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A Paróquia e a Nova Evangelização

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FORMAÇÃO PERMANENTE DO CLERO

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A Paróquia e a Nova Evangelização

Contributos do Direito Canónico

Padre Sérgio Dinis

Auditório do Seminário de Vila Real - 5 de Fevereiro de 2015

(2)

Índice

Índice ... 2

Introdução ... 3

1. A missão evangelizadora da paróquia ... 4

1.1. O pároco, o primeiro evangelizador da comunidade paroquial. ... 5

Munus Sanctificandi ...7

Munus Docendi ...9

Munus Regendi ...12

1.2. A paróquia, uma comunidade evangelizadora ... 15

Conclusão ... 22

Bibliografia ... 24

(3)

Introdução

Para quem vive a sua existência e a sua fé, como pároco numa das Igrejas particulares pertencente à primeira evangelização, à medida que vê a secularização da sociedade avançar de forma progressiva e, por vezes, galopante, onde se dá um eclipse do sentido de Deus, o tema: A missão evangelizadora da paróquia, é-lhe muito caro. Tudo parece mudar à velocidade da luz e as mutações, no que diz respeito à vivência da fé e à presença desta, como critério fundamental, nas grandes decisões da vida, são alucinadoras. Agora, sabemos que o presente é diferente em relação ao passado recente, não porque o lemos nos livros, mas porque o sentimos na vida. Nos últimos quinze a vinte anos, quem não sente mudanças na forma como se equaciona a fé, a Igreja e o próprio sentido de Deus? A secularização veloz e o desaparecimento dos critérios de fé na vida de muitos cristãos, deixam-nos certamente apreensivos, angustiados e em certa medida desorientados.

Uma questão que se equaciona é se a paróquia continua a ser uma estrutura apta para levar a Boa Notícia do Evangelho, concretamente neste contexto Europeu e Ocidental.

Passados mais de quinze séculos da sua propagação, que as paróquias continuam a ser necessárias, pensamos que ninguém o porá em causa, mas levanta-se a questão se elas serão capazes de dar uma resposta eficaz e cabal aos desafios da nova evangelização.

Por outro lado, o tema da paróquia é para muitos um tema já esgotado, tanto na sua reflexão teológico-pastoral, como na sua prática. Há quem pense que o assunto já está encerrado ou pelo menos já deveria estar, pois consideram que as reformas que o Concílio Vaticano II propôs a esta realidade pastoral, que é a paróquia, já foram implantadas e os objetivos de renovação alcançados. Será mesmo assim?

O estudo e a reflexão permitem-nos não só conhecer melhor a realidade, como também encontrar caminhos novos, que tracem o futuro com maior segurança. Estará a paróquia à altura dos desafios que a nova evangelização coloca? O Direito Canónico poderá ser uma ajuda a esta missão evangelizadora da paróquia? O pároco, enquanto cura de almas, sabe que tem uma missão importantíssima neste desafio de levar o Mistério de Cristo àqueles que o Senhor e a Igreja lhe confiou. Analisemos com detalhe o seu múnus e descubramos que os sinais são de esperança.

(4)

1. A missão evangelizadora da paróquia

Na hora de darmos início a este trabalho existem dois conceitos que é necessário clarificar e contextualizar. O primeiro é o de evangelização, o segundo é o de paróquia.

No respeitante ao primeiro, o da evangelização, temos que o tomar do contexto da nova evangelização. Mais do que levar o Evangelho de Jesus Cristo, trata-se de o anunciar sobretudo àqueles que embora sendo batizados vivem como se não o fossem. O Pontifício Conselho para a nova Evangelização criado pelo Papa emérito, Bento XVI, pela carta apostólica em forma de motu proprio Umbicue Semper, no artigo 2 do decreto de constituição diz que aquele dicastério está ao serviço das Igrejas particulares, especialmente dos territórios de tradição cristã onde o fenómeno da secularização se manifesta com maior evidência. Portanto, a ideia de evangelização, que está subjacente neste trabalho, é precisamente esta de toda a palavra, toda a ação feita em nome da Igreja que tem por principal finalidade dar a conhecer o mistério de Jesus Cristo a todo aquele que não o conhece, ou àquele que o conheceu e que vive como se não tivesse fé.

Por sua vez, a definição de paróquia que seguiremos é aquela que vem expressa Código de Direito Canónico como communitas christifidelium, constituída de modo estável na Igreja particular, cuja cura pastoral se entrega a um pároco, como pastor próprio, é a Igreja neste lugar para tudo, para todos e por todos . Ela é a imagem da Igreja universal, 1 na sua dimensão local e é para a maioria dos cristãos a comunidade de referência, pois em comunhão com a Igreja particular, é uma unidade pastoral de particular importância . 2

A respeito do presbítero e, mais adiante do pároco, como pastor próprio, atendendo ao seu ligame ontológico com Cristo e ao seu tríplice múnus de ofício, afirmamos que, deve ter consciência que toda a sua vida é um mistério inserido totalmente no mistério de Cristo e da sua Igreja. Desde a sua ordenação está ontologicamente presente a dimensão evangelizadora, pois o presbítero é escolhido entre os homens e a favor dos

JOÃO PAULO II, Codex Iuris Canonici (25-I-1983), c. 515 §1, in: AAS 75 II (1983) 14-355.

1

SAN JOSÉ, J., La «gobernanza» o el «buen gobierno» de la parroquia, in: MARTÍNEZ-TORRÓN, J. (et

2

al.), (coord.), Religión, Matrimónio y Derecho ante el siglo XXI. Estudios en homenaje al Profesor Rafael Navarro-Valls, Vol. II, Madrid: IUSTEL, 2013, 3099.

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homens como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus (Heb. 5, 1). O presbítero escolhido e consagrado é enviado a atualizar a missão de Cristo, o primeiro Evangelizador. O pároco agindo in persona Christi capitis, torna-se o ministro das ações salvíficas essenciais, transmite as verdades necessárias à salvação e apascenta o Povo de Deus, conduzindo-o rumo à salvação. A dimensão evangelizadora da paróquia é indiscutível. Sabemos que ela, sozinha, não pode levar a missão da nova evangelização por diante, mas é nela que ela se há de realizar. A paróquia tem uma missão importantíssima na ação evangelizadora da Igreja, pois ela pode chegar aos homens e mulheres concretos.

Ao longo deste trabalho, gostaríamos de deixar propostas concretas para a missão evangelizadora. Dois aspetos devem ser tidos em conta. O primeiro é que estas propostas são feitas a partir de uma visão canónica da paróquia e do pároco. A segunda, é que as sugestões apresentadas são divididas entre o pároco e a comunidade paroquial.

Esta apresentação, em separado, não significa divisão, pois como vemos pela definição do Código, não existe paróquia sem communitas christifidelium, mas esta também o não é sem um pároco. Portanto, eles formam uma unidade, não podem ser vistos separadamente. O único objetivo desta separação visa concretizar o mais possível as sugestões ou propostas.

1.1. O pároco, o primeiro evangelizador da comunidade paroquial.

O pároco, no meio da comunidade, é indiscutivelmente o primeiro evangelizador. Não é o único, pois todos os batizados, participantes da função sacerdotal, profética e real de Cristo, são corresponsáveis da missão da Igreja de levar o Evangelho ao mundo . Todo 3 o batizado, porque o é, é chamado à santidade . O pároco, como pastor e guia da 4 comunidade dos fiéis de Cristo deve ser modelo de santidade. A evangelização faz-se, antes de mais, pela santidade da Igreja e dos seus membros . 5

CIC 83, c. 204 §1.

3

CIC 83, c. 210.

4

CONCÍLIO VATICANO II, Constituição dogmática Lumen Gentium (11-XI-1964), 4, in: AAS 57

5

(1965) 5-67.

(6)

A Igreja tem necessidade de sacerdotes (presbíteros e bispos) bons, santos e bem preparados. O pároco não tem somente a função de santificar, mas primeiramente de se santificar. Os sacerdotes, porque realizam atos que superam a própria existência pessoal, por atuarem in persona Christi capitis, devem estar convictos de que estão revestidos de Cristo, por isso, capazes de um estilo de vida novo que manifesta claramente a todos que vivem para Deus . Um pároco deve ter consciência de que se não existe coerência 6 entre a verdade anunciada e a experiência de vida, o seu testemunho não será verdadeiro e perderá a eficácia evangelizadora . 7

No meio de tantos afazeres, sobrecarregado, por vezes com várias paróquias dispersas, o pároco tem de dar primazia à vida de oração. Não basta a celebração dos sacramentos junto dos fiéis que lhe estão confiados, a celebração do Sacrifício Eucarístico, mas também a oração da liturgia das horas, os retiros anuais e as recoleções mensais a nível diocesano ou arciprestal, a meditação da Palavra de Deus, a prática frequente do sacramento da Penitência, a direção espiritual, a devoção mariana... Não se esquecendo que todo o cumprimento, entrega e dedicação das obrigações e deveres do ofício de pároco, realizado no amor a Deus e aos irmãos, é o primeiro modo de santificação . 8 O pároco tem o dever de ser um homem inspirado pelo Espírito Santo, um

«pneumático» . No discernimento que há de fazer dos carismas que Deus confiou à sua 9 comunidade, nas vocações que Ele chama entre os seus fiéis, na leitura dos “sinais dos tempos” tem de escutar a voz de Deus que lhe fala pelo seu Espírito. Ele é homem de Deus. Esta simples e breve afirmação, tem uma alcance e profundidade enormes na hora de ser assumida e vivida. O pároco antes de ser pastor em nome de Cristo é o primeiro

FISICHELLA, R., La nueva evangelización, Santander: Sal Terrae, 2012, 103-104.

6

Se todo o fiel está chamado à santidade, em razão do seu batismo, pela razão peculiar do sacramento da

7

Ordem os clérigos, uma vez consagrados a Deus devem buscar a conformação com o Senhor. CIC 83, c.

276.

CHIAPPETTA, L., Il manuale del parroco. Commento giuridico-pastorale, Roma: Edizioni Dehoniane,

8

1997,102-103.

SAN JOSÉ, J., La «gobernanza» o el «buen gobierno» de la parroquia, 3103.

9

(7)

discípulo da comunidade. O poder evangelizador de uma comunidade paroquial depende, em boa parte, da santidade do seu pároco . 10

Munus Sanctificandi

Dentro do tríplice múnus do pároco de santificar, ensinar e reger não existe a prioridade de uns sobre os outros. Ele deve exercer a sua missão de forma harmoniosa sem privilegiar uma dimensão e descuidar outra, pois a missão é uma só, a salvação das almas. No entanto, o pároco tem de colocar todo o seu empenho na santificação dos fiéis de Cristo que lhe foram confiados.

Muitos são os meios para alcançar a santidade, porém a Eucaristia deve ser o centro da comunidade paroquial. Com diligência, empenho e solicitude o pároco procure que os fiéis celebrem e vivam os sacramentos, em especial a Santíssima Eucaristia . A 11 Eucaristia forma a Igreja, e concretamente a comunidade paroquial. A participação na Eucaristia dominical é fundamental. Um batizado que dispensou a Eucaristia dominical, já pouco mais tem a perder! Por isso, o pároco deve colocar todas as suas energias na preparação da Eucaristia dominical. Use os meios que estão ao seu alcance para envolver o maior número de paroquianos na Eucaristia dominical. Somente com fiéis alimentados pelo Corpo de Cristo na Eucaristia são fortalecidos para a missão de anunciarem Cristo. Todos os fiéis, seja qual for o seu estado ou condição, são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai e a manifestarem pela santidade o amor de Deus pelos homens.

Por todas as razões, quando o pároco tem o encargo pastoral de várias paróquias, não multiplique o número de missas, para além daquilo que o Direito tem estipulado e o Ordinário de lugar concedeu . Mesmo que haja necessidade de, alternadamente, deixar 12 algumas paróquias com a Celebração da Palavra na ausência de presbítero, presidida por um diácono permanente ou por um leigo devidamente preparado e autorizado . O 13

Na leitura da exortação apostólica Evangelii gaudium, pela qual o Papa Francisco se dirigiu aos fiéis

10

cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora, marcada pela alegria, não existe nenhuma referência à santidade, como base da nova evangelização.

CIC 83, c. 528 §2.

11

CIC 83, c. 905 §2.

12

CIC 83, c. 1248 §2.

13

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importante é que a Eucaristia dominical seja bem celebrada, com tempo, serenidade e acima de tudo com dignidade. Do ponto de vista humano, uma sobrecarga de missas ao Domingo conduzirá inevitavelmente, o pároco, ao cansaço, à fadiga, podendo cair mesmo num desprezo pelo sacramento cuja celebração não seria mais que uma tarefa rotineira.

O pároco tem de ser o homem da Eucaristia. A Santa Missa deve ocupar a centralidade da sua espiritualidade, vida e ministério, por isso o código recomenda a sua celebração diária, sempre que possível com a participação do Povo de Deus que lhe foi confiado, preparando-se convenientemente . 14

Toda a liturgia deve ser cuidada, naquilo que dele diretamente depende, a homilia, mas também onde há a intervenção de outros, na proclamação da Palavra de Deus, preparando bem os leitores, os cânticos litúrgicos, o serviço ao altar pelos acólitos...

sem esquecer a limpeza, o conforto e ornamento do templo... tudo deve ser preparado meticulosamente. A liturgia não se improvisa. Também não se teatraliza, mas celebra-se com amor e dedicação. A liturgia é beleza que remete o homem para Deus e faz encarnar o mistério em quem celebra. É um poderoso meio de evangelização.

Ao analisarmos o cânone 528 §2 damo-nos conta da importância do sacramento da Penitência. Este sacramento é o modo ordinário pelo qual os fiéis obtêm o perdão de Deus dos pecados cometidos após o batismo e ao mesmo tempo se reconciliam com a Igreja que vulneraram ao pecar . Portanto, sem ele a Igreja perderia todo o seu 15 esplendor de santidade e a divisão cometida pelo pecado reinaria na Igreja e nas comunidades paroquiais. O pároco para além de proporcionar tempos adequados aos seus fiéis, assim como distintos sacerdotes, para este sacramento disponha ele próprio de tempo para atender os seus paroquianos de confissão. Zele para que em cada Igreja haja um confessionário, num lugar visível e decoroso, para que livremente os fiéis que o desejarem possam recorrer a ele . É necessário voltar ao confessionário. E isto depende 16 do pároco. É uma excelente oportunidade para convidar à santidade e, consequentemente, se necessário for, a uma eventual direção espiritual, sem a confundir

CIC 83, cc. 904; 909.

14

CIC 83, c. 959.

15

CIC 83, c. 964 §2.

16

(9)

com a Confissão. Ajudar a formar uma consciência é o mais nobre da evangelização. O sacramento da Reconciliação é, por isso, um meio importantíssimo de evangelização.

Recordemos a figura de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, patrono dos párocos.

É também da responsabilidade do pároco a vida de oração e de piedade da sua comunidade ou comunidades paroquiais. É certo que tudo vai depender de cada comunidade, no entanto, o cânone 528 §2 indica de forma concreta a oração em família.

Não é tarefa fácil, mas algumas iniciativas podem ser tomadas. Nomeadamente, partindo das crianças na catequese, incutindo-lhes o gosto da oração antes e depois das refeições, o exame de consciência antes de dormir, pequenas orações que facilmente memorizam... por vezes, elas são autênticos evangelizadores dos pais, em suas casas.

Por vezes, há uma vida de piedade nas famílias que ainda continua acesa, por um avô ou uma avó, que precisa de um “sopro” que avive a chama, em toda a família. O pároco deve colocar à disposição diversos devocionários, legitimamente aprovados , que 17 ajudem as pessoas a rezar em família, nomeadamente, a recitação do terço, no mês de Maria, São José, Sagrado Coração de Jesus... Em muitas paróquias, pelos bairros, ainda passa, de família em família, o coro da Sagrada Família de Nazaré, permanecendo em cada casa um dia. Alimentar todas estas formas de piedade e oração e criar outras novas, são formas de evangelização que cada pároco, com a sua criatividade, há de eleger para as suas comunidades, de acordo com a realidade concreta. Pode parecer que estes meios estejam desprovidos de grandes “técnicas” e “pedagogias” de evangelização, mas está provado que foram meios simples que Jesus usou para evangelizar.

Na paróquia, aquele que foi chamado a conduzi-la como pastor próprio, não deixe de criar e valorizar lugares para a meditação, a adoração ao Santíssimo Sacramento e oração pessoal. Crie espaços de aconchego, onde premeie a beleza e a simplicidade, ajudando à intimidade com Deus.

Munus Docendi

CIC 83, c. 827 §4.

17

(10)

No que se refere ao múnus de ensinar do pároco, deixemos aqui também algumas propostas concretas, apoiados no cânone 528 §1 e nos cânones que a ele dizem respeito do Livro III do CIC . Comecemos pelo anúncio da Palavra de Deus.

O pároco tem a obrigação de procurar que a Palavra de Deus seja anunciada integralmente na sua paróquia. Nas nossas paróquias, não só existem homens e mulheres que ainda não conheceram a Boa Nova como há também muitos cristãos que têm necessidade que lhes seja anunciada novamente a Palavra de Deus, para poderem assim experimentar concretamente a força do Evangelho. A Palavra de Deus é o fundamento de todo o labor pastoral, trata-se de anunciar, de levar o próprio Evangelho de Cristo . O momento alto da proclamação da proclamação da Palavra de Deus são os 18 momentos celebrativos. Cuide o pároco que nunca se celebre nenhum sacramento ou sacramental sem a proclamação da Palavra de Deus. Mais, é da sua responsabilidade a formação do grupo de leitores que hão de proclamar a Palavra de Deus nas celebrações, como já o referimos anteriormente; também compete ao pároco velar pelas condições de acústica e pela sonorização de cada templo. Procure, ainda, que cada paroquiano tenha um contacto direto com a Sagrada Escritura, procurando que em cada família exista uma bíblia. Promova a assinatura de revistas, com a liturgia da Palavra diária, que as editoras católicas propõem a preços bastante acessíveis.

No múnus docendi, o pároco tem a obrigação de instruir os fiéis nas verdades da fé. No que diz respeito à homilia , já o referimos anteriormente, deve ser centrada nas leituras 19 proclamadas, na celebração e comprometida com a realidade. Ela precisa ser breve e capaz de falar a linguagem dos homens e das mulheres da cultura atual. Pela homilia, a comunidade é levada a descobrir a presença e a eficácia da Palavra de Deus na sua vida.

Ao pregar, o pároco, evite discursos genéricos e abstratos, que ocultam a simplicidade da Palavra de Deus, ou divagações inúteis que ameaçam atrair a atenção mais para o pregador do que para a mensagem evangélica. Isso implica preparar a homilia com meditação e oração, a fim de pregar com convicção e paixão . 20

BENTO XVI, Exortação apostólica Verbum Domini (30-IX-2010), 96, in: AAS 102 (2010) 681-787.

18

CIC 83, c. 767.

19

FRANCISCO, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (24-XI-2013), 11, in: Edição da Conferência

20

Episcopal Portuguesa (2013) 201.

(11)

Uma sugestão, ou proposta, para uma evangelização a partir da paróquia é a criação e acompanhamento de grupos de lectio divina. A Palavra de Deus está na base de toda a espiritualidade cristã autêntica. O Concílio Vaticano II já tinha recomendado que os fiéis

«debrucem-se, pois, gostosamente sobre o texto sagrado, quer através da sagrada Liturgia, rica de palavras divinas, quer pela leitura espiritual, quer por outros meios que se vão espalhando tão louvavelmente por toda a parte, com a aprovação e estímulo dos pastores da Igreja. Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração» . A formação e acompanhamento destes grupos depende 21 totalmente do pároco, mas são meios de evangelização extraordinários.

Muitos dos ambientes das nossas paróquias manifesta um analfabetismo religioso gritante, nos quais os elementos fundamentais da fé são sempre menos evidentes, a catequese revela-se como parte fundamental da missão evangelizadora da Igreja, sendo instrumento privilegiado do ensino e da maturação da fé. O pároco, enquanto colaborador e por mandato do Bispo, tem a responsabilidade de animar, coordenar e dirigir a atividade catequética da paróquia que lhe foi confiada. É importante que saiba integrar tal atividade num projeto integral de evangelização, garantindo a comunhão com o Bispo e com a Igreja universal . 22

Especial atenção à catequese que acompanha a iniciação cristã. O Código recomenda a preocupação pela catequese em todas as idades, infância, jovens e adultos, mas terá atenção especial pela catequese que prepara os sacramentos da iniciação cristã. É competência do pároco escolher um bom grupo de catequistas e dar-lhe a formação devida . Há que passar de uma catequese tipo “instrução” e adotar a metodologia 23 catecumenal, conforme a orientação do Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA) e do Diretório Geral de Catequese . Isto implica rever os programas que temos para a 24 catequese de crianças, adolescentes e adultos. É importante seguir as etapas do RICA e

CONCÍLIO VATICANO II, Constituição dogmática Dei Verbum (18-XI-1965), 25, in: AAS 58 (1966)

21

817-830.

CIC 83, cc. 776-777.

22

CIC 83, c. 528 §1.

23

SEBASTIÁN, F., Evangelizar, Madrid: Encuentro, 2010, 330-334.

24

(12)

propor, mesmo para os já batizados da comunidade, uma formação catecumenal que percorra as etapas do kerigma, da conversão, da comunhão e da missão.

Em algumas paróquias, está a iniciar-se, para a catequese de infância, a chamada

“catequese familiar”. Trata-se de um projeto pensado para envolver os pais como os primeiros catequistas . Tem dado alguns resultados surpreendentes. Todo o projeto 25 catequético, na paróquia, é da responsabilidade do pároco, que se há de fazer acompanhar por leigos devidamente preparados. Naquelas paróquias que possuem membros de Institutos de Vida Consagrada (IVC) ou Sociedade de Vida Apostólica (SVA), não deixe o pároco de envolver estes nesta missão tão primordial para a renovação de uma comunidade.

Uma atenção especial do pároco para com aqueles que abandonam a catequese. Ir ao seu encontro, tentar encontrar os motivos de tal abandono, não se trata apenas de uma questão de simpatia, mas acima de tudo conhecer a realidade em que está mergulhada a sua comunidade e os seus fiéis. Mostrar solicitude por quem se afasta sem deixar de dizer que a comunidade tem sempre as portas abertas para o seu regresso.

Por fim, uma palavra sobre a presença do pároco nas redes sociais e nas novas formas de comunicação. A facilidade de comunicação e “encontro” das novas tecnologias em nada substituem o encontro personalizado, fraterno e afetuoso. No entanto, é conveniente que a paróquia tenha, se possível, uma página web, ou até mesmo uma presença nas redes sociais. Os chamados social network são os novos areópagos onde o pároco tem de anunciar o Evangelho que significa, não somente inserir conteúdos declaradamente religiosos, mas também testemunhar com coerência, no próprio perfil digital e no modo de comunicar escolhas, preferências, juízos que sejam coerentes com o Evangelho. É importante que o pároco nunca esqueça que o contacto virtual não pode nem deve substituir o contacto humano direto com as pessoas.

Munus Regendi

Quanto à condução e governo da paróquia não poderemos deixar de apontar algumas sugestões ao pároco, como principal responsável da evangelização na paróquia. O

CIC 83, c. 774 §2.

25

(13)

pároco é chamado a ser «próximo» de todos os que lhe estão confiados. A proximidade física é importante e imprescindível. O Código, não recomenda, obriga a que o pároco resida na casa paroquial. Só que por causa justa, o Ordinário de lugar poderia permitir viver noutro lado . Claro está que tendo a cura pastoral de várias, deve morar numa 26 delas. Em muitos lugares, como o fenómeno da urbanização e da desertificação das zonas rurais, muitos párocos desceram à cidade para residir, deslocando-se somente à paróquia para o cumprimento dos serviços religiosos. Tudo isto, com o consentimento silencioso dos Bispos. Não há solicitude pastoral sem «proximidade» e esta começa por ser física. A presença do pároco, a viver no meio do seu povo, o dever de residência, é essencial para a evangelização. A vivência desta «proximidade», que já a reclamava o Concílio de Trento, encontra algumas dificuldades, como a grande dimensão das paróquias nos densos aglomerados populacionais e a dispersão, por se ter o encargo de várias paróquias, nas zonas rurais desertificadas. No entanto, apesar desta dificuldade e acrescentar a escassez de sacerdotes, assistimos mesmo assim a muitos párocos, ocupados com ofícios suplementares ao de pároco. Sem uma dedicação a tempo inteiro à cura pastoral da paróquia não pode haver evangelização, quando muito uma pastoral de manutenção . 27

Para conhecer os fiéis que lhe estão confiados, visitar as famílias, os doentes e os que andam afastados da vida da comunidade o pároco precisa de tempo mas acima de tudo, dedicação, solicitude pastoral . Este serviço do pároco, não pode ser substituído por 28 ninguém, ainda que ele na paróquia possa criar movimentos e servir-se de ministérios laicais que o ajudem, como o caso da Cáritas, ou das Conferências de São Vicente de Paulo, e dos ministros extraordinários da comunhão que levem a Santíssima Eucaristia aos idosos e doentes. Dispensar esta «proximidade», e esta solicitude pastoral, é trair a própria missão de Cristo “que veio anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4, 18) . 29 Outro aspeto muito importante para que uma paróquia venha a ser de facto evangelizadora é que o pároco seja o garante, fomentador e sinal de comunhão. Como

CIC 83, c. 533.

26

SAN JOSÉ, J., Derecho Parroquial, Salamanca: Sígueme, 2008, 441-450.

27

CIC 83, cc. 222 §2; 529 §1.

28

BORRAS, A.; ROUTHILER, G., La nueva parroquia, Santander: Sal Terrae, 2009, 26-34.

29

(14)

pastor próprio daquela comunidade sob a autoridade do Bispo, ele possibilita a comunhão hierárquica com a Igreja diocesana; a comunhão com os outros presbíteros, particularmente com aqueles com quem trabalha; e a comunhão com todos os leigos e religiosos levando a uma verdadeira fraternidade apostólica . 30

A riqueza e a beleza de uma comunidade paroquial vem da variedade de grupos apostólicos, litúrgicos, movimentos e associações. Saber respeitar e procurar conciliar a especificidade e peculiaridade do carisma de cada um na busca da unidade, é tarefa do pároco. Uma paróquia ser “comunidade de comunidades” é um desafio enorme para quem a preside e governa. Nem sempre é fácil, ao pároco, congregar na unidade, formas tão diferentes de viver a fé e de se comprometer com a tarefa evangelizadora. É o desafio permanente de ser pastor . 31

O pároco, está chamado, por ofício, a coordenar e a liderar todas as iniciativas, entendendo a autoridade de governo que a Igreja lhe confiou como um serviço à comunidade. Para tal deve rodear-se de fiéis que atendendo à sua preparação básica e à sua idoneidade, o hão de ajudar, como por exemplo nos assuntos económicos, através do Conselho respetivo, que é obrigatório ; e nos assuntos pastorais com o Conselho 32 pastoral, que é facultativo, mas que ele pode constituir . O pároco representa a 33 paróquia em todos os negócios jurídicos e é o seu administrador. Isto exige uma grande responsabilidade, pois não deixa de ser um campo importante no exercício de condução de uma paróquia. A presença do pároco em eventos sociais, em representação da paróquia, não deixa de ter a sua marca evangelizadora. No entanto, neste particular, o pároco deve ser prudente de maneira a ver onde convém ou não a paróquia estar representada.

A condução e governo da paróquia exige do pároco atitudes que ele não deve descuidar.

Uma liderança firme e forte, sem ser autoritária, apelando à corresponsabilidade de todos, não pode renunciar à responsabilidade de decidir naqueles aspetos que lhe foram confiados. Nunca esquecer que os Conselhos possuem apenas voto consultivo. Um bom

CIC 83, c. 529 §2.

30

SAN JOSÉ, J., Derecho Parroquial, 63-98.

31

CIC 83, c. 537.

32

CIC 83, c. 536 §§1 e 2.

33

(15)

governo requer o conhecimento e cumprimento da lei. Não esqueçamos que o principio da legalidade implica o cumprimento da lei universal da Igreja e das leis particulares e é expressão da comunhão eclesial . A transparência é outra característica que deve estar 34 presente no governo de uma paróquia. A comunicação da informação verdadeira e real quer aos superiores quer a qualquer fiel da comunidade, que têm direito a saberem da administração dos bens eclesiásticos. A responsabilidade e a eficácia, devem ser outras notas características de um bom governo. Não só a responsabilidade jurídica, mas também moral. Entre outras, salientaria a sustentabilidade: construir, fazer crescer sobre o que já existe, sem menosprezar ou destruir o que encontrou. Um bom governo e condução de uma paróquia, entendido como serviço de unidade e comunhão à comunidade, à Igreja particular e à Igreja universal é garantia de um potencial evangelizador . Para o pároco nesta missão de governar deve ter como norma suprema 35 a do amor, uma amor incondicionado, como o do Bom Pastor, cheio de alegria, aberto a todos, atento ao próximo e solícito em relação aos distantes, delicado para com os mais débeis, os pequeninos, os simples, os pecadores, para manifestar a misericórdia infinita de Deus com as palavras alentadoras da esperança.

1.2. A paróquia, uma comunidade evangelizadora

A nova evangelização exige, por parte da paróquia, um inevitável questionamento da sua ação. Não porque se encontre equivocada naquilo que oferece, mas precisamente para que seja incisiva e transformadora do mundo em que vive através dos seus fiéis. Já dissemos que a communitas christifidelium, de que nos fala o cânone 515 §1, que é a paróquia, é uma comunidade de fiéis de Cristo, de homens e mulheres santificados pelo Batismo, incorporados no Corpo de Cristo, que eles são todos corresponsáveis da missão de todo o Corpo eclesial. Podemos afirmar que todo o batizado é “partner” na missão da Igreja, ainda que de maneira diversificada. Dissemos também que a paróquia é o lugar por excelência da evangelização, quer ad intra que ad extra. A primeira grande dificuldade que encontra uma paróquia, ao partir para a evangelização, é a tomada de consciência, pelo menos de uma boa parte dos seus membros, da sua missão e do

CIC 83, c. 205.

34

SAN JOSÉ, J., La «gobernanza» o el «buen gobierno» de la parroquia, 3109-3122.

35

(16)

necessário compromisso. Portanto, esta tomada de consciência é o passo fundamental.

Será sempre impossível que o assumam todos os membros, mas urge que se consciencialize um bom grupo.

A partir daqui as comunidades paroquiais não podem mais ignorar que, nelas e ao seu redor, existe um pluralismo cultural e religioso crescente em que o Evangelho de Jesus Cristo já não é conhecido. Ao longo da história a paróquia mostrou-se uma estrutura flexível, embora com dificuldades, mostrou-se capaz de se adaptar à realidade concreta de cada local e de responder a mudanças sociais e culturais. Também nesta época, marcada pelo secularismo, relativismo e fenómenos de grande mobilidade humana ela vai ser capaz de estar à altura de anunciar Cristo aos homens que nela vivem. Por isso, a paróquia deve ser casa que está disposta a aceitar e ouvir as esperanças das pessoas, os seus medos, as suas dúvidas e as suas expetativas . 36

Já dissemos anteriormente que a paróquia é a estrutura pela qual a maioria dos homens e mulheres entram em contacto com a Igreja e onde os fiéis realizam os seus direitos e deveres fundamentais e obtêm os meios para a própria salvação. Ela tem de estar aberta a todos, principalmente aos mais pobres e fracos, e às angústias dos homens de hoje e oferecer-lhes corajosamente e, de forma expressiva, um anúncio credível da verdade, que é Cristo. O acolhimento cordial, gratuito, é a primeira condição para a Evangelização. Não podemos querer uma paróquia acolhedora, aberta, disponível...

tendo as portas das suas igrejas fechadas e sem um serviço de atendimento permanente.

As nossas paróquias precisam de ter abertas as portas das suas igrejas e templos . 37 Quantas pessoas, fora dos momentos celebrativos, encontramos nas nossas igrejas em clima de oração. Algumas delas, fiéis por vezes “afastados”. As paróquias maiores e mais centrais, devem possuir um serviço de atendimento, seja uma secretaria ou cartório paroquial. Cada paróquia há de encontrar, os recursos humanos e materiais para que o acolhimento seja uma realidade. A colmatar este acolhimento um pároco disponível.

CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, Nota pastoral, Il volto missionario delle parrocchie in un

36

mondo che cambia [como se diga] html [ref. de 20 de Março de 2014] Disponível em web: <http://

w w w. v a t i c a n . v a / h o l y _ f a t h e r / f r a n c e s c o / s p e e c h e s / 2 0 1 4 / m a r c h / d o c u m e n t s / p a p a - francesco_20140306_clero-diocesi-roma_po.html>.

CIC 83, c. 937.

37

(17)

Não devemos esquecer a riqueza de arte e história que possuem muitas das nossas paróquias: edifícios, pinturas, esculturas, arquivos, bibliotecas... por vezes não é necessário muito para um despertar religioso e para estabelecer um diálogo entre a cultura e a fé . 38

No meio de processos difusos de descristianização, que geram indiferença e agnosticismo, as vias tradicionais da transmissão da fé, em muitos casos, são impraticáveis, como era o caso das famílias. De algum modo, tem de ser agora a paróquia, a cumprir esta missão . Toda a comunidade tem de sentir esta missão e 39 responsabilidade. Até agora, os sacramentos do Batismo, da Eucaristia e da Confirmação foram recebidos no contexto da vida familiar, já orientada para Cristo, apoiados por uma preparação catequética. Hoje, no entanto, existem famílias que não pedem o Batismo para os seus filhos, meninos batizados que já não têm acesso aos outros sacramentos da iniciação, abandonam a missa dominical, e, muitas vezes, depois de receberem o sacramento da Confirmação, desaparecem definitivamente da vida da Igreja. Não demitamos as famílias desta responsabilidade. A iniciação cristã das crianças continua a desafiar a responsabilidade original da família na transmissão da fé.

O envolvimento da família começa antes da idade escolar, e a paróquia tem de oferecer aos pais os elementos essenciais que ajudem a fornecer o "alfabeto cristão" aos seus filhos.

Contudo, a iniciação cristã, tem o seu colo insubstituível na paróquia. Aí deve encontrar a unidade em torno da Eucaristia. Aos jovens e adultos têm de ser oferecidos novos e viáveis caminhos para a iniciação ou a renovação da vida cristã. Já o dissemos anteriormente, trata-se de passar da catequese como instrução e adotar a metodologia catecumenal. Se queremos manter nas nossas paróquias a capacidade de oferecer a todos a oportunidade de acesso à fé, a crescer nela e testemunhá-la em condições normais de vida, a reformulação é necessária. Não cabe aqui o debate sobre a ordem

FISICHELLA, R., La nueva evangelización, 119-132.

38

CIC 83, cc. 773; 774 §§ 1 e 2.

39

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como são oferecidos os sacramentos da iniciação cristã, concretamente a Eucaristia e a Confirmação, mas será útil um debate canónico-pastoral sobre esta questão . 40

A paróquia, portanto, não pode apenas oferecer hospitalidade para aqueles que procuram os sacramentos como uma expressão da "necessidade religiosa". Ela tem de evangelizar e educar a questão religiosa, tem de despertar a questão religiosa de muitos, testemunhando a fé, face aos não-crentes. A paróquia tem de expressar a imagem de uma mão que continua a gerar seus próprios filhos dentro de um caminho de transmissão geracional da fé. Como dizia Tertuliano (155–222), “ninguém nasce cristão, torna-se cristão”.

Todos os domingos, em todas as paróquias, o povo cristão reúne-se a partir de Cristo para celebrar a Eucaristia, em obediência ao seu pedido: «Fazei isto em memória de Mim" (Lc 22, 19). Na Eucaristia, Cristo crucificado e ressuscitado está presente entre o seu povo. Na Eucaristia e pela Eucaristia se gera e regenera constantemente a Igreja de Cristo. Sem Eucaristia não há Igreja, não há missão . A vida paroquial tem de ter o seu 41 centro no dia do Senhor e na Eucaristia, que é o coração do domingo. É necessário trabalhar para que floresça o sentido de comunidade, sobretudo na celebração comum da missa dominical. É a atividade que mais gente congrega e com a qual mais se identifica a comunidade. Evitar que se multipliquem as missas por diferentes horários e distintos templos, dentro da mesma paróquia. Na medida do possível reúna-se a comunidade paroquial numa grande assembleia. A Eucaristia deve ser a fonte e o cume de toda a ação pastoral e evangelizadora. Ela deve ser bem preparada oferecendo aos fiéis uma experiência comunitária de qualidade, com cânticos apropriados, uma homilia breve mas assertiva, a participação dos diferentes serviços ministeriais... uma celebração festiva, alegre sem perder a dimensão mistagógica que abra à transcendência . 42

É necessário recuperar o sentido religioso do domingo e redescobrir a sua dimensão profética. As condições de vida impostas pela modernidade levaram ao obscurecimento

CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, Nota pastoral, Il volto missionario delle parrocchie in un

40

mondo che cambia.

CIC 83, c. 897; JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Ecclesia de Eucharistia (17-IV-2003), 1, in:

41

AAS 95 (2003) 433-457.

SAN JOSÉ, J., La «gobernanza» o el «buen gobierno» de la parroquia, 3108-3109.

42

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do Domingo. A sua revalorização, pela comunidade paroquial, mantendo a relação harmoniosa entre ecclesia, eucharistia e dies dominica, parece hoje uma luta titânica.

Mas comecemos por desenvolver nos fiéis uma consciência eclesial, que vai para além da missa dominical, sobre a vivência do domingo. Para o cristão, o domingo, é o dia da alegria, do repouso e da solidariedade . Não haverá renovação paroquial sem se 43 descobrir a beleza da fé que vence o individualismo, levando a comunidade a superar a mentalidade de viver uma religiosidade sem compromisso eclesial, e cada fiel a encarar o dia do Senhor como dia de testemunho e de missão . 44

A missão paroquial é servir a fé das pessoas. Mas não uma fé desencarnada, mas uma fé que se vive na situação concreta em que cada um se encontra. A paróquia tem de ter sempre presente que é uma família de famílias. Em primeiro lugar, a preparação do matrimónio . Para muitos é uma oportunidade de contacto com a comunidade cristã, 45 após anos de ausência. Deve tornar-se num momento especial de recuperação da fé.

Momento oportuno para tornar Deus conhecido, fonte e garantia do amor humano;

conhecer Jesus Cristo, a revelação do Pai como a medida de todo o amor verdadeiro;

conhecer a comunidade dos seus discípulos, na qual a celebração da Palavra e dos Sacramentos ajuda a caminhada do casal, muitas vezes, apoiada num amor precário . 46 Um segundo momento a ter em conta é o nascimento dos filhos, especialmente o do primeiro. Existem muitos pais que pedem o Batismo para os filhos devendo ser convenientemente preparados, não só para o rito mas ajudados a redescobrirem o sentido da vida cristã e a tarefa educativa que assumem.

Finalmente, não podemos esquecer os momentos de dificuldade das famílias, especialmente devido à doença ou a outro sofrimento, como a morte. Particularmente nestes momentos as pessoas sentem a necessidade de uma palavra e um gesto que expresse a partilha humana e se prolongue no mistério de Deus. Aqui é decisivo o papel do pároco, bem como de outras pessoas comprometidas na paróquia, que são a

JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Dies Domini (31-V-1998), 35, in: AAS 90 (1998) 713-766.

43

BORRAS, A.; ROUTHILER, G., La nueva parroquia, 60-67.

44

SAN JOSÉ, J., La «gobernanza» o el «buen gobierno» de la parroquia, 3107.

45

AZNAR, F., Derecho Matrimonial Canónico - Vol. I: Cánones 1055-1094, 2ª ed., Salamanca:

46

Publicaciones UPSA, 2007, 162-172.

(20)

expressão de uma comunidade que acolhe, que afasta o isolamento e a descriminação.

Um momento importante é a oração nas horas em se velam os defuntos. Tenha a paróquia pessoas preparadas para orientar estes momentos profundamente marcantes na vida das famílias.

A paróquia foi criada e cresce em estreita ligação com o território, como uma resposta às necessidades das suas ramificações. Graças a este vínculo tem sido capaz de manter essa proximidade; a Igreja mantém uma proximidade com o quotidiano das pessoas.

Hoje, essa relação torna-se cada vez mais complexa: a mobilidade humana e tantas vezes os limites territoriais da paróquia já não contêm as vivências das suas gentes, mas apesar de todas estas questões as pessoas continuam a ter uma determinada terra e um determinado lugar como ponto de referência. Por isso, a paróquia deve continuar a servir os homens e mulheres que ali vivem ou por ali passam. Ela deve cooperar com os outros atores e instituições sociais, promovendo a cultura e o desenvolvimento integral da pessoa humana.

A paróquia não pode agir sozinha: é preciso uma "pastoral integrada". Já o dissemos: ela é uma estrutura indispensável, na unidade da Diocese . Ela é a comunidade de pertença 47 natural, na qual os fiéis de Cristo escutam a Palavra de Deus, celebram os Sacramentos, vivem a caridade e anunciam o Evangelho. No entanto, ela por si só, sem estar em comunhão com a Igreja particular, nunca poderá realizar toda a missão evangelizadora.

Deve ser abandonada qualquer pretensão de auto-suficiência, as paróquias estão ligadas umas às outras, por vezes com diferentes formas, dependendo da situação – a partir de arciprestados, de unidades pastorais.

Outro nível de integração diz respeito às delegações diocesanas, secretariados e aos movimentos e novas realidades eclesiais, que têm um papel enorme no desafio da descristianização. A sua natureza colocada a um nível diocesano, não faz delas alternativa às paróquias . Todas elas tem um papel subsidiário. O Bispo, como 48 impulsionador e coordenador de toda a pastoral diocesana deve solicitar a sua convergência e comunhão. Neste contexto, o Bispo não tem apenas uma tarefa de coordenação e integração, mas de verdadeira liderança do plano pastoral, chamando a

CIC 83, c. 374 §§1 e 2.

47

SAN JOSÉ, J., Derecho Parroquial, 83-98.

48

(21)

todos a viverem em comunhão diocesana e pedindo a todos para reconhecerem a sua paróquia como uma presença concreta e visível da Igreja particular naquele lugar.

(22)

Conclusão

A paróquia, enquanto comunidade de fiéis, constituída de forma estável na Igreja particular, cuja cura pastoral, foi confiada a um pároco, sob a autoridade do Bispo diocesano, como seu pastor próprio, é sem dúvida a forma habitual de os homens se incorporarem na Igreja. Esta estrutura eclesial, normalmente territorial, é onde se garante aos fiéis os elementos essenciais da Igreja de Cristo: o anúncio da Palavra de Deus, a celebração dos sacramentos, em especial o da Eucaristia, a comunhão do Espírito Santo e o serviço da caridade.

Neste sentido, a paróquia é o lugar por excelência da evangelização, quer ad intra que ad extra. Cada paróquia, expressando a sua peculiaridade, sob a guia do seu pastor próprio, reconhecendo-se porção da Igreja particular, à qual pertence e da qual depende, está chamada à conversão missionária e evangelizadora. Ela é ao mesmo tempo destinatário e sujeito da evangelização, tendo consciência que é chamada a manifestar naquele lugar a Igreja de Cristo, deve anunciá-Lo, com alegria, nas “periferias” do seu território. Ela é justamente designada como a “Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e filhas”.

A paróquia é um lugar privilegiado de evangelização, contrariamente a algumas vozes que, por vezes, a apontam como uma estrutura obsoleta na Igreja, incapaz de responder aos novos desafios contemporâneos, face a fenómenos como a mobilidade humana, o urbanismo, a desertificação, etc. Cada paróquia tem necessidade de ser constantemente renovada, repensada e reformulada na sua maneira de atuar, nos seus planos pastorais, mas como estrutura jurídica básica, de atenção pastoral, ela continua a estar à altura de dar respostas concretas ao ambiente secularizado em que vivemos. A paróquia é na verdade, comunidade de fé, comunidade celebrativa, comunidade de caridade e presença evangelizadora da Igreja na sociedade e no mundo.

A convocatória para a nova evangelização exige da paróquia a reconsideração da sua ação. Não porque se tenha equivocado n’Aquele que oferece, mas precisamente para que seja incisiva, levando os fiéis a uma transformação das suas próprias vidas, apresentando o seu testemunho na sociedade em que vivem. Não se pode perder de vista que o chamamento universal ao apostolado está estritamente unido ao chamamento

(23)

universal à santidade. Daí que santidade e apostolado não podem existir separadamente.

A paróquia tem de ser, constantemente, repensada e inovada porque o ambiente em que vive agora é novo. Não se trata de um contexto de paganismo mas de secularização, onde a abordagem religiosa da pessoa humana a Deus é questionada em si mesmo, e onde a mediação eclesial é recebida como um obstáculo, mesmo para muitos fiéis.

Perante deste cenário, a paróquia necessita de uma adequação ao seu contexto, uma adequação ao seu próprio território, segundo as novas circunstâncias, revitalizando os seus costumes e tradições identitárias e adotando novas formas de presença e proximidade aceites por todos.

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