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Essas reportagens são muito legais

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SBPJor - Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 5º ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO

Universidade Federal de Sergipe – 15 a 17 de novembro de 2007

Essas reportagens são muito legais! Por que?

Beatriz Becker Taisa Gamboa Viana

Resumo: Este trabalho pretende contribuir para a elaboração de referências teóricas que possam elucidar uma reflexão crítica sobre o telejornalismo de qualidade, buscando um olhar diferenciado sobre as reportagens audiovisuais que a tevê efetivamente produz e os telespectadores assistem cotidianamente, como expressivos produtos culturais da atualidade. O estudo reúne reflexão crítica e análise empírica e está inserido no recente debate sobre os parâmetros da televisão de qualidade, conceito que não oferece uma única abordagem, e propõe uma releitura dos critérios de noticiabilidade, assumindo que as investigações dos noticiários televisivos ainda focam prioritariamente este gênero narrativo apenas como um “ serviço” integrado a um sistema político, econômico e tecnológico, no qual se forjam as regras de produção e as condições de recepção.

Palavras-chave: telejornalismo, televisão de qualidade, agenda -setting, linguagem audiovisual, ensino de jornalismo

1. Introdução

Essas reportagens são muito legais! Essa única frase sintetizou o espírito de comoção de uma turma do sexto período de telejornalismo da Escola de Comunicação da UFRJ, quando foram exibidas algumas reportagens selecionadas para uma aula sobre telejornalismo de qualidade. Por que essas matérias e não a maioria dos vts exibidos todos os dias mobilizaram o grupo? Porque têm qualidade. Mas, o que é qualidade nos noticiários televisivos? Mais ou menos como televisão, futebol e política, todo mundo tem opinião, mas poucos conhecem. Ensinar o telejornalismo não é tarefa fácil, já sabemos que o conhecimento implica num conjunto de conteúdos teóricos e práticos que possam provocar o saber pensar e fazer o jornalismo. A leitura de textos preciosos sempre oferece férteis possibilidades de construção de conhecimentos. A prática de

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como aqueles gerados pela Escola de Frankfurt, nem sempre bem interpretados, de que o meio hegemônico estabelecido na segunda metade do século XX é o lixo intelectual do mundo e que jamais será um produto de vanguarda, como sustentou Bourdieu, ou aqueles entusiasticamente desenvolvidos a partir das contribuições de McLuhan e, posteriormente, por Wolton, de que a televisão é um instrumento de revolução sempre positivo para a sociedade. Ora, a televisão não é o mau, nem o bem, tampouco os telejornais são falsos ou verdadeiros. Apresentam temas restritos que ainda ficam obscuros ou abordagens tendenciosas que costumam padronizar a opinião pública e funcionam como árbitros de acesso não só à existência, mas a referência social e política. No entanto, são constituídos de discursos polifônicos, abertos a interpretação do espectador e podem ser instrumentos de conservação ou de mudança social. Uma das principais características da linguagem dos noticiários é garantir a verdade ao conteúdo do discurso e também a própria credibilidade do enunciador. Os textos provocam efeitos de realidade e se confundem com o real porque os personagens são reais e os fatos sociais são a “matéria-prima” da produção. São construídos na tênue fronteira entre a narrativa e o acontecimento e mediante seus dispositivos audiovisuais constituem-se no “espetáculo da atualidade”. Os enunciados dos telejornais têm a função de permitir que aquilo que se diz exista, e, por outro lado, dizer o que não existe. Critica-se que, deste modo, os telejornais estariam oferecendo uma visão distorcida do que se passa no Brasil e no mundo. No entanto, esta critica é mal fundamentada. Não deveríamos acreditar em tudo que os noticiários nos contam, até porque criamum mundo, e não o mundo. Cada edição é uma versão da realidade social cotidiana. Mas, o território simbólico dos telejornais reúne grupos sociais diversos que vivenciam essa realidade, partilhando uma experiência de nação ainda que as representações dos fatos sociais possam modelar os olhares sobre a atualidade. Por isso, é mais interessante, neste campo de investigação, perceber como estes discursos se constroem e produzem significações, até mesmo para denunciar ou relativizar os seus poderes; aprendendo a ler os textos jornalísticos audiovisuais e podendo refletir sobre a televisão do futuro, que nada mais será, segundo Machado, o que nós fizermos dela:

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que contra todos os obstáculos e a despeito de todas as estruturas e modelos, fazem a melhor televisão do mundo.”

Portanto, mãos à obra! Como sugerir um noticiário de melhor qualidade no Ensino do telejornalismo, para a produção e para a audiência, reafirmando a condição do jornalismo como forma de conhecimento e de distribuição de informações e valores que possam contribuir para a qualidade de vida da população? Quais são os critérios que identificam uma reportagem legal? Por que a turma de telejornalismo suspirou depois da exibição daquelas reportagens?

2. Dois conceitos em construção

Televisão de qualidade e, consequentemente, telejornal de qualidade não são questões de consenso. Estudos sobre o tema apontam definições distintas, muitos se referem a um aproveitamento técnico ou estético inovador da linguagem televisiva. Esses conceitos também são utilizados como foco de pequisas conjunturais de recepção para atender a estratégias de marketing. E ainda são compreendidos como vetores para a promoção da cidadania, da solidariedade,de interesses coletivos ou de grupos e de minorias excluídas, em detrimento do consumo, ou ainda numa outra abordagem, para estimular a diversidade, ou melhor , a oferta de diferentes experiências multiculturais.

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Nos Estados Unidos, a TV de qualidade constitui-se como tema de investigações acadêmicas relevantes no campo audiovisual, desde a segunda metade da década de 80. Thompson revela, em relação ao aspecto da diversidade, que uma produção televisiva de qualidade quebra determinadas regras discursivas e temáticas, transformando e misturando gêneros, inserindo novos pontos de vista nos fatos noticiados, e ampliando a quantidade e os diferentes tipos de personagens na construção de um drama ou de uma série.

E o que seria telejornalismo de qualidade? O Jornalismo é um instrumento importante para deliberação política. Num estudo de caso sobre a cobertura do Jornal Nacional nas eleições presidenciais de 2002, Porto afirma que a cobertura foi balanceada e justa, mas não incluiu a diversidade de vozes num tema controverso da campanha: a economia. Essa falta de diversidade restringiu as possibilidades de interpretação expostas ao eleitor, revelando que o processo de deliberação política ainda é caracterizado por pouca diversidade de acesso e enquadramentos.

Portanto, a promoção do valor da diversidade é relevante para a regulação democrática da mídia e para a qualidade do jornalismo no Brasil, na América Latina e em todo o mundo. A pesquisa acadêmica sugere que uma produção telejornalística de qualidade implica em diversidade de acesso e conteúdo. Mas, este conceito não está muito claro, demanda novas investigações.

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No caso da informação jornalística televisiva, a aplicação da hipótese da agenda– setting produz um efeito direto sobre os telespectadores, através da seleção e da hierarquia dos temas do dia, refletidas no “espelho”, ou seja, na lista das notícias escolhidas e na ordem em que vão ao ar em cada edição, com indicação do tempo dedicado a cada uma delas. Segundo Vilches, a importância e a prioridade das notícias na TV, associadas ao conceito de visibilidade, constituem um critério de análise importante, o da tematização - uma forma de seleção que promove a atenção e o interesse público sobre alguns temas e valores em detrimento de outros, o qual será adotado em função do interesse deste trabalho. Não podemos deixar de enfatizar que a lógica da produção está diretamente relacionada ao padrão do mercado e às rotinas produtivas. Mesmo assim, a definição de notícia ainda é problemática, porque também envolve o ethos jornalístico e a cultura profissional. Partimos do pressuposto, de acordo com Vizeu, de que a notícia é simultaneamente um registro da realidade social e um produto dela, e que as características de cada meio influem na estruturação das notícias.

Observamos nesse estudo a importância social, política e cultural de uma informação jornalística e, por isso, destacamos o valor do processo de seleção das notícias.

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entanto, como sugere Herreros, estes critérios foram criados em época de demandas sociais e contextos históricos diferenciados e precisam ser atualizados, ou melhor, sintonizados com a contemporaneidade.

Em busca da construção de referências teóricas para a promoção de um telejornalismo de qualidade, sistematizadas a partir de investigações e reflexões anteriores sobre as características narrativas dos telejornais e seus efeitos de sentidos, sobre a função social dos noticiários, suas estratégias enunciativas e os seus modos de interação com a audiência, já observamos que o telejornalismo de qualidade pode ser observado nas situações em que "representa a pluralidade de interpretações e a diversidade de temas e atores sociais, quando imaginamos que existem novas elaborações e outros modos de construir sentidos sobre o mundo cotidiano na tela da TV, quando aprendemos a pensar com imagens, e experimentamos novas poéticas audiovisuais, revestindo o habitual de novos estímulos e significados." Ainda assim, foi necessário avançar nestas referências e realizar uma releitura dos critérios de noticibialidade, compreendendo, conforme explica Machado que a as exigências de mercado e os contextos industriais, não inviabilizam necessariamente a criação artística, ao contrário, a arte de cada época é feito com os meios, os recursos e as demandas dessa época e no interior dos modelos econômicos e institucionais nela vigentes, assim como o jornalismo de qualidade.

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1. Nova Pedagogia da Informação - O desenvolvimento tecnológico e a experiências sociais reivindicam outros enfoques, tratamentos, seleções e exposições da informação noticiosa que chamamos aqui de nova pedagogia da informação jornalística: as diferentes comunidades vêm exigindo uma maior qualidade da informação, através da sensibilização e educação dos cidadãos, capazes de refletir os trabalhos e os desejos de diferentes grupos sociais. Hoje, é necessário incorporar a função de responsabilidade social que prime pela educação permanente da sociedade, ampliando o enfoque informativo e a defesa do cidadão. Aliás, os noticiários locais procuram estabelecer uma relação de cumplicidade com telespectadores na defesa dos direitos da sociedade civil, e buscando soluções para problemas relacionados à falta de qualidade e a oportunidade de melhores condições de vida, tendem a esvaziar o lugar dos governos municipais e estaduais frente ao poder “supra-institucional” das emissoras de TV, valorizando a sua própria dimensão e função social. A aplicação de uma nova pedagogia da informação permitiria à audiência realizar uma leitura mais crítica dos textos audiovisuais e selecionar programas jornalísticos de conteúdos mais adequados às suas necessidades e expectativas.

2. Pluralidade de conteúdos e diversidade de fontes e representações de grupos sociais - Há pluralidade quando a cobertura jornalística de um jornal local ou nacional representa a pluralidade de interpretações e a multiplicidade de atores sociais. Para tal, na elaboração das pautas, é preciso estabelecer uma nova hierarquia de valores em sintonia com o interesse público, valorizando menos a agenda oficial e o próprio julgamento dos produtores sobre as demandas sociais, não temendo desmentidos, mantendo independência política e buscando fontes diversas. Também é imprescindível, na apuração e na construção das notícias, reinventar as maneiras de abordar os fatos sociais, cruzando informações e dados, criando relações entre aspectos locais, nacionais e globais nos relatos para promover a cidadania, abrindo regularmente espaço para vozes de diferentes personagens.

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planos e enquadramentos que também produzem determinadas representações, em detrimento de outros; a imagem em movimento é um texto carregado de múltiplos sentidos. Os modos de relacionar imagem e texto verbal formam diferentes discursos e sentidos por causa dos fragmentos audiovisuais selecionados e organizados numa narrativa lógica e cronológica, independente das intenções subjetivas de quem produz as notícias, como o jogo dos planos e a duração das mesmas. É importante lembrar que a manipulação é uma operação textual e visual e se realiza em todo ato comunicativo porque pressupõe o uso de uma linguagem, devendo ser desassociada de características perversas, quando estabelecemos recortes e escolhas a partir de um repertório político, econômico e cultural. Propomos novos usos e elaborações da linguagem audiovisual e outros modos de construir sentidos sobre o mundo cotidiano na tela da TV, buscando enquadramentos e pontos de vista diferenciados e movimentos de câmera e planos singulares e originais na captação de imagens. Quando aprendemos a pensar com as imagens e experimentamos novas poéticas audiovisuais efetivamente revestimos o habitual de novos estímulos e significados.

4. Interatividade- No Brasil, se faz necessária, nesse momento, uma atitude mais expressiva da sociedade civil que já começa a se organizar em busca dos seus direitos, mesmo que de forma ainda incipiente, considerando que a TV deve ser utilizada, como um veículo prestador de serviços de informação e entretenimento à sociedade brasileira. O contato que a audiência tem com os jornalistas durante a produção do telejornal, porém, é praticamente inexistente; existem apenas pequenas interações em bate-papos, ou através de e-mail e telefone. O sucesso dos telejornais locais depende, hoje em dia, de um investimento na comunicação comunitária, possibilitando a inclusão dos mais diversos grupos, até os minoritários, na narrativa telejornalística, gerando relatos diferenciados sobre a realidade social cotidiana, novos modos de contar histórias e novos usos das tecnologias disponíveis. A interatividade nos noticiários poderia ser implantada através de novos núcleos de produção audiovisual comunitários, que funcionassem como “correspondentes locais”. Entendemos que esse processo só poderá alcançar resultados através de uma negociação de interesses entre as emissoras, a população e os governos.

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Decidimos aplicar estes critérios na análise de reportagens classificadas na 51ª edição de um dos mais destacados prêmios de jornalismo - o Prêmio Esso, consideradas pela comissão julgadora como algumas das melhores reportagens exibidas em todo o país durante o ano de 2006, verificando a pertinência dos critérios adotados e os resultados alcançados. Consideramos importante selecionar, pelo menos, uma matéria exibida por cada uma das grandes emissoras de televisão, e, ao mesmo tempo, aquelas capazes de refletir as diversidades regionais do Brasil. Utilizamos as reportagens classificadas no Prêmio ESSO, pois se trata de um dos mais importantes e tradicionais concursos de jornalismo do país, reconhecendo, há mais de 50 anos, o mérito dos profissionais de imprensa escrita, e, desde 2001, distinguindo também o melhor trabalho de jornalismo em televisão, através da indicação e escolha dos melhores trabalhos exibidos em veículos nacionais, segundo o julgamento de grupos independentes formados exclusivamente por jornalistas e especialistas da área de Comunicação. Foram selecionadas as seguintes matérias da edição 2006 do Prêmio ESSO de Telejornalismo, apresentadas no IV Seminário de Telejornalismo, promovido pelo IETV:

A Farra dos Vereadores Turistas - RBSTV/Globo – Repórter Giovani Grizotti. A Reportagem denunciou um grupo de vereadores do sul do Brasil que fazia turismo com dinheiro público. Ao invés de participar de cursos de qualificação em Balneário Camboriu, em Santa Catariana e em Foz do Iguaçu, no Paraná, eles aproveitavam o tempo para tomar banhos de mar, fazer compras e visitar lugares turísticos nessas cidades. Para comprovar a fraude, o repórter se fez passar por vereador, fazendo amizades com os políticos e até se divertindo com eles, sempre carregando uma câmera escondida.

Madeireiros de Rondônia – Jornal da Record – Repórter: André Rohde. A série especial de quatro reportagens do Jornal da Record revelou os estragos provocados pela extração ilegal de madeira, retirada de reservas ambientais no interior do estado de Rondônia. Durante uma semana, a equipe acompanhou com exclusividade a Operação Rondônia Legal, coordenada pelo Ibama, com o apoio de policiais e militares do exército. Imagens impressionantes da devastação em plena Floresta Amazônica.

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Por motivo de segurança, as imagens foram feitas com uma micro-câmera. Apesar dos protestos constantes de ONGs de proteção aos animais, a farra continua sendo realizada em mais de 30 comunidades do litoral catarinense.

Yawanawa/Espiritualidade – TV Aldeia/TV Cultura/Acre – Repórteres: Leandro Altheman e Josemir Melo. Os Yawanawa são um povo indígena que mora na aldeia Nova Esperança, em Tarauacá. Os Yawanawa se mantiveram unidos dentro de sua organização tradicional e por muitos anos lutaram para que seus direitos a terra e sua cultura fossem reconhecidos e respeitados. Suas manifestações culturais e espirituais foram preservadas graças a um novo modelo de organização, através de cultos cotidianos ensinados pelos pajés a toda a tribo. O repórter foi até a aldeia para vivenciar e expor um pouco do que é a rica cultura dos Yawanawa, que tanto influencia os costumes da população do Acre, introduzindo diferentes atores sociais na narrativa jornalística.

Ocupação Morro da Providência – Jornal Notícias do Rio/TVE – Repórter: Paulo Garritano. A TVE obteve desde as primeiras horas do dia a informação de uma ocupação do Exército no Morro da Providência no Centro do Rio de Janeiro em busca de fuzis furtados. Na mesma manhã, um outro tiroteio acontecia no Morro Santo Amaro, na zona sul da cidade, mobilizando equipes de reportagem.Pela proximidade da emissora (que fica no centro da cidade), a TVE decidiu enviar a equipe para a Providência, conseguindo chegar a tempo de fazer imagens exclusivas e que acabaram sendo cedidas para todas as emissoras e agências internacionais de notícias.

Prostituição Infantil – Domingo Espetacular/Record. A reportagem faz uma investigação e denuncia a prostituição infantil e o abuso sexual praticado por vereadores de Patajó/PA. Mostra o drama das crianças e jovens envolvidos antes, durante e depois de passar por esse tipo de experiência e a posição de sua família e dos acusados.

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Jequitinhonha, O Vale da Saudade – EPTV/Globo – Repórter: Dirceu Martins. É uma série de quatro reportagens veiculadas no Jornal Regional da Rede EPTV sobre a vida em uma das regiões mais pobres de Minas Gerais, após a saída de milhares de migrantes que procuram trabalho no corte de cana, principalmente no interior do estado de São Paulo. Os migrantes deixam o vale sob o designio da saudade de seus parentes, da precariedade financeira, da espera às vezes interminável, da dor da separação, não raro, definitiva.

Mulas, Caminho Sem Volta – Jornal da Record/Record – Repórter: Paulo Panayotis.“Mulas” é o termo utilizado para designar pessoas que transportam drogas no interior de seu próprio corpo de um país a outro. A série mostra como essas pessoas são aliciadas, porque e por quem; como eles aprendem a ingerir a droga; o translado e a chegada ao destino. O repórter fez uma investigação paralela e conjunta com a polícia e conseguiu apresentar todas as versões envolvidas no crime e o drama das famílias das “mulas”.

Aplicamos na análise das narrativas dessas reportagens os critérios de noticiabilidade e os parâmetros aqui apresentados que norteiam um material jornalístico audiovisual de qualidade, investigando, especialmente, o processo televisual trabalhado em cada reportagem. Apresentamos, a seguir, os resultados alcançados.

4. Considerações finais

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tradicional de apresentação de notícias do gênero, privilegiando a apresentação do âncora, seguida de um VT formado pelosoffs do repórter, algumas poucas “passagens”, e sonoras com os entrevistados. No entanto, são inseridos, com regularidade e de modo equilibrado, infográficos e videografismos.Na apresentação destas matérias , os âncoras se posicionam, de alguma forma, em relação ao tema abordado na matéria, seja para ratificar algum ponto levantado na reportagem, para reforçar detalhes não explorados, ou para evidenciar o posicionamento da emissora em relação ao assunto em questão. Os repórteres, ao contrário, na maioria das vezes, procuram atuar de forma imparcial, embora valorizem o fator emocional em algumas matérias.

Percebe-se que todas essas reportagens utilizam critérios de noticiabilidade distintos, mas pode-se dizer que a busca por boas imagens e sons prevalece, apontando uma constante preocupação com a qualidade técnica por parte da produção dos noticiários, assim como a observação atenta da repercussão que os fatos apresentados têm sobre os interesses do país e da audiência, resultando na atenção da audiência à matéria apresentada. A proximidade da emissora com o local onde são feitas as gravações, a quantidade de atores sociais envolvidos na reportagem e o grau de conflitos que o tema gera na sociedade são outros critérios de noticiabilidade percebidos nessa investigação, embora em menor escala.

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identificado durante a análise das matérias, que lhes proporcionaram destaque em cada uma das edições dos telejornais onde foram veiculadas.

A pluralidade de conteúdos e a diversidade de fontes também foi uma constante em todos os VTs observados. As reportagens analisadas concederam espaço tanto para os comentários de representantes da população quanto para as opiniões de especialistas. Os diferentes personagens foram apresentados em posturas diferenciadas, ora como vítimas, ora como críticos, mas muitos depoimentos serviram apenas para endossar o off do repórter, e pouco contribuíram para aprofundar os conteúdos; revelando uma tentativa de ampliar a participação da população na produção dos noticiários, ainda que de forma pouco expressiva. Além disso, o governo e seus representantes ganharam pouco espaço em quase todas as matérias analisadas, o que pode ter sido uma escolha voluntária da equipe do noticiário. Essas fontes poderiam ter sido mais bem exploradas, esclarecendo dúvidas da população sobre o tema trabalhado.

As reportagens analisadas atenderam à maioria dos critérios de noticiabilidade e aos parâmetros apresentados para elucidar o telejornalismo de qualidade, que permitiram produzir uma investigação consistente, com exceção de um critério-chave para a avaliação: a interatividade, a qual só seria possível, através do aproveitamento adequado das novas tecnologias para ampliar a interação com o telespectador, como raramente acontece quando são disponibilizados bate-papos on-line; telefones para contato e denúncias; mensagens de celular; e possibilidade de envio para a produção do telejornal e de exibição nos noticiários de conteúdos jornalísticos, sejam audiovisuais ou apenas verbais. Esta observação nos remeterá a uma outra questão que ainda será trabalhada na pesquisa em andamento, na qual este artigo está inserido: de que modo as novas tecnologias podem ser utilizadas para a promoção de um jornalismo audiovisual de qualidade?

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