• Nenhum resultado encontrado

O impacto do código de processo civil de 2015 na jurisprudência defensiva do Superior Tribunal de Justiça acerca dos recursos especiais

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "O impacto do código de processo civil de 2015 na jurisprudência defensiva do Superior Tribunal de Justiça acerca dos recursos especiais"

Copied!
63
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO

DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO

HELEN DOS SANTOS

O IMPACTO DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 NA JURISPRUDÊNCIA DEFENSIVA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ACERCA DOS RECURSOS

ESPECIAIS

(2)

HELEN DOS SANTOS

O IMPACTO DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 NA JURISPRUDÊNCIA DEFENSIVA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ACERCA DOS RECURSOS

ESPECIAIS

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial à obtenção do bacharelado em Direito.

Área de concentração: Direito Constitucional. Direito Processual Civil.

Orientadora: Prof.ª Janaína Soares Noleto Castelo Branco.

(3)
(4)

HELEN DOS SANTOS

O IMPACTO DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 NA JURISPRUDÊNCIA DEFENSIVA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ACERCA DOS RECURSOS

ESPECIAIS

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial à obtenção do bacharelado em Direito.

Área de concentração: Direito Constitucional. Direito Processual Civil.

Orientadora: Prof.ª Janaína Soares Noleto Castelo Branco.

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________ Prof.ª Janaína Soares Noleto Castelo Branco (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Prof. Dr. William Paiva Marques Júnior

Universidade Federal do Ceará (UFC)

(5)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

A Deus.

(6)

AGRADECIMENTOS

Inicialmente, agradeço a Deus por ter me propiciado a oportunidade de chegar onde estou hoje.

A meus pais e à minha família, os quais sempre me incentivaram e me apoiaram nos estudos, fazendo o possível para que eu pudesse obter o tão sonhado diploma no curso de Direito.

À Prof.ª Janaína, pela orientação e apoio dedicado à elaboração deste trabalho. Aos participantes da banca examinadora, Prof. Dr. William Paiva Marques Júnior e Mestrando Marcus Vinícius de Souza e Souza, por terem aceitado tão prontamente o convite e por dedicarem seu tempo à análise deste trabalho.

(7)

RESUMO

Este trabalho almeja discutir sobre a jurisprudência defensiva, tema bastante presente na praxe processual, mas pouco discutido em âmbito doutrinário. Além disso, considerando-se o advento do CPC/2015, o trabalho pretende apresentar as mudanças trazidas pelo novo código no cenário da jurisprudência defensiva. O estudo foi baseado em pesquisa bibliográfica e jurisprudencial, utilizando-se doutrina processual civil e artigos científicos sobre o tema. No primeiro capítulo, é feita uma introdução ao tema da jurisprudência defensiva, explicando-se sua origem, causas e consequências. O segundo capítulo delimita o estudo da jurisprudência defensiva aos requisitos de admissibilidade do recurso especial, sendo apresentados os requisitos no CPC/73 e na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), bem como os requisitos previstos no CPC/2015. Por fim, o terceiro capítulo realiza um cotejo analítico entre os requisitos previstos no antigo e no novo código, bem como apresenta mudanças trazidas pelo CPC/2015 que podem alterar, significativamente, a jurisprudência defensiva do STJ.

(8)

ABSTRACT

This work aims to discuss on the defensive jurisprudence, theme quite present in the usual procedure, but little discussed in doctrinal context. Furthermore, considering the advent of CPC/2015, the work aims to introduce the changes brought by the new code in the jurisprudence. The study was based on bibliographical research and case law, civil procedural doctrine and scientific articles on the topic. In the first chapter, an introduction is made to the subject of defensive jurisprudence, explaining its origin, causes and consequences. The second chapter delimits the study of case-law admissibility requirements of defensive special feature, presented the requirements on CPC/73 and the case-law of the Superior Court of Justice (STJ), as well as the requirements set out in CPC/2015. Finally, the third chapter does an analytical comparison between the requirements set out in the old and in new code, as well as introduces changes brought by the CPC/2015 which may change, significantly, the defensive jurisprudence of the STJ.

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 9

2 UM BREVE INTRÓITO À JURISPRUDÊNCIA DEFENSIVA... 11

3 APRESENTAÇÃO DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL NO ANTIGO E NOVO CPC... 16

3.1 Requisitos de admissibilidade do recurso especial no CPC/73... 16

3.1.1 Cabimento... 16

3.1.1.1 Pressupostos cumulativos... 16

3.1.1.1.1 Decisão de única ou última instância... 16

3.1.1.1.2 Decisão proferida por tribunal... 18

3.1.1.1.3 Pré-questionamento... 19

3.1.1.1.4 Impossibilidade de reexame de prova... 20

3.1.2.1 Pressupostos alternativos... 22

3.1.1.2.1 Decisum que contraria ou nega vigência a tratado ou lei federal... 22

3.1.1.2.2 Decisum que julga válido ato de governo local contestado em face de lei federal... 23

3.1.1.2.3 Decisum que atribua à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído a outro tribunal... 23

3.1.2 Tempestividade... 25

3.1.3 Preparo... 30

3.1.4 Regularidade formal... 33

3.2 Requisitos de admissibilidade do recurso especial no CPC/2015... 36

3.2.1 Cabimento... 36

3.2.2 Tempestividade... 37

3.2.3 Preparo... 38

3.2.4 Regularidade formal... 40

4 COMPARAÇÃO ENTRE OS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL PREVISTOS NO ANTIGO E NOVO CPC... 42

(10)

4.2 Incidente de julgamento de recursos excepcionais

repetitivos... 45

4.3 Alterações pontuais feitas pelo CPC/2015 nos requisitos de admissibilidade do recurso especial... 47

4.3.1 Cabimento... 47

4.3.2 Tempestividade... 49

4.3.3 Preparo... 50

4.3.4 Regularidade formal... 51

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 53

(11)

9

1 INTRODUÇÃO

A Constituição Federal (CF/88) consagra diversos princípios relacionados ao processo brasileiro, dentre os quais se encontram o acesso à justiça e a celeridade processual.

O princípio do acesso à justiça assegura que os jurisdicionados possam ter acesso ao Poder Judiciário, nos moldes previstos na CF/88.

Entretanto, o supracitado princípio não se limita a garantir o acesso ao Judiciário, também assegurando o direito a uma prestação jurisdicional do Estado, por meio de um processo célere e de acordo com o devido processo legal.

Já o princípio da celeridade processual almeja garantir a razoável duração do processo, assegurando que o jurisdicionado obtenha a prestação jurisdicional de forma célere.

Ocorre que o Judiciário brasileiro se encontra em crise, a qual pode ser explicada pelo conflito entre os supracitados princípios: de um lado, o acesso à justiça viabilizou que muitas pessoas pudessem ajuizar ações, o que ensejou o crescimento significativo do número de processos; lado outro, a celeridade processual foi seriamente prejudicada, pois o Judiciário não acompanhou o aumento do número de processos, justificando a morosidade atual no andamento das ações.

Registre-se que a referida crise possui o “efeito dominó”, pois o aumento no número de ações ajuizadas ensejou o aumento do número de recursos nos tribunais. Dessa forma, todas as instâncias do Judiciário encontram-se assoberbadas pelo rápido crescimento na quantidade de processos.

Na instância especial, a situação não é diferente. Desta feita, o legislador constitucional de 1988 adotou uma providência para solucionar o problema neste âmbito: a criação do STJ, em uma tentativa de “desafogar” o Supremo Tribunal Federal (STF), transferindo a competência de uniformização de jurisprudência a nível infraconstitucional para o novo tribunal.

Entretanto, a referida providência não foi o suficiente para solucionar o problema, levando o legislador a adotar outras medidas nesse sentido, como, por exemplo, a criação da repercussão geral como requisito de admissibilidade do recurso extraordinário, o que reduziu significativamente o número de recursos julgados pelo STF.

Nesta senda, as medidas adotadas pelo legislador, em grande parte, foram direcionadas ao STF, “deixando de lado” o STJ, o que ensejou o assoberbamento, ainda maior, deste tribunal.

(12)

10

“barreira” ao conhecimento de recursos pelos tribunais superiores, fenômeno que se intensificou na última década, como será demonstrado ao longo deste TCC. Apesar de sua grande relevância, a doutrina processualista não discute o tema aprofundadamente, limitando-se a mencionar sua existência, limitando-sem entrar em detalhes sobre suas causas e conlimitando-sequências.

É nesse cenário que surge o Novo CPC, aprovado em 16 de março de 2015, entrando em vigor no ano seguinte. Uma das propostas do novo código é reduzir o formalismo excessivo e dar maior aproveitamento aos atos processuais, primando pelo julgamento de mérito em todas as instâncias e viabilizando que as partes obtenham uma prestação jurisdicional justa e adequada.

Dessa forma, a priori, o CPC/2015 vai de encontro à jurisprudência defensiva, a qual privilegia a forma ao conteúdo dos recursos.

Assim, o presente estudo almeja discutir o fenômeno da jurisprudência defensiva, apresentando seu conceito e suas causas, bem como apresentar os exemplos desse fenômeno na jurisprudência do STJ, em especial em relação aos requisitos de admissibilidade do recurso especial.

Além disso, será feito um estudo comparativo dos requisitos de admissibilidade do recurso especial previstos no antigo e no novo CPC, apresentando os avanços e retrocessos trazidos pelo CPC/2015.

Ao final, serão apresentadas as conclusões obtidas através do estudo comparativo, analisando se o novo código será uma solução para findar o fenômeno da jurisprudência defensiva no âmbito do STJ.

(13)

11

2 UM BREVE INTRÓITO À JURISPRUDÊNCIA DEFENSIVA

Em seu discurso de posse como presidente do STJ1, o ministro Humberto Gomes

de Barros fez uma análise histórica do tribunal, recordando os motivos que ensejaram sua criação, bem como os objetivos que o legislador visava alcançar com tal, e culminando com a adoção da jurisprudência defensiva.

O ministro afirma que o STJ foi criado para “liberar o Supremo Tribunal Federal que se transformava em Corte exclusivamente constitucional”. Dessa forma, o novo tribunal teria a função de uniformizar a jurisprudência a nível infraconstitucional, assegurando o duplo grau de jurisdição e privilegiando os tribunais regionais, pois apenas situações excepcionais dariam ensejo à interposição de recursos aos tribunais superiores.

Inicialmente, o STJ consolidou uma posição vanguardista no Poder Judiciário, mitigando os tradicionais entraves que impossibilitavam o conhecimento de recursos. Contudo, o legislador constitucional esqueceu de proteger o novel tribunal de uma endemia: “o processualismo e a ineficácia das decisões judiciais”.

Assim, continua o ministro, “as decisões do Tribunal – ao invés de [sic] funcionarem como faróis, orientando em definitivo a aplicação do direito federal – reduziram-se a soluções tópicas, cujo alcance limitava-reduziram-se às partes envolvidas em cada processo”, transformando o tribunal em mera terceira instância.

Nesse cenário, o número de processos cresceu de forma exagerada, criando um dilema no âmbito do STJ. Na opinião do ministro, o dilema seria semelhante ao de Juca Mulato:

O trágico personagem de Menotti Del Picchia descobriu que [sic]

“Esta vida é um punhal com dois gumes fatais: Não amar é sofrer; amar é sofrer mais”!

À semelhança do patético Juca, o STJ percebeu que, na situação em que se encontrava, [sic]

“Não julgar é justiça denegar; Julgar às pressas é arriscar E com a injustiça flertar”.

Dessa forma, o tribunal teria duas opções: “consolidar-se como líder e fiador da segurança jurídica” ou virar uma mera terceira instância. Na opinião do ministro, o STJ teria

(14)

12

escolhido a segunda opção.

Na tentativa de fugir de tal destino, “o STJ adotou a denominada ‘jurisprudência defensiva’ consistente na criação de entraves e pretextos para impedir a chegada e o conhecimento dos recursos que lhes são dirigidos”.

Dessa forma, o ministro fez um verdadeiro histórico da jurisprudência defensiva, explicando algumas das causas que justificam o surgimento do fenômeno, especialmente no âmbito do STJ, o qual será o objeto de estudo desta monografia.

A jurisprudência defensiva pode ser conceituada como exigências formalistas instituídas com o fito de dificultar o exame de mérito dos recursos, especialmente através do exagero nos requisitos adotados para se inferir a admissibilidade dos recursos interpostos nas instâncias superiores.

O grande problema desse fenômeno é que, na tentativa de reduzir o número de recursos a serem julgados, os tribunais criam novos requisitos de admissibilidade dos recursos, não previstos no CPC. Assim, o Poder Judiciário acaba exercendo atividade legislativa, ferindo o princípio da separação de poderes, pois tal atividade é reservada constitucionalmente ao Poder Legislativo e, excepcionalmente, ao Poder Executivo.

Além disso, os tribunais interpretam os requisitos de admissibilidade recursal já previstos no CPC de forma excessivamente formalista, inviabilizando o conhecimento de recursos por meros detalhes técnicos, sem qualquer fundamentação jurídica.

Nesse sentido, o princípio da instrumentalidade das formas é claramente violado, pois o formalismo exagerado não possui nenhum fundamento legal ou constitucional, sendo utilizado com o único intuito de impedir o julgamento de mérito dos recursos, como será explicado ao longo deste estudo.

Ademais, note-se que a jurisprudência defensiva dificulta, ainda mais, o acesso ao Poder Judiciário, pois a parte deve preencher diversos requisitos para que seu apelo seja apenas conhecido, o que não garante a obtenção de uma decisão judicial adequada ao caso concreto.

Com isso, os tribunais estão mitigando o acesso à justiça, privilegiando apenas requisitos formais nos recursos e deixando de lado sua substância, o que gera insegurança jurídica.

(15)

13

A essa luz, o que se espera da lei e de seus aplicadores é um tratamento cuidadoso e equilibrado da matéria, que não imponha sacrifício excessivo a um dos valores em jogo, em homenagem ao outro. Para usar palavras mais claras: negar conhecimento a recurso é atitude correta – e altamente recomendável – toda vez que esteja clara a ausência de qualquer dos requisitos de admissibilidade. Não devem os tribunais, contudo, exagerar na dose; por exemplo, arvorando em motivos de não conhecimento circunstâncias de que o texto legal não cogita, nem mesmo implicitamente, agravando sem razão consistente exigências por ele feitas, ou apressando-se a interpretar em desfavor do recorrente dúvidas suscetíveis de suprimento. Cumpre ter em mente que da opção entre conhecer ou não conhecer de um recurso podem advir consequências da maior importância prática: por exemplo, se alguém apela de sentença meramente terminativa, o conhecimento da apelação é pressuposto necessário (embora não suficiente) do prosseguimento da atividade cognitiva do tribunal, no sentido de julgar desde logo o mérito, não examinado no primeiro grau de jurisdição (art. 515, § 3º, acrescentado pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001) – desfecho preferível na medida em que importe, como não raro ocorrerá, a eliminação definitiva do litígio. (MOREIRA, 2006)

Conforme exposto pelo ministro Humberto Barros, uma das causas do surgimento da jurisprudência defensiva é o grande número de recursos no âmbito dos tribunais superiores. De fato, o ministro aponta que, em 1997, 96.376 novos processos foram iniciados no STJ, o que representa apenas ¼ do número de processos que foram julgados pela corte em 2007: 347.986.

Os dados demonstram o crescimento exagerado do número de recursos, principalmente quando se observa que, desde sua criação, o STJ possui apenas 33 ministros. Ou seja, enquanto a quantidade de recursos só aumenta, o número de ministros se mantém o mesmo, o que enseja uma carga de trabalho cada vez maior.

Outro exemplo da situação acima descrita ocorre no STF. Conforme expõe Márcio Carvalho Faria:

Como ressaltado, é cediço que o Judiciário brasileiro, notadamente os Tribunais Superiores, têm convivido com uma enormidade de processos para julgamento. Segundo dados do Supremo Tribunal Federal, somente em 2008 66.873 processos foram distribuídos, o que dá uma média de 16 processos por dia por ministro (isso sem levar em conta os sábados, domingos e feriados, nos quais normalmente não há expediente forense), algo, em verdade, verdadeiramente impraticável. (FARIA, 2010)

Registre-se que a situação descrita acima é uma realidade também nas instâncias ordinárias. Márcio Faria aponta que a relação cidadão por juiz, no Brasil, é bem menor do que em outros países. O autor aponta que, na Alemanha, a relação é de 23 juízes para cada 100.000 habitantes, enquanto no Brasil, a relação é de 5,3 magistrados para o mesmo número de habitantes.

(16)

14

aponta que:

As decisões do Tribunal – ao invés de [sic] funcionarem como faróis, orientando em definitivo a aplicação do direito federal – reduziram-se a soluções tópicas, cujo alcance limitava-se às partes envolvidas em cada processo.

Os tribunais superiores foram criados para uniformizar a jurisprudência dos demais tribunais, pois suas decisões devem nortear as sentenças e os acórdãos proferidos em 1ª e 2ª instâncias. Entretanto, mesmo quando a jurisprudência se encontra pacificada no âmbito de um tribunal superior, muitas decisões das instâncias ordinárias são proferidas em sentido contrário, o que enseja a interposição de recursos com o intuito de obter a aplicação de um entendimento já sedimentado nas cortes superiores.

Note-se que, como exposto acima, o número de processos é bastante elevado em todas as instâncias do Judiciário, inviabilizando a prestação jurisdicional de forma adequada e justa desde o magistrado de piso.

Dessa forma, o jurisdicionado, por vezes, não tem obtém decisões judiciais que atendam à sua demanda em 1ª grau, o que enseja a interposição de recurso para obter a prestação jurisdicional almejada. Considerando-se que os tribunais ordinários também possuem uma grande carga de trabalho, é possível que o julgamento do recurso não seja feito de uma forma a apresentar a solução mais adequada ao caso concreto. Assim, o jurisdicionado apela às instâncias superiores, tendo uma grande probabilidade de que seu recurso sequer seja conhecido em virtude dos entraves impostos pela jurisprudência defensiva.

Outro ponto a ser levantado é o número de demandas repetitivas no âmbito dos tribunais superiores. O ministro Humberto Barros cita, como exemplo, a questão da definição do índice de correção do FGTS. Apesar do entendimento encontrar-se pacificado na jurisprudência do STJ, o tribunal recebeu diversos processos tratando do mesmo tema, sendo obrigado a julgar diversos recursos da mesma forma.

Dessa forma, os mecanismos da jurisprudência defensiva impediriam a chegada de recursos com temas idênticos aos já decididos pelo STJ, tentando reduzir o grande número de julgamentos de mérito a ser realizados pelo tribunal.

O ministro afirma que a Lei nº 11.418/2006 tratou da questão das demandas repetitivas no âmbito do STF, viabilizando o julgamento dos recursos idênticos de forma unificada. Contudo, o ministro aponta que o STJ foi esquecido pelo legislador, pois mecanismo semelhante não foi criado para este tribunal.

(17)

15

introduzido pela Lei nº 11.672/2008, um ano após o discurso do ministro Humberto Barros. Contudo, apesar de tal mecanismo ser um passo para reduzir o número de recursos, o referido sobrestamento ainda não se apresenta como solução definitiva para a quantidade de processos que chegam aos tribunais superiores, o que possibilita a continuidade da jurisprudência defensiva.

Ante o exposto, demonstra-se a relevância da jurisprudência defensiva, apesar de parte da doutrina sequer mencionar a existência do tema ao realizar a análise do processo brasileiro.

(18)

16

3 APRESENTAÇÃO DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL NO ANTIGO E NOVO CPC

O presente capítulo almeja apresentar os requisitos de admissibilidade do recurso especial no antigo e no novo CPC, com o objetivo de facilitar o estudo comparado entre os referidos requisitos a ser feito no capítulo seguinte. Com o objetivo de organizar e facilitar sua apresentação, os requisitos de admissibilidade serão expostos divididos nas seguintes categorias: cabimento, tempestividade, preparo e regularidade formal. Os requisitos são aqueles previstos no CPC, antigo e novo, na CF/88, e na jurisprudência do STJ, esta seja interpretando os quesitos existentes, seja criando novos.

Registre-se que aqueles requisitos de admissibilidade dos recursos em geral, os quais são aplicados ao recurso especial, mas sem qualquer diferença em relação a esta espécie de recurso, não serão abordados por esta monografia. Considerando-se que o intuito deste estudo é analisar a jurisprudência defensiva do STJ no tocante ao recurso especial e o impacto do novo CPC nesse cenário, a análise dos requisitos de admissibilidade aplicados aos recursos em geral não acrescentaria informações relevantes para fundamentar o presente estudo.

3.1 Requisitos de Admissibilidade do Recurso Especial no Antigo CPC

3.1.1Cabimento

Seguindo a divisão proposta por Daniel Amorim Assumpção Neves (NEVES, 2013, p. 739-744), o cabimento do recurso especial será dividido em dois tópicos: pressupostos cumulativos e alternativos. Aqueles devem ser preenchidos em sua totalidade, sob pena de não conhecimento do recurso. Com relação aos alternativos, o recurso precisa adequar-se a apenas um deles para que seja admissível. Estes são as hipóteses de cabimento do recurso especial previstos na Constituição Federal.

3.1.1.1 Pressupostos cumulativos

(19)

17

3.1.1.1.1 Decisão de única ou última instância

O art. 1052, III, caput, da CF/88, prevê que é cabível recurso especial de decisão

de única ou última instância de tribunal. Tal requisito exige o esgotamento das vias ordinárias para a interposição do referido recurso. Assim, a parte deve interpor todos os recursos cabíveis em face da decisão, inclusive embargos de declaração, antes de interpor recurso especial.

Nesta senda, a súmula 207 do STJ, abaixo transcrita, expõe que a parte deve interpor embargos infringentes contra o acórdão proferido pelo tribunal, sob pena de inadmissibilidade do recurso especial:

Súmula 207 - É inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos infringentes contra o acordão proferido no tribunal de origem. (Súmula 207, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/04/1998, DJ 16/04/1998)3

O entendimento acima exposto também se aplica quando se trata de decisão monocrática do relator, devendo a parte interpor agravo interno para órgão colegiado. Segundo Daniel Amorim (NEVES, 2013, p. 740), acaso haja interposição de embargos de declaração contra decisão monocrática, o qual não tenha seu mérito julgado, a parte deverá ingressar com agravo interno para que o requisito do esgotamento das vias ordinárias seja preenchido.

Registre-se o absurdo do entendimento ora exposto. Não se olvida que, tratando-se de um tribunal superior, somente casos excepcionais tratando-seriam objeto de julgamento pelo STJ, tais como os processos em que a decisão final do tribunal de origem está em desacordo com a legislação infraconstitucional. Contudo, a exigência de interposição de todos os recursos possíveis para viabilizar o recurso especial apenas sobrecarrega, ainda mais, os tribunais regionais do país, pois, inevitavelmente, a parte é obrigada a interpor um recurso – sem grande possibilidade de êxito, na maioria dos casos – apenas para preencher um dos requisitos de admissibilidade do recurso especial.

Dessa forma, a interpretação exagerada do STJ em relação ao requisito previsto pelo referido art. 105, III, acaba por violar o princípio da celeridade processual, já que os

2 Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: [...]

III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: [...]

(20)

18

processos possuem um andamento lento no Judiciário brasileiro, sendo tal lentidão agravada pela obrigação de interposição de diversos recursos com o único fim de preencher um dos requisitos de admissibilidade do recurso especial.

3.1.1.1.2 Decisão proferida por tribunal

Segundo o art. 105, III, caput, da CF/88, é cabível recurso especial das decisões proferidas pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios.

Devido à previsão constitucional, não é possível a interposição de recurso especial das decisões proferidas pelos Juizados Especiais em sede de recurso especial. Note-se que não existe tribunal no âmbito dos Juizados Especiais, pois os recursos inominados são julgados por uma turma recursal, formada por três juízes do primeiro grau, conforme previsão da Lei nº 9.099/19954.

Dessa forma, o STJ tem entendimento consolidado no sentido exposto acima, inclusive através de súmula5. Contudo, considerando-se o papel constitucional deste tribunal

em uniformizar a jurisprudência no âmbito da legislação infraconstitucional, a impossibilidade de analisar as decisões dos Juizados Especiais dá ensejo à insegurança jurídica, pois não há como controlar o entendimento adotado pelas turmas recursais.

Enquanto a legislação não for alterada, o STF6 decidiu pelo cabimento de

reclamação constitucional ao STJ nas ações dos Juizados Especiais Estaduais, já que os Juizados Especiais Federais7 e da Fazenda Pública8 possuem um meio próprio para unificar a

4 Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o

próprio Juizado.

§ 1º O recurso será julgado por uma turma composta por três Juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado. [...]

5 Súmula 203 do STJ - Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos

Juizados Especiais. (*) (*) A Corte Especial, na sessão extraordinária de 23 de maio de 2002, julgando o AgRg no Ag 400.076-BA, deliberou pela ALTERAÇÃO do enunciado da Súmula n. 203. REDAÇÃO ANTERIOR (decisão de 04/02/1998, DJ 12/02/1998, PG: 35): NÃO CABE RECURSO ESPECIAL CONTRA DECISÃO PROFERIDA, NOS LIMITES DE SUA COMPETÊNCIA, POR ÓRGÃO DE SEGUNDO GRAU DOS JUIZADOS ESPECIAIS. (Súmula 203, CORTE ESPECIAL, julgado em 23/05/2002, DJ 03/06/2002).

6 Informativo 557/STF: RE 571572 QO-ED/BA, rel. Min. Ellen Gracie, 26.8.2009. (RE-571572). Disponível em:

<http://www.stf.jus.br//arquivo/informativo/documento/informativo557.htm#Juizados Especiais Estaduais: Reclamação e STJ -1>. Acesso em 29.09.2016.

7 Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando houver divergência entre

decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas Recursais na interpretação da lei.

8 Arts. 18 e 19 da Lei nº 12.153/2009:

Art. 18. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei quando houver divergência entre decisões proferidas por Turmas Recursais sobre questões de direito material.

(21)

19

interpretação da legislação infraconstitucional: pedido de uniformização de jurisprudência.

3.1.1.1.3 Pré-questionamento

Com relação aos requisitos de admissibilidade já estudados nesta monografia, o pré-questionamento é o primeiro que não possui previsão constitucional ou legal, sendo um requisito previsto exclusivamente na jurisprudência dos tribunais superiores para justificar o cabimento dos recursos excepcionais. O referido requisito decorre da interpretação da expressão “causas decididas” presente nos arts. 102 e 105 da CF/88, segundo os tribunais superiores.

Considerando-se que o objeto de estudo deste TCC é o recurso especial, colaciona-se julgado do STJ apresentando o conceito de pré-questionamento:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. CONFIGURAÇÃO DO PREQUESTIONAMENTO. VOTO-CONDUTOR RECORRIDO. 1.- "Para configurar-se a existência do prequestionamento não basta que o recorrente devolva a questão controvertida para o tribunal, sendo necessário que a causa tenha sido decidida à luz da legislação federal indicada, bem como seja exercido juízo de valor dos dispositivos legais, interpretando-se a sua aplicação ou não ao caso concreto. Nesse diapasão, também não é suficiente a simples menção da norma considerada violada, seja no relatório ou no voto condutor, sem que se atenda aos requisitos adrede mencionados." (AGA 348.942/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 16.4.2001, DJ 13.8.2001, p. 139). 2.- "Para que se configure o prequestionamento é necessário que os dispositivos legais ou a matéria jurídica a eles relacionada tenham sido debatidos no voto-condutor recorrido". (AgRg no Ag 440.126/RJ, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO) 3.- Agravo improvido.9

Nesse sentido, o pré-questionamento é a exigência de que a matéria infraconstitucional objeto do recurso especial tenha sido analisada pelo STJ. Como se demonstra pelo acórdão acima, existem diversos detalhes a serem observados para que o requisito de pré-questionamento seja preenchido.

Inicialmente, o acórdão recorrido deve enfrentar, especificamente, os dispositivos legais cuja violação enseja a interposição de recurso especial. Dessa forma, acaso o acórdão seja omisso, a parte deve interpor embargos de declaração com o objetivo de que haja expressa manifestação do tribunal acerca do tema.

Registre-se que, se o tribunal não se pronunciar sobre o objeto do recurso especial na decisão dos embargos, o STJ considera o pré-questionamento como inexistente, em

divergência.

9 STJ - AgRg no REsp: 1417431 SC 2013/0374474-2, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data de Julgamento:

(22)

20

conformidade com o disposto na súmula 21110.

Assim, acaso a omissão persista, a parte deverá interpor recurso especial alegando ofensa ao art. 535 do CPC, pois o tribunal não supriu a omissão do acórdão, mesmo com a interposição de embargos de declaração11. Nesse caso, se o recurso especial for julgado

procedente, o processo retornará ao tribunal de origem para que este se manifeste expressamente a matéria impugnada, viabilizando a interposição de recurso especial sobre tal tema.

Nesse ponto, importa destacar que o STJ admite o pré-questionamento implícito, consubstanciado quando o tribunal a quo se manifesta sobre a matéria impugnada, mas não cita, expressamente, os dispositivos legais impugnados pela parte. Desta feita, o tema deve ter sido explicitamente analisado pelo tribunal, o qual demostrou seu posicionamento sobre a legislação infraconstitucional no acórdão, mas apenas se omitiu no tocante aos dispositivos legais12.

Além disso, acaso o acórdão não tenho sido julgado por unanimidade, o objeto do recurso especial deve ter sido ventilado no voto vencedor, não sendo cabível recurso especial caso a matéria tenha sido analisada, apenas, pelo voto vencido, entendimento pacificado na súmula 32013 do STJ.

3.1.1.1.4 Impossibilidade de reexame de prova

10 Súmula 211 do STJ - Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos

declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo. (Súmula 211, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/07/1998, DJ 03/08/1998)

11 ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. ADVOGADO DA UNIÃO. GRATIFICAÇÃO DE

ATIVIDADE EXECUTIVA - GAE. EXCLUSÃO PELA MEDIDA PROVISÓRIA 2.048-26/2000, QUE INSTITUIU A GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DE ATIVIDADE JURÍDICA - GDAJ. [...] 3. Não houve prequestionamento das matérias tratadas pelos arts. 4º, 5º e 6º da LICC, e 126 do CPC, mesmo com a oposição de embargos de declaração. Incide, portanto, a Súmula 211/STJ ("Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo"). [...] (STJ - REsp: 1353016 AL 2012/0237079-6, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Data de Julgamento: 12/06/2013, S1 - PRIMEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 21/06/2013)

12 RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. ART. 459 DO CPC. AUSÊNCIA DE

PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA N. 282 DO STF. PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO. MATÉRIA RECURSAL ÍNSITA NO DISPOSITIVO INVOCADO. AUSÊNCIA DE DEBATE NO ACÓRDÃO A QUO. VOTO VENCIDO. SÚMULA N. 320 DO STJ. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. À luz do enunciado sumular n. 282 do STF, é inadmissível recurso especial que demande a apreciação de matéria sobre a qual não tenha se pronunciado o Tribunal a quo. 2. Se é assente no STJ a admissão do prequestionamento implícito, também não se pode olvidar que a matéria recursal ínsita no dispositivo invocado há que ter sido objeto de debate no acórdão a quo, requisito que não se supre pela mera convicção do recorrente de que ocorreu ofensa à norma legal. 3. "A questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito do prequestionamento" (Súmula n. 320 do STJ). 4. Decisão agravada mantida por seus próprios fundamentos. 5. Agravo regimental desprovido. (STJ, AgRg no REsp 905.721/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 24/08/2010, DJe 02/09/2010)

13 Súmula 320 do STJ - A questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito do

(23)

21

Considerando-se o papel de uniformização da jurisprudência atribuído aos tribunais superiores, as hipóteses de cabimento dos recursos excepcionais devem ocorrer apenas em casos singulares.

Dessa forma, os tribunais possuem entendimento pacificado no sentido de que não é cabível recurso às instâncias superiores para reexame de prova, pois tal função pertence às instâncias ordinárias.

No âmbito do STJ, o entendimento encontra-se sumulado14, sendo amplamente

aplicado pelo tribunal em seus julgados15. Contudo, o referido tribunal entende possível a

interposição de recurso especial em caso de valoração da prova, quando há violação das normas de direito probatório, especialmente em relação ao valor e admissibilidade da prova.

Nesta senda, o recurso especial deve demonstrar que o acórdão recorrido negou vigência ou contrariou princípio ou norma legal do direito probatório16. Contudo, a

supracitada análise não pode envolver o reexame de prova, sob pena de não conhecimento do recurso com base na Súmula 07 do STJ.

Além disso, o recurso especial não pode ensejar a alteração de premissa fática adotada pelo tribunal de origem. Nesse caso, o STJ entende que a mudança em tal premissa

14 Súmula 7 do STJ - A pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso Especial. (Súmula 7,

CORTE ESPECIA, julgado em 28/06/1990, DJ 03/07/1990)

15 PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

LESÃO CORPORAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. CONDENAÇÃO BASEADA NO CONTEXTO FÁTICO PROBATÓRIO. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO POR EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. REEXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Desprovido o agravo em recurso especial com fundamento na Súmula n. 7 do Superior Tribunal de Justiça ("A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial"), impõe-se confirmar o decisum se não demonstrada, no agravo regimental dele interposto, a sua inaplicabilidade ao caso concreto. 2. Conforme consolidada jurisprudência, "os Tribunais Superiores resolvem questões de direito e não questões de fato e prova" (STF, RHC 113.314/SP, Rel. Ministra Rosa Weber, julgado em 11/09/2012; Súmula 7/STJ). 3. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no AREsp: 586754 DF 2014/0240760-9, Relator: Ministro NEWTON TRISOTTO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SC), Data de Julgamento: 16/04/2015, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/04/2015)

16 PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE VEÍCULO.

(24)

22

ensejaria o reexame de provas, algo vedado em sede de recursos excepcionais17.

Registre-se que muitos recursos especiais são inadmitidos pelo fundamento genérico de necessidade de reexame de provas. Entretanto, a decisão não explica porque o caso em análise se prestaria à reanálise probatória, limitando-se a afirmar que o conhecimento é obstado pela súmula 07. Desta feita, o referido requisito tornou-se mais um exemplo da jurisprudência defensiva, pois, apesar de o entendimento ser fundamentado na Constituição Federal (papel de uniformização da jurisprudência atribuído aos tribunais superiores), os tribunais utilizam o requisito indiscriminadamente, inviabilizando o julgamento de mérito recursal sem explicar qual seria o reexame fático no caso concreto que ensejaria o não conhecimento do recurso.

Nesse sentido, a parte terá dificuldades de interpor agravo em recurso especial, pois, sem saber qual seria o reexame fático encontrado pelo tribunal, o recorrente não saberá, exatamente, quais os argumentos a serem utilizados para reverter a decisão desfavorável.

3.1.1.2 Pressupostos alternativos

Como exposto anteriormente, o conhecimento do recurso especial é condicionado ao preenchimento de apenas um dos pressupostos alternativos, os quais se encontram previstos nas alíneas do inciso III da CF/88.

3.1.1.2.1 Decisum que contraria ou nega vigência a tratado ou lei federal

A alínea a do art. 105, III, da CF/88, prevê que é cabível recurso especial quando a decisão recorrida contrariar ou negar vigência a tratado ou lei federal. Freddie Didier (DIDIER; CUNHA, 2013) diferencia os termos “contrariar” e “negar vigência”: “em outras palavras, uma interpretação inadequada caracteriza uma contrariedade, mas não significa que tenha havido uma negativa de vigência” (grifo do original).

17 PENAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

(25)

23

Nesse sentido, “contrariar” seria uma interpretação inadequada do conteúdo da norma, enquanto “negar vigência” ocorre quando a decisão não aplica a norma correta ao caso concreto.

A contrariedade à lei federal deve ser feita de forma específica e clara, nos termos da súmula 28418 do STF, também aplicada pelo STJ.

O termo “lei” é interpretado de forma ampla pela doutrina, sendo cabível em face de lei federal, lei complementar federal, lei ordinária federal, lei delegada federal, decreto autônomo federal, medida provisória federal e decreto-lei federal. Ou seja, todas as leis aprovadas pelo Congresso Nacional.

No tocante à lei estadual ou municipal, o STJ não aceita o cabimento de recurso especial, em conformidade com a súmula 28019 do STF, aplicada pela jurisprudência do

STJ20.

Cabe destacar que, sob o fundamento da alínea a do supracitado art. 105, não é admissível recurso especial em decorrência de contrariedade a entendimento jurisprudencial do STJ. Apenas é possível se a parte demonstrar que o tribunal de origem deu interpretação distinta a dispositivo legal da jurisprudência do STJ, o que demonstraria a contrariedade à lei.

3.1.1.2.2 Decisum que julga válido ato de governo local contestado em face de lei federal

A alínea b do art. 105, III, da CF/88, estabelece o cabimento de recurso especial quando o acórdão julga válido ato de governo local contestado em face de lei federal. A

18 Súmula 284 do STF. É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não

permitir a exata compreensão da controvérsia.

19 Súmula 280 do STF: Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário.

20 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SIMPLES

(26)

24

referida alínea se refere aos casos em que o ato administrativo viola lei federal, mas o acórdão o considera válido apesar disso.

3.1.1.2.3 Decisum que atribua à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído a outro tribunal

A hipótese de cabimento em análise está prevista na alínea c do art. 105, III, da CF/88. A referida hipótese ocorre quando há divergência entre os tribunais sobre a interpretação de um determinado dispositivo legal, cabendo ao STJ uniformizar a interpretação da legislação federal no âmbito dos tribunais regionais.

Nesta senda, registre-se que não é admitido o recurso especial fundamentado em divergência interna no mesmo tribunal de origem21. Nesse caso, o STJ entende que a parte

deve requerer instauração de incidente de uniformização de jurisprudência no tribunal regional ou interpor embargos de divergência em tribunal superior.

Dessa forma, a divergência jurisprudencial deve ocorrer entre tribunais diferentes, sendo possível, inclusive, entre tribunal de justiça e tribunal regional federal, bem como entre qualquer tribunal de segundo grau e o próprio STJ.

A divergência será comprovada através de cotejo analítico entre os acórdãos, sendo ônus da parte demonstrar a interpretação diferente do mesmo dispositivo legal para fins de conhecimento do recurso especial. O STJ tem entendimento pacificado22 no sentido de que

a mera transcrição da ementa não preenche a exigência em análise, pois o recorrente deve destacar os trechos das decisões que demonstram a divergência jurisprudencial. Alguns precedentes antigos do STJ abrandam a referida exigência, dispensando o cotejo analítico em caso de divergência notória entre os julgados23.

21 Súmula 13 do STJ - A divergência entre julgados do mesmo Tribunal não enseja Recurso Especial. (Súmula

13, CORTE ESPECIAL, julgado em 08/11/1990, DJ 14/11/1990)

22 PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIVERGÊNCIA

JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADA. MERA TRANSCRIÇÃO DE EMENTA. REQUISITOS DO ART. 255, § 2º, DO REGIMENTO INTERNO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NÃO PREENCHIDOS. I - A alegada divergência jurisprudencial deve ser comprovada com a transcrição dos trechos dos julgados que configurem o dissídio, bem como necessário o cotejo entre o acórdão recorrido e o aresto paradigma, a fim de demostrar que a mesma situação fática foi julgada diversamente. Inteligência do art. 255, § 2º, do RISTJ. II - No caso, a despeito das alegações do Agravante, as ementas meramente colacionadas são insuficientes para a percepção das discrepâncias jurisprudenciais apontadas. III - Precedentes desta Turma. IV - Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no AREsp: 32187 SP 2011/0176538-0, Relator: Ministra REGINA HELENA COSTA, Data de Julgamento: 17/09/2013, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 23/09/2013)

23 Agravo no recurso especial. Processual civil. Recurso Especial. Divergência jurisprudencial. Comprovação.

(27)

25

Note-se que o entendimento acima é amplamente utilizado como fundamento para não conhecimento do recurso, pois a parte não teria feito o cotejo analítico. Ocorre que a maioria das decisões se limita a alegar inexistência do cotejo analítico, sem esclarecer porque o requisito não foi preenchido, o que dificulta a interposição de recurso da parte recorrente, ante a impossibilidade de aferir qual o erro do recurso especial.

A alegada divergência jurisprudencial também deve ser atual24, refletindo a atual

jurisprudência do tribunal, sob pena de não conhecimento do recurso.

Por fim, cabe à parte recorrente indicar o dispositivo legal que foi objeto da divergência jurisprudencial, pois, caso contrário, o recurso especial não é admitido pelo STJ25.

3.1.2Tempestividade

O art. 508 do CPC/7326 estabelece que o prazo para interposição do recurso

especial é de 15 (quinze) dias corridos27, iniciando-se a partir da publicação do acórdão em

órgão oficial ou da intimação das partes sobre a decisão28.

AgRg no REsp: 331332 DF 2001/0065014-9, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 15/10/2001, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 19.11.2001 p. 267)

24 PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE

DIVERGÊNCIA. ICMS. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. EXAÇÃO DECLARADA INCONSTITUCIONAL. PRESCRIÇÃO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. TESE DOS "CINCO MAIS CINCO" (ERESP 435.835/SC). ACÓRDÃO EMBARGADO EM SINTONIA COM A ATUAL JURISPRUDENCIAL DA PRIMEIRA SEÇÃO. SÚMULA 168/STJ. 1. Agravo regimental contra decisão que indeferiu liminarmente os embargos de divergência (art. 266, § 3º, do RISTJ). (...) 3. No caso em foco não ficou demonstrado o dissídio jurisprudencial necessário à admissibilidade do recurso, uma vez que o aresto apontado como paradigma não reflete a atual posição da Primeira Seção sobre a matéria. A composição contemporânea do referido órgão continua adotando o entendimento sufragado no julgamento dos EREsp 435.835/SC para aplicar a tese dos "cinco mais cinco" à contagem do prazo prescricional, inclusive para a repetição de tributos declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal. Precedentes: EREsp 507.466/SC, Rel. Ministro Humberto Martins, Primeira Seção, julgado em 25/3/2009, DJe 6/4/2009; AgRg nos EAg 779581/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 9/5/2007, DJe 1/9/2008; EREsp 653.748/CE, Rel. Ministro José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministro Luiz Fux, Primeira Seção, julgado em 23/11/2005, DJ 27/3/2006. (...) (STJ - AgRg nos EREsp: 928780 MG 2009/0080105-3, Relator: Ministro BENEDITO GONÇALVES, Data de Julgamento: 23/09/2009, S1 - PRIMEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 01/10/2009)

25 AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL.

AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL VIOLADO. SÚMULA Nº 284/STF. 1. O recurso especial fundamentado no dissídio jurisprudencial exige, em qualquer caso, que tenham os acórdãos - recorrido e paradigma - examinado o tema sob o enfoque do mesmo dispositivo de lei federal. 2. Se nas razões de recurso especial não há sequer a indicação de qual dispositivo legal teria sido malferido, com a consequente demonstração da eventual ofensa à legislação infraconstitucional, aplica-se, por analogia, o óbice contido na Súmula nº 284 do Supremo Tribunal Federal, a inviabilizar o conhecimento do recurso pela alínea c do permissivo constitucional. 3. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no REsp: 1356554 SP 2012/0251862-7, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 07/11/2013, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 20/11/2013)

26 Art. 508. Na apelação, nos embargos infringentes, no recurso ordinário, no recurso especial, no recurso

extraordinário e nos embargos de divergência, o prazo para interpor e para responder é de 15 (quinze) dias.

27 Art. 178. O prazo, estabelecido pela lei ou pelo juiz, é contínuo, não se interrompendo nos feriados.

(28)

26

Com relação aos recursos interpostos antes da data de publicação do acórdão, o STF criou a tese do recurso prematuro ou intempestividade ante tempus. Essa tese define que o recurso é considerado intempestivo se interposto fora do prazo, seja antes de seu início, seja após o seu fim29. Dessa forma, o recurso prematuro não é conhecido porque falta objeto para

o apelo da parte, já que a decisão só passaria a ter eficácia após sua publicação. Essa tese também é utilizada pelo STJ30.

Ocorre que, considerando-se que o art. 506 do CPC/73 prevê como uma das hipóteses de início do prazo recursal a intimação das partes, não é plausível a aplicação da tese do recurso prematuro. A intimação das partes é realizada, justamente, para que estas tenham acesso ao teor decisório e possam adotar as providências cabíveis. Se a parte já apresentou recurso, isto significa que, no mínimo, a parte já teve ciência da decisão e já adotou a medida que considerou adequada ao caso concreto. Logo, tal conduta privilegia o princípio da celeridade processual, o qual se encontra tão em voga atualmente, sendo utilizado como fundamento de muitas decisões da jurisprudência dos tribunais pátrios, inclusive do STJ31.

parágrafos, contar-se-á da data: I - da leitura da sentença em audiência;

II - da intimação às partes, quando a sentença não for proferida em audiência; III - da publicação da súmula do acórdão no órgão oficial.

III - da publicação do dispositivo do acórdão no órgão oficial.

29 RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO (LEI Nº 12.322/2010). EXTEMPORANEIDADE DO

APELO EXTREMO. IMPUGNAÇÃO RECURSAL PREMATURA, DEDUZIDA EM DATA ANTERIOR À DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. RECURSO IMPROVIDO. A intempestividade dos recursos tanto pode derivar de impugnações prematuras (que se antecipam à publicação dos acórdãos) quanto decorrer de oposições tardias (que se registram após o decurso dos prazos recursais). Em qualquer das duas situações - impugnação prematura ou oposição tardia -, a consequência de ordem processual é uma só: o não conhecimento do recurso, por efeito de sua extemporânea interposição. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem advertido que a simples notícia do julgamento, além de não dar início à fluência do prazo recursal, também não legitima a prematura interposição de recurso, por absoluta falta de objeto. Precedentes. (STF - ARE: 832384 RS, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 07/10/2014, Segunda Turma, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-207 DIVULG 20-10-2014 PUBLIC 21-10-2014)

30 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL. OPOSIÇÃO ANTES DA PUBLICAÇÃO

DO ACÓRDÃO. RECURSO PREMATURO. INTEMPESTIVIDADE. 1. "É assente na jurisprudência do STF e do STJ que a intempestividade recursal advém não só de manifestação tardia da parte, mas, igualmente, da impugnação prematura." 2. Embargos declaratórios não conhecidos. (STJ - EDcl no AgRg nos EDcl no REsp: 1043068 RS 2008/0065913-6, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de Julgamento: 04/11/2010, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/11/2010)

31 PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

(29)

27

Nesse sentido, o Tribunal Pleno do STF32 entendeu tempestivo recurso interposto

em face de decisão monocrática, já que a decisão é colacionada aos autos antes de sua publicação. Note-se que tal entendimento poderia ser aplicado às decisões colegiadas, pois os acórdãos são juntados aos autos antes de sua publicação. Entretanto, como exposto, os tribunais não aplicam esse entendimento às decisões colegiadas, sendo um clássico exemplo de jurisprudência defensiva.

A tese do recurso prematuro também é utilizada para justificar a intempestividade de recurso especial antes do julgamento dos embargos de declaração, sem ratificação posterior do recorrente33. No âmbito do STJ, esse entendimento encontra-se sumulado34.

Note-se que, mesmo que os embargos sejam inadmitidos ou julgados improcedentes e não haja mudança no acórdão recorrido, a parte é obrigada a ratificar a interposição do recurso, sob pena de não conhecimento, o que demonstra o excesso de formalismo no âmbito do STJ.

A tempestividade do recurso deve ser comprovada no momento de sua interposição, sob pena de preclusão consumativa. Além disso, é ônus da parte não só comprovar a tempestividade do recurso, como a existência de causas suspensivas dos prazos, em especial a existência de feriado local35.

Terceira Turma, DJe 8/4/2011.3. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no Ag: 1419434 SE 2011/0141356-7, Relator: Ministro BENEDITO GONÇALVES, Data de Julgamento: 20/11/2012, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 26/11/2012)

32 AGRAVO REGIMENTAL CONTRA DECISÃO DE RELATOR QUE, POR INTEMPESTIVIDADE,

NEGOU SEGUIMENTO A OUTRO AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO NÃO RATIFICADO OPORTUNAMENTE. Conforme entendimento predominante nesta colenda Corte, o prazo para recorrer só começa a fluir com a publicação do acórdão no órgão oficial, sendo prematuro o recurso que o antecede. Entendimento que não se aplica no caso de decisão monocrática, a cujo inteiro teor as partes têm acesso nos próprios autos, antes da respectiva publicação. Recurso provido para, afastada a intempestividade do primeiro agravo, dar-se-lhe seguimento. (STF, AO 1140 AgR-AgR, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 16/06/2005, DJ 17-03-2006 PP-00006 EMENT VOL-02225-01 PP-00050)

33 PROCESSUAL CIVIL E PENAL. RECURSO ESPECIAL. INTERPOSIÇÃO ANTERIOR AO

JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RATIFICAÇÃO. AUSÊNCIA. RECURSO PREMATURO. INTEMPESTIVIDADE. 1. "É prematura a interposição de recurso especial antes do julgamento dos embargos de declaração, momento em que ainda não esgotada a instância ordinária e que se encontra interrompido o lapso recursal". (Recurso Especial nº 776.265/SC, Corte Especial, Relator p/ acórdão o Sr. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ de 6/8/07). 2. Afigura-se, portanto, intempestivo o recurso especial interposto antes do julgamento dos embargos de declaração, ainda que opostos pela parte contrária, ante a ausência de ratificação do especial. 3. Ressalte-se que a necessidade de ratificação surge após a apreciação dos embargos declaratórios, com a intimação das partes para ciência do julgamento. 4. Recurso especial do qual não se conhece. (STJ - REsp: 705606 PE 2004/0165006-8, Relator: Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento: 20/08/2009, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 19/10/2009)

34 Súmula 418 - É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de

declaração, sem posterior ratificação. (Súmula 418, CORTE ESPECIAL, julgado em 03/03/2010, DJe 11/03/2010)

35 Direito processual civil. Embargos de declaração no agravo no agravo no agravo de instrumento. Formação

(30)

28

O entendimento acima apenas foi flexibilizado em 2012, de forma a possibilitar que a parte possa comprovar a tempestividade em sede de agravo regimental36. Ainda assim,

importa destacar que o entendimento ora exposto não possui previsão legal, pois o art. 337 do CPC/7337 determina que o direito local só deve ser comprovado em caso de determinação do

juiz. Logo, acaso o magistrado tenha alguma dúvida acerca da tempestividade, caberia ao mesmo intimar a parte e exigir a comprovação do feriado local. Entretanto, acaso a parte não comprove a existência do feriado durante o prazo recursal, o recurso não seria conhecido por intempestividade no âmbito do STJ.

Com relação à interposição de recurso por meio de fax, o STJ interpretou a Lei nº 9.800/1999 da seguinte forma, como explana Freddie Didier (DIDIER; CUNHA, 2013):

De acordo com a Lei Federal n. 9.800/1999, é possível a prática de qualquer ato processual escrito por meio de sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar (art. 1º). Essa prática não acarreta qualquer prejuízo em relação ao cumprimento de prazos, pois a parte está autorizada a entregar os originais, em cartório, no máximo, no prazo de cinco dias contados da data do término do prazo que tinha para praticar o ato. O STJ interpretou o dispositivo da seguinte forma: a) O prazo para apresentação do original em recurso apresentado via

fac-símile que findar em final de semana, feriado ou dia em que não houver expediente forense ficará prorrogado até o primeiro dia útil seguinte a esta data (aplica-se o § 1º do art. 184 do CPC); b) Este prazo de juntada dos originais não se soma ao prazo recursal, em razão da preclusão consumativa: [...]; c) “o texto original do recurso interposto por faz deve ser entregue em juízo, necessariamente, até cinco

transversa, modificar o julgado, fugindo aos parâmetros fixados pela jurisprudência desta Corte, no sentido de que a prova de feriado local em dia relevante para a contagem de prazo recursal perante o STJ deve ser feita no ato da interposição do recurso e não posteriormente, em embargos de declaração ou agravo regimental, contra a decisão que reconhece a intempestividade. - Em suas ponderações, pretende tão-somente rediscutir matéria jurídica já decidida com base na jurisprudência do STJ, sem concretizar alegações que se amoldem às particularidade [sic] de que devem se revestir as peças dos embargos declaratórios. - Ao STJ não é dado imiscuir-se na competência do STF, sequer para prequestionar questão constitucional suscitada em sede de embargos de declaração, sob pena de violar a rígida distribuição de competência recursal disposta na CF/88. Embargos de declaração rejeitados. (STJ - EDcl no AgRg no AgRg no Ag: 1008524 DF 2008/0019955-0, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 14/04/2009, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/04/2009)

36 AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.

INTEMPESTIVIDADE DO RECURSO ESPECIAL. PREPARO. COMPROVANTE DE AGENDAMENTO DE PAGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. DESERÇÃO. SÚMULA 187/STJ. PRECEDENTES. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A Corte Especial do STJ, no julgamento do AgRg no AREsp 137.141/SE, ocorrido em 19/9/2012, passou a adotar o entendimento de que a comprovação da tempestividade do recurso, em decorrência de feriado local ou de suspensão de expediente forense no Tribunal de origem que implique prorrogação do termo final para sua interposição, pode ocorrer posteriormente, em sede de agravo regimental. 2. In casu, a agravante não juntou documento hábil à comprovação do alegado, não bastando, para tanto, a simples alegação. Desse modo, não há como reconhecer a aplicação do supracitado entendimento. Recurso intempestivo. 3. O entendimento desta eg. Corte é de que a juntada de comprovante de agendamento não é meio apto a comprovar que o preparo foi devidamente recolhido. Por certo, não tendo a parte comprovado o pagamento do preparo do recurso no ato de sua interposição, este deve ser considerado deserto. Precedentes. 4. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no AREsp: 744643 SC 2015/0171015-0, Relator: Ministro RAUL ARAÚJO, Data de Julgamento: 03/12/2015, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 18/12/2015)

37 Art. 337. A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e

(31)

29

dias do respectivo protocolo, nada importando que o termo inicial dessa prorrogação recaia em sábados, domingos e feriados, porque o prazo é contínuo”38.

Assim, a interpretação dada pelo STJ ao supracitado dispositivo legal é bastante formalista, inclusive permitindo o início de prazo em dia não útil, o que é não é a praxe do processo civil, pois a Lei nº 11.419/200639 dispõe que o início dos prazos sempre ocorre em

dia útil.

Nesta senda, o STJ tem súmula40 no sentido de que, acaso haja interposição de

recurso no tribunal pelos correios, a tempestividade é analisada pela data de protocolo na secretaria, e não da postagem dos correios. Dessa forma, o STJ atribui à parte não só ônus de postar o recurso nos correios dentro do prazo, como também assegurar que a protocolo durante o prazo legal41.

Ainda em relação ao protocolo físico da petição, a inexistência ou ilegibilidade do carimbo de protocolo da secretaria enseja o não conhecimento do recurso por ausência de comprovação da tempestividade. Uma vez mais, o STJ atribui à parte recorrente ônus que não lhe cabe, pois a secretaria é responsável pelo carimbo da petição. Note-se que o STJ já recusou a certidão do tribunal de origem atestando a tempestividade, sob o argumento de que

38 Acórdão unânime da Corte Especial do STJ, EResp 687.361/GO, rel. Min. Ari Pargendler, j. 19/6/2006, DJ de

30.05.2005. (...)

39 Art. 4o. Os tribunais poderão criar Diário da Justiça eletrônico, disponibilizado em sítio da rede mundial de

computadores, para publicação de atos judiciais e administrativos próprios e dos órgãos a eles subordinados, bem como comunicações em geral.

(...)

§ 3o Considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no

Diário da Justiça eletrônico.

§ 4o Os prazos processuais terão início no primeiro dia útil que seguir ao considerado como data da publicação. 40 Súmula 216 - A tempestividade de recurso interposto no Superior Tribunal de Justiça é aferida pelo registro no

protocolo da secretaria e não pela data da entrega na agência do correio. (Súmula 216, CORTE ESPECIAL, julgado em 03/02/1999, DJ 01/03/1999)

41 PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

(32)

30

o juízo de admissibilidade do órgão ad quem não vincula o tribunal superior42.

Por fim, o STJ aceita o erro na publicação (informações errôneas disponibilizadas no site do tribunal) como justa causa no descumprimento do prazo recursal, pois a parte teria sido induzida a erro pelo próprio tribunal43, entendimento coerente com a praxe processual,

considerando-se que a parte recorrente atribui confiabilidade às informações em sites oficiais.

3.1.3Preparo

Segundo o STJ, preparo é consubstanciado em todas as despesas inerentes à interposição de um recurso. Dessa forma, incluem-se no preparo as custas processuais e valor pago a título de porte de remessa e de retorno dos autos44.

Nesse sentido, acaso a parte não realize o pagamento das custas de porte de remessa e de retorno dos autos, o STJ considera que o recurso é deserto, ainda que o

42 RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO DORECURSO

ESPECIAL. CARIMBO DO PROTOCOLO ILEGÍVEL. IRRELEVANTE AEXISTÊNCIA DE CERTIDÃO ATESTANDO A TEMPESTIVIDADE. 1. A jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido de que é dever da agravante zelar pela correta formação do agravo de instrumento, inclusive sobre a verificação da visibilidade do carimbo de interposição do recurso especial, requisito essencial para aferir a tempestividade. 2. Cabe ao STJ realizar definitivamente o juízo de admissibilidade do recurso especial e, para tanto, imprescindível seu conhecimento quanto à questão da tempestividade. 3. "A orientação desta Corte é no sentido de que a certidão lavrada por servidor público nos autos do processo, atestando apenas a tempestividade do recurso, não impede o reexame desse requisito pelo STJ, eis que o juízo de admissibilidade realizado na instância ordinária não vincula esta instância especial." (EDcl no AgRg no Ag1.339.832/CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 3.2.2011, DJe 14.2.2011). Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no Ag: 1386269 PE 2011/0012733-5, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data de Julgamento: 16/08/2011, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/08/2011)

43 PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. INFORMAÇÕES PROCESSUAIS NO SÍTIO DO

TRIBUNAL. CONTAGEM DE PRAZO. BOA-FÉ. ART. 183, §§ 1º E 2º, DO CPC. JUSTA CAUSA. APLICAÇÃO. Segundo a nova orientação desta Corte, "ainda que os dados disponibilizados pela internet sejam 'meramente informativos' e não substituam a publicação oficial (fundamento dos precedentes em contrário), isso não impede que se reconheça ter havido justa causa no descumprimento do prazo recursal pelo litigante (art. 183, caput, do CPC), induzido por erro cometido pelo próprio Tribunal." (REsp 1.324.432/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Corte Especial, DJe 10.5.2013). Recurso especial provido. (STJ - REsp: 1438529 MS 2013/0383808-5, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data de Julgamento: 24/04/2014, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 02/05/2014)

44 PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. INSUFICIÊNCIA DE PREPARO. NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO

(33)

31

recorrente comprove o pagamento das demais custas45.

Em caso de pagamento insuficiente do preparo, o art. 51146, § 2º, do CPC/73,

possibilita a intimação do recorrente para suprir a deficiência no prazo de cinco dias. O STJ interpreta o dispositivo literalmente, no sentido de que só é possível a intimação da parte acaso haja insuficiência no preparo. Se a parte não pagar as custas ou pagar apenas uma espécie de custas (exemplo: o recorrente não paga porte de remessa e de retorno, mas paga as demais custas), o STJ não entende cabível a aplicação do supracitado § 2º nesse caso47, sendo

este outro exemplo da jurisprudência defensiva do tribunal.

Registre-se que, em caso de processo eletrônico, a parte está dispensado do recolhimento de porte de remessa e retorno, segundo entendimento pacificado na jurisprudência do STJ48.

45 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PREPARO.

IRREGULARIDADE NO RECOLHIMENTO. UTILIZAÇÃO DE GUIA DIVERSA. PREENCHIMENTO INCORRETO. RESOLUÇÃO 1/2011. DESCUMPRIMENTO. DESERÇÃO CONFIGURADA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 187 DO STJ. 1. Nos termos da jurisprudência consolidada no Superior Tribunal de Justiça, a comprovação do recolhimento do preparo faz-se no ato de interposição do recurso, segundo a regra do art. 511, caput, do CPC, sob pena de deserção. 2. "É deserto o recurso interposto para o Superior Tribunal de Justiça, quando o recorrente não recolhe, na origem, a importância das despesas de remessa e retorno dos autos." (Súmula 187 do STJ). 3. A partir da Resolução n. 12/2005, não basta o pagamento da importância devida na origem, sendo imprescindível o correto preenchimento das respectivas guias, bem como o recolhimento no estabelecimento bancário, sob pena de deserção. Precedente da Corte Especial. 4. Interposto o recurso sob a vigência da Resolução STJ n. 1/2011, sem a observância das normas referentes ao preparo, eis que recolhido em guia diversa, preenchida de forma incorreta, o reconhecimento da deserção é medida que se impõe. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no REsp: 1378617 SC 2013/0088944-0, Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Data de Julgamento: 18/11/2014, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 26/11/2014.

46 Art. 511. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação

pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.

§ 1º São dispensados de preparo os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal.

§ 2º A insuficiência no valor do preparo implicará deserção, se o recorrente, intimado, não vier a supri-lo no prazo de cinco dias.

47 ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.

PREPARO. IRREGULARIDADE. PAGAMENTO DAS CUSTAS JUDICIAS NÃO COMPROVADO NO ATO DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO. ARTIGO 511, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INAPLICABILIDADE. 1. A recorrente não apresentou, no momento da interposição do apelo especial, a guia de recolhimento e o respectivo comprovante de pagamento das custas judiciais devidas ao Superior Tribunal de Justiça, conforme Resolução n.º 1/2008. 2. O art. 511 do Código de Processo Civil estabelece que no ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. 3. A interpretação do artigo 511, § 2º, do CPC, conduz à conclusão de que a possibilidade de complementação do preparo se refere a hipótese de pagamento insuficiente, ou seja, inferior aos valores devidos, não abarcando o caso dos autos em que a parte recorrente, no ato de interposição do apelo, deixou de recolher integralmente uma das despesas que compõem o preparo recursal (custas judiciais). 4. Precedentes. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no REsp: 1252199 AL 2011/0102224-4, Relator: Ministro SÉRGIO KUKINA, Data de Julgamento: 20/02/2014, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 06/03/2014)

48 PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DISPENSA

Referências

Documentos relacionados

F REQUÊNCIAS PRÓPRIAS E MODOS DE VIBRAÇÃO ( MÉTODO ANALÍTICO ) ... O RIENTAÇÃO PELAS EQUAÇÕES DE PROPAGAÇÃO DE VIBRAÇÕES ... P REVISÃO DOS VALORES MÁXIMOS DE PPV ...

There a case in Brazil, in an appeal judged by the 36ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (São Paulo’s Civil Tribunal, 36th Chamber), recognized

As questões acima foram a motivação para o desenvolvimento deste artigo, orientar o desenvol- vedor sobre o impacto que as cores podem causar no layout do aplicativo,

Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo realizar testes de tração mecânica e de trilhamento elétrico nos dois polímeros mais utilizados na impressão

O objetivo proposto pelo presente estudo - avaliar o mérito da Exposição Energia &amp; Vida e seu impacto nas práticas pedagógicas de professores visitantes – foi

A presença desta banda confirma que ocorre a oxidação na interface água/ar do grupo bifosfínico durante a formação do filme de Langmuir, com a proximidade deste ligante da

Bento Pereira apresenta uma lista de autores e obras em língua portuguesa, de vários pendores: religioso, enciclopédico, dicionarístico, e literário.A escolha destas obras

[r]