LUÍS são situadas territorialmente as relações sociais, que perpassam determinados espaços. São analisadas as noções de proximidade e distanciamento que podem ser verificadas nas interações sociais que ocorrem nas praças. Implicada nesta discussão está a reflexão sobre o individual e o coletivo. As noções de reconhecimento e estranhamento são ainda pensadas ao se indagar como o local e o estranho são habitualmente vividos, percebidos e concebidos nas praças. Nesse momento, cogitam-se as circunstâncias em que a situação social é mantida por indivíduos e grupos por meio de controles mútuos de aparências, linguagem corporal e atividades.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Espaço e lugar: atores e relações sociais

“É estudando o espaço de uma sociedade que se pode lançar luz sobre questões tão importantes como o seu sistema ritual e o modo pelo qual ela faz sua dinâmica.”

(Roberto DaMatta)

Ao analisar o espaço em que os atores estabelecem relações sociais, é pertinente tratar preliminarmente do conceito e categorias da cidade, no sentido que Weber quis imprimir ao tema. Esse é o lugar mais amplo no qual ocorrem as relações sociais. Entende Weber (1987) que a cidade é um local de mercado. A cidade pode ser industrial, de consumidores e mercantil, mas destaca esse autor que “as cidades representam, quase sempre, tipos mistos e que, portanto, não podem ser classificadas em cada caso senão tendo-se em conta seus componentes predominantes” (WEBER, 1987, p. 73).

Mas o conceito de cidade não deve estar restrito ao conteúdo econômico. Precisa ser encaixado em conceitos políticos. Nas palavras de Weber (1987, p. 76), “a cidade tem que se apresentar como uma associação autônoma em algum nível, como um aglomerado com instituições políticas e administrativas especiais”. O conceito de cidade está implicado, então, a “cidadania” e “comunidade urbana” (WEBER, 1987). Essa orientação é essencial para situar relações sociais estabelecidas por atores nas praças da cidade.

É em determinado espaço e lugar que indivíduos e grupos transitam e estabelecem vivências diariamente. Nas praças públicas transcorrem ações, interações e relações sociais, que caracterizam a ordem legítima. Ao situar a atuação dos atores no espaço pretende-se instrumentalizar a pesquisa com referenciais teóricos que possibilitem a análise, a discussão, a reflexão e a compreensão acerca das situações sociais de usos e apropriações das praças públicas, entendidas como formas de ação. Pois, como destaca Alcântara Jr.(2011, p. 141), “compreensão é a possibilidade de se fazer entender a si mesmo e ao outro também”; nesse caso, os atores que interagem nas praças.

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relacione a um sentido subjetivo. O aspecto social define a ação no sentido visado pelo agente (WEBER, 2009). Esclarece Weber (2009) que a ação social pode ser racional, visando aos fins (determinada pelas expectativas no comportamento dos outros); racional, referente aos valores (orientada pela crença consciente em um valor); afetiva (norteada por afetos, emoções) e tradicional (pautada em um costume arraigado).

Desta forma, os atores sociais conduzem os usos sociais de acordo com padrões sociais em diferenciados contextos. Na Praça Gonçalves Dias, que tem frequentadores de procedência mais diversificada, as ações podem ser classificadas de acordo com a tipologia voltada a ações afetivas e racionais. É grande o número de ajuntamentos3 cuja ida compartilhada à praça é explicada por orientações emocionais e afetivas. Segundo Weber (2009, p. 15), “age de maneira afetiva quem satisfaz sua necessidade atual de [...] gozo, de entrega, de felicidade contemplativa ou de descarga de afetos”. No entorno da praça não há muitas residências, que se encontram situadas um pouco mais distantes, o que, certamente, não constitui obstáculo aos moradores. É possível visualizar continuamente indivíduos acompanhados – casais, esportistas, amigos, estudantes, turistas – contemplando as belezas do lugar.

Ao se comparar com a Praça da Ressurreição, percebe-se, desde logo, uma presença maior de comércio de bares, regulares e irregulares em sua organização e constituição física. Mostra-se nesta região uma participação com maior destaque para ações racionais voltadas para fins econômicos. Há muitos locais para lanches e socializações e flui uma clientela direcionada a esses serviços. Dentre as praças observadas é a que concentra o mais intenso comércio de serviços de bares e restaurantes.

Em depoimentos colhidos nas entrevistas, os atores sociais que frequentam a Praça lembram a atração exercida pelos eventos extraordinários organizados ao longo do ano, como as festas juninas. Deve-se também mencionar o fato de que o nome que identificava a praça, após sua reurbanização nos anos 1990, era “Viva Anjo da Guarda”, a qual foi renomeada pela comunidade e rebatizada como Praça da Ressurreição, pois é montado em sua área anualmente o espetáculo religioso da Paixão de Cristo. Na Praça é encenado o momento da ressurreição e

3O termo ajuntamento é utilizado para fazer referência a “qualquer conjunto de dois ou mais indivíduos, cujos

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da subida aos céus. Isso pode sugerir motivos referentes a crença religiosa; é um momento extraordinário do ano que conferiu ao espaço uma destinação que foi assinalada pelos usuários frequentadores.

Na Praça do Conjunto dos Ipês os motivos para acessar o local são de ordem racional, voltados a fins econômicos, tais como idas ao supermercado ou ao quiosque de lanche que ficam em frente à Praça; ou ainda orientados a partir de valores comunitários que refletem as ações da associação de moradores. É destacada a presença dos residentes, o que demonstra apropriações que se desenvolvem por indivíduos e grupos que mantêm uma constante de ações afetivas e racionais determinadas por valores de vizinhança. Deve-se observar inicialmente também que esta Praça não possui designação oficial; foi nomeada na pesquisa como Praça do Conjunto dos Ipês para fins de identificação.

Esclarece Max Weber (2009, p. 16) que

[...] só muito raramente a ação, e particularmente a ação social, orienta-se exclusivamente de uma ou de outra destas maneiras. E, naturalmente, esses modos de orientação de modo algum representam uma classificação completa de todos os tipos de orientação possíveis, senão tipos conceitualmente puros, criados para fins sociológicos, dos quais a ação real se aproxima mais ou menos ou dos quais – ainda mais frequentemente – ela se compõe. Somente os resultados podem provar sua utilidade para nossos fins.

A par da ação social, desenvolve-se a relação social. Conforme ainda a concepção de Weber, a relação social refere-se ao conteúdo de sentido do comportamento partilhado pelos agentes que se orientam por ele. Essa relação social pode ser comunitária ou associativa, aberta para fora ou fechada para fora, quanto ao comportamento e à participação de determinadas pessoas (WEBER, 2009). Segundo este autor, a relação social deve ser entendida como

[...] o comportamento reciprocamente referido quanto a seu conteúdo de sentido por uma pluralidade de agentes e que se orienta por essa referência. A relação social consiste, portanto, completa e exclusivamente na probabilidade de que se aja socialmente numa forma indicável (pelo sentido). (WEBER, 2009, p. 16).

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neste sentido da palavra” (WEBER, 2009, p. 16). Os sentidos nos lados da relação podem referir-se a atividades diferentes. Nesta hipótese, mesmo em relação objetivamente

“unilateral” existe reciprocidade para Weber, pois, explica ele (WEBER, 2009, p. 17), “o agente pressupõe determinada atitude do parceiro perante a própria pessoa [...] e orienta por

essa expectativa sua ação, o que pode ter, e na maioria das vezes terá, consequências para o curso da ação e a forma da relação”.

Neste sentido, ao indagar os usuários sobre os critérios para escolher ir àqueles espaços específicos, o conteúdo das respostas é variado; estão incluídos diversão, encontro com outras pessoas, paquera, proximidade da residência, lanches (comprar ou vender). Os frequentadores consideram as praças como bons locais para conversas ou sociabilidades, mas, por vezes, perigosos e inseguros, não apenas em razão de violações à propriedade, mas em decorrência de brigas entre os frequentadores motivadas por disputas entre integrantes de certos grupos.

Quando são observadas regularidades de fato no curso das ações com o mesmo ou vários agentes, com sentido homogêneo, verifica-se o que Weber chama de uso e costume. Diferencia Weber uso de costume. Para ele, o uso expressa regularidades na orientação da ação social, dentro de determinado círculo de pessoas, dada pelo exercício efetivo; é, portanto, norma de conduta não obrigatória. O costume representa o uso exercitado em hábito inveterado (WEBER, 2009). Os que não se orientam em suas ações pelos costumes que prevalecem em determinado espaço social, agem de maneira indevida; tendem a provocar resistência dos demais, e, provavelmente, prejudicam seus próprios interesses. Os momentos de briga parecem estar relacionados à não avaliação precisa dessas convenções ou da equivocada noção de que é possível ignorar, desconhecer ou comportar-se de modo discordante a esses arranjos normativos.

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pessoais mais importantes, em média, para triunfar na luta”; pode-se cogitar que contribui a eventualidade dessas disputas com a seleção daqueles que usam e se apropriam dos espaços das praças.

Ao considerar o espaço social, pode-se ainda apreciar a relação social como comunitária ou associativa. A relação social é denominada comunitária “quando e na medida em que a atitude na ação social [...] repousa no sentimento subjetivo dos participantes de pertencer (afetiva ou tradicionalmente) ao mesmo grupo” (WEBER, 2009, p.25). É associativa “quando e na medida em que a atitude na ação social repousa num ajuste ou numa união de interesses racionalmente motivados (com referência a valores ou fins)” (WEBER, 2009, p.25). Adverte, todavia, o autor que a maioria das relações sociais tem em parte caráter comunitário e associativo (WEBER, 2009).

Predominam relações sociais de caráter comunitário na Praça da Ressurreição e associativo na Praça do Conjunto dos Ipês; a proximidade e o reconhecimento entre vizinhos tende a ser maior. O que não significa, entretanto, que em todas as relações nestas praças sobressaia o sentimento comunitário ou associativo. Os atores que compõem os ajuntamentos tendem ao reconhecimento de contrastes em relação a terceiros não residentes na redondeza. Na Praça Gonçalves Dias parecem sobressair as relações sociais associativas, haja vista a procedência diversificada de seus usuários. O que não significa, todavia, que só transcorrem relações desse tipo.

As reflexões de Simmel proporcionam também importante subsídio para compreender as ações individuais e coletivas, que exercem influência sobre a produção social de espaços. De acordo com a proposta de análise de Simmel, a sociedade possui configurações e agrupamentos que se confundem com a vida de cada indivíduo envolvido. Não se deve, todavia, pensar que só se pode conhecer a realidade da vida social nas praças por meio do conhecimento de ações individuais. Os propósitos da pesquisa podem direcionar o investigador para a realidade vivida pelo sujeito individual ou coletivo (SIMMEL, 2006). De uma perspectiva ou de outra, a existência humana só se realiza nos indivíduos, sem com isso reduzir a validade do conceito de sociedade. Sendo assim, ao pensar o espaço e o lugar, levam-se em conta as noções de individual e social.

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exercem entre si e pela determinação recíproca que exercem uns sobre os outros” (SIMMEL, 2006, p. 17). Em razão disso, não se deveria falar de sociedade, mas de sociação. Conforme Simmel (2006, p. 18), a sociedade “é um acontecer que tem uma função pela qual cada um recebe de outrem ou comunica a outrem um destino e uma forma”. Logo, sociedade é “o nome para um círculo de indivíduos que estão, de uma maneira determinada, ligados uns aos outros por efeito das relações mútuas, e que por isso podem ser caracterizados como uma unidade” (SIMMEL, 2006, p. 18). Grupos e indivíduos recebem e partilham impulsos recíprocos.

Quando confronta o nível social e o nível individual, Simmel (2006, p. 40) explica que “as ações das sociedades teriam um propósito e uma objetividade muito mais definidos que os individuais”. As ações dos grupos sociais seriam determinadas como que por uma “lei natural”, enquanto os indivíduos se mostrariam “livres”. De tal modo, elucida o autor que

[...] o indivíduo é pressionado, de todos os lados, por sentimentos, impulsos e pensamentos contraditórios, e de modo algum ele saberia decidir com segurança interna entre suas diversas possibilidades de comportamento – que dirá com certeza objetiva. Os grupos sociais, em contrapartida, mesmo que mudassem com frequência suas orientações de ação, estariam convencidos, a cada instante e sem hesitações, de uma determinada orientação, progredindo assim continuamente; sobretudo saberiam sempre quem deveriam tomar por inimigo e quem deveriam considerar amigo. Entre o querer e o fazer, os meios e os fins de uma universalidade, há uma discrepância menor do que entre os indivíduos. (SIMMEL, 2006, p. 40).

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A interação entre indivíduos “surge sempre a partir de determinados impulsos ou da busca de certas finalidades” (SIMMEL, 2006, p. 59). Segundo Simmel (2006, p. 60), essas motivações são “fatores da sociação apenas quando transformam a mera agregação isolada dos indivíduos em determinadas formas de estar com o outro e de ser para o outro que pertencem ao conceito geral de interação”. Assim, sociação é a forma na qual os indivíduos, em razão de seus interesses, desenvolvem-se conjuntamente em direção a uma unidade no seio da qual esses interesses se realizam e formam a base da sociedade humana (SIMMEL, 2006). Quando indivíduos estabelecem laços sociais e interações nas praças, são constituídas sociações, fundamentos da vida social.

Especifica ainda Simmel (2006, p. 65) a importante definição de sociabilidade como “forma lúdica de sociação”. Na perspectiva teórica de Simmel (2006, p. 69), pela sociabilidade “ninguém pode em princípio encontrar sua satisfação à custa de sentimentos alheios totalmente opostos aos seus”. É preciso cada indivíduo assegurar ao outro os valores sociais compatíveis com a sociabilidade. Deste modo, a sociabilidade decorre da satisfação de sentimentos similares e não antagônicos ou adversos. Os comportamentos de indivíduos e grupos devem convergir com determinada intencionalidade correspondida, para possibilitar o começo e a sustentação desse processo de trocas sociais. Os padrões de práticas interativas que se reproduzem nas praças asseguram a continuidade das ações de sociabilidade: respostas oportunas, revides aceitáveis, réplicas adequadas, deixas amoldadas à situação implicam na aprovação social pelo respeito demonstrado aos demais indivíduos envolvidos na interação.

Elias também formulou instrumentos conceituais que permitem pensar e observar pessoas (ELIAS, 1994). Trabalha ele com a noção de redes de interdependência. Afirma esse autor que “conceitos como „família‟ ou „escola‟ referem-se essencialmente a grupos de seres humanos interdependentes, a configurações específicas que as pessoas formam umas com as outras” (ELIAS, 2008, p. 13). Estas teias de interdependência ou configurações dos mais diversos tipos possibilitam refletir sobre as relações estabelecidas por indivíduos e grupos no ambiente das praças. As redes de interdependência podem ser percebidas nos grupos e ocasiões de interação. Díades, como casais de namorados, grupos menores ou maiores, como os skatistas que frequentam a Praça Gonçalves Dias, formam conjuntos de indivíduos cujas ações estão implicadas umas às outras.

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[...] o padrão mutável criado pelo conjunto dos jogadores - não só pelos seus intelectos, mas pelo que eles são no seu todo, a totalidade das suas ações nas relações que sustentam uns com os outros. Podemos ver que esta configuração forma um entrançado flexível de tensões. A interdependência dos jogadores, que é uma condição prévia para que formem uma configuração, pode ser uma interdependência de aliados ou de adversários. (ELIAS, 2008, p. 142).

O conceito de configuração pode ser aplicado a grupos pequenos ou grandes. Todavia, para Elias, as configurações formadas pelos membros de grandes grupos como os habitantes da cidade, não podem ser percebidas “diretamente, porque as cadeias de interdependência que os ligam são maiores e mais diferenciadas” (ELIAS, 2008, p. 143). Assim, conforme este ponto de vista, a configuração evidencia a interdependência das pessoas, cujos comportamentos são enredados, formando estruturas entrelaçadas (ELIAS, 2008). Podem ser notados esses elos de interdependência em grupos que usam as praças. Além de grupos destacados como casais e skatistas, os jovens que se apropriam dos espaços das praças o fazem cultivando perspectivas de reconhecimento e relacionamento com seus pares.

De modo assertivo, confirma Elias que a procura pelos outros ocorre “para a realização de toda uma gama de necessidades emocionais” (ELIAS, 2008, p. 148). Esses imperativos afetivos devem ser considerados para investigar indivíduos e grupos que afluem às praças. Acrescenta Elias que novas formas de ligação emocional são verificadas em unidades sociais maiores. Diz ele que, juntamente com ligações interpessoais, são encontradas “ligações unindo as pessoas a símbolos de unidades maiores, [...] a bandeiras e a conceitos carregados de aspectos emotivos” (ELIAS, 2008, p. 150). Garante ainda Elias que “a afeição das pessoas por estas grandes unidades sociais é muitas vezes tão intensa como a sua afeição por uma pessoa amada” (ELIAS, 2008, p. 151). Essas ligações emocionais e afetivas orientam envolvimentos nos grupos que são encontrados nas praças.

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procedimentos pelos quais cada um se sente responsável não só pela sua própria conduta, mas também pela conduta dos circunstantes que com ele contracenam” (MARTINS, 1999, p. 12).

Como observa Martins (1999, p. 14), quando o poder da vergonha e do decoro que regula a vida cotidiana “se atenua onde não deveria atenuar-se, estamos em face de mudanças sociais que se expressam na perda de autoridade das regras interiorizadas e que indicam a perda de substância da autoridade externa que nos coage a agir de um modo e não de outro”. Determinados gestos, sinais, expressões ou palavras antes impregnados de sentido pejorativo são agora aceitos, apreciados e necessariamente incluídos nas conversações. Conforme o contexto social, atitude, como alto volume da voz na fala, não quer dizer exasperar-se, mas conversar com a animação e o entusiasmo que as trocas devem ter; não significa conflito, mas de fato interação.

Neste sentido, observa Giddens (2003, p. 331) que “todos os atores sociais possuem um considerável conhecimento das condições e consequências do que fazem em suas vidas cotidianas”. Com a teoria da estruturação, Giddens afirma que os seres humanos são agentes cognoscitivos. As rotinas dos agentes pensadas, dessa forma, permitem analisar a reprodução de práticas institucionalizadas, como os usos nas praças.

Na teoria da estruturação, ao analisar o que chama de conduta estratégica, Giddens orienta que o foco deve incidir “sobre os modos como os atores sociais se apoiam nas propriedades estruturais para a constituição de relações sociais” (GIDDENS, 2003, p. 339). Ao empreender essa análise, é preciso priorizar o que ele chama de consciências discursiva e prática (GIDDENS 2003). Apõe o autor (GIDDENS, 2003, p. 351) que esse “conceito de dualidade da estrutura, fundamental para a teoria da estruturação, está subentendido nos sentidos ramificados que os termos „condições‟ e „consequências‟ da ação têm”. De tal modo, as coerções estruturais operam por meio “dos motivos e razões dos agentes, estabelecendo condições e consequências que afetam opções abertas a outros, e o que eles querem das opções que têm” (GIDDENS, 2003, p. 366). As condições e condicionamentos das ações, interações e relações sociais nas praças devem ser pensados enquanto vivências que se sucedem em espaço público.

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interação” (GIDDENS, 2003, p. 433). Esse direcionamento deve ser mantido ao se investigar as interações que favorecem as apropriações sociais das praças. Os conceitos de espaço e lugar permitem, consequentemente, refletir e pensar os usos sociais pesquisados.

Há outros aportes teóricos que consideram o espaço e o lugar no contexto das interações, ações e relações sociais. Nesse sentido, Bourdieu, ao tratar do poder simbólico, discorre sobre o espaço social, avaliando que a sociologia se mostra como uma topologia social. De acordo com este autor, o mundo social pode ser representado em forma de um espaço construído baseado em princípios de diferenciação ou de distribuição formados “pelo conjunto das propriedades que atuam no universo social considerado, quer dizer, apropriadas a conferir, ao detentor delas, força ou poder neste universo (BOURDIEU, 2009, p. 133). O mundo social das praças é composto pelos agentes e suas posições no campo de forças. Frequentadores, skatistas, vendedores ambulantes, guardadores autônomos de veículos (flanelinhas), autoridades ocupam posições que se alteram de acordo com as propriedades relacionais.

Dessa forma, agentes e grupos são definidos pelas posições ocupadas nesse espaço. O agente ocupa uma posição em uma região determinada do espaço. Explica, então, Bourdieu (2009, p. 134) que,

[...] na medida em que as propriedades tidas em consideração para se construir este espaço são propriedades atuantes, ele pode ser descrito também como campo de forças, quer dizer, como um conjunto de relações de força objetivas impostas a todos os que entrem nesse campo e irredutíveis às intenções dos agentes individuais ou mesmo às interações diretas entre os agentes.

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Ao apropriar-se dos espaços sociais, os agentes lutam, buscando estratégias para alcançar seus interesses. Suas ações não são necessariamente calculadas de maneira consciente, resultam de improvisações em um sentido prático. Assim, as ações ocorrem em condições de incerteza e situadas no espaço. Indivíduos e grupos, quando visam usar determinados espaços nas praças, criam disputas com os recursos de que dispõem para prevalecer sobre os demais frequentadores. Pode-se indagar o que torna controversas as interações para os usos dos espaços. Rixas costumam surgir quando grupos ultrapassam os limites simbolicamente estabelecidos para contenção de ações. Na Praça Gonçalves Dias, mesmo sem ter a intenção declarada, os skatistas ao circularem por toda a extensão da área provocam sentimentos difusos de antagonismo e repulsa. Essas condutas podem afastar usuários, que se poupam da eventualidade de disputas abertas.

O espaço deve, então, ser concebido como território delimitado não apenas geograficamente, mas, sobretudo, socialmente. Esse espaço precisa ser também respeitado, com a expressão de atitudes de desatenção civil, como chamou Goffman (2010, p. 172). Muitas vezes indivíduos para impedir discussões e bate-bocas simulam não perceber nem identificar comportamentos indesejados ou não aprovados. Nas praças públicas prevalece a presença mútua em que pessoas em pontos diferentes podem observar outras pessoas e por elas também serem observadas. Para explicar esses acontecimentos, Goffman emprega alguns conceitos básicos que orientam seu programa de pesquisa. Entre estes está o ajuntamento, que ele utiliza para se referir a “qualquer conjunto de dois ou mais indivíduos cujos membros incluem todos e apenas aqueles que estão na presença imediata uns dos outros num dado momento” (GOFFMAN, 2010, p. 28). Explica ele ainda que o termo situação faz referência ao “ambiente espacial completo em que ao o adentrar uma pessoa se torna um membro do ajuntamento que está presente, ou que então se constitui. As situações começam quando o monitoramento mútuo ocorre, e prescrevem quando a penúltima pessoa sai” (GOFFMAN, 2010, p. 28).

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ocasiões sociais “uma festa social, um dia de trabalho num escritório, um piquenique, ou uma noite no teatro” (GOFFMAN, 2010, p. 28). Um dia ou momentos nas praças podem ser concebidos e explicados, então, como ocasiões sociais.

Noção importante é a de ordem pública, que Goffman (2010, p. 34) entende “quando pessoas estão conscientes da presença de outras, elas podem funcionar não meramente como instrumentos físicos, mas também comunicativos”. Ao interpretar o conceito, esclarece Joseph (2000, p. 93) que ordem pública é aquela “fundada no direito de olhar, isto é, num princípio de acessibilidade e disponibilidade das pessoas presentes. Estas tendem, quando se expõem, a dominar as impressões que causam em outrem e a de se observar enquanto agem”.

Além disso, explica Goffman que o comportamento comunicativo dos imediatamente presentes pode ser considerado como em interação focada e desfocada (não focada). A interação focada ocorre quando “pessoas se juntam e cooperam abertamente para manter um único foco de atenção, tipicamente se revezando na fala” (GOFFMAN, 2010, p. 35). A interação por ele nomeada como desfocada ou não focada é o tipo de comunicação que ocorre “quando se recolhe informações sobre outra pessoa ao se olhar de relance para ela, ainda que apenas momentaneamente, quando ela entra e sai do campo de visão” (GOFFMAN, 2010, p. 34). Esta interação refere-se ao gerenciamento da mera copresença.

Na análise dos elementos rituais na interação social, Goffman considera ainda o termo fachada, figuração ou face-work [expressões sinônimas nas traduções em língua portuguesa da obra de Goffman]. Fachada pode ser definida como “o valor social positivo que uma pessoa efetivamente reivindica para si mesma através da linha que os outros pressupõem que ela assumiu durante um contato particular” (GOFFMAN, 2011, p. 13). Para Goffman (2011, p. 14), “a fachada é uma imagem do eu delineada em termos de atributos sociais aprovados”. Igualmente, o conceito de equipe de representação ou equipe possibilita analisar os usos e apropriações sociais nas praças, designando “qualquer grupo de indivíduos que cooperem na encenação de uma rotina particular” (GOFFMAN, 2009, p. 78).

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componente de ordem espacial, a que corresponde uma determinada rede de relações sociais”. Assim, espaço e rede de relações sociais são elementos essenciais na composição do “pedaço”. Discute ele ainda a existência de um núcleo e bordas em seu entorno, quando considera que “alguns pontos de referência delimitam seu núcleo. [...] No núcleo do „pedaço‟, enfim, estão localizados alguns serviços básicos – locomoção, abastecimento, informação, culto, entretenimento – que fazem dele ponto de encontro e passagem obrigatórios” (MAGNANI, 2003, p. 115). Ao estabelecer essas confrontações a respeito do “pedaço”, explica que,

[...] enquanto o núcleo do „pedaço‟ apresenta um contorno nítido, suas bordas são fluidas e não possuem uma delimitação territorial precisa. O termo na realidade designa aquele espaço intermediário entre o privado (a casa) e o público, onde se desenvolve uma sociabilidade básica, mais ampla que a fundada nos laços familiares, porém mais densa, significativa e estável que as relações formais e individualizadas impostas pela sociedade. (MAGNANI, 2003, p. 116).

Afirma, desde logo, que “não basta, contudo, morar perto ou frequentar com certa assiduidade esses lugares: para ser do „pedaço‟ é preciso estar situado numa particular rede de relações que combina laços de parentesco, vizinhança, procedência” (MAGNANI, 2003, p. 115). Essa seria a zona do espaço em que seus habitantes teriam mais familiaridade. Segundo ele,

[...] pertencer ao „pedaço‟ significa poder ser reconhecido em qualquer circunstância; o que implica o cumprimento de determinadas regras de lealdade [...]. Pessoas de „pedaços‟ diferentes, ou alguém em trânsito por um „pedaço‟ que não o seu, são muito cautelosas: o conflito, a hostilidade estão sempre latentes, pois todo lugar fora do „pedaço‟ é aquela parte desconhecida do mapa e, portanto, do perigo. (MAGNANI, 2003, p. 116).

Problemático é traçar os limites do pedaço com seus contornos claramente perceptíveis para usos e apropriações, quando indivíduos e grupos não estabelecem ou preservam demarcações físicas evidentes para todos. O pedaço é caracterizado também por uma rede de relações sociais, onde os vínculos estabelecidos são de tipo familiar ou vicinal.

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fluminense –“é preciso explicar de que modo as separações são feitas e como são legitimadas e aceitas pela comunidade da propriedade privada” (DAMATTA, 1997, p.32).

Ao analisar as diferenças entre espaço e lugar, explica Augé que o termo espaço é mais abstrato que lugar. É usual fazer referência a “um acontecimento (que ocorreu), a um mito (lugar-dito) ou a uma história (lugar histórico)” (AUGÉ, 2010, p. 77). Faz este autor alusão ao que chama de lugar antropológico. Explica ele que o lugar antropológico refere-se

[...] àquela construção concreta e simbólica do espaço que não poderia dar conta, somente por ela, das vicissitudes e contradições da vida social, mas à qual se referem todos aqueles a quem ela designa um lugar, por mais humilde e modesto que seja. [...] o lugar antropológico é simultaneamente princípio de sentido para aqueles que o habitam e princípio de inteligibilidade para quem os observa. (AUGÉ, 2010, p. 51).

O lugar antropológico “se completa pela fala, a troca alusiva de algumas senhas, na conivência e na intimidade cúmplice dos locutores” (AUGÉ, 2010, p. 73). Pode compreender esse lugar,

[...] por um lado, itinerários, eixos ou caminhos que conduzem de um lugar a outro e foram traçados pelos homens e, por outro lado, em cruzamentos e praças onde os homens se cruzam, se encontram e se reúnem, que desenharam, conferindo-lhes, às vezes, vastas proporções para satisfazer principalmente, nos mercados, necessidades do intercâmbio econômico, e, enfim, centros mais ou menos monumentais, sejam eles religiosos ou políticos, construídos por certos homens e que definem, em troca, um espaço e fronteiras além das quais outros homens se definem como outros, em relação a outros centros e outros espaços. (AUGÉ, 2010, p. 55).

As praças pensadas como lugares de interações podem ser objeto de investigação da antropologia e da sociologia. Determinado espaço social no qual se reúnem indivíduos e grupos que se identificam por sentimentos de pertencimento, caracteriza um lugar antropológico. Pontua Augé (2010, p. 52) que, “esses lugares [antropológicos] têm pelo menos três características comuns. Eles se pretendem identitários, relacionais e históricos”. O lugar que não se pode associar a essas peculiaridades corresponderia ao que ele chama de não lugar. Esclarece, então, Augé que

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lugares antropológicos e que, contrariamente à modernidade baudelairiana, não integram os lugares antigos: estes, repertoriados, classificados e promovidos a „lugares de memória‟, ocupam aí um lugar circunscrito e específico. (AUGÉ, 2010, p. 73).

O não lugar é citado como contraponto ao conceito de lugar. Exemplifica e ilustra que esses não lugares seriam “as vias aéreas, ferroviárias, rodoviárias e os domicílios móveis considerados „meios de transporte‟ (aviões, trens, ônibus) [...] redes a cabo ou sem fio” (AUGÉ, 2010, p. 74). Esclarece ainda o autor que

[...] por „não lugar‟ designamos duas realidades complementares, porém, distintas: espaços constituídos em relação a certos fins (transporte, trânsito, comércio, lazer) e a relação que os indivíduos mantêm com esses espaços. Se as duas relações se correspondem de maneira bastante ampla e, em todo caso, oficialmente (os indivíduos viajam, compram, repousam), não se confundem, no entanto, pois os não lugares medeiam todo um conjunto de relações consigo e com os outros que só dizem respeito indiretamente a seus fins: assim como os lugares antropológicos criam um social orgânico, os não lugares criam tensão solitária. (AUGÉ, 2010, p. 87).

Acrescenta Augé (2010) que, quem faz uso do não lugar, está com este em relação contratual, na qual o contrato está sempre associado à identidade individual de quem o subscreve. Pontua ele que,

[...] para ter acesso às salas de embarque de um aeroporto, é preciso, antes, apresentar a passagem ao check-in (o nome do passageiro está inscrito nela); a apresentação simultânea, ao controle de polícia, do visto de embarque e de algum documento de identificação fornece a prova de que o contrato foi respeitado. [...] O passageiro só conquista, então, seu anonimato após ter fornecido a prova de sua identidade, de certo modo, assinado o contrato. [...] o usuário do não lugar é sempre obrigado a provar sua inocência. O controle a priori ou a posteriori da identidade e do contrato coloca o espaço do consumo contemporâneo sob o signo do não lugar: só se tem acesso a ele se inocente. (AUGÉ, 2010, p. 94).

Explica Augé (2010, p. 95) que, enquanto o passageiro aguarda para embarcar “obedece ao mesmo código que os outros, registra as mesmas mensagens, responde às mesmas solicitações. O espaço do não lugar não cria nem identidade singular nem relação, mas sim solidão e similitude”, conclui.

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fazer economia dos indivíduos, nem análise dos indivíduos que possa ignorar por onde eles transitam” (AUGÉ, 2010, p. 110). O chamado não lugar é um conceito com o qual se pode refletir sobre a presença e a permanência no espaço público das praças contemporâneas. As interações sociais nesses espaços sofrem os impactos dos novos processos tecnológicos informatizados, empregados como recursos na produção e que foram estendidos para a vida cotidiana.

É no espaço social que os agentes, de modo individual ou em grupos, estabelecem dinâmicas de trocas. Nesse lugar, ações, interações e relações sociais são localizadas. Para manter situações sociais que favoreçam os usos verificados do espaço público, determinadas atitudes são acionadas pelos envolvidos. Ressalte-se que os usos e apropriações sociais das praças transcorrem basicamente em espaços que se reputam como públicos; nesta perspectiva devem ser investigadas as condições objetivas para as interações sociais ali entabuladas.

2.2 Espaço social público: condições objetivas para as interações

Ao realizar o percurso deste estudo, entre as intenções está compreender como o espaço chamado público é usado e apropriado pelos citadinos. É oportuno, portanto, delimitar esse conceito relevante para aprofundar a análise. Determinar essa noção permite a aproximação da dimensão teórica e conceitual que interessa à investigação. Os referenciais teóricos percorrem esquemas interpretativos, que buscam explicar as variáveis que se articulam entre o espaço público e também o espaço privado de interações, onde os atores se encontram presentes.

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Em obra notória sobre o espaço público, “O jardim e a praça”, Saldanha, jusfilósofo pernambucano, empreende uma análise de cunho antropológico sobre a praça. Focaliza Saldanha um conceito preliminar de espaço; considera ele que

[...] o „organizar-se‟, desde as primeiras experiências grupais do ser humano, foi sempre, em parte ao menos, um problema de distinguir lugares, valorizando uns e abandonando ou evitando outros, e de construir espaços, demarcando porções do território e amontoando pedras com fim simbólico ou utilitário. (SALDANHA, 2005, p.20).

A menção ao que aponta o autor traz ao debate a apropriação de um determinado espaço para fins de uso. A demarcação a que se refere na citação não constitui ainda um domínio no sentido de propriedade. Observe-se que, ao tratar de uso e apropriação social do espaço da praça, não se cogita do estabelecimento de uma forma de domínio senhorial (propriedade), mesmo porque a praça é considerada um bem público e é propriedade dos entes estatais. Como dispõe o Código Civil (BRASIL, 2002) – Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – no artigo 99, I, “[são bens públicos:] os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças”.

A propósito, leciona Pereira (2010, p. 76), após cogitar de uma sociologia da propriedade, que “a propriedade como expressão da senhoria sobre a coisa, é excludente de outra senhoria sobre a mesma coisa, é exclusiva: plures eamdem rem in solidum possidere non possunt”. Entre os caracteres da propriedade está, portanto, a sua exclusividade.

Deste modo, quando se considera, atualmente, o espaço da praça não se questiona a existência de uma propriedade, que é pública. Sem, assim, remeter, necessariamente, à ideia de propriedade, considera Saldanha as demarcações feitas no território para fins de distinção de lugares. As porções assinaladas de território sinalizam na direção de certas apropriações necessárias do espaço para fins da convivência social (SALDANHA, 2005).

Com as demarcações simbólicas feitas nas praças, os agentes visam poder usar parcelas do espaço para suas interações sociais. Esses limites definidos são ajustados e revisados por meio de regras e padrões que se repetem em determinados “cenários de negócios cotidianos organizados”4 (GARFINKEL, 2008, p.1). Indivíduos e grupos reservam certos locais para permanência nas praças. Como ilustração, os alunos dos cursos da área da saúde da

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Tabela 1 – Evolução Demográfica de São Luís (1612 – 1820)
Tabela 2  –  Evolução Demográfica de São Luís (1872  –  2010)
Tabela 3 – Evolução Demográfica de São Luís e Maranhão (1991 – 2010)  População  1991  2000  2010  Crescimento  1991 - 2000  Crescimento 2000 - 2010  São Luís  666.433  870.028  1.011.943  3,05  1,50
Tabela 4  –  População Residente em São Luís (2010) 9
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