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Contribuição para o estudo de propagação e produção de plantas aquáticas

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Academic year: 2021

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CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DE PROPAGAÇÃO E

PRODUÇÃO DE PLANTAS AQUÁTICAS

André Brito Mestre

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Arquitectura Paisagista

Orientador: D

outor Nuno Joaquim Costa Cara de Anjo Lecoq, Assistente Convidado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa;

Co-orientador:

Doutor José António Saraiva Monteiro, Professor Associado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve.

Júri:

Presidente: Doutor Francisco Manuel Cardoso de Castro Professor Associado com agregação do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa Rego,.

Vogais:  Doutor José António Saraiva Monteiro, Professor Associado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve;

 Doutora Ana Luísa Brito dos Santos Sousa Soares Ló de Almeida, Professora Auxiliar do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa;

 Doutor Pedro Miguel Ramos Arsénio, Professor Auxiliar do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa;

 Doutor Nuno Joaquim Costa Cara de Anjo Lecoq, Assistente Convidado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.

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Nota prévia:

A presente dissertação não foi redigida segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais por me proporcionarem uma educação superior, pela paciência durante esta jornada e pela aceitação e apoio neste projecto final.

Ao meu avô por me emprestar a área para o projecto e pelo conhecimento e sabedoria transmitida.

Ao Arquitecto Paisagista Nuno Lecoq um agradecimento especial por me apresentar esta ideia de trabalho e um possível caminho empresarial, pela orientação e transmissão de conhecimentos sempre com entusiasmo e um orgulho paisagístico contagioso e pelo incentivo e positivismo sempre presentes.

Ao professor José Monteiro pela co-orientação, colaboração, receptividade e pormenores técnicos partilhados sem os quais este projecto não teria sido positivo.

Ao professor José Rosa Pinto do Herbário da Universidade do Algarve pela simpatia, ajuda e disponibilidade na identificação do material vegetal.

Ao Sr. Ezequiel, Sr. Barriga e ao Sr. Mendonça pela cedência de materiais sem os quais a viabilidade deste estudo estaria posta em causa.

Ao Eng. Costa pelos conselhos e uma porta sempre aberta na Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve.

À Joana pelo companheirismo, apoio e presença permanente sempre com um sorriso que tornou esta tarefa muito menos árdua.

À Rosa pela amizade, pelas opiniões, conselhos e críticas sempre construtivas.

À Marta pela paciência e disponibilidade em ler e corrigir todo este trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho aborda um estudo teórico-prático sobre produção e propagação de plantas aquáticas. A importância desta temática reflecte-se nas funções desempenhadas pelas plantas aquáticas, ao nível ambiental e económico e por se considerar que estas podem ser inseridas no âmbito da Arquitectura Paisagista num critério de utilização multifuncional. Este estudo pretende divulgar a importância do material vegetal, as suas propriedades e funções no ecossistema e na paisagem e os métodos mais apropriados de propagação e produção.

Esta investigação focou-se no estudo dos macrófitos (hidrófitos e helófitos) de ecossistemas dulçaquícolas. Sendo no entanto de ressalvar que existem espécies que pela sua grande plasticidade ecológica ou pela falta de dados podem ser classificadas em relação às suas exigências hídricas como higrófitos ou sub-higrófitos.

Este estudo é dividido em duas partes, a primeira tem o objectivo de proporcionar uma base teórica sobre o modo de actuação que serviu também como princípio para o desenvolvimento da componente prática, permitindo uma maior exactidão e optimização de recursos. Inicialmente é apresentado um conjunto de definições e conceitos que se consideram indispensáveis para a clara compreensão deste estudo, descrevendo-se depois as características mais importantes do material vegetal aquático a nível ambiental e económico, seguido dos vários temas relacionados com produção e propagação.

A segunda parte do estudo consiste num exercício prático onde foi simulada uma microprodução em estufa em sistema de produção hidropónico flutuante fechado com uma vertente bem vincada na sustentabilidade energética e ambiental. Foi ainda elaborada uma análise económica onde se investigou a viabilidade de produção e comercialização das plantas aquáticas em Portugal.

Este trabalho de investigação e a posterior análise e discussão dos resultados obtidos em experiências levadas a cabo durante 2 meses, conduziram a um conjunto de soluções técnicas que permitem potenciar a produção de plantas aquáticas em meio hidropónico e em ambiente controlado, tendo em conta um mercado potencialmente crescente ao qual se destinam.

Palavras-chave: Plantas aquáticas, Macrófitos, Produção, Propagação, Hidroponia,

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ABSTRACT

This work discusses a theoretical and practical study on the production and propagation of aquatic plants. The importance of this subject is based on the functions performed by aquatic plants on the environmental and economic level and considering that these can be inserted under a multifunctional criterion in Landscape Architecture use. This study aims to expose the importance of the aquatic plants, its properties and functions in the ecosystem and landscape and the best methods of propagation and production.

The research focused on the study of macrophytes (hydrophytes and helophytes) of freshwater ecosystems. Nevertheless it’s significant to highlight that there are species for its great ecological plasticity or lack of data can be classified in relation to their water requirements as hygrophytes or sub-hygrophytes.

This study is divided into two parts, the first is intended to provide a theoretical base which also served as the principle for the development of the practical component, allowing a greater accuracy and resource optimization. Initially it’s given a set of definitions and concepts that are considered essential for a clear understanding of this study, describing then the most important characteristics of the aquatic plants at the environmental and economic level, followed by various topics related to the production and propagation.

The second part of the study consists of a practical exercise where was simulated a micro-production using a hydroponic floating system in a closed circuit with a great approach on the energy and environmental sustainability. It was also prepared an economic analysis in which was investigating the feasibility of production and marketing of aquatic plants in Portugal. This research and subsequent analysis and discussion of results from experiments carried out during two months, resulted in a set of technical solutions that allowed enhancing the production of aquatic plants through hydroponics and controlled environment, taking into account a potentially increasing market.

Keywords: Aquatic Plants, Macrophytes, Production, Propagation, Hydroponics,

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EXTENDED ABSTRACT

This work discusses a theoretical and practical study on the production and propagation of aquatic plants. The importance of this subject is based on the functions performed by aquatic plants on the environmental and economic level and considering that these can be inserted under a multifunctional criterion in Landscape Architecture use such as the recovery of lakes and watercourses, BIO- Wastewater treatment plant, artificial lakes and pools, among others. This theme comes from the finding of a reduced production and marketing of autochthonous and allochthonous aquatic plants in Portugal although the search may seem, at first sight, to be relatively high. This idea is supported by the existence of a wide variety of projects in landscape architecture where water is a nearly constant element in its composition. By itself, water adds great value to the interventions, being this value multiplied when combined with aquatic plants. These are considered to possess several valences within the landscape, the soil protection, nature conservation, biodiversity, water quality and flood protection. Other foundation relates directly to the numerous uses that aquatic plants may have, from the use in biological pools, through feed and use in the growing hobby of Fishkeeping.

The aim of this work is to contribute to the study of the propagation and production of aquatic plants (autochthonous and allochthonous) methods of soilless culture (hydroponics) in the greenhouse with the subsequent analysis of the economic viability, a criterion for multifunctional use within the Landscape Architecture.

This study focused only on aquatic plants, macrophytes (in relation to the function of the type of fixation and the position relative to the mass of water) or hydrophytes and helophytes (in relation to their water requirements), of freshwater ecosystems being this the primary objective. Nevertheless it’s significant to highlight that there are species for its great ecological plasticity or lack of data can be classified in relation to their water requirements as hygrophytes or sub-hygrophytes.

This study is divided into five topics, the first three addresses the theoretical issue and are intended to provide a base serving as principle for the development of the technique allowing a greater accuracy and resource optimization of the last two chapters that describe the practical component. In the first part describes some definitions and concepts of aquatic plants being this relevant for a clear understanding of this study and research. After are exposed the most important properties of the aquatic plant on the environmental and economic level, and then presents the propagation techniques, the importance of ecological factors in the production and the production systems of aquatic plants. The second part describes the project executed, which is composed by a practical exercise where was simulated a micro-production using a hydroponic floating system in a closed circuit during two months. It was also prepared an economic analysis in which was investigating the

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feasibility of production and marketing of aquatic plants in Portugal, culminating the end of the study with the discussion of the results and the viability of the project.

This research and subsequent analysis and discussion of results from experiments carried out, resulted in a set of technical solutions that allowed enhancing the production of aquatic plants through hydroponics and controlled environment, taking into account a potentially increasing market.

Keywords: Aquatic Plants, Macrophytes, Production, Propagation, Hydroponics,

(8)

ÍNDICE

ÍNDICE ... VI

1. INTRODUÇÃO ... 1

1.1. Objectivo ... 2

1.2. Metodologia ... 3

2. PLANTAS AQUÁTICAS E RIBEIRINHAS – Definições e Conceitos ... 4

2.1. Hidrófitos e helófitos em Portugal ... 7

3. IMPORTÂNCIA DO MATERIAL VEGETAL AQUÁTICO ...10

3.1. Importância ao nível Ambiental ...11

3.2. Importância ao nível Económico ...14

4. PRODUÇÃO E PROPAGAÇÃO ...18

4.1. Propagação ...18

4.1.1. Reprodução sexuada ... 18

4.1.2. Reprodução assexuada ... 20

4.2. Propagação “in vitro” ...22

4.3. Importância dos factores ecológicos ...23

4.3.1. Adaptação à submersão e emersão... 23

4.3.2. Alelopatia das plantas aquáticas ... 23

4.3.3. Temperatura ... 24

4.3.4. Luz ... 25

4.3.5. Qualidade da água: Inter-relação entre carbono, pH e dureza da água ... 27

4.3.6. Humidade do ar ... 29

4.3.7. Nutrição ... 30

4.4. Sistemas de cultivo ...33

4.4.1. Sistemas de valas e tanques ... 33

4.4.2. Sistemas de produção sem solo ... 34

4.4.2.1. Sistemas hidropónicos ... 34

4.4.2.2. Sistemas aquapónicos... 39

4.4.3. Controlo de algas... 40

5. TIROCÍNIO...42

5.1. Localização e análise biofísica do local ...42

5.2. Plano Geral ...43

5.3. Estufa ...43

5.4. Mesa de crescimento ...45

5.5. Substrato ...46

(9)

5.7. Solução nutritiva ...47

5.8. Cultura de plantas aquáticas ...48

5.8.1. Resultado da produção das plantas aquáticas ... 50

5.9. Controlo ambiental ...51

5.9.1. Temperatura da solução nutritiva ... 51

5.9.2. Temperatura do ar ... 53

5.9.3. Humidade ... 53

5.9.4. Radiação luminosa ... 54

5.9.5. Resultados do controlo ambiental ... 55

5.10. Sustentabilidade energética ...56

6. ANÁLISE ECONÓMICA ...57

6.1. Orçamento ...57

6.2. Estudo de mercado ...57

6.2.1. Resultado do estudo de mercado ... 57

7. CONCLUSÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...60

8. BIBLIOGRAFIA ...62

ANEXOS

ANEXO I - Lista dos Hidrófitos e Helófitos autóctones presentes em Portugal Continental

ANEXO II - Lista dos principais fertilizantes fornecedores de nutrientes

ANEXO III - Plano geral: Estudo prévio - Fases de desenvolvimento

ANEXO IV - Normas e técnicas para construção de estufas

ANEXO V - Herbário das fichas das plantas aquáticas usadas nos testes de produção

ANEXO VI - Lista de despesas efectuadas na preparação e desenvolvimento do tirocínio

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ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 1 - Ribeira da Foupana, Sotavento Algarvio (Abril de 2013) ...13

Fig. 2 - ETAP de Tenência, Sotavento Algarvio (Abril de 2013) ...14

Fig. 3 - Piscinas Municipais dos Olivais em extremo estado de degradação ...15

Fig. 4 - Exemplo de terrário ...17

Fig. 5 - Exemplo de aquário ...17

Fig. 6 - Aquário Vasco da Gama ...17

Fig. 7 - Fluviário de Mora ...17

Fig. 8 - Produção de raízes nos caules de Althernanthera rosaefolia ‘Mini’ ...20

Fig. 9 - Estolho de Marsilea batardae ...21

Fig. 10 - Tufo de Eleocharis acicularis ...21

Fig. 11 - Intervalo do espectro de luz usado na fotossíntese ...26

Fig. 12 - Disponibilidade de nutrientes na escala de pH ...38

Fig. 13 - Localização 1 ...42

Fig. 14 - Localização 2 ...42

Fig. 15 - Área de intervenção 1 ...42

Fig. 16 - Área de intervenção 2 ...42

Fig. 17 - Construção da estufa ...43

Fig. 18 - Interior da estufa ...43

Fig. 19 - Estufa completa 1 ...43

Fig. 20 - Estufa completa 2 ...43

Fig. 21 - Vários pormenores de construção da estufa (unidade: metros) ...44

Fig. 22 - Mesa de crescimento sem flutuadores ...45

Fig. 23 - Pormenor do reservatório ...45

Fig. 24 - Pormenor do descarregador de superfície ...45

Fig. 25 - Mesa de crescimento com flutuadores e estufim ...45

Fig. 26 - Organização das mesas de crescimento dentro da estufa (unidade: metros) ...46

Fig. 27 - Vaso de plástico de rede preenchido com substrato de lã-de-rocha ...46

Fig. 28 - Disposição dos estolhos de Eleocharis acicularis na lã-de-rocha ...46

Fig. 29 - Instrumentos de monitorização pH e TDS ...47

Fig. 30 - Evolução da solução nutritiva ao longo de 20 dias ...47

Fig. 31 - Plantas aquáticas autóctones e alóctones tropicais em crescimento emerso ...48

Fig. 32 - Marsilea cf. Batardae ...49

Fig. 33 - Pesagem das plantas aquáticas ...50

Fig. 34 - Evolução do crescimento das plantas aquáticas ...51

Fig. 35 - Painel solar térmico ...51

Fig. 36 - Esquema do sistema de aquecimento ...52

Fig. 37 - Reservatório de água quente, forrado a lã-de-rocha...53

Fig. 38 - Tubo PE corrugado de 16mm. Dissipação de calor na mesa de crescimento ...53

Fig. 39 - Abertura das janelas laterais ...53

Fig. 40 - Nebulizadores em funcionamento ...53

Fig. 41 - Estufim ...54

Fig. 42 - Rede de sombreamento ...54

Fig. 43 - Quantidade de plantas adquiridas por mês e por vendedor. ...57

Fig. 44 - Dispêndio por mês na compra das plantas aquáticas por vendedor. ...58

(11)

Fig. 46 - Encomendas por mês e por vendedor. ...58

Fig. 47 - Tempo de entrega das plantas no estabelecimento do vendedor. ...59

Fig. 48 - Local de produção das plantas aquáticas vendidas no mercado Português. ...59

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação da dureza da água ...29

Tabela 2 - Elementos necessários para as plantas e suas funções ...32

Tabela 3 - Características físicas da lã-de-rocha ...36

(12)

1. INTRODUÇÃO

O campo de acção do Arquitecto Paisagista vai muito para além dos Atelieres de Projecto e de Ordenamento do Território. A multidisciplinaridade que nos foi transmitida deve servir como fonte de dinamismo e motivação profissional no momento em que abordamos o mercado de trabalho. O Arquitecto Paisagista tem capacidade e conhecimentos que lhe permitem desenvolver a sua actividade profissional noutras áreas e âmbitos.

É com esta premissa em mente, que é aqui apresentado e desenvolvido um estudo no âmbito da dissertação para obtenção do grau de Mestre em Arquitectura Paisagista no Instituto Superior de Agronomia, que pretende contribuir para o conhecimento teórico e prático da produção e propagação de plantas aquáticas e a análise da sua eventual potencialidade económica em Portugal.

A presente dissertação surge da constatação de uma reduzida produção e comercialização de plantas aquáticas autóctones e alóctones tropicais no nosso país embora a sua procura pareça, em primeira análise, ser relativamente elevada. Esta ideia é fundamentada pela existência de uma grande variedade de projectos em Arquitectura Paisagista (quer em escala, quer em campos de actuação) onde a água é um elemento quase constante nas suas composições. Por si só, o elemento água acrescenta grande valor às intervenções, sendo esse valor ampliado quando combinado com plantas aquáticas. Estas consideram-se possuidoras de várias valências no âmbito da paisagem, na protecção do solo, na conservação da natureza, na biodiversidade, na qualidade da água e na protecção contra cheias. Outro fundamento, relaciona-se directamente com os inúmeros usos que as plantas aquáticas podem ter, desde o uso em piscinas biológicas, passando pela alimentação animal até ao crescente hobby da aquariofilia.

Sendo a produção deste material vegetal incipiente no nosso país (Filhó, 2008) tornando necessária a sua importação, admite-se que haja um potencial económico, nesta área de actuação.

Este trabalho é constituído por cinco tópicos, os três primeiros abordam questões teóricas e os dois últimos abordam a componente prática. Descrevem-se na primeira parte algumas definições e conceitos sobre as plantas aquáticas considerados relevantes para uma clara compreensão deste estudo e investigação. Expõem-se depois as propriedades mais importantes deste material vegetal a nível ambiental e económico e em seguida apresentam-se as técnicas de propagação, a importância dos factores ecológicos na produção e os sistemas de produção de plantas aquáticas. Na última parte descreve-se o

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projecto executado, seguida da descrição da análise económica, culminado o final do estudo com a discussão dos resultados e da viabilidade do projecto.

Em anexo é apresentada uma lista dos hidrófitos e helófitos presentes em Portugal continental e dos hidrófitos exóticos proibidos em Portugal, uma lista com os principais fertilizantes utilizados em hidroponia e algumas fórmulas nutritivas, o plano geral do projecto e as suas diferentes fases, as Normas e Técnicas de Construção de Estufas, um herbário com as fichas das plantas aquáticas usadas nos testes de produção, uma lista de despesas efectuadas na preparação e desenvolvimento do tirocínio e o inquérito feito para estudo de mercado.

Este estudo focou-se apenas sobre as plantas aquáticas, isto é, sobre os macrófitos (em relação á função do tipo de fixação e à posição relativamente à massa de água) ou hidrófitos e helófitos de ecossistemas dulçaquícolas (em relação às suas exigências hídricas), por este ser o objectivo primordial. No entanto faz-se a ressalva que por ambiguidade são referidas ou usadas plantas que podem ser classificadas como aquáticas e/ou ribeirinhas (higrófitos e sub-higrófitos).

1.1.

Objectivo

O objectivo do presente trabalho é contribuir para o estudo da propagação e produção de plantas aquáticas (autóctones e alóctones tropicais) em métodos de cultura sem solo (hidroponia) em estufa com a posterior análise da viabilidade económica, num critério de utilização multifuncional no âmbito da Arquitectura Paisagista.

Este tema insere-se em Arquitectura Paisagista na medida em que a investigação incide sobre este tipo específico de plantas que tanto influenciam a paisagem, sendo usadas pelo Arquitecto Paisagista em diversas actuações como a recuperação de lagos e linhas de água, BIO-ETARs, lagos artificiais, piscinas biológicas e que tanto contribuem para a diversidade biológica e a conservação da natureza.

Não é demais referir que é boa prática profissional e sustentável, o uso exclusivo de plantas autóctones na recuperação/construção de zonas húmidas, restringindo o uso das plantas alóctones tropicais à sua utilização em situações onde a biodiversidade natural do local, não seja posta em causa.

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1.2.

Metodologia

A metodologia do presente trabalho de investigação consiste no desenvolvimento de uma experiência de produção que tem como base uma forte componente teórica de pesquisa bibliográfica sobre as plantas aquáticas, as suas funções no ecossistema, as suas formas de propagação, os factores ecológicos ideais para o seu desenvolvimento e condicionantes inerentes ao processo da sua propagação. Procuraram-se conhecer as técnicas de produção em hidroponia, aquaponia e em valas e tanques. Os conhecimentos teóricos adquiridos foram posteriormente aplicados num projecto prático de propagação e produção com vista a uma posterior integração no mercado de plantas, testando a qualidade e quantidade de plantas produzidas no sistema de hidroponia flutuante. Este método de produção foi testado num sistema fechado, através da reciclagem da solução nutritiva e em estufa, com controlo ambiental melhorado, isto é, com arejamento lateral e zenital, sistema de aquecimento e controlo de radiação e humidade. Parte do ciclo cultural decorreu num período desfavorável do ano (Fevereiro a Março) com temperaturas mais frias e menores intensidades e durações luminosas onde se produziram plantas autóctones e plantas alóctones tropicais com necessidades de temperatura e humidade específicas.

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2. PLANTAS AQUÁTICAS E RIBEIRINHAS – Definições e Conceitos

Apresentam-se algumas definições e conceitos que se consideram relevantes para uma clara compreensão deste trabalho.

A definição de zona húmida, aloja em si uma variedade de habitats que têm em comum a interface entre o meio terrestre e aquático. Segundo a definição acordada na Convenção de Ramsar em 1971, incluem-se nestes habitats as “extensões de pântanos, de turfeiras, de charcos ou de águas naturais ou artificiais, permanentes ou temporárias, onde a água é estática ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo extensões de águas marinhas cuja profundidade na maré baixa não excede os seis metros. Assim os pântanos, os pauis, as turfeiras, as lagoas, os ribeiros, os rios, os estuários, os terrenos alagadiços, os sítios vasosos são zonas húmidas como as partes pouco profundas dos oceanos e dos mares" (Dias, 1988: 7-14).

Estes ecossistemas estão entre os mais ricos e produtivos da biosfera, albergam importantíssimas reservas genéticas em habitats privilegiados de fauna e flora, são reguladores bioclimáticos locais, têm um papel fundamental no controlo de sedimentos e contaminações, promovem a educação e investigação, proporcionam actividades de lazer, de produção de recursos e de valor patrimonial físico e estético, sendo por isso essenciais ao homem.

A vegetação que ocorre nestas zonas húmidas “é, entre os variados factores bióticos que as afectam, um dos principais indicadores do estado dos ecossistemas, do seu grau de diversidade biológica e da qualidade da água que a sustenta” (Duarte & Moreira, 2009: 9).

As plantas aquáticas e ribeirinhas no seu sentido mais abrangente são todas as plantas “que têm o seu ciclo de vida ligado à água ou a ambientes encharcados ou húmidos” (Catarino et al., 2001: 5). Incluem-se “plantas que só se desenvolvem na água e as que, não sendo aquáticas em sentido estrito, são próprias de locais húmidos ou encharcados e toleram a inundação em maior ou menor grau” (Catarino et al., 2001: 5). As plantas ribeirinhas correspondem às que ocorrem nas margens inundáveis e as aquáticas as que habitam nas massas de água.

A classificação deste material vegetal nem sempre é fácil, enquanto algumas espécies são exclusivas de um habitat, outras adoptam crescimentos ou características morfológicas

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consoante o nível do leito e a corrente, ocorrendo em diferentes zonas relativamente à massa de água (Duarte & Moreira, 2009).

É comum a divisão destas plantas em macrófitos e micrófitos. Os macrófitos (plantas macroscópicas) compreendem o grupo das macroalgas, briófitos, pteridófitos e espermatófitos. Os micrófitos (plantas microscópicas) compreendem o fitoplâncton e o perifiton (Catarino et al., 2001). Macrófito provém do grego macro (grande) + phyton (planta) e refere-se à maioria das plantas macroscópicas (plantas visíveis a olho nu). Na prática o termo é, actualmente, aplicado quase exclusivamente às plantas aquáticas (Catarino et al., 2001).

A designação macrófitos refere-se em limnologia ao “conjunto das plantas macroscópicas que crescem dentro, na superfície ou perto do meio aquático e que necessitam de um ambiente aquático, alagado ou húmido para sobreviverem, pelo menos durante parte do seu ciclo de vida” (Costa, 2001: 15).

Os macrófitos existem em zonas húmidas de água doce, salobra e salgada. Dentro dos ecossistemas dulçaquícolas (água doce) podem ainda ser distinguidos macrófitos lênticos e lóticos, correspondendo respectivamente a habitats de águas paradas (lagos, charcos, pântanos, pauis, etc.) e habitats de águas correntes (rios, ribeiros, riachos, etc.) (Filhó, 2008).

Em relação ao número de espécies, nos ecossistemas lóticos tendem a ocorrer menos espécies que nos ecossistemas lênticos, devido ao aumento da velocidade das águas a ocorrência de vegetação limita-se às plantas com adaptações ao nível da fixação e da resistência ao atrito (Pinho, 2003).

Os macrófitos podem ser classificados em relação à função, ao tipo de fixação e à posição relativamente à massa de água em (Catarino et al., 2001):

(A) Macrófitos emergentes – são plantas enraizadas no solo com caules e folhas na sua maioria emersas. Localizam-se junto às margens de cursos e massas de água. Ex. Phragmites australis, Typha latifolia, Iris pseudacorus.

(B) Macrófitos flutuantes – são plantas que flutuam à superfície da água, sem enraizamento ao substrato e com folhas e caules na sua maioria flutuantes. Estes

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podem ter a sua posição na água alterada consoante o vento ou a corrente. Ex. Lemna minor, Utricularia australis, Lemna gibba.

(C) Macrófitos enraizados de folhas flutuantes – são plantas enraizadas no substrato, com a maioria das folhas flutuantes, estas acompanham o nível das águas. Localizam-se na faixa junto à margem, ou abrangem todo o leito quando o nível é pouco profundo. Ex. Nymphae alba, Nuphar lutea.

(D) Macrófitos submersos – são plantas enraizadas, com toda a parte vegetativa submersa, podendo os órgãos reprodutores emergir. Localizam-se submersos até onde a penetração da luz permitir a sua viabilidade. Embora alguns autores excluam as macroalgas deste grupo, pelas afinidades funcionais com as plantas submersas, estas são incluídas no grupo dos macrófitos submersos. Ex. Ranunculus penicillatus,

Relativamente à posição dos macrófitos na massa de água, estes surgem desde a margem até à profundidade onde a penetração da luz solar permite o seu crescimento. Assim, junto à margem, surgem os macrófitos emergentes, seguindo-se os macrófitos enraizados com folhas flutuantes, os macrófitos submersos as macroalgas e os macrófitos flutuantes (Catarino et al., 2001).

Note-se ainda, que em resultado da diversidade de habitats, há espécies de macrófitos que, apresentam maleabilidade de hábito podendo-se comportar de formas distintas, através de crescimentos e características morfológicas diferentes, colonizando meios terrestres ou aquáticos consoante as condições ecológicas a que são submetidos. Exemplo dessa adaptação é a ocorrência de dimorfismo foliar em várias espécies de plantas aquáticas como o Ranunculus peltatus (ranúnculo-aquático) que na sua parte submersa possui folhas fimbriadas mais resistentes ao atrito e mais eficazes na assimilação de oxigénio dissolvido e na sua parte flutuante, folhas laminares (Duarte & Moreira, 2009).

A flora aquática pode ainda ser classificada em relação às suas exigências hídricas. Classificação sugerida por Duarte & Moreira, 2002 onde se obtiveram grupos que apresentam características comuns no que respeita ao desenvolvimento vegetativo e métodos de reprodução, partilhando similaridades relativas à forma de vida e relativas aos habitats que ocupam.

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(I) Helófitos – aqui inserem-se os macrófitos emergentes (A). Este grupo é representado por espécies que “toleram longos períodos de submersão parcial; as estruturas vegetativas apresentam parte emersa e parte imersa, as estruturas reprodutoras são aéreas e as radiculares encontram-se em substratos saturados em água” (Duarte et al., 2004: 69) “Esta categoria é representativa de um tipo particular de plantas especialmente eficiente na colonização da zona de transição entre o meio aquático e o terrestre, onde os substratos apresentam uma relativa instabilidade e os períodos de submersão são frequentes” (Filhó, 2008: 6).

(II) Hidrófitos – aqui inserem-se os macrófitos (B), (C) e (D). “São plantas com a totalidade do aparelho vegetativo no interior do plano de água ou à sua superfície, precisando desta como meio de suporte e nalguns casos para o transporte de pólen na reprodução sexuada. De uma maneira geral os hidrófitos passam a estação desfavorável sob o plano de água. Sinónimo de plantas aquáticas propriamente ditas ou euhidrófitos” (Duarte et al., 2004: 69).

(III) Higrófitos – aqui inserem-se “as espécies que preferem ou toleram solos mais ou menos permanentemente encharcados ou muito húmidos, como sejam margens de rios, lagos, charcos e pauis” (Duarte et al., 2004: 69).

(IV) Sub-higrófitos - aqui inserem-se as “espécies que ocorrem em zonas com menores teores de humidade edáfica correspondendo, maioritariamente, às que têm como habitat preferencial locais de grande humidade mas onde as inundações são esporádicas ou inexistentes, nomeadamente prados higrofílicos, bosques ou matos húmidos, zonas sombrias e leitos de cheias” (Duarte et al., 2004: 69).

O estudo apresentado incide sobre um tipo específico de flora, os hidrófitos e helófitos de ecossistemas dulçaquícolas (ou macrófitos de ecossistemas dulçaquícolas), designadas comummente como plantas aquáticas, mas é de ressalvar que existem espécies que pela sua grande plasticidade ecológica ou pela falta de dados podem ser caracterizados em uma ou mais das categorias anteriormente descritas.

2.1.

Hidrófitos e helófitos em Portugal

Em Portugal Continental, estima-se que existam aproximadamente 3300 taxa da flora vascular autóctone. Os grupos de plantas aquáticas referidos anteriormente perfazem cerca

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de 1/5 deste total sendo os higrófitos o grupo que apresenta maior expressão, com cerca de quatrocentas espécies identificadas, seguido dos sub-higrófitos com aproximadamente trezentas, enquanto os grupos dos helófitos e hidrófitos não atinge a centena (Duarte et al., 2004).

Em Portugal continental estão confirmados 85 taxa de hidrófitos autóctones (Anexo I – Tabela I), todos eles herbáceos que se distribuem pelos pteridófitos, dicotiledóneas e monocotiledóneas. É de notar que alguns apresentam grande capacidade de adaptação a diferentes meios e condições ambientais podendo comportar-se como helófitos ou até higrófitos. As dicotiledóneas, são representadas por 11 famílias, destacando-se com maior representatividade as Ranunculaceae (com 12 espécies) e as Callitrichaceae (com 6 espécies). As monocotiledóneas, são representadas por 13 famílias, destacando-se as Potamogetonaceae (com 13 espécies), Alismataceae (com 7 espécies) e Lemnaceae (com 5 espécies). Existem ainda famílias que são compostas quase exclusivamente por hidrófitos como é o caso das Callitrichaceae, Ceratophyllaceae, Haloragaceae e Nymphaeaceae, nas dicotiledóneas e das Alismataceae, Butomaceae, Hydrocharitaceae, Lemnaceae, Najadaceae, Potamogetonaceae, Sparganiaceae e Zannlichelliaceae, das monocotiledóneas. Os hidrófitos enraizados de folhas flutuantes são os que apresentam maior domínio, apontam-se o género Nymphaea e espécies dos géneros Potamogeton e Ranunculus. Nos hidrófitos submersos apontam-se os géneros Ceratophyllum, Najas, Vallisneria e Zannichellia e algumas espécies de Potamogeton. Nos hidrófitos flutuantes incluem-se apenas duas famílias e quatro géneros - Lentibulariaceae (Utricularia) e Lenmaceae (Lenura, Spirodela e Woljjla). Nas zonas de Portugal influenciadas pelos bioclimas supra e meso-mediterrâneos, existe maior ocorrência de comunidades vegetais aquáticas, dessas os hidrófitos enraizados mais importantes são os que ocorrem em troços lênticos de caudal suave como os Rannunculus ololeucos, R. bandott, R. peltatus Schrank e R. trichophyllus Chaix. Os hidrófitos flutuantes que mais ocorrem em troços lóticos são Lemna minor (Lentilha-de-água) e Eichhornia crassipes (Jacinto-da-água) (invasora Dec.-Lei n.º 565/99) com raras presenças de Azolla filiculoides e Azolla caroliniana (Azola) (ambas invasoras – Dec.-Lei n.º 565/99). Também o Myriophyllum verticillatum, Nymphea alba (Nenúfar) e Nuphar luteum (Golfão-amarelo) marcam importante presença como hidrófitos flutuantes (Ribeiro, 2000).

No grupo dos helófitos estão avaliados 66 taxa autóctones havendo 32 na classe das dicotiledóneas e 34 nas monocotiledóneas (Anexo I – Tabela II). As famílias mais representativas nas dicotiledóneas são as Scrophulariaceae, Apiaceae, Ranunculaceae e Brassicaceae e nas monocotiledóneas são as Cyperaceae. Este grupo de plantas aquáticas

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apresenta-se geralmente como herbáceas vivazes embora existam espécies como a Phragmites australis (Caniço) que possuem tecidos lenhificados (Duarte et al., 2004).

Os únicos hidrófitos e helófitos endémicos portugueses são também ibéricos e correspondem à Marsílea batardae (Trevo-de-quatro-folhas) e Baldellia alpestris (sendo a primeira abrangida pela Rede Natura 2000) nos hidrófitos e Carex elata subs. reuteriana e C. elata subs. tartessiana nos helófitos. No entanto ocorrem várias espécies raras nestes dois grupos que não estão incluídas em qualquer conteúdo legal. Apresenta-se uma em anexo (Anexo I) a lista destas espécies cuja avaliação é necessária a fim de avaliar a sua importância do ponto de vista conservacionista (Duarte et al., 2004).

Há a destacar também os hidrófitos da nossa flora protegidos por legislação e que são apresentados no Anexo I.

É de referir que existem espécies de hidrófitos e helófitos exóticos e infestantes em Portugal que se encontram descritos no Dec.-Lei 565/99 (Anexo I – Tabela III). As “Plantas invasoras, também designadas por alienígenas, imigrantes, exóticas, adventícias, neófitos ou, simplesmente, introduzidas (Mack, 1985), são consideradas as que se dispersam em áreas onde não são nativas (Rejmanek, 1995), sem intervenção directa do homem, em habitats naturais ou seminaturais, de modo a produzir uma modificação significativa em termos de composição, estrutura ou dinâmica dos ecossistemas (Cronk, 1995)” (Moreira et al., 2002: 4.4).

Entende-se como infestante aquática, uma “planta aquática cuja densidade populacional em ecossistemas intervencionados ou naturais excede um determinado nível limitativo – nível prejudicial de ataque – em que o prejuízo no uso dos recursos hídricos é superior aos benefícios da sua presença no ecossistema em causa ou da sua potencial utilização” (Moreira et al., 2002: 4.4). Os principais hidrófitos infestantes são: Eichhornia crassipes, Myriophyllum aquaticum e Azolla filiculoides. Para uma lista mais detalhada deste material vegetal sugere-se as edições de Catarino et al., 2001 – Plantas aquáticas infestantes de valas.

Em Duarte et al., 2004 é apresentada uma lista de espécies exóticas encontradas nos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos portugueses tendo sido identificados 139 taxas exóticos, sendo que 8 são hidrófitos e 2 helófitos (Anexo I – Tabela III).

Note-se ainda que no Dec.- Lei 565/99, são proibidas a introdução de 3 espécies de hidrófitos, que embora não ocorram em Portugal continental, comportam elevados riscos ecológicos, bem conhecidos noutras regiões geográficas (Anexo I – Tabela III).

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3. IMPORTÂNCIA DO MATERIAL VEGETAL AQUÁTICO

Os ecossistemas húmidos (massas de água e zonas húmidas adjacentes) distinguem-se da sua envolvência exibindo um microclima com menor temperatura e maior humidade relativa do ar e do solo, sendo que num clima mediterrânico este contraste é bastante significativo. Estas zonas são de elevada importância pois manifestam uma grande diversidade, quer a nível florístico, quer estrutural. A flora aquática que aqui se forma está intrinsecamente relacionada com a qualidade da paisagem “e é entre os variados factores bióticos que afectam as zonas húmidas, um dos principais indicadores do estado dos ecossistemas, do seu grau de diversidade biológica e da qualidade da água que a sustenta” (Duarte & Moreira, 2009: 9).

Havendo desequilíbrios nestes ecossistemas, as plantas aquáticas podem ocorrer em grandes quantidades com efeitos adversos como: o impedimento da navegação, perda de água por evapotranspiração e promoção do aparecimento de habitats favoráveis a vectores de doenças transmitidas pela água. Num ambiente equilibrado as plantas aquáticas têm valores recreativos, estéticos e medicinais, entre outros, devendo estes valores ser geridos e desenvolvidos de um ponto de vista ambiental e económico (FAO, 1994).

Assim serão abordadas as relações e a importância da flora aquática nos ecossistemas como: suporte a outras comunidades biológicas; valor intrínseco para a conservação de comunidades vegetais; valorização estética da paisagem; regulação físico-química do meio; redução da velocidade da água; favorecimento da deposição de sedimentos; protecção contra a erosão do solo e melhoria da qualidade da água (Duarte et al., 2004).

Sob uma perspectiva económica acrescem outras funções como: a recuperação de lagos e linhas de água, ressurgências em taludes, Estação de Tratamento de Água com Plantas (ETAP), lagos artificiais e piscinas ecológicas, fertilizantes, fonte de energia, usos industriais, uso em piscicultura, medicamentos, corantes alimentares, alimentação animal e humana (FAO, 1994), usos em hobbies como a aquariofilia e terrariofilia ou em parques zoológicos como aquários, oceanários e fluviários.

Admite-se assim, dada a abrangência de funções ambientais e económicas, aliada à escassa produção em Portugal, que a exploração e produção de plantas aquáticas apresenta um potencial económico, aumentando assim a necessidade de estudos sobre este material vegetal, estudos que divulguem a sua importância, as propriedades e funções

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no ecossistema, os métodos mais apropriados de propagação, produção e transformação, de modo a assegurar a viabilidade dos projectos.

3.1.

Importância ao nível Ambiental

Os ecossistemas húmidos apresentam características distintas e dinâmicas consoante o relevo, o substrato geológico e o clima onde se inserem. De um modo geral a condicionante que mais afecta a existência de hidrófitos nestes sistemas é a velocidade da água, havendo assim, uma maior colonização dos habitats lênticos relativamente aos lóticos. Ao nível das nascentes e troços superiores esta particularidade é mais acentuada (resultado da topografia geralmente acidentada) fazendo como que a ocorrência de flora esteja sujeita a uma maior adaptação ao nível da fixação. Também o regime hídrico, a qualidade química da água, a temperatura, o grau de turbidez e a fisiografia influenciam a existência de macrófitos (Duarte & Moreira, 2009). A maior ou menor abundância de material vegetal depende da morfologia, do declive, do desenvolvimento da margem, da rocha-mãe e do tipo de solo (Godinho & Ferreira, 2002).

Estes ecossistemas manifestam-se altamente produtivos, contribuindo em larga escala para o aumento da biodiversidade, pois constituem-se como suporte alimentar de numerosas espécies da fauna, tanto terrestre como aquática bem como suporte físico, incluindo local de postura, de descanso para espécies migratórias e de protecção contra predadores a várias espécies de peixes, aves, pequenos mamíferos, répteis, crustáceos, anfíbios e insectos (Ferreira et al., 2002).

A vegetação aquática aliada a toda a galeria ripícola quando bem estruturada e em bom estado de conservação pode constituir uma rede ecológica e funcionar como corredor ecológico conectando biótopos (continuum naturale) e evitando a sua fragmentação (uma das causas que pode levar à extinção de espécies) sendo por isso essencial para a fauna em geral (Brito et al., 2002).

No caso da ictiofauna, os macrófitos apresentam funções importantes no seu ciclo de vida. É de notar exemplos de várias espécies que servem de alimento directo como a Lemna pausicostata, enquanto outros peixes alimentam-se de algas perifíticas que crescem nas folhas das plantas aquáticas que ao mesmo tempo servem de local de postura para insectos e invertebrados que por sua vez fornecem igualmente alimento (FAO, 1994).

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As práticas inadequadas da agricultura moderna, contribuem drasticamente para a perda de solo dos campos agrícolas, pois facilitam e aceleram a erosão hídrica arrastando para as massas de água confinantes sólidos e poluentes associados que ficam em suspensão, originando situações nefastas como o aumentando do assoreamento do leito, a alteração e destruição de habitats e o aumento do risco de cheias (Filhó, 2008). A capacidade que os hidrófitos têm em reter sedimentos é fundamental nestas situações. Pois ao reterem os sólidos em suspensão permitem uma maior penetração da luz solar nas camadas inferiores da água possibilitando a colonização dos leitos e diminuindo o assoreamento a jusante actuando também na protecção contra cheias.

A vegetação aquática afecta os processos de erosão, transporte e sedimentação de sólidos presentes na massa de água, tornando-se assim essencial para a manutenção do solo das margens e do leito. Ao diminuir a velocidade da água previne o arrastamento do solo, estabilizando-o e protegendo-o, tornando a erosão menos significativa (Ferreira et al., 2002).

As descargas provenientes de efluentes agrícolas, urbanos e industriais, também alteram o estado trófico da água, adicionando grandes quantidades de nutrientes a jusante das mesmas. Um aumento de matéria orgânica nestes sistemas tem repercussões drásticas na vida aquática, levando ao desenvolvimento de organismos decompositores e consequente diminuição dos teores de oxigénio dissolvido na água (Duarte & Moreira, 2009). Estes fenómenos de eutrofização e poluição podem ser biomonitorizados com o uso de macrófitos, pois através da sua análise química, podem indicar a biodisponibilidade dos poluentes e o estado do ambiente aquático a que foram expostos. No ambiente aquático, os inputs de poluentes podem ser intermitentes e rapidamente diluídos e a análise dos tecidos vegetais fornece em tempo integrado informação sobre a qualidade do sistema (Nasir, 2012). Este método já é empregue nos estados membros da União Europeia (EU) através da Directiva de Tratamento de Águas Residuais Urbanas (91/271/EEC), a Directiva Nitratos (91/676/EEC), o sistema ONORM M6232 (Áustria), o SEQ – Systeme d'Évaluation de la Qualité des Milieux Aquatiques (França) e o MTR- Mean Trophic Rank (Reino Unido) (Filhó, 2008).

Esta monotorização só é possível devido à função depuradora dos macrófitos, considerada vantajosa pela remoção de vários poluentes das massas de água. Quer através das raízes (helófitos) quer através das folhas (hidrófitos), este tipo de plantas apresentam elevadas taxas de assimilação de nutrientes (principalmente Azoto e Fósforo) e metais pesados, tendo cada espécie diferentes níveis de absorção para diferentes tipos de metais pesados.

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O processo de fotossíntese é dependente da penetração da luz solar, assim, quanto maior a deposição de sedimentos, maior é a transparência e consequentemente maior a produção de oxigénio. Os hidrófitos são o grupo de plantas que mais contribuem para a oxigenação do meio aquático, “esta função é fundamental, pois dela dependem vários tipos de comunidades faunísticas, nomeadamente ictiofauna e macroinvertebrados” (Ferreira et al., 2002: 2.3). O oxigénio desempenha ainda uma função anti-séptica relativamente a salmonelas, coliformes, enterococos e outros seres nocivos à saúde humana (Santos, 2005).

Este material vegetal tem uma influência positiva na qualidade estética da paisagem, quer pelas funções descritas anteriormente, quer pelo impacto visual e sensorial que criam, colonizando as margens, à superfície e dentro de água, estabelecendo uma dinâmica de cores, texturas, estruturas, composições e variedades.

Há que destacar o valor intrínseco deste tipo de flora, “pelas particulares exigências ecológicas que as limitam a habitats pouco frequentes, ou pela progressiva destruição dos ecossistemas, são numerosas as espécies que, de alguma forma, se podem considerar raras, sensu lato, nos sistemas aquáticos e ribeirinhos” (Ferreira et al., 2002: 2.9).

Fig. 1 - Ribeira da Foupana, Sotavento Algarvio (Abril de 2013) Fonte: Autor

As plantas aquáticas têm um papel fundamental no controlo de algas e cianobactérias (“algas azuis”). As algas em grandes quantidades possuem características inestéticas, fixando-se no fundo e nas plantas, criando um aspecto de falta de zelo, no caso de ambientes confinados como piscinas ecológicas e aquários. O controlo das cianobactérias é especialmente importante em piscinas por serem organismos potencialmente perigosos para a saúde humana. Ambos são seres autotróficos e necessitam de luz para realizar a fotossíntese, mas também de nutrientes. O material vegetal aquático, ao assimilar os nutrientes da água, pelas folhas ou pelas raízes, compete directamente com as algas pela

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obtenção de alimento. Numa piscina ecológica ou num aquário tenta-se reduzir ao mínimo o input de nutrientes, limitando assim o crescimento de algas e cianobactérias (Santos, 2005).

3.2.

Importância ao nível Económico

As Estações de Tratamento de Águas com Plantas - ETAP - constituem uma solução para o tratamento de efluentes urbanos, industriais e agrícolas que utiliza leitos de macrófitas como meio de filtragem, assimilação de poluentes e depuração de águas – Fitoremediação. Este método de tratamento de efluentes líquidos é uma tecnologia fiável, robusta, de baixos custos energéticos, eficiente e estética sendo cada vez mais uma alternativa viável aos sistemas convencionais que acarretam sérios problemas ambientais. “A carga orgânica residual, sólidos em suspensão, compostos azotados, diversas formas de fósforo, outros macro e micro nutrientes, metais (incluindo pesados), substâncias orgânicas refractarias e microorganismos patogénicos são removidos da água residual” (Dias et al., 2000: 5) durante a passagem pelo sistema.

Fig. 2 - ETAP de Tenência, Sotavento Algarvio (Abril de 2013) Fonte: Autor

As piscinas ecológicas apresentam-se como uma alternativa ecológica e economicamente viável em relação a uma piscina convencional. Através do uso de plantas aquáticas obtém-se uma água de óptima qualidade balnear, com menor gasto de energia e obtém-sem recurso a produtos químicos (prejudiciais ao Homem e ao ambiente).

A necessidade de remodelação de piscinas públicas ou privadas é uma realidade. Em Portugal contam-se vários exemplos de piscinas municipais que estão hoje ao abandono. Como exemplo temos o caso da antiga Piscina Municipal de Portalegre, Abrantes e as piscinas dos Olivais, Campo Grande e Areeiro em Lisboa, cuja remodelação com base nesta abordagem ecológica poderia ser pensada. Nestas situações, a criação de uma piscina

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ecológica é mais barata oferecendo uma água que não causa irritações nos olhos ou na pele. Integrando-se facilmente na paisagem através de uma construção mais “leve” e reversível com cenário vivo e dinâmico.

A construção de uma piscina ecológica é cerca de 24% menos onerosa que uma piscina convencional e com uma manutenção quase inexistente (Santos, 2005) . A única condicionante que se observa é a necessidade de uma maior área que uma piscina convencional, sendo que o total da área da

piscina não corresponde à área de utilização pública, pois a piscina ecológica é divida em zona de natação e zona de regeneração (interdita a banhos). Dependendo da aproximação da piscina a um sistema natural esta zona de regeneração pode ocupar de 70% a 15% da área total (Santos, 2005).

As plantas aquáticas acumulam grandes quantidades de azoto e fósforo nos seus tecidos sendo que esta característica permite a sua aplicação no solo como fertilizante natural - biofertilizantes. Por exemplo a Azolla sp., tem ganho popularidade como biofertilizante em sistemas agrícolas de arroz na Ásia. Na China esta espécie tem sido muito usada para fertilizar produções de áreas alagadas e nas Filipinas a Eichhornia crassipes (jacinto-de-água) foi usado com sucesso como substrato seco no cultivo de cogumelos do género Volvaria sp. (FAO, 1994).

Vários estudos têm demonstrado que, por meio de fermentação, biometanização e pirólise as plantas aquáticas podem ser convertidas em combustíveis, quer sejam líquidos, gasosos ou sólidos. Por exemplo, na China e na Índia, a Eichhornia crassipes é transformada por decomposição em biogás, servindo como fonte de energia de baixo custo para as comunidades rurais. Esta espécie tem ainda potencial para produção de celulose e papel (FAO, 1994).

Este tipo de técnica pode ser facilmente aplicável contribuindo para o aumento do rendimento de uma ETAP, onde os nutrientes em excesso promovem o crescimento deste material vegetal em grandes quantidades, havendo rapidamente excedentes que podem ser transformados em energia (FAO, 1994).

Fig. 3 - Piscinas Municipais dos Olivais em extremo

estado de degradação

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A presença equilibrada de plantas aquáticas numa zona húmida é directamente proporcional à sua qualidade, favorece o aparecimento de actividades humanas de grande valor económico como o turismo, o desporto, a caça e a pesca, observação de aves e da natureza em geral e da fotografia.

As intervenções ao nível da reconstituição da vegetação de lagos e linhas de água dependem do grau de degradação em que estes de encontram. Após a avaliação desse estado poderá ser necessária a recuperação do corredor ripícola através da recolonização do material vegetal aquático natural que existe ou existiria no local de intervenção. Para se desenvolver tal acção é primordial ter o conhecimento da vegetação potencial natural de modo a respeitar as sucessões ecológicas, estando esta, dependente das condições físico-químicas e biológicas e livre das influências culturais, mantendo sempre presente o dinamismo do nível das águas sendo este mais acentuado em climas mediterrânicos (Pereira, 2001). Dos macrófitos mais utilizados neste tipo de intervenções destacam-se espécies como a Typha latifolia (tabúa), o Iris pseudacorus (lírio-amarelo) e a Phragmites australis (caniço).

As plantas aquáticas também têm um importante papel económico na alimentação animal e humana. Conhecido por todos nós como arroz, Oriza sp. é uma planta aquática responsável por uma grande parte da alimentação mundial, também o agrião (Rorippa nasturtium-aquaticum), e o espinafre-d’água (Ipomoea aquatica) são outros exemplos. Na alimentação animal, o uso de plantas aquáticas foi reportado em países como a China, Índia e Sudão com um papel importante na alimentação de suínos, ovinos e bovinos. Espécies como a Eichhornia crassipes e a Hydrilla spp., contêm teores de proteínas, gorduras, minerais e fibras semelhantes às culturas forrageiras convencionais quando são transformadas em matéria seca ou fresca (FAO, 1994).

A piscicultura é uma área particular onde o uso integrado de plantas aquáticas, quer para alimentação, quer para depuração das águas, tem um papel preponderante na sustentabilidade ambiental e economia destes sistemas.

O uso de vivariums (em latim significa “lugares de vida”) são espaços usualmente fechados de diferentes tamanhos, usados para manter e criar animais ou plantas. Abrange os hobbies da aquariofilia e terrariofilia, tendo estes evoluído bastante nos últimos anos com um número crescente de aficionados e uma tecnologia de apoio cada vez mais avançada. Hoje já não se trata só de mero exercício de ter um espaço confinado com flora e/ou fauna mas sim de simular ecossistemas naturais de forma artística ilimitada.

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Joachim Ritter, filósofo alemão do séc. XX, com trabalho nas concepções actuais da estética da paisagem expõe que o homem vive de perdas e compensações, a paisagem surge como uma forma de compensar a natureza perdida. A evolução da paisagem está ligada à evolução da cidade, sendo a paisagem ao lado da cidade substituída pelo jardim/parque público, depois pelas plantas domésticas e depois pelos destinos das paisagens exóticas sendo estes substitutos da paisagem cada vez mais fracos e com menor valor.

Nesta linha de pensamento os aquários e terrários dentro de casa, podem ser comparados às plantas de interior (funcionando com uma extensão da paisagem) ou até mesmo a objectos de arte, funcionando como redutor de stress, acrescentando harmonia e estética natural ao nosso espaço.

Os hidrófitos e helófitos têm um papel primordial na construção destes ecossistemas, quer pelo valor intrínseco e qualidade estética quer pelo valor ecológico, adicionando vantagens para a fauna, apresentando esta, não só cores mais brilhantes e vigorosas, mas também maior longevidade com uma vida mais natural e saudável. Em muitos casos, as plantas desempenham um papel vital em ajudar a estabelecer territórios e locais de desova, assim como acontece na natureza (James, 1997).

Nesta perspectiva pode-se ainda falar dos espaços museológicos como aquários, oceanários e fluviários, onde a presença deste material vegetal é essencial para completar a reprodução dos ecossistemas representados.

Fig. 5 - Exemplo de terrário Fonte:

http://www.aquaticplantcentral.com/forumapc/plant- physiology-emersed-culture/72691-emersed-aquatic-plants-carnivorous-plant-layout.html

Fig. 4 - Exemplo de aquário Fonte: Autor

Fig. 7 - Fluviário de Mora

Fonte:

http://www.portugalinspira.pt/2012/12/fluviario-de-mora-o-primeiro-grande.html

Fig. 6 - Aquário Vasco da Gama Fonte: Autor

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4. PRODUÇÃO E PROPAGAÇÃO

Neste capítulo serão abordados os vários temas teóricos relacionados com as técnicas de propagação, a importância dos factores ecológicos e os sistemas de cultivo de macrófitos.

4.1.

Propagação

As plantas multiplicam-se por duas formas: sexuada e assexuadamente. A reprodução sexuada envolve a produção de esporos ou sementes que germinam em novas plantas. A reprodução assexuada abrange um certo número de processos vegetativos através dos quais novas plantas são produzidas a partir de diferentes partes de uma planta-mãe. O homem tem aproveitado estes processos totalmente naturais e adaptando em alguns casos, o desenvolvimento de uma série de técnicas fiáveis de propagação. As técnicas de propagação de plantas mais comuns encontram-se descritas posteriormente.

4.1.1. Reprodução sexuada

A reprodução sexuada em plantas baseia-se na fusão de células sexuais masculinas e femininas – gâmetas - para formar um zigoto. Este processo denomina-se generativo em oposição a vegetativo. Em plantas inferiores como: algas, musgos, hepáticas e antóceros, os zigotos desenvolvem-se em esporos. Nas plantas superiores, como herbáceas, arbustos e árvores, os zigotos desenvolvem-se em sementes. Em ambos os tipos de plantas, a composição genética das novas plantas é influenciada pelas características dos "progenitores", obtendo-se novas combinações genéticas e consequente aumento da biodiversidade. O homem usa esta capacidade no seu auge em horticultura, moldando e melhorando as características de variadas plantas para atingir novas adaptações ou novas variedades capazes de produzir maiores flores ou safras (James, 1997).

Nas plantas aquáticas este tipo de reprodução é um processo moroso e tedioso, raramente usado no seu cultivo, exceptuando as duas seguintes situações (Rataj & Horeman, 1977):

1 - Espécies que não se reproduzem vegetativamente (género Aponogeton entre outras) e espécies anuais que morrem após floração (género Ottelia entre outras). Nestas espécies a reprodução generativa através de sementes é necessária para que continue a prosperar (caso das anuais) ou necessário para o aumento do número de plantas.

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2 - Espécies que se reproduzem lentamente vegetativamente, mas produzem flores e sementes com relativa facilidade. Durante o período vegetativo produzem entre 2 a 30 plântulas, mas no mesmo período podem produzir 10000 sementes.

Neste último caso, se se optasse pela propagação vegetativa seriam necessárias grandes quantidades de plantas-mãe e consequentemente maiores quantidades de tanques e área em uso, assim através de propagação generativa com apenas duas ou três plantas-mãe em floração é possível obter um elevado número de sementes e plântulas tornando-se mais fácil a nível comercial. Apesar das plantas produzidas através de semente demorarem duas vezes mais a adquirir um tamanho próprio para venda, o reduzido espaço necessário faz com que a reprodução generativa seja economicamente mais prática (Rataj & Horeman, 1977).

A fim de produzirem sementes as plantas devem primeiro produzir flores. Aqui poderá fazer-se uma distinção entre plantas, as enraizadas que produzem folhas e flores flutuantes que são depois polinizadas por insectos (Aponogeton) e as que estão dependentes do nível da água para produzir flores na forma emersa (Cryptocoryne, Hygrophila e Ludwigia).

A polinização pode acontecer por via natural (insectos ou vento) ou artificial, transferindo o pólen dos estames para os estigmas através de um objecto (como por exemplo um pincel).

O tempo certo para a colheita das sementes é geralmente quando o fruto abre e as liberta. Por inúmeras razões a sementeira imediata por vezes é indesejável. Nestes casos é essencial saber qual o tempo de maturação e quanto tempo mantêm as sementes a sua capacidade germinativa, sendo que para as plantas aquáticas esta informação é escassa e insuficiente. Geralmente as sementes podem ser semeadas após um período de repouso numa atmosfera habitualmente húmida, num substrato ou submersas em água, sendo que o tempo de maturação até à germinação da semente depende da espécie. Com o desenvolvimento da plântula deverão ter-se cuidados extras, pois estas são muito delicadas (Rataj & Horeman, 1977).

Do ponto de vista da qualidade do produto final a reprodução através de sementes apresenta-se como um melhor método, acumulando uma maior diversidade de genomas e aumentando assim a resistência a stresses bióticos e abióticos. Se uma espécie é propagada apenas por reprodução assexuada, há uma forte tendência para que a linhagem comece a deteriorar-se passadas algumas gerações, apresentando menores resiliências, crescimentos diminutos, e perda da capacidade de produzir flor (Rataj & Horeman, 1977).

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4.1.2. Reprodução assexuada

Muitas espécies de plantas aquáticas reproduzem-se vegetativamente através de grandes ou pequenos propágulos, sendo estes capazes de produzir folhas e raízes mesmo depois de separadas da planta-mãe. Esta capacidade de produzir raízes é tão forte que até partes das folhas podem enraizar, como no caso da Bacopa amplexicaulis e da Hygrophila polysperma. Nas plantas aquáticas este é o tipo de reprodução mais usado comercialmente. Os métodos envolvem desde a simples divisão de tufos até complexas culturas de tecidos.

Fig. 8 - Produção de raízes nos caules de Althernanthera rosaefolia ‘Mini’ Fonte: Autor

A maioria das plantas aquáticas reproduz-se vegetativamente emitindo caules prostrados, estes podem ser denominados estolhos ou rizomas. O estolho parte do caule principal da planta-mãe e cresce superficialmente ao longo do substrato (como nos géneros Vallisnerias e Echinodorus). As plantas flutuantes reproduzem-se rapidamente por este método produzindo vários estolhos em simultâneo (James, 1997). Os rizomas são caules subterrâneos que se assemelham a raízes e crescem subterraneamente durante algum tempo até que surgem à superfície e desenvolvem o ápice uma plântula (como nas Cryptocorynes). Funcionam não só como local de reserva de nutrientes (permitindo à planta sobreviver em períodos de condições desfavoráveis) mas também como meio de reprodução podendo alongar-se, originando gemas que se vão diferenciar em novas plantas. Muitas plantas aquáticas crescem a partir de rizomas como Nuphar sp. e Nymphaea sp. Para propagar este tipo de plantas basta cortar e separar o rizoma. Esta técnica foi usada no exercício prático na propagação de Anubias barteri var. nana.

A divisão do tufo é uma técnica de propagação usada em espécies de plantas que apresentam formas multicaules, isto é, os rebentos ocorrem nos caules erectos surgindo quase todos num único ponto tomando formas muito densas. Este foi o método utilizado na

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propagação da Eleocharis acicularis e implica a separação do sistema radicular em pequenas porções replantando-se depois em separado.

Bolbos, cormos e tubérculos são caules subterrâneos volumosos e ricos em substâncias de reserva que possuem capacidade de originar novas plantas. Nas plantas ornamentais este método de reprodução é bastante comum sendo escasso nas plantas aquáticas. A Crinum natans é um exemplo, pois propaga-se por meio de bolbilhos que se desenvolvem ao longo do tempo a partir do bolbo principal.

Rebentos adventícios (vivíparos) são órgãos de multiplicação que se desenvolvem enquanto ainda estão na planta-mãe (Fernandes, 1972). Por exemplo o conhecido Microsorum pteropus (Feto-de-java) desenvolve soros na face abaxial da folha, estes originam plântulas que crescem e eventualmente separam-se da planta-mãe. Outro exemplo é a Eleocharis vivipara quando emersa, produz novas plântulas nas pontas dos seus finos caules lanceolados, estes curvam naturalmente e tocam no substrato permitindo assim o enraizamento das plântulas (James, 1997).

Reprodução por estacas é possivelmente o método mais fácil e comum, usado para a propagação de plantas aquáticas. Em plantas terrestres esta técnica acarreta maiores dificuldades devido ao risco de seca da estaca antes de serem formadas raízes. Nas plantas aquáticas este risco é quase inexistente por estas serem propagadas em ambientes imersos

Fig. 10 - Estolho de Marsilea batardae (Trevo-de-quatro-folhas)

Fonte: Autor Fig. 9 - Tufo de Eleocharis acicularis

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ou com elevados teores de humidade. De facto a maioria dos viveiristas fornece as suas plantas na forma de estacas apicais enraizadas, ou seja, estacas cortadas a partir da parte terminal do caule de uma planta-mãe. As estacas podem também ser retiradas a partir de porções médias ou laterais. A planta-mãe geralmente volta a rebentar com novos rebentos depois dos cortes.

As estacas cortam-se com um mínimo de 1 nó, sendo este o local onde se formam novas raízes, se bem que o ideal sejam 2 a 3 nós. Se as estacas são para crescer no modo emerso devem-se retirar as folhas inferiores e usar um fungicida e hormonas de crescimento (substâncias rizogéneas) de modo a acelerar a formação de raízes, tornando todo este processo mais eficaz. A extremidade a enraizar deve ser inserida num substrato de crescimento em condições de elevada humidade. As estacas podem também ser conseguidas através de folhas como na espécie Synnema triflorum (James, 1997).

4.2.

Propagação

“in vitro”

Propagação “in vitro” significa culturas em meio esterilizado. Esta inclui a propagação sexuada (germinação de sementes) e a propagação assexuada (cultura de tecidos). A propagação de árvores, arbustos e herbáceas através da cultura de tecidos “in vitro” é um método rápido, viável e livre de doenças e viroses, sendo que as plântulas por crescerem a partir de células meristemáticas são geneticamente idênticas à planta original, isto permite a reprodução de híbridos estéreis. Esta técnica é também bastante vantajosa quando se deseja propagar e a quantidade de material vegetal disponível é limitada (como na propagação de plantas novas ou raras).No caso das plantas aquáticas é um método útil para certas espécies de Cryptocorynes e outras que possuem reproduções vegetativas bastante lentas. Esta técnica envolve retirar pequenas quantidades de tecido meristemático, que é depois desinfectado e inserido numa cultura gelatinosa de nutrientes sob estritas condições de esterilidade. Através desta técnica podem ser produzidas grandes quantidades de plantas num curto período de tempo. É um processo dispendioso aplicado apenas para casos comerciais (James, 1997).

Imagem

Fig. 1 - Ribeira da Foupana, Sotavento Algarvio (Abril de 2013)  Fonte: Autor
Fig. 2 - ETAP de Tenência, Sotavento Algarvio (Abril de 2013)  Fonte: Autor
Fig. 3 - Piscinas Municipais dos Olivais em extremo  estado de degradação
Fig. 8 - Produção de raízes nos caules de Althernanthera rosaefolia ‘Mini’
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Referências

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