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Psicol. Soc. vol.19 número especial 2

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Academic year: 2018

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Psicologia & Sociedade; 19, Edição Especial 2: 3-6, 2007

A PSICÓLOGA DA AÇÃO POLÍTICA

Nem toda vida pode ser comemorada ou celebrada com afeto, carinho, admiração e vontade de continuar seu legado, só a daqueles que foram protagonistas de uma vida digna e livre, compartilhada generosamente, como o foi a vida de Sílvia Lane.

Cada um de nós que se interessa pela psicologia so-cial brasileira teve uma história com Sílvia, um momen-to, um texmomen-to, um instante, uma frase que afetou o cora-ção, potencializando a alma e o corpo, porque sua sabe-doria era toda sentimento e emoção, aliada à firmeza de idéias e determinação na intencionalidade política. Seu sorriso comunicativo, contagiante, convidava ao diálo-go; acreditava na competência dos colegas, dos alunos e na importância da psicologia brasileira, pela qual era apaixonada, e no papel da sua universidade (PUC-SP), onde trabalhou até os últimos dias de sua vida.

A psicóloga da ação política não só criou um corpo teórico-metodológico, mas tirou a psicologia social bra-sileira do anonimato internacional, dando-lhe visibilida-de. Seu sólido conjunto de idéias é hoje conhecido fora do Brasil como Escola Crítica de São Paulo, louvada, junto com a Psicologia da Libertação de Martin-Baró, como centralidade da psicologia latino-americana, pen-samento ativo de resistência às ditaduras que grassaram neste continente nas décadas de 70 e 80. Seus textos são referências obrigatórias em boa parte dos países de lín-gua espanhola e no Brasil, tanto que, em julho de 2001, durante o XXVII Congresso Interamericano de Psico-logia, a mestra foi agraciada com o prêmio outorgado pela SIP – Sociedade Interamericana de Psicologia, aos pesquisadores que mais contribuíram à Psicologia Lati-no-Americana.

O que é igualmente importante, Sílvia viveu em total acordo com os valores éticos presentes em sua teoria: dignidade pessoal, compaixão e amizade nas relações, uma vocação ética indestrutível, independência de pen-samento, compromisso social e intransigência com in-justiças. Por tudo isso, foi tão admirada em vida, uma admiração que atravessa gerações de psicólogos. Nos encontros científicos, era assediada por jovens estudan-tes emocionados, querendo tirar fotos ao seu lado e ob-ter sua dedicatória. Muitos iam aos eventos apenas para conhecê-la e ouvi-la.

Carismática, empolgava o auditório com suas aulas e palestras, que acabavam por se tornar lugares de criação coletiva, em que cada um podia refletir a respeito de si e do outro, enquanto se discutia psicologia, filosofia e po-lítica, e se deixar afetar pelo prazer que Sílvia sentia por estar com estudantes e pesquisadores. Este é o “Estilo Laneano”, uma forma de vibrar em comum, de ser afe-tado por uma presença transformadora, potencializadora.

Quem conviveu com Sílvia tem o dever de fazer com que esses momentos se multipliquem, mesmo sem a sua presença física, e que sejam compartilhados com a soli-dariedade, amizade e também com o poder de indigna-ção sem rancor, que ela nos ensinou sentir.

Sílvia Tatiana Maurer Lane, nascida em 1930, fale-ceu em 29 de abril de 2006. A ABRAPSO, associação fundada por ela e por colegas que comungavam a vonta-de vonta-de construir uma psicologia social voltada à realidavonta-de brasileira, foi presidida por Sílvia, se não efetivamente, sempre no pensamento de cada um de seus sócios. As-sim, não poderíamos deixar de manifestar o sentimento de respeito por esta grande mestra da psicologia social brasileira, que formou toda uma geração de pesquisado-res, professores e psicólogos que passaram a ver a psico-logia e suas possibilidades de atuação sempre vincula-das à nossa realidade.

Este número especial da revista Psicologia & Socie-dade, periódico da ABRAPSO, pretende que a homena-gem à Sílvia Lane seja uma comemoração ao estilo laneano, o que significa rememorar idéias, teorias, e fatos do cotidiano, para que mais pessoas possam ser afetadas por eles e os levem adiante, não como cópia e sim como inspiração, superando idéias e sempre criando outras para reafirmar a essência ética em relação à qual Sílvia era intransigente. Compõe-se de três partes que, interligadas, visam apresentar a guerreira na vida coti-diana e profissional, a pesquisadora de tempo integral, compromissada com a ciência e a ética, a artista em bus-ca do belo.

Na primeira parte encontram-se depoimentos atra-vés dos quais se podem conhecer as nuances mais im-portantes do modo de ser e estar no mundo de Sílvia, seja através de sua própria fala, seja através das pessoas que com ela conviveram: alunos e colegas, testemu-nhando seu modo de ser como docente, e sua ação de permanente militância. Na segunda parte estão artigos que refletem e sistematizam a sua teoria. Finalmente, a terceira parte agrupa textos que utilizam seu referencial. Esperamos que este tributo à memória de Sílvia pro-picie reminiscências de seu trabalho e de sua vida a to-dos os que com ela conviveram e permita que outros a conheçam e compartilhem de seu exemplo.

Bader Burihan Sawaia, Maria Helena Coelho

e Ana Maria Jacó-Vilela

Referências

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