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15 ABANDONANDO A PENA.doc

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Academic year: 2019

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15 – ABANDONANDO A PENA

A PENA AO CHUTE, longe de penalizar os chutadores, acaba por punir pessoas mais cautelosas, cumpridoras de regras e avessas ao chute. Pune as mulheres e beneficia os chutadores.

Na minha briga contra as injustiças dos concursos, recebo muitos elogios, agradecimentos e importantes reforços. O melhor que já recebi até hoje foi este:

Opa Sapoia,

Em primeiro gostaria de parabenizá-lo por sua série de vídeos publicados no YouTube, tratando da técnica do chute. Sou estudante de Química e já cheguei a prestar alguns concursos, obtendo resultados relativamente bons, boa parte das vezes. Quando olhei os vídeos, percebi que já utilizava alguns dos princípios expostos, intuitivamente.

No entanto, estou escrevendo para comentar sobre a parte menos intuitiva de seus conselhos, que várias pessoas chegaram até mesmo a atacar nos comentários dos vídeos, sobre a questão da eficiência do chute nas provas do CESPE.

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 Se por um lado a penalização de respostas incorretas não diminui a eficácia dos chutes, por outro ela cria uma divisão entre os examinados, entre aqueles que ficam com medo de marcar a alternativa errada deixando itens em branco, e aqueles que marcam mesmo diante da incerteza. O último grupo tende a se beneficiar. Deste modo, ao invés de fazer os resultados dos testes refletirem mais precisamente o conhecimento dos candidatos, a penalidade acaba fazendo com que os testes selecionem determinados tipos de personalidade e temperamento, neste caso, os mais dispostos a correrem riscos, o que não ajuda em nada o examinador a detectar os candidatos mais preparados.

 Já que a penalidade favorece alguns tipos de personalidade em detrimento de outros, pode acabar havendo discriminação de certos tipos de candidatos em relação a outros. Por exemplo, um dos artigos que encontrei cita claramente: "According to McGuire [11], the Royal College of General Practitioners in the UK discontinued negative marking many years ago when they demonstrated that it discriminated against female candidates because they tended to be more cautious with regard to guessing", isto é, essa instituição inglesa abandonou a prática de punir as respostas erradas, tendo em vista que tendia a ser discriminatória contra as mulheres, já que estas tem mais medo de chutar. Já pensou se isto ocorrer aqui no Brasil também? Será que o CESPE promove a discriminação contra as mulheres sem que ninguém perceba?

 Diante do temor de perder pontos, muitos candidatos deixam de assinalar questões mesmo quando têm o conhecimento necessário. Nesse caso a prova passa a atuar contra a finalidade que deveria originalmente buscar, e avalia menos corretamente o conhecimento dos candidatos.  Não punir o chute de certa forma permite ao examinador

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diferente. Punir respostas erradas só recompensa o conhecimento absoluto, mas o conhecimento absoluto é uma exceção na vida, temos que saber lidar com incertezas. Estes são apenas alguns dos argumentos contra a penalização de questões erradas, que tentei sumarizar. Estão anexados à mensagem dois artigos, de onde tirei estas conclusões, e espero que possam ser úteis para você, principalmente para rebater as críticas que vem recebendo com relação aos vídeos no YouTube, bem como na publicação de outros vídeos. Os artigos estão em inglês, mas são curtos e não fazem uso demasiado de jargão, são mais voltados para divulgação, ao que parece. Se você quiser ver estudos mais aprofundados e rigorosos, ambos têm uma boa lista de referências que podem servir como ponto de partida.

Boa sorte na publicação de seu livro, e abraço!

Kerick.

Abaixo um dos artigos a que o Kerick fez referência.

ABANDONANDO O CRITÉRIO “UMA ERRADA ANULA UMA CERTA”

O Diploma Europeu de Anestesiologia e Tratamento Intensivo foi criado em 1984. Ele amadureceu e se desenvolveu ao longo dos últimos 24 anos em um exame multi-lingüe que acontece em mais de 40 centros europeus. Consistem em 2 partes – Parte 1( exame principal) e parte 2 (exame final).

O principal exame é feito no formato de teste escrito de múltipla escolha. Falso e verdadeiro e Não sei são usados. Onde cada candidato pode marcar uma das 3 alternativas na folha-resposta na tela do computador. Se nenhuma das alternativas for marcada, Não Sei será considerada como resposta. O número de respostas corretas é contado e cada uma recebe +1 pontos. Da mesma forma, cada resposta incorreta recebe -1 ponto. A resposta “Não Sei” recebe 0 pontos. Subtraindo o número de respostas incorretas de respostas corretas temos a nota do candidato.

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Royal de física usou o método explicado acima (+1,-1 e 0) descrito pelo grupo de estudo da faculdade de Londres em 1967 e modificado em 1969. Esse método foi batizado de Fórmula de Pontuação definido pela formula:

S = R- W/(C – 1);

Onde S são os famigerados acertos por chutes: R: número de respostas corretas;

W: número de respostas incorretas e C: número de alternativas por item.

Esse sistema foi introduzido na tentativa de corrigir os chutes melhorando assim a validade e confiabilidade das notas. O método foi adotado por várias faculdades bem como pelo Diploma de Anestesiologia e Tratamento Intensivo. Existem vários estudos indicando que candidatos tenderam a responder “Não Sei” ou omitir os itens com maior possibilidade de acertos do que chances aleatórias de acertos e essa postura foi relacionadas com certas características de personalidade dos candidatos.

Hammond e companheiros estudaram candidatos que fizeram curso de revisão para pré-exame encorajando-os a tentar responder, com certo nível de certeza, cada item de acordo com 3 alternativas:

Positiva: candidato tem certeza da resposta;

Chute equilibrado: candidato sabe alguma coisa do assunto, mas não tem absoluta certeza;

Chute aleatório: candidato advinha aleatoriamente.

Nesse estudo, para questões atribuídas respostas positivas, os candidatos obtiveram 89.2% de acertos enquanto 75% dos chutes equilibrados e 65% de chutes aleatórios foram corretos. Os autores declararam que na visão deles, pode não haver a tal escolha do chute aleatório uma vez que os candidatos terão alguma experiência no assunto. Entretanto, com conhecimento limitado.

Como foi demonstrado neste estudo e em outros anteriores, A opção “Não Sei” pode cancelar um pequeno mais real resíduo de conhecimento. Na verdade, os candidatos estão mais propensos a acertos do que erros quando eles tem um certo nível de dúvida e no geral, esses candidatos têm melhor desempenho em exames se eles conhecem e usam o chute ao invés de escolherem a opção “Não Sei”.

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logo após uma prova e antes da prova ser recolhida, para voltar e marcar de vermelho as respostas em branco. Os dois modelos de provas foram então calculados. Dos 85 candidatos que concordaram em marcar de vermelho as respostas em branco, 62 conseguiram marcar pontos e 23 perderam pontos. Se o teste estatístico for aplicado, descobre-se que a probabilidade desse resultado deixado ao acaso sob a hipótese de chute é de 0,00002. O autor concluiu o seguinte: “Essa é uma evidência muito forte contra a hipótese que todos os alunos estão chutanto suas repostas na opção 'Não Sei'. A eliminação do “Não Sei” não causou nenhuma diferênça óbvia na classificação dos alunos e os 10 melhores e 10 piores permaneceram exatamente na mesma posição.

O que há de errado no critério “uma errada anula uma certa?”

Esse critério foi adotado para desestimular o candidato a chutar. Foi introduzida então a opção: “Não Sei”. Como foi mencionado acima, vários autores demonstraram que existe um risco da resposta “Não Sei” esconder conhecimento parcial, e até bons candidatos podem não estar dispostos a se submeter à uma resposta. Bliss descobriu que esse sistema tende a penalizar alunos mais preparados.

A decisão de omitir respostas é influenciada por características de personalidade. De acordo com McGuire, a faculdade de Genebra dos Clínicos Gerais no Reino Unido abandonaram o critério “uma errada anula uma certa” vários anos atrás, quando eles mostraram que esse sistema discriminava as candidatas mulheres porque elas tendem a ser mais cuidadosas com relação ao chute.

Os candidatos parecem interpretar as instruções para o chute de diferentes maneiras. Isso mostrou que a relutância dos candidatos em submeter-se a uma resposta em caso de dúvida é influenciada por instruções dadas antes da prova. Por exemplo, quando os examinadores escrevem: “a penalidade para o chute é rigorosa”, existe então uma clara preferência de omitir respostas.

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último grupo, seja por características culturais seja por pouca experiência em testes, adotaram uma estratégia menos inteligente e isto pode ter sido, em parte, o motivo do desempenho fraco”. O Diploma Europeu, como é um exame multi-cultural, pode muito bem pertencer a esse grupo.

Durante os exames do ano passado, Foi observado um alto índice de respostas omitidas (média de 25%). Esse alto índice de respostas omitidas afetou também as respostas diferenciadoras. Essas respostas foram definidas como “boas” no sentido de que elas tiveram um bom efeito em diferenciar entre os candidatos: bons, médios e fracos. Respostas diferenciadoras são usadas em vários exames (na verdade uma série delas) como um padrão de comparação dos candidatos em anos consecutivos. O fato de vários candidatos terem se resguardado de responder essas questões, pode afetar a validade do exame no tocante à decisão da nota mínima para aprovação.

O que se conclui?

Muiittijens e faculdades resumiram o dilema. Por um lado, profissionais da área médica não devem ser estimulados a chutar ao se depararem com pouco conhecimento, por outro lado, porém, na medicina o médico tem que tomar decisões com base em informações incompletas.

Se isso é, como entendemos, a alternativa entre conhecimento absoluto e conhecimento parcial, então a resposta "Não Sei" pode esconder conhecimento parcial. Assim, vale a pena mudar para um sistema que no qual abolimos "uma errada anula uma certa" e a opção “Não Sei”.

Se o propósito desse exame é classificar os alunos (como é o caso de muitos exames acadêmicos). Existe um pequeno mérito no sistema “uma errada anula uma certa” uma vez que a classificação não é afetada.

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decisão. A disponibilidade da opção “Não Sei” bem como penalidades rigorosas para dúvidas ou conhecimento parcial, simplesmente estimula somente conhecimento absoluto. Isso pode ser, a nosso ver, uma meta equivocada.

Levando em consideração todas as razões discutidas acima, o Comitê de Exames Da Sociedade Européia de Anestesiologia decidiu abolir " uma errada anula uma certa", e a opção " Não Sei" tanto para avaliações de treinamento interno como para exames da 1ª parte do Diploma de Anestesiologia e Tratamento Intensivo começando nos próximos exames de Outubro de 2008.

Fonte: European Journal of Anaesthesiology 2008; 25: 349–351

2008 Copyright European Society of Anaesthesiology

doi: 10.1017/S0265021508003876

Pesquisa: Kerick – e-mail: kerick.quimica@gmail.com

tradução: Eudilmir Maciel Maciel e-mail: dil-maciel@hotmail.com

Referências

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