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Instrumentos de avaliação em linguagem: performance e competência fonológicas

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TÍTULO: INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO EM LINGUAGEM: PERFORMANCE E

COMPETÊNCIA FONOLÓGICAS

Sandra Figueiredo Universidade de Aveiro, Portugal

Sfigueiredo@dce.ua.pt Carlos Fernandes Universidade de Aveiro, Portugal

csilva@dce.ua.pt

Resumo:

Foi desenvolvida uma bateria, em formato electrónico, para observar as diferenças na aquisição de Língua Segunda, ao nível fonológico, entre crianças, adolescentes e adultos com experiência migratória. O nosso objectivo é analisar, a vários níveis, a competência/consciência metalinguística e processos cognitivos envolvidos, considerando a idade, sexo, nacionalidade e língua materna do indivíduo. A amostra de 64 alunos deste estudo encontra-se equilibrada a nível de proficiência, data de chegada a Portugal, e idade, não revelando dificuldades de aprendizagem. A capacidade e performance do aprendente de Língua Segunda são avaliadas em tarefas de exploração previamente definidas: audição dicótica, percepção de rima, aliteração (nível intrassilábico) e sílaba, escrita condicionada de grafemas, ordenação alfabética, segmentação lexical e fonémica, detecção de pares mínimos, consciência sintáctica, leitura e auto-avaliação da mesma e percepção espacial do som (no aparelho fonador). Desta forma este instrumento apresenta-se prioritariamente como um material de investigação mas também de avaliação em contexto educacional (indicador de nível proficiência, detector de indícios de perturbações de linguagem, apoio pedagógico para ensino e aprendizagem em língua). Será discutida a destreza que os sujeitos mais velhos e de sexo masculino podem exibir relativamente a realizações fonológicas, entrando em dissonância com resultados de trabalhos científicos anteriores que se desenvolvem na mesma área.

Palavras-Chave: Aquisição de Língua Segunda, instrumento de avaliação, sexo, idade.

Resumen:

Se há desenvuelto una batería, en formato electrónico, para observar las diferencias en la adquisición de la Segunda Lengua, a nivel fonológico, entre niños, adolescentes y adultos con experiencia migratoria. Nuestro objetivo es analizar, a varios niveles, la competencia/consciencia metalingüística y procesos cognitivos utilizados, considerando la edad, el sexo, la nacionalidad y la lengua materna del individuo. La muestra de 64 alumnos de este estudio se encuentra equilibrada a nivel de competencia, fecha de llegada a Portugal y edad, sin revelar dificultades de aprendizaje. LA capacidad y el desempeño del aprendiz de la Segunda Lengua se evalúan en tareas de exploración previamente definidas: audición dicótica, percepción de rima, aliteración (nivel intrasilábico) y sílaba, escrita condicionada de grafemas, ordenación alfabética, segmentación lexical y fonémica, detección de pares mínimos, consciencia sintáctica, lectura y auto-evaluación de la misma, y la percepción de espacial del sonido (en el aparato fonador). De este modo, este instrumento se presenta prioritariamente como un material de investigación pero también de evaluación en el contexto educacional (indicador del nivel de competencia, detector de indicios de perturbación del lenguaje, apoyo pedagógico para la enseñanza y el aprendizaje en lengua). Será discutida la destreza que los sujetos menos jóvenes y de sexo masculino pueden manifestar relativamente a realizaciones fonológicas, entrando en disonancia con resultados de trabajos científicos anteriores que se desarrollen en la misma área.

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Introdução

O problema primórdio da linguagem, introduzido por Platão, consistia em perceber como um adulto possuía um sistema de conhecimentos tão complexo e rico de uma língua, dada a pobreza dos estímulos iniciais aos quais é exposto na fase de aquisição. Outra questão que daí resulta: como se explicam e se observam os processos distintos de aquisição e desenvolvimento de competência linguística, de acordo com o factor Idade?

Os principais factores explicativos das diferenças entre indivíduos na aquisição e performance em Língua Segunda são a idade, o género, a maturação cerebral e cognitiva, o saber linguístico anterior e o aspecto psicológico e afectivo (Baker, 1997; Gullberg & Indefrey, 2006; Lenneberg, 1967). A influência do meio não deverá ser entendida como outro factor isolado, pois é inerente a todos os factores enquanto

background determinante. Estes factores são considerados, por alguns autores, como os mais evidentes,

quando comparados com a influência da filtragem afectiva, por outro lado, outros investigadores adoptam posição contrária ou menos extremista.

Depois de uma breve revisão da literatura na área da aquisição de Língua Segunda, numa perspectiva exclusivamente cognitiva, serão apresentados e discutidos alguns resultados que entram em conflito com trabalhos anteriores que defendem a mestria na aquisição de linguagem correlacionada com a idade, em perspectiva decrescente. Os indivíduos mais velhos, a partir dos resultados aqui obtidos, podem superar a performance das crianças, em tarefas que exigem destreza ao nível da discriminação e categorização fonológicas.

Plasticidade na aquisição de linguagem: factores intervenientes e períodos críticos.

De acordo com a perspectiva da Gramática Generativa, proposta por Chomsky, o discurso verbal é percebido como resultado do poder inato de criação linguística, por parte do ser humano, devido ao LAD (Language Acquisition Device) que diz respeito ao mecanismo que todos possuímos para podermos desenvolver linguagem. De facto a criança consegue perceber pelo input que lhe é fornecido, o que é positivo e negativo na linguagem. Pela raridade de determinadas expressões gramaticais, ela percebe que não são positivas, sem ocorrer uma correcção explícita por parte de outrém. Mas o que a criança utiliza é diferente do modo como utiliza, daí que uma descrição linguística adequada não é uma descrição psicológica satisfatória. As regras que a criança desenvolve na fase da aquisição são universais e não idiossincráticas. Na aquisição da Língua Segunda (L2) ou Língua Estrangeira (LE), considerando que a aquisição linguística implica construção de uma gramática, o processo é facilitado se o aprendente descobrir as relações entre as estruturas de superfície que se originam na mesma estrutura profunda. Enfim, a aquisição de linguagem verbal não é mais um processo de aprendizagem à maneira behaviorista, mas de aquisição. O LAD permanece ao longo

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da vida e o que muda é o seu poder de funcionamento. É neste contexto que o processo deixa de ser entendido em termos de aquisição, mas de aprendizagem, pois o primeiro implica a assimilação natural de conhecimentos, ao passo que a aprendizagem exige instrução e contexto formal para essa assimilação- monitorização (Krashen, 1989). O indivíduo quando se encontra no seu período crítico para aquisição de linguagem, insere-se na linha da aquisição e não da aprendizagem. A questão do período crítico é controversa ainda, mas, de forma geral, diz respeito, no contexto do desenvolvimento da linguagem, a um tempo particularmente favorecedor para a tarefa de aquisição, é um“restricted period in which recovery or a

flexible response occurs” (p.60, Uylings in Gullberg & Indefrey, 2006, p.2). Assim há capacidades que só

podem ser desenvolvidas em períodos próprios de desenvolvimento, devido ao potencial plástico provocado pelos circuitos neuronais especificamente envolvidos para desenvolver tais capacidades.

Slama-Cazacu faz um resumo das teorias da aprendizagem aplicadas à aquisição de linguagem, mostrando como se complementam e não se excluem, sendo que nos processos de regularização dos seus conhecimentos linguísticos, tanto o sujeito precisa de recorrer a procedimentos cognitivos como de tipo behaviorista (memorização pela repetição do estímulo, imitação, por exemplo). A criança vai imitando alguns sinais verbais mas age sobre eles (capacidade criativa de desenvolver enunciados nunca antes ouvidos) e opera desvios - a consciência, regularização. O facto da criança adquirir a linguagem rapidamente prova que as suas estruturas são realmente inatas, assim, ao longo da aquisição ou da aprendizagem, há momentos mecanicistas e de criação.

Evocando os referidos factores que a literatura aponta como principais influenciadores e explicativos das diferenças entre os aprendentes, no que respeita à idade, quanto mais cedo se aprende a L2, mais provável é que a competência evolua para o nível da de um falante nativo. Os adultos têm a vantagem nas capacidades da aprendizagem - operações formais e abstractas - da L2, revelam maior capacidade de transferência das suas capacidades formais de resolução de problemas, onde as crianças ainda não são limitadas. Contudo os adultos têm maior insucesso na pronúncia e fluência - afastamento mimético da LA/língua alvo, competências favorecidas pela aquisição, não pela aprendizagem. A criança faz um eco

selectivo face à língua materna. O factor idade é sempre considerado com supremacia face aos outros

factores, na maior parte dos estudos, evidenciando as crianças como os verdadeiros adquiridores experts na aquisição de L2, condenando os adultos ao fracasso. As diferenças da idade reflectem-se na situação de aprendizagem e não tanto na capacidade para aprender (Stetka & Todd, 2000). A investigação tem vindo a considerar a rapidez na aquisição com a mestria na aquisição, sendo que os adultos também podem atingir a mestria nativa, ainda que noutro ritmo.

No que respeita à maturação cerebral, aqui podemos referir uma das questões mais controversas no estudo da linguagem segunda - a plasticidade cerebral/período crítico de aquisição (Lenneberg, 1967) que se prende, por outro lado, com uma das questões já abordadas: a diferença entre aquisição e aprendizagem. O envolvimento do hemisfério direito torna-se cada vez mais interveniente à medida que a idade avança no

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processamento da L2 (hemisfério do simbolismo, da emoção, das conexões e associações, das hipóteses). Por exemplo os exercícios tipicamente estruturalistas (pares mínimos, por exemplo) não estimulam áreas do hemisfério esquerdo, mas mais do hemisfério direito. A aquisição da “língua natural” apela, no entanto, a operações típicas do hemisfério esquerdo. Esta questão dos hemisférios não está resolvida mas é certo que quanto mais velho for o aprendente de L2, mais envolvido estará o hemisfério direito (Lenneberg, 1967). Ainda relacionado com a maturação, temos o desenvolvimento cognitivo e saber linguístico anterior. Este último é positivo para a aprendizagem da LE e L2 e permite as estratégias de generalização entre línguas, o que não é uma vantagem na perspectiva de Krashen (1989 citado por Baker, 1997) - consciencialização do processo formal, não automático. Nesta questão temos o aspecto da transferência/interferência de conhecimentos adquiridos previamente (LM). Não há dois sistemas em contacto, mas vários subsistemas. O grau de conhecimento da língua-alvo (LA) é importante para a formulação de hipóteses de transferibilidade. Quanto menos competentes na LA, menos percepção do aprendente face ao processo necessário de transferência. Este será sempre um processo que envolve selecção. Os aprendentes que estão no início da aquisição da L2 têm a percepção da L2 nos mesmos moldes da LM, ao nível fonológico, recorrendo ao

padrão de compensação nativa para as duas línguas. Os aprendentes mais avançados no processo apresentam

já dois sistemas separados para o processamento fonológico e que podem coexistir -flexibilidade (Darcy, PeperKamp, Dupoux (em revisão)).

Método Participantes

Este estudo foi realizado com 64 sujeitos, com uma média de idades de 15,9 e desvio-padrão de 6,1 sendo que 20 (31,3%) são crianças (idades entre 7 e 12 anos), 24 (37,5%) são adolescentes (idades compreendidas entre os 13 e os 18 anos) e 20 (31,3%) são adultos (idades entre 19 e 30 anos) de várias escolas básicas e secundárias de Aveiro, e da Universidade de Aveiro. O subgrupo de crianças (N=20) apresenta uma média de idades de 9,6 anos (DP= 1,6), o subgrupo de adolescentes (N=24) tem uma média de idades de 14,9 e um desvio-padrão de 1,5, o subgrupo de adultos (N=20) apresenta uma média de 23,7 e um desvio-padrão de 3,4. 35 (54,7%) são do sexo masculino e 28 (43,8%) do sexo feminino. Os participantes encontram-se, quanto ao nível de proficiência, situados entre o nível A1 e B1, de acordo com a matriz do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (2001).

Instrumentos

Para este estudo desenvolvemos uma bateria de avaliação de consciência fonológica em suporte electrónico, cujo trabalho de programação decorreu entre Outubro de 2006 e Janeiro de 2007. O formato do teste garante maior efectividade e organização dos dados, bem como da estrutura das tarefas, sobretudo ao

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nível do controlo do tempo dispendido pelo sujeito em cada resolução. Por outro lado, confere maior dinamismo, assim como garante maior precisão para a audição dos sons e controlo em tarefas de escrita condicionada.

O objectivo é poder avaliar diversos níveis da consciência fonológica (silábico, intrassilábico e fonémico), pelo que são apresentadas catorze tarefas: ordenação alfabética (1), discriminação de sequências de sons (2), identificação de erros em treze palavras (3), identificação de pares mínimos (4), soletração e reconstrução de sequências de sons (5), escrita condicionada (6), identificação de rima e aliteração (7), divisão silábica (8), audição dicótica (9), identificação de substantivos (10), segmentação de palavras em frases e reorganização sintáctica (11), leitura e auto-avaliação (12), percepção de zonas e órgãos de articulação no aparelho fonador (13). Esta bateria apresenta boa consistência interna com alfa de Cronbach de .74 (N de itens=54), tendo sido excluído o factor “Duração 13”, por estar a afectar a validade do teste.

Procedimentos

Esta bateria foi apresentada, na fase de cognitive debriefing, a um grupo de crianças nativas com idades compreendidas entre os sete e dez anos, de modo a se confirmar se os itens das escalas eram compreendidos em consonância com os objectivos daqueles, procedendo-se às alterações necessárias ao texto e funcionalidade do sistema. O teste foi resolvido no computador pessoal da investigadora pelos 64 participantes, nas respectivas escolas que frequentam, sendo que o preenchimento do teste demorou cerca de 50 minutos. Este processo que seguiu várias etapas (pedido de autorização, levantamento de dados pelos estabelecimentos, selecção dos sujeitos, formalização dos consentimentos, recepção dos consentimentos e autorização por parte da entidade), foi iniciado em Setembro de 2006, de modo a que a aplicação da bateria, por sua vez, teve início a Janeiro de 2007.

Análise dos dados

Determinámos médias, desvios-padrão, frequências, percentagens, correlações de Pearson, efectuámos testes t para amostras independentes, análises factoriais com rotação varimax para valores próprios iguais e superiores a 1, bem como análises de distribuição (Crosstabs). Para o efeito, recorremos ao programa SPSS 15.0.

Resultados

Relativamente à distribuição dos participantes em função das variáveis “Classe etária” e da variável dependente “Acento estrangeiro” (tarefa 12), verifica-se que a distribuição não se deve ao acaso (2=23.302;g.l._5;p_.000; =.594). Nas diferenças para a variável “Acento estrangeiro” entre

as categorias

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de “Classe etária”, são os grupos I (90,9%) e II (88,9%) que apresenta menos acento estrangeiro (na tarefa de Leitura-12), sendo que os grupos V (80%) e VI (87,5%) são os que denotam mais registo estrangeiro no seu discurso. Observe-se a tabela n.º.1.

Tabela n.º1. Detecção de acento estrangeiro(sendo 0= sem acento e 1=com acento) na tarefa de

leitura (12) e grupos de idades (assinalados com intervalos de anos)

Relativamente à distribuição dos participantes em função das variáveis “Classe etária” e da variável dependente “Reconstrução fonémica” (tarefa 5a), verifica-se que a distribuição não se deve ao acaso

(2=25.593;g.l._15;p_.043; =.327). Nas diferenças para a variável “Reconstrução fonémica” entre as categorias de “Classe etária”, é o grupo IV que apresenta menos acertos (14,3%), em que 1 dos 7 sujeitos do conjunto não tem um único acerto, seguindo-se o grupo I (9,1%) em que 1 sujeito não comete um único acerto, 4 acerta apenas numa resposta (num total de 3), outros 4 acertam em 2 respostas e apenas 2 têm resposta completamente positiva. O grupo que mais acertos detém é o grupo V, em que 10 dos 11 sujeitos têm resposta correcta (90,9%).

Discussão de resultados

Pelos resultados obtidos em relação à detecção de acento estrangeiro no discurso verbal, avaliado a partir da leitura do sujeito, notámos que, de acordo com investigação anterior, os indivíduos mais novos são os que menos exibem acento estrangeiro, ao passo que os mais velhos apresentam, de forma evidente, esse registo fonético. A explicação normalmente apontada relaciona-se com a perspectiva neurobiológica, sendo que, durante o período de plasticidade, o adquiridor consegue desenvolver padrões fonéticos equivalentes aos nativos, em contexto de aquisição de linguagem segunda. Após esse tempo favorecido pela flexibilidade (Lenneberg, 1967; Gullberg & Indefrey, 2006) cognitiva e pela compensação neuronal, a destreza fonética não se perde mas altera-se naturalmente.

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Relativamente à tarefa (5b do teste) de reconstrução fonémica (phonemic blending), a capacidade de discriminar uma segmentação sonora e reconstrui-la de forma a identificar uma palavra é atingida pelos seis anos de idade. Constatámos que, contra a expectativa, as crianças não exibem melhor performance a este nível, aliás situam-se nos níveis mais baixos, sendo que os grupos dos indivíduos adultos (19-23 anos), embora não o dos mais velhos (24-30 anos), são os que se encontram em posição mais favorecedora. Poder-se-á explicar esta inferência pelo facto das maiores capacidades de abstracção do adulto o favorecerem numa actividade cognitiva que exige muito controlo de ordem executiva. Contudo, por outro lado, a maior destreza que normalmente se atribui às crianças, sobretudo as que se encontram em aprendizagem de Língua Segunda, ao nível de discriminação e identificação de sequências de fonemas, é aqui posta em causa, sendo que a idade não se apresenta nesta análise como variável influenciadora (Hollingsworth, 1983). A dificuldade clássica que os adultos encontram na aprendizagem de Língua Segunda não compromete aqui a sua capacidade no nível específico de reconstrução fonémica Embora, sem diferenças significativas entre categorias da classe etária, verifica-se que os grupos de crianças registam muitos erros na identificação das sequências sonoras (tarefa 2 do teste), mais do que seria de esperar (Bialystok, 2006, Maye, 2002). Estamos de acordo com Yeni-Komshian (1968) e com Maye (2002) quando confirmam, através de dados empíricos, que não há razão para se afirmar que as crianças são melhores na discriminação e produção de sons de uma língua que não a materna, pois a mudança da percepção de discurso por parte da criança, que a aproxima da do adulto e coincide com o início da consciência do sentido das palavras (“beginnings of word

comprehension,”, Maye, 2002, p.141), ocorre bem antes do início da puberdade, com o qual se identifica o

fim do período crítico para a aquisição de línguas (Maye, 2002). A tarefa de reconstrução fonémica, como exige um nível peculiar de não automaticidade, compromete a performance da criança. Com o avanço da idade diminuem ritmos de processamento, aumentam déficits na memória e na atenção dirigida para material relevante - atenção focada (Rogers, 2000 in Gullberg & Indefrey, 2006). Estas alterações são mais visíveis em contexto de Língua Segunda do que no de Língua Materna, dado o nível de automaticidade que diminui drasticamente num adulto em relação a uma criança.

Conclusão

Estes primeiros dados da nossa investigação entram em conflito com a ciência desenvolvida nesta área, pelo menos com a maioria dos seus autores, estes que declaram como facto científico a capacidade mestre das crianças em aspectos como a atenção específica dedicada à descodificação de detalhes fonéticos (a atenção focada). Verifica-se aqui possivelmente maior interferência por parte de estruturas e estratégias cognitivas já solidificadas (da Língua Materna - cristalização) no que respeita à discriminação de sons em segmentos fonéticos estrangeiros, pois a experiência com a Língua Materna ou com outras línguas pode gerar mecanismos inibitórios auditivos e a discriminação fica comprometida, sendo que, nos primeiros anos

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de vida, tal modificação (ontogénica) não se efectiva e o poder de percepção é mais aguçado. Não é, todavia, perdida a capacidade neurosensorial, apenas são modificadas as estratégias de processamento a esse nível (Werker & Tees, 1984). A conjuntura teórica e científica construída a partir de todos os nossos resultados poderá asseverar esta questão controversa e abrir caminhos para a investigação de outros factores que, ainda não abordados, se possam descobrir como verdadeiros predictores da competência linguística e cognitiva geral dos indivíduos.

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Tabela n.º1. Detecção de acento estrangeiro(sendo 0= sem acento e 1=com acento) na tarefa de  leitura (12) e grupos de idades (assinalados com intervalos de anos)

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