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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS, CIDADANIA E POLÍTICAS PÚBLICAS

Educação em Direitos Humanos e o Debate de Gênero no Sistema Público de Ensino Básico de Cajazeiras-PB: um estudo sobre a (in)efetividade das

políticas públicas municipais em educação

VICTOR DE SAULO DANTAS TORRES

Orientadora: Profa. Dra. Adelaide Alves Dias

Linha de Pesquisa: Políticas Públicas em Educação em Direitos Humanos

JOÃO PESSOA – PB

2017

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Educação em Direitos Humanos e o Debate de Gênero no Sistema Público de Ensino Básico de Cajazeiras-PB: um estudo sobre a (in)efetividade das

políticas públicas municipais em educação

VICTOR DE SAULO DANTAS TORRES

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, em cumprimento às exigências para a obtenção do título de Mestre em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas, Área de Concentração em Políticas Públicas em Direitos Humanos.

Orientadora: Profa. Dra. Adelaide Alves Dias

Linha de Pesquisa: Políticas Públicas em Educação em Direitos Humanos

JOÃO PESSOA – PB

2017

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T693e Torres, Victor de Saulo Dantas.

Educação em direitos humanos e o debate de gênero no Sistema Público de Ensino Básico de Cajazeiras - PB : um estudo sobre a (in)efetividade das políticas públicas municipais em educação / Victor de Saulo Dantas Torres. - João Pessoa, 2017.

394 f. : il.

Orientação: Adelaide Alves Dias.

Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCHLA.

1. Educação - Políticas públicas. 2. Direitos humanos - Educação. 3. Gênero e diversidade. 4. Plano Municipal de Educação - Cajazeiras - PB. I. Dias, Adelaide Alves.

II. Título.

UFPB/BC

Catalogação na publicação Seção de Catalogação e Classificação

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Educação em Direitos Humanos e o Debate de Gênero no Sistema Público de Ensino Básico de Cajazeiras-PB: um estudo sobre a (in)efetividade das

políticas públicas municipais em educação VICTOR DE SAULO DANTAS TORRES

Dissertação de Mestrado avaliada em ____/____/______ com conceito _________________

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

Profa. Dra. Adelaide Alves Dias

Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas – Universidade Federal da Paraíba

Orientadora

___________________________________________________

Prof. Dr. Jailton Macena de Araújo

Centro de Ciências Jurídicas – Universidade Federal da Paraíba Examinador Externo

___________________________________________________

Profa. Dra. Rosa Maria Godoy Silveira

Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas – Universidade Federal da Paraíba

Examinadora Interna

(5)

IV

Dedico este trabalho à minha amada Mãe,

Teresinha Flor Dantas (in memoriam), que foi,

é e sempre será a razão maior da minha vida,

minha força e minha coragem para seguir em

frente, e a quem devo mais esta conquista.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço à minha amada Mãe, Teresinha Flor Dantas (in memoriam), pelo dom da vida, pelo amor que sempre me deu, e pelos sacrifícios que sempre fez para que seus filhos pudessem ter acesso à melhor educação disponível. Mamãe, se não fosse por ti, jamais estaria concretizando mais esta conquista, que é tua também.

Agradeço também às minhas Tias, Antônia Flor Dantas e Maria Flor Dantas, pela coragem e ímpeto que me forneceram para que eu me aventurasse em terras desconhecidas, buscando o aprofundamento acadêmico e a realização do sonho de lecionar. Tia Toinha e Titia Maria, muito obrigado por tudo, não sei o que seria da minha vida sem vocês, obrigado por estarem do meu lado, me apoiarem e serem a família que eu precisei nos momentos mais difíceis.

Também aos meus Padrinhos, Maria Aleuda de Oliveira Nóbrega e José Pires Ribeiro Nóbrega, que para mim são meus pais do coração, que mesmo sem compartilhar o sangue, sempre me trataram qual um filho, com todo o carinho e atenção, abrindo as portas de sua casa pare me receber e me dar abrigo durante todo o percurso desta jornada. Madrinha e Padrinho, vocês tem um espaço cativo no meu coração, obrigado pelo amor, apoio e confiança que depositaram em mim, não sei se sou digno de tanto, mais saibam que, junto ao pequeno José, também os amo em igual ou superior medida.

Agradeço ainda aos amigos Itamar Júnior, Itamária Mangueira e Renata Mangueira, que me receberam em sua casa com toda a hospitalidade, tratando a mim, um ainda estranho, como alguém da máxima confiança e pessoa de casa. Muito obrigado, meus queridos, se consegui obter sucesso naquela seleção, grande parte dele se deve a vocês.

Meus sinceros agradecimentos ainda à minha orientadora, Prof.ª Adelaide Alves Dias, sem a qual, no sentido mais direto da palavra, eu estaria perdido. Muito obrigado, professora, por ter sido minha guia nessa batalha, mesmo sabendo que lhe dei muito trabalho, espero que possa, com este trabalho, de alguma forma retribuir o seu trabalho e sanar as minhas falhas.

Agradeço também a todos e todas que compõem o Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania da UFPB, para onde estendo aos integrantes do PPGDH, que foram durante esses dois anos casa e família para mim, sempre prestativos, companheiros e acima de tudo bons amigos, a quem agradeço na figura da professora Maria de Nazaré Tavares Zenaide, a quem também dedico o capítulo terceiro desta obra.

Um especial agradecimento a todos e todas que fazem o Centro de Atenção Psicossocial

– CAPS de Cajazeiras, a quem agradeço na pessoa da minha psicóloga, que me ajudou em

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VI

momentos críticos, em que a depressão, a vontade de desistir e de tirar a própria vida pareciam que iam vencer. Meu muito obrigado, por me ajudarem a encontrar forças para vencer as barreiras mentais e emocionais que me impediam de dar prosseguimento a este trabalho.

Também aos inesquecíveis amigos de todas as horas, Nayhara Helena, Heloísa Clara, Waldir Porfírio, Thatiana Alcón, Alice Ramos, Inafran Ribeiro, Luana Porto, Heloísa Marinho, Leonardo Dantas, Julyanna Oliveira, Ana Danielly, Jaqueline Lira e Max de Lima, pelo que jamais irei esquecer ajuda e o apoio de cada um, dentro e fora de sala de aula, nas intermináveis filas do RU e nos eventos de que participamos. Meus Nhe Nhe Nhems, recebam todo o meu carinho e agradecimentos.

Também agradeço a todos os meus entrevistados, aos gestores escolares, e aos demais sujeitos da pesquisa, por colaborarem tão prontamente para que este estudo pudesse ser realizado, pelo que aproveito o ensejo para agradecer aos avaliadores da banca de qualificação e de defesa, a Prof.ª Rosa Maria Godoy Silveira, a quem considero uma historiadora simplesmente fantástica e uma fonte inesgotável de conhecimento, e o Prof. Jailton Macena de Araújo, amigo sincero que, desde a graduação, teve e tem um papel especial para que eu me dedicasse à produção acadêmica e à carreira docente.

Agradeço ainda aos meus amigos do Centro de Formação de Professores – CFP/UFCG, por todo o companheirismo, quer seja dividindo as angústias acadêmicas ou lutando contra o golpe, e que o faço nas pessoas de Nelson Ferreira, um verdadeiro irmão que a vida me deu, e de Risomar Alves, com quem tive o prazer de ministrar durante um ano aulas na UFCG, por ocasião do estágio em docência, vocês são sensacionais.

Por fim, mas não menos importante, agradeço aos meus mais que amigos, membros do Conselho Jurídico Intervans – CJI, que desde a graduação têm sido presença constante em minha vida, trazendo alegria em dias de dificuldades. Obrigado Renato Filgueira (Dr. Faraó), Rafael Dorgival (Ministro do STF), Lyvia Raquel (Ryca), Polyanna Figuerêdo, Renata Elisa (Flor), Vanessa Medeiros (Eu Lírico), obrigado por serem os melhores amigos que alguém poderia desejar um dia chamar de seus.

FORA TEMER!

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“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção.

Encarná-la, diminuindo assim a distância entre o que fizemos e o que fazemos.”

(Paulo Freire)

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VIII

RESUMO

Considerado o histórico de violações de direitos de certos grupos sociais com base nas diferenças sexuais e de gênero, em especial mulheres e pessoas LGBT, não é difícil perceber que a estrutura excludente, que opera e reforça o tratamento discriminatório destes grupos, encontra nas instituições sociais, especialmente nas educacionais, o apoio necessário para perpetuar tais formas de agir e pensar. Ponderando nossas vivências escolares frente ao condicionamento das identidades e sexualidades a um modelo binário e heteronormativo, além da aproximação com o tema na produção acadêmica e a constante discussão sobre como a escola deve se posicionar diante do novo paradigma das diversidades, escolhemos aprofundar os estudos sobre a ótica das políticas públicas em Direitos Humanos, sabendo que são estes instrumentos essenciais para a transformação social, de forma que, nesse aspecto, nossa pesquisa voltou-se ao campo das políticas públicas em Educação em Direitos Humanos. Dessa forma, a presente dissertação teve como objetivo principal averiguar a efetividade das políticas públicas de educação no campo do gênero e da diversidade no município de Cajazeiras- PB, ante a inclusão dessa temática em seu Plano Municipal de Educação e outras ações nesse sentido desenvolvidas no sistema escolar municipal. Para tanto, foi desenvolvido um estudo qualitativo, com a realização de entrevistas não estruturadas, com 13 sujeitos, entre representantes de movimentos sociais, do Poder Executivo e Legislativo, sendo 04 deles professores do próprio sistema municipal, além de pesquisa documental, bibliográfica e de campo, através da observação escolar, sendo a interpretação dos dados feita pela técnica da análise de conteúdo. Foram analisadas as políticas de gênero e diversidade no município e sua influência sobre o currículo escolar, em especial o reforço ou desestimulo de certas práticas e preconceitos baseados no gênero e na sexualidade, discutindo a qualidade dessas políticas no contexto da educação municipal, identificando como resultado principal a existência de políticas fragilizadas com reflexos na atuação de alguns educadores, mostrando que ainda há muito que se trabalhar nesse sentido. Por fim, a pesquisa aponta novas perspectivas para aprofundamentos, no sentido de compreender como será desenvolvida a formação continuada em gênero e diversidade dos docentes municipais, prevista no PME de Cajazeiras-PB.

Palavras-chave: Políticas Públicas. Educação em Direitos Humanos. Gênero e Diversidade.

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ABSTRACT

Considered the history of rights violations of certain social groups based on gender and sexual differences, especially women and LGBT people, it is not difficult to see that the exclusionary structure, that operates and reinforces the discriminatory treatment of these groups, found in social institutions, especially in the education ones, the necessary support to perpetuate such forms of acting and thinking. Pondering our school experiences front of the conditioning of identities and sexualities to a binary and heteronormative model, in addition to the approach with the theme in academic production and the constant discussion about how the school should position itself in the new diversity paradigm, we chose to deepen the studies on the perspective of public policies on Human Rights, knowing that these instruments are essential for social transformation, so that, in this regard, our research has returned to the field of public policies in Human Rights Education. Thus, the present dissertation have as main objective ascertaining the effectiveness of public education policies in the field of gender and diversity in the municipality of Cajazeiras-PB, face the inclusion of this theme in its Municipal Education Plan and other actions in this direction developed in the municipal school system. For that, a qualitative study was developed, with not structured interviews, with 13 subjects, between representatives of social movements, executive and legislative power, being 04 of them teachers of the own municipal system, besides the documentary, bibliographical and field research, this last through school observation, and the interpretation of the data was done by the technique of content analysis. Was analyzed the gender and diversity policies in the city and its influence in the school curriculum, in particular the reinforcement or discouragement of certain practices and prejudices based on gender and sexuality, discussing the quality of these policies in the context of municipal education, identifying as main results the existence of fragile policies with reflections on

some educators actuation, showing that there’s still a lot to work at this sense. For last, the research

indicates new perspectives of deepen, in order to understand how will be developed the continuing formation in gender and diversity of municipal teachers, foreseen on the MEP of Cajazeiras-PB.

Key-words: Public Policies. Human Rights Education. Gender and Diversity.

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X

LISTA DE SIGLAS

ABGLT Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, e Transexuais ACNUDH Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos

AM Amazonas

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPS Centro de Atenção Psicossocial

CDM Centro de Defesa da Mulher

CE Ceará

CEDAW Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination against Women CFP Centro de Formação de Professores

CID Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde CJI Conselho Jurídico Intervans

CMDM Conselho Municipal de Direitos das Mulheres CME Conselho Municipal de Educação

CNCD Conselho Nacional de Combate à Discriminação CNE Conselho Nacional de Educação

CONSED Conselho Nacional de Secretários de Educação CRAM Centro de Referência

DNA Deoxyribonucleic Acid

DNEDH Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente EUA Estados Unidos da América

FMI Fundo Monetário Internacional

GGB Grupo Gay da Bahia

GLBT Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais GLTB Gays, Lésbicas, Travestis, Transgêneros e Bissexuais HIV Human Immunodeficiency Virus

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ISO International Organization for Standardization LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

LGBT Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Transgêneros MEC Ministério da Educação

MEL Movimento do Espírito Lilás

MELICA Movimento do Espírito Lilás de Cajazeiras

MG Minas Gerais

MLF Movimento de Liberação Feminina

MNDH Movimento Nacional de Direitos Humanos NEMS Núcleo de Estudos da Mulher Sertaneja OEA Organização dos Estados Americanos ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas

PB Paraíba

PE Pernambuco

PI Piauí

PL Projeto de Lei

PME Plano Municipal de Educação

PNDH Programa Nacional de Direitos Humanos

PNE Plano Nacional de Educação

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PNEDH Plano Nacional de Educação em Diretos Humanos PPGDH Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos PUC Pontifícia Universidade Católica

RSC Responsabilidade Social Corporativa RU Restaurante Universitário

SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

SECADI Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão SINTTEP Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação do Estado da Paraíba

SP São Paulo

SPPM Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres STF Supremo Tribunal Federal

UFCG Universidade Federal de Campina Grande UFPB Universidade Federal da Paraíba

UNDIME União Nacional de Dirigentes de Educação

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(13)

XII

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Sujeitos da primeira etapa da pesquisa ... 118

Tabela 2 – Categorias iniciais de análise das entrevistas ... 123

Tabela 3 – Categorias intermediárias de análise das entrevistas ... 125

Tabela 4 – Categorias finais de análise das entrevistas ... 125

Tabela 5 – Categorias iniciais de análise das observações ... 125

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ... IV AGRADECIMENTOS ... V EPÍGRAFE ... VII RESUMO ... VIII ABSTRACT ... IX LISTA DE SIGLAS ... X LISTA DE TABELAS ... XII

1 INTRODUÇÃO ... 15

2 GÊNERO, DIVERSIDADE SEXUAL E EDUCAÇÃO: Primeiras aproximações ... 28

2.1 GÊNERO E HETERONORMATIVIDADE ... 31

2.2 DISCURSOS DE REGULAÇÃO ... 34

2.3 ESCOLA, EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE ... 38

2.4 GÊNERO, DIVERSIDADE SEXUAL E CURRÍCULO ESCOLAR ... 44

3 GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL NAS POLÍTICAS PÚBLICAS ... 50

3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS: conceitos e elementos ... 50

3.1.1 Principais modelos de formulação e análise de políticas públicas ... 51

3.1.2 A análise de políticas públicas no contexto brasileiro ... 65

3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS EM DIREITOS HUMANOS ... 69

3.2.1 O direito à educação e a Educação em Direitos Humanos nas políticas públicas ... 83

3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL E A POLÍTICA DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NO BRASIL ... 89

4 ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE GÊNERO E DIVERSIDADE NO SISTEMA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE CAJAZEIRAS – PB ... 114

4.1 UNIVERSO DA PESQUISA ... 114

4.2 SUJEITOS DA PESQUISA ... 117

4.3 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA: instrumentos, métodos e técnicas de análise .. 120

4.4 CATEGORIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ... 126

4.4.1 Sociedade civil e a pauta das mulheres e da diversidade ... 127

4.4.2 Desenvolvimento das políticas públicas para as mulheres e a diversidade ... 141

4.4.3 Perspectivas para inclusão do gênero e da diversidade na educação ... 191

4.4.4 O gênero e a diversidade no cotidiano escolar ... 206

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XIV

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 224

REFERÊNCIAS ... 228

APÊNDICES ... 244

ANEXOS ... 256

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O percurso dos Direitos Humanos tem sido marcado por lutas sociais históricas, em que movimentos de indivíduos menos favorecidos buscaram sua afirmação perante o mundo, como merecedoras de respeito e atenção, exigindo um tratamento livre de qualquer discriminação e a garantia de condições dignas para suas vidas. Tais lutas emergiram desde as perspectivas individualistas, a exemplo do Bill of Rights, em 1689, na Revolução Gloriosa, e da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789, na Revolução Francesa, em que os direitos eram baseados apenas no pertencimento do indivíduo a um Estado, para chegar até as concepções contemporâneas de proteção à dignidade de cada pessoa, não mais baseadas em fundamentos territoriais ou políticos, mas pela condição que ostenta como ser humano, a exemplo de conquistas como a Carta das Nações, em 1945, e, por fim, a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, quando se passou a entender o ser humano como detentor de direitos universais, inalienáveis e invioláveis, não pertencentes apenas aos cidadãos.

Contudo, apesar destes marcos de proteção a direitos, perdura até os dias de hoje uma forte carga de preconceitos baseada em diferenças culturais, sociais, raciais e de gênero. Sobre este último aspecto, frisamos as desigualdades impostas às mulheres em várias partes do mundo, e que consistem em violações de direitos básicos, como a liberdade de locomoção, o direito à propriedade, o acesso ao mercado de trabalho em igualdade de condições, a autodeterminação sexual e reprodutiva e o acesso à educação. Tal exclusão ocorre em contraponto às inúmeras garantias e privilégios conferidos aos homens, no que se refere à posição de superioridade que ocupam dentro do corpo social.

Tal forma de enxergar o mundo, presa a uma dualidade hierarquizada entre gêneros, não pode mais permanecer ditando o comportamento da sociedade, o que gera essa necessária luta por afirmação e direitos iguais, e que se organiza através dos mais diversos modelos, como organizações não governamentais, fundações, grupos de apoio e centros de defesa. Os direitos à liberdade e à igualdade, mesmo que não totalmente concretizados, são resultado dessas intensas lutas, que constituem uma parcela importante do patrimônio cultural humano, e, portanto, devem ser apresentadas na temática educacional, a fim de criar uma cultura de respeito e enfrentamento aos preconceitos sociais que ainda persistem.

Entendida a educação como prática social que possibilita aos indivíduos o acesso e a

apropriação do conhecimento e da cultura, é possível vislumbrar seu caráter indispensável na

formação e transformação das realidades sociais, culturais e econômicas e na construção da

cidadania. O acesso ao patrimônio histórico-cultural de nossa espécie, bem como sua

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16

apropriação, são direitos humanos inalienáveis, portanto dignos de proteção e tutela do Estado. Nessa ótica, é dever fundamental do poder público oferecer educação pública, gratuita, laica, de qualidade e universal. Tal assertiva deve servir de norte para a criação de políticas públicas que possibilitem a consecução deste e de outros objetivos, principalmente em correlação com a Educação em/para os Direitos Humanos.

Contudo, o dever de possibilitar o acesso ao conhecimento, muitas vezes, acaba sendo permeado por interesses particulares, que buscam reproduzir modelos de opressão, negando o caráter libertador da educação, a fim de perpetuar um discurso de exclusão e intolerância do diferente, classificando como “anormais” todos aqueles que divergem dos padrões estabelecidos, transformando dentro do ambiente escolar o diferente no desigual.

Dessa forma, demonstra-se a necessidade de políticas públicas voltadas à educação com o objetivo de propagar a discussão acerca da problemática de gênero, integrando parte de conquistas dos movimentos pela equidade de gênero e a não discriminação. A criação de uma sociedade justa e igualitária, baseada nos Direitos Humanos, passa também pelo reconhecimento dos sujeitos enquanto seres dignos de respeito e de direitos, dos que sofreram e ainda sofrem com o androcentrismo

1

e a heteronormatividade

2

social, conceitos que retratam a dominação exercida pelo masculino dentro da sociedade e da predominância de um modelo determinado de comportamento social do ser homem e do ser mulher, tal como é o caso das mulheres, dos homossexuais, travestis, transexuais e transgêneros e tantos outros, que necessitam de uma mudança do paradigma da simplificação, conforme Silveira (2014), que ainda permanece imbricado em boa parte das instituições escolares, para passar a promover uma educação inclusiva e para a diversidade, e que, segundo a autora, lastreada no pensamento de Morin (2005), aponta para o paradigma das complexidades.

Para tanto, é necessário que o poder público, nas esferas municipal, estadual e federal, promova, dentro de suas respectivas competências, a melhoria desta realidade, realizando debates dentro das instituições de ensino, promovendo projetos de enfrentamento ao preconceito e à violência e fomentando estudos sobre estas temáticas. Uma especial atenção

1 Termo criado em 1903 por Lester F. Ward, sociólogo americano. Refere-se à forma como as experiências masculinas são universalizadas ao patamar da própria humanidade sem dar qualquer crédito ou fazer referência às contribuições femininas. A tendência linguística presente em vários idiomas de simplificar a humanidade no termo "o homem" é um exemplo excludente que ilustra um comportamento androcêntrico.

2 Termo utilizado para descrever um conjunto de situações, regras ou comportamentos que se exigem dos indivíduos, baseado nas diferenciações entre o masculino e o feminino, com especial atenção ao componente sexual destas identidades, fazendo com que aqueles que não estejam dentro do padrão binário homem-mulher, sejam perseguidos, discriminados, ofendidos, ignorados e marginalizados. Isto se dá de acordo com um conjunto de práticas ou normas que são ditas capazes de enquadrar, de forma sexual e identitária, qualquer pessoa nestas duas categorias.

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deve ser dada ainda à educação ofertada nas cidades dos interiores, localidades afastadas dos grandes centros urbanos, que preservam grande carga herdada de uma estrutura patriarcal e conservadora que remonta a tempos coloniais, mas que resurge em anos mais recentes no cenário nacional através de movimentos religiosos, conservadores e de direita, aglutinados em torno das instituições estatais, tentando impor valores já fossilizados à educação pública, sob o credo de uma única fé (cristã), um padrão singular de família (tradicional), e um único modelo de cidadão (de bem).

Partindo-se da premissa de que a história é composta por uma série de rupturas e continuidades existentes entre o presente e o passado, é possível situar a educação ocidental sobre bases que provêm desde a era clássica, originada na relação entre mestre e aluno e no ideário do homem filósofo apto a participar das decisões políticas, sendo possível situá-la enquanto um instrumento de controle social. O modelo da sociedade ideal trazida por Platão, em sua obra “A República”, apresentava um formato de educação guiado para a divisão dos indivíduos em categorias sociais de acordo com o caráter por eles apresentado, e, desta forma, apta a produzir uma sociedade justa e feliz, com cada um em sua esfera social, artesãos, guerreiros e sábios, revelando uma sociedade planificada, rígida, privada da mobilidade social, sendo a educação o instrumento principal para o controle e manutenção de tal modelo.

Apesar de a sociedade perfeita de Platão não ter alcançado êxito, sua estrutura metodológica de uma educação planificada subsistiu e aflorou por todo o Ocidente, constituindo as bases da escola até o início da era moderna, compondo um jogo de poder ao qual se submetem os indivíduos desde sua infância até a idade adulta, pelo uso da disciplina e do controle.

Para ilustrar tal afirmação, citamos algumas das alterações pelas quais a escola, enquanto instituição ocidental, passou pelos séculos, com o monopólio do conhecimento pelos monastérios e universidades católicas, durante a Idade Média, a difusão de escolas e universidades privadas durante o renascimento e o iluminismo europeu, impulsionados pela invenção da prensa tipográfica, a ascensão do capitalismo moderno e a educação profissionalizante, a influência do modelo fordista, criado por Henry Ford em 1914 e caracterizado pela modelagem de uma linha de montagem.

Outras mudanças, mais recentes, foram trazidas pelas políticas educacionais do pós-

segunda guerra e os movimentos de pensadores por uma Escola Nova, quando a educação

passou a ser vista como uma necessidade social. Também com a difusão das teorias sobre a

gestão escolar, que busca dar capacidade para melhor resolver questões relacionadas ao

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18

planejamento e melhoria da qualidade do ensino e a preparação para a vida pessoal e profissional.

Por certo, o citado modelo filosófico preserva certa influência sobre a educação atual, conquanto alguns educadores entendam o ensino como um processo mecânico, em que é possível saber como cada um aprende, elaborando métodos, planejando e controlando a informação e o aprendizado, fixando objetivos para, ao final, ter a certeza de que, o que foi ensinado, foi aprendido, detendo o educador o controle sobre a aprendizagem do educando.

Logicamente não se afirma que a disciplina e a verificação da aprendizagem não devem compor a prática educacional. Contudo, os modelos de escola baseados no rigor absoluto e no controle, fortemente arraigados no tecnicismo científico

3

, e quando não, nos valores religiosos cristãos e ocidentais, orientados para uma formação profissional e moralista, numa proposta de assimilação de valores excludentes e conservadores, de uma sociedade patriarcal e machista, não representam alternativas viáveis para a construção de uma sociedade de paz e respeito mútuo.

Nesse contexto, o indivíduo, em especial onde a gestão escolar não é democrática, ainda é orientado a uma formação educacional bastante padronizada, instituída pelos detentores do controle, personificados na figura de professores, burocratas e políticos, e que por vezes, carregam barreiras, preconceitos e visões únicas de mundo, também institucionalizando comportamentos sociais como aceitáveis ou reprováveis. Persiste o paradigma da simplificação

4

, teorizado por Morin (2005), que assimila a padronização dos alunos e exclui o diverso, num processo de agrupamento baseado nas características semelhantes dos sujeitos, tal como no campo da taxonomia, transportando o modelo de ciência da padronização e uniformização para o campo social da educação, ignorando as particularidades e aspectos subjetivos de cada um, tornando a diferença algo negativo. Não é incomum a tentativa de transformação da escola, de um ambiente que deveria ser um dos espaços de respeito e convivência com a diversidade religiosa, racial, sexual e de gênero, num espaço reprodutor de preconceitos, onde não há discussão sobre estas temáticas.

3 Este termo se refere à supervalorização dos aspectos técnicos de algo, mais especificamente os científicos, na acepção mais racionalista da palavra, por vezes negligenciando um conjunto de outros aspectos que podem auxiliar em sua compreensão.

4 O paradigma da simplificação consiste em um conjunto de princípios e regras que estruturam o modelo de produção, organização, validação e transmissão do conhecimento, dentro de estruturas lineares onde se simplificam os problemas em busca de soluções excessivamente especializadas. Tal paradigma passa a produzir o que o autor chama de inteligência cega e sem consciência de si, incapaz de refletir ou se posicionar livremente.

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Em contraponto ao modelo de uma educação conservadora e tradicionalista, a importância de se educar, tanto discentes quanto docentes, em Direitos Humanos, urge, sob pena de se continuar a perpetuar antigas práticas sociais discriminatórias e segregacionais.

Apontando para a necessidade de se discutir o gênero no ambiente escolar, está a condição do feminino na sociedade, apresentada por Beauvoir (1967, 1970) em uma perspectiva histórica, que expõe como sempre foi tratada a mulher, como um ser outro, dissociado do homem, e com menor valor em relação a este. As obras desta pensadora francesa, ao serem apropriadas pela militância feminina, tiveram extrema importância nas primeiras ações para incluir a discussão sobre a mulher no meio acadêmico, e depois, nas salas de aula, devido aos séculos de submissão e apagamento de sua presença na História, na Biologia e nas outras ciências, assim como aos mitos de inferioridade que a circundavam e que precisariam ser questionados, criticados e debatidos. Em verdade, a modelagem social criada pelo masculino tira da mulher o seu papel de construtora de sua realidade, reservando-o ao homem, que reproduz a mulher à sua imagem, considerando-a fonte de imperfeições, objetificando-a para tratá-la como um ser sem vontade, submisso.

Muito disso ainda se revela em pensamentos arraigados no corpo social, tais como a exaltação do modelo de mulher ideal, submissa à vontade do marido, do pai, do irmão, do filho, a Amélia

5

, em contraponto à prostituta, à infiel, à revoltada com os homens, como se a mulher, enquanto sujeito, ofendesse a masculinidade do homem, no seu pensamento falocêntrico

6

e na necessidade de se demonstrar superior.

Foucault (1988) contribui e amplia ainda mais o tema, expondo a sexualidade como inscrita num jogo de poder, tratada como um segredo a ser mantido, num contraponto entre a propagação da pureza e da castidade e a ideia do prazer, do desejo, e o uso do controle para manter um padrão de condutas sexuais aceitáveis e para repudiar as que não condissessem com os preceitos morais e sociais, a saber, o modelo da heteronormatividade, hoje também presente no padrão de uma suposta família tradicional, formada por um pai, uma mãe e filhos, que carrega em si todas as expectativas de papéis e comportamentos esperados pela norma de gênero.

5 Referência à letra da música “Ai que Saudade de Amélia”, composta por Ataulfo Alves e Mario Lago, em que o Eu Lírico faz referência à figura da mulher amada como sendo desprovida de qualquer vaidade e conformada com a fome, achando até mesmo “bonito não ter o que comer”, em contraponto à mulher que rejeita a vida na miséria ao lado do companheiro.

6 Termo que representa a convicção de que existe uma superioridade do masculino sobre o feminino, expressa através do pensamento, da linguagem e da escrita, tendo como ápice a representação do poder a ele atribuído pela natureza pela autoafirmação como o possuidor do pênis, o falo.

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Tais problemas envolvendo gênero e sexualidade se inserem na questão da escola enquanto ambiente de apropriação de saberes e compartilhamento de experiências. Para alcançar um novo referencial de educação plural e igualitária também é necessário discutir temas como esses, sob pena de se permitir a propagação das velhas estruturas de controle, adequando e restringindo o pensamento para reproduzir um discurso de inferioridade e opressão que não mais pode ser sustentado diante do reconhecimento dos Direitos Humanos, inalienáveis e pertencentes a cada ser humano.

As questões de gênero ganham força com autoras como Butler (2012), que desconstrói os conceitos de binarismo até então predominantes para apresentar o gênero como uma construção social, que parte da cultura e do tempo de cada sociedade, não indicando o sexo biológico, necessariamente, o gênero de um indivíduo, quando faz uso do pensamento de Beauvoir (1967, 1970) para indicar que não se nasce homem ou mulher, mas que o ser humano pode externalizar qualquer gênero com o qual se identifique, não restrito à dicotomia de macho-fêmea.

Nesse esquema de dominação, a prevenção estatal através de políticas públicas que incitem à discussão de gênero e sexualidade, é de extrema importância, até mesmo para garantir a permanência dos indivíduos na escola, posto que, quando se reproduzem práticas opressoras dentro do ambiente educacional, o risco da evasão escolar se torna maior, seja pela prática da discriminação ou mesmo pela violência física infligida a esses grupos por outros alunos. Há que se considerar ainda o comportamento do próprio educador diante das diferenças, como marcadores externos (uso de acessórios, maquiagem, cabelo longo ou curto, peças de vestuário) ou a frustração das expectativas comportamentais bem definidas entre homem e mulher, muitas vezes resultando na exclusão do aluno do ambiente escolar. Um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, em 13 capitais do país e no Distrito Federal, no ano de 2004, afirma que 25%

dos alunos entrevistados afirmam que não gostariam de estudar com um homossexual, enquanto 20% dos pais dizem não querer um homossexual na sala de aula do filho, o que demonstra claramente a rejeição sofrida e os motivos que levam à exclusão e ao abandono da escola (ABRAMOVAY; CASTRO; SILVA, 2004).

A atualidade do tema se demonstra, por vezes, através da manifestação da sociedade, por atos ou campanhas, como a realizada pelo Coletivo LGBT

7

Cores (CARTA CAPITAL,

7 A sigla LGBT é o acrônimo para lésbicas, gays, bissexuais, travestis. Tal vocábulo, apesar de figurar como redução literal, não exclui outros indivíduos que compõe a mesma base de lutas por respeito à orientação sexual e identidade de gênero, tais como os(as) transexuais, transgêneros, intersexuais, assexuais e queer, dentre outros.

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2015), no início de julho de 2015, que, em resposta à retirada do tema “Gênero e diversidade sexual” dos planos de educação por todo o país, convocou pessoas a postaram em redes sociais frases que são ditas dentro da escola, e que remetem ao preconceito e violência que lá sofreram, tais como “você é mulher, seja mais feminina”, “você é homem, não pode se vestir assim”, “com essa roupa você está pedindo”, “viado bom é viado morto”, tudo para demonstrar a necessidade da inclusão destes temas na educação. A cultura machista, heteronormativa, da indignação seletiva e da violência simbólica não pode passar incólume pelo ambiente escolar sem a intervenção pública, há a necessidade de ser difundida uma educação que promova a igualdade de gênero.

Diante da necessidade do debate sobre gênero nas escolas é necessário se perguntar com que foco e de que forma pode ser feito. Partindo-se de um olhar sobre as políticas públicas nacionais em educação, após a aprovação do Plano Nacional de Educação – PNE no ano de 2014, o governo federal confiou aos Estados e Municípios a tarefa de criarem seus planos de educação para a rede pública de ensino básico, com vistas aos próximos 10 (dez) anos.

Fazendo o recorte para o campo da educação básica, a proposta federal para os Planos Municipais de Educação - PME é que sirvam como política pública educacional localizada, traçando reflexões, intenções e ações para as necessidades educacionais do cidadão, criando a estrutura necessária para a execução das estratégias e metas. A efetividade do PME depende, portanto, da qualidade das demandas em educação, de seus pontos fracos, desafios, e da capacidade do município em realizá-lo, tanto atual como futuramente, levando em conta investimentos das três esferas de governo (BRASIL, 2014).

Dada a importância do PME enquanto política pública de longa duração, destaca-se a necessidade de se incluir o debate de gênero como elemento integrante do eixo de interdisciplinaridade e transversalidade no currículo escolar, visando desconstruir conceitos discriminatórios e reafirmar a Educação em/para os Direitos Humanos como parte da luta por esses direitos, para que não retrocedam nem se tornem estagnados.

Contudo, a visão de uma escola que ensine a respeitar a diversidade assusta vários indivíduos que, em suas relações de poder e controle da sociedade, querem santificar seus próprios padrões de conduta, a fim de proibir tal debate, enxergando na discussão sobre gênero uma arma de extermínio dos valores morais cristãos e da família, que promove a homossexualidade entre os jovens.

Como prova disso, câmaras municipais por todo o Brasil têm retirado do texto de seus

PME as referências ao debate de gênero, tais como as de João Pessoa-PB, Recife-PE, São

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22

Paulo-SP, Fortaleza-CE, algumas chegando até mesmo a propor proibição expressa ao tema, como em Uberaba-MG, Teresina-PI e Manaus-AM. Tal fato ocorre mediante a forte pressão de grupos religiosos e conservadores, que não podem nem querem entender a necessidade de se educar para reduzir a desigualdade e libertar o indivíduo para o conhecimento e visão crítica do mundo, privando-o da apropriação da cultura e do patrimônio histórico de luta pelo reconhecimento da dignidade humana dos grupos segregados pela sociedade machista, sexista e homofóbica, replicando este panorama em diversas cidades.

Dessa forma, é possível questionar como será possível adotar políticas públicas que estimulem a formação para a vida e para a convivência com a diversidade no exercício cotidiano dos Direitos Humanos, se o que ocorre na prática é a privação do debate crítico sobre a realidade discriminatória que é vivenciada até hoje quanto às questões de gênero e sexualidade, tão necessárias para compreender a natureza plural, diversa e mutável do ser humano, sua incompletude e historicidade. Com tais atitudes de neutralidade ou mesmo proibição de se falar em gênero e diversidade na escola, corre-se o risco de deixar de promover uma educação para a tolerância e promoção de igualdade por uma década inteira, reproduzindo o modelo de opressão que ainda persiste na sociedade atual.

Inserido nesse contexto de debates entre grupos conservadores e progressistas sobre a necessidade de se educar sobre gênero e sexualidade, é que se encontra o município paraibano de Cajazeiras-PB. Nesse contexto, o presente estudo consiste numa pesquisa sobre políticas públicas educacionais na cidade de Cajazeiras, município do sertão paraibano, que tem se demonstrado vanguardista no que se refere à implementação de projetos e ações que promovem o respeito e a não violência contra a mulher, com destaque especial para a Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres e o Centro de Referência em Atendimento à Mulher em Situação de Violência (CRAM) Suzane Alves da Silva.

Estes organismos são resultado da adesão ao Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra a Mulher, firmado entre governo federal e município, ano de 2010, passando a funcionar para prestar assistência às mulheres em situação de violência, com a oferta de acolhimento e prestação de assistência jurídica, psicológica e social, com atuação focada no atendimento especializado e no acompanhamento dessas mulheres, com cotas para matrícula destas em cursos profissionalizantes e em linhas de crédito, além de solicitar benefícios assistenciais como aluguel social, passagens de ônibus e vagas em casas-abrigo.

São desenvolvidas, ainda, ações de prevenção junto a escolas, associações e

universidades, trabalhando numa perspectiva eminentemente educativa, com foco na

divulgação dos direitos e serviços prestados à mulher violentada, bem como a sensibilização

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docente. Nesse sentido, a iniciativa do projeto “Retalhos da Vida”, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Políticas Públicas, através do Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, em parceria com as Secretarias Municipais de Educação e da Mulher, leva questões como machismo, violência contra a mulher, Lei Maria da Penha e educação não sexista para o debate com a comunidade escolar do sistema público de ensino.

A presença desse debate vivo sobre gênero e diversidade dentro do campo político acabou por refletir na elaboração do PME deste município, que trouxe em seu texto a inclusão da educação de gênero e diversidade na formação continuada dos docentes municipais, o que configura este espaço como um rico campo de estudo sobre as políticas públicas de educação voltadas a estas temáticas. Isto se confirma pela presença maciça dos movimentos ligados à causa da mulher e das pessoas LGBT, os quais se fizeram presentes durante a sessão de aprovação do plano, em que se debateu com representantes da Igreja Católica e os parlamentares presentes, dentre eles, um representando a comunidade LGBT local.

Diante desses acontecimentos, é preciso fazer o seguinte questionamento: qual é a efetividade dessas políticas públicas desenvolvidas pelo município de Cajazeiras para a construção de uma educação inclusiva, não machista, não sexista e não LGBTfóbica?

Com base na problemática até aqui apresentada, o objetivo geral desta pesquisa é investigar a efetividade das políticas públicas de educação na perspectiva da educação em/para direitos humanos, com foco na questão de gênero, no sistema público de ensino básico do município de Cajazeiras-PB. Especificamente, visamos identificar quais os debates de gênero existentes nas escolas do município de Cajazeiras-PB e sua reverberação na Educação em/para os Direitos Humanos, bem como evidenciar quais são as políticas públicas em educação voltadas para o gênero e a diversidade no município, como se executam e qual o seu papel.

A importância de uma pesquisa relacionando o debate de gênero e as políticas públicas de educação, no contexto prático de uma realidade de cidade do interior sertanejo, revela-se pelo caráter oportuno da produção de estudos em territórios pouco explorados, por vezes esquecidos pela comunidade acadêmica, que possuem uma cultura e experiência próprias com a educação, levando em consideração toda uma história de construção de valores e saberes ainda não explorados em pesquisas que tenham por foco o tema proposto. Todo esse cenário justifica a escolha pela cidade de Cajazeiras para a realização da pesquisa de campo.

A atualidade do tema no cenário social é outro elemento que justifica a pertinência do

tema, dado o confronto que ocorre diuturnamente no seio da sociedade, e que é projetado no

campo da construção das políticas públicas, em especial as de educação, em que grupos

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24

representantes de determinados segmentos político-ideológicos, tais como movimentos de direita, ultraconservadores e grupos religiosos de matriz cristã, em especial a evangélica, presentes em boa parte do Poder Legislativo nos diversos entes federados, em forma de bancadas, se esforçam e usam do poder político para que qualquer referência à educação em gênero seja proibida, fazendo uso de discursos inflamados e justificando tais ações como em favor da família e contra o comunismo.

Justifica-se ainda pela possibilidade de aferir reflexos e desdobramentos das políticas objeto do estudo, que podem contribuir, em longo prazo, para a transformação social e a construção de uma sociedade mais justa, livre e igualitária, na perspectiva de uma Educação em/para os Direitos Humanos. Bem como pela coleta de dados sobre como a questão de gênero é tratada no sistema de ensino de um território pouco explorado como o sertão nordestino, apresentando elementos concretos e mensuráveis, capazes de serem usados como fonte na elaboração de novos estudos científicos que traduzam a situação da questão de gênero e Direitos Humanos na região.

Como resultado final desta pesquisa, espera-se uma avaliação das políticas públicas em educação voltadas à temática do gênero e da diversidade naquele município, além de sugerir melhorias para a consecução de resultados mais satisfatórios, ligados à promoção dos Direitos Humanos e da dignidade humana.

Para nós, o interesse pela pesquisa cresce ainda mais pelo fato da temática de gênero e diversidade já ter sido alvo de trabalhos acadêmicos, durante a graduação, com a produção sobre um tema relevante como a prisão e perseguição dos indivíduos não heterossexuais nas forças armadas brasileiras, ocasião em que já havia uma forte discussão junto ao Supremo Tribunal Federal sobre a incompatibilidade deste tipo de delito com as premissas não discriminatórias da nossa Constituição e o Direito Humano à sexualidade.

Tal experiência de produção abriu portas para que o tema gênero e sexualidade se tornasse presente nas leituras, gerando um forte desejo de continuar a escrever sobre eles e sobre as situações de violações de direitos e preconceitos contra as populações LGBT, as quais vivenciamos por fazermos parte deste grupo.

Nossa escolha temática também é perpassada pela experiência adquirida durante a

extensão, através do projeto “O Direito ao Alcance de Todos”. Como extensionista da UFCG

no campus de Sousa-PB, realizamos várias ações voltadas para a população sousense, como

palestras em escolas e bairros e a realização de programas de rádio semanais em que

compartilhávamos com a comunidade parte dos conhecimentos adquiridos na graduação, além

de realizar a produção acadêmica com os resultados obtidos durante a execução das

(26)

atividades. A experiência de conhecer os problemas da comunidade e trabalhar para melhorar sua condição se intensificou durante o estágio junto à prática jurídica, quando ouvíamos e prestávamos a assistência jurídica, e muitas vezes até a emocional, a pessoas que foram violadas em seus direitos humanos básicos.

O campo da pesquisa é também o local onde convivemos e desenvolvemos o contexto de luta pela igualdade de gênero e o fim da discriminação, em que firmamos o desejo de participar diretamente da construção de uma educação mais inclusiva, seja enquanto pesquisador ou através do ingresso na carreira docente.

Diante disso, as questões de gênero e sexualidade ganham visibilidade, ao mesmo tempo em que renovam a discussão e importância desses temas para a construção de novos saberes, relacionando o ambiente da educação básica e a responsabilidade estatal na promoção dos Direitos Humanos e na garantia do acesso ao patrimônio histórico-cultural humano, sempre pautada pelo princípio da laicidade e do Estado Democrático de Direito.

Frente ao exposto, situamos o objeto desta pesquisa como sendo as políticas públicas de educação para o debate de gênero e respeito à diversidade, presentes no município de Cajazeiras, Estado da Paraíba, tendo como campo de estudo as escolas em que foram trabalhadas ações destas políticas, a fim de identificar efeitos de sua atuação.

Para alcançar os objetivos propostos, a pesquisa adota uma abordagem qualitativa, que, segundo Prodanov e Freitas (2013), considera haver uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito, que não pode ser traduzido em números, de forma que os dados coletados nessas pesquisas são descritivos, retratando o maior número possível de elementos existentes na realidade estudada, guiando o pesquisador durante a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados, analisando seus dados de forma indutiva, a fim de compreender e explicar a dinâmica das relações sociais. Segundo Minayo (1994), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Dessa forma, a pesquisa tem como ponto de partida as escolas públicas de Educação

Básica do município de Cajazeiras-PB que participaram do projeto “Retalhos da Vida”,

entendido enquanto Política Pública de Educação de Gênero, para assim compreender como

ela é executada e quais as implicações que se desdobram da sua execução na prática dos

Direitos Humanos em relação ao tema igualdade de gênero e diversidade sexual.

(27)

26

O critério de escolha das escolas se deu por via de entrevista com a coordenadora do CRAM, que citou a experiência exitosa das rodas de conversa realizadas nas escolas Presidente Costa e Silva, Galdino Pires Ferreira e Antônio de Sousa Dias, em que houve a participação de grupos de alunos, pais, professores e servidores. Dessa forma, essas escolas compõem nosso campo de estudo.

A pesquisa faz uso do método do estudo de caso, que, segundo Prodanov e Freitas (2013), consiste em coletar e analisar informações sobre determinado indivíduo, grupo ou comunidade, a fim de estudar aspectos variados de sua vida, envolvendo o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento, para então aplicá-los de forma prática para a solução de problemas sociais.

Nessa perspectiva, foram coletadas e analisadas as informações dos sujeitos dessa etapa da investigação, quais sejam os alunos, em suas mais diversas interações dentro do ambiente escolar: entre si, com os pais, os professores ou ainda os servidores das escolas, com o intuito de discorrer sobre o tratamento dado ao debate de gênero no ambiente escolar, bem como o papel das políticas públicas de educação.

No percurso inicial, é utilizada como técnica de pesquisa a documentação indireta, por meio da pesquisa bibliográfica, que teve por objetivo a coleta de dados e informações preliminares sobre o campo do debate de gênero e da Educação em/para os Direitos Humanos, a fim de produzir uma análise sistematizada das obras que tratam do tema, bem como da pesquisa documental, que envolve a legislação existente, tratados, pactos e convenções que abordem esses temas, para formular o referencial teórico no qual se apoiou a pesquisa.

Em continuidade, faz-se uso da técnica da documentação direta, através de entrevistas

não estruturadas, que, segundo Prodanov e Freitas (2013), não exigem rigidez de roteiro,

podendo o pesquisador explorar mais amplamente algumas questões, com liberdade para

desenvolver a entrevista em qualquer direção, em geral, com uso de perguntas abertas. As

entrevistas foram feitas inicialmente com os representantes de órgãos municipais que

participam da implementação das políticas públicas voltadas à educação de gênero e

diversidade sexual, a coordenadora do CRAM, a secretária de Políticas Públicas, a secretária

de Políticas Públicas para as Mulheres, a secretária de Saúde, a secretária de Educação, a

presidente do Conselho Municipal de Educação, a presidente do Conselho de Direitos da

Mulher e o vereador que representa a causa LGBT na Câmara local, abordando-os

principalmente sobre seu conteúdo e execução. Após isto, foram realizadas entrevistas

também com as representantes dos movimentos sociais atuantes no município e que possuam

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ligação com a temática, a coordenadora do Centro de Defesa da Mulher Márcia Barbosa de Souza e a Representante da Marcha Mundial das Mulheres.

Seguindo com a técnica da documentação direta, parte-se para o momento da observação participante, que, segundo Prodanov e Freitas (2013), desenvolve-se a partir da interação entre pesquisador e membros das situações investigadas, compreendendo algumas coordenadas metodológicas já estabelecidas, mas que não formam um esquema rígido, ao contrário, sua utilidade reside no fato de ser flexível sua adaptação aos mais diversos contextos e situações. Assim, foi procedida a pesquisa in loco nas escolas onde foram realizadas as ações relativas às mencionadas políticas públicas, para proceder ao levantamento de dados empíricos, com períodos de permanência dentro do ambiente de aprendizagem, fazendo uso dos resultados obtidos pela observação dos fatos no universo pesquisado para proceder à análise dos fenômenos ali presentes.

A estrutura do trabalho foi desenvolvida em cinco capítulos, sendo o primeiro

composto por esta introdução à pesquisa; o segundo abordando conceitos e ideias referentes

aos temas gênero, diversidade e educação; o terceiro situando elementos importantes das

políticas públicas de Educação em Direitos Humanos, no que compete aos temas gênero e

diversidade; o quarto demonstrando o percurso metodológico, os resultados da pesquisa, com

informações importantes referentes ao campo estudado e às entrevistas e observações, além da

discussão dos resultados obtidos; e o quinto expondo as conclusões decorrentes deste estudo.

(29)

2 GÊNERO, DIVERSIDADE SEXUAL E EDUCAÇÃO: Primeiras aproximações

No século XIX, vários movimentos, apoiados nas correntes materialistas, tal como a dialética de Karl Max e Friedrich Engels, e pautados na ideia de que o fator econômico está diretamente relacionado com o social, insurgiram-se fortemente contra as desigualdades de uma sociedade burguesa, em que o próprio ser humano era valorado pelo que possuía, que se mostrara exploradora, porquanto se desrespeitavam direitos para que se alcançassem lucros, o que se refletia nas condições de moradia, saúde, segurança e outros aspectos, numa luta incessante para manter direitos e conquistar outros. Surgidos em meio a essas condições, diversos movimentos lutaram em prol de uma sociedade sem classes, onde o proletário e o camponês pudessem decidir em igualdade os destinos da comunidade.

Esses movimentos, conhecidos como comunistas, socialistas, ou ainda, de “esquerda”, apesar da intenção de fazer prosperar um modelo social livre da opressão, não atentaram em sua gênese à situação de opressão também vivida pela mulher para além da condição de trabalhadora, em seu estado de “coisa”, subserviente enquanto esposa, condenada aos serviços domésticos, com baixíssimas possibilidades de ocupar profissões de prestígio ou independência econômica.

Relegada a causa feminina a um segundo plano, restou às mulheres se organizarem em

passeatas, protestos e greves, expressões populares típicas da esquerda, pouco tempo depois

alcunhados de feministas, por lutarem pela desconstrução do modelo serviçal imputado às

mulheres. Nesse contexto, o movimento feminista, em especial o Movimento de Liberação

Feminina – MLF, encampou uma grande luta pela igualdade de salários entre homens e

mulheres, melhoria das condições de trabalho e participação política através do sufrágio

universal. Tais bandeiras eram o primeiro passo para que a mulher pudesse conquistar a

valorização do gênero feminino, bem como a independência financeira, vista à época como

melhor arma contra a necessidade de se ter um marido provedor de sustento, o que,

ocasionalmente, desembocava em uma vida repleta de abusos e poucas realizações, ou ainda,

sobreviver ao posterior abandono do companheiro, tendo, muitas das vezes, de criar os filhos

sem quaisquer recursos. Esta luta das mulheres pela igualdade entre os gêneros e o fim da

opressão vem, desde o século XIX, ganhando força e visibilidade, agregando uma extensa

pauta de reivindicações aos Estados modernos, tais como participação política, liberdade

sobre o próprio corpo e acesso ao trabalho digno e em igualdade de condições, para a proteção

e ampliação das políticas públicas destinadas a promover tal igualdade.

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Outro movimento de extrema importância, em se tratando da temática de gênero e diversidades, e que eclode na segunda metade do século XX, é o LGBT, que agrega uma população de indivíduos historicamente reprimidos, por vezes criminalizados e tratados como doentes e pervertidos sexuais. Como um dos marcos mais importantes deste movimento, estão as revoltas ocorridas em 28 de julho de 1969, e que se seguiram por vários dias em Stonewall, bar nova-iorquino localizado no bairro de Greenwich Village, em Manhattan, conhecido como reduto de todos os indivíduos rejeitados pela sociedade da época, tais como lésbicas, homossexuais, travestis, prostituta/os e sem-teto. O tratamento dado a estes indivíduos naquela época, nos Estados Unidos, e de forma muito semelhante nos demais países de cultura religiosa, conservadora e patriarcal, incluía desde o confronto direto nas instituições de ensino até a violência institucional explícita e de caráter higienizador, contando com agressões e prisões gratuitas, com o intuito realmente de limpar a “escória” da vista da sociedade.

Este episódio ocorreu justamente por conta das frequentes batidas e prisões realizadas pela polícia, pelo que, ao serem confrontados pelos policiais, esses indivíduos reprimidos responderam com uma série de contra-ataques, o que culminou com a celebração, no ano seguinte aos episódios de Stonewall, na mesma data dos confrontos, da primeira parada do Orgulho Gay, mais tarde difundida para diversos países e que hoje alcança uma grande diversidade de grupos. Desde então, são vários os movimentos, associações, grupos e ONGs que se insurgiram em todo o globo contra o preconceito e a discriminação, eclodindo em passeatas, manifestações, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, com sujeitos diversos exigindo o reconhecimento de seus direitos civis e o fim da discriminação baseada na orientação sexual e na identidade de gênero.

Como resultado dessas lutas e embates, os temas gênero e sexualidade, paulatinamente, passaram a ser descortinados, de assuntos proibidos, para servirem de pauta dos movimentos sociais na busca pelo reconhecimento de suas identidades e por uma igualdade não apenas formal.

A variedade de ideias que foram difundidas sobre a discussão do gênero e da

sexualidade, tais como as trazidas por Foucault (1988), Beauvoir (1967, 1970), Butler (2012),

Bourdieu (2002), dentre outros, puderam evidenciar a inserção da sexualidade num esquema

político de controle, em que as relações de poder induzem a uma sujeição do ser humano a

padrões de comportamento pré-estabelecidos, e que, se não obedecidos, seriam passíveis de

resposta coercitiva, partindo da censura até a repressão. A mulher, dentro dessa temática,

sempre havia sido tratada como um ser inferior, dependente do homem, considerada fraca e

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30

incapaz de viver sozinha, enquanto gays, lésbicas e outros sujeitos divergentes do modelo identitário e sexual padrão eram tratados como doentes, molestadores, criminosos, quando não associados ainda ao pecado ou figuras demoníacas pelas religiões abraâmicas.

Trazendo este debate para um contexto mais próximo, os temas gênero e diversidade sexual vêm ganhando destaque no cenário brasileiro dos últimos anos no que se refere às discussões sobre o papel da escola na formação dos indivíduos, tanto por pressões internacionais quanto internas. Propostas que contemplam a inclusão destes temas dentro do currículo escolar têm sido duramente criticadas por segmentos mais conservadores da sociedade, sob a argumentação da desvalorização dos valores tradicionais e familiares e do aliciamento e introdução da perversão sexual nos conteúdos escolares, clamando por uma educação que se limite exclusivamente a ensinar os conteúdos essenciais à formação para o mercado de trabalho. Em sentido contrário, movimentos sociais e representantes da educação pública reivindicam do poder público um maior comprometimento com a promoção da igualdade de gênero e do enfrentamento à violência e ao preconceito dentro do ambiente escolar. Estes últimos, embasados em dados e estudos provenientes do próprio governo, organizações não governamentais e organismos internacionais, sobre violência doméstica, contra a população LGBT, perfis de ocupação de postos de trabalho e sobre discriminação e preconceito, cobram uma educação inclusiva, desvencilhada das antigas práticas escolares de assimilação do conhecimento sem diálogo crítico.

Freire (1992) alerta para a necessidade de mudança de paradigma escolar. Para o autor, a educação bancária ofertada nas escolas não é o suficiente para garantir uma formação plena do cidadão. A proposta por ele apresentada é de uma educação que não se limita a despejar conteúdos, mas questiona o papel do educador enquanto dono do conhecimento, partindo de uma perspectiva crítica, na qual o conhecimento é construído através do diálogo, e o aluno aprende ao questionar o saber e o mundo a sua volta, percebendo-se como sujeito para se emancipar da ignorância. Essa educação libertadora seria, então, um instrumento a ser adotado para quebrar as amarras ideológicas de opressão dos grupos marginalizados e excluídos, fazendo com que questionem sobre suas próprias histórias, para se reconhecerem como seres humanos e lutarem contra a exclusão.

De encontro a isto, é inegável a existência, ainda no presente, da exclusão e opressão

de grupos de indivíduos historicamente violados em seus direitos e silenciados nos espaços

públicos e privados. As mulheres, como apresentadas por Beauvoir (1967, 1970), foram, por

muito tempo, compulsoriamente condicionadas aos papéis de mães, esposas, donas de casa,

Referências

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