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Apontamentos 2º Teste 11º Ano

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Academic year: 2022

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Apontamentos 2º Teste – 11º Ano

Interpretação

Discurso político

É um texto no qual se defende uma tese com base em argumentos devidamente exemplificados.

Estrutura:

Introdução – tese;

Desenvolvimento – argumentos positivos, argumentos negativos ou contra-argumentos:

refutação, falácias (argumentos inválidos);

Conclusão – síntese dos argumentos.

“Sermão de Santo António aos Peixes”, Padre António Vieira Barroco

O “Sermão de Santo António aos Peixes” insere-se no Barroco (séc. XVII), caracterizado pela utilização de contrastes, pelo pessimismo, pela presença de impressões sensoriais, pela preocupação com a duração da vida, pela intensidade, pela linguagem erudita e trabalhada e pela tentativa de conciliação entre a religião e o racional. O Barroco é associado aos exageros quer na linguagem, como na transmissão de ideias e pensamentos, como na arte.

Estrutura do sermão

Exórdio – Apresentação do tema. Pretende-se alcançar a benevolência, a simpatia e a atenção dos ouvintes.

Exposição – Apresentação dos argumentos.

Confirmação – Confirmação dos argumentos com exemplos.

Peroração – Amplificação dos melhores argumentos. Apelo ao auditório.

Cap. I Introdução Exórdio

Cap. II Cap. III Cap. IV Cap. V

Desenvolvimento Exposição e Confirmação

Cap. VI Conclusão Peroração

Contextualização do sermão

É dentro das lutas que dividem os jesuítas e os colonos, por causa dos indígenas, que o Padre António Vieira profere este sermão.

Os colonos exploravam de forma desumana os índios. Eram homens sem escrúpulos que enriqueciam à custa do suor e do sangue dos pobres índios. Vieira defendia os seus direitos e pretendia a abolição de leis que os tornavam cativos. A palavra era a sua maior arma.

O tema do sermão é, então, a denúncia das atrocidades que os índios sofrem às mãos dos sanguinários colonos. Toda a crítica é feita sob a forma de alegoria na qual os peixes simbolizam os vícios dos homens.

Análise do sermão

Cap. I – Exórdio

Louvores Repreensões

Em geral Em particular

Em geral Em particular

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2 No exórdio é proposto um tema dicotómico. Partindo do conceito predicável vos estis sal terrae, retirado da Sagrada Escritura, o orador dá início ao sermão.

“Vós sois o sal da terra”

PROPRIEDADES

Sal Pregadores

Conservar

Evitar a corrupção

Louvar o bem Impedir o mal

Vieira sabe que o mal não está só do lado dos pregadores, os ouvintes também têm as suas culpas.

Pregadores Mensagem evangélica

Ouvintes

A terra está corrompida

Os pregadores não pregam a verdadeira doutrina;

Os pregadores dizem uma coisa e fazem outra;

Os pregadores pregam-se a si mesmos e não a Cristo.

Porque a terra não se deixa salgar (ouvintes)

Porque o sal não salga (pregadores)

Os ouvintes não querem receber a verdadeira doutrina;

Os ouvintes querem imitar o que os pregadores fazem e não o que eles dizem;

Os ouvintes querem servir os seus apetites em vez de servir a Cristo.

Motivos Motivos

Aos ouvintes Resposta de Santo António:

muda-se o auditório Aos pregadores

Resposta de Cristo:

desprezar os maus pregadores

O que se há-de fazer quando não cumprem as suas funções

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3 O primeiro parágrafo é todo construído através de uma engenhosa rede de jogos de palavras, onde domina o emprego da disjuntiva “ou” e da conjunção “porque” sobre a procura das causas que impedem que a terra se deixe salgar. A adversativa “mas”, introduz uma clarificação do problema acerca do que foi anteriormente dito.

No segundo parágrafo, a citação evangélica “Se o sal perder a substância e a virtude, e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há-de fazer, é lançá-lo fora como inútil, para que seja pisado de todos” funciona como forma de legitimar os argumentos apresentados. Tal como a citação referida, a figura de Santo António também funciona como autoridade, assim como os outros Santos Doutores da Igreja.

Santo António ocupa um lugar especial. Todo o texto é um panegírico em torno da sua figura. Aproveitando o facto de ter dificuldade em comunicar com os Homens, decide pregar aos peixes.

Cap. II, III, IV e V – Exposição e Confirmação Cap. II

A partir do Capítulo II até ao final do Sermão, todo o texto é uma alegoria, uma vez que o auditório são os peixes-gente.

Falando com os “irmãos peixes”, indica as funções do sal e do Sermão. Existe um paralelismo entre o Sal e o Sermão e é através deste paralelismo que se irá desenvolver todo o Sermão.

Em todo o lado há bons e maus, o mesmo acontece com os peixes.

Os peixes são a metáfora dos Homens, as suas virtudes são, por contraste, a metáfora dos defeitos dos Homens e os vícios são directamente a metáfora dos vícios destes. O pregador fala aos peixes mas quem o escuta são os Homens, os colonos do Maranhão.

Neste capítulo, o orador anuncia, de forma clara, o assunto que vai tratar, bem como a sua divisão. Partirá sempre do geral para o particular. Assim, começará por falar das virtudes dos peixes, em geral, e a seguir irá particularizar alguns casos. O mesmo acontecerá com as repreensões.

O orador conta um episódio da vida de Santo António, no qual os Homens o queriam expulsar daquela terra, enquanto os peixes se mantinham atentos ao seu Sermão. Existe uma antítese entre a atitude dos Homens e a dos peixes.

Uma outra narrativa é a de Jonas que, quando ia num navio, e durante uma tempestade, foi atirado ao mar pelos Homens para ser comido pelos peixes, mas um destes engoliu-o e foi deixá-lo em terra, onde Jonas continuou a pregar.

Peixes

Defeitos não se convertem Qualidades

ouvem e não falam

Louvores gerais aos peixes Foram as primeiras criaturas que Deus criou;

Foram os primeiros nomeados;

São em maior número e tamanho;

Não se domam nem domesticam e, por isso, vivem afastados do Homem e dos seus defeitos.

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4 É citada outra grande autoridade, Aristóteles, filósofo grego, que refere que os peixes

“não se domam nem domesticam”.

ANIMAIS QUE SE DOMAM OU DOMESTICAM

Terrestres Do ar

“o cão é tão doméstico”

“o cavalo tão sujeito”

“o boi tão serviçal”

“o bugio tão amigo e lisonjeiro”

“até os leões e tigres (…) se amansam”

“o papagaio nos fala”

“o rouxinol nos canta”

“o açor nos ajuda e recreia”

“grandes aves de rapina (…) recebem o sustento”

A diferença entre os peixes e os outros animais é acentuada pelo advérbio de lugar “lá”, longe dos Homens, e pelos pronomes possessivos “seus”, “seu” e “sua”. Não só vivem longe, como num espaço que lhes pertence.

Os animais que convivem com os Homens foram castigados, pois estão domados, domesticados, sem liberdade. Só os peixes não foram castigados aquando do dilúvio.

Termina o capítulo com o exemplo de Santo António que deixou Lisboa, Coimbra e Porto para se afastar dos Homens e, consequentemente, se aproximar de Deus.

Cap. III

Neste capítulo são particularizadas as virtudes de alguns peixes, os quais representam determinados tipos de Homens.

Peixe Virtudes Efeitos Comparação Razões Peixe

de Tobias

O fel sara a cegueira

O coração afasta os demónios

Sarou a cegueira do pai de Tobias Lançou fora os

demónios

Santo António Abria a boca contra os hereges Alumiava e curava a cegueira Lançava os demónios Rémora Pequena no corpo

Grande na força e no podes

Pega-se ao leme de uma nau Impede que ela

avance

Santo António A língua de Santo António domou as paixões humanas Torpedo Produz energia Faz tremer o

braço do pescador Impede que o

pesquem

Santo António A língua de Santo António domou as paixões humanas Quatro-

-Olhos Dois olhos olham para cima

Dois olhos olham para baixo

Defende-se dos peixes

Defende-se das aves

Pregador O peixe ensinou

o pregador a olhar para cima (céu) e para baixo (inferno)

Cap. IV

No Capítulo IV são feitas as repreensões gerais aos peixes. A primeira e grave condenação é o facto de se comerem uns aos outros e, sobretudo, os maiores comerem os mais pequenos.

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5 Surge, mais uma vez, uma autoridade bíblica: Santo Agostinho. Através dele, Vieira constrói um paralelismo invertido:

São referidos dois exemplos: um de uma pessoa que morreu, outro de um réu no julgamento. No primeiro caso, existe uma forte crítica à exploração dos negócios que envolvem os mortos e, no segundo, ao sistema judicial. Em ambas as situações é evidente o paralelismo anafórico a nível lexical e que nos dá a imagem de um grande “banquete” em torno de uma pobre vítima.

O Padre António Vieira reitera o facto dos peixes maiores comerem os mais pequenos e, mais do que isso, “cardumes inteiros”. Está, sem dúvida, a referir-se às tribos índias que eram devoradas pelos colonos, desde as mais altas figuras até ao mais reles funcionário.

Adverte, neste momento, Santo Ambrósio no sentido de proteger os mais fracos.

Em forma de síntese: os Homens são como peixes que se comem uns aos outros, devoram e engolem um povo.

Neste momento é claro e directo o ataque feito aos colonos que exploram os índios, de uma forma completamente desumana.

Santo Agostinho Santo António

Pregava aos Homens

Exemplificava nos peixes

Pregava aos peixes

Exemplificava nos Homens

“Olhai, peixes, lá do mar para a terra.”

Matos e sertão Cidade

“Cuidais que só os Taquias se comem uns aos outros…”

“… muito maior açoute é o de cá, muito mais se comem os brancos.”

Vedes

“Todo aquele bulir todo aquele andar todo aquele concorrer aquele correr e cruzar aquele subir e descer aquele centrar e sair”

“Pois tudo aquilo é andarem buscando os Homens como hão de comer, e como se hão de comer”

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6 A segunda crítica que tem a fazer no geral é a “… tão notável ignorância, e cegueira, que em todas as viagens experimentam, os que navegam para estas partes”.

O orador, após a exposição da repreensão, comprova-a. Dá o exemplo dos peixes que caiem facilmente no engodo da isca, passa, em seguida, para o exemplo dos homens que enganam os indígenas e para a facilidade com que estes se deixam enganar. A crítica à exploração dos negros é cerrada e implacável. Conclui afirmando que os peixes são muito cegos e ignorantes e apresenta, em contraste, o exemplo de Santo António, que não se deixou enganar pela vaidade, abdicou dela, fazendo-se pobre e simples e, desta forma, pescou muitos Homens para a salvação.

Cap. V

O Capítulo V é dedicado às repreensões aos peixes em particular. Assim, os roncadores, pegadores, voadores e o polvo vão desfilando e mostrando os seus defeitos

PEIXES SIMBOLIZAM CARACTERÍSTICAS DE SANTO ANTÓNIO Roncadores Soberba e orgulho Era detentor do saber e do poder e não se vangloriava

por isso

Pegadores Parasitismo e adulação Pegou-se somente a Cristo

Voadores Ambição e presunção Tinha asas (sabedoria) e não as usou para exibição do ser valor

Polvos Traição Esteve sempre afastado da traição, sempre houve verdade e sinceridade

Homens Peixes

vaidade ignorância/cegueira

enganados

perdem a vida

Descrição do polvo capelo

raios

ausência de ossos (realidade)

Comparação

monge estrela branduras/mansidão (ilusão)

Conclusão: “o maior traidor do mar”

Porquê? Muda de cor

Consequência: engana inocentes e distraídos

limos = verde areia = branca lodo = pardo pedra = cor de pedra

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7 Cap. VI – Peroração

Sabendo que as últimas palavras são as que ficam mais presentes no espírito dos ouvintes, o orador pretende com elas mover o auditório. Os dois principais aspectos que ele pretende salientar são:

Os peixes estão acima dos outros animais.

Os peixes estão acima do pregador e este sente um pouco de inveja pois apresenta um retrato dele próprio como pecador.

Referências

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