UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A GESTÃO
AMBIENTAL DA ARIE PARQUE JUSCELINO KUBITSCHEK - DF
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação “Stricto Sensu” em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito para a obtenção do Título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental.
Orientador: Professor Ph.D Antônio José Andrade Rocha
Ficha elaborada pela Coordenação de Processamento do Acervo SIBI – UCB. 14/03/07
D234c Dato, Jackeline dos Santos
Uma contribuição para a gestão ambiental da ARIE Parque Juscelino Kubitschek/ Jackeline dos Santos Dato. – 2006.
108 f.: il. ; 30 cm.
Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília,
2006.
Dissertação defendida e aprovada como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental, defendida e aprovada, em 14 de Dezembro de 2006, pela banca examinadora constituída por:
______________________________________ Ph.D Antônio José Andrade Rocha
______________________________________ Dr. Mário Diniz de Araújo Neto
______________________________________ Dr. Paulo Jorge Rosa Carneiro
À minha família que sempre me incentiva na busca de caminhos desafiantes e engrandecedores nesta viagem, que se chama vida.
Ao Criador do Universo por todas as bênçãos a mim ofertadas.
A minha família, por todos os preciosos ensinamentos que me foram passados com tanto amor, ao longo dos meus anos, e pela carinhosa compreensão nos momentos de impaciência e ausência.
Ao meu querido Orientador e amigo, Professor Dr. Antônio José Andrade Rocha, que é uma pessoa especial, ser humano admirável e um competente profissional. Merecedor de meus sinceros e profundos agradecimentos por toda dedicação e paciência dados a mim.
Ao meu namorado Roquílmer, pelo seu especial carinho, sua singela dedicação e pelos momentos ímpares de companheirismo tão importantes ao longo desta caminhada.
A minha estimada amiga e colega Tânia, por todos os preciosos momentos de convívio com sua carinhosa contribuição intelectual e espiritual.
Aos meus amigos e colegas, Kalley, Tatyana e Wender, pelo companheirismo e pelos momentos especiais que juntos vivemos.
Ao meu colega Leonardo pelos afetuosos incentivos e por seus exemplos de fascinante bravura frente a situações difíceis.
Ao Professor Paulo Carneiro, sempre tão solícito, por suas preciosas contribuições e oportunidades a mim oferecidas.
A todos os professores da Pós-Graduação em Planejamento e Gestão Ambiental da UCB pelos conhecimentos e sabedorias compartilhados. Aos meus colegas de Mestrado da turma de 2004 pelos ricos momentos de aprendizagem em conjunto.
Ao Professor Mário Diniz (UnB) por suas contribuições na elaboração desta pesquisa.
Ao meu colega Frederico Cabral de Menezes e ao Professor Dr. Laércio Leonel Leite por suas preciosas ajudas na estruturação metodológica do presente trabalho.
À Escola da Natureza e sua equipe pelo apoio e compreensão recebidos durante todo o tempo em que fui mestranda.
À Lorena e Eni, secretárias desta Pós-Graduação, pelos eficientes serviços a mim prestados como aluna do Mestrado.
À Comparques por sua importante colaboração no pronto fornecimento de documentos pertinentes ao trabalho, bem como a todas as outras instituições colaboradoras.
“Considero abençoados aqueles a quem, por graça dos Deuses, foi concedido fazerem coisas dignas de serem escritas ou escreverem coisas dignas de serem lidas, mas considero mais abençoados aqueles a quem foram concedidas ambas as coisas.”
Nos últimos anos, em virtude do crescimento populacional e da intensificação das atividades econômicas nos setores agropecuário, industrial e de serviços no Distrito Federal, verificou-se uma forte pressão antrópica sobre os recursos naturais, colocando em risco o uso sustentável dos solos, da água, da fauna e da flora regionais. Levando-se em conta tais conflitos de ordem sócio-ambiental, os instrumentos políticos e econômicos, bem como o arcabouço legal pertinentes à Área de Relevante Interesse Ecológico Parque Juscelino Kubitschek - Distrito Federal (ARIE Parque JK - DF), o presente trabalho investigou de maneira detalhada a problemática apresentada. Visando atingir os objetivos propostos, os métodos utilizados fundamentaram-se na premissa legal de que uma Unidade de Conservação, do tipo ARIE, deve ser planejada e gerenciada de forma a manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza. Para tanto, a aplicação da metodologia PER (pressão-estado-resposta), proposta pela OECD (1993), permitiu a construção de índices que estabeleceram um vínculo lógico entre os diversos indicadores ambientais selecionados para fornecer subsídios, que possibilitaram a proposição de ações de gestão ambiental integrada para a ARIE Parque JK compatíveis com uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável.
Lately, through the population growth and economical activity intensification, within services, industrial and agriculture/cattle raising areas of the Federal District, a strong anthropic pressure over natural resources has been verified, putting in risk the sustainable uses of soil, water, flora and fauna. Taking into account such socio-environmental conflicts, the political and economical instruments and the legal frame pertaining to the Relevant Ecological Interest Area Juscelino Kubtischek Park (ARIE Parque JK – DF), this work investigates in a detailed way presented problems. Towards the proposed goals, the methods used were based on the legal propositions that a Conservation Unit, of the ARIE type, should be planned and managed in such way as to keep the natural ecosystems of regional or local importance, and regulate the admissible uses of these areas, in order to make them compatible with the aims of nature conservation. The PER methodology (Pressure/state/response), proposed by the OCDE (1993), permitted to establish indexes creating a logical link between the various environmental parameters selected to subsidy proposals of integrated environment management actions for the ARIE Park JK compatible with a Use-Sustainable Conservation Unit.
RESUMO ...vi
ABSTRACT ...vii
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ...ix
LISTA DE FIGURAS ...xi
LISTA DE TABELAS ...xiii
LISTA DE ANEXOS ...xiv
1. INTRODUÇÃO... 15
2. OBJETIVOS DA PESQUISA ... 33
2.1 Objetivo Geral ... 33
2.2 Objetivos Específicos ... 33
3. MARCO CONCEITUAL ... 34
4. ÁREA DE ESTUDO ... 46
4.1 Localização... 46
4.2 Caracterização ... 47
4.2.1 Meio Físico ... 48
4.2.2 Meio Biótico ... 54
4.2.2.1 Vegetação ... 54
4.2.2.2 Fauna ... 57
4.2.2.3 Descrição das Paisagens ... 58
4.2.3 Meio Sócio-Econômico ... 60
5. METODOLOGIA... 63
5.1 Pesquisa Bibliográfica ... 63
5.2 Pesquisa de Campo... 63
5.3 Pesquisa Documental... 64
5.4 Entrevistas Semi-estruturadas ... 64
5.5 Metodologia: PER (Pressão-Estado-Resposta) ... 65
5.5.1 Seleção e classificação dos indicadores... 66
5.5.2 Formulação de escala de avaliação e ponderação dos indicadores ... 69
5.5.3 Construção dos Índices... 72
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 75
7. CONCLUSÃO... 98
8. RECOMENDAÇÕES... 102
ADE Área de Desenvolvimento Econômico Oeste
APP Área de Preservação Permanente
APRONTAG Associação dos Produtores do Núcleo Rural de Taguatinga
ARIE Parque JK Área de Relevante Interesse Ecológico Parque Juscelino Kubitschek
ARIE Área de Relevante Interesse Ecológico
ARR Área Rural Remanescente
CAESB Companhia de Saneamento Ambiental de Brasília
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CO Monóxido de Carbono
CODEPLAN Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central
Comparques Secretaria de Administração de Parques e Unidades de Conservação
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
DER-DF Departamento de Estradas e Rodagem do Distrito Federal
DF Distrito Federal
E Estado
ETE Estação de Tratamento de Esgoto
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
GO Goiás
GTZ Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IEMA Instituto Estadual de Meio Ambiente
MG Minas Gerais
NOVACAP Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil
NOx Óxido de Nitrogênio
NR Núcleo Rural
NRT Núcleo Rural de Taguatinga
OECD Organisation for Economic Co-Operation and Development
P Pressão
PDL Plano de Desenvolvimento Local
PDOT Plano Diretor de Ordenamento Territorial
PER Pressão - Estado – Resposta
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PPA Plano Plurianual
PSR pressure, state and response
R Resposta
RA(s) Região(ões) Administrativa(s)
RIDE Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno
SEDUH Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação
SEMARH Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
SIMBIO Sistema de Monitoramento da Biodiversidade nas Unidades de
Conservação
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
TCU Tribunal de Contas da União
TERRACAP Companhia Imobiliária de Brasília
U.M. Unidades de Medida
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Núcleo Rural Taguatinga Tamanho Original. Sem Escala... 16
Figura 02: Vista aérea na direção SW-NE do Parque Boca da Mata. Ao fundo Taguatinga Sul. ... 19
Figura 03: Vista aérea do Parque Boca da Mata com seus campos de murundus. Observar a queimada na parte superior da figura. ... 19
Figura 04: Entrada do Parque Ecológico Três Meninas. ... 20
Figura 05: Vista da entrada da Administração do Parque Três meninas. ... 20
Figura 06: Vista aérea do Parque Saburo Onoyama. Na parte superior da figura, a cidade de Samambaia. ... 21
Figura 07: Vista parcial da área de lazer do Parque Vivencial Saburo Onoyama. ... 21
Figura 08: Vista parcial do Parque Ecológico Gatumé, mostrando a declividade do terreno. No fundo da paisagem pode-se ver os tanques da Estação de Tratamento de Esgoto Samambaia. ... 22
Figura 09: Vista parcial do Parque Ecológico Gatumé e pequena propriedade rural ao fundo. ... 23
Figura 10: Vista aérea na direção N-S do Parque Cortado. ... 24
Figura 11: Vista aérea na direção W-E do Parque Cortado, com Taguatinga Norte ao fundo, evidenciando a FACITA e o SESI. ... 24
Figura 12: Vista parcial de área antropizada no Parque Metropolitano. Ao fundo a RA de Samambaia. ... 25
Figura 13: Área do Parque Metropolitano limítrofe com a linha do metrô em Ceilândia... 25
Figura 14: Área de desenvolvimento econômico (ADE) no setor P-Sul de Ceilândia... 27
Figura 15: Vista parcial da ADE (à direita), do Parque Metropolitano (à esquerda) e a RA de Samambaia ao fundo. ... 27
Figura 16: Adaptado da estrutura conceitual do modelo PER da OECD. ... 41
Figura 17: Ilustração das regiões do Distrito Federal com a localização da área de estudo e imagem de satélite da ARIE Parque JK com sua poligonal provisória. ... 47
Figura 18: Tipos de solos presentes na ARIE Parque JK. ... 51
Figura 19: Ilustração com a localização dos pontos de lançamento de esgoto e do sistema Melchior... 52
Figura 20: Vegetação e Uso do Solo na ARIE Parque JK. ... 56
Figura 21: Setor de oficinas de Taguatinga Sul. ... 77
Figura 22: Fábrica de embutidos no interior da ARIE, chácara 86. ... 77
Figura 24: Lançamento de esgoto a céu aberto no ribeirão Taguatinga (Esgoto de Taguatinga e Ceilândia). ... 80
Figura 25: Raspadores com ponta e mossa, em calcedônia e quartzo hialino do sítio
pré-cerâmico DF - PA 11: Taguatinga. ... 81
Figura 26: Condomínio Pôr-do-Sol (resultado de parcelamentos irregulares), ao fundo,
instalado em zona de amortecimento... 82
Figura 27: Processo erosivo avançado dentro do Parque Gatumé... 82
Figura 28: Barracos e princípio de favelização próximo ao terminal rodoviário de Ceilândia. ... 82
Figuras 29: Nascente do Parque Boca da Mata que fica no quintal de chácara instalada dentro do Parque. ... 84
Figuras 30: Área inundada em solo pouco impermeável em chácara dentro do Parque Boca da Mata . ... 84
Figura 31: Cultivo orgânico de morangos na Chácara Geranium dentro da ARIE Parque JK. 88
Figura 32: Área de cultivo misto, fundamentado nos princípios da agrofloresta, localizado na Chácara Geranium. ... 88
Figura 33: Entulho de obras e lixo residencial despejados ao lado da cerca do Parque Boca da Mata, com destaque para a placa do GDF. ... 90
Figura 34: Descarte de resíduos de fábricas madeireiras dentro da área do Parque
Metropolitano, em local próximo à ADE de Ceilândia. ... 90
Figura 35: Lixo residencial amontoado e jogado dentro do Parque Gatumé. ... 90
Figura 36: Flagra de descarte de entulho de obras de engenharia em área limítrofe a ARIE Parque JK, no setor P-Sul - Ceilândia. ... 90
Figura 37: Camada de lodo e algas a jusante do Rio Melchior. ... 91
Figura 38: Margem do Ribeirão Taguatinga, sob a ponte que liga o NRT à Ceilândia, durante as obras de contenção das margens, a fim de evitar maiores desbarrancamentos na época das chuvas. ... 93
Tabela 01: Aspectos Sócio-Econômicos das Regiões Administrativas de Taguatinga, Ceilândia
e Samambaia... 61
Tabela 02: Indicadores de Pressão... 67
Tabela 03: Indicadores de Estado ... 68
Tabela 04: Indicadores de Resposta... 69
Tabela 05: Escala de avaliação ...70
Tabela 06: Ponderação dos indicadores de pressão ... 70
Tabela 07: Ponderação dos indicadores de estado... 71
Tabela 08: Ponderação dos indicadores de resposta ... 72
Tabela 09: Enquadramento dos índices de pressão, estado e resposta. ... 73
Tabela 10: Índice de Pressão ... 75
Tabela 11: Índice de Estado ... 85
ANEXO A: Poligonal dos parques ecológicos e de uso múltiplo da ARIE Parque JK
ANEXO B: Poligonal da ARIE Parque JK e Bacia do Ribeirão Taguatinga e parte da APA do Planalto Central
ANEXO C: Mapa de Zoneamento
ANEXO D: Mapa de Pedologia
ANEXO E: Mapa de Recursos Hídricos
ANEXO F: Vegetação e uso do solo - avaliação multitemporal
ANEXO G: Potenciais corredores ecológicos da ARIE Parque JK.
ANEXO H: Área proposta para a construção da via de ligação entre Samambaia e Ceilândia.
ANEXO I: Localização do anel viário (corredor de atividades).
ANEXO J: Mapa de Infra-estrutura da ARIE Parque JK.
1.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, em virtude do crescimento populacional e da intensificação das
atividades econômicas nos setores agropecuário, industrial e de serviços no Distrito Federal,
verifica-se uma forte pressão antrópica sobre os recursos naturais, colocando em risco o uso
sustentável dos solos, da água, da fauna e da flora regionais.
Hoje já se afiguram situações de conflitos ambientais quanto à ocupação do solo e uso
dos recursos hídricos em todas as principais Bacias Hidrográficas do Distrito Federal, a
exemplo da Bacia do Rio Descoberto (DF). Nesta Bacia se localiza o maior reservatório de
água - manancial de abastecimento público de mais de um milhão de pessoas, na qual há
urgente necessidade de disciplinamento do uso do solo e do tratamento de esgotos dos novos
núcleos urbanos surgidos nos últimos anos. Na área rural, o monitoramento e controle do uso
de agrotóxicos e a racionalização dos processos de irrigação, visando garantir a preservação
da qualidade e da quantidade de água, são medidas necessárias para a compatibilização da
vocação agrícola da bacia com o abastecimento público de água. Esta afirmação é válida para
toda a área rural do DF.
Em 1955, o então candidato Juscelino Kubitschek, no seu discurso, na cidade de
Jataí-GO, apresentou a Carta de Brasília que incluía a proposta de um cinturão verde para abastecer
o DF de frutas e verduras. Para viabilizar tal proposta foram criados Núcleos Rurais, que,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são localidades situadas em
áreas não definidas legalmente como urbanas, que estão localizadas a uma distância igual ou
superior a 1 (um) Km da área urbana de uma cidade, possuindo um caráter privado ou
empresarial, e que se caracterizam por um conjunto de edificações permanentes e adjacentes,
longo de uma via de comunicação. Dentre eles, destaca-se o Núcleo Rural de Taguatinga
(NRT), um dos primeiros a ser criado.
O Núcleo Rural de Taguatinga localiza-se entre as Regiões Administrativas de
Taguatinga, Ceilândia e Samambaia, e em 1996, com a criação da ARIE Parque JK, objeto de
estudo deste trabalho, o NRT foi incluído na poligonal desta Unidade de Conservação.
Figura 01: Núcleo Rural Taguatinga Tamanho Original. Sem Escala.
Fonte: Inventário Florestal do DF, Universidade Federal do Paraná/Fundação Zoobotânica do DF, 1972.
O Núcleo Rural de Taguatinga foi planejado para ser um “estoque” para futuras
ocupações urbanas, não sendo considerado como importante zona de amortecimento com
áreas verdes essenciais para a qualidade de vida da região. Em 1986, objetivando a defesa dos
a Associação dos Produtores do Núcleo Rural de Taguatinga (APRONTAG), que atuou,
conforme documento elaborado para roteiro de visita de campo à ARIE Parque JK, na:
•participação na elaboração dos planos de ordenamento territorial, na criação da ARIE Parque JK e na definição da sua poligonal;
•participação na elaboração da lei que regulamenta a concessão de terras rurais e da lei de criação da Feira do Produtor de Samambaia;
•melhoria da qualidade ambiental do córrego do Cortado em parceria com as administrações regionais de Taguatinga e Samambaia;
•elaboração de projetos para captação de recursos para o Fundo Centro-Oeste;
•parceria com a EMBRAPA/CENARGEN para cultivo de cogumelos comestíveis;
•fundação da Organização Não Governamental Asa Verde;
•viabilização de cursos, em parceria com a SENAR/DF, voltados para a agroindústria, fruticultura, processamento de plantas do Cerrado e plantas medicinais;
•produção de vídeos documentários da flora da região.
Em 1987, o novo Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) mudou essa
destinação de Núcleo Rural (NR), redefinindo-a como Área Rural Remanescente (ARR), a
qual admite o desenvolvimento de atividades rurais em solo urbano.
Hoje, a expressão mais evidente da Política Ambiental do Distrito Federal (Lei Distrital
n° 41, de 13 de setembro de 1989) sobre o seu território é o conjunto de Unidades de
Conservação (UC) que se apresenta como um instrumento disciplinador da ocupação humana,
dentro de uma ótica de desenvolvimento sustentável (Paviani e Gouvêa, 2003). Dentre as
várias UC’s, esta pesquisa tem seu foco na Área de Relevante Interesse Ecológico Parque
Juscelino Kubitschek (ARIE Parque JK), que segundo o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC - Lei 9985, de 18 de julho de 2000) constitui o grupo das Unidades de
Um ponto importante a ser destacado na contextualização do problema desta pesquisa foi
a implantação e pavimentação de uma nova via de ligação entre Ceilândia e Samambaia que
atravessa a ARIE Parque JK, proposta pelo Governo do Distrito Federal. A partir da
necessidade de se verificar os impactos ambientais decorrentes desta obra de engenharia, a
SEMARH estabeleceu como obrigatoriedade do empreendedor, além da avaliação de
impactos ambientais do empreendimento, a realização do Diagnóstico Ambiental, do
Zoneamento Ambiental e do Plano de Manejo da ARIE Parque JK.
A ARIE Parque JK criada, por intermédio da Lei Distrital n° 1002, de 02 de janeiro de
1996, com o objetivo de preservar o ecossistema local, considerando ainda como finalidades
compatíveis, a recreação, o lazer, as atividades agropecuárias, a verticalização da produção e a
educação ecológica e ambiental, abriga ainda:
•O Parque Ecológico Boca da Mata (260,67 ha) - criado pelo Decreto n° 13244, de 07 de junho de 1991, localizado na RA de Samambaia. (figuras 2 e 3). Este Parque foi
criado com o objetivo de conservar a nascente do córrego Taguatinga e o campo de
murundus adjacente, porém, este ainda não está incluso na poligonal da ARIE Parque
JK. A área abrange antiga invasão removida em 1984 e transferida para o Areal e para a
Figura 02: Vista aérea na direção SW-NE do Parque Boca da Mata. Ao fundo Taguatinga Sul. Fonte: Comparques, agosto/2001.
Figura 03: Vista aérea do Parque Boca da Mata com seus campos de murundus. Observar a queimada na parte superior da figura.
Fonte: Comparques, agosto/2001.
•O Parque Ecológico Três Meninas (66,54 ha) - criado pela Lei n° 576, de 26 de outubro de 1993, localizado na RA de Samambaia (figuras 4 e 5). Este Parque foi criado
educativas e recreativas, bem como promover recuperação de áreas degradadas. O
Parque foi instalado na área da antiga chácara Três Meninas, desapropriada em 1992.
Figura 04: Entrada do Parque Ecológico Três Meninas.
Figura 05: Vista da entrada da Administração do Parque Três meninas.
•O Parque Vivencial Saburo Onoyama (33,34 ha) - criado pelo Decreto n° 17722, de 01 de outubro de 1996, localizado na via de ligação Taguatinga-Samambaia (figuras 6 e 7).
bem como promover atividades de lazer e cultura para os visitantes. A área pertencia à
família Onoyama que veio para Brasília a convite de Juscelino Kubitscheck para
fomentar o desenvolvimento e a produção de hortifrutigranjeiros no DF. Atualmente,
apesar de ter seus limites conhecidos, o Parque ainda não possui poligonal definida.
Figura 06: Vista aérea do Parque Saburo Onoyama. Na parte superior da figura, a cidade de Samambaia. Fonte: Comparques, agosto/2001.
•O Parque Ecológico Gatumé - criado pela Lei Complementar n° 370, de 02 de março de 2001, localizado na RA de Samambaia (figuras 8 e 9). Este Parque foi criado com o
objetivo de preservar as nascentes do córrego Gatumé. A área não tem poligonal
definida, mas localiza-se entre as quadras 425, 427, 625 e 629 e a 1º Avenida Norte de
Samambaia. Contígua ao Parque, o PDL de Samambaia criou a Área de
Desenvolvimento Econômico Oeste.
Figura 09: Vista parcial do Parque Ecológico Gatumé e pequena propriedade rural ao fundo.
•O Parque Ecológico do Cortado - criado pela Lei Complementar n° 638, de 14 de agosto de 2002, localizado na RA de Taguatinga (figura 10). O Parque foi criado com o
objetivo de proteger as cabeceiras do córrego do Cortado e a flora e fauna do cerrado
remanescente local, bem como oferecer lazer e cultura à comunidade. A área existe
desde 1989, mas não como Parque e sim como ARIE dos córregos do Cortado e
Taguatinga (Decreto n° 11467, de 06 de março de 1996). Porém, em 1997, depois de
passar por transformações estruturais, a ARIE começou a ser freqüentada pela
comunidade local para lazer, o que levou o IEMA a propor sua criação oficial como
Parque por meio do processo nº 191.000.795/97. E, em 2002 o Parque foi criado, mas
Figura 10: Vista aérea na direção N-S do Parque Cortado. Ao fundo observa-se a cidade de Taguatinga.
Fonte: COMPARQUES, agosto/2001.
Figura 11: Vista aérea na direção W-E do Parque Cortado, com Taguatinga Norte ao fundo, evidenciando a FACITA e o SESI.
Fonte: COMPARQUES, agosto/2001.
Ceilândia/Samambaia. O Parque ainda não tem limites determinados e deverá ter sua
poligonal definida por Decreto.
Figura 12: Vista parcial de área antropizada no Parque Metropolitano. Ao fundo a RA de Samambaia.
Figura 13: Área do Parque Metropolitano limítrofe com a linha do metrô em Ceilândia.
Por estar localizada entre as três Regiões Administrativas (RA’s) do DF com os maiores
índices populacionais - Taguatinga, Ceilândia e Samambaia, que juntas somam
sobre os recursos naturais. A seguir são apresentadas algumas características das RA’s que
circundam a ARIE Parque JK.
A cidade de Taguatinga foi a primeira oficialmente criada com o propósito de por fim aos aglomerados humanos denominados "invasões" que estavam sendo formados na área
urbana de Brasília. Foi implantada em 05 de junho de 1958 em terras do município de
Luziânia - Goiás, na Fazenda Taguatinga, a oeste de Brasília. O planejamento de Taguatinga
não obedeceu a um estudo antecipado, nem da área e nem das condições de meio ambiente, de
forma que sua área urbana foi edificada sobre nascentes e matas ciliares e de galeria.
Segundo o Censo de 2000, Taguatinga é um dos municípios brasileiros que mais cresceu
na última década. Tal crescimento se deu, inclusive, em áreas limítrofes com a UC objeto
desta pesquisa. No Setor Sul de Taguatinga, nas proximidades do Parque Boca da Mata, existe
o setor de Postos de Gasolina e Motéis, e uma fábrica de refrigerantes. No Setor Norte,
contíguo aos limites da ARIE Parque JK, além das residências, estão os Hospitais Anchieta e
Regional de Taguatinga. Ao final de Setor Norte, na cabeceira do córrego do Cortado há
residências, comércios, oficinas e indústrias.
Em 1969, foi realizado em Brasília um seminário sobre problemas sociais no Distrito
Federal. O favelamento foi o mais gritante. Reconhecendo a gravidade do problema e suas
conseqüências, o governador Hélio Prates da Silveira solicitou a erradicação das favelas à
Secretaria de Serviços Sociais. No mesmo ano, foi criado um grupo de trabalho que mais
tarde se transformou na Campanha de Erradicação das Invasões - CEI. Em 27 de março de
1971, com 17.619 lotes demarcados, o governador Hélio Prates lançava a pedra fundamental
da nova cidade, Ceilândia, no local onde está a Caixa D’água hoje.
Segundo o Censo de 2000, Ceilândia é a mais populosa RA do Distrito Federal e,
conforme análise do último Plano de Desenvolvimento Local (PDL) desta RA (2000), embora
que, seguindo a poligonal da ARIE Parque JK adjacente à região de Ceilândia, o PDL
estabeleceu três áreas de desenvolvimento urbano:
- Área do Centro Regional, objeto de projeto urbanístico especial (biblioteca, museu e
teatro);
- Área de Desenvolvimento Econômico Centro-Oeste (oficinas, indústrias e gráficas),
conforme figuras 14 e 15;
Figura 14: Área de desenvolvimento econômico (ADE) no setor P-Sul de Ceilândia.
Figura 15: Vista parcial da ADE (à direita), do Parque Metropolitano (à esquerda) e a RA de Samambaia ao fundo.
- Área Perimetral Sul (parque de exposições, vaquejada e campos de futebol).
Hoje, a área urbana da Ceilândia, em alguns trechos, apresenta graves problemas de
(APP’s), afetando a qualidade da água do Lago do Descoberto que abastece a Ceilândia e a
maior parte do Distrito Federal.
Samambaia, localizada entre as Regiões Administrativas de Taguatinga e Gama, foi criada para atender à demanda do rápido crescimento populacional do Distrito Federal. O
local escolhido para Samambaia era ocupado por chácaras que foram desapropriadas ou
incorporadas à cidade. Este é o caso da chácara Três Meninas, que em 1993 se transformou
em Parque Ecológico. Em 25 de Outubro de 1989, por meio da lei nº 49 e do decreto 11.921,
Samambaia passa a ser denominada Região Administrativa. Com uma população oriunda de
invasão extremamente carente, o Governo do Distrito Federal, sob o “sistema de concessão de
uso”, destinou lotes ainda cobertos pela vegetação, para a construção de moradias.
Em Samambaia estão localizados três importantes Parques a serem tratados nesta
pesquisa: Três Meninas, Gatumé (incluso na ARIE Parque JK) e o Boca da Mata (proposto
para inclusão segundo o Plano de Manejo, NCA-2006). Segundo a Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Urbano e Habitação (SEDUH, 2002), está prevista a implantação do
Subcentro Leste (área central urbana) que, no seu primeiro trecho, conflita com a poligonal da
ARIE (NCA - Diagnóstico Ambiental, 2004). Há também a previsão da instalação de uma
Área de Desenvolvimento Econômico Oeste (ADE) nas quadras 600 ao lado da ARIE
(SEDUH, 2002).
Além das pressões exercidas por ações antrópicas no entorno da ARIE Parque JK, outro
ponto de conflito refere-se à questão fundiária relativa às terras do NRT, onde são
questionadas as atividades ali desenvolvidas, pelos defensores da idéia de transformação do
Núcleo Rural em área urbana. Nesse contexto, a APRONTAG vem atuando no sentido de
discutir iniciativas da Assembléia Legislativa, dos órgãos ambientais do DF (Comparques -
Secretaria de Administração de Parques e Unidades de Conservação e SEMARH - Secretaria
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), da SEDUH, entre outros,
correlacionadas com os conflitos sócio-ambientais da área, a fim de evitar a perda de títulos
de arrendatários de suas terras. Além disso, os moradores do NRT, em participação ativa na
discussão do PDOT, pleiteiam a mudança da atual destinação da área, como Área Rural
Remanescente para, simplesmente, Área Rural, condição esta que tornaria os arrendatários
das terras, proprietários com escritura definitiva.
Na realidade a Lei 1002/96, que cria a ARIE Parque JK, não vem sendo cumprida, já que
a questão ambiental tem sido preterida. Essa situação gera diversos problemas que trazem
prejuízos às nascentes, à vegetação nativa, à fauna e ao patrimônio arqueológico existentes na
ARIE e, conseqüentemente, gerando prejuízos também à qualidade de vida dos moradores da
área e entorno.
O Diagnóstico Ambiental - Produto 3, elaborado pela NCA-Engenharia, Arquitetura e
Meio Ambiente S.S. Ltda, empresa contratada para produzir o Plano de Manejo da ARIE
Parque JK, cita alguns problemas sócio-ambientais, a saber:
•a possível construção de uma rodovia ligando Samambaia à Ceilândia, passando dentro da ARIE, que poderia trazer prejuízos às nascentes, matas ciliares e sítios de
comprovado valor arqueológico;
•a aprovação de dispositivos legais conflituosos, como no caso do Parque do Cortado e do Parque Saburo Onoyama tratados de maneira diversa pelo PDOT (como zona urbana
de dinamização) e pelo PDL (como unidades de conservação, mas não Área Rural
•parcelamentos irregulares de solo (chácaras 25, 27, 28 e 105) como os que constam de processo na 5° Vara de Fazenda Pública de Brasília, que são proibidos pelo artigo 7º,
parágrafos 3º e 4º da lei 1002/961;
•problema de definição de poligonais caso se adote o conceito de bacia hidrográfica como elemento de delimitação da zona de amortecimento, conforme constatado pela
empresa de consultoria NCA que elaborou o diagnóstico ambiental da área;
•criação de núcleos industriais com intervenção da Terracap (Companhia Imobiliária de Brasília), fruto do programa Pró-DF, nas proximidades da ARIE Parque JK e sem
garantias de que esses setores não virão a comprometer a integridade da Unidade de
Conservação;
•ocorrência de barracos e princípios de favelização, com desmatamentos, em diversos pontos da ARIE Parque JK, próximo aos Parques Saburo Onoyama e Boca da Mata, nas
áreas adjacentes ao Setor P. Sul de Ceilândia e a expansão de Samambaia, justamente
onde poderiam ser contemplados os corredores ecológicos e zonas de amortecimento;
•depósito irregular de lixo e entulho de obras próximo ao Setor P. Sul e nos fundos das quadras residenciais de Taguatinga que trazem prejuízos às nascentes e à saúde da
população;
•ausência de programas de educação ambiental.
O mau uso e a ocupação irregular do solo, o descumprimento da legislação ambiental, os
interesses dos grileiros e especuladores imobiliários, a falta de um melhor entrosamento entre
a Assembléia Legislativa, a SEDUH, a Terracap, a SEMARH, a Comparques, o NRT, o
DER-DF (Departamento de Estradas e Rodagem do Distrito Federal) e as ações reivindicadas pela
1
APRONTAG são alguns exemplos das dificuldades a serem gerenciadas de maneira
sistêmica, conforme propõem os pressupostos do Planejamento e Gestão Ambiental.
Em resumo, está instalado um significativo conflito sócio-ambiental na ARIE Parque JK,
de alto nível de complexidade, dados os diversos tipos de problemas já citados anteriormente
ao longo da contextualização da pesquisa.
A identificação e classificação desses conflitos na ARIE Parque JK permitiram responder
a seguinte questão:
Levando-se em conta tais conflitos e os instrumentos políticos e econômicos, bem como
o arcabouço legal pertinentes à ARIE Parque JK, quais as melhores ações a serem propostas
para uma Gestão Ambiental compatível com uma Unidade de Conservação de Uso
Sustentável tipo ARIE?
Diante do exposto, o presente trabalho investigou de maneira detalhada a problemática
apresentada. Visando atingir os objetivos propostos, os métodos e técnicas utilizados
fundamentaram-se na premissa legal de que uma Unidade de Conservação, como a ARIE
Parque JK, deve ser planejada e gerenciada de forma a manter os ecossistemas naturais de
importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a
compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza.
Para que o questionamento supracitado fosse esclarecido de modo a tornar possível o
alcance dos objetivos deste trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas, documentais e
de campo, entrevistas semi-estruturadas e aplicação da metodologia PER (Pressão - Estado -
Resposta).
Um dos principais documentos utilizado como base de dados detalhados para o
desenvolvimento deste trabalho foi o “Zoneamento Ambiental e Plano de Manejo da ARIE
Parque JK” criado para atender o Instrumento Contratual (Contrato 009/2003) estabelecido
documento é resultante das exigências da SEMARH no processo de licenciamento (processo
nº 190.000.013/2001) que trata da implantação e pavimentação de uma nova via de ligação
entre Ceilândia e Samambaia que atravessa a ARIE Parque JK. A partir da necessidade de se
verificar os impactos ambientais decorrentes desta obra de engenharia, a SEMARH
estabeleceu como obrigatoriedade do empreendedor, além da avaliação de impactos
ambientais do empreendimento, a realização do Diagnóstico Ambiental, do Zoneamento
Ambiental e do Plano de Manejo da ARIE Parque JK.
Já as entrevistas semi-estruturadas e o uso da metodologia PER (pressão-estado-resposta)
permitiram estabelecer um vínculo lógico entre seus diversos componentes, de forma a
orientar a avaliação do estado do meio ambiente, desde os fatores que exercem pressão sobre
os recursos naturais, passando pelo estado atual do meio ambiente, até as respostas que são
produzidas para enfrentar os problemas sócio-ambientais em cada localidade (GROSSI,
2.
OBJETIVOS DA PESQUISA
2.1 Objetivo Geral
Identificar os conflitos sócio-ambientais na Área de Relevante Interesse Ecológico
Parque Juscelino Kubitschek (DF) e verificar a aplicabilidade da metodologia PER
(pressão-estado-resposta) como um possível instrumento de auxílio à Gestão desta Unidade de
Conservação (UC) de uso sustentável.
2.2 Objetivos Específicos
•Identificar, in loco, as ações antrópicas e seus impactos, bem como caracterizar os conflitos sócio-ambientais e os atores envolvidos na problemática pertinente à ARIE
Parque JK;
•Verificar se a destinação legal da ARIE atende às exigências ambientais propostas para este tipo de Unidade de Conservação;
•Verificar a agenda de prioridades dos Órgãos Públicos afetos à problemática sócio-ambiental da ARIE Parque JK;
•Verificar a aplicabilidade da metodologia PER com a finalidade de selecionar um conjunto de indicadores que pudessem servir de apoio e suporte a tomada de decisão na
gestão da ARIE Parque JK;
3.
MARCO CONCEITUAL
As Unidades de Conservação (UC’s) nasceram, inicialmente, com o propósito de proteção da natureza, com a criação do Yellowstone National Park, em 1872 nos Estados Unidos. Outros países aderiram ao procedimento e iniciaram a criação de Parques. (DIAS, 2004).
Ainda, segundo o documento resultado do Fórum de Direito Urbano e Ambiental, em
1890, foi criado o Krueger National Park na África do Sul para recuperação da população
animal. Em 1914, a Suiça estabeleceu seu primeiro Parque para fins científicos. Em 1933, foi
convencionado o conceito básico de Parques, em Londres e, em 1937 cria-se o primeiro
Parque brasileiro - Parque Nacional do Itatiaia. E, a partir de 1940 foram surgindo novos
conceitos sobre áreas protegidas e pouco a pouco o conceito original de áreas protegidas
foram evoluindo. Daí surgiu a necessidade da criação de tipos distintos de UC’s conforme as
suas finalidades.
Em 18 de Julho de 2000 foi instituído o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), pela Lei 9985, a qual estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das Unidades de Conservação brasileiras.
O SNUC é constituído pelo conjunto das Unidades de Conservação federais, estaduais e
municipais que tem por objetivos:
Contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;
Proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;
Contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;
Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
Promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento;
Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
Proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
Proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;
Valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
Proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente.
As UC’s dividem-se em dois grupos: Unidades de Proteção Integral, cujo objetivo básico é a preservação da natureza, admitindo apenas o uso indireto (aquele que não envolve
consumo, coleta, dano ou destruição) dos seus recursos naturais; e Unidades de Uso Sustentável, que busca compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.
As Unidades de Uso Sustentável se subdividem em 7 categorias diferentes: Área de
Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular
do Patrimônio Natural. E, o presente trabalho versa sobre uma Área de Relevante Interesse
Ecológico (ARIE) situada em Brasília (DF), denominada ARIE Parque Juscelino Kubitschek
(ARIE Parque JK), com uma área total de 2.481,36 ha.
O SNUC caracteriza a ARIE como uma área, constituída por terras públicas ou privadas, em geral de pequena extensão2, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, podendo ainda ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada numa ARIE, de modo a compatibilizar o uso da área com os objetivos de conservação da natureza.
Com o intuito de regular o uso admissível dessas áreas, a Resolução 12/89 do Conselho
Nacional do Meio Ambiente estabelece as limitações administrativas às Áreas de Relevante
Interesse Ecológico, apontando, no art. 1º, que ficam proibidas as atividades que possam por
2
em risco: “I - A conservação dos ecossistemas; II - A proteção especial à espécie de biota
localmente rara; III - A harmonia da paisagem...”.
Na ARIE Parque JK existe uma multiplicidade de usos e atividades que foram sendo
instaladas ao longo do tempo e que deverão ser avaliadas para que se enquadrem à legislação
vigente e aos objetivos estabelecidos para este tipo de Unidade de Conservação.
Diante das diferenças econômicas, sociais e de disponibilidade de recursos naturais nas
diferentes extensões de terra e, a compatibilização do uso de áreas legalmente protegidas com
os objetivos de conservação da natureza, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), estabeleceu critérios internacionais para a conservação da natureza, que possui como objetivos:
• manter os processos ecológicos e os sistemas vitais essenciais (a regeneração e a proteção dos solos, a reciclagem dos nutrientes e a purificação das águas.), dos quais dependem a sobrevivência e o desenvolvimento humano; • preservar a diversidade genética (toda gama de material genético que se
encontra nos organismos vivos do mundo inteiro), da qual dependem o funcionamento dos processos e sistemas acima mencionados, os programas de cruzamento necessários para a proteção e a melhoria das plantas cultivadas e dos animais domésticos e os microorganismos, assim como parte do progresso científico e médico, da inovação tecnológica e da segurança das numerosa indústrias que utilizam os recursos vivos;
• assegurar o aproveitamento sustentado das espécies e dos ecossistemas (em particular da fauna silvestre, inclusive a aquática, das matas e das terras par pastagem) que constituem a base de sustento de milhões de comunidades rurais e importantes indústrias.
A compatibilização do uso da área da ARIE Parque JK com os objetivos de conservação
da natureza pressupõe uma gestão integrada para esta UC, e segundo o SNUC, em seu
capítulo IV que trata da criação, implantação e gestão das Unidades de Conservação, o art. 26
determina que:
Quando existir um conjunto de unidades de conservação de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas, constituindo um mosaico, a gestão do conjunto deverá ser feita de forma integrada e participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional.
Este artigo demonstra a necessidade da inclusão da poligonal do Parque Boca da Mata na
encontra-se próximo aos outros Parques já inclusos na poligonal da ARIE, atendendo assim à
exigência legal de uma gestão do conjunto (integrada).
A Gestão Ambiental de uma UC deve considerar também seus aspectos relativos aos
conflitos sócio-ambientais. Menegat e Almeida (2004) explicam que tais conflitos são
embates entre grupos sociais em função dos seus distintos modos de inter-relacionamento
ecológico, isto é, com seus respectivos meios social e natural conflitos entre atores sociais que
agem sobre os meios físico-natural e construído.
No intuito de solucionar conflitos sócio-ambientais, que possam ocorrer entre as metas da
conservação ambiental e do planejamento tecnológico, surgiu há três décadas, o Planejamento
Ambiental, entendido como o planejamento de uma região que visa integrar informações,
diagnosticar o ambiente, prever ações e normatizar seu uso por meio de uma linha ética de
desenvolvimento, levando em conta os aspectos biofísicos e sócio-econômicos (Rozely,
2004).
Para tanto, quatro esferas são importantes na execução do Planejamento Ambiental: Meio
Ambiente, Sociedade/Economia, Cultura e Sistema de Governo (Menegat e Almeida, 2004).
O Ambiente precisa ser entendido e diagnosticado quanto ao sistema sócio-ambiental em
suas relações sociais locais e globais com o sistema natural (Menegat e Almeida, 2004).
A Sociedade/Economia necessita de uma gestão sócio-ambiental com órgãos com boa
capacidade técnica, capazes de desenvolver programas estratégicos e integrados com a
sociedade e com a economia nos diversos setores (habitação, planejamento urbano,
saneamento, saúde, cultura, agricultura, etc.). Esses programas devem ter como premissa as
demais esferas de integração, ou seja, o conhecimento do meio físico local, a educação e a
participação dos cidadãos (Menegat e Almeida, 2004).
A Cultura, representada pela educação e informação, deve ajudar a abrir os horizontes dos
reconhecer sua territorialidade local e a desenvolver uma compreensão dos programas de
gestão ambiental. Nesse caso, a educação e a informação são funções do processo de
enculturação para a sustentabilidade (Menegat e Almeida, 2004).
Freire (2004) complementa a idéia do parágrafo anterior quando esclarece que:
A chave para o desenvolvimento é a participação, a organização, a educação e o fortalecimento das pessoas. O desenvolvimento sustentado não é centrado na produção, é centrado nas pessoas. Deve ser apropriado não só aos recursos e ao meio ambiente, mas também à cultura, história e sistemas sociais do local onde ele ocorre. Deve ser eqüitativo, agradável.
O Sistema de Governo está diretamente relacionado à participação democrática dos
cidadãos, no qual a comunidade deve ser chamada a construir, em conjunto com aquele, a
gestão ambiental. Essa participação, um dos pontos mais importantes da Agenda 21, possui a
propriedade de mudar as premissas conceituais das demais esferas, pois as questões locais
passam a ser relevantes para aqueles cidadãos, e promovem uma nova cultura de gestão da
área, pois a sociedade passa a formular e controlar as políticas públicas no cotidiano (Menegat
e Almeida, 2004).
A articulação entre essas quatro esferas, descritas anteriormente, é condição essencial
para a Gestão Ambiental com vistas ao desenvolvimento sustentável que, para Sachs (2000) é
aquele que se refere a uma nova concepção de limites e ao reconhecimento das fragilidades
dos ecossistemas, ao mesmo tempo em que enfoca o problema sócio-econômico e da
satisfação das necessidades básicas das populações. Assim, o processo sustentável de
desenvolvimento é aquele que leva a um crescimento estável com distribuição eqüitativa de
renda, gerando, com isso, a diminuição das atuais diferenças entre os diversos níveis na
sociedade e a melhoria das condições de vida das populações.
Para tanto, o oitavo princípio da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, a RIO 92 estabelece que... “Para alcançar o desenvolvimento sustentável e
padrões insustentáveis de produção e consumo, e promover políticas demográficas
adequadas”.
A RIO 92 adotou o conceito de desenvolvimento sustentável e inovou, propondo a
Agenda 21, iniciativa assinada por 179 países. Este documento tornou-se o mais importante
resultado do evento e reuniu o conjunto mais amplo de premissas e recomendações sobre
como as nações devem alterar seu vetor de desenvolvimento em favor de modelos
sustentáveis.
O Programa Agenda 21 Brasileira trás ações que vêm ao encontro das idéias de Santos
(2005), em Metodologias Participativas. O autor afirma que muitos problemas ambientais
vividos pela sociedade brasileira só podem ser solucionados pela negociação e pelo
aperfeiçoamento das estratégias e mecanismos de regulação do uso dos recursos naturais. É
plausível afirmar que o Estado sozinho não possui as condições e as prerrogativas políticas
para encontrar soluções socialmente aceitas para problemas tão complexos.
Assim, Santos (2005) continua explicando que a participação popular e o aumento das
capacidades e habilidades dos atores sociais desempenham um papel-chave na busca de tais
soluções. Somente pela ação coletiva e pela consolidação de espaços públicos, nos quais os
diversos interesses e pontos de vista possam se fazer ouvir e representar, é que os problemas
sócio-ambientais podem encontrar soluções que atendam aos parâmetros democráticos, de
equidade e sustentabilidade que devem nortear o desenvolvimento sustentável.
Na tentativa de estabelecer cenários de (in) sustentabilidade relativos aos conflitos
sócio-ambientais pertinentes à ARIE Parque JK, a pesquisadora optou por adotar o modelo
Pressão-Estado-Resposta, cuja abordagem:
A metodologia PER foi utilizada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) na elaboração das séries GEO, consistindo, basicamente, numa
Avaliação Ambiental Integrada do tipo Pressão/Estado/Impacto/Resposta no tocante às
atividades antrópicas que afetam o meio ambiente (GEO-Brasil, 2002).
Porém, para o desenvolvimento desta metodologia PER utilizou-se como referencial
teórico, que serviu de base para o entendimento e aplicação da proposta, o da OECD
(Organisation for Economic Co-Operation and Development), Paris, 1993. Este referencial
teórico sugere a seleção de indicadores ambientais que integrem aspectos políticos,
econômicos e ambientais, com o objetivo de proporcionar melhorias na gestão ambiental a
nível nacional.
Outro importante referencial teórico que auxiliou no desenvolvimento da metodologia
PER foi aquele elaborado pelo IBAMA, MMA e a Agência Alemã GTZ com o objetivo de
selecionar indicadores sócio-econômicos, institucionais, biológicos, ecológicos e biofísicos
para o sistema de monitoramento de biodiversidade - SIMBIO, a ser aplicada em Unidades de
Conservação no Brasil. Segundo a SIMBIO, a metodologia pressão-estado-resposta (PER),
adotada para a definição de indicadores ambientais, constituí-se a mais adequada, pois
informa sobre o desempenho do sistema de Unidades como um todo. Esta metodologia é
largamente aceita na experiência internacional e, adaptada, pode ser aplicada em nível
nacional, setorial ou até mesmo nos níveis de empresa ou comunidade (OECD, 1993;
MUELLER, 1994; MANNIS, 1996).
Com a finalidade de selecionar um conjunto de indicadores que pudessem servir de apoio
e suporte a tomada de decisão em nível gerencial, o IBAMA, órgão responsável pelas
Unidades de Conservação Federais no Brasil, contratou uma consultoria que teve por base a
sistematização e consolidação das informações ora produzidas pelo IBAMA, ora pela GTZ
configuração do SIMBIO teve como ponto de partida a realização de um Workshop
Internacional, realizado em 1997. Posteriormente, em 1999, este documento foi submetido à
análise de especialistas, que ocorreu na forma de um novo Workshop realizado em Brasília, o
qual resultou na introdução de algumas mudanças no escopo e abrangência do trabalho
inicialmente proposto.
A estrutura do modelo PER (figura 16) é baseada no princípio de causalidade: as
atividades humanas exercem pressões no meio ambiente mudam sua qualidade e a quantidade de recursos naturais (estado). A sociedade responde a essas mudanças por meio de políticas
ambientais, econômicas, gerais e setoriais (resposta social). As respostas retornam (como um feedback) às pressões por meio das atividades humanas, que com elas interagem. Em um
sentido mais amplo, esses passos formam parte de um ciclo (de política) ambiental que inclui
a percepção do problema, a formulação, monitoração e avaliação da política (OECD, 1993).
Tomando-se o modelo PER como referência e adaptando-se à Gestão Ambiental em
Unidades de Conservação, objeto deste trabalho, pode-se dizer que, enquanto os indicadores
de estado refletem o status dos recursos naturais na UC e sua resiliência, os indicadores de
pressão refletem mudanças ou ameaças em curso ou potenciais para a biodiversidade. Já as
respostas, no caso das ações levadas a efeito pela sociedade, objetivam a melhoria de técnicas
de manejo nas UC’s bem como a adoção de programas e políticas ambientais voltados ao uso
sustentável da mesma.
Segundo DPIE (1997), indicadores são medidas de condição, processos, reação ou
comportamento que proporcionam informação rápida e confiável de sistemas complexos. Se
as relações entre indicadores e conjuntos completos de respostas de tais sistemas são
conhecidas, os indicadores podem prever o estado do sistema.
Os indicadores podem, ainda, ser definidos como uma estatística, que medida ao longo do
tempo, fornecem informações sobre as tendências das condições de um fenômeno e,
geralmente, apresentam significância além daquela associada à estatística em si. Assim,
indicadores ambientais são estatísticas selecionadas que representam ou resumem alguns
aspectos do estado do meio ambiente, dos recursos naturais e de atividades humanas
relacionadas (KERR, 1994).
A utilização de indicadores tem vindo a ganhar um peso crescente nas metodologias que
têm por objetivo tratar e transmitir a informação de caráter técnico e científico na forma
original ou “bruta”. Tal fato é importante no sentido de tornar os dados técnicos, facilmente
utilizáveis por gestores, políticos, grupos de interesse (associações de defesa do meio
ambiente), cientistas e público em geral. A necessidade de divulgar os resultados de estudos e
as avaliações técnicas constitui exigência fundamental nos processos de gestão ambiental.
Com o intuito de tornar mais clara a definição de indicadores ambientais, a OECD
• Indicadores de pressões ambientais: são os que descrevem as pressões exercidas pelas ações humanas no meio ambiente e na qualidade e quantidade dos recursos naturais.
Tais como: urbanização, agricultura, ocupações humanas no interior da UC,
desmatamentos, exploração madeireira;
• Indicadores de estado ou condições ambientais: devem permitir uma visão geral da
situação (o estado) do meio ambiente e do seu desenvolvimento ao longo do tempo.
Possibilitam refletir sobre o estado de meio ambiente almejado quando da elaboração
de uma política ambiental. Tais como: áreas desmatadas, áreas com vegetação nativa,
qualidade da água de corpos d’água locais, presença de espécies endêmicas;
• Indicadores de respostas sociais: são medidas que mostram em que grau a sociedade está respondendo às alterações no meio ambiente. Referem-se às ações coletivas e
individuais para atenuar, adaptar ou prevenir os impactos ambientais negativos
induzidos por ações humanas e para reverter ou parar os danos já provocados. Incluem
também ações para a preservação e conservação do meio ambiente e recursos naturais.
Tais como: percentual de áreas legalmente protegidas, ações de manejo, outros
mecanismos de conservação da biodiversidade como tratados e acordos internacionais.
A OECD orienta que alguns critérios devem ser levados em consideração quando da
seleção dos indicadores ambientais. Tais critérios de elegibilidade baseiam-se nas práticas de
instituições e organismos internacionais que vêm adotando tal metodologia. Especialmente
destacam-se: OECD; SIMBIO; Envinroment, Canadá; Programa de Apoio à Biodiversidade; e
Jacob, Mason, Reide et all.
Assim, no caso desta pesquisa seguiu-se a orientação da OECD relativa aos critérios de
elegibilidade, quais sejam:
• disponibilidade de dados: os dados requeridos para a construção do indicador devem estar disponíveis ou que sejam levantados a tempo, se necessário. A construção dos
indicadores deve ser apoiada por dados suficientes e concentrados, que cubram mais de
um período de medição, para que seja possível mostrar as tendências ao longo do
tempo;
• sensibilidade à mudanças: o indicador deve mostrar mudanças ou tendências no meio ambiente relacionado à atividade humana;
• representatividade: a informação que um indicador comunica sobre um fenômeno
deve ser representativa das condições do todo;
• facilidade de compreensão: o indicador deve ser simples, claro, objetivo e de fácil compreensão por usuários não-especialistas, particularmente no contexto do assunto a
que estiverem relacionados;
• relevância e utilidade: o indicador deve fornecer informação útil, isto é, relevante para as necessidades dos usuários potenciais. O indicador deve ser relevante para os
objetivos estabelecidos;
• metas: idealmente um indicador deve ter uma meta, alvo ou limiar com o qual pode ser comparado, para que os usuários sejam capazes de avaliar o significado dos valores a
eles associados;
• custo/tempo: a composição do custo para a obtenção de dados e construção do
indicador, envolvendo recursos materiais, financeiros e humanos é importante para
avaliar a viabilidade de manter o indicador;
• escopo geográfico: o indicador pode ter aplicação nacional ou ser aplicável a questões regionais ambientais que tenham significado nacional.
Há o entendimento, por parte da OECD, da SIMBIO e outras organizações que utilizam a
portanto a seleção de indicadores deve pautar-se por aspectos relevantes, mais diretamente
orientados à situação que se pretende avaliar. No caso de uma UC, como a ARIE Parque JK, devem-se ressaltar duas características básicas: a confiabilidade da informação e sua
utilidade para a tomada de decisão.
A presente pesquisa conseguiu contemplar oito dos nove critérios anteriormente
apresentados para cada indicador de pressão, estado e reposta selecionado. Isto significa uma
situação próxima a ideal, proposta pela OECD quando da seleção de indicadores ambientais a
4.
ÁREA DE ESTUDO
4.1 Localização
A área de estudo a que se propõe a pesquisa é a Área de Relevante Interesse Ecológico
Parque Juscelino Kubitschek (ARIE Parque JK), criada em 02 de janeiro de 1996 pela Lei nº
1002, publicada no Diário Oficial do Distrito Federal de 11 de janeiro do mesmo ano.
Localiza-se no Distrito Federal, entre as Regiões Administrativas de Taguatinga (RA III),
Ceilândia (RA IX) e Samambaia (RA XII), conforme ilustrado na figura 17.
Segundo o Diagnóstico Ambiental (NCA, 2006), esta UC está situada na unidade
hidrográfica do Rio Melchior, pertencente à Bacia do Rio Descoberto, a qual abrange 6 (seis)
Parques, 1 (uma) ARIE e as microbacias dos córregos Cortado e Taguatinga e do Ribeirão
Figura 17: Ilustração das regiões do Distrito Federal com a localização da área de estudo e imagem de satélite da ARIE Parque JK com sua poligonal provisória.
Fonte: Semarh, 2005.
4.2 Caracterização
A ARIE Parque JK possui uma área de 2.481,36 hectares e, cerca de 96% desta área,
sobrepõe-se à APA do Planalto Central. Esta ARIE está, ainda, inserida na Bacia do Ribeirão
Taguatinga que conta com uma área de 7.068,77 hectares (anexo B) que, conforme o PDOT
(1997) engloba áreas urbanas (Zona Urbana de Dinamização), áreas de conservação (Zona de
Conservação Ambiental) e áreas rurais (Zona Rural de Uso Diversificado e Áreas Rurais
A ARIE Parque JK integra a Área Rural Remanescente de Taguatinga que se sobrepõe à
Zona Urbana de Dinamização, que possui inúmeras ocupações regulares e irregulares, além
de diversos acessos tanto para veículos como para pedestres.
Segundo o Diagnóstico Ambiental (NCA, 2006), para que a ARIE Parque JK atenda aos
objetivos de sua criação são necessárias à elaboração e à implementação do Plano de Manejo
e Zoneamento Ambiental para que o mesmo venha a auxiliar o processo de Gestão Ambiental
da área e de seu entorno.
Para tanto, as informações sobre as características físicas, bióticas e sócio-econômicas
desta UC, apresentadas nas três seções seguintes, são fundamentais, já que auxiliam na
formulação de políticas ambientais e de desenvolvimento sócio-econômico.
4.2.1 Meio Físico
No Diagnóstico Ambiental elaborado pela empresa NCA (2006), o meio físico da ARIE
Parque JK foi estudado a partir de aspectos climáticos, hidrológicos, geológicos,
hidrogeológicos e geomorfológicos por meio de informações primárias e secundárias, as quais
são relatadas a seguir.
O clima do DF, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Aw e denominado “tropical
de Savana”, caracterizado pela existência de duas estações bem definidas: chuvosa (outubro a
abril) e seca (maio a setembro). Já a Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central
(Codeplan), usa a classificação de acordo com a altitude: tropical e tropical de altitude I (entre
1000 e 1200m) ou II (superior a 1200m).
Grande parte da ARIE Parque JK se enquadra no tipo climático tropical de altitude I, o
qual apresenta temperatura média inferior a 18ºC no mês mais frio e superior a 22ºC no mês
Assim, o percentual médio de umidade relativa do ar, no DF, é de 49 % em agosto e de 79 %
em dezembro.
A variação de altitude apresenta uma relação direta com a precipitação pluviométrica
observada no DF, que segue um padrão típico (duas estações bem definidas) da região
Centro-Oeste e do domínio morfoclimático dos cerrados. Na área em estudo, os valores médios totais
de longo período ficam entre 1400 e 1450 mm, o que em relação ao DF, pode ser considerado
como uma região de elevada taxa de precipitação.
Especialmente na ARIE, observa-se um aumento dos processos erosivos, onde grande
volume de solo é transportado em direção ao Ribeirão Taguatinga, ocasionado por chuvas
quinzenais nos meses subseqüentes a janeiro.
Nesse sentido, o balanço hídrico da região, que é a contabilidade da entrada e saída de
água em um solo permitindo estimar a quantidade de água que foi transferida para atmosfera e
a quantidade armazenada no solo, é uma importante técnica que possibilita fazer um
planejamento prévio dos diversos usos do solo, principalmente o agrícola.
Outro importante dado é aquele referente à poluição do ar, que se dá como resultado da
alteração das características físicas, químicas ou biológicas da atmosfera, afetando
diretamente a saúde das pessoas. Na área de estudo, não existem indústrias que possam
intensificar a emissão de poluentes no ar. Uma das principais fontes de poluentes é aquela
ocasionada por veículos automotores associados a material particulado e gases de combustão
(CO, hidricarbonetos não-queimados, NOx e fuligem). Deve-se também dar especial
importância à intensificação dos incêndios florestais, principalmente na época da seca, que
devasta a flora, desabriga a fauna e expõe os solos. Em contrapartida, as baixas alturas das
edificações da região estudada são um fator favorável que auxilia na dispersão da fumaça e
Já a poluição sonora é um problema que se agrava ao longo do tempo, na medida em que
há aumento das áreas urbanas. O crescimento demográfico descontrolado, como o que ocorre
na região em estudo, acarreta uma concentração de diversos tipos de fontes de poluição
sonora, interferindo nas atividades humanas e na preservação de determinados ecossistemas.
Os ruídos no interior da ARIE Parque JK caracterizam-se, em sua maioria, por ruídos
típicos de áreas de chácaras, com exceção dos locais onde há parcelamentos urbanos, nos
quais os ruídos são originados dos veículos automotores que transitam nas vias de ligação.
Com a implantação da via de ligação Ceilândia/Samambaia, os níveis de ruído se elevarão,
mas acredita-se que não ultrapassará os níveis aceitáveis. Observa-se uma intensificação
significativa dos ruídos causados por automóveis na Área de Desenvolvimento Econômico
(oficinas, comércio, indústrias gráficas, serralherias).
Do ponto de vista geológico não há qualquer ponto relevante que justifique menção
quanto á proteção de afloramentos rochosos.
Foram caracterizadas 10 (dez) classes de solo (anexo D) segundo o novo sistema de
classificação (EMBRAPA, 1999) correlacionada com a antiga classificação (Camargo et all.,
1987), sendo elas:
•latossolo vermelho (40,58%);
•latossolo vermelho-amarelo (28,45%);
•argissolo vermelho-amarelo (2,78%);
•cambissolo háplico (13,47%);
•plintossolo háplico (0,77%);
•plintossolo pétrico (3,07%);
•gleissolo háplico (6,1%);
•gleissolo melânico (3,21%);
•neossolo flúvico (1,33%); 40,58 28,45 2,78 13,47 0,77 3,07 6,1 3,21 0,25 1,33 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Tipos de Solos presentes na ARIE JK (% ) latossolo vermelho
latossolo vermelho-amarelo argissolo vermelho-amarelo cambissolo háplico plintossolo háplico plintossolo pétrico gleissolo háplico gleissolo melânico neossolo quartzarênico hidromórfico neossolo flúvico
Figura 18: Tipos de solos presentes na ARIE Parque JK. Fonte: Plano de Manejo ARIE Parque JK, 2006.
Os tipos de solos mais sensíveis presentes na ARIE Parque JK do ponto de vista
geotécnico e ambiental é a associação de gleissolos e plintossolos háplicos (hidromórficos),
devendo ser preservados em todas as áreas de ocorrência como, por exemplo, no Parque Boca
da Mata. E, quanto aos aspectos edafológicos, o Diagnóstico Ambiental considera que todas
as classes de solos da área apresentam baixa fertilidade, caráter álico e/ou forte distrofismo.
A delimitação das classes de solos tem dois grandes objetivos: atender às práticas
adequadas da agricultura e pecuária e subsidiar estudos ambientais, que por meio da
integração com outras variáveis, como relevo e cobertura vegetal, possibilitam uma avaliação
da fragilidade dos ambientes naturais em face dos processos erosivos e de assoreamento
Quanto aos recursos hídricos, a ARIE Parque JK localiza-se na unidade geográfica do rio
Melchior, pertencente à bacia do Descoberto (anexo E), que compõe a região hidrográfica do
Paraná.
O rio Melchior tem suas cabeceiras nos córregos Taguatinga e Cortado, os quais se unem
aproximadamente na região central de Taguatinga. O aspecto mais importante observado é a
péssima qualidade da água do ribeirão Taguatinga devido ao lançamento de boa parte dos
esgotos brutos das cidades de Taguatinga e Ceilândia (figura 19). Segundo informações da
CAESB, mais de 95% dos esgotos gerados dessa área não é tratado, caracterizando essa bacia
com uma das mais degradadas do Distrito Federal.