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Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n , da 1ª Vara Cível e da Fazenda Pública da Comarca de Paranavaí,

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APELAÇÃO CÍVEL N. 1641827-0 DA 1ª VARA CÍVEL E DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE PARANAVAÍ.

APELANTE: JÚLIA OLIVEIRA PEPPE.

APELADO: ESTADO DO PARANÁ.

RELATOR: DES. SALVATORE ANTONIO ASTUTI

Administrativo. Responsabilidade civil do Estado. Danos morais. Autora que teve seu Assento de Nascimento lavrado erroneamente, sob o gênero masculino e com nome de característica predominantemente masculina. Sentença que extinguiu o feito sem julgamento do mérito, por carência de ação. Art. 485, VI do NCPC. Ilegitimidade passiva reconhecida. Responsabilidade direta dos notários e oficiais de registro por danos causados a terceiros. Responsabilidade subsidiária do ente estatal. Exegese dos artigos 37, §6º e 236, ‘caput’ e §1º, ambos da Constituição Federal. Art. 22 da Lei n. 8.935/94. Decisão mantida.

Apelação Cível não provida.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 1641827-0, da 1ª Vara Cível e da Fazenda Pública da Comarca de Paranavaí,

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em que é apelante JULIA OLIVEIRA PEPPE e apelado ESTADO DO PARANÁ.

RELATÓRIO

Trata-se de Apelação Cível interposta por JULIA OLIVEIRA PEPPE em face da sentença proferida nos autos de Ação de Indenização por Danos Morais n. 0004647-30.2014.8.16.0130 (mov. 45.1), que extinguiu o feito, sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, VI do NCPC.

Em razão da sucumbência condenou a autora arcar com o pagamento integral das custas processuais e honorários advocatícios ao patrono do Réu, fixados em R$ 1.000,00 (mil reais).

Em suas razões recursais (mov. 51.1), relata que sofreu profundo abalo moral, pois, por erro do tabelião responsável pela lavratura do seu assento de nascimento, foi registrada sob o gênero masculino e com o nome de Julian, ao invés de Júlia. Ressalta ter sido vítima de grande constrangimento e humilhação desde o início de sua vida escolar até o momento de entrada no mercado de trabalho.

Sustenta a apelante que o Estado é parte legítima na presente demanda, para responder pelos danos em decorrência do erro cometido pelo cartório quando da lavratura de seu registro civil.

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Defende que, dessa forma, devem responder solidariamente por eventuais prejuízos causados por notários e tabeliães.

Cita precedentes.

Sustenta que o Estado é responsável objetivamente pelos atos comissivos praticados por agentes delegados.

Por fim, pleiteia o provimento do recurso, para que seja afastada a ilegitimidade passiva, e, no mérito, sejam julgados procedentes os pedidos.

Contrarrazões apresentadas pelo ESTADO DO PARANÁ (mov. 59.1).

A d. Procuradoria de Justiça, instada a se manifestar, opinou pelo conhecimento e não provimento do recurso interposto pelo ESTADO DO PARANÁ (fls. 11 a 21).

É o relatório.

VOTO

Trata-se de ação de indenização por danos morais movida por JÚLIA OLIVEIRA PEPPE em face do ESTADO DO PARANÁ.

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Aduz que surgiram vários questionamentos sobre a sua sexualidade, tendo sido exposta a situações vexatórias, desde o início de sua vida escolar até a entrada no mercado de trabalho.

Relata que a retificação de seu prenome se deu somente após pedido judicial, julgado procedente (ref. mov. 1.3), quando então pode “fazer prova de que era realmente mulher” para seus amigos e familiares.

A sentença extinguiu o feito sem julgamento do mérito, ante a carência de ação, cingindo-se a controvérsia, assim, em analisar a legitimidade do ESTADO DO PARANÁ para integrar o polo passivo da presente demanda.

Pois bem.

Sabe-se que responde o ente público de forma objetiva pelos atos praticados por seus agentes que causarem danos a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa, na forma do art. 37, § 6º, da Constituição Federal.

Entretanto, em se tratando de atividade cartorária, exercida à luz do art. 236 da Constituição Federal, a responsabilidade objetiva é do notário, pois este assume posição semelhante à das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos, tanto que o texto constitucional dispõe que “os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privativo, por delegação do Poder Público”.

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“Art. 22. Os notários e oficiais de registro responderão pelos danos que eles e seus prepostos causarem a terceiros, na prática de atos próprios da serventia, assegurado aos primeiros direito de regresso no caso de dolo e culpa dos prepostos.”

De fato, sem embargo da responsabilidade objetiva do Estado, há que se reconhecer a sua subsidiariedade em relação à responsabilidade dos delegatários do serviço notarial e de registro.

Assim, tratando-se de delegação da atividade estatal (art. 236, § 1º, da CF), o seu desenvolvimento deve se dar por conta e risco do delegatário, nos moldes do regime das concessões e permissões de serviço público.

E o art. 22 da Lei n. 8.935/1994 é claro ao estabelecer a responsabilidade dos notários e oficiais de registro por danos causados a terceiros, não havendo espaço para interpretação contrária, sobretudo para reconhecer que há responsabilidade solidária pura do ente estatal.

Ou seja, tanto por se tratar de serviço delegado, como pela norma legal em comento, o Estado somente responde de forma subsidiária ao delegatário.

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“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. SERVIÇO NOTARIAL. FALHA. RESPONSABILIDADE CIVIL. JULGAMENTO CITRA PETITA. ART. 460 CPC. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. NEXO CAUSAL. REVOLVIMENTO DE FATOS E PROVAS. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO NOTÓRIO. OCORRÊNCIA.

1. Na origem, o Estado de Pernambuco foi condenado (responsabilidade objetiva) a indenizar danos experimentados por adquirente de imóvel vitimado por operação fraudulenta que contou com a colaboração do Cartório de Imóveis de São Lourenço da Mata, o qual emitiu declaração inverídica quanto à propriedade do lote adquirido pelo demandante.

2. O Tribunal de origem em nenhum momento se debruçou sobre a tese de julgamento citra petita (art. 460 do CPC), em relação à qual incide a Súmula 211/STJ. Ademais, o Estado não acenou com pedido de anulação do julgado a quo por violação ao art. 535 do CPC.

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Superior Tribunal de Justiça, pois mesmo registrando tratar-se de tabelionato não oficializado, optou por responsabilizar, única e exclusivamente, o Estado de Pernambuco.

5. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem assentado que o exercício de atividade notarial delegada (art. 236, § 1º, da CF/88) deve se dar por conta e risco do delegatário, de modo que é do notário a responsabilidade objetiva por danos resultantes dessa atividade delegada (art. 22 da Lei 8.935/1994), cabendo ao Estado apenas a responsabilidade subsidiária. Precedentes do STJ e do STF. 6. Agravo Regimental provido.”

(AgRg no AREsp 474.524/PE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/05/2014, DJe 18/06/2014).

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(Decisão Monocrática. AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.235.695 – RJ. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES. 14/08/2013).

“ADMINISTRATIVO. DANOS MATERIAIS CAUSADOS POR TITULAR DE SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. ATIVIDADE DELEGADA. RESPONSABILIDADE DO NOTÁRIO. PRECEDENTES.

1. A jurisprudência mais recente desta Corte foi firmada no sentido da responsabilidade dos notários e oficiais de registro por danos causados a terceiros, não permitindo a interpretação de que há responsabilidade pura do ente estatal.

2. Em hipóteses como a dos autos, em que houve delegação de atividade estatal, verifica-se que o desenvolvimento dessa atividade se dá por conta e risco do delegatário, tal como ocorre com as concessões e as permissões de serviços públicos, nos termos do que dispõem os incisos II, III e IV da Lei n. 8.987/95.

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SEGUNDA TURMA, julgado em 02/02/2010, DJe 19/05/2010.) Agravo regimental improvido.”

(AgRg no AgRg no AREsp 273.876/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 24/05/2013).

No mesmo sentido são os julgados desta e. Corte de Justiça. Confira-se:

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risco do delegatário, de modo que é do notário a responsabilidade objetiva por danos resultantes dessa atividade delegada (art. 22 da Lei 8.935/1994), cabendo ao Estado apenas a responsabilidade subsidiária. Precedentes do STJ e do STF. " (AgRg no AREsp 474.524/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., j. 06.05.2014, DJe 18.06.2014). Insuscetível de redução o valor que, a título de indenização por danos morais, não se revela excessivo, mas sim adequado em razão das circunstâncias concretas da causa. Modifica-se a verba honorária para o fim de adequá-la aos critérios objetivos fixados no artigo 20, parágrafos 3º e 4º do Código de Processo Civil.

(TJPR - 3ª C.Cível - AC - 1373000-0 - Pato Branco - Rel.: Rogério Coelho - Unânime - - J. 27.10.2015).

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DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. INCIDÊNCIA DA LEI Nº 11.960/2009, APÓS SUA ENTRADA EM VIGOR. RECURSO DO ESTADO DO PARANÁ PROVIDO EM PARTE. RECURSO ADESIVO DOS AUTORES PROVIDO.”

(TJPR - 2ª C.Cível - AC - 974516-8 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Lauro Laertes de Oliveira - Unânime - J. 27.08.2013).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ESCRITURA PÚBLICA - COMPRA E VENDA AJUSTADA COM BASE EM PROCURAÇÃO POR INSTRUMENTO PÚBLICO FRAUDULENTA - CHAMAMENTO DO ESTADO AO PROCESSO INDEFERIDA - RESPONSABILIDADE EVIDENCIADA - CABIMENTO - ENTENDIMENTO QUE CONFLITA COM OS NORMATIVOS REGULAMENTADORES VIGENTES - RECURSO PROVIDO.”

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Portanto, ainda que se pudesse considerar eventual ato ilícito legitimador de responsabilidade civil na espécie, tal responsabilidade recairia, de início, sobre o Tabelião ou Registrador Público, e somente de forma subsidiária sobre o ESTADO DO PARANÁ.

Como a ação foi proposta somente contra o ESTADO DO PARANÁ, não figurando no polo passivo o então titular do Tabelionato na época dos fatos1, é de se concluir pela carência da ação, permanecendo a

extinção do feito sem julgamento do mérito.

Em razão do art. 85, § 11, CPC, os honorários advocatícios deverão ser majorados em 2% do valor fixado em sentença.

Pelo exposto, nega-se provimento à Apelação Cível.

DECISÃO

Acordam os integrantes da Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento à Apelação Cível interposta por JÚLIA OLIVEIRA PEPPE.

1 “AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ALEGAÇÃO DE

VIOLAÇÃO A DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL. NÃO CABIMENTO. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 282 E 356 DO STF. RESPONSABILIDADE CIVIL. TABELIONATO. AUSÊNCIA DE PERSONALIDADE JURÍDICA. RESPONSABILIDADE DO TITULAR DO CARTÓRIO À ÉPOCA DOS FATOS. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DESTE STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.” (AgRg no AREsp 277.313/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO

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Participaram do julgamento e acompanharam o voto do Relator os Desembargadores Jorge de Oliveira Vargas e Ruy Cunha Sobrinho.

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