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Filosofia. Mitos contemporâneos. Resumo. O que é consciência mítica? A passagem do mito para o logos

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Academic year: 2022

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Texto

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Mitos contemporâneos

Resumo

A palavra mito vem do grego (mȳthos) e significa “história não verdadeira” ou “não totalmente verdadeira”.

Mitos são uma forma de conhecimento cultural que fornece modelos de comportamento aos humanos, dialogando com suas linguagens e valores. Podem ser usados para influenciar escolhas políticas, gostos pessoais, religiosidade, entre outros. Por isso, suas funções sociais vão além da questão de se tratarem de

“verdades” ou não. Essa característica dá ao mito um lugar de permanência na sociedade, pois quando o analisamos conseguimos identificar diferentes modalidades e objetivos em seu uso. Essas funções variadas fazem com que o mito se mantenha vivo até hoje como uma forma de conhecimento na sociedade, que acompanha tradições e dialoga diretamente com a sabedoria popular e o senso comum, através da consciência mítica.

O que é consciência mítica?

Consciência mítica ou pensamento mítico tem a ver com um modo de pensar e produzir conhecimento através da aceitação do destino. Muitos conhecimentos míticos dialogam diretamente com o sobrenatural, onde as ações humanas são determinadas por deuses e seres sobrenaturais. Podemos dizer que se trata, portanto, de uma maneira humana de responder a questões a princípio desconhecidas. Dessa forma, a dimensão subjetiva que caracteriza o mito se encontra alinhada às subjetividades humanas, dando a ele uma função de “tapar lacunas”. Por isso, o desenvolvimento da consciência mítica é entendido como um momento importante para a história humana, como um esforço para dar sentido a fenômenos ainda incompreendidos.

A passagem do mito para o logos

Com o desenvolvimento da sociedade grega, marcada por uma série de eventos sociais importantes, os mitos continuaram a florescer espontaneamente. Porém, a partir de meados do Século VI a.C, a Grécia começa a dar seus primeiros passos como expoente fundante do pensamento filosófico. É neste período que se inicia uma série de mudanças sistemáticas na sociedade grega. A maneira como a realidade era até então retratada começa a ser vista como insuficiente pelos pensadores da época. Isso faz com que surja um movimento de ruptura gradual no modo de pensar grego, que mais tarde viria a ser reconhecido como a ascensão do pensamento filosófico. Derivada do grego, a palavra logos passa a ser traduzida como razão ou capacidade de racionalização individual - não à toa, é o radical que dá base à palavra “lógica”.

Posteriormente, desenvolvido pelo pensador Auguste Comte, o positivismo surge na França do Século XIX e se caracteriza como um movimento a favor do conhecimento científico, apostando na ordem e na ciência para alcançar o progresso social. Esta corrente de pensamento possibilitou grande desenvolvimento para a filosofia e as ciências sociais, valorizando ainda mais a evolução do pensamento racionalista.

Alguns excessos geraram também, neste sentido, o cientificismo: ideologia que restringe o valor da experiência humana ao saber científico e ignora outras formas de conhecimento. Esta concepção desencadeou uma série de defesas radicais em torno da superioridade social da ciência, fazendo com que qualquer outra forma de compreender a realidade fosse considerada totalmente descartável. No entanto, esse pensamento radical vai contra os próprios princípios básicos da ciência, que envolvem a pluralidade, a

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Atualmente, após a difusão do pensamento científico, de que forma o pensamento mítico ainda se faz presente em nossas vidas?

Tradições, mitos e superstições

Cultivar crenças em divindades, temer acontecimentos sobrenaturais e desenvolver argumentos ilustrativos sem a necessidade de comprovações (baseados apenas em crenças pessoais) são formas de manter vivo o pensamento mítico na sociedade contemporânea. Esse comportamento nos acompanhou durante séculos e não se apresenta apenas nas religiões tradicionais: a literatura, o cinema, e a cultura pop em geral buscam sempre trazer ou dialogar com elementos mitológicos e fantásticos, muitas vezes os reinventando. Esse fenômeno consegue reforçar conhecimentos populares e criar novas narrativas através do encontro de gerações, fazendo isso de diferentes formas.

Vejamos alguns exemplos do que podemos chamar de mitologias contemporâneas:

Ideologias políticas

Como já vimos, o capitalismo é um sistema de produção que se baseia numa lógica de acúmulo de capital.

Isso se dá, em muitos casos, através da exploração da mão de obra do trabalho assalariado. Por conta disso, esse sistema possui uma ideologia própria, que se apresenta na forma de discursos difundidos por diferentes veículos de comunicação. A meritocracia costuma ser a crença mais recorrente entre os defensores desse sistema, se referindo à suposta possibilidade de ascensão de classe através do esforço individual.

A partir do Século XIX, essa ideia ganhou maior alcance mundo afora, principalmente nos Estados Unidos, onde vigora a ideia de que o indivíduo pode conquistar seu espaço na sociedade a partir de seu próprio esforço (o mito do “self-made man”, isto é, daquele que se fez sozinho). Assim, o “sonho americano" de prosperidade e liberdade se mantém. Essas ideias, discutidas por muitos críticos, são identificadas como verdadeiros mitos contemporâneos e seculares (isto é, sem relação com religiões ou sobrenaturalidade). Eles podem ser contestados, mas também reforçados, a cada caso isolado de ascensão social, sendo muitas vezes amplamente divulgados na mídia. Essas narrativas também podem ser completamente ficcionais, estando presentes em filmes, livros, séries, novelas e desenhos animados, sobre personagens que “dão a volta por cima” e conquistam seus sonhos através do esforço individual.

Senso comum sobre grandes ícones populares

Qual a maior banda de todos os tempos? Quem é o rei do pop? O maior artilheiro do futebol de todos os tempos? A mulher mais bonita do mundo? Provavelmente você deve ter pensado em respostas para pelo menos algumas dessas perguntas. Essas opiniões rondam o nosso imaginário coletivo até mesmo quando discordamos. Achamos que sabemos quem são os ícones mais requisitados para ocuparem essas categorias imaginárias. E além disso, acreditamos que existem consensos em torno da verdade para cada uma delas.

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O futebol é um dos esportes mais praticados no mundo, fazendo com que exista uma opinião popular sobre quem são os melhores artilheiros, assim como a supervalorização da estética feminina, faz com que existam concursos de beleza e assim por diante. Neste sentido, os mitos são criados de acordo com os valores sociais pré-estabelecidos ao mesmo tempo que os mantêm vivos.

A mitologia da cultura pop contemporânea

Além de superstições, ideologias políticas e senso comum, o pensamento mítico sobrevive também na cultura pop, através de seus universos ficcionais e personagens icônicos. Super-heróis originais dos quadrinhos como Superman, Batman, Capitão América e Homem-Aranha, por exemplo, são figuras conhecidas no imaginário coletivo popular, bem como os universos ficcionais de fantasia e ficção-científica como aqueles que dão base a sagas populares como Star Wars ou Harry Potter. Mesmo histórias menos fantásticas também constroem sua própria mitologia ficcional, como o conhecido detetive britânico Sherlock Holmes, que muitos até mesmo hoje acreditam ter existido. Mas sabemos que não se passa de uma invenção literária que entrou para o imaginário mundial. Dessa forma, é possível perceber que artistas criadores de livros, filmes, quadrinhos, séries e jogos criam universos ficcionais e personagens icônicos que contribuem diretamente para a manutenção do mito na cultura contemporânea.

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Exercícios de fixação

1.

Marque a alternativa correta:

a) o positivismo, é uma corrente filosófica que busca entender os conflitos de classes que se instauraram no mundo pós-revolução industrial.

b) o positivismo é uma corrente de pensamento que explica o conceito de luta de classes.

c) o positivismo é uma corrente de pensamento que defende que o conhecimento verdadeiro só pode ser obtido através da experimentação e aferimento científico.

2.

Sobre a mitologia contemporânea, marque a alternativa correta:

a) apresenta uma diversidade de temas, fazendo conexões com narrativas mitológicas de outros tempos geracionais.

b) apresenta forte visão utilitarista do mundo e por isso consegue se manter viva no imaginário coletivo.

c) garante certa organização social e dialoga diretamente com o conhecimento filosófico.

3.

Qual opção NÃO representa uma característica das narrativas mitológicas em geral?

a) a capacidade de “tapar lacunas” para questões humanas desconhecidas.

b) a capacidade de criar conexões entre gerações através de saberes populares.

c) a capacidade de refutar o que não tem base argumentativa lógica e verificada.

4.

Complete a frase a seguir com a melhor opção:

“Por garantir certa organização social e dialogar com saberes e crenças populares, a _____________ se mantém viva até hoje em nossa sociedade.”

a) meritocracia.

b) consciência mítica.

c) ciência.

5.

Universos menos fantásticos também podem construir mitologias, fazendo com que as aspirações em torno de sua veracidade sejam ainda mais fortes. Isso acontece com personagens como:

a) Hércules.

b) Harry Potter.

c) Sherlock Holmes.

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Exercícios de vestibulares

1. (UNICENTRO - 2016) A concepção mitológica compreende um conjunto de histórias/ narrativas que envolve elementos sobrenaturais, transmitidos por uma tradição oral cuja finalidade era promover, na Pólis, uma sensação de tranquilidade e justificativa em relação aos fenômenos sociais e naturais.

Acerca desse conceito, é correto afirmar:

a) Os mitos figuram na contemporaneidade como construções simbólicas representativas de dada parcela da sociedade.

b) A representação mitológica, no âmago da sociedade contemporânea, é visto e concebido como verdades apodíticas.

c) As concepções mitológicas contemporâneas explicam, de forma válida e comprovada, os fenômenos sociais e naturais.

d) Na antiguidade grega e na contemporaneidade, os mitos figuram como uma forma indubitável de aquisição de verdades absolutas.

e) Os mitos compreendem construções reais, nas quais e pelas quais, as verdades eram validadas cientificamente.

2. (COPS-UEL - 2018) O programa do esclarecimento era o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber. [..] O mito converte-se em esclarecimento, e a natureza em mera objetividade. O preço que os homens pagam pelo aumento de poder é a alienação daquilo sobre o que exercem o poder. [...] Quanto mais a maquinaria do pensamento subjuga o que existe, tanto mais cegamente ela se contenta com essa reprodução. Desse modo, o esclarecimento regride à mitologia da qual jamais soube escapar.

ADORNO & HORKHEIMER. Dialética do esclarecimento. Fragmentos filosóficos. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. p.17; 21; 34.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a crítica à racionalidade instrumental e a relação entre mito e esclarecimento em Adorno e Horkheimer, assinale a alternativa correta.

a) O mito revela uma constituição irracional, na medida em que lhe é impossível apresentar uma explicação convincente sobre o seu modo próprio de ser.

b) A regressão do esclarecimento à mitologia revela um processo estratégico da razão, com o objetivo de ampliar e intensificar seus poderes explicativos.

c) A explicação da natureza, instaurada pela racionalidade instrumental, pressupõe uma compreensão holística, em que as partes são incorporadas, na sua especificidade, ao todo.

d) O esclarecimento implica a libertação humana da submissão à natureza, atestada pelo poder racional de diagnosticar, prever e corrigir as limitações naturais.

e) O esclarecimento se caracteriza por uma explicação baseada no cálculo, do que resulta uma compreensão da natureza como algo a ser conhecido e dominado.

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3. Augusto Comte, filósofo francês do século XIX e fundador do positivismo, ao explicar a evolução da humanidade, definiu a maturidade do espírito pelo abandono de todas as formas míticas e religiosas, opondo, dessa forma, mito e razão e ainda, indicando a inferioridade do mito como tentativa fracassada de explicação da realidade. Ao exaltar a ciência, no entanto, o positivismo acabou por gerar o “mito cientificista”, que se caracterizou:

a) convicção de que as ciências seriam a base do novo pensamento religioso.

b) possibilidade de desmontar os antigos conceitos científicos ao criar outros.

c) crença na ciência como única forma de saber possível.

d) valorização de algumas práticas rituais mágicas quando elas levavam ao autoconhecimento.

e) a partir de uma lógica de controle que a ciência estabelece com a sociedade.

4. Atente para o texto a seguir sobre o Mito no Mundo Atual:

Nas histórias em quadrinhos, o maniqueísmo retoma o arquétipo da luta entre o bem e o mal, e a dupla personalidade do super-herói atinge em cheio o desejo do homem moderno de superar a própria impotência, tornando-se um ser excepcional. Ademais, os meios de comunicação (rádio, televisão, jornais etc.) retratam o significado do mito de forma diferente. São atribuídas aos "mitos‟ do mundo midiático qualidades dignas de um deus.

(ARANHA, Maria Lúcia Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando – Introdução à Filosofia, São Paulo: Moderna, 1993, p. 59.) Adaptado.

Sobre o Mito no Mundo Atual, assinale a alternativa CORRETA.

a) O mito tem a significância e a coerência que se faziam sentir no homem primitivo.

b) O mito propõe todos os valores éticos e estéticos que levam à humanização.

c) O mito singulariza o desejo com o objetivo de superar as impossibilidades no âmbito da realidade.

d) O mito retrata a origem por meio de genealogias entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas.

e) O mito configura a dimensão crítica do homem para compreender e interpretar a realidade existencial.

5. (UFSJ 2013) A construção de uma cosmologia que desse uma explicação racional e sistemática das características do universo, em substituição à cosmogonia, que tentava explicar a origem do universo baseada nos mitos, foi uma preocupação da Filosofia:

a) Medieval b) antiga.

c) iluminista.

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Gabarito

Exercícios de fixação:

6. C

O positivismo não tem a ver diretamente com a luta de classes, mas com a defesa da ciência e do conhecimento verdadeiro, em detrimento de outras formas de saber que se pretendem verdadeiras mas não buscam aferimento científico.

7. A

A mitologia contemporânea pode ser vista em diferentes formas e contextos literários, sendo comum a aproximação ou resgate de mitologias antigas para fins de discussão de valores atuais.

8. C

As narrativas mitológicas podem cumprir função de “tapar lacunas” para questões humanas desconhecidas, funcionando como fonte de respostas para dúvidas sobre vida após a morte, por exemplo. Assim como a capacidade de se conectar a outros saberes de outras gerações. Já a capacidade de buscar argumentos lógicos ou verificar sua autenticidade não seria uma característica desse tipo de narrativa.

9. B

A consciência mítica produz um tipo de saber que é transmitido de acordo com sua capacidade de dialogar com a cultura de um grupo, que garante que ele se mantenha vivo.

10. C

Em universos como os de Sherlock Holmes, é possível perceber que características fantásticas não fazem parte da trama, mas mesmo assim, trata-se de uma narrativa mitológica contemporânea.

Exercícios de vestibulares:

1. A

O mundo contemporâneo não só abriga diversas construções simbólicas como precisa delas para se manter, assim como na antiguidade.

2. E

A compreensão da natureza como algo a ser conhecido e dominado motiva em direção a busca de uma verdade absoluta, mas também gera um movimento de regressão, quando cria mitos em torno da verdade absoluta.

3. A

Um dos principais objetivos de Comte era criar uma "religião da humanidade" baseada no conhecimento científico. Assim, a ciência não seria apenas uma forma de explicar ou compreender fenômenos sociais, mas uma definidora de condutas e comportamentos, além da única fonte explicativa do mundo, exatamente como os mitos antigos.

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4. C

Superar as impossibilidades no âmbito da realidade é um desejo que acompanha o homem há muito tempo, e por isso está presente em diversas mitologias, através de personagens icônicos com superpoderes ou figuras fantásticas que dialogam com questões humanas.

5. B

Como visto no texto de apoio, durante o período de transição entre mito e filosofia na Grécia antiga, filósofos como Thales de Mileto elaboraram hipótesis racionais sobre a origem e funcionamento do mundo, como a tese de que o elemento primordial de toda matéria era a água, ou a explicação da escola pitagórica, de que todo o universo poderia ser compreendido a partir dos números.

Referências

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