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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de um Centro de Cultura com enfoque na comunidade do bairro Guarapes, em Natal, Rio Grande do Norte.

NATAL / RN 2021

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JESSYCA ALENCAR E SILVA

Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de um Centro de Cultura com enfoque na comunidade do bairro Guarapes, em Natal, Rio Grande do Norte.

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista.

Orientador: Profª. Mônica Lima.

NATAL / RN 2021

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Sistema de Bibliotecas – SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN – Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco – DARQ - - CT

Silva, Jessyca Alencar e.

Estação cultural comunitária do Guarapes: anteprojeto de um centro de cultura com enfoque na comunidade do bairro Guarapes, em Natal, Rio Grande do Norte / Jessyca Alencar e Silva. - 2021.

96f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Departamento de Arquitetura.

Natal, RN, 2021.

Orientadora: Mônica Maria Fernandes de Lima.

1. Centro de cultura - Monografia. 2. Comunidade -

Monografia. 3. Uso comunitário - Monografia. I. Lima, Mônica Maria Fernandes de. II. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 725.8

Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344

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JESSYCA ALENCAR E SILVA

Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de um Centro de Cultura com enfoque na comunidade do bairro Guarapes, em Natal, Rio Grande do Norte.

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista.

BANCA EXAMINADORA

--- PROFª DRª MÔNICA MARIA FERNANDES DE LIMA

Professora orientadora - UFRN

--- PROFº MSCº JESONIAS DA SILVA OLIVEIRA

Examinador Interno

--- PROFª MSCº SHEILA OLIVEIRA DE CARVALHO

Examinadora Externa

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Ubirany Alencar e Isabel Alencar, pelo apoio incondicional durante toda a minha vida, meu verdadeiro porto seguro. Nenhuma palavra pode descrever o quão eu sou grata. Obrigada por sempre terem respeitado minhas particularidades, minha essência, sobretudo durante a graduação. Não foi fácil pra mim, e vocês sempre estiveram lá fazendo o possível e o impossível para me ajudar a percorrer essa e tantas outras jornadas.

À minha irmã Lala, por tudo que vivemos até aqui, por todos os aprendizados conjuntos, por estar sempre comigo nas minhas lutas, inclusive na graduação, virando algumas noites comigo. Obrigada por SEMPRE ter se importado e estendido a mão.

Ao meu namorado Felipe, por todo amor, companheirismo, empatia e amizade ao longo desses quatro anos. Assim como meus pais e minha irmã você sempre esteve aqui por mim, sem medir esforços, sem colocar dificuldade. Minha gratidão por você é enorme.

Às minhas lindas, as amigas da vida toda, Line, Laís, Larissa, Lou, Ló, Rhu e Vih, que me incentivaram a correr atrás do meu sonho de cursar arquitetura. Passamos juntas pelo processo de decidir o rumo das nossas vidas após o Ensino Médio, e alguns anos de cursinho, compartilhamos inúmeros momentos de angústias e incertezas. Nossa rede de apoio e estudo foi muito do que me trouxe até aqui.

À Naty e Ícaro, amigos tão presentes, que mesmo sem se envolver diretamente nas questões relacionadas a esse percurso específico, o da graduação, me ajudam a enxergar as batalhas da vida com mais leveza, com humor e tranquilidade.

Aos meus HistDivos, Camis, JP, Lou e Yas, por terem sido meus primeiros amores na UFRN. Aprendi com você a me apaixonar pelo meio universitário, a valorizar cada ida numa xerox do CCHLA, cada volta em um circular, e tantas coisas mais.

Às queens, Beth, Caio, Dani, Demi, Fio, Gabi, Hanley e Lari, vocês foram parte essencial do que foi minha graduação. Aprendi muito com todos, sou extremamente grata pela amizade e pela rede apoio que pudemos criar e desenvolver ao longo do curso.

Gostaria de agradecer imensamente meus ex-supervisores da Secretaria de Eduação, Gabi e Zé, por todo o aprendizado. Não consigo mensurar a importância desses dois anos de estágio para a minha formação. Se hoje me considero uma desenhista detalhista devo isso a vocês.

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À minha atual chefe Marcelly, com quem venho aprendendo muito, principalmente sobre projetos de interiores, e também sobre a dinâmica dentro de um escritório de arquitetura.

Ao primeiro professor orientador deste trabalho, Profº Heitor Andrade, pelo aprendizado e pela paciência.

À minha professora orientadora, Mônica, pela disponibilidade, incentivo e compartilhamento de conhecimento.

À população do Guarapes, mesmo que participando em pequena quantidade, e ao CRAS do bairro, pela disponibilidade de contribuir para a construção deste trabalho.

Agradeço, por fim, à UFRN, sobretudo ao DARQ, pela gestão e preocupação com seus alunos, e também ao galinheiro, a segunda casa de todos os estudantes de arquitetura.

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RESUMO

Guarapes foi o último bairro a ser oficializado em Natal, em 1993 pela lei nº 4.328/93, possuindo um histórico de sucessivos reassentamentos de famílias advindas de diversas áreas de vulnerabilidade social da cidade, os quais foram promovidos pelo poder público desde 1988 até os dias atuais. Há treze anos, com a criação de dois conjuntos e dois condomínios de Habitações de Interesse Social (HIS), a população local cresceu consideravelmente, somando diversos problemas quanto à inserção urbana das novas habitações: longas distâncias entre elas e o centro do bairro, que converge a grande maioria de equipamentos públicos, sérios problemas de mobilidade e infraestrutura urbana e carência em espaços públicos de lazer. Tais fatos são o que podem ter acarretado na relativa falta de unidade entre as “ilhas” habitacionais dos conjuntos recentes e a parte central do bairro. Nesse sentido, o presente trabalho se justifica pela intenção de contribuir com o debate do que pode ser feito, do ponto de vista arquitetônico, para melhorar a vida em comunidade do bairro da perspectiva cultural, levando em consideração sua história e seus anseios; justifica-se, também, pelo exercício de projetar um edifício cultural que deve servir a uma comunidade específica, enriquecendo a graduação e contribuindo para a formação de um arcabouço teórico e prático necessário para a vida profissional.

Palavras-Chave: Centro de cultura, centro comunitário, comunidade.

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ABSTRACT

Guarapes was the last neighborhood to be officialized in Natal, in 1993 by the Law No. 4.328/93, having a history of successive resettlements of families from several areas of social vulnerability in the city, which were promoted by the public authority since 1988 to this day. Thirteen years ago, with the creation of two residential complexes and two condominiums of Social Interest Housing (Habitações de Interesse Social), the local population grew considerably, amassing various problems regarding the urban insertion of the new housings: long distances between them and the neighborhood’s central area, where the vast majority of the urban structure converge, severe problems of mobility and lack of public recreational spaces. These facts may have resulted in the relative lack of unity between the habitational “islands” of the recent housing complexes and the central part of the neighborhood. In this sense, the present study is justified by the intention of contributing to the debate of what can be done, from an architectural point of view, to improve the community life in the district from a cultural perspective, bearing in mind its history and aspirations; it is also justified by the exercise of designing a cultural building that should serve a specific community, enriching graduation and contributing to the formation of a theoretical and practical framework necessary for professional life.

Keywords: Cultural center, community centre, community.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Complexo Cultural Georges Pompidou ... 23

Figura 02 – Mapa da Cidade do Natal, com destaque para o bairro Guarapes, na zona oeste ... 30

Figura 03 – Ruínas do antigo complexo comercial do Guarapes ... 32

Figura 04 – Zoneamento do bairro... 36

Figura 05 – Praça pública do bairro ... 36

Figura 06 – Mobiliário da praça pública do bairro ... 37

Figura 07 – Minicampo do bairro ... 37

Figura 08 – Quadra do bairro em 2019 ... 37

Figura 09 – Quadra do bairro em 2021 ... 38

Figura 10 – Terminais de ônibus dentro do bairro ... 38

Figura 11 – Contexto de implantação urbana do RedBull Station ... 43

Figura 12 – RedBull Station visto de frente; destaque para a marquise da cobertura. ... 44

Figura 13 – Marquise da cobertura do RedBull Station ... 44

Figura 14 – Distribuição do programa em planta ... 46

Figura 15 – Materiais empregados e estrutura existente ... 47

Figura 16A – Contexto de implantação via satélite; Figura 16B – Implantação .. 48

Figura 17 – Fachada frontal do centro comunitário ... 49

Figura 18 – interior do centro comunitário ... 50

Figura 19 – Planta baixa do centro comunitário ... 51

Figura 20 – Cobertura em camadas de telha de fibrocimento termo acústico ... 52

Figura 21 – Materiais empregados na construção. ... 52

Figura 22 – Terrenos 01 e 02 ... 63

Figura 23 – Equipamentos públicos no entorno do terreno ... 64

Figura 24 – Vias que margeiam o terreno ... 64

Figura 25 – Terreno da quadra em frente ao terreno 01 ... 65

Figura 26 – Terreno 01 ... 66

Figura 27 – Situação do terreno 01 ... 67

Figura 28 – Cobertura alta com desafogo do espaço e longos beirais, permitindo a circulação do ar ... 70

(10)

Figura 29 – Rosa dos ventos de Natal sobre o terreno ... 71

Figura 30 – Carta solar de Natal sobre o terreno ... 71

Figura 31 – Testes e orientação da planta no terreno... 77

Figura 32 – Conformação 01. ... 78

Figura 33 – Conformação 02. ... 78

Figura 34 – Esboços de volumetria para a Conformação 01. ... 79

Figura 35 – Esboços de volumetria para a Conformação 02. ... 79

Figura 36 – Esquema em planta baixa. ... 80

Figura 37 – Esboço em planta baixa ... 81

Figura 38 – Esboço volumétrico ... 82

Figura 39 – Moodboarding para o desenvolvimento da plástica do centro cultural comunitário. ... 83

Figura 40 – Croqui esquemático ... 83

Figura 41 – Esquema volumétrico da solução final para a fachada frontal. ... 84

Figura 42 – Esquema volumétrico da solução final para a fachada lateral esquerda. ... 84

Figura 43 – Implantação ... 86

Figura 44 – Planta baixa final do térreo... 88

Figura 45 – Planta baixa final do pavimento superior ... 88

Figura 46 – Fachada lateral esquerda ... 89

Figura 47 – Fachada frontal ... 89

Figura 48 – Fachada posterior ... 90

Figura 49 – Corte esquemático ... 90

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1. MÉTODOS, PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS ...11

1.1 Referencial teórico metodológico ... 11

1.2 Quadro síntese ... 16

2. SOB A ÓTICA DOS AUTORES ... 17

2.1 A cultura e a sua relevância ... 17

2.2 O centro de cultura ... 19

2.3 Comunidade e o espaço de uso comunitário ... 21

ANÁLISE 3. GUARAPES: DE UM PASSADO ÁUREO PARA UMA REALIDIDA CONFLITUOSA ... 26

3.1 Um breve histórico ... 27

3.2 Condição socioeconômica atual ... 29

4. REFERENCIAIS PROJETUAIS ... 35

4.1 Estudo de projetos correlatos ... 36

4.1.1 RedBull Station ... 47

4.1.2 Centro Comunitário El Rodeo de Mora ... 43

4.1.3 Quadro síntese ... 48

5. CONDICIONANTES DE PROJETO ... 51

5.1 Sob a ótica da comunidade ... 51

5.1.1 Participação de natureza consultiva ... 51

5.1.2 Uma perspectiva local ... 52

5.2 Problemas e potencialidades ... 57

5.3 Área de intervenção projetual ... 58

5.3.1 Condicionantes físicas e entorno ... 59

5.3.2 Condicionantes legais e ambientais ... 63

6. PROGRAMAÇÃO ARQUITETÔNICA ... 68

6.1 Programa de necessidades e pré-dimensionamento ... 68

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SÍNTESE

7. ESTUDO PRELIMINAR ... 73

ANTEPROJETO 8. MEMORIAL DESCRITIVO... 80

8.1 Implantação ... 80

8.2 Soluções finais ... 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 85

REFERÊNCIAS ... 86

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INTRODUÇÃO

Localizado na região administrativa oeste da cidade de Natal, entre os bairros Felipe Camarão e Planalto, o Guarapes foi oficializado como tal em 1993 pela lei 4.328, e constitui-se na atualidade como um dos bairros menos adensados da capital potiguar.

Tem-se aqui um bairro cuja trajetória recente muito difere de seu passado áureo – como entreposto comercial importante para a província do Rio Grande do Norte – tendo sido bastante influenciada por reassentamentos de famílias advindas de periferias da cidade, como da favela do Fio e a do DETRAN, que, “em 1988, foram ali abrigadas por viverem em situação de risco” (SEMURB, 2007).

O Guarapes permaneceu recebendo migrantes da cidade a partir de iniciativas de reassentamentos planejadas pela gestão urbana de Natal. Entre 2008 e 2009 foram entregues pela Secretaria de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes (SEHARPE) dois conjuntos Habitacionais de Interesse Social (HIS), os quais faziam parte do projeto Planalto II, desenvolvido a partir das premissas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com o intuito de reduzir o deficit habitacional da capital. Foram eles: o conjunto Santa Clara e o Leningrado, localizados próximos entre si, no extremo leste do Guarapes.

Contudo, sua inserção ocorreu sem nenhum preparo do bairro para a recepção das famílias, com ruas não pavimentadas, iluminação pública deficiente, equipamentos públicos insuficientes e inexistências de linhas de transporte público que circulassem dentro do bairro (DIÓGENES, 2014).

Somente após a posse das famílias, entre 2010 e 2012, que foram ocorrendo melhorias urbanas, como o calçamento em algumas ruas do Leningrado e seu entorno e a criação as linhas de ônibus circular 599 e a linha 41 com terminal no bairro.

Conforme a Prefeitura Municipal do Natal, no ano de 2014 outro reassentamento foi realizado ao lado dos conjuntos habitacionais anteriormente citados, com a entrega 869 unidades habitacionais no condomínio vertical Vivendas do Planalto; em 2018 foram entregues mais 1792 unidades de

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apartamento, no Condomínio Village de Prata, localizado na extremidade oeste do bairro, com divisas com o Planalto e com Macaíba.

Quanto aos aparatos urbanos, atualmente, em todo o bairro existem três Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI), uma escola estadual e duas municipais, uma Unidade Básica de Saúde, uma praça, um minicampo. Destes, apenas um CEMEI está inserido dentro do Leningrado, estando próximo do conjunto Santa Clara e também do condomínio Vivenda do Planalto. Então, a concentração de equipamentos urbanos na parte central do bairro e as longas distâncias entre as partes dificultam o acesso da população aos serviços públicos, o que denuncia também a deficiência da mobilidade urbana em seu perímetro.

Nesse sentido, este Trabalho Final de Graduação (TFG) se justifica pela intenção de contribuir com o que pode ser feito, do ponto de vista arquitetônico, para melhorar a vida em comunidade do bairro, tendo em vista sua história, suas demandas e anseios para elaborar um projeto com potencial para reforçar os laços comunitários. Além disso, justifica-se pelo exercício de projetar um edifício que deve servir a uma comunidade específica, enriquecendo a graduação e contribuindo para a formação de um arcabouço teórico e de qualificação necessário para a vida profissional.

Por conseguinte, guiado pela temática: centro de cultura com enfoque na comunidade local, este trabalho objetiva conceber um anteprojeto de centro cultural no bairro Guarapes, em Natal, Rio Grande do Norte, focando nos problemas e as potencialidades da comunidade local. Para isso, faz-se necessário conhecer o bairro Guarapes, tendo em vista sua história e sua condição socioeconômica atual, para o enriquecimento o processo de projeto; Aplicar os conhecimentos sobre os conceitos de cultura e comunidade, assim como sobre as características funcionais de centros de cultura e centros comunitários no processo de projeto; Propor um programa de necessidades que abarque demandas locais condicentes com o uso da proposta arquitetônica, a fim de compatibilizar perspectivas da comunidade com os condicionantes de projeto, e definir problemas e potencialidades do bairro convenientes para o desenvolvimento do programa e da proposta arquitetônica final.

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1. MÉTODOS, PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS

Neste item abordamos o referencial teórico metodológico e o processo de projeto, no qual discutimos as fases deste processo e apresentamos um quadro que sintetiza os procedimentos e técnicas utilizadas para o alcance dos objetivos do presente anteprojeto arquitetônico.

1.1 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO E O PROCESSO DE PROJETO

Tendo em vista a problemática, os objetivos e o produto final a que se propõe este trabalho, percebe-se seu cunho exploratório, haja vista a necessidade de sobreposição de informações bibliográficas para gerar conhecimento sobre os assuntos que permeiam a temática aqui estabelecida. Tornando possível, então, a proposta de uma solução arquitetônica por fim.

Assim, para montar a estrutura de trabalho, decidiu-se utilizar as fases de processo de projeto apontadas por Andrade, Ruschel e Moreira (2013). São elas:

a Análise, a Síntese, a Avaliação e a Representação. Estas etapas consistem em uma sequência de tomada de decisões, as quais tem capacidade de tornar um processo de projeto completo (MARKUS apud ANDRADE et al, 2013).

Para os autores em questão, o processo de projeto arquitetônico não é engessado, mas, sim, dinâmico. Isto é, eventualmente, durante o processo haverá a necessidade de retornar a uma fase anterior, sobretudo antes de tomar uma decisão definitiva. Deste modo, a comunicação entre as etapas, ou a dinâmica do processo, estaria primordialmente associada ao fluxo de informação entre as mesmas.

A Análise é a fase onde se faz a identificação das metas, problemas e dificuldades, onde se gerenciam os dados e as informações advindas de pesquisas, observações in loco, entrevistas, da análise das condicionantes culturais, legais, econômicas, ambientais etc. (ANDRADE et al, 2013).

Corresponde também à etapa em que se busca o programa de necessidades mais adequado para o problema em questão, partindo da definição dos requisitos do projeto e finalizando no programa (ALEXANDER apud ANDRADE

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et al, 2013); e ainda, é nela em que são definidos os principais conceitos do projeto, já que, para um conceito possuir sentido ele deve remeter ao problema de projeto, aos condicionantes históricos e ideológicos que são minuciados nesta etapa (DELEUZE, GUATTARI apud ANDRADE et al, 2013).

Na Síntese tem-se o estágio criativo das tomadas de decisão, concepção de ideias e de possíveis soluções que satisfaçam às restrições projetuais; é uma etapa muito mais intuitiva do que racional, na qual “[...] o projetista procura por formas, materiais, vistas, orientações, condições de iluminação e outros elementos que se juntam numa montagem holística.” (KALAY apud GARCIA, 2014, p. 23).

A etapa da Avaliação é quando a solução pensada é avaliada racionalmente, garantindo que seja a mais adequada a partir da identificação de deficiências. Em vista disto, “O resultado da avaliação serve para ajustes e aperfeiçoamentos da solução, voltando o projetista para a segunda ou primeira fase com mais informações ou modificando restrições ou objetivos.” (KALAY apud GARCIA, 2014, p. 23).

Consistindo-se como uma etapa que permeia as anteriores, a Representação torna o processo contínuo e dinâmico, permitindo a comunicação entre a análise, síntese e a avaliação a partir da codificação e decodificação da informação (ANDRADE et al, 2013).

Neste trabalho, as duas últimas etapas não serão tratadas independentemente, pois ocorrerão com fluidez no andamento do trabalho, ajudando a construir as tomadas de decisão da análise para a síntese, e da síntese para o anteprojeto.

Em sequência, levando em conta o processo de projeto a natureza lógica de cada etapa, temos a seguinte estruturação do trabalho:

1. Análise (restrições projetuais e gerenciamento de dados):

1.1 Referencial teórico-conceitual 1.2 Projetos correlatos;

1.3 Condicionantes projetuais:

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1.3.1 Levantamento dos condicionantes históricos e culturais do bairro;

1.3.2 Consulta popular;

1.3.3 Leis e normas;

1.3.4 Área de intervenção projetual (conforto, topografia, entorno etc.);

1.4 Programação arquitetônica (programa de necessidades;

pré-dimensionamento; etc.).

2. Síntese (busca por soluções):

2.1 Conceitos;

2.2 Partido arquitetônico;

2.3 Estudo preliminar;

3. Anteprojeto;

3.1 Planta geral de implantação;

3.2 Planta dos pavimentos;

3.2 Cortes (longitudinais e transversais);

3.3 Elevações (fachadas);

3.4 Detalhes (de elementos da edificação e de seus componentes construtivos);

3.5 Memorial descritivo da edificação.

Para a realização dos estudos de referência será utilizado como base o método de Baker (1984), o qual analisa os correlatos a partir de diversas categorias, das quais serão utilizadas: genius loci (contexto), iconologia (arte como símbolo), identidade (cultura), significado do uso (programa de necessidades), plástica do uso (movimento), geometria (configuração da forma), estrutura e matérias;

O levantamento de condicionantes históricos e legais do bairro será realizado a partir da leitura de documentos bibliográficos como artigos, dissertações, reportagens, documentos oficiais do município ou do estado, entre outros; o conhecimento produzido pelo gerenciamento destes dados será

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incrementado após o contato e recolhimento de informações com integrantes do bairro. Já para a obtenção das condicionantes legais, ambientais e urbanísticas do terreno serão utilizados: o plano diretor, o código de obras e mapas oficiais de Natal. A fim de realizar o diagnóstico do terreno será utilizado como método os recursos de desenho para análise do entorno, como mapa se zoneamento, de orientação solar e ventos dominantes, ou os que se fizerem necessários. O gerenciamento destes dados permitirá, além do diagnóstico, a formulação dos problemas e potencialidades do terreno e seu entorno.

O contato com alguns dos moradores e das lideranças do bairro será mediado pelo princípio da metodologia do Projeto Participativo (PP), termo genérico que engloba diversas atividades e formas de inserir a participação popular nas decisões projetuais.

De acordo com Elali e Veloso (2014), para Neparstek (1997) os princípios do PP abrangem: envolvimento de moradores/usuários de um local na definição de objetivos e estratégias, identificar os problemas considerados importantes para aquela comunidade específica e os recursos disponíveis, desenvolver estratégias específicas, reforçar laços comunitários e desenvolver laços com instituições atuantes na cidade.

Além destas considerações é imprescindível esclarecer o nível da participação popular no processo do projeto. Levando em conta a natureza acadêmica deste trabalho, e o tempo disponível para sua produção, a possibilidade de PP mais adequada é o descrito por Elali e Veloso (2014), indicado por Deshler e Sock (1985), a Pseudo-participação. Nesta modalidade, a comunidade se envolve parcialmente na elaboração e execução da proposta, sendo consultada para fornecer informações para o enfrentamento do problema, mas, sem necessariamente o acato do projetista, e sem envolver-se com os resultados. É, portanto, uma participação de natureza consultiva, na qual se procura atender às solicitações majoritárias.

O programa de necessidades será elaborado a partir da sistematização dos dados obtidos nos estudos de referência, do método da pseudo-participação, e complementado com pesquisa bibliográfica; será procedido pelo pré- dimensionamento dos ambientes e pela elaboração de um fluxograma.

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Dispondo do conteúdo exposto por Silva (1998) em seu livro, os estudos preliminares são o estágio inicial da concepção de projetos, no qual haverá a compatibilização do programa com o terreno e condicionantes, e, também, as primeiras idealizações formais. Assim, pode-se entendê-lo como um desenvolvimento do partido arquitetônico, principal produto desta etapa. Para isto, tem-se a relevância da fase da Representação; nela, os recursos a serem utilizados serão os croquis feitos à mão, simulações e desenhos técnicos a partir do programa AutoCad, simulações e desenhos de volumetria 3D no SketchUp, e aprimoramento de imagens no V-ray e no Photoshop.

Ao final, após os estudos por busca de soluções, tem-se o anteprojeto, que será apresentado de acordo com a normativa que regula a elaboração de projeto e edifícios, a NBR 13532. No entanto, considerando o tempo disponível para a elaboração deste produto, os itens “planta de terraplenagem” e “cortes de terraplenagem” não serão confeccionados. Logo, o anteprojeto será composto por: planta geral de implantação; plantas dos pavimentos; plantas das coberturas;

cortes (longitudinais e transversais); elevações (fachadas); detalhes (de elementos da edificação e de seus componentes construtivos), e memorial descritivo da edificação.

1.2 QUADRO SÍNTESE

Para melhor compreensão da metodologia empregada, foi desenvolvido um quadro resumo (Quadro 01) com os procedimentos metodológicos, técnicas e fontes de dados respectivos ao alcance de cada um dos objetivos específicos.

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Quadro 01 – Metodologia de trabalho.

Fonte – criado pela auto

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2. SOB A ÓTICA DOS AUTORES

Neste capítulo serão abordados os conceitos fundamentais para o embasamento teórico essencial à compreensão do tema escolhido: centro de cultura com enfoque na comunidade local. Para isso, irá explorar estudos científicos que discutem as variáveis: cultura, centro de cultura, comunidade e espaço de uso comunitário.

2.1 A CULTURA E A SUA RELEVÂNCIA

A etimologia da palavra cultura vem do latim culturae, cujo significado, “ato de plantar e cultivar”, possui atributo dinâmico, de acordo com Laraia (1997). Seu entendimento moderno como conceito foi sintetizado pelo antropólogo inglês Edward Taylor, que a descreveu como um conjunto de conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e hábitos adquiridos por uma pessoa como membro de uma sociedade.

Em Civilização e Cultura (2004), Câmara Cascudo escreve que cultura pode ser entendida como um patrimônio tradicional de normas, doutrinas, hábitos e técnicas transmissíveis pela convivência e ensino, de geração em geração. Para o autor, ao longo do tempo, existem processos de modificações, supressões e mutilações parciais, no terreno material ou espiritual, do elemento cultural coletivo, sem que as permanências características se transformem de maneira anuladora. Assim, a cultura apresentaria sempre uma fórmula aquisitiva de conquista e movimentação de conhecimentos, com ação imediata, constante e utilitária.

Entendendo, então, cultura como uma construção histórica e produto coletivo da vida humana, podemos dizer que se trata de um elemento indissociável da realidade social, sendo fundamental na formação de identidade de um povo ao mantê-los conectados às suas raízes.

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Como discorre Mourão et al (2011), um dos obstáculos para a fomentação da cultural local é o fenômeno da globalização, onde vivenciamos um enorme intercâmbio de conhecimento e informação entre diferentes sociedades de todo o globo. Este é um processo com potencial de modificar maneiras tradicionais de viver, produzir e se identificar culturalmente, a partir do momento em que tende a homogeneizar e impor a sobreposição da cultura de massa, distribuída principalmente por países desenvolvidos com objetivo de obter lucro, sobre a cultura local nas cidades, estados e países subdesenvolvidos.

No Brasil, além do entrave do fenômeno da globalização, a produção cultural se torna cada vez mais desafiadora principalmente devido às próprias medidas atuais do governo federal, que suprimiram ainda mais os investimentos em cultura com a extinção do Ministério da Cultura (rebaixado a uma secretaria do Ministério do Turismo) e as profundas mudanças na Lei Rouanet (Lei de Incentivo à Cultura), diminuindo o teto para a captação de recursos de 60 milhões de reais para 1 milhão de reais. Deste modo, com pouco suporte de recursos federais, a produção artística dependerá ainda mais de doações e patrocínios privados e do custeio dos espectadores, tendendo a possuir acesso ainda mais restrito pela população.

Em termos econômicos, a promoção cultural no país é chamada de economia criativa, que se constitui em um conjunto de negócios que se baseiam no capital cultural e intelectual gerando valor econômico. A atual Secretaria Especial da Cultura informa que a economia criativa gera em torno de 2,64% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, sendo responsável por mais de um milhão de empregos formais diretos, contanto com cerca de 250 mil empresas e instituições. Sua taxa média de crescimento anual, entre 2013 e 2017, foi de 8,1%, bem acima do conjunto da economia, cujo crescimento, neste mesmo período, foi em média 2% do PIB.

Como podemos observar, mesmo com sua relevância social e econômica, a promoção cultura no Brasil vem sendo mutilada e desincentivada. Neste sentido, devemos assumir a relevância dos centros culturais como instituições criadas com o objetivo de se produzir, elaborar e disseminar práticas culturais e bens simbólicos.

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2.2 O CENTRO DE CULTURA

Pode parecer diversa a finalidade e o funcionamento de um centro cultural, tendo em vista que surgiram no mundo com atividades que remetem aos museus e ao enfoque no lazer. De acordo com Neves (2013), as bases para o entendimento contemporâneo de ação cultural surgiram na França, na década 1950 quando espaços, denominados, mais tarde como casas de cultura, foram criados para melhorar as relações de trabalho entre pessoas, ofertando lazer para os operários franceses a partir de áreas de convivência, quadras esportivas e centros sociais.

Mas, foi no final da década de 1970, com a criação do Complexo Cultural Georges Pompidou (Figura 01), que a França passou a ser uma referência no assunto, elevando qualitativamente o que se considerava um edifício de fomento à cultura, e atraindo a atenção de todo o mundo.

Figura 01 – Complexo Cultural Georges Pompidou.

Fonte - https://www.tiqets.com/fr/activites-attractions-paris-c66746/billets-pour- centre-pompidou-collection-permanente-entree-prioritaire-p974349/.

Para Souza (2012), apesar das contradições acerca da definição de um espaço cultural, além de promover o lazer, atualmente eles são utilizados para

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projetos de educação fora do ambiente escolar, estabelecendo uma conexão entre os diversos âmbitos do conhecimento.

Conectando a finalidade destas edificações ao conceito de cultura, Milanesi (2003) escreve que o principal intuito de um centro cultural deve ser resgatar as origens da população da cidade em que se insere, havendo duas formas de promoção deste resgate: a preservação quase museológica e a transformação a partir da matriz tradicional. Na primeira, as atividades e técnicas desenvolvidas no centro de cultura persistem ao longo de anos, servindo para que a sociedade não perca sua memória; na segunda, como sugere o próprio nome, as tradições são modificadas ao se adaptarem aos meios atuais de produção, mas mantendo a essência de suas raízes.

Nesta reflexão, os centros de cultura devem preservar a cultura local para que os usuários passem a assimilá-la, tornando-se imprescindível o cuidado de não reproduzir exatamente as mesmas atividades já desenvolvidas, mas sim atividades e dinâmicas afins, na região em que se insere para que não deixe de ser atrativo.

Ainda conforme o autor, os centros culturais se constituem como espaços para se fazer cultura viva, por meio de obra de arte, com informação, em um processo crítico, criativo, provocativo, grupal e dinâmico. Deste modo, os espaços que promovem cultura permitem a descoberta e o conhecimento a partir do acesso às atividades relativas aos verbos informar, discutir e criar.

O primeiro verbo, informar, envolveria as atividades relacionadas à transmissão de informações, como o oferecer o acesso a livros e outros tipos de registros de conhecimento, como cartazes, filmes e palestras. Devido a isto, nos centros sempre devem existir ambientes cuja prioridade seja promover a troca de informação: auditórios, pátios, teatros, arenas, bibliotecas, salas de vídeo e informática.

O verbo discutir seria um complemento ao verbo informar, abrangendo atividades capazes de promover a reflexão, como seminários e ciclos de debate.

A promoção da interação entre pessoas, para este fim, pode ocorrer em espaços como lanchonetes e pátios.

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Como somatório entre os verbos anteriores, o verbo criar se mostra como principal objetivo de um centro cultural, já que a criação permanente acaba com a inércia e a rotina de reproduções. Neste caso, o desenvolvimento de atividades criativas pode ocorrer em espaços como oficinas de arte, ateliers, salas de múltiplo uso e ambientes onde possam ser realizados trabalhos mais técnicos.

Neves (2013) complementa esta conceituação sobre a finalidade e o funcionamento do centro cultural frisando que as atividades culturais não devem apenas ser realizadas para as pessoas, e sim com elas. Para isso, a autora considera três campos relativos ao trabalho cultural: a criação, tanto de bens culturais quanto a partir de formação artística e educação estética; a circulação de bens culturais, evitando que o centro de cultura se torne apenas um espaço dedicado ao lazer; e a preservação do campo do trabalho cultural.

As questões mais subjetivas acerca da funcionalidade e das atividades desenvolvidas neste tipo de construção terão de considerar as demandas de uma comunidade específica, seja uma comunidade artística de dimensão global, ou da comunidade de uma cidade ou região, conforme Souza (2012). Um exemplo citado pelo autor são os centros culturais comunitários, que levam em consideração as demandas locais e servem como suporte às famílias de baixa renda.

Por fim, retomando uma problemática apontada no tópico anterior, cujo principal dificultador de incentivo a cultural local é o processo de globalização, enfatizamos o centro cultural como um espaço que deve construir laços com a comunidade e os acontecimentos locais, ajudando a fortalecer o regionalismo, funcionando como um equipamento informacional e proporcionando cultura para os diferentes grupos sociais, buscando promover a sua integração.

2.3 COMUNIDADE E O ESPAÇO DE USO COMUNITÁRIO

Diante da palavra “comunidade” vislumbramos uma série de significados, ao mesmo tempo divergentes e semelhantes em certo nível. Podemos, em primeiro momento, associá-la às relações entre pessoas próximas fisicamente ou simbolicamente, ou a grupos virtuais em determinados sites de relacionamento,

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ou utilizá-la como sinônimo de favela etc. São sentidos atribuídos automaticamente e que remetem a sua etimologia, a qual tem origem na palavra

“comum”.

A especialista em comunicação social Cecília Peruzzo (2009) avalia que o termo “comunitário” vem sendo utilizado de forma desordenada, principalmente em detrimento da globalização e da aproximação virtual entre pessoas. No entanto, há peculiaridades possíveis de serem identificadas nas mais diversas interpretações. De acordo com a autora:

[...] não há como negar é que a palavra “comunidade” evoca sensações de solidariedade, vida em comum, independentemente de época ou de região. Atualmente, seria o lugar ideal onde se almejaria viver, um esconderijo dos perigos da sociedade moderna. Como nos mostra Bauman (2003:7),

“‘comunidade’ produz uma sensação boa por causa dos significados que a palavra ‘comunidade’ carrega”: é a segurança em meio à hostilidade. (PERUZZO, 2009, p.140).

Conforme a reflexão acima – em que a palavra permite-se compreender como de sentido comum, de adesão e mutualidade – no dicionário de língua portuguesa temos a seguinte descrição para as palavras comunidade e comunitário: “co-mu-ni-da-de sf 1. Qualidade de comum. 2. Corpo social; a sociedade. 3. Grupo de pessoas submetidas a uma mesma regra religiosa. 4.

Local por elas habitado. [...]”; “co-um-ni-tá-rio adj. Relativo a comunidade.”

(FERREIRA, 2000, p. 170).

Para Leila de Albuquerque (2009), os conceitos de comunidade e sociedade costumam estar associados e fazem parte da tradição sociológica weberiana, apesar de terem sido sistematizados pelo sociólogo Ferdinand Tönnies. Nesta relação entre os termos, “comunidade” carrega consigo as simbologias positivas associadas ao conceito de sociedade:

No século XIX, a noção de comunidade é resgatada e, como a sua antítese, passa a simbolizar a imagem de uma boa sociedade, pelo menos para os utópicos ou os resistentes ao modelo de solidariedade instaurado pela modernidade. O conceito de comunidade é empregado, nos séculos XIX e XX, para todas as formas de relacionamento caracterizadas por intimidade, profundeza emocional, engajamento moral e continuidade no tempo. (ALBUQUERQUE, 2009, p.50).

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Tomando, então, comunidade como conceito teórico relacionado a um otimismo social e à solidariedade, este pode ser compreendido a partir de três gêneros: o de parentesco, de vizinhança e de amizade (TÖNNIES apud PERUZZO, 2009).

Para a área da arquitetura e urbanismo, o gênero vizinhança, elaborado por Tönnies, é o mais aproveitável, pois nele é possível identificar a existência de comunidades na vida urbana. Sendo assim, o espaço urbano vivido pode ser representado pela comunidade de vizinhança, a qual “[...] caracteriza-se pela vida em comum entre pessoas próximas, da qual nasce um sentimento mútuo de confiança, de favores, etc. Dificilmente isso se mantém sem a proximidade física.”

(TÖNNIES apud PERUZZO, 2009, p. 142). Portanto, pode-se dizer que a vida em comunidade está baseada em relações sociais, constituindo-se como uma sociedade, “[...] mas nem toda sociedade é uma comunidade” (PARK, BURGESS apud PERUZZO, 2009, p. 142).

Devemos, assim, ter em mente que o termo comunidade sempre possuirá como característica intrínseca o sentido de comunitário, o qual também remete à vida em comunidade, necessitando de um espaço, urbano ou não, de aproximação das relações entre pessoas. Nesse sentido, o espaço, um dos principais conceitos de interesse da arquitetura e do urbanismo, mostra-se como um elemento primordial para vida em comunidade e o desenvolvimento de laços comunitários.

Segundo Débora Machado (2009), o espaço de uso público acarreta sempre como consequência de existência o uso coletivo. Em contrapartida, um espaço de uso coletivo nem sempre é público, pode ser privado ou comunitário.

A rua, elemento primordial dos estudos urbanos, é capaz de funcionar como um espaço comunitário, conforme o comportamento da população que a usufrui, pois, um espaço originalmente público apenas torna-se comunitário quando moradores e usuários passam a tratá-lo como de sua responsabilidade, zelando pela sua preservação (MACHADO, 2009).

Então, o espaço comunitário representa “[...] o lugar comum de convivência, necessário para a habitação, cultura, serviços, educação e lazer, naquele onde as pessoas vivem experiências em comuns e percebem o mundo.” (MACHADO, 2009, p. 23). Além disto, ele é relativo à comunidade, a qual equivale “[...] ao conjunto de

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pessoas com os mesmos interesses e que se organizam respeitando seus próprios costumes e hábitos [...]” (MACHADO, 2009, p. 23).

Por consequência, um espaço só possui o atributo comunitário ao atender às necessidades e expectativas de uma comunidade específica, seja de uma região, do bairro ou do município (MACHADO, 2009). Por isso, em casos onde o espaço de uso comunitário é viabilizado por uma construção arquitetônica é incentivado, por profissionais e estudiosos da área, que se utiliza de metodologias de participação popular na concepção do projeto.

Como mencionado no tópico anterior, um centro de cultura, por exemplo, pode atender às demandas de uma região específica, o que evidencia a arquitetura como possibilitador da ampla variedade de espaços que possam sustentar o uso comunitário, os quais podem oferecer lazer, esporte, cultura ou educação.

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A N Á L I S E

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3. GUARAPES: DE UM PASSADO ÁUREO PARA UMA REALIDADE CONFLITUOSA

O Guarapes é o segundo bairro mais recente da capital potiguar, tendo sido oficializado como tal em 1993 pela lei 4.328. Fica localizado na região administrativa oeste da cidade, entre os bairros Felipe Camarão e Planalto, na fronteira com Macaíba, margeado pela BR-226 e o rio Jundiaí (Figura 02), sendo na atualidade o bairro menos adensado da capital. Em primeiro momento, suas divisas eram estabelecidas até os limites vigentes do Planalto, porém, em 1998 este último consolidou-se por lei como sendo único. Apesar de terem se constituído oficialmente como bairros distintos, ainda é bastante comum que pessoas confundam ambos.

Figura 02 – Mapa da cidade do Natal, com destaque para o bairro Guarapes, na zona oeste.

Fonte – https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_bairros_de_Natal_(Rio_Grande_do_Norte).

Adaptado pela autora.

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3.1 UM BREVE HISTÓRICO

Retomando sua história a partir da segunda metade século XIX, o complexo comercial da localidade do Guarapes foi a maior praça comercial da província do Rio Grande do Norte, comandada pelo comerciante e político paraibano Fabrício Gomes Pedroza.

De acordo com Alves (2015), foi a influência política do comerciante que induziu a captação de investimentos do governo para a localidade do Guarapes, no intuito de fomentar a atividade comercial por ele chefiada. Com a instalação de sua casa comercial na margem direita do Rio Jundiaí, na atual BR-226 (que liga Natal a Macaíba), aos poucos seguiram as construções de demais edifícios para suporte e apoio comercial.

O posicionamento geográfico estratégico da localidade, próxima dos Rios Jundiaí e Potengi, possibilitou que se tornasse uma zona de fluxo de mercadorias distribuídas para as diversas partes do interior da província, permitindo a comercialização entre interior e litoral.

Câmara Cascudo (1999) descreve o complexo comercial:

Na colina solitária, a curva do rio doce, amplo, igual. Fundou-se

“Casa de Guarapes”. Embaixo, margeando o rio, a fila dos armazéns bojudos que tudo guardavam e vendiam. Em cima, os escritórios, almoxarifado, a capela, a escola, o quartel-general da ação. (CASCUDO, 1999. P.28).

A citação do autor mostra que o complexo era composto por uma série de instalações, das quais, o casarão principal se responsabilizava pelo protagonismo;

a sequência de armazéns às margens do Rio Jundiaí, junto ao ancoradouro, revelava sua significativa irradiação econômica, que exportava para a Europa produtos produzidos na província – como algodão – e importava produtos manufaturados (ALVES, 2015).

Pela articulação e estabilidade do complexo comercial, o casarão é lembrado pela historiografia tradicional do Rio Grande do Norte, ressaltando a imponência do edifício e o apogeu econômico associado a ele. No discurso do presidente Leão Velloso, de 1862, Guarapes aparece como importante entreposto

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comercial que transferiria para Natal a movimentação comercial dispersa no interior (RODRIGUES, 2006, p. 64):

... por minha parte não vejo que a província tenha outra localidade mais apropriada a ser o centro de suas relações officiaes do que esta [Natal], assim como não vejo que esta cidade tenha de soffrer com o desenvolvimento de Guarapes como ponto comercial, ao contrario d’alli não se pode espera que lhe venha senão elementos de prosperidade. (Relatório do Presidente Leão Velloso de 16 de fevereiro de 1862. p.48-49).

Na teoria, seu funcionamento se deu até 1872, devido à morte do proprietário, Fabrício Gomes Pedroza. Porém, o complexo de armazéns que suportavam o casarão, as estradas, o ancoradouro, pontes, casas de trabalhadores, entre outros, não teriam sido completamente desativados após essa data. O enfraquecimento do comércio da região teria sido influenciado, também, pela perda de importância dos rios Jundiaí e Potengi no transporte comercial, devido ao desenvolvimento de linhas férreas e estradas de rodagem (ALVES, 2015).

Figura 03 – Ruínas do antigo complexo comercial do Guarapes.

Fonte – https://www.caurn.gov.br/?p=13634.

Hoje em dia também conhecido como “museu velho”, o antigo casarão se encontra abandonado e em ruínas (Figura 03), apesar de ter sido tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual pela Portaria nº 456/90 em dezembro de 1999; em 2002 as ruínas e seu terreno circundante foram desapropriados para pertencerem ao governo do Estado, se tornando um bem público (ALVES, 2015).

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Após a queda do entreposto comercial não se encontram muitas informações oficiais sobre a trajetória e desenvolvimento da localidade Guarapes, que viria a se tornar oficialmente bairro nos anos de 1990. Todavia, é possível apontar que o processo de expansão urbana da capital, cuja ocupação e uso do solo passam a ser fortemente influenciadas por programas habitacionais, impactou negativamente para o desfalque em serviços e infraestrutura pública na Zona Norte e Zona Oeste, por não possuírem um solo urbano com valorização imobiliária, conforme Bezerril, 2016. Os programas habitacionais mencionados foram os implementados a partir de 1963, quando o Governo do Estado elaboraria o primeiro Plano Habitacional Popular, e também pela criação do Banco Nacional de Habitação (BNH), no final dos anos 1960, que acabaram por criar uma política habitacional segregadora, em que uma parte da cidade recebeu mais investimentos e se desenvolveu mais do que outra.

3.2 CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA ATUAL

Observando o Guarapes nos dias de hoje pode-se dizer que ele ainda possui características de área de expansão urbana, apresentando baixos índices de ocupação na maior parte de seu território.

Em consonância com o censo levantado pelo IBGE (2010), o Guarapes se apresenta como o bairro com o menor número de domicílios entre 2000 e 2010, e cerca de 68% de seu território ainda é de cobertura vegetal. Sobre isto, é importante destacar a restrição de adensamento imposta ao bairro por conter em seu território a Zona de Preservação Ambiental dos cordões dunares, ou ZPA-4.

No entanto, mesmo com esta particularidade ambiental, seu afastamento geográfico e a dificuldade de acesso aos centros e principais vias da capital e, também, a infraestrutura urbana de baixa qualidade, se mostram como fatores elementares do baixo adensamento (DIÓGENES, 2014).

Além da particularidade ambiental, todo o bairro está contido numa Mancha de Interesse Social (MIS), cuja predominância de renda é de até 03 salários mínimos (SEMURB, 2017).

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O trajeto histórico mais recente do bairro muito difere do seu passado como importante entreposto comercial na capitania do Rio Grande do Norte, tendo sido bastante influenciado por sucessivos reassentamentos de famílias advindas de periferias da cidade. Como exemplo dos primeiros reassentamentos promovidos pelo poder público, tem-se a favela do Fio e a do DETRAN, que, “em 1988, foram ali abrigadas por viverem em situação de risco” (SEMURB, 2007), dando início a expressiva ocupação do território do bairro.

De acordo com Caroline Diógenes (2014), entre 2008 e 2009 foram entregues pela Secretaria de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes (SEHARPE) dois conjuntos Habitacionais de Interesse Social (HIS), os quais faziam parte do projeto Planalto II, desenvolvido a partir das premissas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com o intuito de reduzir o déficit habitacional da capital. Foram eles: o conjunto Santa Clara e o Leningrado, localizados próximos entre si no extremo leste do bairro (Figura 04).

Em seu trabalho a autora avalia a qualidade destas habitações, sobretudo por terem sido inseridas em uma região pouco abastecida por equipamentos públicos e infraestrutura urbana que pudessem amparar as novas famílias que chegavam:

As famílias foram para os citados conjuntos habitacionais em junho de 2009, evidenciando problemas relativos à inserção urbana, principalmente, quanto ao acesso a transporte público e aos equipamentos de saúde, educação, entre outros. (DIÓGENES, 2014, p. 23)

Somente após a posse das famílias que foram ocorrendo melhoras na infraestrutura urbana. Entre 2010 e 2012 foi promovido o calçamento em algumas ruas do Leningrado e seu entorno, e também, foram criadas as primeiras linhas de ônibus (linha 599 e linha 41) com terminal dentro do bairro. Esse aprimoramento ocorreu devido reivindicação popular, e foi promovido pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SEMOB), beneficiando em média 1.500 habitantes. Mas, a longa espera e atrasos das linhas faz com que muitos moradores prefiram ir a pé ao terminal do Planalto, onde existem mais opções de linhas de ônibus (DIÓGENES, 2014).

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Em 2014, outro reassentamento foi realizado ao lado dos conjuntos habitacionais citados a cima. Conforme a Prefeitura Municipal do Natal, para a entrega do condomínio vertical Vivendas do Planalto (Figura 04), com 896 unidades habitacionais, a SEHARPE cedeu o benefício financeiro a 448 famílias cadastradas no programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), advindas de assentamentos existentes no Guarapes e no Planalto: Anatália, Oito de Outubro e Monte Celeste. O condomínio conta com praça, playground e uma pequena quadra poliesportiva descoberta.

Em 2018 foram entregues mais de 1792 unidades de apartamento, no Condomínio Residencial Village de Prata, localizado na extremidade do bairro com o Planalto e Macaíba. Parte das famílias beneficiadas são inscritas no programa MCMV, e a outra parte é oriunda de assentamentos e ocupações informais, dentre eles, a Favela do Fio, do Alemão e o assentamento 8 de março (SEHARPE, 2019).

A localização do condomínio pode ser verificada na Figura 04.

Se não bastasse a distância entre as “ilhas” habitacionais do bairro, a má distribuição dos equipamentos públicos dificulta o acesso dos moradores da região do Leningrado e do Village de Prata. Ao todo, tem-se: dois Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI), duas escolas municipais, uma Unidade Básica de Saúde, uma praça, um minicampo e uma quadra (Figura 04). Destes, apenas um CMEI está inserido dentro do Leningrado. Embora, o Residencial Vivendas do Planalto possua praça e campinho próprios, estes não são suficientes para ofertar lazer a todos os moradores da redondeza.

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Figura 04 – Zoneamento do bairro.

Fonte – Google Maps (2021), modificado pela autora.

Como podemos observar no mapa acima, os equipamentos se concentram na parte central do bairro; quanto aos equipamentos destinados ao lazer, a praça pública se encontra atualmente em relativo estado de abandono (Figuras 05 e 06);

já o minicampo possui alguma estrutura, como iluminação interna e cercamento, além de ser bastante utilizado (Figura 07):

Figura 05 – Praça pública do bairro.

Fonte – Acervo da autora (2021).

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Figura 06 – Mobiliário da praça pública do bairro.

Fonte – Acervo da autora (2021).

Figura 07 – Minicampo do bairro.

Fonte – Acervo da autora (2021).

A quadra foi recentemente aprimorada pelos moradores, com a troca da tela de cercamento e a constante manutenção do terreno, como se pode ver nas Figuras 08 e 09.

Figura 08 – Quadra do bairro em 2019.

Fonte – Acervo da autora (2019).

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Figura 09 – Quadra do bairro em 2021.

Fonte – Acervo da autora (2021).

A questão da distância geográfica entre as partes, e o próprio isolamento do bairro dentro de Natal, foi amenizada devido à criação da linha de ônibus 587, que conecta o centro do Guarapes ao Village de Prata, e a linha 41B, que sai do Leningrado com destino final para o Alecrim. Ao todo, o bairro conta com cinco linhas, das quais três saem do terminal do centro e as outras duas do terminal do Leningrado (Figura 10).

Figura 10 – Terminais de ônibus dentro do bairro.

Fonte – Google Maps (2021), modificado pela autora.

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Apesar das dificuldades o bairro se vê em constante luta pela reivindicação de seus direitos, organizadas pelas suas lideranças, que mesmo com adversidades para estabelecer o diálogo entre partes, se esforçam para manter o engajamento político.

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4. REFERENCIAIS PROJETUAIS

Pensando no processo de concepção de um centro cultural focado nas questões do bairro, com intuito de reforçar os laços comunitários e fomentar a cultura local, este tópico irá tratar sobre os estudos de referência, analisando tanto um centro de cultura quanto um centro comunitário; pretende-se observar nos projetos parte do que foi visto no tópico 2, principalmente sobre a funcionalidade de um centro de cultura, e também de um espaço de uso comunitário.

Para analisar obras já construídas, com uso semelhante ao que será proposto ao final do trabalho, serão analisados o processo de concepção arquitetônica de cada uma, assim como seus aspectos funcionais e de conforto ambiental, as questões estruturais, a relação com o local em que foram construídas e a estética.

A escolha dos projetos a serem tomados como referência se deu, além do uso, pela região de implantação do projeto. Por consequência, foram delimitadas as Américas Latina e Central como área de abrangência de escolha. Logo, para este estudo serão analisados os seguintes projetos: o centro cultural RedBull Station (Brasil) e o Centro Comunitário de El Rodeo de Mora (Costa Rica).

No final deste capítulo será apresentado um quadro síntese que agrupará as características essenciais de cada projeto a serem referenciadas, ou rebatidas, no processo de síntese, tais como: solução do programa arquitetônico, solução formal ou partido, solução volumétrica, conceitos empregados e/ou materiais empregados.

4.1 ESTUDO DE PROJETOS CORRELATOS

Os estudos indiretos tomarão como referência o método de Geoffrey H.

Baker (1998), o qual elaborou um modelo de análise de projeto que foca nos aspectos formais e volumétricos, mas que também apresenta tópicos que se debruçam sobre o contexto cultural e uma série de outras características que avaliam a arquitetura enquanto arte e técnica. Para o autor, a arquitetura está condicionada a três fatores elementares: às condições do local, aos requisitos

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funcionais e à cultura local, ressaltando que esta última influência nos materiais e estrutura empregados no projeto. Deste modo, para bem compreender uma obra arquitetônica é necessário ter estes fatores em mente, e é isto que guiará o modelo de análise. Este se dá com a identificação de vários elementos ou conceitos, presentes na obra analisada, que estão sempre amparados por questões contextuais particulares.

Utilizando sete das categorias do método de Baker que foram estudadas em sala de aula, na disciplina de Ateliê Integrado de Arquitetura e Urbanismo, temos a seguinte base analítica:

• Genius loci (contexto): refere-se ao contexto e como a arquitetura pode vincular cultura e ambiente, se relacionando a sensação de identidade pertencimento que alguém tem por um lugar; diz respeito ao local de inserção da edificação. Para Baker, os maiores exemplares da arquitetura conseguem capturar as qualidades intrínsecas da paisagem e da cultura do local.

• Iconologia (arte como símbolo): implica no significado simbólico da forma e o que a faz logicamente expressiva e significante e quais referências podem ser observadas na expressão formal da arquitetura.

• Identidade (cultura): concerne na arquitetura como forma de comunicação relevante a integração cultural, tendo em vista que a cultura integra o indivíduo ao mundo; a arquitetura se integra ao contexto histórico e cultural de onde está implantada.

• Significado do uso (programa de necessidades): o significado da arquitetura está no uso, e, por isso, existe para servir às necessidades de uma cultura. Portanto, é necessário que sua significação tenha origens no uso.

• Movimento (plástica): expressa a forma arquitetônica, sua configuração formal e volumétrica.

• Geometria: expressa a forma geométrica do projeto ou edifício.

• Estrutura e materiais: trata-se dos aspectos construtivos e da compreensão de que estrutura não seria apenas um meio de constituir

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arquitetura, mas também como um meio de expressão arquitetônica.

Como exemplos, tem-se a coluna grega e arco de abóboda romana.

Por questões de facilitação do estudo e compreensão objetiva das referências a serem correlatadas, as análises prosseguirão com a simplificação de quatro categorias em duas: “iconologia” e “identidade” em “identidade e símbolo”; “movimento” e “geometria” em “geometria e plástica”. Teremos, assim, cinco (5) categorias de análise, que são:

1. Genius loci (contexto);

2. Identidade e símbolo;

3. Significado do uso (programa de necessidades);

4. Geometria e plástica (configuração da forma);

5. Estrutura e materiais;

As análises serão precedidas por uma ficha técnica de apresentação de cada projeto, informando local, equipe de projeto, a área em m² e o ano em que foi implantado.

4.1.1 REDBULL STATION

1. GENIUS LOCI (CONTEXTO)

Em meio a um cenário de extrema urbanidade, no centro de São Paulo, capital, o centro cultural RedBull Station se manifesta como um local vivo e emissor de cultura. O edifício tomado pelo centro é longevo, de 1926, e tombado como patrimônio histórico, tendo abrigado uma antiga subestação de energia até o ano de 2004. Após um longo período de reforma e requalificação, com projeto de 2011, o RedBull Station passou a funcionar no ano de 2013, atuando como importante ponto transformador dentro deste cenário urbano e intenso.

FICHA TÉCNICA:

Localização: São Paulo, Brasil;

Equipe de projeto: Triptych arquitetos;

Área: 2.150m²;

Ano do Projeto: 2013;

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Figura 11 – Contexto de implantação urbana do RedBull Station.

Fonte – https://www.archdaily.com.br/br/01-155192/redbull-station-sao-paulo- slash-triptyque?ad_source=search&ad_medium=search_result_all.

Sua localização é privilegiada, próximo à tradicional praça da capital, a Praça da Bandeira, e está inserido no meio de um nó de avenidas e cruzamentos, como se pode observar na Figura 11.

2. IDENTIDADE E SÍMBOLO

Para adaptar-se à sua nova função de promover a cultura, o edifício foi restaurado seguindo os principais conceitos de preservação do patrimônio arquitetônico, o que não o impediu de receber intervenções contemporâneas – como a escada metálica ao longo dos cinco pavimentos até a cobertura, onde flutua uma marquise metálica ao lado de uma fonte de água. Tanto a escada, quanto a marquise e a fonte podem ser observadas do exterior do prédio, sobre tudo a marquise, contribuindo ao trazer monumentalidade extra ao prédio, comunicando sua contrastante contemporaneidade. Ainda sobre a marquise, Grégory Bousquet, arquiteto da equipe responsável pelo projeto, comenta em entrevista para o site Galeria da Arquitetura, que seu destaque emite um “sinal cultural” para as pessoas que andam na rua, como uma antena, convidando caminhantes a visitar o local.

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Figura 12 – RedBull Station visto de frente; destaque para a marquise da cobertura.

Fonte – https://www.archdaily.com.br/br/01-155192/redbull-station-sao-paulo-slash- triptyque?ad_source=search&ad_medium=search_result_all.

Figura 13 – Marquise da cobertura do RedBull Station.

Fonte – https://www.archdaily.com.br/br/01-155192/redbull-station-sao-paulo-slash- triptyque?ad_source=search&ad_medium=search_result_all.

Além da estética do projeto, a dinâmica estabelecida entre o centro e público é uma das principais características que desenham a identidade do

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edifico. Para, Olivier Raffaelli, outro dos arquitetos responsáveis, a adaptação do programa para receber instalações funcionais e bem-distribuídas foi o principal fator projetual a contribuir para isso. A RedBull Station é um local vivo, as pessoas têm a liberdade de passar o dia, almoçar, participar de workshops, ouvir e produzir música, conhecer artistas em eventos e exposições, visitar o café, entre várias outras atividades. Essa característica interativa é na verdade um movimento mundial em que museus se tornam cada vez mais abertos ao público, integrando- o em atividades diversas e socioeducativas, e não somente expositivas. Para o Triptych, toda essa vivacidade presente no centro cultural seria uma evolução do que é o museu.

3. SIGNIFICADO DE USO (PROGRAMA DE NECESSIDADES)

O programa está dividido nos cinco andares do prédio, incluindo o subsolo, misturando diferentes expressões criativas e artísticas, com foco principal em música e arte multimídia; o espaço funciona com programação de atividades permanentes, o que é ofertado pela cafeteria, terraço e pelo estúdio de música.

Os espaços expositivos foram programados em plantas livres, o que exigiu a demolição de elementos não estruturais, além da adição de novas divisórias em vidro e gesso acartonado para delimitar novos espaços de apoio e novos locais de trabalho.

Dentre os ambientes distribuídos no programa, tem-se, no térreo, a galeria principal, uma sala monumental que recebe exposições de todas as formas de artes visuais, e os estúdios de gravação de música. O subsolo foi transformado em outro espaço expositivo, sala de ensaio de músicos e camarim. No mezanino fica a parte destinada ao escritório.

No andar superior (Figura 14) há seis ateliers, ao lado há o grande atelier coletivo para workshops e palestras (auditório), e também a chamada Galeria Transitória, onde trabalhos são expostos por tempo provisório, durante o processo de criação. É a união de todos estes espaços é o que faz do RedBull Station um importante difusor de cultura dentro de São Paulo.

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Figura 14 – Distribuição do programa em planta.

Fonte – https://www.archdaily.com.br/br/01-155192/redbull-station-sao-paulo-slash- triptyque?ad_source=search&ad_medium=search_result_all, modificado pela autora.

4. GEOMETRIA E PLÁSTICA (CONFIGURAÇÃO DA FORMA)

A antiga subestação de energia Riachuelo foi implantada numa pequena quadra, em meio a um nó de cruzamentos de avenidas, com forma geométrica sóbria, quase retangular, seguindo linhas de horizonte como em ponto de fuga. A marquise contemporânea em sua cobertura, que parte do nível do chão em estrutura metálica, adiciona leveza para a solidez do edifício antigo (Figura 12).

5. ESTRUTURA E MATERIAIS

As intervenções contemporâneas foram somente uma parte do projeto de restauro, internamente foram retirados os elementos de vedação dispensáveis para possibilitar o novo uso. No entanto, os acabamentos de pintura antiga e concretos existentes, até mesmo parte sujeira e tubulação foram mantidas. A essência do prédio foi, então, mantida e a beleza de seus elementos, potencializada, principalmente a partir da decoração e adição dos elementos contemporâneos na arquitetura.

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Figura 15 – Materiais empregados e estrutura existente.

Fonte – https://www.archdaily.com.br/br/01-155192/redbull-station-sao-paulo-slash- triptyque?ad_source=search&ad_medium=search_result_all, modificado pela autora.

Então, basicamente os materiais explorados no projeto são o concreto velho, metal e o concreto bruto, utilizado na construção do volume do estúdio de música.

Os arquitetos destacam também o protagonismo das estruturas metálicas, tanto das escadas quanto da marquise superior (Figura 15).

4.1.2 CENTRO COMUNITÁRIO DE EL RODEO DE MORA

FICHA TÉCNICA:

Localização: Ciudad Colón, San José, Costa Rica;

Equipe de projeto: Escritório FoRo Arquitectos;

Área: 750 m²;

Ano do Projeto: 2014-2016;

Referências

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