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Manifesto contra o trabalho, introdução a uma crítica ontológicopolítica

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Academic year: 2018

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MANIFESTO

CONTRA O TRABALHO,

INTRODUÇÃO

A UMA CRíTICA

ONTOLÓGICO-POLíTICA

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

~MAN\r=ESIAGA\NSII\-1EZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

W O R K , \N 1 R O D U C IO N T H E A O N T O L O G IC A L - P O L lT IC

C R IT IQ U E )

RESUMOjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E s te tr a b a lh o te m p o r o b je tivo a p r e s e n ta r u m a r e fle xã o s o b r e a s q u e s tõ e s le va n ta d a s p e lo G r u p o K r is is

a r e s p e ito d a c a te g o r ia o n to ló g ic a d e tr a b a lh o .

Palavras-chave: trabalho, capitalismo, ser soci-al, política

ABSTRACT

T h is w o r k a im s to s h o w a r e jle xio n a b o u t th e q u e s tio n s r is in g fo r th e K r is is G r o u p a b o u t th e o n to lo g ic a l c a te g o r y o f w o r k.

Keywords: work, capitalism, social being, politic.

INTRODUÇÃO

o

objetivo deste trabalho centra-se numa leitu-ra crítica, com base no materialismo dialético-históri-co, das teses fundamentais do M a n ife s to c o n tr a o

tr a b a lh o , publicado na Alemanha em 1999 pelo Gru-po Krisis, que Gru-possui como principal destaque o pen-sador Robert Kurz/ .

FREDERlCO COSTA I

Nas últimas décadas, o mundo vem passando por profundas transformações. As políticas de privatização econômica e destruição de conquistas sociais implementadas a partir da década de 70, de

maneira desigual, na Europa, Estados Unidos e Amé-rica Latina; o processo de restauração capitalista nos Estados operários burocratizados"; as modificações no processo produtivo com vistas à recuperação do crescimento das taxas de lucro e o avanço das ideolo-gias de eternidade da sociabilidade baseada no capi-tal, colocaram em destaque o debate em torno da central idade do trabalho na organização social.

N esse contexto, Habermans, Gorz e Offe" , por exemplo, entendem que as tendências estruturais da sociedade atual põem em xeque o trabalho como ele-mento fundante da sociabilidade humana, enquanto intercâmbio perene dos homens com a natureza como substrato do homem. A essa problemática, vincula-se de certo modo o Grupo Krisis e vincula-seu manifesto.

Assim, concordamos com Antunes ao referir-se ao principal expoente do grupo, K u r z s e in s e r e n o u n

i-ve r s o d o s c r ític o s d a c e n tr a lid a d e d o t r a b a l h o n o m u n d o c o n te m p o r â n e o (1995:111). Da negação ontológica do trabalho enquanto protoforma a a )-vidade humana, criador de valores de uso e n o de partida para o reino da liberdade. pane. ui -vezes, a crítica à luta de classes e ao po e ial

IColaborador científico do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário (IMO-UEC CliT r-al Graduação em Educação Mestrado-Doutorado da Universidade Federal do Ceará e membro do .úcleo T 1Robert Kurz tomou-se conhecido no Brasil com seu livro Oc o la p s o d a m o d e r n iza ç ã o . D a d e r r o ta d o s o e ' d a e c o n o m ia m u n d ia l. Em uma conjuntura de ofensiva da ideologia burguesa de "fim da história" e da mercado, o seu livro reacendeu nos meios acadêmicos o debate sobre os limites do capital

3O conceito de Estado operário para caracterizar os países onde as burguesias nacionais e o im eriali o o 0.. o .ados - ex-URSS, China, Cuba, Coréia do Norte, "\l0! e"l\.em"\l\o, baseia-se no fato de que a propriedade estaca os meios de p o ução e

circulação, combinada com a supressão legal do direito de sua apropriação pri ada o planejamen o econômico centralizado e monopólio estatal do comércio exterior, implicam na ausência de produção generalizada de mercadorias e do omínio da lei do valor. Isto é, a economiajá não é capitalista, pois não há mercado para grandes meios de produção nem para mão-de-obra. deixando a força de trabalho de ser mercadoria. A burocratização refere-se à expropriação política do proletariado pela burocracia camada social materialmente privilegiada.

• Sobre este assunto conferir: HABERMANS, J.C iê n c ia eté c n ic a c o m o id e o lo g ia (1987); GORZ A.Ad e u s a o p r o le ta r ia d o . P a r a a lé m d o s o c ia lis m o (1987); OFFE, C. T r a b a lh o : a categoria chave da sociologia? (1989)

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anticapitalista e revolucionário do proletariado mo-derno,jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAc la s s e q u e c r ia va lo r e s e q u e e xa ta m e n te p o r

is s o te m apossibilidade d e a n ta g o n iza r - s e fr e n te a o c a p ita l, d e r e b e la r - s e (idem: 112).

Em oposição a essa linha teórico-política, pre-tendemos afirmar neste artigo a validade do pensa-mento de Marx e da sua leitura por Lukács' na perspectiva de uma ontologia do ser social, segundo a qual, embora não seja possível reduzir todos os atos humanos a atos de trabalho, este é o pressuposto de toda e qualquer atividade humana, é, como já disse-mos, sua protoforma.

AS TESES DO MANIFESTO CONTRA O TRABALHO

o

Grupo Krisis parte da tese de que a s o c ie d a -d e -d o m in a -d a p e lo tr a b a lh o n ã o p a s s a p o r u m a s im -p le s c r is e p a s s a g e ir a , m a s a lc a n ç o u s e u lim ite a b s o lu to (1999: 11), porque a p r o d u ç ã o d e r iq u e za d e s vin c u la - s e c a d a ve z m a is , n a s e q ü ê n c ia d a r e vo lu -ç ã o m ic r o e le tr â n ic a , d o u s o d a fo r ç a d e tr a b a lh o

(1999:11). Daí parte uma crítica radical à s o c ie d a d e

c e n tr a liza d a n a a b s tr a ta ir r a c io n a lid a d e d o tr a b a lh o

(1999: 15) até ao trabalho como elemento definidor do homem: a a fir m a ç ã o d e q u e o tr a b a lh o s e r ia u m a

n e c e s s id a d e e te r n a , im p o s ta a o h o m e m p e la n a tu r e -za , to r n o u - s e , n a c r is e d a s o c ie d a d e d o tr a b a lh o , r id íc u la (1999:24-25). O que se torna base para ques-tionar a esquerda política" , a luta de classes e o papel histórico do movimento operário:

A e s q u e r d a p o lític a s e m p r e a d o r o u e n tu s ia s tic a -m e n te o tr a b a lh o . E la n ã o s ó e le vo u o tr a b a lh o à e s s ê n c ia d o h o m e m , m a s ta m b é m m is tific o u o tr a -b a lh o c o m o p r e te n s o a n ü - p r in c ip io d o c a p ita l.O tr a b a lh o n ã o e r a o e s c â n d a lo , m a s a p e n a s s u a e xp lo r a ç ã o p e lo c a p ita l. P o r is s o , o p r o g r a m a d e to d o s d e to d o s o s " p a r tid o s d o s tr a b a lh a d o r e s " fo i s e m p r e " lib e r ta r o tr a b a lh o " e n ã o " lib e r ta r

d o tr a b a lh o " A o p o s iç ã o s o c ia l e n tr e c a p ita l e tr a b a lh o é a p e n a s u m a o p o s iç ã o d e in te r e s s e s d ife r e n c ia d o s ( é ve r d a d e q u e d e p o d e r e s m u ito d iife -r e n c ia d o s ) in te r n a m e n te a o fim e m sim e s m o c a p ita lis ta . A lu ta d e c la s s e s fo i a fo r m a d e e xe c u ç ã o d e s s e s in te r e s s e s a n ta g ô n ic o s n o s e io d o fu n -d a m e n to s o c ia l c o m u m -d o s is te m a p r o -d u to r -d e m e r c a d o r ia s (1999:31).

E, também, o papel histórico do movimento operário:

Om o vim e n to c lá s s ic o d o s tr a b a lh a d o r e s , q u e

vive u a s u a a s c e n s ã o , s o m e n te m u ito te m p o d e p o is d o d e c lín io d a s a n tig a s r e vo lta s s o c i-a is , n ã o lu to u m i-a is c o n tr i-a i-a im p e r tin ê n c ii-a d o tr a b a lh o , m a s d e s e n vo lve u u m a ve r d a d e ir a h ip e r id e n tific a ç ã o c o m o a p a r e n te m e n te in e -vitá ve l. E le s ó vis a va a " d ir e ito s " e m e lh o r a -m e n to s in te r n o s à s o c ie d a d e d o tr a b a lh o , c u ja s c o e r ç õ e s já tin h a a m p la m e n te in te r io r iza d o ( 1 9 9 9 : 4 7 )

Pois há uma id e n tid a d e ló g ic a d e c a p ita l e

tr a b a lh o e n q u a n to c a te g o r ia s s o c ia is fu n c io n a is d e u m a fo r m a fe tic h is ta s o c ia l c o m u m ( 1 9 9 9 : 7 1 ) .

De fato, o texto procura convencer que o trabalho e o capital são duas faces da mesma moeda, que o traba-lho é domínio patriarcal e atividade de menores, que o

movimento dos trabalhadores sempre foi um movimen-to a favor do trabalho e que, portanmovimen-to, necessita ser superado.ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAOmanifesto revela, também, um certo sau-dosismo romântico em relação às formações sociais pré-capitalistas:

N a s a n tig a s s o c ie d a d e s a g r á r ia s e xis tia m a s m a is d ive r s a s fo r m a s d e d o m ín io e d e r e la -ç õ e s d e d e p e n d ê n c ia p e s s o a l, m a s n e n h u m a d ita d u r a d o a b s tr a c tu m tr a b a lh o . As a tivid a -d e s n a tr a n s fo r m a ç ã o d a n a tu r e za e n a r e la -ç ã o s o c ia l n ã o e r a m s u b o r d in a d a s a u m

5Aqui se faz necessário um parêntesis sobre Lukács. Éinegável sua orientação stalinista, inclusive em seu período teórico mais fecundo. por exemplo, em sua obra da maturidade, ao considerar que, n o s in íc io s , s o b r e tu d o n a lu ta c o n tr a T r o ts ky, S ta lin s e a p r e s e n ta c o m o d e fe n s o r d a te o r ia le n in e a n a (1979: 33). Isso reflete sua trajetória política de defesa da tese do "socialismo em um só país"; do anúncio nas

T e s e s d e B lu m , sete anos antes de Dimitrov da estratégia de frentes populares que comprometia a independência de classe do proletariado, e, de no processo de revolução política na Hungria, em 1956, optar pela "reforma democrática" do domínio da burocracia magiar. Lukács sempre foi membro do PC por opção, e apesar das perseguições, não teve o mesmo destino dos milhares de bolcheviques-leninistas, torturados, assassinados ou condenados a trabalhos forçados, corno os militantes e simpatizantes das teses da Oposição de Esquerda, da Oposição Unificada e posteriormente do movimento trotskista, na URSS, após 1928, e nos demais Estados operários burocratizados. No entanto, Lukács, enquanto filósofo, trouxe contribuições ao materialismo dialético e histórico, principalmente no que relaciona-se ao resgate do marxismo enquanto ontologia, enquanto doutrina do ser em geral e do sersocialem particular, elemento definidor do caráter materialista do marxismo, em oposição às leituras centradas apenas na teoria do conhecimento

'Tenno genérico e ambíguo que congrega desde movimentos social-democratas até partidos revolucionáros marxistas

(3)

" g a s to d e fo r ç a d e tr a b a lh o " a b s tr a to : a o c o n tr á r io , in te g r a d a s n u m c o n ju n to d e c o m -p le xo m e c a n is m o d e n o r m a s p r e s c r itiva s r e li-g io s a s , tr a d iç õ e s s o c ia is e c u ltu r a is c o m c o m p r o m is s o s m ú tu o s . C a d a a tivid a d e tin h a s e u te m p o p a r tic u la r e s e u lu g a r p a r tic u la r , n ã o e xis tia u m a fo r m a d e a tivid a d e a b s tr a ta e

g e r a lzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA(1999: 27)

E, concluindo, em uma formação social não mais assente na luta de classes a superação do

traba-lho toma-se antipolítica, pois a jin a lid a d e d a p o lític aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s ó p o d e s e r a c o n q u is ta d o a p a r e lh o d e E s ta d o p a r a d a r c o n tin u id a d e à s o c ie d a d e d o tr a b a lh o

(1999: 89). Ao invés da ação política,

o s in im ig o s d o tr a b a lh o a lm e ja m a fo r m a ç ã o d e u n iõ e s m u n d ia is d e in d ivíd u o s livr e m e n te a s s o c ia d o s , p ia r ia q u e ia r r ia n q u e m d ia m á q u in ia d e tr ia b ia -lh o e va lo r iza ç ã o q u e g ir a -e m -fa ls o o s m e io s d e p r o d u ç ã o e e xis tê n c ia to m a n d o o s e m s u a s p r ó -p r ia s m ã o s (1999:78)

Então,

E m lu g a r d a p r o d u ç ã o d e m e r c a d o r ia s e n -tr a a d is c u s s ã o d ir e ta , o a c o r d o e a d e c is ã o c o n ju n ta d o s m e m b r o s d a s o c ie d a d e s o b r e a u tiliza ç ã o s e n s a ta d o s r e c u r s o s . A id e n tid a -d e in s titu c io n a l s o c ia l e n tr e p r o d u to r e s e c o n s u m id o r e s , im p e n s á ve l s o b r e o d ita d o d o fim e m sim e s m o c a p ita lis ta , s e r á c o n s tr u id a .

As in s titu iç õ e s a lie n a d a s p e lo m e r c a d o e o e s ta d o s e r ã o s u b s titu íd a s p e lo s is te m a e m r e d e d e c o n s e lh o s , n o s q u a is a s livr e s a s s o -c ia ç õ e s , d a e s c a la d o s b a ir r o s a té a m u n d i-a l, d e te r m in i-a m o flu xo d e r e c u r s o s c o n fo r m e p o n to s d e vis ta d a r a zã o s e n s íve l s o c ia l e

e c o ló g ic a (1999:79-80)

UMA CRíTICA

À

CRITICA AO TRABALHO

As teses desenvolvidas pelo citado manifesto encontram-se embrionariamente, com todos seus

li-mites e contradições, na obra de Kurz O c o la p s o d a

m o d e r n iza ç ã o . Nela defende-se que a desestruturação econômica, social e política dos países do Leste Eu-ropeu não significou uma vitória do capitalismo, mas a expressão de uma crise específica que ataca os

fun-damentos do modo de produção capitalista. Pois, se-gundoKurz,

o

" m e r c a d o p la n e ja d o " d o L e s te , c o m o já r e ve la e s s a d e s ig n a ç ã o , n ã o e lim in o u a s c a te g o r ia s d o m e r c a d o . C o n s e q ü e n te m e n te a p a r e c e m n o s o c ia -lis m o r e a l to d a s a s c a te g o r ia s fu n d a m e n ta is d o c a p ita lis m o : s a lá r io , p r e ç o e lu c r o ( g a n h o d e e m p r e s a ) . E q u a n to a o p r in c íp io b á s ic o d o tr a b a -lh o a b s tr a to , e s te n ã o s e lim ito u a a d o tá -lo , c o m o ta m b é m le vo u - o a o e xtr e m o (1993:29)

Retomando o conceito de fetichismo da merca-doria de Marx, Kurz faz uma revisão crítica dos con-tornos da crise do capital, do movimento operário, da luta de classe, das revoluções proletárias e, em parti-cular, de uma

o n to lo g ia e r r ô n e a d o tr a b a lh o , q u e n ã o fo i c o m p r e e n d id o c o m o e le m e n to e p a r te in te -g r a n te d o s is te m a fe tic h is ta d a m e r c a d o r ia , m a s s im d e fo r m a q u a s e b íb lic a ( is toé, " p r o te s -ta n te " ) , c o m o e s s ê n c ia e te r n a d a h u m a n id a d e q u e a p e n a s e xte r n a m e n te fo i vio le n ta m e n te m o d ific a -d a p e lo s s u je ito s " e xp lo r a -d o r e s " , o s c a p ita lis ta s

(1999:48)

Revela-se aí, o fundamento da discórdia en-tre Kurz e seu agrupamento de "inimigos do traba-lho" com qualquer tentativa alicerçada na Razão dialé ica, no humanismo e no historicismo concreto, com vistas à superação do capitalismo, por meio da

revolução proletária, rumo a construção de uma sociedade sem classes. É o que procuraremos de-monstrar.

O u a l O fu n d a m e n to d a s o c ia b ilid a d e h u m a n a ?

Tanto no referido texto de Kurz como no ma-nifesto do Grupo Krisis, está ausente qualquer defini-ção coerente de trabalho. Em um momento parecem

identificar sua crítica ao trabalho abstrato, noutro ao trabalho concreto, produtor de valores de uso e fun-damento da sociabilidade humana. De fato, partindo

do trabalho sob o capitalismo, necessariamente estra-nhado, os "inimigos do trabalho" generalizam suas contradições para o núcleo ontológico do trabalho, enquanto pressuposto de qualquer atividade humana. Mas, o que é realmente o trabalho? Qual sua relação com a sociabilidade humana? O trabalho é sim-plesmente esforço físico, como nos faz crer o senso

comum? Um castigo como nos sugere a mitologiaju-daico-cristã? Ou será apenas sinônimo de tortura que aponta para um destino social infeliz como querem os "inimigos do trabalho"?

(4)

Para chegarmos a essencial idade do trabalho é

necessária uma pequena reflexão ontológica,já que

o

jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAc o n h e c im e n to d a r e a lid a d e ,ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAom o d o e a p o s -s ib ilid a d e d e c o n h e c e r a r e a lid a d e d e p e n d e m ,

a fin a l, d e u m a c o n c e p ç ã o d a r e a lid a d e , e x-p líc ita o u im p líc ita . A q u e s tã o : c o m o s e p o d e c o n h e c e r a r e a lid a d e ? é s e m p r e p r e c e d id a p o r u m a q u e s tã o m a is fu n d a m e n ta l: q u e é a r e a -lid a d e ? (KOSIK,1989:35)

Até o aparecimento do ser social o cosmos de-senvolveu-se por bilhões de anos, passando pela

estruturação das estrelas e dos planetas, pela origem da vida e chegando aos primeiros seres considerados como hominídeos há aproximadamente sete milhões de anos? . Nesse processo revelam-se as diversas

esfe-ras do ser:

a in o r g â n ic a , c u ja e s s ê n c ia é oin c e s s a n te to r -n a r - s e o u tr o m i-n e r a l; a e s fe r a b io ló g ic a , cuja e s s ê n c ia é or e p o r om e s m o d a r e p r o d u ç ã o d a vid a ; eos e r s o c ia l, q u e s e p a r tic u la r iza p e la in c e s s a n te p r o d u ç ã o d o n o vo , a tr a vé s d a tr a n s fo r m a ç ã o d o m u n d o q u e oc e r c a d e m a -n e ir a c o n s c ie n te m e n te o r ie n ta d a , te le o lo g i-c a m e n te p o s ta (LESSA, 1997b: 16)

Apesar de serem distintos, estes três momentos do ser são necessariamente articulados, um dependen-do dependen-do outro para a própria constituição. Sem a esfera inorgânica seria impossível o desenvolvimento da bio-lógica, e, sem esta, o ser social sequer existiria.

No entanto, é o estatuto ontológico de cada uma o que as distingue. Isso ocorrendo no momento de

rup-tura entre elas. Porém, nos interessa apenas a questão do trabalho, que separa o ser social das outras esferas do ser. O salto ontológico da esfera orgânica para a do ser social não pressupõe o desaparecimento da pri-meira, pois, para que os atos singulares

teleolo-gicamente postos possam ocorrer, é necessária a troca contínua e ineliminável do homem com a natureza,

via trabalho.

An te s d e tu d o , otr a b a lh o é u m p r o c e s s o d e q u e p a r tic ip a m oh o m e m e a n a tu r e za , p r o c e s s o e m q u e os e r h u m a n o c o m s u a p r ó p r ia a ç ã o , im p u /s i-o n a , r e g u la e c o n tr o la s e u in te r c â m b io m a te r ia l c o m a n a tu r e za . D e fr o n ta - s e c o m a n a tu r e za c o m o u m a d e s u a s fo r ç a s . P õ e e m m o vim e n to a s fo r ç a s n a tu r a is d e s e u c o r p o , b r a ç o s e p e r n a s , c a b e ç a s e m ã o s , a fim d e a p r o p r ia r - s e d o s r e c u r s o s d a n a -tu r e za , im p r im in d o - lh e s fo r m a ú til à vid a h u m a -n a .(MARX, 1987: 202)

Assim, a transformação do mundo com a cons-tante produção do novo, através de atos teleolo-gicamente postos pelo ser social, diferencia-se tanto do repor o mesmo da reprodução da vida na esfera biológica, como do tornar-se outro do ser inorgânico. Em resumo, pode-se dizer que a espécie H o m o

s a p ie n s , não se diferencia na e da natureza, apenas por suas propriedades biológicas (morfologia, fisiolo-gia, carga genética, etc.), porém por propriedades sociohistóricas, que têm seu fundamento no traba-lho. É aí, na práxis humana, entendida como trans-formação da realidade objetiva pelo homem social, o qual nesse processo transforma a si mesmo, que para Marx que reside a resposta para a indagação do que é o homem, seu surgimento e desenvolvimento. Isto é, o p r o c e s s o d a c r ia ç ã o , d o p o n to d e vis ta d o

h o m e m , é , p o is , u m p r o c e s s o d e a u to c r ia ç ã o

(SCHAFF, 1967:76)

A ruptura entre o ser meramente biológico e o ser social, entre, por exemplo, os primatas superiores e o homem, ocorre pela capacidade peculiar deste úl-timo de transformar o mundo que o cerca, através de atos conscientemente orientados, ou seja, o que

distin-gue a ação da natureza e dos seres biológicos, de uma maneira geral, da natureza do homem é o trabalho.

O que diferencia, em última instância, o traba-lho do homem da atividade dos outros animais é que aquele projeta na mente o resultado final do seu tra-balho, imprimindo-lhe determinada finalidade. Pode-mos dizer, assim, que a categoria ontológica central,

mas não a única, do trabalho é a teleologia que, às o n

- H á . c o n tu d o , u m a b o a d o s e d e c o n c o r d â n c ia e n tr e o s p e s q u is a d o r e s s o b r e a fo r m a g e r a l d a p r é - h is tô r ia h u m a n a . N e la . q u a tr o e ta p a s - c h a ve p o d e m s e r id e n tific a d a s c o m to d a c o n fia n ç a . A p r im e ir a fo i a o r ig e m d a fa m ília h u m a n a p r o p r ia m e n te d ita . h á c e r c a d e

(5)

to u r ,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAé um atributo próprio do ser social, limitada à práxis humana, pois, como afirma Marx,

o q u e d is tin g u e o p io r a r q u ite to d a m e lh o r a b e lh a é que ele figura na mente sua construçãoantes de transformá-Iaem realidade.No fimdoprocessodo trabalhoapareceum resultadoquejá existiaantes ideaImentenaimaginaçãodotrabalhador(MARX,

1987:202)

Assim, o trabalho é a protoforma da atividade

hu-mana. Tem acompanhado o homem desde os primórdios de sua existência, como atividade necessariamente útil, associada à produção dos seus meios de vida, à satisfa-ção imediata de suas necessidades, como meio de

ga-rantir sua sobrevivência. O trabalho surge com a própria vida. O primeiro pressuposto de toda história humana é naturalmente a existência de indivíduos humanos vivos. Assim, o trabalho é o momento fundante da sociabilidade humana, embora nem todos os atos humanos possam ser redutíveis a atos de trabalho.

Nesse contexto, é preciso lembrar que a produ-ção material e a finalidade que é impressa no ato do trabalho dependem, antes de qualquer coisa, da nature-za dos meios de vida que o homem encontra e que tem de reproduzir. O homem, ao transformar a-natureza,

desenvolveas potênciasnelaocultase subordina as forçasda naturezaao seu própriopoder.[...]O homemquetrabalhautilizaas propriedadesmecâ-nicas,fisicase químicasdascoisas,a fimde fazê-Iasatuarcomomeiosparapoderexercerseupoder

sobreoutrascoisas,de acordocoma suafinalida-deZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA( L U K Á c sapudANTUNES, 1995:123).

Estamos nos referindo à causalidade dada pela natureza, que o homem transforma em causalidade posta, por meio do trabalho, pois o trabalhador neces-sita da natureza para o exercício da criação.

A essência do trabalho é dada por essa articu-lação indissociável entre teleologia e causalidade.

Somente o trabalho tem, com a sua essência ontológica,umclarocaráterintermediário:

eleé,es-sencialmente,umainter-relação entrehomem(socie-dade)enatureza[...] assinalaapassagem,nohomem quetrabalha,dosermerarnentebiológicoaosersocial

( L U K Á C S , 02)8

Os "inimigos do trabalho" estão distantes dessa visão ontológica do trabalho como a terra do céu. _--trazem uma resposta coerente à reflexão sobre a su -tância da sociabilidade humana, mesmo quando pro-curam definir algo para caracterizar a relação do homem com a natureza e com os outros homens.

Trabalho não é, de modo algum, idêntico ao fato de que os homens transformam a natureza e se

relaci-onam através de suas atividades. Enquanto houver ho-mens, eles construirão casas, produzirão vestimentas, alimentos, tanto quanto outras coisas, criarão filhos, escreverão livros, discutirão, farão hortas, música etc. Isto é banal e se entende por si mesmo.

O viés positivista contido na expressão "se en-tende por si mesmo", revela a fixação dos "inimigos do trabalho" no aspecto fenomênico da realidade. O conhecimento do real, pelo contrário, exige a supera-ção das coisas evidentes por si mesmas, que se mos-tram aparentemente sem história e sem fundamento no mundo caótico dos contatos imediatos.

O homem, através do trabalho, humaniza a na-tureza e, também, a si próprio. A objetivação de suas forças genéricas, que se realiza em primeira instância por meio da atividade produtiva, só se torna efetiva-mente possível entrando o homem em relação com os demais. Portanto, a atividade produtiva, o eterno

me-tabolismo entre o homem e a natureza, cria não só bbjetos, mas, também relações humanas, isto é, rela-ções sociais historicamente determinadas.

É o caráter histórico das relações humanas que

revela, sobre a substância positiva e essencial do traba-lho que produz o homem como tal, a negati idade do estranhamento que nega o próprio homem, oriunda divisão social do trabalho e da exploração de classe. Esse duplo aspecto do trabalho, como veremos a

se-guir, é totalmente ignorado pelos seus "inimigos".

C a p ita lis m o , tr a b a lh o a lie n a d o " e e m a c i

h u m a n a

O processo de autocriação do home mentado no trabalho, é contraditório. Histo .

envolve desenvolvimento e perda de si mesmo. res-cimento e divisão. No capitalismo, tal dinâmi

he-ga ao paroxismo, revelando cruamente o an gonismo entre a realidade do trabalho alienado e as infinitas possibilidades do eterno intercâmbio entre homem e natureza.

8O n to lo g ia d o s e r s o c ia l. O T r a b a lh o - versão preliminar da tradução de Ivo Tonet, não publicada

9O conceito de alienação aqui trabalhado identifica-se com a categoria de estranhamento ( E n ifr e m d u n g ) de Lukács, que são os obstáculos socialmente postos à plena explicitação da generalidade humana, isto é, uma ação que reproduz a desumanidade socialmente posta - ver LESSA, S. 1997a: 114

(6)

De um lado, o capitalismo ao superar a divi-são feudal do trabalho, desagregando a divisão en-tre homens livres e servos da gleba, exigindo a transformação destes em trabalhadores assalariados, representou uma ampliação da liberdade humana, dissolvendo os laços que prendiam os indivíduos aos limites previamente definidos pela ordem feu-dal. O desenvolvimento da indústria conduziu a uma

intensa socialização do trabalho. Em contraposição ao trabalho individual, artesanal e autárquico, a di-visão capitalista do trabalho requereu uma coope-ração tanto no interior da unidade produtiva como uma integração orgânica dos diversos ramos da pro-dução. Esse processo crescente de socialização im-pulsionado pelo advento do capitalismo criou o mercado mundial e, conseqüentemente uma cultura

universal, que possibilitou a compreensão da histó-ria e da realidade social sob o enfoque de uma hu-manidade unificada. Podemos dizer que o capitalismo revelou a humanidade enquanto totalidade concreta de complexos, alicerçados no trabalho e em suas objetivações, obedecendo a uma racional idade le-galmente determinada.

Por outro lado, a divisão capitalista do traba-lho, centralizada na produção de mais-valia, favo-rece o desenvolvimento de habilidades parciais enquanto suprime possíveis capacidades. O conhe-cimento, a vontade e a inteligência do trabalhador são constantemente reprimidos, limitados e expro-priados pelo capital e concentrados na tecnologia e na organização do trabalho. O processo de produ-ção, que tem sua força motriz no trabalho, volta-se

contra o trabalhador como algo estranho que o do-mina. O trabalhador aliena-se: 1) do produto de seu trabalho; 2) do ato de produção no processo de tra-balho, onde aquele é visto como uma atividade alheia, que não lhe satisfaz por si mesma; 3) do seu ser genérico, já que o objeto do trabalho é a objetivação da vida da espécie humana; 4) dos ou-tros homens.

A mercantilização da atividade produtiva

pro-voca a ocultação da ação humana à sua própria cons-ciência, o caráter criador do trabalho transforma-se

na essência escondida e dissimulada de uma apa-rência inteiramente reificada. Assim, o conjunto das relações sociais mostra-se como relações entre coi-sas, aparentemente como realidades "naturais", es-tranhas, e independentes da ação humana. O

produto da práxis humana, da esfera produtiva à cultural, surge diante dos indivíduos, dilacerados pela

divisão capitalista do trabalho, como algo inteira-mente alheio. Rompe-se a unidade dialética entre

atividade criadora e vida social dos homens. A vida social e o cotidiano dos indivíduos convertem-se nu objeto "coisificado", estranho e inumano, incapaz de possuir uma subjetividade. A história não é mais produto da ação humana, passa a ser governada por deuses ou estruturas regidas por uma lógica indecifrável.

No entanto, se o trabalho, principalmente sob capitalismo, afeta negativamente o homem ao mesm

tempo que o produz vitalmente, é porque ele possui uma dimensão mais profunda do que a simples pro-dução de valores orientados pela lógica do capital. Em outras palavras, o trabalho não pode ser reduzido. como faz o Grupo Krisis, a uma visão distorcida de trabalho abstrato:jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

N a e s fe r a d o tr a b a lh o n ã o c o n ta o q u e s e fa z, m a s q u e s e fa ç a a lg o e n q u a n to ta l, p o is o tr a b a lh o é ju s ta m e n te u m fim e m sim e s m o , n a m e d id a e m q u e é s u p o r te d a va lo r iza ç ã o d o c a p ita l- d in h e ir o - a u m e n to in fin ito d e d in h e ir o p o r sis ó . T r a b a lh o

é a fo r m a d e a tivid a d e d e s te fim e m sim e s m o a b s u r d o . S ó p o r is s o , e n ã o p o r r a zõ e s o b je tiva s , to d o s o s p r o d u to s s ã o p r o d u zid o s c o m o m e r c a -d o r ia s . P o is s o m e n te n e s ta fo r m a e le s r e p r e s e n -ta m o a b s tr a c tu m d in h e ir o c u jo c o n te ú d o é o a b s tr a c tu m tr a b a lh o (199: 28)

Nessa perspectiva, a dimensão concreta do tra-balho como fonte criadora de valores de uso social-mente necessários, isto é, enquanto atividade vital, desaparece totalmente. De fato, esta unilateralidade

radical, em última instância, nega qualquer superação da lógica do capital, pois como diz Antunes:

Aq u i tr a n s p a r e c e u m a ve z m a is a fr a g ilid a d e m a io r d o s c r ític o s d a s o c ie d a d e d o tr a b a lh o : a d e s c o n s id e r a ç ã o d a d im e n s ã o d o tr a b a lh o c o n c r e to c o m o fu n d a m e n to ( n a m e d id a e m q u e s e in s e r e n a e s fe r a d a s n e c e s s id a d e s ) c a p a = d e p o s s ib ilita r a b a s e m a te r ia l s o b r e a q u a l a s d e m a is e s fe r a s d a a tivid a d e h u m a n a p o -d e m s e -d e s e n vo lve r . E m ve r d a d e , e s s a c o n c e p -ç ã o fu n d a m e n ta - s e n o r e c o n h e c im e n to e n a a c e ita ç ã o d e q u e o tr a b a lh o , r e g id o p e la ló -g ic a d o c a p ita l e d a s m e r c a d o r ia s , é in e vitá -ve l, d o q u e r e s u lta q u e o tr a b a lh o h u m a n o n ã o p o d e c o n ve r te r - s e n u m a ve r d a d e ir a a u to - a

ti-vid a d e (ANTUNES, 1995,84)

(7)

Negando-se a reconhecer a dimensão concreta do tra-balho, o fundamento ontológico da sociabilidade hu-mana, que produz o homem dentro de determinadas condições históricas - mesmo alienado ou coisificado

o homem continua um ser ativo que se autocria - , nega-se a possibilidade de emancipação como produ-to da ação coletiva dos homens e de uma classe em especial, o proletariado.

Para o Grupo Krisis o movimento operário não pode superar o capital porque foi constituído pelo pró-prio capital, sua afirmação conduz não à emancipa-ção do capital senão para o capital, pois trabalho e capital são os dois lados da mesma moeda. Assim, anula-se o papel da luta de classes, das forças sociais na história, aliás acaba-se com própria história,

en-quanto produto da ação humana.jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

C o m o ta m p o u c o e r a a c la s s e tr a b a lh a d o r a , e n q u a n to ta l, a c o n tr a d iç ã o a n ta g ô n ic a a o c a p ita l eo s u je ito d a e m a n c ip a ç ã o h u m a n a , ta m p o u c o ta m b é m , p o r o u tr o la d o , o s c a p ita -lis ta s ee xe c u tivo s d ir ig e m a s o c ie d a d e s e g u in -d o a m a l-d a -d e d e u m a vo n ta d e s u b je tiva d e e xp lo r a d o r (1999: 33)

Utilizando-se de uma lógica pré-dialética, os "inimigos do trabalho" não percebem o movimento do real como transformação, como unidade dos con-trários, como realidade que supera a si mesma, na dinâmica das tendências contraditórias que provo-cam o desenvolvimento do ser. Não aceitam - o que não é evidente por si mesmo - que por ser a classe operária a produtora de valores é, portanto, a única potencialmente capaz de antagonizar-se frente ao ca-pital expropriando-o, destruindo o Estado burguês, instaurando a ditadura do proletariado e sendo, ne-cessariamente, o sujeito de emancipação de toda for-ma de exploração do homem pelo homem. Por isso negam a esfera da política, da luta pelo poder como mediação necessária na ruptura do capitalismo rumo

a uma sociedade sem classes.

Há, na verdade, uma tendência anti-huma-nista inerente ao conjunto do texto, conseqüência

da eliminação forçada da subjetividade da histó-ria. Pois, se a possibilidade de superar o modo de produção capitalista não pode vir da ação do

pro-letariado e demais explorados, de onde virá? Se o "deus-trabalho" e o "sistema produtor de merca-dorias" tudo controlam e consomem, à exceção do Grupo Krisis e de seus simpatizantes, qual a

fun-ção da afun-ção dos trabalhadores e dos capitalistas na sociedade atual, senão meros epifenômenos de

CONCLUSÕES INCONCLUSAS

Até aqui, procuramos discutir. sob uma ei-tura marxista, alguns pressupostos contidos na ci-tada publicação. Há outros, no entanto, que o presente trabalho não comporta, envolvendo a his-tória do movimento operário, o caráter dos países pós-revolucionários, o próprio marxismo enquanto

expressão dos interesses históricos do proletaria-do, as características do capitalismo na atualidade. o programa político antiimperialista e antica-pitalista, por exemplo, o que deixaremos para ou-tra ocasião mais propícia.

No entanto, nos atrevemos a levantarmos, e n

p a s s a n t, algumas considerações sobre a base social das teses dos "inimigos do trabalho", que surge como produto de intelectuais distanciados dos embates con-cretos da luta de classes. Fruto da divisão entre traba-lho manual e intelectual:ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

O sin te le c tu a is n ã o s ã o u m a c la s s e , m a s u m a c a te g o r ia s o c ia l; n ã o s e d e fin e m p o r s e u lu -g a r n o p r o c e s s o d e p r o d u ç ã o , m a s p o r s u a r e la ç ã o c o m a s in s tâ n c ia s e xtr a - e c o n ô m ic a s d a e s tr u tu r a s o c ia l; d o m e s m o m o d o q u e o s b u r o c r a ta s e o s m ilita r e s s e d e fin e m p o r s u a r e la ç ã o c o m o p o lític o , o s in te le c tu a is s itu a m

-s ep o r s u a r e la ç ã o c o m a s u p e r e s tr u tu r a id e -o ló g ic a (LOWY, 1998: 25)

Como produtores diretos da dimensão ideo-lógica, afastada da produção, os intelectuais pos u-em certa autonomia em relação às classes so iais.

caracterizada por certa instabilidade oriunda da e s -são de diversos movimentos. Por seu distanciamen o da produção material as ideologias e os alores. orno o justo e injusto, bem e mal, belo e feio, et .. tê m a m a io r im p o r tâ n c ia e o m a is d e c id id o p e s o ide : 30). Esse universo de valores qualitati os entra. es-pontaneamente, em conflito com o mundo regi o Ia lógica capitalista do valor de troca, ou seja. 0 - ·

a-lores quantitativos. Um quadro, uma es ul a. o ra religiosa, um mandamento religioso, uma s ra

moral, tudo tende a ser quantificado, rnonetarizado pelo capitalismo.

Oin te le c tu a l te n d e a r e s is tir a e s ta a m e a ç a q u e

vis a c o n s ta n te m e n te tr a n s fo r m a r c o d o b e m m a -te r ia l o u c u ltu r a l, to d o s e n tim e n to , c o d o p r in c í-p io m o r a l, to d a e m o ç ã o e s té tic a e m u m a m e r c a d o r ia , e m u m a " c o is a " tr a zid a a o m e r c a -d o e ve n -d i-d a p o r s e u ju s to p r e ç o (idem: 30)

BH/UFC

(8)

ÀzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAmedida em que resistem ao redemoinho de valorização do capital, os intelectuais podem se

apro-ximar de um sentimento anticapitalista. No entanto, se não evoluem para a compreensão do processo históri-co, de suas leis e de seus sujeitos, são conduzidos a um protesto romântico e inócuo contra o capitalismo.

Ao nosso ver, um exemplo ilustrativo disso são as teses fundamentais do Grupo Krisis. Apesar de expressarem uma certa "angústia" com a estru-tura do capitalismo moderno, não conseguem rom-per com as categorias de uma racional idade antidialética, com uma certa nostalgia de um passa-do pré-capitalista e com um tipo de aversão

aristo-crática à ação das massas anônimas. Ao eliminarem as forças sociais do processo histórico em função de um fetichismo e de um sistema produtor de mer-cadorias onipotentes, terminam por expressar a ra-dical dicotomia entre trabalho manual e intelectual perpetrada pelo capitalismo. Assim, como a divisão social classista entre os que pensam e os que fa-zem, por uma série de mediações, conduziu a dilaceração do homem enquanto totalidade, entre

um espírito (puro pensamento), que sobrevive ao próprio corpo (simples ação), a lógica sustentada pelos "inimigos do trabalho", ao mesmo tempo que elimina a atividade humana da história, concentra em um pequeno número de eleitos não corrompi-dos pelo sistema produtor de mercadorias, a

com-preensão e as possíveis soluções dos problemas da sociedade moderna.

No entanto, pensamos que existe outra alter-nativa mais sensata e produtiva. Retomar, em um nível superior, os momentos progressistas do pen-samento burguês revolucionário, como fez o mar-xismo. Primeiro, o humanismo, a teoria segundo a qual o homem é um produto de sua própria

ativida-de, de sua história coletiva, e não de deuses ou de estruturas eternas e fechadas. Segundo, o histo-ricismo concreto, ou seja, a afirmação do caráter ontologicamente histórico da realidade, com a

conseqüente defesa do progresso e do melhoramen-to da humanidade. Terceiro, a razão dialética, em seus dois momentos, o de uma racional idade obje-tiva imanente ao desenvolvimento do ser, e aquela das categorias capazes de apreender subjetivamente essa racionalidade objetiva, categorias essas que su-peram tanto o saber imediato restrito ao mundo da aparência quanto à razão analítica e instrumental.

Sob esta perspectiva, abandonada pela filosofia burguesa da decadência e retomada pelo

proletari-ado em sua luta contra o capital, é possível

com-preender as contradições da atualidade:jihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

U m a a n á lis e h u m a n is ta d e n o s s a é p o c a c o lo -c a a n u a m u tila ç ã o d a p r á xis p e la m a n ip u la -ç ã o , a n e c e s s á r ia ir r a c io n a lid a d e d e u m a vid a vo lta d a p a r a o c o n s u m o S u p é r flu o e h u m a n a -m e n te in s e n s a to . U m a vis ã o c o n c r e ta m e n te h is to r ic is ta r e ve la a s p o s s ib ilid a d e s d e m u -d a n ç a e tr a n s fo r m a ç ã o la te n te s , e m b o r a d is -s im u la d a -s p e la -s a p a r ê n c ia -s fe tic h iza d a s q u e s e p r e te n d e m im u tá ve is . A d ia lé tic a .fin a lm e n -te , d e n u n c ia a c o n tr a d iç ã o e n tr e u m m u n d o a p a r e n te m e n te o r g a n iza d o ( c o m o s m e io s d e u m a r a zã o b u r o c r á tic a ) e a ir r a c io n a lid a d e o b je tiva d o c o n ju n to d a s o c ie d a d e , s u p e r a n -d o a s s im o s lim ite s d e u m a " r a zã o " q u e s e c o n c e n tr a n a s r e g r a s , n o s m e io s , e n q u a n to a b a n d o n a c o m o in c o g n o s c íve l o c o n te ú d o e a fin a lid a d e d a vid a (COUTINHO, 1972:60)

Desse modo, concluímos que destacam-se na atualidade, por um lado uma crise de grandes pro-porções da sociedade existente, baseada no traba-lho abstrato e alienado, envolvendo seu Estado e regime político, por outro a existência de uma clas-se produtora de valor e potencialmente revolucio-nária, que se choca contra os limites impostos pela reprodução do capital, em busca do trabalho enquan-to atividade vital e de uma vida plena de sentido. Assim, ao redor do trabalho gravita a problemática da sociabilidade moderna, e o destino da humani-dade ainda repousa nos ombros daqueles que, mes-mo condenados a um trabalho alienado, constroem potencialmente um futuro melhor com o suor de suas próprias mãos.

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