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2- O CURSO DE BIBLlOTECONOMIA DA FURG

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o

SRQPONMLKJIHGFEDCBA

C U R S O D E B IB L lO T E C O N O M IA D A F U R G :

T R A J E T O S E M R E V IS T A

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VERA ISABEL CABERLON*

R E S U M O

Com base em estudos realizados e reflexões sobre contextos contemporâneos,

o texto aborda traços da trajetória de 25 anos do Curso de Biblioteconomia da

Fundação Universidade Federal do Rio Grande, apresentando-a através de

três décadas e por meio de considerações relativas ao modelo curricular e à

qualificação docente.

PALAVRAS-CHAVE: Biblioteconomia; FURG.

1 -

C O N S ID E R A Ç Õ E S IN T R O D U T Ó R IA S

No ano 2000, o Curso de Biblioteconomia da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (CBib/FURG) completou vinte e cinco anos de existência. Nesse período, mudanças no modelo curricular e em condições infra-estruturais redimensionaram o curso total ou parcialmente.

É

oportuno, então, rever sua trajetória através de resgates históricos e, nesta revisão, repensá-Ia.

Para tal, são retomadas análises de estudo anterior de CABERLON (1995)1, particularmente aquelas que dizem respeito

à

Biblioteconomia brasileira na sua dupla dimensão (profissional e formativa) e ao estudo das origens do curso em destaque, na intenção de recuperar e registrar fatos que configuram algumas de suas memórias. A partir disso, e mesclando aspectos que emergem de contextos atuais, são feitas algumas reflexões através de uma abordagem histórico-cronológica do CBib/FURG.

Para situar esta abordagem, cabe recordar alguns fatos históricos relacionados

à

profissão e ao ensino bibliotecário no cenário nacional.

Os primórdios da instrução e da cultura no Brasil, principalmente quanto

à

existência de livros, permaneceram nas sombras, devido

à

ausência de documentos que, de alguma forma, possibilitassem tematizar o assunto.

Registros iniciais sobre o estabelecimento das primeiras bibliotecas brasileiras ocorrem com a chegada de religiosos jesuítas ao país e com a fundação do primeiro colégio na Bahia (sede do governo geral) em 1550,

* Docente do Curso de Biblioteconomia da FURG. Mestre em Educação.

1Trata-se da dissertação de Mestrado que investigou a produção de racionalidades e suas

mediações na formação de profissionais em Biblioteconomia pelo CBib/FURG.

BIBLOS, Rio Grande, 13: 159· 170,2001.

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embasando a constatação de que a circulação de livros restringia-se ao meio religioso (CUNHA, 1980; MORAES, 1983).

É somente no século XIX, após a vinda da família real portuguesa que a atividade bibliotecária toma impulso. Em 1810 é criada a Bibliotec~ Nacional e surgem as primeiras bibliotecas públicas (SOUZA, S., 1987).

Da declaração da independência até a passagem para o século XX observa-se a progressiva construção de uma Biblioteconomi~ institucionalizada e carente.

Essa carência marca os primeiros trinta anos deste século de tal forma que SOUZA, F. (1994) os descreve como a época da "miséria bibliotecária". Ao explicá-Ia, o autor denuncia a insuficiência de indicadores econômicos e político-sociais do país para o estabelecimento da educação e da cultura de forma autônoma e constata o reduzido acervo bibliográfico distribuído no pequeno número de bibliotecas disponíveis, concentradas no Distrito Federal e em cinco estados da federação (Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco).

Tais condições, favorecendo influências externas, terminam por facilitar a importação de modelos profissionais estrangeiros, que, se no século passado provinham de países europeus, passam a ter sua matriz nos Estados Unidos.

O modelo estrangeiro de Biblioteconomia instala-se definitivamente no Brasil sob a direção de uma

PONMLKJIHGFEDCBA

l i • • • e lit e p o lí t ic o - e c o n ô m ic a e c u lt u r a l q u e

s u b m e r g ia

à

p r o p a g a n d a

e às

a ç õ e s d e in g e r ê n c ia c u lt u r a l n o r t e - a m e r ic a n a . E n q u a n t o n o s E s t a d o s U n id o s

o

p r o c e s s o e r a d e c o n s t r u ç ã o , a q u i a d o t o u -se o d e c ó p ia " (SOUZA, F., 1994:70).

É na esteira dessa cópia que a Biblioteconomia brasileira consolida-se, evidenciando concepções e práticas que, via de regra, têm-se manifestado por técnicas que se preocupam mais com o processamento documental e menos com sua fundamentação teórica, mais com rotinas mecânicas e/ou eletrônicas e menos com a reflexão sobre sua natureza e finalidades. Ora, se a profissão bibliotecária apresenta tais características,

é

de se perguntar qual a situação do ensino de Biblioteconomia.

Na origem, denotando influências da cultura humanista francesa e seguindo os padrões da École Nationale des Chartes, de Paris, a educação biblioteconômica, apesar da criação do primeiro curso em 1911, teve início em 1915 nas dependências da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, com um currículo que correspondia às seções nela existentes (DIAS, 1955). Todavia, a exemplo do que já foi comentado em termos profissionais, o modelo europeu cede lugar ao modelo norte-americano quando, em 1929, o então Instituto Mackenzie patrocina a criação do segundo curso de Biblioteconomia, desta feita em São Paulo. Sob responsabilidade de uma bibliotecária vinda dos Estados Unidos, o curso adota a ênfase na organização de bibliotecas e no uso de técnicas específicas.

O desenvolvimento do ensino em Biblioteconomia, inserindo-se no processo de expansão do ensino superior brasileiro observado a partir da

160 BIBLOS. Rio Grande. 13: ·159-170. 2001.

década de trinta e acompanhando o período "desenvolvimentista" que caracterizou os anos cinqüenta, é visualizado na primeira estrutura curricular aprovada no ano de 1962, através do Decreto 550/62 do Conselho Federal de Educação (CFE).

Esse currículo delimita o ensino de graduação em Biblioteconomia a princípios oriundos da influência americana, centrada na mera intervenção técnica na realidade por meio de códigos e normas, e do modelo napoleônico vigente no sistema de ensino superior brasileiro, com foco na formação profissionalizante. Para SOUZA, F. (1991), é um currículo que, ao resultar de uma cultura bibliotecária voltada para a "estocagem da informação" e para o atendimento de interesses internacionais (face ao desenvolvimento ilimitado da indústria transnacional da informação e da dependência nacional de recursos externos), provoca limitações à capacidade criativa dos profissionais, limitações essas legitimadas pelo próprio ensino de Biblioteconomia.

Deve-se considerar,outrossim, que na década de 1960, período da história nacional fortemente conturbado pelo golpe militar de 1964, a educação superior é marcada pelo autoritarismo e pela repressão. Gestada nessa fase política, a Reforma Universitária é implantada pela Lei 5.540 de 1968, e dela resultam a massificação dos cursos de graduação e o crescimento do setor privado de ensino superior. Ao mesmo tempo, a ênfase até então dada aos cursos de graduação é deslocada para os departamentos e a universidade assume uma racionalidade instrumental que a fragmenta internamente e a distancia da sociedade.

Os fatos históricos referenciados, delineando traços contextuais da gênese da profissão e do ensino em Biblioteconomia, pontuados por elementos conjunturais legados pelos anos sessenta, ensejam centrar o foco no tema central deste texto.

2 -

SRQPONMLKJIHGFEDCBA

O C U R S O D E B IB L lO T E C O N O M IA D A F U R G

Para apresentar o CBib/FURG, é feita uma abordagem histórico-cronológica definida por momentos de análise representativos de três décadas: 1970, 1980 e 1990.

No interior desses momentos, a análise é tecida através da discussão de um elemento que, desde a origem, vem balizando a existência do CBib/FURG: a composição curricular. Contudo, considerando que currículos somente têm vida através do fator humano, são agregados alguns comentários sobre o corpo docente e sua qualificação. A ressalva a ser feita é de que esses comentários tomam por base somente os docentes do CBib/Furg que possuem graduação em Biblioteconomia.

2 .1 - D é c a d a d e 1 9 7 0

Os anos setenta, mais conhecidos como o período do "milagre econômico", são marcados pelo forte movimento de interiorização do ensino

BIBLOS, Rio Grande, 13: 159-170, 2001.

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de graduação e pela instituição do ensino de pós-graduação, inclusive em Biblioteconomia. Assim, se cursos de pós-graduação surgem em algumas das principais cidades do país, cursos de graduação multiplicam-se em vários municípios.

Em Rio Grande, a FURG, criada como Universidade em agosto de 1969, já oferecia, ao final da década de 1970, a maior parte dos cursos atualmente existentes, entre eles o CBib/FURG. Publicações e documentos oficiais da época registram alguns informes que possibilitam reconstruir, ainda que parcialmente, as origens do curso em pauta, cuja autorização para funcionamento é dada em 20 de agosto de 1974, pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Coepe) da Universidade.

A leitura de vários números do jornal

PONMLKJIHGFEDCBA

R io G r a n d e , expressivo veículo local de comunicação, fornece matéria relativa aos meses que antecederam a oficialização do curso. Em 16 de março de 1974, como notícia de primeira página, o jornal veicula a intenção de criação de novos cursos na FURG e, em destaque, esclarece:

Quanto ao curso de Biblioteconomia e Documentação, a pesquisa de mercado mostrou que há grande número de interessados, como interesse também há por parte de empresas e órgãos públicos. É de se frisar que no município de Rio Grande existe apenas um profissional de nível superior. Os estudos para a implantação do Curso de Biblioteconomia e Documentação na FURG têm a orientação da bibliotecária Atenéa F. Galo, Diretora do Centro de Biblioteconomia e Documentação da Fundação Universidade do Rio Grande (JORNAL RIO GRANDE, 16 mar. 1974:1)

Alguns meses após, revelando a ocupação de espaço por profissionais da área biblioteconômica, o mesmo jornal noticia a realização de um curso de quarenta horas sobre "Técnicas de Arquivo" dirigido a representantes dos setores da saúde, da educação e da classe empresarial de Rio Grande, principalmente de indústrias do pescado e do petróleo (JORNAL RIO GRANDE, 4 jul. 1974).

Em 23 de agosto de 1974, o mesmo jornal registra a realização de reunião do Coepe na qual são criados três novos cursos na FURG: Ciências Contábeis, Português e Biblioteconomia. A leitura da ata dessa reunião, de n° 1 1 / 7 4 , revela justificativas para a criação dos novos cursos,

[...] quer pela falta de profissionais para atender à demanda do mercado, no processo desenvolvimentista da região, como também pela necessidade de abertura de novos campos educacionais à [sic] nívei superior, visando proporcionar ao estudante do interior facilidade de acesso de cursos até então somente oferecidos pelas universidades das capitais, como é o caso do Curso de Biblioteconomia (FURG. Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão, 1974:1).

A imprensa local, divulgando o fato, ressalta que o CBib/Furg é o

162 BIBlOS. Rio Grande, 13: 159· 170,2001.

'--,

BIBLIOTECA

Biblioteca de Ciências

H urnanas e Educação

rtJ L~cFT.

~-atNI'~~~U;

único do interior do estado do Rio Grande do Sul. Ao mesmo tempo, registra seus objetivos:

O curso se destina à formação de bacharéis em Biblioteconomia e Documentação, isto é, profissionais especializados, capazes de propiciar um adequado desenvolvimento das bibliotecas e dos centros de documentação e se destina, igualmente, à formação de profissionais habilitados ao ensino de Biblioteconomia e Documentação e à interiorização de mão-de-obra qualificada (JORNAL RIO GRANDE, 3 set. 1974:8).

Na mesma edição, o jornal apresenta detalhes do estudo efetuado para fundamentar a criação do novo curso:

Assim, por exemplo, foi visto que em Rio Grande, há 60 bibliotecas (pública, municipal, escolares, especializadas e universitária) que carecem de 176 profissionais! Foi visto, também, que na Região há 109 bibliotecas, nas quais trabalham 177 pessoas, sendo que dessas apenas 4 são bacharéis em Biblioteconomia e Documentação! Esses números reclamam, portanto, a necessidade de qualificação de técnicos habilitados. Acresce a isso a necessidade quase compulsória das bibliotecas da Região em se estruturar adequadamente e de recorrer à Capital do Estado ou a outro centro formador de bibliotecários, em busca de profissionais capacitados para o exercício da profissão regulada por lei. Ademais, a única escola em funcionamento do Estado, a da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, forma anualmente um número de profissionais inferior às próprias necessidades da capital (JORNAL RIO GRANDE, 3 set., 1974:8)

A notícia contém, ainda, dois esclarecimentos dignos de nota. O primeiro, relativo ao corpo docente, diz que o curso será ministrado por "técnicos em Biblioteconomia e Documentação", de acordo com os preceitos do Decreto n°

56725/65,

que se responsabilizarão pelas "disciplinas profissionalizantes". Já as "disciplinas de cultura geral" estarão sob a responsabilidade de professores das demais áreas de ensino da Universidade. O segundo esclarecimento, informando que o curso utilizará a Biblioteca Central da FURG como "biblioteca-laboratório" para atividades de estágio, faz referência

à

estrutura curricular, a qual " ... se comporá de um ciclo de formação profissional (6 semestres) e um ciclo de prática profissional (300 horas de estágio probatório, supervisionado, durante ou após a conclusão do curso)" (JORNAL RIO GRANDE, 3 set., 1974:8).

No mês de novembro, em artigo intitulado "Novo curso desperta interesse", o jornal retoma informações divulgadas anteriormente e registra um chamamento da Universidade a todos os responsáveis pelas bibliotecas do interior do estado. Nesse chamamento, é ressaltado que 6 CBib/FURG " ... poderá capacitar para o exercício da profissão, já regulado por lei", e alega que tal capacitação é do interesse " ... de todos os que desejam, com a segurança que um curso superior oferece, continuar a trabalhar em bibliotecas ..." (JORNAL RIO GRANDE, 23 nov., 1974:8).

BIBlOS, Rio Grande, 13: 159-170,2001.

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Em março de 1975, na estrutura curricular consoante com o currículo mínimo aprovado pelo CFE, conforme Parecer 326/62 homologado por portaria do Ministro da Educação, de 4 de dezembro de 1962, ingressa, através de concurso vestibular, a primeira turma de alunos do CBib/FURG.

O corpo docente, além de professores formados em outras áreas de conhecimento, compunha-se, de início, de três bibliotecárias, as quais, graduadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, traziam para

°

novo curso o modelo acentuadamente técnico preconizado pela linha curricular norte-americana, que já vigorava na maior parte das escolas/cursos formadores de profissionais em Biblioteconomia do país.

Sob tal modelo, ao lado de tímidas introduções à História da Literatura (luso-brasileira e estrangeira), História da Arte, Evolução do Pensamento Filosófico e Científico e Estudos Sócio-Históricos, as demais matérias, ocupando um percentual de aproximadamente 79% do currículo básico, distribuíam-se em Organização e Administração de Bibliotecas, Catalogação e Classificação, Bibliografia e Referência, Documentação, Paleografia e História do Livro e das Bibliotecas.

O processo de reconhecimento do curso, iniciado em junho de 1977, é uma evidência da inclinação para a reprodução local das características dominantes em nível nacional. Elementos de análise podem ser extraídos das conclusões apresentadas no relatório da "Comissão Verificadora" instituída pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC) para efetivar tal processo.

Nessas conclusões, ao mesmo tempo em que o curso é reconhecido, são feitas várias recomendações, entre elas a de buscar uma distribuição "mais eqüitativa" da carga horária entre disciplinas técnicas e culturais, pois, nos termos do Parecer n° 2302/77 do CFE, "o desdobramento das disciplinas técnicas em 4 a 5 semestres compromete a formação excessivamente técnica do bibliotecário" (BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Conselho Federal de Educação, 1977: 206).

Outra recomendação apontada refere-se não só ao reforço da coleção de livros, obras de referência e revistas especializadas, levando em conta sérios critérios de seleção, mas, ao mesmo tempo, ao incentivo no uso da biblioteca por parte dos estudantes, tarefa na qual os bibliotecários devem contar com a colaboração dos professores. Providências quanto a estratégias diferenciadas para atualização de professores e estímulo a atividades de pesquisa bibliográfica pelo corpo discente são outros fatores considerados pertinentes para a melhoria da qualificação do curso.

Sob tais recomendações, que ainda permanecem em pauta, ao final do ano de 1977 gradua-se a primeira turma do CBib/FURG. É interessante notar que muitos dos ex-alunos, tanto desta como de várias turmas subseqüentes, construirão carreira profissional no âmbito da FURG.

Encerrando os comentários desta década, cabe acrescentar que, em 1978, pelo Decreto n° 81655, assinado pelo Presidente da República,

é

concedido o reconhecimento do CBib/FURG.

164 BIBlO S, Rio G rande, 13: 159-170,2001.

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2 . 2 - D é c a d a d e 1 9 8 0

Se os anos setenta descortinam a gênese e os primeiros passos da trajetória do CBib/FURG, os anos oitenta são perpassados por mudanças que pretendem reorientar seu processo de amadurecimento. Uma dessas mudanças diz respeito à substituição do modelo curricular em vigor.

Cabe lembrar que o currículo do CBib/FURG manteve-se inalterado durante sete anos. Em 1982, buscando responder a um movimento nacional que visava tornar o curso menos tecnicista, o CFE fixa parâmetros mínimos de conteúdo e duração do ensino de Biblioteconomia no país.

Sob tais parâmetros, inicia-se em âmbito local, o processo de elaboração do currículo pleno. Dois anos após, conforme Deliberação 014/84 do Coepe, o CBib/FURG passa a contar com nova grade curricular, denominada Quadro de Seqüência Lógica (QSL), ainda em vigor.

A implementação do currículo, observando a organização departamental vigente na FURG, ocorre com a cooperação de docentes vinculados a cinco departamentos: Biblioteconomia e História, Educação e Ciências do Comportamento, Letras e Artes, Matemática e Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis. Esses departamentos passam a ofertar as disciplinas ditadas pela mudança curricular, com base em matérias estipuladas pelo CFE de acordo com a Resolução n° 08, de 29 de outubro de 1982, cuja análise evidencia três blocos de conteúdos:

• matérias de "fundamentação geral", contemplando conteúdos voltados para questões culturais, históricas e sócio-político-econômicas do país";

• matérias "instrumentais", oferecendo, como o nome sugere, a possibilidade de apropriação dos instrumentos considerados necessários para o desenvolvimento das demais matérias de cunho profissional";

• matérias de "formação profissional", constituindo o cerne do processo de formação em Blblioteconornía", com disciplinas que visam o alcance do objetivo definido pelo curso".

A carga horária dedicada às disciplinas integrantes das matérias acima identificadas, expressa no QSL do CBib/FURG, permite verificar que, num total de 43 disciplinas obrigatórias, cinco (11,63% ) referem-se às disciplinas de fundamentação geral, dez (23,25% ) são de caráter

2 São "m atérias de fundam entação geral": Com unicação, Aspectos Sociais, Políticos e

Econôm icos do Brasil Contem porâneo e História da Cultura,

3São "m atérias instrum entais": Lógica, Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa,

Língua Estrangeira M odem a e M étodos e Técnicas de Pesquisa.

4São "m atérias de form ação profissional": Inform ação Aplicada à.Biblioteconom ia, Produção dos Registros do Conhecim ento, Form ação e Desenvolvim ento de Coleções, Controle Bibliográfico

dos Registros do Conhecim ento, Dissem inação da Inform ação, Adm inistração de Bibliotecas,

5De acordo com o docum ento referente ao processo de reform ulação curricular, o objetivo do

CBib/Furg é: "form ar profissionais com com petência para planejar, organizar, adm inistrar, supervisionar, assessorar e/ou executar serviços de controle, registro e dissem inação de todo o

m aterial docum ental existente e da inform ação nele contida" (FURG, Com issão de Curso de

Biblioteconom ia, 1984: 1),

BIBlO S, Rio G rande, 13: 159-170,2001.

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instrumental e 28 (65,12% ) dizem respeito às chamadas disciplinas profissionalizantes (FURG. Comissão de Curso de Biblioteconomia, 1984).

Uma comparação entre essa configuração e a apresentada pelo currículo anterior ratifica análises realizadas em nível nacional. É possível afirmar, por exemplo, que a maior parte das disciplinas optativas do primeiro currículo, com inexpressivas variações, passou a ser obrigatória no segundo currículo sob o rótulo de disciplinas "instrumentais". Além disso, as consideradas "disciplinas-eixo" do curso, definidas pela Catalogação e Classificação, sofrem eloqüente ampliação de carga horária.

Embora o novo currículo passe a apresentar algumas mudanças específicas, como o aumento do tempo para conclusão do curso (de três para quatro anos) e transformação de

SRQPONMLKJIHGFEDCBA

a tiv id a d e s de estágio, anteriormente concomitantes ao curso, em d is c ip lin a , oferecida no último semestre, é mister frisar que as modificações introduzidas não significaram mudança no eixo orientador do processo de formação do profissional em Biblioteconomia. Esse, a exemplo do ocorrido em nível nacional e que pode ser verificado na literatura sobre o tema, permaneceu sustentado pela concepção original, com o agravante de continuar se defrontando com as dificuldades e deficiências apontadas na documentação referente ao reconhecimento do curso.

De todo modo, o tempo decorrido entre a implantação desse modelo curricular no CBib/FURG, em 1985, e a formatura da primeira turma a ele vinculada, em 1989, constituindo-se em exercício cotidiano das relações entre planejamento e execução, suscitou discussões que continuaram na década seguinte.

Entretanto, outra mudança considerada relevante para esta reflexão, ao lado da "mudança curricular", desponta com o início do processo de qualificação do corpo docente da área profissionalizante do curso, isto é, dos docentes graduados em Biblioteconomia, lotados no Departamento de Biblioteconomia e História.

Assim, se a década de 1970 é caracterizada pela predominância do título de graduação, na década de 1980 começa a titulação em nível de pós-graduação, especialmente através de cursos

PONMLKJIHGFEDCBA

la t o s e n s u .

Deve-se salientar que a capacitação docente observada em nível local é consoante ao pensamento nacional expresso nos dois primeiros encontros nacionais de ensino em Biblioteconomia e Ciência da Informação, organizados pela Associação Brasileira de Escolas de Biblioteconomia e Documentação (ABEBD).

No I Encontro Nacional de Ensino em Biblioteconomia e Ciência da Informação (I ENEBCI), realizado em 1986, são discutidas formas de resolver os problemas do ensino em Biblioteconomia, principalmente quanto à qualificação pedagógica de seus docentes, oriundos da mesma formação tecnicista assimilada por seus pares não-docentes. Ao mesmo tempo, há um discurso que distingue a promoção de conhecimentos, atitudes e valores voltados para a cooperação profissional e para a dimensão social da

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profissão. No 11 ENEBCI, realizado em 1989, a atenção volta-se para questões de cunho prático-instrumental, recomendando a realização de investigações relativas aos currículos e à identidade do profissional e de seu preparo diante das "exigências do mercado".

Esses encontros, pioneiros na problematização sistematizada do ensino em Biblioteconomia, têm seqüência na próxima década e são contemplados, a seguir, em alguns de seus desdobramentos.

2 .3 - D é c a d a d e 1 9 9 0

Dos encontros nacionais de ensino em Biblioteconomia realizados nos anos noventa, é oportuno recordar algumas recomendações oriundas do 111 ENEBCI, realizado em 1992, pela sua estreita ligação com os conteúdos desta reflexão. Essas recomendações são, aqui, articuladas em dois planos: o plano do currículo e o plano da qualificação docente.

No plano do currículo, sob a idéia de que o mercado de trabalho não deve ser o único elemento regulador, é recomendada a criação de condições que possibilitem ao futuro profissional o desenvolvimento de capacidades para aplicar conhecimentos adquiridos na solução de questões novas, derivadas de diferentes momentos históricos. Para isso, os projetos político-pedagógicos dos cursos devem ser fruto de uma ampla discussão envolvendo a escola e a sociedade.

Quanto ao plano da qualificação profissional, as recomendações evidenciam a exigência de que a capacitação pedagógica e a titulação sejam compreendidas como elos indissociáveis na capacitação docente. As escolas de Biblioteconomia, por seu turno, devem ter uma política efetiva de qualificação, que sensibilize seus docentes quanto à importância de cursarem pós-graduação.

Atentando para a relevância dessas recomendações, é imprescindível ponderar que o pensar/fazer docência em Biblioteconomia também deve ser tratado à luz da lei maior que rege a educação em nível nacional - a Lei de Diretrizes e Bases (LDB). Para melhor entendimento, vale lembrar que a educação brasileira foi regida durante trinta e cinco anos pela Lei Federal n° 4024, de 1961, conhecida como a primeira LDB, e que, a partir dela, foi gestada a Reforma Universitária de 1968, já mencionada nas considerações introdutórias deste texto.

Deflagrado por volta da metade dos anos oitenta, o debate sobre a necessidade de alteração da lei continuou nos anos seguintes, até que em 1996 é instituída nova LDB. Em que pese sua amplitude e complexidade, bem como seus prós e contras, no que interessa à reflexão em curso cabe esclarecer que, em termos de ensino de nível superior, os currículos mínimos vigentes são substituídos por d ire triz e s c u rric u la re s norteadoras da formação profissional. Flexibilização e descentralização são duas qualidades que devem permear tais diretrizes, levando em conta vocações institucionais, bem como contextos e demandas regionais.

BIBLOS, Rio Grande, 13: 159· 170,2001.

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Visando adequar-se à lei, em março de 1998 uma Comissão de Especialistas de Ensino de Ciência da Informação, designada pela Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação e do Desporto (SESu/MEC), assume a incumbência de elaborar diretrizes curriculares para os cursos de Arquivologia, Museologia e Biblioteconomia.

A ABEBD, ao apreciar as diretrizes elaboradas, manifesta sua aprovação entendendo que nelas estão preservados o princípio de uma "formação plural para uma área plural" e a linha mestra da área, definida pelo "gerenciamento de estoques informacionais" visando a circulação efetiva da informação (ABEBD, 1999).

Tal entendimento é objeto de discussões durante o VII Encontro de Escolas da Região Sul, realizado em Rio Grande (RS) em junho de 1999, e as diretrizes curriculares passam a ser alvo de várias alterações e emendas.

Em suma, diante da impossibilidade de historiar detalhes, é pertinente enfatizar que, se por um lado a procura de conclusões mais consistentes e consensuais em nível nacional é algo esperado, por outro lado as diretrizes curriculares devem constar como assunto permanente na agenda de debates de cada curso de Biblioteconomia.

No que tange ao CBib/FURG, é encaminhada uma

SRQPONMLKJIHGFEDCBA

a lte ra ç ã o p a rc ia l do currículo, a qual passa a vigorar a partir do primeiro semestre de 2001.

Sem dúvida, é uma medida insuficiente, pois a fragmentação ainda é visível, dada a inexistência de um projeto político-pedagógico próprio que sirva como fio condutor. Ao mesmo tempo, não se pode esquecer que o currículo está atrelado às condições que a instituição oferece, condições essas que alteram e determinam muitos dos rumos planejados.

Além da alteração parcial mencionada, que não sofrerá maiores comentários neste texto por se entender que merece um artigo especialmente dedicado a esse fim, o último destaque a ser feito reside na qualificação do corpo docente.

O processo de qualificação

PONMLKJIHGFEDCBA

la t o s e n s u , iniciado na década passada, toma impulso e é reorientado na década de 1990, caracterizando-a como o período de intensificação da titulação, agora também em nível de pós-graduação s t r ic t o s e n s u .

O CBib/FURG chega ao final da década com nove docentes do quadro permanente para um universo que se mantém em torno de 100 alunos de graduação. Desses nove docentes, cinco são especialistas (dois desenvolvendo mestrado), três são mestres (um desenvolvendo doutorado) e um é doutor.

Cabe observar que uma conseqüência palpável dessa qualificação é sentida na participação efetiva dos docentes com mestrado e doutorado junto ao Curso de Especialização em "Desenvolvimento e Gerenciamento de Informação em Ciência e Tecnologia", o qual vem sendo regularmente oferecido à comunidade como forma de atender à demanda por uma

educação continuada.

168 BIBLOS, Rio Grande, 13: 159· 170, 2001.

Com a menção de dados relativos à década de 1990, encerra-se a exposição dos três momentos de análise que desenham traços da trajetória do CBib/FURG. Em seguimento, abre-se espaço para algumas palavras que, muito mais do que respostas, querem deixar desafios para aqueles que pensam e fazem o cotidiano do CBib/FURG.

3 - C O N S ID E R A Ç Õ E S F IN A IS

A revisão apresentada neste texto, sem pretensões de exaurir o temário, procurou tecer um rápido inventário realçando aspectos relativos ao CBib/FURG, principalmente em termos do currículo e da qualificação docente, conectando-os a conjunturas nacionais.

Resta, no entanto, pensar quais as reais repercussões das mudanças implementadas nos fatores "currículo" e "qualificação docente", levando em conta suas múltiplas articulações, principalmente para o ensino em nível de graduação sob responsabilidade do CBib/Furg .

Quanto ao currículo, as mudanças implementadas, se parecem estar alcançando fins mais imediatos como a atualização de conteúdos instrumentais, demonstram dificuldade em dar conta da dinâmica social, reinventada a cada momento. Isso é visível na presença de tradições que não são problematizadas e que só contribuem para a manutenção de um caráter quase dogmático, que perturba as tentativas de exercício de um pensamento crítico.

Fica, assim, evidente a necessidade de construir diretrizes curriculares sob uma perspectiva de diálogo que seja sensível aos nexos da relação com a sociedade. Fica, também, o desafio de construir essas diretrizes com significados que, sem suprimir o profissionalismo e a cientificidade, superem uma ação profissional que, se num momento mais imediato, individualizado, é competente em atender necessidades variadas, em nível coletivo demonstra, ainda, forte desvinculação do contexto histórico-social do país. Em outras palavras, significa construir um projeto pedagógico que, questionando a pedagogia da imediatez, ative capacidades políticas sensíveis aos desafios sociais que desde muito se apresentam aos profissionais em Biblioteconomia.

Quanto à qualificação docente, além de requisito permanente, deve ser condição para o desenvolvimento de novas formas de ensino/aprendizagem, para revisões/reorientações das concepções político-pedagógicas do ensino em Biblioteconomia que se manifestam na estrutura curricular do curso e, fundamentalmente, para manter acesa a chama do esclarecimento.

Outrossim, ao lado dos desafios que as reflexões empreendidas fizeram aflorar, está a esperança de que a aproximação entre o desejado e o concretizado seja respaldada por investigações aprofundadas e pela

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participação real de todos os atores que, direta ou indiretam ente, podem contribuir para (re)criar o CBib/FURG.

Outras considerações poderiam ser feitas, pois, evidentem ente, a com plexidade inerente ao funcionam ento de um curso de nível superior, bem com o da universidade que o sedia, ultrapassa os registros e com entários aqui efetuados. No entanto, espera-se que as referências contextuais básicas e alguns fragm entos do que ocorreu nesses 25 anos do CBib/FURG, m ais do que tem po

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v iv id o , constituam -se em m atéria de tem atização.

Com certeza, é um tem po que precisa ser com em orado! T o d a v ia , com em orar um tem po de v id a d e v e significar, tam bém , refletir sobre o passado e o presente. Nisso reside a possibilidade de recontextualizar,

reelaborar e revitalizar tendo em vista o futuro que, sem dúvida, já com eçou.

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R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á F IC A S

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Referências

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